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Como toda economia era indexada, o governo determinava o valor dos reajustes
salariais. Entretanto, em geral, os reajustes eram mais baixos do que a subida no nível
geral de preços. Era a tentativa do governo de controlar os custos trabalhistas e o
aumento futuro de preços. Essa prática ficou conhecida como “arrocho salarial” e
significava que uma parcela menor da renda nacional ficava com os trabalhadores e
uma maior com o governo.
Isso acontece porque, na prática, altas taxas de inflação funcionam como um imposto
escondido e cobrado principalmente nos mais pobres, corroendo o poder de compra.
Não à toa, em 1965, a fração recebida pelo 1% mais rico era cerca de 10% do bolo
total. Somente três anos depois, após medidas adotadas pela ditadura militar que
causaram concentração de renda, a cifra já era de 16%.
Além disso, 70% dos trabalhadores não tiveram qualquer ganho relevante com o
crescimento da renda entre 1960 e 1970. Dessa forma, não foi apenas em decorrência
do crescimento acelerado da economia iniciado em 1968 que a alta da desigualdade
se deu. As medidas de ajuste do começo do período, que incluíram os arrochos
salariais, foram determinantes para o aumento da desigualdade no Brasil.
Além disso, foram 274 estatais somente no período da ditadura militar, criando as
bases de uma economia fortemente centralizada nas mãos do estado. O resultado não
poderia ser outro: uma explosão da dívida externa brasileira. As cifras saírem de US$
3 bilhões em 1964 para US$ 102 bilhões em 1984, cerca de 50% do PIB à época. Isso
significa que, no período, a dívida externa, cresceu nove vezes mais do que a própria
economia brasileira, indicando um crescimento artificial e não sustentável. O governo
também interveio no setor financeiro. Fixou, por exemplo, limites para as taxas de
juros cobradas nos empréstimos bancários: as autoridades distribuíam incentivos para
os bancos que reduzissem suas taxas. Agências como o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE) passaram a oferecer crédito barato para
financiar os investimentos do setor privado.
Todos esses fatores são típicos de regimes ditatoriais e mesmo eventuais bons
resultados econômicos não justificam abrir mão de liberdades individuais, muito menos
atrocidades cometidas pelo regime. Apesar disso, parcela da sociedade ainda
pormenoriza essas questões se apoiando em um suposto bom desempenho
econômico.
Todavia, mesmo que se admita — apenas para melhor argumentar — que um bom
desempenho na economia justificaria o regime militar no Brasil, a hipótese não se
sustenta. Afinal, como vimos, o legado da economia na ditadura militar brasileira foi
mais marcado por um crescimento pautado em intervenções governamentais artificiais
e insustentáveis, pelo forte crescimento da desigualdade social e por pavimentar o
caminho para uma década perdida, marcada por calotes, desemprego e hiperinflação.