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Princípios de

Economia Austríaca
A grande depressão
Americana (Crise de 29)
Introdução
• Até hoje muitos ainda acreditam que a Grande Depressão refletiu o colapso de uma velha
ordem econômica que se baseava em mercados desimpedidos, concorrência desenfreada,
especulação, direitos de propriedade e a simples busca pelo lucro. De acordo com eles, a
Grande Depressão comprovou a inevitabilidade de uma nova ordem baseada na
intervenção estatal, nos controles burocrático e político, nos direitos humanos e no
assistencialismo governamental. Tais pessoas, sob a influência de Keynes, afirmam que os
culpados pelas depressões são os empreendedores, pois estes se recusam egoisticamente
a gastar dinheiro suficiente para manter ou mesmo melhorar o poder de compra das
pessoas. É por isso que eles advogam vastos gastos governamentais e, sobretudo,
déficits orçamentários – o que resulta em uma era de inflação monetária e expansão do
crédito.
• Os economistas clássicos aprenderam uma lição diferente. Em sua visão, a Grande
Depressão consistiu em quatro depressões consecutivas que acabaram formando uma só.
As causas de cada fase são distintas, mas as consequências foram as mesmas: estagnação
econômica e desemprego.
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Precedentes: Governo Hoover
• Contrariamente ao que você ouviu na escola ou tem lido recentemente, Hoover adotou
um comportamento típico de um livro-texto keynesiano após a queda da bolsa de
valores. Ele imediatamente cortou as alíquotas do imposto de renda em 1% (válida para o
ano fiscal de 1929) e começou a ampliar os gastos federais, aumentando-os em 42%
entre os anos ficais de 1930 e 1932.
• Esse imenso aumento dos gastos ocorreu em simultâneo a um colapso das receitas de
impostos, decorrentes tanto do declínio da atividade econômica quanto da deflação de
preços do início da década de 30. Essa combinação fez com que a administração Hoover
gerasse um nível de déficits até então sem precedentes na história americana, para
períodos de paz.
• Seu antecessor, Calvin Coolidge, havia gerado superávits em absolutamente todos os seis
anos de sua presidência, e ele foi capaz de manter o orçamento federal praticamente em
níveis constantes, não obstante toda a prosperidade (e o consequente aumento da
arrecadação) dos anos 20.
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O expansionismo de Hoover
• Herbert Hoover conseguiu transformar um superávit inicial de $700 milhões em um
déficit de $2,6 bilhões já em 1932. E exatamente esses anos de forte aumento de gastos e
déficits, foram os anos em que o desemprego mais subiu.
• O déficit de $2,6 bilhões ocorreu porque Hoover gastou $4,6 bilhões ao mesmo tempo
em que coletou $2,6 bilhões de impostos. Ou seja: como porcentagem do orçamento
total, esse déficit de 1932 foi algo estarrecedor - mais de 56% do orçamento. Seria o
equivalente aos EUA terem tido um déficit de $3.3 trilhões em 2007 (quando o déficit
naquele ano foi de $162 bilhões). Em termos do PIB, o déficit de 1932 foi o equivalente a
4%, o que dificilmente classificaria Hoover como um 'desalmado' cortador de gastos.
• A conduta que distanciou Hoover de todos os presidentes americanos anteriores foi a sua
insistência de que as grandes empresas não diminuíssem os salários como resposta ao
colapso econômico.
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A rigidez salarial e o desemprego
• Em setembro de 1931, os salários nominais eram 92% de seu valor de dois anos antes.
Mas como havia ocorrido uma significativa deflação de preços durante esses dois anos, os
salários reais na verdade aumentaram 10% durante esse mesmo período, ao passo que o
Produto Interno Bruto (PIB) havia caído 27%. Em contraste, durante os anos 1920-1921,
um período em que também houve uma severa deflação, "alguns salários da indústria
haviam caído 30%. O PIB, por sua vez, havia caído apenas 4%".
• A rigidez do salário nominal em um processo de reajuste, caracterizado por uma deflação
geral, fez com que o desemprego aumentasse em conjunto com este processo
deflacionário, impactando em um choque de demanda ainda de maior magnitude.
• É evidente que políticas fiscal e monetária expansivas possuem efeitos de curto prazo que
indicam um falso crescimento não suportado pela estrutura de capital da sociedade em
questão, contudo não podem resolver o problema causado por elas próprias, como
veremos a seguir.
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A rigidez salarial e o desemprego
• Assim, qual foi o destino dos trabalhadores durante a presumivelmente compassiva era
Hoover, quando os 'esclarecidos' líderes empresariais mantiveram inalterados os salários em
meio a uma forte queda nos preços e lucros? Bom, a economia básica nos ensina que preços
mais altos fazem com que uma menor quantidade de algo seja comprada. E como o "salário
real" (isto é, o valor nominal ajustado pela deflação nos preços) dos trabalhadores aumentou
mais rapidamente nos início dos anos 30 do que havia aumentado até mesmo durantes os
"Vibrantes anos 20", as empresas não podiam bancar a contratação de mais gente. Não havia
recursos para tal. Foi por isso que o desemprego disparou para inimagináveis 28% em março
de 1933.
• Também foi difundido um suposto "fato" de que os gastos militares americanos salvaram a
economia. Bob Higgs mostrou em vários artigos e livros que a economia americana estava
atolada na depressão até 1946, sendo este o ano em que o governo federal finalmente relaxou
seu controle sobre a economia, liberando os recursos e trabalhadores do país. Foi esse o ano
em que o governo federal cortou nada menos que 33% de seu orçamento, liberando recursos
para o setor produtivo da economia.
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Expansão de crédito e a crise
• Em 1927, o Fed incorreu em mais um surto inflacionário, cujo resultado foi fazer com que
o total de dinheiro fora dos bancos mais os depósitos à vista e a prazo aumentassem de
$44,51 bilhões, no final de junho de 1924, para $55,17 bilhões em 1929. O volume das
hipotecas agrícolas e urbanas expandiu de $16,8 bilhões em 1921 para $27,1 bilhões em
1929. Aumentos similares ocorreram no endividamento industrial, financeiro e dos
governos municipais e estaduais. Essa expansão do dinheiro e do crédito foi
acompanhada de um aumento veloz nos preços das ações e dos imóveis. Os preços dos
títulos emitidos por indústrias, de acordo com o índice da Standard & Poor’s, aumentou
de 59,4 em junho de 1922 para 195,2 em setembro de 1929. As ações das empresas
ferroviárias aumentaram de 189,2 para 446,0, ao passo as empresas de utilidade pública
subiram de 82 para 375,1.
• A recessão que se segue é um período de reparação e reajuste. Os preços e os custos se
reajustam às escolhas e preferências dos consumidores.
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Tabelamento de preços durante a
Guerra
• É óbvio que as taxas de desemprego caíram acentuadamente depois que os EUA
começaram a recrutar compulsoriamente homens para as forças armadas. Isso não
deveria ser nada surpreendente, mas não implica que seja produzida riqueza de fato com
despesas militares, como já alertara Bastiat.
• O governo americano instituiu controle de preços durante a guerra. Se o Banco Central
imprime muito dinheiro para possibilitar ao governo comprar enormes quantidades de
bens (tais como munições e bombardeiros, neste caso), o Índice de Preços ao Consumidor
(IPC) vai disparar. Assim, quando os estatísticos econômicos forem calcular os números
do PIB nominal, eles terão de ajustá-los para baixo por causa do forte aumento ocorrido
no custo de vida, o que fará com que o PIB "ajustado pela inflação" (real) não pareça tão
impressivo. Mas esse ajuste não pôde ocorrer à época, pois o governo proibiu que o IPC
aumentasse. Portanto, os números oficiais que mostram o "PIB real" americano
aumentando durante a Segunda Guerra Mundial são tão falsos quanto os anúncios da
União Soviética sobre suas façanhas industriais.
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Tabelamento de preços durante a
Guerra
• É óbvio que as taxas de desemprego caíram acentuadamente depois que os EUA
começaram a recrutar compulsoriamente homens para as forças armadas. Isso não
deveria ser nada surpreendente, mas não implica que seja produzida riqueza de fato com
despesas militares, como já alertara Bastiat.
• O governo americano instituiu controle de preços durante a guerra. Se o Banco Central
imprime muito dinheiro para possibilitar ao governo comprar enormes quantidades de
bens (tais como munições e bombardeiros, neste caso), o Índice de Preços ao Consumidor
(IPC) vai disparar. Assim, quando os estatísticos econômicos forem calcular os números
do PIB nominal, eles terão de ajustá-los para baixo por causa do forte aumento ocorrido
no custo de vida, o que fará com que o PIB "ajustado pela inflação" (real) não pareça tão
impressivo. Mas esse ajuste não pôde ocorrer à época, pois o governo proibiu que o IPC
aumentasse. Portanto, os números oficiais que mostram o "PIB real" americano
aumentando durante a Segunda Guerra Mundial são tão falsos quanto os anúncios da
União Soviética sobre suas façanhas industriais.
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O dogmatismo expansionista
• Também nos é dito constantemente - dessa vez pelos economistas de Chicago, e não pelos
keynesianos - que "aprendemos durante a Depressão" que o Banco Central precisa expandir
rapidamente a base monetária para evitar o desastre. Mais uma fraude. A base monetária
aumentou 31% do final de 1930 até o início de 1933, ano dos piores números.
• Basta um exame mais detido e todo o argumento keynesiano desmorona. A descrição histórica
da crise só faz sentido para aqueles que acreditam a priori na função remediadora dos gastos
deficitários. Veja o aumento relativamente insignificante nos déficits. No pior ano de recessão,
1933, o déficit foi de 4,5% do PIB. Já nos primeiros três anos do New Deal - quando Christina
Romer diz que a economia ilustrou todo o sucesso do (modesto) keynesianismo - o déficit foi
de 5,1% do PIB, em média.
• Se Romer pudesse criar um modelo elegante que gerasse tal resultado, ela inevitavelmente
seria confrontada com um problema exatamente inverso: os gastos e o déficit do governo
americano despencaram irrestritamente ao final de Segunda Guerra Mundial e, não obstante, a
economia se ajustou bem rapidamente. Mais especificamente, no ano fiscal de 1945, o déficit
foi de 21,5% do PIB; já dois anos mais tarde, houve um superávit orçamentário de 1,7% do PIB!
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Liquidação e ajuste
• O colapso da bolsa de valores sinalizou o início de um processo de reajuste que já era para ter
se iniciado há mais tempo. Deveria ter sido um processo de liquidação e ajuste ordeiro,
seguido por uma recuperação normal. Afinal, a estrutura financeira das empresas era muito
forte. Os custos fixos eram baixos, uma vez que as empresas já haviam restituído a maior
parte do dinheiro adquirido por meio da venda de títulos e haviam utilizado o dinheiro da
venda de ações para reduzir suas dívidas junto aos bancos. Nos meses seguintes, as receitas
da maioria das empresas estavam razoavelmente robustas. O desemprego em 1930
apresentou uma média menor que 4 milhões de pessoas, ou 7,8% da força de trabalho.
• Na terminologia moderna, a economia americana de 1930 havia entrado em uma suave
recessão. Na ausência de novas causas para a depressão, o ano seguinte já deveria ter trazido
uma recuperação, assim como houve nas depressões anteriores. Na depressão de 1921-1922,
por exemplo, a economia americana recuperou-se totalmente em menos de um ano. O que,
então, precipitou o abismal colapso após 1929? O que impediu os ajustes de preços e custos
e, consequentemente, levou à segunda fase da Grande Depressão?
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Desintegração da economia
mundial
• Como vimos anteriormente, o governo Hoover, empossado em 1929, se opôs a qualquer
reajuste via mercado. Sob a influência da “nova economia”, que preconizava o
planejamento central, o presidente incitou empresários a não cortar seus preços e a não
reduzir salários. Particularmente, Hoover estipulou que eles aumentassem as despesas
com capital, aumentassem os salários e intensificassem todos os outros gastos, tudo sob
a crença de que isso estaria mantendo o poder de compra e embarcou em uma política
de déficits orçamentários e apelou aos governos locais para que estes se endividassem
mais e gastassem seus empréstimos em mais obras públicas.
• Por meio da Comissão da Agricultura, que Hoover havia organizado no segundo semestre
de 1929, o governo federal tentou incansavelmente sustentar os preços do trigo, do
algodão e de outros produtos agrícolas. A tradição do velho Partido Republicano, que
defendia a restrição de importações, foi invocada com afinco.
• A tarifa Smoot-Hawley, aprovada em junho de 1930, elevou as tarifas de importação a
níveis sem precedentes, o que praticamente fechou as fronteiras dos EUA para os
produtos estrangeiros.
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O impacto da restrição do comércio
• “Iniciou-se uma irrefreável marcha ao redor do mundo para se elevar tarifas e erigir outras
barreiras comerciais, incluindo-se aí as quotas. O protecionismo irrompeu-se
descontroladamente por todo o mundo. Os mercados foram interrompidos. As linhas de
comércio foram restringidas. O desemprego nas indústrias exportadoras de todo o
mundo cresceu celeremente. Os preços dos produtos agrícolas nos EUA haviam caído
acentuadamente durante o ano de 1930, porém a mais rápida taxa de declínio veio após a
aprovação da tarifa.” – Benjamin Anderson.
• Os protecionistas jamais aprenderam que a restrição de importações inevitavelmente gera
uma obstrução das exportações. Mesmo que os países estrangeiros não retaliem
imediatamente essa restrição às suas exportações, as importações desses países são
limitadas pela sua capacidade de vender produtos no exterior. Se um país não consegue
exportar, ele não vai conseguir divisas para fazer suas importações. Logo, um país que
restringe suas importações está fadado a não conseguir exportar também (pois os demais
países não obterão divisas pra comprar seus produtos).
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O impacto da restrição do comércio
• As exportações americanas caíram de $5,5 bilhões em 1929 para $1,7 bilhão em
1932. A agricultura americana habitualmente exportava mais de 20% de seu
trigo, 55% de seu algodão, 40% de seu tabaco e de sua banha de porco, e vários
outros produtos. Quando o comércio internacional foi interrompido, a agricultura
americana desmoronou. Na realidade, as crescentes e rápidas restrições
comerciais, incluindo tarifas, quotas, controles cambiais e outros artifícios,
estavam gerando uma depressão mundial.
• Os preços das commodities agrícolas, que antes da crise estavam bem acima do
nível 1926, despencaram para uma mínima de 47 já em meados de 1932. Os
novos preços, tais como $2,50 por cem libras de porco de engorda, $3,28 para
gado de corte e 32¢ para um alqueire de trigo levaram centenas de milhares de
agricultares a falência. Hipotecas agrícolas foram executadas até que vários
estados aprovaram leis de moratória, fazendo com que a falência fosse
transferida para inúmeros credores.
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O fim das restrições
• E então o alívio veio de cantos inesperados. Os “nove velhos” da Suprema
Corte, por decisão unânime, declaram ilegais a NRA em 1935 e o AAA em
1936. A Corte afirmou que o poder legislativo federal havia sido
inconstitucionalmente delegado e os direitos dos estados, violados.
• A anulação do decreto levou a uma imediata redução dos custos da mão-
de-obra e a um aumento da produtividade, uma vez que permitiu que o
mercado de trabalho se ajustasse. A morte do AAA reduziu a carga
tributária da agricultura e interrompeu a chocante destruição das safras
agrícolas. O desemprego começou a declinar. Em 1935 ele caiu para 9,5
milhões, ou 18,4% da força de trabalho, e em 1936 caiu para apenas 7,6
milhões, ou 14,5%.
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Um New Deal para a mão-de-obra
• A terceira fase da Grande Depressão estava, assim, se aproximando do fim. Mas houve pouco
tempo para festejos, pois o cenário estava sendo preparado para outro colapso em 1937 e,
com ele, uma prolongada depressão que duraria até o dia do ataque japonês a Pearl Harbor.
Mais de 10 milhões de americanos ficaram desempregados em 1938, em mais de 9 milhões
em 1939.
• O alívio concedido pela Suprema Corte foi meramente temporário. Os planejadores de
Washington eram incapazes de deixar a economia a sós; eles precisavam ganhar o apoio das
organizações sindicais, algo vital para a reeleição em 1936.
• O Wagner Act, de 5 julho de 1935, angariou a gratidão eterna dos sindicatos. Ela retirou as
disputas trabalhistas da alçada dos tribunais e as levou para uma recém-inaugurada agência
federal, o National Labor Relations Board [Conselho Nacional das Relações Trabalhistas], o qual
se tornou o promotor, o juiz e o júri – ao mesmo tempo. Aqueles membros do Conselho que
eram simpatizantes dos sindicatos conseguiram corromper ainda mais uma lei que já garantia
imunidades legais e privilégios para os sindicatos. A partir daí os EUA abandonaram uma
grande conquista de civilização ocidental: igualdade perante a lei.
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Um New Deal para a mão-de-obra
• O Wagner Act foi aprovado em reação à invalidação da NRA e seus códigos trabalhistas.
Ele visava esmagar toda e qualquer resistência patronal aos sindicatos. Tudo o que um
empregador pudesse fazer em defesa própria tornou-se “prática trabalhista desleal”,
punível pelo Conselho. Não apenas a lei obrigava os empregadores a lidar e a barganhar
com os sindicatos escolhidos para ser representantes dos empregados, como também
decisões posteriores do Conselho tornaram ilegal resistir às exigências dos líderes
sindicais.
• Após as eleições de 1936, os sindicatos começaram a fazer amplo uso de seus novos
poderes. Por meio de ameaças, boicotes, greves, confisco de instalações e violência
aberta cometida sob inviolabilidade jurídica, eles coagiram milhões de trabalhadores a se
tornarem membros. Consequentemente, a produtividade da mão-de-obra declinou e os
salários foram forçados para cima. Os distúrbios e os conflitos trabalhistas aumentaram
freneticamente. Greves maciças deixaram centenas de fábricas inoperantes. Nos meses
seguintes, a atividade econômica começou a declinar e o desemprego novamente subiu
para acima do marco de 10 milhões.
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Outros fatores da crise de 37
• Mas o Wagner Act não foi a única fonte da crise em 1937. Caso tivesse logrado êxito a
surpreendente tentativa do presidente Roosevelt de aparelhar a Suprema Corte, tal feito
teria subordinado o judiciário ao executivo. No Congresso, os poderes do presidente
eram incontestados. Uma forte maioria democrata na Câmara e no Senado, perplexa e
assustada com a Grande Depressão, cegamente seguia seu líder. Mas quando o
presidente aspirou a assumir o controle do judiciário, a nação americana se uniu contra
ele, e ele perdeu sua primeira batalha política nos corredores do Congresso.
• Também houve sua tentativa de controlar a bolsa de valores por meio de um número
crescente de regulamentações e investigações pela Securities and Exchange Commission
(SEC) [a CVM americana]. O insider trading [o “crime” da informação privilegiada] foi
proibido, a margem requerida para os contratos de futuros foi aumentada e tornada mais
inflexível, e as vendas a descoberto foram restringidas, em grande parte para impedir a
repetição do crash de 1929. Contudo, o mercado caiu aproximadamente 50% entre
agosto de 1937 e março de 1938. A economia americana novamente foi submetida a uma
punição respeitável.
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Outros impostos e controles
• O Imposto sobre Lucros Não Distribuídos, criado em 1936, foi um golpe pesado sobre os
lucros retidos para uso nas empresas. Não contente em destruir a riqueza dos ricos por meio
de uma tributação confiscatória da renda e da propriedade, o governo obrigou as empresas a
distribuírem sua poupança corporativa como dividendos passíveis de altas alíquotas tributárias.
Embora a alíquota máxima imposta sobre os lucros não distribuídos tenha sido de “apenas”
27%, esse novo tributo obteve êxito em fazer com que a poupança corporativa, que
normalmente seria utilizada no emprego e na produção, fosse utilizada para pagar dividendos.
• Em meio a essa nova estagnação e desemprego, o presidente e o Congresso adotaram mais
uma perigosa legislação do New Deal: o Decreto dos Salários e das Horas – ou Decreto das
Práticas Justas de Trabalho – em 1938. A lei aumentou o salário mínimo e reduziu a jornada
semanal de trabalho em etapas: para 44, 42 e finalmente 40 horas. A lei impôs também um
adicional de 50% para todo o trabalho acima das 40 horas semanais e regulou outras
condições trabalhistas. Novamente, o governo federal, agindo dessa forma, reduziu a
produtividade da mão-de-obra e aumentou os custos trabalhistas – medidas férteis para mais
depressão e desemprego.

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A reflação
• O FED esforçou-se para reflacionar a economia. A expansão monetária ocorrida
entre 1934 e 1941 atingiu proporções estonteantes. O ouro monetário da Europa,
fugindo das nuvens negras das reviravoltas políticas daquele continente, buscou
refúgio nos EUA, impulsionando as reservas bancárias americanas a níveis
inauditos. As reservas subiram de $2,9 bilhões em janeiro de 1934 para $14,4
bilhões em janeiro de 1941. E com esse aumento das reservas, as taxas de juros
declinaram para níveis fantasticamente baixos. Os títulos comerciais
frequentemente rendiam menos de 1%, e os aceites bancários estavam entre
0,125% e 0,25%. As Letras do Tesouro caíram para 0,1% e os Bônus do Tesouro,
para 2%. Os empréstimos resgatáveis a qualquer momento estavam fixados em
1% e os empréstimos para os clientes prime estavam em 1,5%. O mercado
financeiro estava inundado e as taxas de juros dificilmente poderiam diminuir.

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New Deal
• As principais medidas do acordo foram
• Regulamentar instituições financeiras;
• Realizar obras de infraestrutura incentivando a geração de empregos (falácia da janela
quebrada);
• Criação de Previdência Social, que estipulou um salário mínimo, além de garantias a
idosos e inválidos;
• Criação de crédito agrícola;
• Garantia de um padrão mínimo de consumo para desempregados;
• Incentivo à organização sindical;
• Aumento massivo da base monetária;

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O New Deal ridicularizado
• O New Deal, na prática, foi um gigantesco esquema de cartel, pelo meio do qual o governo tentou
impor uma cartelização dos preços e uma redução do nível de produção em centenas de indústrias
e na agricultura. Obviamente isso já foi bem documentado no livro de John T. Flynn, The Roosevelt
Myth, publicado inicialmente em 1948. Henry Hazlitt também já havia escrito sobre isso 15 anos
antes. "As políticas de cartelização do New Deal são um fator chave por trás da fraca recuperação,
sendo responsáveis por aproximadamente 60 por cento da diferença entre o nível de produção da
época e a média histórica", escrevem os autores.
• "O produto interno bruto real por adulto, que estava 39 por cento abaixo da média histórica no
auge da Depressão em 1933, permaneceu 27 por cento abaixo dessa mesma média histórica em
1939", escrevem os autores. E "De maneira similar, as horas de trabalho na iniciativa privada estavam
27 por cento abaixo da média em 1933 e permaneceram 21 por cento abaixo da média em 1939." -
Afirmam, com surpresa, os economistas Harold Cole e Lee Ohanian, que defendiam até então a tese
de que a crise era reflexo do liberalismo econômico.
• Os livros-texto que retratam a crise carecem de dados e repetem o mesmo dogma anticapitalista.

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O New Deal ridicularizado
• As estatísticas do U.S. Census Bureau mostram que a taxa oficial de desemprego ainda era de 17,2 por
cento em 1939, não obstante os sete anos de "salvação econômica" implementados pela administração
Roosevelt (a taxa de desemprego normal, antes da Depressão, era de aproximadamente 3 por cento). O
PIB per capita era menor em 1939 do que em 1929 ($847 vs. $857), bem como os gastos pessoais em
consumo ($67,6 bilhões vs. $78,9 bilhões), tudo de acordo com os dados do Census Bureau. O
investimento privado líquido no período de 1930-1940 foi negativo, de -$3,1 bilhões.
• "A base monetária aumentou mais de 100 por cento entre 1933 e 1939", escrevem os autores,
argumentando que tal "choque monetário" deveria ter devolvido a economia à sua normalidade. Eles
invocam a autoridade de macroeconomistas famosos como Robert Lucas e Leonard Rapping, que certa
vez proclamou que "choques monetários positivos deveriam ter produzido uma forte recuperação, e o
emprego deveria ter retornado ao seu nível normal até 1936".
• Foram as políticas de crédito fácil do início e meados dos anos 1920 que criaram todos os maus
investimentos que provocaram a Grande Depressão. A única atitude correta teria sido permitir a
liquidação de centenas de negócios sobrecapitalizados. Ao invés disso, o banco central (Federal Reserve)
aumentou a base monetária em 100 por cento em um período de cinco anos, causando mais dos mesmos
problemas de sobrecapitalização que foram justamente as causas do problema.

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O New Deal ridicularizado
• Que tenha demorado tanto para que o "mainstream" da economia neoclássica reconhecesse este
fato é realmente assombroso. Por várias gerações seus próprios livros-textos vêm ensinando que
cartéis "restringem a produção" para poder aumentar os preços. Também nunca foi nenhum
segredo o fato de que a essência do Primeiro New Deal se baseava no uso dos poderes coercivos do
governo para se elevar salários e preços através da cartelização de toda a economia.
• A triplicação de impostos feita por FDR, sua regulamentação dos negócios, e sua implacável
propaganda anti-iniciativa privada também contribuíram para piorar a Grande Depressão, mas nada
supera suas políticas trabalhistas, que provavelmente foram as mais danosas para as perspectivas de
emprego dos trabalhadores americanos.
• Leis do NIRA (National Industrial Recovery Act) que estabeleceram salários mínimos similares tanto
para os trabalhadores pouco qualificados como para os de alta qualificação; os empregadores que
receberam ordens de negociar coletivamente com os sindicatos, aos quais foram dados uma miríade
de vantagens legislativas nos processos de acordos trabalhistas, todos reforçados pela recém criada
NLRB (National Labor Relations Board). Todas estas políticas encareceram a mão-de-obra.
Consequentemente, como a lei econômica da demanda já nos ensinou, o inevitável resultado só
poderia ser o aumento do desemprego.
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O New Deal ridicularizado
• Os macroeconomistas Cole e Ohanian afirmaram, aparentemente a contragosto, que o abandono
das políticas de FDR "coincidiu" com a recuperação dos anos 40.
• Já Robert Higgs, em "Regime Uncertainty: Why the Great Depression Lasted So Long and Why
Prosperity Resumed after the War" (Independent Review, 1997), mostrou que foi a relativa
esterilização das políticas do New Deal, junto com uma redução (em dólares absolutos) do
orçamento federal de $98,4 bilhões em 1945 para $33 bilhões em 1948, que permitiu a recuperação
econômica. A produção do setor privado aumentou quase um terço apenas no ano de 1946, o que
fez com que o investimento do capital privado aumentasse pela primeira vez em dezoito anos.
• Em resumo: foi o capitalismo que realmente encerrou a Grande Depressão, não a cartelização
desmiolada promovida por FDR, seus aumentos salariais, sua sindicalização maciça, e suas políticas
de expansão do assistencialismo. Até mesmo o Journal of Political Economy, a Universidade de
Chicago e a UCLA estão finalmente abraçando a erudição libertária de Richard Vedder, Lowell
Gallaway, Robert Higgs, Jim Powell (autor de FDR's Folly) e os predecessores destes, tais como Henry
Hazlitt, John T. Flynn, Murray Rothbard, F.A. Hayek, William H. Hutt, Benjamin Anderson, e outros
associados à Escola Austríaca.

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As causas enraizadas
• A economia americana simplesmente não podia se recuperar desses furiosos e sucessivos
ataques promovidos primeiramente pelos republicanos e depois pelos democratas. A
iniciativa privada, a força motriz da criação de riqueza e renda, não teve a menor chance.
• Com o recrutamento de mais de 10 milhões de soldados na Segunda Guerra Mundial,
quando o poder de compra do dólar havia caído à metade em decorrência de enormes
déficits orçamentários e inflação monetária, as empresas americanas ainda assim
conseguiram se ajustar aos opressivos custos dos “New Deals” da dupla Hoover-
Roosevelt. A radical inflação na realidade acabou por reduzir os custos reais da mão-de-
obra, gerando assim novos empregos no período pós-guerra.
• Nada seria mais insensato do que selecionar apenas alguns homens como os
responsáveis por esses perniciosos anos e condená-los por todo o mal causado. As raízes
supremas da Grande Depressão estavam nos corações e mentes do povo americano. É
verdade que eles detestaram os dolorosos sintomas do grande dilema.
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As causas enraizadas
• Mas a grande maioria apoiou e votou nas políticas que tornaram o desastre inevitável:
inflação e expansão do crédito, tarifas protecionistas, leis trabalhistas que aumentavam
salários e leis agrícolas que aumentavam preços, impostos crescentes sobre os ricos e a
redistribuição de sua riqueza. As sementes da Grande Depressão foram plantadas pelos
intelectuais e professores da década de 1920 e, mais cedo, quando as ideologias
socioeconômicas hostis à tradicional ordem da propriedade privada e da livre iniciativa,
tão caras aos americanos, conquistaram suas faculdades e universidades. Os professores
daqueles anos foram tão culpados pela tragédia quanto os líderes políticos da década de
1930.
• O declínio econômico e social sempre é facilitado pela decadência moral. Certamente a
Grande Depressão seria inimaginável sem o crescimento do rancor e da inveja em relação
às grandes riquezas e rendas individuais, e do desejo crescente por favores e
assistencialismos estatais. Seria inimaginável sem o fatídico declínio da independência
individual e da autoconfiança.

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Referências
• Murphy R. P. “Hoover e a fraudulenta história da Grande Depressão” Disponível em:
<https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=272> Acesso em 15 de abril de 2021.
• Murphy R. P. “Mais falácias sobre a Grande Depressão” Disponível em:
<https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=326> Acesso em 15 de abril de 2021.
• Salerno, J. “Rothbard, Friedman e a Grande Depressão - quem afinal estava certo?”
Disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=371> Acesso em 15 de abril de
2021.
• Sennholz H. F. “A Grande Depressão – uma análise das causas e consequências” Disponível
em: <https://rothbardbrasil.com/a-grande-depressao-uma-analise-das-causas-e-
consequencias/> Acesso em 15 de abril de 2021.
• Rothbard, M. N. “A grande depressão americana” Disponível em:
<http://rothbardbrasil.com/wp-
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de abril de 2021.
• DiLorenzo, T. “O New Deal ridicularizado (novamente)” Disponível em:
<https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=97> Acesso em 15 de abril de 2021.
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