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Os países capitalistas desde a guerra mundial até a crise de 1929

Desde qualquer ponto de vista, o final da primeira guerra mundial evidenciou a impossibilidade de
empreender reconstruções e reconversões industriais de acordo com a “normalidade” pré-guerra.
Junto com a destruição e perda de vidas humanas sem precedentes, o conflito levou a uma escalada
também sem precedentes, do processo de acumulação. O deslocamento da mão de obra à
administração dos circuitos financeiros, foi organizada e controlada pelo estado. A guerra não só fez
com que a invasão da área empresarial fosse tolerada, se não que ao mesmo tempo aumentaram os
lucros.

Acabada a guerra, a abolição dos controles institucionais sobre a economia e a redução do gasto
público não eliminaram o precedente dos poderes excepcionais que o estado havia adquirido para
coordenar a economia privada, e ao mesmo tempo, para a ordem pública.

A participação na guerra, se apresentou em todos os países como um movimento de massas


patrióticas, foi a prova da enorme capacidade de manipulação da opinião pública por parte da
prensa. Os horrores efetivos da guerra deixaram em evidência as mentiras da propaganda, e no pós-
guerra a necessidade de fazer frente às tensões sociais colocaram em funcionamento a capacidade
repressiva do estado. O exemplo disso é o caso italiano, onde as mobilizações sociais pós-guerra
foram respondidas com o fascismo: o endurecimento dos instrumentos policiais do estado liberal, e
ao mesmo tempo o exercício de uma verdadeira repressão da base; a utilização de um movimento
interclassista e de massas para contrariar as organizações de classe.

Na situação internacional do entre guerras, a inflação, a fuga de capitais, o desemprego massivo, não
são menos perturbadores que a ação das squadracce (movimento paramilitar fascista) ou das
manobras eleitorais diretas. É importante, por tanto, reconstruir o terreno no que proliferam as
oscilações da conjuntura: porque o fácil mito da prosperidade dos “anos pujantes” atribuiu
desequilíbrios profundos só ao período após 1929, e não ao tempo que precedeu o
desencadeamento da crise.

A consolidação dos aparatos estatais, seu poder para responder os sobressaltos da conjuntura
internacional, sua capacidade de criar consenso para quebrar a oposição revolucionária, são
características típicas do capitalismo, que surgiram para nunca desaparecer. A confiança que veio da
possibilidade de equilíbrio das políticas econômicas estatais, a missão histórica do movimento
trabalhista institucional para fazer uma política para a nação e para o estado, não conseguiram tirar
de jeito nenhum o dramatismo da descompensação de um sistema que atualmente está vivo e
operando.

Os problemas imediatos da pós-guerra.

Para os países mais afetados pelas operações de guerra não foi somente remediar a destruição física
e humana, se não fazer frente a grandes perdas no aparato produtivo. O novo ordenamento político
trouxe problemas de integração entre as economias que resultaram do desmembramento do
império austro-húngaro, Viena se converteu na enorme capital de um pequeno estado, com uma
massa inutilizada de funcionários das antigas províncias. Os países recentemente independentes,
trataram de promover a autossuficiência econômica que não precisavam quando o império garantia
uma vasta área de livre intercambio. Essas unidades fechadas, anteciparam e agravaram as
tendências deflacionárias dos anos 30.

Na Europa ocidental, a reconstrução e normalização foram rápidas e se pode considerar totalmente


concluídas ao redor de 1925, quando a mesma Alemanha graças à iniciativa dos EUA, fez um
reordenamento monetário e produtivo.

A crise dos anos 30 foi a mais grande do século vinte e só se resolveu com a segunda guerra mundial.
A estagnação, o desemprego massivo, a autarquia (economia autossuficiente), as perturbações
sócias em que se desenvolveu o bacilo do nazismo: esses fenômenos do capitalismo mundial dos
anos trinta, escureceram as contradições também importantes do período que os precedeu, os anos
pujantes da prosperidade americana e as estreitas relações com os países europeus. Se é verdade
que a hegemonia econômica e financeira americana determinou a recuperação econômica europeia
e logo representou o principal elemento desestabilizador, tentemos reconstruir o caminho
institucional.

As hierarquias do poder econômico mundial antes e depois da primeira guerra mundial

A guerra deslocou as hierarquias do poder econômico mundial em favor dos países com uma
industrialização relativamente nova, protegidos das operações de guerra e mais ricos em produtos
agrícolas e em matérias primas.

Já antes da guerra a GB tinha um forte déficit na balança comercial, mas ainda recebia mais dinheiro
do que gastava. Os EUA já eram o primeiro país produtor do mundo. Com a guerra, a aquisição de
mercadorias nos países neutrais ou que estavam longe das operações de guerra determinou o
aumento da riqueza da Suiza, Holanda, dos países escandinavos, de algumas colônias britânicas, da
America Latina, Japão e, sobre tudo dos EUA.

Os Estados Unidos se converteram desde todo ponto de vista no primeiro país do capitalismo
mundial através de ambas as operações: o aprovisionamento de mercadorias e os empréstimos.
Tendo mais da metade das reservas em ouro mundiais (graças à excepcional balança comercial) na
pós-guerra também fizeram o papel de primeiro país exportador de capitais.

As dívidas ao final da guerra deixaram aos EUA como credores unilaterais, sendo que outros países
eram ao mesmo tempo credores e devedores. Não só os EUA tinham o poder característico de todo
credor, se não que também os países devedores destinavam a maior parte dos dólares à aquisição
de mercadorias americanas. Assim, o capitalismo americano, construiu suas riquezas nacionais e
internacionais graças a uma enorme intervenção estatal para financiar suas próprias saídas de
mercado. (Havia um importante papel do estado como fornecedor de créditos, sendo que o
capitalismo era partidário da propriedade privada e “imune de interferências estatais”). Assim, esta
exportação de riqueza abstrata contribuía na realidade à potenciação da mesma riqueza real do país,
os empréstimos alimentaram a demanda de mercadorias americanas e contribuíam ao crescimento
do potencial produtivo dos EUA.

O boom europeu de 1919-1920 alimentado pela demanda de consumo civil comprimida durante a
guerra, pelo gasto público ainda sustentado, pela fácil entrega de créditos aos entes privados e pela
forte demanda de bens instrumentais para a reconstrução, encontrou um freio uma vez que as
mercadorias americanas saturaram o mercado. A reação do governo piorou a situação: uma fase de
amplo gasto público e de crédito fácil, foi substituída em resposta à crise, por uma fase de restrições
de crédito e limitação do gasto público; a partir daí foi invertida a tendência ascendente dos preços.
Na Inglaterra por exemplo, houve uma escalada de preços em 1919-1920, e logo com a crise de
1920-1921, uma queda até o 50% dos valores. Daí a tentativa dos patrões de acompanhar a queda
dos preções com uma diminuição salarial do mesmo escopo.

A paz era incerta por causa das clausulas de Versalles. França, que foi o país mais afetado pela
guerra, conseguiu cláusulas punitivas para as reparações que Alemanha tinha que lhe pagar. Ao
respeito, Keynes estimava que ainda baixo uma improvável hipótese de um pago diferido a trinta
anos, a costa de uma dura compressão da qualidade de vida dos alemães, Alemanha não poderia
pagar mais de 2000 milhões de libras esterlinas (e não de 6000 a 8000 como pretendiam os
franceses). O objetivo de obter de Alemanha o pago das reparações parecia cada vez mais remoto a
medida que se insistia, como no caso da França, numa atitude punitiva.

Da invasão do Ruhr à estabilização monetária. (Alemanha)

Na França, o revanchismo mais duro, tinha a esperança de que os milhões alemães encheriam as
arcas do governo Francês. Quando o governo alemão recusou pagar as taxas anuais, os franceses
ocuparam a bacia do Ruhr em 1923. O incidente político estabeleceu um sério precedente pelo
acúmulo de tensões nacionalistas que alimentou.

Quando a inflação cessou, graças às medidas do plano Dawes em 1924, a fisionomia econômica da
Alemanha já tinha os rasgos hiper industrializados que condicionaram seus movimentos no contexto
internacional.

A guerra tinha levado a uma perda de território agrícola, de população e de saídas comerciais; mas
tinham saído dela fortalecidos e com a capacidade de financiar os cartéis industriais, especialmente
da química. Isso significou a especialização produtiva, o crescimento relativo e a supremacia
internacional do setor químico alemão, a constituição de cartéis nacionais e internacionais
frequentemente capazes de substituir o protecionismo do diferentes estados nacionais, de efetuar
fugas de capitais ao exterior, de atrair créditos estrangeiros, de ter grandes lucros através da
exclusividade das patentes.

Com a possibilidade de responsabilizar aos odiados franceses pela inflação, os governantes e


industriais no tiveram escrúpulos em roubar dos trabalhadores como dos poupadores. Também a
inflação foi causa de notáveis privações para os trabalhadores. Quando o governo americano decidiu
intervir, já existiam sólidas garantias conservadoras na política alemã.

A intervenção americana foi representada pelo plano Dawes. A emissão de um novo empréstimo
americano, somado a algumas garantias institucionais, produziu a reconquista da capacidade de
atrair empréstimos estrangeiros a Alemanha -baseada nas garantias do plano Dawes. O sucesso do
plano causou mais confiança ainda e mais créditos estrangeiros; se retomou sobre bases mais
sólidas e menos frenéticas o processo de racionalização produtiva garantida pela estabilização
monetária. De acordo com o plano Dawes,prevaleceu a simples organização técnica de um fluxo de
capitais, desde a Banca Morgan às empresas privadas e à administração pública alemã.

Alemanha, país dotado de um enorme potencial organizativo tecnológico e humano, graças às


circunstâncias da pós-guerra, tornou-se um polo de atração para os capitais americanos; mas nos
limites de uma relação de dependência unilateral que ia amplificar, com efeitos desastrosos para
Alemanha primeiro e para o sistema internacional depois, a depressão americana.

Os problemas da estabilização monetária à metade dos anos vinte. (Inglaterra)

A guerra não tinha introduzido distúrbios profundos na Inglaterra –fora das perdas humanas. Para
Inglaterra, tradicional país exportador de capitais, o esforço bélico marcou o esgotamento de
reservas que consideravam inacessíveis e a transição ao rango de país devedor dos EUA. Durante a
guerra e depois dela, os preços das mercadorias inglesas aumentaram mais rapidamente que os das
mercadorias americanas, sobretudo durante o boom de 1919-1920. Frente a essa concorrência
americana, era muito difícil empreender o caminho de uma intensificação produtiva.

Não querendo abandonar a época em que Inglaterra tinha sido a oficina, a banca e a agencia de
transportes marítimos do mundo, propuseram remediar a escassa competitividade internacional da
industria por meio de uma redução dos salários e do gasto público. No primeiro ponto se
encontraram com a firme oposição dos sindicatos. Mas ganharam a partida no que respeita aos
limites do gasto público e ao obstinado apoio à paridade da libra esterlina.

É verdade que a decadência dos setores exportadores não se devia somente à libra esterlina
supervalorizada; uma decadência do setor carbonífero e um enfraquecimento da industria têxtil já
eram visíveis desde antes da guerra.

Ainda crescendo em termos absolutos, o comercio britânico cobria antes da guerra uma parcela
cada vez menor do mercado internacional. O que para os financeiros significava um circulo virtuoso,
alimentava realmente um circulo vicioso para o aparato produtivo e para os trabalhadores; a
supervalorização da libra esterlina, não estando ameaçada por uma balança de pagos negativa
contribuiu para o declínio dos setores exportadores em tal medida que determinou, como dato
permanente nos anos vinte, uma taxa media de desemprego superior a 10%. Teria sido necessário
uma política econômica que desafiando a ciência política ortodoxa, ligada aos tabus da estabilidade
monetária e da balança equilibrada, consiga desafiar também a resistência à desvalorização da libra
esterlina representada por os interesses da City.

Estabilização e “boom” em França.

Apesar de ter sido marcada pelas destruições e perdas humana sem precedentes, França
experimentou uma recuperação pós-guerra muito rápida. O boom das inversões levou rapidamente
ao aparato produtivo a superar os níveis da época anterior à guerra. O lado fraco dessa
efervescência econômica estava representado, porém, pelos circuitos financeiros. Pós-guerra o país
ficou reduzido, como a Inglaterra, a devedor dos EUA. As dividas com os americanos e também com
os ingleses tinham reduzido à metade as reservas de ouro e os títulos da Banca de França. As
incertezas na situação política encorajou a fuga de capitais e a consequente queda da paridade do
franco. Em 1926, houve uma desvalorização excessiva do franco, enquanto que a circulação
fiduciária chegou ao topo e a necessidade de um empréstimo americano parecia se impor.

O ordem e a confiança foram restabelecidos por Poincaré, pela fama de político conservador e as
medidas de redução dos impostos. Depois de alguns meses, fixou-se uma paridade definitiva do
franco com a libra esterlina.
Os anos de desvalorização continua do franco consolidaram um setor exportador e uma prática de
substituição de importações; a pressão dos sindicatos e dos setores industrias, contribuíram para
evitar uma revalorização muito acentuada e a levar a cabo uma desvalorização de fato do franco
que, até 1930, alimentou o boom das exportações e da economia francesa em geral.

A estabilização monetaria francesa, naturalmente, tinha objetivos ligados à politica interna, sem se
interessar pelas consequências a nível internacional da desvalorização do franco. Ao ativo da balança
comercial, adicionou-se um ativo das partidas correntes devido a uma repatriação dos capitais
franceses dispostos a voltar a seus empregos anteriores, uma vez restabelecida a confiança no
franco, e sem entusiasmo pelas inversões estrangeiras, que se apresentaram arriscadas. Quando a
banca francesa decidiu converter em ouro as divisas estrangeiras que tinha em seu poder, foi um
verdadeiro açambarcamento de reservas, que tiraram desse jeito a outros países mais fracos. A
França conseguiu assim exercer sobre os respectivos países uma evidente arma de presão
econômica.

O boom francês dos ultimos anos vinte foi importante, tendo como 100 o índice de 1925, o
produção industrial chegou a 130 em 1929 contra 114 dos EUA. Nesse ano o consumo francês de
carbão duplicou-se em relação a 1913, o pais tornou-se o maior produtor de ferro mundial, o
segundo em automóveis, e terceiro na produção de gesso e aço. O enorme superávit comercial
permitiu-lhe pagar com impostos todas as dívidas com a banca de França e atrasar um ano o surto
da depressão mundial em relação a outros países. O fato de que na França, despovoada ainda depois
da guerra mundial, muita da mão de obra fora de importação, carregou sobre os trabalhadores
estrangeiros demitidos e que voltaram para seus países o impacto da crise mesma.

Estabilização e “boom” na Alemanha.

Para os antigos aliados da Entente, e principalmente para os EUA, a inflação alemã representou um
aspecto patológico de um ordenamento europeio que tinham que regular, de acordo com certo
plano de reconstrução. Em primeiro lugar, a aparição do processo de confiscar aos grupos de
poupadores e a transferência de renda a novos grupos empresariais e especuladores. Em segundo
lugar, a estabilização confirmou uma concentração capitalista que levada com muita força. Tratava-
se de uma concentração industrial e bancaria que, num processo de desenvolvimento
principalmente determinado pelo fluxo de empréstimos privados americanos, alimentou-se e
multiplicou-se a si mesma.

As empresas alemãs tiveram disponíveis os fundos americanos quando, baixo as mesmas garantias
de uma iniciativa americana, estabilizaram sua própria moeda com um ou dois anos de antecipação
em relação a França e outros países. O processo de concentração industrial alimentou -e foi
alimentado por- a concentração do aparato bancário, fortalecido pelas circunstâncias em que uma
política monetária tirava vantagens de uma chuva de créditos estrangeiros, principalmente
americanos.

Os progressos reais da economia alemã da segunda metade dos anos vinte foram espetaculares:
conseguiu seguir o caminho de país especializado nos setores industriais mais modernos: químico e
elétrico, em particular.
No novo ordenamento mundial, a Alemanha representou uma área privilegiada de expansão para o
capitalismo americano que era o primeiro país exportador de capitais. Na segunda metade da
década dos anos vinte, teve um constante déficit na balança comercial. A efervescência da economia
alemã, tinha bases fracas demais.

A fragilidade do boom alemã, tinha sua causa em que os créditos eram em sua grande maioria a
curto prazo, sendo possível levá-los para inversões mais lucrativas. Foi o que aconteceu quando o
boom da bolsa de valores de Nova Iorque foi mais atraente para os investidores, e levaram todos os
créditos da economia alemã.

Quando terminou a situação internacional favorável e a fácil obtenção de créditos estrangeiros, o


colosso econômico alemã se viu estrangulado; com o advento do nazismo, o uso sem escrúpulos do
gasto público, a militarização e a preparação para a segunda guerra mundial, resolveram ao mesmo
tempo o problema do desemprego e da reativação das inversões e dos lucros, mas ao preço do
“terror e miséria” do Terceiro Reich.

Os Estados Unidos desde o “boom” até 1929.

Em vésperas da grande crise, o PIB americano duplicou respeito a 1913, e já tinha há tempo a
hegemonia financeira a nível mundial. O processo de crescimento industrial, por sua parte, levou à
remodelação das características socioculturais da população de trabalhadores. Em primeiro lugar, as
leis limitadoras da imigração. Por outra parte, os intensos aumentos da produtividade,
acompanharam as novas formas de organização do trabalho (medição dos tempos e movimentos, a
linha de montagem).

De que maneira o acelerado desenvolvimento industrial trouxe ao mesmo tempo rápidas mudanças
na organização da vida cotidiana? É importante apontar o fato de que, enquanto o boom do período
da guerra foi alimentado com a demanda de matérias primas e produtos industriais dos países
beligerantes, o boom do período dos anos vinte nos EUA recebeu um considerável estimulo do
mercado interno, especificamente das inversões em construção e no desenvolvimento da indústria
dos automóveis. O boom dos anos vinte aumentou a desigualdade de renda, possivelmente só uma
terceira parte da população americana dos anos vinte foi totalmente integrada no circuito produção-
consumo; ficavam de fora uma grande parte dos fazendeiros e da zona do sul, a população negra e
amplos ghettos urbanos de imigrantes recentes; por outra parte, o nível de gasto público, fator
importante na gravidade e duração da crise mesma, era apenas o 10% do PIB, contra o 40% da
atualidade.

Precisamente no período em que o consumo de energia elétrica do país se duplica, se organiza a


produção de bens de consumo e cresce a industria de alimentos. Ao mesmo tempo a porcentagem
de empregados no setor dos serviços excede definitivamente, nos EUA, a os empregados no setor
manufatureiro; é inaugurado desta maneira um das características típicas do capitalismo avançado.
Se consolida também, uma hegemonia cultural americana, no campo cinematográfico –onde se
destaca quem tem mais capital para investir. Ainda assim, a difusão da radio é o fenômeno mais
significativo; quanto mais se multiplicam as rádios locais, mais se assemelham a um Ministério de
propaganda. Numa sociedade em que a urbanização, a motorização e a industrialização avançada a
fazem cada vez mais injusta e dividida, a ideologia do consumo fornece uma ilusão de igualdade.
Pode-se ver a importância dessas mudanças no fato de que Roosevelt não podia fazer seu estilo
político sem o uso da rádio. Nestes fenômenos –que tem origens nos Estados Unidos dos anos
vinte-, também é importante descobrir um enraizado modo de ser do capitalismo avançado.

Para 1929: Desequilíbrios e descompensações internacionais.

Podemos colocar brevemente duas ordens fundamentais de desequilíbrios: os desequilíbrios do


aparato produtivo e dos circuitos monetários e do sistema internacional de pagamentos. Em relação
à produção e circulação de mercadorias, assistimos a uma enorme dilatação da produção agrícola e
uma restrição efetiva das possibilidades de sua absorção. Nos EUA isso levou a uma queda dos
preços e descontentamento dos agricultores (que representavam um terço da população); a uma
diminuição de seu poder aquisitivo frente a os produtos industriais, que causou uma estagnação
pelo menos parcial do mercado interno.

Por sua parte, a pós-guerra levou ao descobrimento de uma divisão internacional do trabalho
diferente. A evolução da tecnologia fez o desenvolvimento menos dependente de características
geográficas, se podia levar ele a países sem minas de carvão ou de correntes navegáveis de água.
Nesse novo ordenamento global cada país se colocava unicamente objetivos nacionais de política
econômica- uma tendência generalizada ao protecionismo industrial- além de um progressivo
protecionismo agrícola dos países europeus ameaçados por os EUA. Essas barreiras protecionistas se
podem medir através da lentidão da recuperação do comercio mundial depois da guerra. O
protecionismo de cada um dos países aumentava o protecionismo dos demais, e a progressiva
queda do poder aquisitivo dos países produtores de matérias primas e produtos agrícolas.

Enquanto durou a exportação de capitais a Europa, ela rebateu a falta de capitais e fez possível a
rápida reconstrução. Apenas essas capitais recuaram, Europa e especialmente Alemanha sofreram
um estrangulamento deflacionista, que piorou com o aumento das barreiras protecionistas; os
movimentos da economia americana e do resto do mundo, ao invés de se compensar, se
“afundaram” reciprocamente.

Por outra parte o sistema internacional de pagamentos, ligado ao ouro, e estruturado para regular
os intercâmbios entre economias com taxas de desenvolvimento homogêneas e balanças de
pagamentos integradas, acabou por multiplicar as descompensações das economias que já não eram
homogêneas e simétricas.

As fugas de capitais e empréstimos a curto prazo com movimentos descontrolados de um país a


outro, capazes de fazer cair a paridade da moeda e o nível das reservas de ouro, foram as respostas
à mesma instabilidade política e monetária que estavam alimentando.

A economia internacional não tinha organismo internacionais capazes de mediar os choques entre
as distintas políticas nacionalistas; a distribuição internacional do crédito estava confiada aos EUA, e
eles só eram capazes de sugerir aos países que foram até a Casa Morgan, que não era partidária de
dar créditos aos países mais fracos com balança de pagamentos desfavoráveis.

Segundo Kindleberger, a catástrofe se poderia ter evitado se uma instituição ou um único país
tivesse exercido a hegemonia financeira mundial, capaz de regular o sistema internacional de
pagamentos. Não pudendo mais fazê-lo a Grã-Bretanha, e não conseguindo também os EUA, depois
da primeira guerra mundial prevaleceu a anarquia e se desencadearam os impulsos destrutivos dos
distintos nacionalismos.
Assim também, se poderia pensar em audazes intervenções do estado para estimular a recuperação
econômica, mas as barreiras políticas eram difíceis de superar. Por isto, é possível dizes que nos anos
vinte, as concentrações e intensificações produtivas na Alemanha e nos EUA prepararam involuções
sem saída; e na mesma direção iam os movimentos internacionais de capitais.

Joan Robinson resumiu claramente as ameaçadoras perspectivas dos últimos anos da década dos 30:
“Qualquer governo que tivesse o suficiente poder e intenções para remediar os principais defeitos
do sistema capitalista, teria também a vontade e o poder de aboli-los completamente.”

Como é conhecido e é dado como certo, a segunda guerra mundial pôs fim a depressão econômica;
mas também começou hostilidades que impediram os capitalistas de reformar seus modos de
convivência e de se dedicarem a uma política de interesse comum. A um preço enorme, surgiu a
possibilidade de realizar os experimentos mais arriscados, com a condição de garantir os lucros e o
poder.

O establishment capitalista da segunda pós-guerra aprendeu a instrumentalizar e a distorcer, para


seus próprios fins, não só as guerras sujas e os repugnantes racismos, se não também as críticas
inteligentes, as reformas audazes e as oposições honestas.

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