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HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve XX (1914-1991).

São Paulo:
Companhia das letras, 1995. Capítulo 3: Rumo ao abismo econômico, (P.90-112)

Hobsbawm inicia o capitulo alegando a importância do colapso econômico para


entendermos o século XX. Apesar da proliferação de mais de 80% da produção
industrial mundial nos 25 anos após 1913, a economia mundial não seguia o mesmo
caminho. E com a estagnação econômica, a alta taxa de desemprego na Europa
Ocidental também permanecia. O espanto não foi com a volta da fragilidade
econômica no pós-guerra, mas sim devido a profundidade e ao alcance universal da
crise que começou com a quebra da Bolsa de Nova York em 29 de outubro de 1929.
Com os preços em queda livre, a produção de alimentos e de matérias primas também
entravam em crise, de modo que atingiu até os países que precisavam de poucos
produtos primários, e assim a Depressão se tornou global. Por conseguinte, o
comércio mundial caiu 60% (entre 1929 e 1932), fazendo com que os países
recorressem a agricultura para sobreviver, e erguessem barreiras cada vez mais altas
para proteger seus mercados e moedas nacionais, ações que trouxeram um
acentuado aumento na atividade anti-imperialista. Então com a prioridade voltada para
a economia, o liberalismo fora destruído naquela época, e para os países de
capitalismo democrático reformado, a erradicação do desemprego se tornara
imprescindível, causando a instalação de modernos sistemas previdenciários, visto
que anterior a 2ª Grande Guerra quase não existiam sistemas de bem-estar. No
entanto, contraditoriamente a esses países, a produção industrial da URSS triplicava e
o desemprego ali não existia (de 1929 a 1940), resultado de seus novos Planos
Quinquenais. Sendo observado o êxito desse planejamento, os partidos
socialdemocratas aderiam a planos econômicos, e até mesmo Hitler adotou a ideia ao
introduzir o “Plano Quadrienal” em 1933.

Todavia, retornando à Depressão, um dos grandes fatores contribuintes para a mesma


foi o Estados Unidos, em razões de que a potência era responsável pela importação
de quase 40% de matérias-primas e alimentos dos quinze países mais comerciais, e
por efeito da queda nas importações, suas exportações igualmente despencaram em
torno de 70%. Outro fator contribuinte foi o enorme pagamento de “reparações”
imposto a Alemanha – considerada culpada pelos danos causados as potencias
vitoriosas - na conferência de paz de Versalhes (1919), posto que as reparações
pagas eram oriundas de empréstimos americanos. Deste modo, tanto a Alemanha
quanto a Europa encontravam-se sensíveis ao declínio dos empréstimos norte-
americanos. Hobsbawm expõe duas diferentes visões sobre a causa da severidade do
colapso econômico entre guerras: a primeira responsabiliza o maior desenvolvimento
do Eua em relação aos outros países, dado que suas exportações contribuíam muito
menos à renda nacional comparado aos outros estados, e ao não precisar do resto do
mundo, o norte-americano não se preocupava em agir como estabilizador global. Já a
segunda visão culpava a economia mundial por não gerar demanda suficiente para
uma expansão duradoura, pois com a degradação dos salários a demanda da massa
não podia acompanhar a produtividade em rápido crescimento, o que causou
superprodução e especulação.

Sem demora, em 1930, quase todos os Estados haviam mudado suas políticas em
relação ao que era antes do crash. A Alemanha e o Japão por exemplo haviam
aderido a uma política nacionalista, belicosa e agressiva. A vitória desses regimes -
Japão (1931) e Alemanha (1933) – constituiu a consequência política mais sinistra e
de mais longo alcance da Grande Depressão.

Contudo os impactos da Grande Depressão não foram apenas a curto prazo, pois com
o liberalismo devastado iniciava-se a competição, pela hegemonia intelectual-política,
entre três fundamentais ideias, a do capitalismo privado com sua crença na otimização
de livres mercados, a do comunismo marxista, e por fim a mais perigosa de todas,
transformada pela Depressão num movimento mundial, era a opção do fascismo.
Claramente foi nesta Era da catástrofe que a paz, a estabilidade social, a economia,
as instituições políticas e os valores intelectuais da sociedade liberal burguesa do
século XIX entraram em decadência ou colapso.

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