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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História
História Contemporânea – Prof. Dr. Antonio Torres Montenegro

JEREMIAS JEFFESON GOMES DA SILVA

FICHAMENTO DO CAPÍTULO “RUMO AO ABISMO ECONÔMICO” DO LIVRO


“ERA DOS EXTREMOS” DE ERIC HOBSBAWM

RECIFE
2021
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: O breve século XXI. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.

TÓPICO 1, RESUMO:
O capítulo começa com uma suposição: como teria sido o século XX se a Primeira
Guerra não tivesse tido o impacto que teve? Mesmo afirmando que não há sentido em
especular o que teria sido o século XX sem ela, o autor afirma que a pergunta não é de toda
inútil, pois ajuda a perceber que sem a Guerra não teria existido a crise econômica do entre
guerras, assim como não teria existido Hitler, Roosevelt, e muito provavelmente também não
um sistema soviético tão relevante. A Guerra trouxe devastação, guerra civil e revolução para
diversos espaços mudando completamente o panorama do mundo todo, mas os EUA, por
exemplo, pareciam passar ilesos a tudo isso, parados apenas pela Crise de 29.
O autor diz que a Grande Depressão trouxe um colapso econômico no mundo
entreguerras que pareceu fazer desmoronar o sistema capitalista. Segue afirmando que ciclos
de altos e baixos eram normais na economia capitalista, porém a Depressão trouxe uma
perspectiva nunca vista antes: pela primeira vez as flutuações apresentavam perigo para todo
o sistema. Dado o colapso da economia mundial, os países se fechavam cada vez mais em si,
buscando se proteger e estagnando, assim, a globalização da economia. A Depressão
impactou não só os EUA, pois como o autor afirma, a economia alemã, por exemplo,
extremamente dependente dos empréstimos estrangeiros no pós-guerra viu sua
vulnerabilidade ser totalmente exposta durante a Crise, dado o isolamento dos países.
A crise foi geral, atacando países que iam desde o Brasil, passando pela Finlândia, até
a Nova Zelândia. A Depressão assumia, assim, um status global. O que sentiu entre as
camadas mais pobres foi um desemprego nunca visto antes, assim como o esgotamento dos
direitos trabalhistas. A imagem que predominava, dessa forma, era a das filas de pessoas em
busca de um prato de sopa. Já entre as camadas mais abastadas o desespero não foi menor: a
desorientação e o senso de catástrofe foram gerais. Assim os Estados se fecharam em si,
buscando se proteger dos impactos do colapso global da economia, como o autor diz: “a
Grande Depressão destruiu o liberalismo econômico por meio século”. As economias liberais
se viram instigadas a considerar as questões sociais como prioridade, e se não fizessem
veriam a radicalização tanto da esquerda quando da direita no espectro político.
Ainda segundo Hobsbawn, o drama da Crise foi ainda mais sentido por causa do
fortalecimento da URSS, ou seja, enquanto o mundo capitalista ia desmoronando, os
soviéticos iam na contramão e observavam um avanço econômico considerável, e uma
inexistência de desemprego, dados os Planos Quinquenais da URSS, tanto que a ideia de
“plano” se popularizou entre as economias que buscavam reabilitação.
TÓPICO 1, COMENTÁRIO:
Este primeiro tópico, e consequente início de capítulo, é bastante completo, assim
como complexo. O autor reflete acerca dos impactos econômicos sentidos no mundo tanto
pelo pós-guerra, quanto pela Crise de 1929. É interessante perceber o quadro que o autor
pinta, demonstrando como a crise econômica acabou por gerar grupos com ideias político-
econômicos e sociais tão diversos, como é o caso da ascensão do nazismo, do fascismo e do
regime comunista soviético.
O quadro gerado acerca de como a Crise na principal economia do mundo afetou todo
o globo é bastante interessante, onde podemos ver, por exemplo, um colapso na Alemanha e o
colapso na indústria de café no Brasil. É interessante perceber também, como o autor
argumenta acerca de como os países mais ruralizados sentiram menos os impactos da Crise do
que os países industrializados, mesmo esse sendo um ponto bastante sensível e complexo. O
capítulo, claro, casa perfeitamente com os dias atuais, pois percebemos, por exemplo, a
ascensão de movimentos de extrema-direita em diversos países, movimentos estes que
prometem solucionar problemas econômicos e extinguir problemas sociais, como a imigração,
por exemplo.

TÓPICO 2, RESUMO:
Este tópico começa indagando: por que a economia capitalista não funcionou entre a
Primeira e a Segunda Guerra? Os EUA, segundo o autor, é parte fundamental para se entender
isso. A Europa do pós-guerra obviamente se encontravam em graves problemas econômicos,
mas os EUA não, pois tinham assumido a dianteira da economia mundial. Apenas a Grande
Depressão conseguiu estagnar por alguns anos o domínio internacional dos EUA na
economia. Os EUA eram além da maior potência industrial, o maior credor do mundo,
portanto não há como explicar a crise econômica mundial do entreguerras sem falar dos EUA.
Eles eram, por exemplo, os maiores importadores de matérias-primas e alimentos dos quinze
países mais comerciais do mundo, portanto uma crise em terras estadunidenses acabaria, e
realmente acabou, por afetar a economia de todo o globo.
Todavia, é claro, a Europa por si só já concentrava muitos problemas. Os valores
absurdos impostos a Alemanha como uma punição como “a única responsável pela guerra”,
por exemplo, ajudaram a estagnar a situação do país, a afetar a economia europeia e a ajudar
na ascensão do nazismo. Não apenas isso, pois as dívidas das principais potências europeias
com os EUA eram exorbitantes, e até a década de 30 só a Finlândia tinha conseguido quitar.
Os problemas que afetariam o mundo todo eram claros: existia uma assimetria absurda
entre os EUA e o resto do mudo, o que se agravou com os estadunidenses não se preocupando
com a economia global, pelo contrário, eles não precisavam muito dos outros países, portanto
não trabalhariam, e não trabalharam, como estabilizadores globais. Já um dos problemas que
afetaram demasiadamente os EUA foi a questão de oferta e demanda dos seus produtos
industriais. Os anos 20 tiveram um boom econômico e industrial, porém não foi acompanhado
de um “boom” nos salários, por exemplo. Portanto, muito se produzia, mas a demanda não
acompanhava a produção, o que ocasionou a superprodução e a especulação desenfreada que
colapsou a bolsa de valores e a economia estadunidense.
Mesmo após já ter passado o pior momento da Depressão, em 1939, o mundo ainda se
via atolado na crise. Era um processo claríssimo de estagnação do capitalismo. Isso se deu
apesar de uma revolução na indústria de entretenimento dos EUA, com a ascensão do rádio,
do cinema e da rotogravura.
TÓPICO 2, COMENTÁRIO:
Tópico bastante interessante, novamente. Percebemos aqui o impacto do colapso
econômico dos EUA no resto do mundo, o que ocasionou por fazer com que o capitalismo do
entreguerras não funcionasse. Os diversos dados acerca da economia estadunidense pintam
um quadro completo que demonstra a importância daquela economia para o mundo da época,
o que só acentua o impacto da Crise de 29. O efeito dominó é claríssimo: o que impacta os
EUA acaba por impactar todas as economias dependentes deles, e sendo eles a maior
economia do mundo, o impacto era global.
O debate acerca da oferta e demanda no boom dos anos 20 dos EUA é interessante,
pois demonstra que aqueles anos foram menos “de ouro” como se costuma pensar. A
expansão econômica era clara, mas principalmente para os mais abastados, como em qualquer
sistema capitalista. A tentativa de isolamento e subjugação da Alemanha também é
interessante, pois demonstra como era frágil a ideia de suprimir uma das potências
econômicas da época, assim como terminaram por abrir espaço para a ascensão do sentimento
nacionalista instrumentalizado pelo nazismo.

TÓPICO 3, RESUMO:
Último tópico do capítulo. O autor começa refletindo acerca dos diversos pensamentos
econômicos que existiram na época de Grande Depressão, demonstrando que existia uma
desconfiança generalizada nas ideias liberais de livre mercado como meio de superar a crise
econômica global, e afirmando que no final da década de 30 as ortodoxias liberais de livre
competição já pareciam completamente desgastadas.
Continua refletindo acerca dos impactos da Depressão, pensando agora questões
políticas. Ele afirma que o impacto foi tão profundo mundo afora, que entre os anos de 1930-
1931 doze países da América Latina mudaram de governo, dez deles por golpe militar. Na
Europa e Ásia também víamos mudanças significativas: Alemanha e Japão se viram
totalmente para a direita, formando regimes nacionalistas, belicosos e agressivos como
potências militares, naquilo que ele descreve como a abertura dos “portões” para a Segunda
Guerra Mundial.
Outro ponto importante é o fortalecimento da direita radical em detrimento da
esquerda revolucionária, que se frustrava ante diversos revezes em caráter internacional,
sendo o total oposto do que os revolucionários esperavam. Assim como o aumento da
atividade anti-imperialista nos espaços de caráter colonial, tendo em vista o colapso dos
mercados coloniais e a incapacidade das metrópoles em administrar seus espaços de poder.
Hobsbawm conclui afirmando que se pode perceber a globalidade da Grande
Depressão observando os diversos levantes políticos em caráter quase universal e simultâneo,
mas não se prendendo apenas nisso, pois o impacto econômico destruiu totalmente a
esperança do progresso que existia no século XIX, e que adentrara o início do século XX.
Assim, sobraram apenas algumas respostas para buscar a superação da crise, dada a morte do
velho liberalismo: o comunismo marxista, um capitalismo privado de sua crença de
otimização do livre mercado ou, finalmente, a veia fascista, como no nacional-socialismo
alemão e no fascismo italiano.
TÓPICO 3, COMENTÁRIO:
O último e mais breve tópico. A reflexão acerca das políticas econômicas é
maravilhosa e a discussão acerca da efetividade do liberalismo é muito interessante para se
compreender não só a economia, mas também a mentalidade política e social da época. É
interessante também perceber como a Crise impactou as questões políticas mundo a fora,
como na instauração de ditaduras na América Latina, e a ascensão de grupos nacionalistas de
extrema direita como os fascistas da Itália e os nazistas da Alemanha.
Percebemos, assim, que se pode perceber o impacto da Crise de 29 não só na
economia, mas, sobretudo na política, que é, obviamente, sempre influenciada por essa
primeira. Enfim, um capítulo bastante interessante e demasiadamente elucidativo acerca de
algumas questões que marcaram o mundo no entreguerras.

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