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Esses anos também foram notáveis sob um outro aspecto, pois, à medida
que o tempo passava, tornava-se evidente que aquela prosperidade não duraria.
Dentro dela estavam contidas as sementes de sua própria destruição. E o país
caminhava para o mais grave dos problemas. Nisso reside o fascínio peculiar do
período para um estudo do problema de lideranças. Pois nesses anos poucos
passos foram dados nesse sentido de conter as tendências que estavam
conduzindo ao desastre.
Pelo menos quatro aspectos da política econômica estavam seriamente
errados, e se agravaram com o passar dos anos. E o conhecimento deles não
depende necessariamente de uma apreciação retrospectiva. Pelo menos três
dessas falhas eram visíveis e amplamente discutidas. Em ordem crescente – não
de importância mas de visibilidade-, foram as seguintes:
Primeiro: nesses anos de prosperidade, a renda estava sendo distribuída
com marcada desigualdade. Embora a produção por trabalhador tivesse
aumentado constantemente durante o período, os salários mantiveram-se
relativamente estáveis, bem como os preços. Em conseqüência, os lucros das
empresas cresciam rapidamente, o mesmo acontecendo com as rendas pessoais
dos ricos e milionários.
Em 1929, 5% da camada da elite da população, concentrava cerca de um
terço do valor de toda a renda pessoal do país. Entre 1919 e 1929 a participação
do 1% mais rico da população cresceu em cerca de 15%. Isso significava que a
economia dependia ampla e crescentemente do consumo de bens de luxo das
camadas abastadas e de sua propensão em reinvestir o que não queriam, ou não
podiam, gastar consigo mesmos. Qualquer coisa que abalasse a confiança dos
ricos no futuro de suas empresas ou de suas fortunas pessoais traria péssimas
conseqüências para as despesas totais e, portanto, para o andamento da
economia como um todo.
Mas as outras três falhas na economia eram menos sutis. Durante a
Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos deixaram de ser o primeiro país
devedor do mundo para se transformarem no principal credor. As conseqüências
dessa mudança têm sido mencionadas com tanta freqüência que acabaram se
tornando clichê. Um país devedor deve exportar mercadorias cujo valor supera o
das importações e usar a diferença como pagamento da dívida e dos juros. Era
isso que os Estados Unidos faziam antes da guerra. Mas um credor precisa
importar um valor maior de que exporta para que seus devedores tenham como
pagar. De outra forma o credor está forçado a cancelar as dívidas ou a fazer
novos empréstimos para que os velhos débitos sejam saldados.
A terceira fraqueza da economia era a especulação em larga escola em
torno de sociedades anônimas. Isso assumiu grande variedade de formas, a mais
comum das quais sendo a organização de sociedades anônimas proprietárias das
ações de outras sociedades anônimas ( holdings) que, por sua vez, já eram
proprietária das ações de outras companhias. No caso das ferrovias e das
empresas de utilidade pública, o objetivo dessa pirâmide de holdings ( companhias
financeiro-administrativas que dominam uma série de empresas por meio do
controle acionário) era obter o controle do maior número possível de empresas
com um mínimo de investimentos na holding de cúpula. Ao fim da década, eram
bastante habituais estruturas de holdings organizadas em seis ou oito camadas. E
algumas delas – as pirâmides da Insull and Associated Gás & Eletric da ferrovia
Van Sweringens – eram espantosamente complexas. É pouco provável que
alguém entendesse ou pudesse entender, perfeitamente este tipo de organização.
Essa especulação insana era bastante visível, da mesma forma que seus
danos. As pirâmides só se manteriam enquanto os lucros das companhias de
base fosse garantidos e os recursos captados fossem realmente investidos em
atividades produtivas, ao invés de alimentar mais ainda a especulação. Se alguma
coisa acontecesse aos dividendos dessas companhias de base haveria sérios
problemas e a pirâmide entraria em colapso. Tal colapso teria efeito negativo não
só para o andamento ordenado dos negócios e do investimento das companhias,
mas também repercutiria na confiança, investimento e consumo da comunidade
geral. A essa probabilidade acrescia-se o fato de que, em várias cidades-
Cleveland, Detroit e Chicago foram exemplos notáveis-, os bancos estavam
profundamente comprometidos com essas pirâmides, tendo mesmo caído sob seu
controle.
O BOOM
Keynes e Depressão
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