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Referência Bibliográfica: HOBSBAWM, Eric J.. Era dos Extremos.

O Breve Século XX:


1914-1991. Tradução Marcos Santarrita. 2 ed. São Paulo: Companhia da Letras, 1995.

Comentário pessoal: Logo na introdução de seu livro Eric Hobsbawm apresenta a obra que
está dividida em três partes: a era da catástrofe, a era do ouro e o desmoronamento.
Hobsbawm divide o século XX (1914-1991) dentro destes três períodos históricos: Advento
das grandes guerras mundiais; período glorioso do capitalismo e desmoronamento do
socialismo soviético ou da guerra fria. Os elementos centrais que configuram este período na
perspectiva do autor é a perda de influência do eurocentrismo aliado à ascensão dos EUA
como dirigente econômico mundial; a transnacionalização da economia (mundialização do
capital) e a ruptura com os valores comunitários de relações sociais características do regime
feudal e de religiões tradicionais para instauração do individualismo e hedonismo como
princípios valorativos norteadores dessa nova subjetividade do século XX.
(Parte I: Era da Catástrofe) – Capítulo 1 (I) No primeiro capítulo da parte um da
obra de Hobsbawm é tratado o cenário de constituição da Era da Guerra Total. O autor
inicia seu texto fazendo uma comparação, no que se refere aos elementos da guerra, em
relação ao período histórico que antecedeu 1914. Segundo o autor nenhuma guerra que
precedeu 1914 teve características tão bárbaras, genocidas e transnacionalizadas. A primeira
guerra mundial congregou grande parte das potências mundiais, sobretudo em função dos
conflitos gerados no contexto europeu. A criação da frente ocidental (frente de guerra criada
pela Alemanha na batalha contra os aliados que foi considerada a mais sangrenta e bárbara)
explicitou a barbaridade da I Guerra. Essa guerra gerou profundos impactos políticos e
econômicos nos países participantes. Países aliados como a Grã Bretanha e a França tentaram
a todo custo se desvencilhar das novas possibilidades de guerra temendo os massacres
deixados pela mesma. Todavia, os ex-militares que não tinham um sentimento de repulsa à
guerra a supervalorizaram, e este sentimento militar posterior à primeira guerra foi o que
balizou a ascensão de Hitler na Alemanha e da extrema direita na Europa. Ademais, o autor
trata da ineficácia do Tratado de Versalhes (acordo restritivo impetrado à Alemanha - paz
punitiva) no processo de garantia da paz. A não incorporação dos países derrotados à
economia mundializada fez com que se abatesse uma grande crise econômica, o que
determinou, em última instância, uma nova Guerra Mundial. (II) Tratando da segunda guerra
mundial Hobsbawm afirma ser esta de responsabilidade dos países que constituíram o eixo:
Alemanha, Japão e Itália. Apesar da responsabilização destes países pela segunda grande
guerra a figura emblemática desta catástrofe, sem dúvida nenhuma, foi Hitler. A insatisfação
dos países do Eixo em relação aos tratados anteriores determinou a segunda guerra. A
Alemanha deste contexto insatisfatório começa a caminhar em direção a outras nações, com
objetivo de reconquistar o que havia perdido. O emblemático desta ascensão imperialista
alemã foi os conflitos com a URSS. O Japão também entrou na guerra em função de desejos
imperialistas e econômicos. Foi o Japão e a Alemanha quem determinaram a entrada dos
EUA na guerra, bem como a mundialização da guerra, posto que os conflitos anteriores se
deram nos continentes europeu e asiático. A Itália fascista de Mussolini é obrigada a sair de
cima do muro e congrega os países do eixo, ainda que depois de 1943 ela mude de posição.
Hobsbawm chama atenção para o fato de que o massacre da segunda guerra foi cerca de 3 a 4
vezes maior que o da primeira, além de ser cada vez mais comum a morte de civis, sobretudo
no contexto de bombardeamento aéreo. (III) O autor trata ainda dos efeitos econômicos das
grandes guerras. É certo que este período de guerra que marca o século XX teve profundo
impacto na economia mundial. Afinal, era necessária uma indústria bélica, uma indústria de
roupas e demais instrumentos para a guerra, a incorporação de novos segmentos no trabalho
na indústria (as mulheres) etc. Essas novas dinâmicas fizeram com que os países
desenvolvessem uma economia voltada para a produção em massa. Em alguns contextos essa
tendência econômica foi mais negativa em função das características particulares do Estado
(Alemanha e URSS) e dos massacres de mão de obra, noutros a experiência de reorganização
da economia possibilitava, pelo menos, melhor promoção de justiça social (Grã-Bretanha no
contexto da segunda guerra - será que por influência de Keynes?). Entretanto, grosso modo
foi possível observar, a partir da perspectiva do autor, que a guerra total foi negativa para os
países, com exceção dos EUA. A geografia dos EUA permitiu seu afastamento dos conflitos
bélicos, além deste país ter sido o grande fornecedor bélico das duas grandes guerras, o que
garantiu uma predominância econômica mundial que só se reverte no final do século. (IV)
Finalmente, encerrando o primeiro capítulo, Hobsbawm trata dos impactos humanitários da
Era da catástrofe e da Guerra Total. Basicamente afirma que essas guerras colocaram a baila
do cotidiano da humanidade a tortura, o massacre e o exílio. Esses três elementos fomentados
em massa se constituíram como o grande impacto humanitário fomentado pelas grandes
guerras do século XX, ou seja, passou-se a tratar de forma naturalizada a tortura massiva, os
massacres genocidas de guerra e os números absurdos de pessoas exiladas e expulsas de sua
nação originária em função da guerra.
Capítulo 2 (I) É no capítulo 2 que Hobsbawm discorrerá sobre a Revolução Mundial.
O autor associa o período sangrento da segunda guerra como um contexto catalisador de
revoluções. A exemplo da Revolução Russa de 1917 o autor trabalha essa relação: Guerra -
Revolução. Ainda que não necessariamente uma revolução socialista clássica (em função de
sua constituição pobre, agrária e atrasada) na perspectiva de alguns marxistas a Revolução
Russa tinha o papel fundamental de servir como ponto de gatilho de demais Revoluções. O
sentimento antiguerra fomentado pelo massacre da primeira grande guerra pode ter se
configurado como um dos determinantes que balizaram a Revolução de 1917 e que se
espalhou por toda a Europa. (II) Hobsbawm trata da complexidade em que se viu a Revolução
de 1917. O desgaste do czarismo estava palpável. O desafio era fazer do espontaneísmo
anarquista que emergiu na Rússia com a derrocada do czarismo um Estado que permitisse um
momento de resistência revolucionária. Lênin a frente dos Bolcheviques foi quem permitiu
esse projeto programático para a Rússia ainda que tivesse a compreensão de que não faria
uma Rússia socialista. Seu projeto basicamente se concentrava no gatilho para a derrocada das
burguesias nacionais europeias, para que só então fosse possível pensar em socialismo. A
ascensão do partido Bolchevique ao Estado e a instauração de pautas populares fez com que
este projeto conquistasse hegemonia no contexto Russo. Obviamente que depois da primeira
guerra os países aliados tentaram boicotar a experiência revolucionária posto que representava
uma ameaça ao capitalismo. De 1918-20 a Rússia sofreu uma dura guerra civil fomentada
pelos países aliados, mas se saiu vitoriosa por construir um ambiente de consenso com os
atores internos que permitiram a Revolução. (III) Hobsbawm trata de discutir ainda o impacto
da Revolução Russa no mundo. A perspectiva de mundialização da Revolução tão almejada
por Lenin influenciou uma série de revolucionários e de revoluções. A América Latina foi
impregnada de novas lideranças comunistas. A Europa e a Ásia tiveram experiências de
parceria com o governo revolucionário da Rússia. Entretanto, a perspectiva mundial da
revolução começa a ser combatida com um processo de interferência dos países capitalistas,
que fomentavam revoluções burguesas para barrarem a ascensão do exército vermelho.
Ademais, com a burocratização do Estado soviético e o estrangulamento de suas relações
exteriores perde-se o horizonte revolucionário mundial. É nesse contexto que a esquerda
revolucionária se divide. (IV) Hobsbawm trata ainda do destino da URSS após 1923. A
perspectiva revolucionária internacional (Comitern) defendida por Lênin fora trocada por um
protecionismo Estatal não empático à causa internacional. Com Stálin a frente da nova
programática soviética a burocratização estatal se intensifica aliada ao menosprezo às
demandas revolucionárias internacionais. A despeito deste caráter do stalinismo, não se
deixou de sustentar as experiências revolucionárias capilarizadas no mundo, ainda que de
perspectivas revolucionárias distintas (Marx, Engels, leninista e Trotskista). (V) O autor
discute sobre o processo sedutor do marxismo-leninista do Estado soviético em relação aos
vários países e atores revolucionários. Muitos membros da elite, sobretudo em países
colonizados, incorporaram-se aos partidos comunistas, como no caso do Brasil. Noutros
países as revoluções ocorriam mediadas por atores militares, mostrando a aderência de parte
destes segmentos à perspectiva revolucionária do Estado soviético. (VI) É apresentada no
texto uma característica fundamental das Revoluções sociais do século XX: A formação de
guerrilhas. Mesmo tendo sido conceituadas após a Revolução Cubana de 1959 as Revoluções
via Guerrilha foram estratégias divulgadas pela segunda internacional para impedirem o
avanço dos países capitalistas no contexto da primeira guerra na Europa, além de
possibilitarem a resistência de grupos revolucionários. Mao Tsé Tung foi um dos
revolucionários a utilizarem esta forma de combate na China, visto que garantia privilégios
geográficos que beneficiavam as guerrilhas até a tomada do poder. Estas formas de resistência
e combate foram muito utilizadas na América Latina. (VII) Hobsbawm encerra o capítulo 2
mostrando a relevância da Revolução Russa para o século XX. Foi depois de 1917 que os
outros processos revolucionários se desencadearam. Ao lado da China a URSS constitui um
grande problema para o capitalismo mundializado, na medida em que aquelas grandes
potências fomentavam e sustentavam experiências revolucionárias em todo mundo. Ademais,
foi a partir da Revolução Russa que surgem os partidos social-democratas, e os
contrarrevolucionários fascistas. Graças a Revolução de 1917 foi possível a vitória dos
aliados sobre a Alemanha nazista, além de ser o crédito da saída da crise econômica da década
de 1930 também do socialismo soviético, visto que foi sua gerência econômica inabalável no
contexto da crise que influencia uma política econômica salvadora do capitalismo.
Capítulo 3 (I) No capítulo 3 Hobsbawm apresenta o cenário de crise do início do
século XX que conduziu o mundo a um abismo econômico. O autor mostra como que o
período entreguerras (entre 1920 - 1938) foi devastador para a economia do século XX. Num
período anterior a primeira Guerra (antes de 1914) a tendência econômica era de ascensão do
capitalismo, ainda que alguns economistas previssem ciclos pequenos, médios ou longos de
depressão. Entretanto, o que marca o período entreguerras é que a crise - em especial a
Grande depressão de 1929-33 - coloca em risco a própria existência do capitalismo. O autor
chama atenção para o fato de que nesse período o desemprego cresce assustadoramente. Essa
instabilidade econômica tem impactos profundamente graves no campo político, visto que o
desemprego tinha potencialidades explosivas que colocava o sistema em risco. A saída dessa
crise não foi por caminhos clássicos do liberalismo. É Keynes quem propõe uma política de
pleno emprego que garante demanda efetiva. Os sistemas de proteção social foram criados
nessa perspectiva de prevenção de explosões sociais e de garantia de demanda efetiva no
contexto econômico. Ademais, Hobsbawm mostra um elemento que agrava a atmosfera
política de medo dos capitalistas que é o fato da URSS não ter sofrido agravos no contexto de
crise econômica, ao contrário, ter conseguido garantir pleno emprego e crescimento no
período da Grande depressão. Sem dúvidas parte do plano da União Soviética foi copiada
pelos países Europeus para gerir a crise econômica garantindo proteção social aos potenciais
atores de explosões. (II) Qual o motivo da crise do período entreguerras? Hobsbawm
responde essa pergunta colocando o EUA no centro do debate. O autor chama atenção para o
fato de que desde 1913 o EUA havia se constituído a maior economia mundial. A primeira
guerra mundial possibilitou maior crescimento ainda, o que também ocorreu no período pós-
segunda guerra. O fato é que o EUA serviu de abastecedor da guerra e financiador dos países
em crise. Hobsbawm afirma que os EUA entra nas guerras como devedor e sai delas como o
maior credor mundial. Além dessa característica arrogante da economia americana outra
característica foi fundamental para a crise: a autossuficiência da economia dos EUA. Os EUA
não precisava do mundo para ter progresso econômico. Não preocupado com a estabilidade
mundial para garantir suas transações econômicas os EUA se isola imponente. A crise de
1929-33, portanto, quando abate os EUA abate o resto do mundo, em virtude de sua
subordinação à economia americana. As medidas impetradas contra a Alemanha no tratado de
Versalhes também foi um dos motivos que justificam a crise mundial, como bem sinalizou
Keynes: a sansão imposta a Alemanha teve o objetivo de subordiná-la, o que enfraqueceu a
economia europeia. Ademais, Hobsbawm trata ainda do fator "superprodução" da economia
americana que, aleijada da realização da demanda mundial, fomentou a crise. (III) O autor
finaliza o capítulo 3 tratando dos impactos da Grande depressão para as expressões políticas
do mundo. No contexto europeu a grande depressão fomentou e fortaleceu a extrema direita.
Nas Américas teve-se uma aproximação maior com a esquerda, sobretudo na América Latina.
Nos países colonizados esse período fomentou processos de luta anticoloniais. Hobsbawm
afirma, grosso modo, que o período da grande depressão enterra o liberalismo econômico
clássico e propõe como alternativa econômico-política 3 caminhos possíveis: o socialismo de
Marx; a social-democracia de alguns países europeus ou o fascismo (nacional socialismo de
Hitler e Mussolini).
Capítulo 4 (I) Iniciando o capítulo 4 Hobsbawm trata da queda do Liberalismo no
contexto das guerras mundiais que marcaram o século XX. O Liberalismo clássico, promotor
da democracia representativa, apesar de se constituir na maior parte do mundo em função da
própria guerra, começa a decair. Hobsbawm justifica essa decadência do Liberalismo não pela
capilarização da esquerda no mundo, como querem alguns teóricos - o que seria injustificável
levando em consideração a perspectiva de Stálin para a URSS. O liberalismo clássico decaiu
em função da direita. A direita e extrema direita, sobretudo nos momentos gloriosos de Hitler
e Mussolini, fecharam Assembleias legislativas e influenciaram o erguimento de muitos
regimes déspotas e autoritários. Tanto é que no período entreguerras Hobsbawm apresenta um
dado impressionante sobre a constituição de democracias no mundo: de 65 passa para 12. De
caráter déspota, conservador ou corporativista a direita foi a protagonista pela queda do
Liberalismo. (II) Constatada a culpa da direita no processo de queda do liberalismo
Hobsbawm aprofunda a sua análise e identifica no fascismo a justificativa central. A direita é
diversa, pois congrega liberais fervorosos. Entretanto, também incorpora segmentos fascistas
que aliam nacionalismo, anti-liberalismo e anti-comunismo num mesmo caldo. O autor
destaca o caráter anti-liberal do fascismo e exemplifica esse sentimento com o anti-semitismo
- Afinal o que a figura de um judeu representa? Apesar de em muitas situações o fascismo ter
tido apoio popular foi da classe média a base de sustentação dessa ideologia. Ainda que a
propositura dessa ideologia fosse oriunda de parte da direita extremista conservadora. (III)
Tratando dos objetivos do fascismo, de seus determinantes e natureza, o autor afirma ter sido
ele fruto da necessidade de combate às Revoluções sociais. Hobsbawm concorda com a
afirmação de que Lenin produz Hitler e Mussolini, mas discorda da ideia de que o fascismo
foi uma "Revolução". O fascismo não teve caráter revolucionário, apenas promoveu velhos
interesses de velhas oligarquias e elites políticas sem romper com o capitalismo, apenas com
o liberalismo clássico. Ademais, o autor também discorda da ideia do fascismo como produto
do capitalismo monopolista. Outros Estados-nação, aliados ao capital internacional, ao invés
do fascismo trilharam por outros caminhos. Entretanto, na perspectiva do autor, uma
afirmação é certa: o fascismo foi benéfico para o capitalismo. (IV) Hobsbawm discorre sobre
o fato de o fascismo ter sido um produto da grande depressão. Sem a crise econômica o
fascismo não seria o mesmo, como os dados da ascensão de Hitler após 1929 o demonstram.
Ademais, a novidade fascista, num contexto de crise do Liberalismo clássico, seduz grande
parte do mundo, ainda que não se possa classificá-la como fascista. O fato é que o fascismo
de Hitler e Mussolini tanto na Europa, como na Ásia e América influenciou formas políticas
especialmente no período de Grande depressão e de crise do Liberalismo. (V) Hobsbawm
finaliza seu capítulo 4 mostrando a complexidade que está por trás da queda do liberalismo no
início do século XX. A depressão econômica por si só não explica esta derrocada. Além deste
fator objetivo da depressão - que agigantou experiências fascistas e déspotas por todo mundo -
outro elemento a se considerar é o risco que representavam as revoluções sociais. A
democracia representativa representava a abertura necessária para que, num contexto de crise
econômica, os comunistas ocupassem de vez o Estado e colocassem em xeque o modo de
produção capitalista. Portanto, é por este motivo que países historicamente liberais apoiaram o
fascismo. Reprimir a democracia representativa, ainda que momentaneamente, e instaurar
regimes fascistas e déspotas foi necessário para impedir avanços trabalhistas e comunistas
(Perder os anéis para que não se percam os dedos).
Capítulo 5 (I) No capítulo 5 Hobsbawm trata da união de Estados de ideologia
excludente contra um inimigo comum. O autor mostra como que a ascensão fascista
colocou do mesmo lado capitalistas e socialistas no front. Afinal, tratava-se de uma guerra das
Revoluções (Iluministas ou Socialistas) contra as Contrarrevoluções, cuja maior representante
foi a Alemanha Nazista. (II) O autor pretende ainda compreender o motivo de as potências
demorarem tanto para responderem ao fascismo em construção que, desde o início de 1930,
vinha se constituindo. Uma das primeiras consciências que se manifestaram numa perspectiva
antifascista foi aquela empreendida pela URSS, depois que se converteu de sua militância
contra os social-democratas (ainda que temporariamente). O apelo antifascista da URSS
deixou as grandes potências liberais em uma situação complexa. O medo da ascensão
comunista e o medo dos fantasmas da primeira guerra assombravam os Estados, o que, em
última instância, justificaria uma morosidade no processo de tomada de posição. Exemplos
claros foram a Grã-Bretanha e a França, países beligerantes, mas enfraquecidos pela primeira
guerra. Setores desses países tentaram construir atmosferas de apaziguamento devido a
complexidade da situação, o que fora impossível diante do fascismo de Hitler. (III)
Hobsbawm discorre sobre a guerra civil Espanhola como uma miniatura dos conflitos que se
gestavam no contexto da Europa na década de 1930. A ascensão da esquerda na Espanha via
democracia representativa apressou um golpe de Estado engendrado por forças fascistas. Esse
conflito congregou a esquerda, os nacionalistas e liberais em torno da luta antifascista na
Espanha. Os países liberais não interviram no conflito interno. Entretanto, a URSS comunista
se viu lutando para reerguer a democracia representativa ameaçada pelo fascismo. Esse
desenho é emblemático também para entender o contexto mundial que antecedeu a segunda
guerra: apoio imediato da URSS no processo de luta antifascista e morosidade dos países
liberais clássicos. (IV) A experiência da Guerra civil Espanhola de congregar diferentes
perspectivas ideológicas em torno da defesa da democracia e contra o fascismo apressou a
derrota do fascismo neste país e sinalizou possibilidades concretas na luta antifascista
mundial. A guerra civil Espanhola serviu de mola propulsora para união de Churchill, Stálin e
Roosevelt contra a Alemanha nazista. (V) O autor apresenta o panorama da Resistência
antifascista na Europa ao discorrer sobre o protagonismo dos comunistas, em detrimento dos
liberais e socialistas (social-democratas). O fervor comunista na luta antifascista frutificou
com ascensão de partidos de esquerda no parlamento europeu. A luta antifascista, inclusive,
serviu de baliza mitológica para supervalorizar figuras políticas. O fato é que a hesitação de
muitos países capitalistas fez com que a URSS se destacasse na militância antifascista.
Hobsbawm destaca a perspectiva de internacionalização e o sentimento de serviço à causa
como um dos fatores objetivos e subjetivos que impulsionavam a militância dos comunistas
para a luta antifascista. (VI) O autor destaca ainda as mudanças sociais que ocorreram nesse
contexto de Resistência e luta antifascista. Com exceção dos EUA e da URSS todos os países
beligerantes que se envolveram na guerra sofreram mudanças sociais e políticas tensionadas
pela luta antifascista, o que evidentemente favorecia a esquerda política e suas pautas. (VII)
Tratando do cenário dos continentes asiático, africano e latino o autor discorre sobre a
complexidade que girava em torno da luta antifascista. Nessas regiões vigiam perspectivas
políticas anti-imperialista e anticoloniais muito fortes, tendo em vista sua posição subalterna e
colonizada no globo. Na medida em que muitos países colonizadores como a Grã-Bretanha e
a França estavam no contexto de Guerra outros países colonizados se viram num dilema
(defender o colonizador ou o opressor fascista?). O fato é que a luta antifascista, em última
instância, se capilarizou também nessas regiões, congregando mais uma vez perspectivas
ideológicas as mais diversas: comunistas, socialistas, nacionalistas, liberais, anti-imperialistas
e anticolonialistas. (VIII) Finalmente, Hobsbawm trata da queda do Eixo e do
desaparecimento do fascismo. A luta antifascista enterrou o nazifascismo europeu, o que
deixou espaço suficiente para a URSS desfrutar sua imponência no continente. A queda do
fascismo representou avanços significativos para o mundo, sobretudo no que se refere às
transformações sociais vivenciadas no período de ouro do capitalismo. Ademais, a luta
antifascista deixou um legado importante na história ao congregar perspectivas ideológicas
distintas em defesa de princípios Iluministas e antirracistas.
Capítulo 6 (I) Hobsbawm discorre sobre a arte do período cataclísmico de 1914-45.
Afirma ser este período profundamente influenciado pela vanguarda modernista, aquela que
objetivava romper com as artes clássicas, engessadas de regras estéticas. O dadaísmo, o
surrealismo, expressionismo, futurismo, construtivismo, realismo e Bauhaus foram expressões
modernistas que causaram escândalo e muito desconforto nos apreciadores de arte clássica.
Essas expressões artísticas influenciaram a poesia e a literatura, o cinema, a música (jazz), a
arquitetura e a vida cotidiana (design Bauhaus de móveis etc.). O autor retrata que o caráter
revolucionário das expressões artísticas modernistas aproximavam muito mais esses
movimentos da esquerda do que da direita, ainda que essas expressões artísticas tivessem
pouca ressonância na URSS e na Alemanha. Hobsbawm dá um destaque ao realismo,
expressão artística que objetivava retratar a realidade social, em detrimento dos romancistas.
Esta expressão artística teve maior organicidade com a esquerda, na medida em que
objetivava retratar a realidade. As outras expressões artísticas, apesar de seu caráter
revolucionário em relação às expressões artísticas conservadoras, não influenciaram uma
perspectiva de esperança. Ademais, fica claro, na abordagem desenvolvida por Hobsbawm, o
fato de que as condições objetivas se desenvolvem mais rapidamente que as condições
subjetivas do ser social. Ainda que o capitalismo desde o século passado (XIX) já tivesse sido
plenamente constituído é apenas no século XX que sua subjetividade correspondente (no
campo da arte: expressão artística modernista) começa a se manifestar. (II) Finalizando o
sexto capítulo o autor trata do desenvolvimento dos veículos de comunicação de massa. As
lentes revolucionaram o século XX. A fotografia e a imagem, andando lado a lado com o
realismo, se gabavam de expressar a verdade. O jornal impresso foi um dos primeiros
veículos de comunicação de massa, pois alcançou parte das classes populares, o que as artes
modernistas não conseguiram. Mesmo os não alfabetizados, por meio das figuras e imagens,
foram alcançados. O cinema foi uma das expressões culturais mais difundidas no início do
século XX. Esse veículo, ainda que elitizado em determinados países, evoluiu no início do
século XX. Entretanto, o veículo de massa mais popular foi o rádio. O valor baixo desse item
doméstico permitiu o acesso das massas. O mundo se viu transmitido pelo rádio e passou
ocupar a sala de casa. O acesso à música - o que antes era privilégio da burguesia - fora
popularizado. As estratégias políticas se renovaram em função do acesso ao rádio. Antes da
criação da televisão o rádio foi o veículo mais popular da cultura de massa do início do século
XX.
Capítulo 7 (I) No último capítulo da primeira parte de sua obra Hobsbawm trata dos
conflitos entre a modernização e tradicionalismo que se desenvolveram no mundo do
século XX, sobretudo oriundos de países acima do Atlântico Norte com aqueles
subalternizados. O progresso que representava a ocidentalização, seja socialista da URSS seja
a imperialista, se capilarizava por todo o globo; ainda que em alguns países mais tradicionais
esse progresso fosse retardado, em última instância era um processo quase que certo. O autor
trata ainda que em muitos dos países mais tradicionalistas foi necessária uma modernização
(ocidentalização) para que, justamente, fosse viável a permanência de alguns elementos
tradicionais. (II) O autor discorre sobre o processo de concentração dos polos industriais nos
países do Atlântico Norte (basicamente europeus) na primeira metade do século XX.
Atestando as tendências expostas por Marx, Hobsbawm mostra dados que ratificam o caráter
concentrador de capital, na medida em que os grandes polos industriais - de 60 a 70% deles -,
mesmo num contexto de economia quase que mundializada estavam concentrados na Europa.
Ademais, o autor afirma que essa tendência concentradora só vai começar a mudar a partir do
final do século. (III) Hobsbawm discute o processo de descolonização dos países subalternos.
Com o processo de desenvolvimento industrial e econômico do século XX as tensões entre
modernização e tradicionalismo se acirram e as lutas anticoloniais se manifestam. O autor
afirma que o processo de descolonização foi algo já previsto em tendência. Muitos países
surgiram e se arrogaram soberanos nesse contexto do início do século XX. Hobsbawm
oferece algumas pistas sobre como esse fenômeno ocorre: um acordo entre as elites
internacionais (modernizadoras) com as elites nacionais (conservadoras); o que em muitos
casos garantiu a permanência de tradições ao lado da modernização. (IV) O autor trata ainda
dos motivos da luta anticolonial e dos processos de descolonização. Um primeiro motivo para
a insatisfação dos colonos foi a Grande Depressão. A Grande Depressão afetou drasticamente
os países colonizados. O status de dependência desses países num contexto de crise
econômica engendrou insatisfações que formaram os primeiros líderes políticos que viriam
ocupar posições de poder depois de alcançada a soberania dos países colonizados. Outro fator
importante para pensar os processos de colonização foi o desgaste que a Segunda Guerra
gerou nos países colonizadores. Grã-Bretanha e França foram profundamente envergonhadas
nesse contexto de Guerra; o que fez ruir o mito de superpotências que subjugam seus
colonizados. (V) Finalmente, Hobsbawm discorre sobre a queda da Era dos Impérios que
ousou se estender até a segunda metade do século XX. O autor trata das especificidades da
independência dos países asiáticos e africanos. Ademais, afirma que entre as décadas de 1940
- 1960 grande parte dos países colonizados havia se tornado independente, com algumas
exceções que se estenderam até a década de 1970. Era patente a derrocada da Era dos
Impérios que converteu até mesmo o objeto de literatura dos escritores da época.

(Parte II: A Era de Ouro) – Capítulo 8 (I) No capítulo 8 de seu livro Hobsbawm
começa a discorrer sobre a Era de Ouro do século XX. Essa Era que vai do fim da Segunda
Guerra (1945) até a década de 1970 marca a primeira metade de uma Guerra de qualidade
distinta das duas anteriores que marcaram o século. A Guerra Fria que se estabeleceu entre
URSS e EUA se estende desde 1945 até 1991 com a queda do império socialista. O autor
retrata que na primeira metade desta Guerra uma divisão do globo marcou o século: as regiões
ocupadas pelo Exército Vermelho ficou sob domínio da URSS e o resto do mundo, incluindo
os países recém-saídos do colonialismo, se adequaram à lógica de dominação dos EUA, ainda
que fossem contra o imperialismo do Tio Sam. A URSS, ao contrário dos EUA, perdeu sua
vontade internacionalista de capilarização do socialismo no mundo. Os conflitos que se
engendraram neste primeiro período da Guerra Fria não tiveram caráter bélico. Os dois lados
ameaçavam intervenções bélicas e nucleares, entretanto perceberam a enrascada suicida desta
forma de conflito. Daí o caráter Frio desta Guerra que diferia em qualidade das Guerras
anteriores. (II) O autor ainda trata sobre os motivos da chamada Guerra Fria. A URSS, abatida
e extremamente fragilizada após a segunda guerra, temia a ascensão do capitalismo americano
representado na dominação dos países dependentes. Os EUA, por sua vez, temiam a
perspectiva de Internacionalização do Exército Vermelho, ainda que, como se viu, não
estivesse nos objetivos da URSS se capilarizar no mundo. As duas superpotências, portanto,
no contexto pós-guerra assumiram abordagens profundamente intransigentes no que se refere
à política internacional; e foi esse receio mútuo que fomentou a corrida armamentista de
ambos os lados. Entretanto, mesmo levando em consideração esse aspecto da intransigência e
medo mútuos o autor trata, também, da política populista e eleitoreira de Washington de
combate ao "terror comunista". Ainda que muitos países da Europa fossem anticomunistas foi
nos EUA que essa ideologia anticomunista com fins eleitorais se manifestou, o que, na
perspectiva do autor, pode ser um dos fatores de influência para a Guerra Fria. (III)
Hobsbawm discorre sobre os impactos políticos da Guerra Fria. A corrida armamentista nas
duas grandes superpotências não representou impacto significativo, pois as armas não foram
usadas. Entretanto, o impacto político da Guerra Fria foi palpável. As ingerências tanto dos
EUA com da URSS em países estratégicos foi perceptível. O mundo tornou-se bipolarizado
após a ameaça fascista. O ocidente, em sua hegemonia, tornou-se politicamente
anticomunista. O desenho de muitos parlamentos também se bipolarizou de acordo com a
tendência da Guerra Fria. Mas houve também um impacto econômico significativo. A
comunidade europeia se une em torno de seus interesses econômicos prejudicados nas
guerras. Os EUA temendo essa reorganização econômica europeia propõe o Plano Marshall
para reconstrução dos países prejudicados. A comunidade europeia, junto do Japão, assume a
primazia da economia mundial após este contexto (final de 1940 - 1970), muito em função
dos investimentos bélicos americanos contra as ameaças de revoluções socialistas e sua
proposta radical de política de bem-estar social. O fato é que no final do século XX a
hegemonia econômica norte-americana foi superada pela União Europeia e pelo Japão. (IV)
Nesta parte deste capítulo Hobsbawm trata sobre o final da primeira metade da Guerra Fria e
início da segunda metade. O autor discorre como depois da morte de Stálin em 1953 se
estabelece uma política de distensão, afrouxamento ou détente entre a URSS e os EUA. Os
líderes que assumiram a URSS após a morte de Stálin foram os responsáveis por essa nova
política internacional que, inclusive, provocou o rompimento da China com o Regime.
Entretanto, após a crise econômica de 1970 se inicia um novo período da Guerra Fria. A
corrida armamentista se intensifica e, aliada a ela, o despotismo norte-americano é colocado à
vista de todo mundo em função da Guerra do Vietnã e das Guerras no Oriente Médio. O
caráter bélico e agressivo dos EUA foi muito positivo para a URSS neste período. Entretanto,
a assunção de governos de direita diante da crise econômica da década de 1970 aliada ao
caráter détente do último governo soviético (Gorbatchov) fez com que, na perspectiva do
autor, a URSS findasse pouco tempo depois do fim da Guerra Fria. (V) Finalmente,
concluindo o capítulo, o autor trata de três aspectos importantes sobre a Guerra Fria: 1 - o fato
de ela ter paralisado os conflitos anteriores a segunda guerra; 2 - nessa mesma direção, o fato
de ela ter congelado a situação internacional diante da polarização URSS e EUA; 3 - o fato de
ela ter influenciado a maior corrida armamentista da história. O autor defende, portanto, tendo
em vista as mudanças impetradas pela Guerra Fria no século XX, que o final do século
coincide com o final da Era do Extremos - que é em 1991 quando a URSS se dissolve. Daí a
classificação: O breve século XX, que termina prematuramente.
Capítulo 9 - (I) No capítulo 9 o autor trata dos anos de ouro do capitalismo.
Hobsbawm discorre sobre esse período da década de 1940 até 1970 que ficou conhecido
como o período glorioso do capitalismo. A maior parte dos países industrializados cresceu
assustadoramente. Os EUA, por sua vez, cresceu pouco em relação aos anos anteriores. O fato
é que o mundo passou por um crescimento econômico perceptível, enquanto que no terceiro
mundo, sobretudo a partir da década de 1960, a contradição social se acentuava - nesses
países é apenas em meandros dos anos 1980 que o desenvolvimento econômico se manifesta.
A exposição do autor ainda trata dos impactos ambientais desse crescimento econômico, na
medida em que, quase na mesma proporção de crescimento da economia, cresce também a
poluição do meio ambiente. (II) O autor também discorre sobre a inovação no campo da
produção. O modelo fordista se capilariza e muda o paradigma de consumo dos países
desenvolvidos. As mercadorias se desenvolvem provocando verdadeiras revoluções na vida
cotidiana. A classe popular dos países desenvolvidos agora desfrutava da vida que em tempos
anteriores só a burguesia poderia usufruir. A Seguridade Social e a Proteção Social aliada ao
pleno emprego - com taxas de desemprego de 1% - marcaram esse período nos países
desenvolvidos. Enquanto isso a luta dos países do terceiro mundo se gestava para alcançar
esse nível de bem-estar social. A desigualdade entre essas regiões se manifestou patente. (III)
Hobsbawm discute os motivos da Era de Ouro do capitalismo (40-70). O autor secundariza as
justificativas sobre o progresso da ciência e tecnologia como determinantes para a Era de
Ouro e valoriza o elemento da economia mista. Para Hobsbawm a economia mista que rompia
com a ortodoxia liberal foi a responsável pela proposta de demanda efetiva e pleno emprego
neste período histórico. A possibilidade de consumo universalizada fez com que houvesse
uma demanda efetiva. Expõe uma lista de países que só se desenvolveram com o auxílio do
Estado. A contragosto dos liberais ortodoxos esse modelo social-democrata foi o responsável
pela Era de Ouro do capitalismo, ainda que na década de 1970, em função da crise, os
profetas do passado (Hayek) fossem ressuscitados para geri-la. (IV) O autor trata de um
processo característico da economia da Era do Ouro: a transnacionalização e a
internacionalização. Esses processos permitiram a mundialização da economia, que alcança a
maturidade após a década de 1970, mas que tem seu início em meados da década de 1960.
Obviamente que esse processo de mundialização não seria possível sem o desenvolvimento da
tecnologia, sobretudo as de infraestrutura e de informação. A internacionalização -
caracterizada pelas transações de importação e exportação, mas limitadas pelo território
nacional - e a transnacionalização - caracterizada pelas transações internacionais
especificamente com empresas offshore, que se instalavam nos países desenvolvidos e se
capilarizavam no terceiro mundo, aproveitando a mão de obra barata - permitiram um
primeiro passo para a financeirização da economia, que posteriormente, após a década de
1970, se desenvolve. O fato é que a Era de Ouro favoreceu o processo de concentração do
capital, especificamente do capital alocada nos países do capitalismo central. (V) Finalmente,
para concluir o capítulo 9, o autor se debruça sobre o processo de queda do período de ouro
do capitalismo. O autor sintetiza os pontos principais que marcaram a ascensão econômica do
pós-guerra. Pode-se destacar a política econômica keynesiana que garantiu pleno emprego e
bem-estar social. Em meados dos anos 1960 esse consenso benéfico para capitalistas e
trabalhadores começa a sinalizar uma grande crise. Uma década marcada por movimentações
populares de uma geração que não conheceu os anos de crise do pré-guerra. Essas
manifestações se intensificam na medida em que o consenso de bem-estar sinaliza um novo
período de crise.
Capítulo 10 - (I) No capítulo 10 o autor discorre sobre as facetas da Revolução
Social pós segunda guerra. Num primeiro momento trata de uma revolução numa
perspectiva mais estética. A arquitetura das cidades muda. A população rural e o campesinato
reduzem drasticamente e ocupam maciçamente as cidades. O desenvolvimento dos meios de
transporte também revolucionam a estética das cidades. As casas amontoadas e os arranha
céus revolucionam o cenário das cidades, enterrando de vez o modo de vida medieval e
feudal. Ainda que de forma tardia e diferenciada este fenômeno também ocorre nos países do
Terceiro mundo. (II) Trata ainda da revolução social no setor da educação. A segunda metade
do século XX, em função da instauração de uma economia que incluía as massas, demandou
um contingente de trabalhadores especializados. O autor mostra a taxa de crescimento da
educação secundária e superior tanto nos países centrais como em alguns subdesenvolvidos.
O fato é que este período histórico permitiu uma educação de massa. Esse processo fomentou
movimentos estudantis que aqueceram os conflitos da década de 1960 como o dos estudantes
Franceses de 1968. A luta estudantil era por mais emprego, melhores condições de trabalho e
outros aspectos. Essas experiências da juventude aproximou muitos destes jovens à esquerda.
(III) Aqui Hobsbawm trata do crescimento da classe operária na era de ouro do capitalismo. O
imediato pós guerra até a década de 1980 marcou a ascendência dos trabalhadores industriais.
Entretanto, após este período, com a crise das industrias de modelo seriado, o operariado
começa a diminuir drasticamente, em função de um novo modelo de produção. O autor trata
também do modo de vida do operariado profundamente afetado em função da dinâmica da
economia do pós guerra. Novas atividades culturais ocupavam o tempo que outrora era
direcionado para a organização política. O final da década de 1980, portanto, marca um
período de desmobilização da classe trabalhadora no mundo. (IV) Hobsbawm conclui o
capítulo sobre a Revolução Social impetrada no período do pós segunda guerra com a
exposição da situação da mulher. O autor discorre sobre o ingresso da mulher no mercado de
trabalho, especificamente no setor terciário. Trata ainda dos movimentos feministas que se
formaram em grande parte dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, influenciando
processos de igualdade de gênero.
Capítulo 11 – (I) No capítulo 11 o autor tratou da Revolução Cultural do período pós
segunda guerra. Um primeiro aspecto a se destacar desse processo de Revolução Cultural está
relacionado à família. Hobsbawm afirma que as transformações na família marcaram esse
período do século XX. Os divórcios estavam aumentando, famílias com filhos reduziam e
casas com apenas um morador aumentava. O autor também expõe os conflitos entre o
conservadorismo religioso e a revolução cultural, sobretudo no que se refere ao aspecto da
homossexualidade. (II) Um segundo aspecto da Revolução Cultural tratado pelo autor é de
caráter geracional. A juventude protagonizou parte dessa Revolução, na medida em que
influenciou processos contraculturais e passou a ser um dos principais alvos da economia de
massa. O Rock se desenvolve nesta época com o grande consumo de discos pela juventude. A
política de Pleno emprego permitiu um papel ativo na economia deste segmento geracional.
(III) Partindo do segmento geracional da juventude o autor discorre ainda sobre a influência
deste público nos aspectos culturais mais gerais. Sem dúvida, a juventude influenciou a moda
do século XX com o jeans e a música com o Jazz e o Rock. Ademais, o comportamento
transgressor e rebelde influenciou o uso de drogas, a liberdade sexual, e o dialeto cultural
próprio da juventude, com uso de recorrentes palavrões. O fato é que até mesmo setores da
alta e média burguesia se renderam à cultura impetrada pelos jovens rebeldes da segunda
metade do século XX. (IV) Um último aspecto a se considerar da Revolução Cultural foi o
rompimento com as velhas tradições, as velhas normas, as velhas convenções e valores. O
individualismo se configurou, nesse sentido, como um valor simbólico essencial do
capitalismo do século XX. Rompiam-se as relações comunitárias, sobretudo no espectro da
família. A responsabilidade de cuidado de um ente da família, ao invés de ser assumida pela
própria, passava a ser transferida para o Estado de bem-estar social, com exceção dos países
onde esse modelo não se consolidou. As religiões comunitárias e tradicionais entraram em
crise. Essa mudança teve impacto, inclusive, no tratamento dos loucos que saíam dos
manicômios, pois não havia mais comunidade do lado de fora para que eles fosse tratados. É
nesse contexto de intenso individualismo que surgem os movimentos identitários que, na
perspectiva de Hobsbawm, ansiavam por gotas de comunidades numa selva individualista.
Capítulo 12 - (I) No capítulo 12 Hobsbawm irá tratar do Terceiro Mundo no
contexto da Era de Ouro. Um primeiro aspecto a ser considerado do Terceiro Mundo neste
período é o da explosão demográfica. Enquanto os países desenvolvidos reduziam as taxas de
natalidade no Terceiro Mundo elas aumentavam progressivamente. Talvez em função dessa
característica, mas obviamente que não só, os países do Terceiro Mundo permaneciam numa
condição de crise e de subalternidade. (II) Trata ainda da natureza dos governos políticos dos
países do Terceiro Mundo. Afirma serem governos oriundos de relações com as velhas
oligarquias. Trata também das experiências de Ditadura Militar nesses países, mas não exclui
os países desenvolvidos de regimes militares semelhantes aos que se desenvolveram no
Terceiro Mundo. De qualquer modo o Terceiro Mundo e sua constituição política frágil
ofereceram condições favoráveis para a instauração de regimes militares. (III) Discorre ainda
sobre o processo de modernização deste países. De forma tardia o processo de modernização,
com, sobretudo, uma tendência à industrialização, ocorre em meados da década de 1960
(sobretudo na América Latina). Trata também dos processos de Reforma Agrária, uma das
pautas da modernização desses países, e sua capilarização diversa no Mundo. (IV)
Brevemente o autor discorre sobre o lugar dos países do Terceiro mundo, relacionando o
primeiro mundo aos países capitalistas desenvolvidos e o segundo aos países desenvolvidos
da URSS (Conceito limitado, mas de certa coerência geral). Expõe os conflitos que marcaram
estes países, sobretudo a situação neocolonial em que se colocam, em função de uma
acentuada heteronomia. (V) O autor mostra como que o conceito de terceiro mundo vai
perdendo relevância, ainda que se aumente as desigualdades entre países ricos e pobres. O que
ocorre é que muitos países anteriormente alocados ao conceito de Terceiro Mundo começam a
se desenvolver rapidamente, bem como o seus respectivos PNB. Ademais, o propósito do
autor com essa exposição foi o de mostrar a diversidade dos países pobres e a complexidade
das relações de desenvolvimento e de dependência internacional. (VI) O capítulo 12 é
concluído com a exposição da fatídica transformação social dos países do terceiro mundo; de
fato, os países pobres estavam se modernizando. Apesar da modernização determinar uma
série de conflitos internos com tradições conservadoras ela também permitiu processos de
instabilidade e, como quer Hobsbawm, "inflamabilidade" no mundo. Na medida em que iam
se modernizando as pautas liberais manifestavam-se, e colocavam em xeque os sistemas de
poder cujo objetivo era manter o status quo.
Capítulo 13 – (I) No capítulo 13 o autor discorrera sobre o socialismo realmente
existente. Um primeiro aspecto que o autor destaca do socialismo real é o caráter
autossuficiente de sua economia. Essa autossuficiência que livra a URSS da crise de 1929. O
desenvolvimento da URSS caminhou, portanto, na direção de uma autossuficiência
econômica, relação que só veio mudar a partir das décadas de 1970-80 e que o autor julga ter
resultado na derrocada desta potência mundial. Ademais, Hobsbawm trata ainda do Plano de
desenvolvimento econômico proposto para a URSS. Como se sabe essa forma estatal surge
oriunda primordialmente da antiga Rússia czarista; país extremamente atrasado e fortemente
vinculado às malhas do antigo regime. A transição socialista, portanto, deveria vir após o
desenvolvimento econômico (leia-se modernização) deste país. Essa foi a proposta do Plano
econômico da URSS, desenvolver e modernizar a sociedade atrasada. Essa tentativa
reverberou numa transformação da política campesina para uma política agrária coletiva;
ambas ineficientes. O autor também destaca o caráter burocratizador do Estado soviético e sua
inflexibilidade, mostrando o número crescente de administradores (burocratas). Ademais,
trata ainda do caráter déspota de Stálin e afirma que a trajetória da URSS poderia ser diferente
não fosse o autoritarismo e o despotismo daquele. (II) Finalmente trata da capilarização do
stalinismo nos países socialistas do pós-segunda guerra. Afirma que nestes países o modelo
socialista teve fortes marcas stalinistas, desde o autoritarismo à centralização Estatal.

(Parte III: O desmoronamento) – Capítulo 14 – (I) Na terceira parte do livro que


trata do desmoronamento no capítulo 14 o autor discorrerá sobre as décadas de crise do
século XX, que inicia a partir de 1973. Nessa parte o autor chama atenção para a derrocada
dos anos de ouro do capitalismo. O crescimento econômico das décadas passadas entra numa
fase de depressão, mesmo que alguns economistas tenham medo de tratar a crise nessa
qualidade, a fim de não compará-la à crise da década de 1930. O autor discorre sobre os
conflitos entre a política Keynesiana e a Neoliberal. Ainda no contexto de crise muitos países
irão insistir nas políticas Keynesianas, numa abordagem profundamente desloucada da
tendência mundial. A lógica de produção também muda neste período. Supera-se a produção
massiva proposta por Ford e se adere à tendência proposta pelo modelo japonês de produção.
Hayek em 1974 e Friedman em 1976 são premiados com o Nobel, atestando a tendência
mundial de aderência às políticas neoliberais. O autor trata ainda do progressivo número de
desempregados que este período engendrou, além de desenhar a situação complexa dos
desempregados no Terceiro Mundo que não alcançou um sistema de proteção social como nos
países desenvolvidos. (II) Aqui Hobsbawm trata, no contexto da crise pós 1970, do
enfraquecimento político dos partidos trabalhistas e da esquerda de uma forma geral. A
mudança no mundo do trabalho modificou também a organização da classe trabalhadora. A
desorganização da classe se manifestou e pautas difusas engendraram novos movimentos
sociais, que outrora eram aglutinados no movimento social de trabalhadores. Esse fato
reverberou na crise dos partidos vinculados à esquerda, enfraquecendo a luta dos
trabalhadores. (III) Trata dos impactos dos anos de crise no âmbito dos países socialistas.
Nestes países, mesmo outrora estando fora da economia mundial, se inicia um processo de
integração ao sistema de comércio internacional. Sobretudo no que se refere aos grãos e ao
petróleo, a URSS inicia relações com o sistema capitalista. Entretanto, é no período da
política da Perestroika (de abertura da URSS) que a crise mundial se abate sobre esse sistema
transnacionalizado. É justamente por esse motivo que esses países socialistas sofrem a crise e
a depressão, o que, em muitos aspectos, justifica a derrocada da URSS. (IV) Aqui o autor
procura contextualizar a situação dos países do terceiro mundo neste período. Afirma ter
nesses países uma situação diversa - alguns extremamente pobres e outros em processo de
desenvolvimento. Entretanto, o que se pode homogeneizar é o caráter da dívida que esses
países se envolveram com os bancos da economia central. Com juros extremamente altos
esses países subsumiam suas economias ao pagamento da dívida externa. (V) Finalmente o
autor discorre ainda sobre os impactos da transnacionalização econômica em grande parte do
mundo. Essa tendência de mundialização da economia, que extrapola os muros nacionais, fez
com que se criassem novos Estados-nação com características protecionistas em relação à
dinâmica devoradora das características nacionais. Esses sistemas econômicos protecionistas
desenvolvem também processos de protecionismo cultural e identitário, visto que a lógica
mundializada desconsidera essas realidades regionais e nacionais. O autor mostra a
contradição entre essa relação de transnacionalismo e políticas protecionistas e identitárias,
mostrando que, em muitos casos, estas últimas acabam se subordinando à dinâmica e
tendência mundial, sobretudo em tempos de aderência à teologia do neoliberalismo, onde o
livre mercado - que é transnacional - e a mão invisível deste regulam a sociedade.
Capítulo 15 – (I) No capítulo 15 o autor trata da relação entre Revolução e Terceiro
Mundo. Delimitando o período do segundo pós-guerra o autor analisa o lugar das Revoluções
no Terceiro Mundo em relação aos países capitalistas e socialistas. O Terceiro Mundo
representou um grande perigo para os países de capitalismo central, sobretudo para os EUA.
As ideias de descolonização aproximavam os países do Terceiro Mundo à perspectiva
revolucionária da Esquerda. A maior parte dos conflitos bélicos no contexto do Terceiro
Mundo se deu em função do combate a ameaça do comunismo. Em relação a URSS o
Terceiro mundo sempre se aliou ideologicamente, apesar de não ser a proposta da União
soviética capilarizar sua ideologia pelo mundo - Kurshev acreditava que o capitalismo
perderia hegemonia em função da supremacia econômica soviética. Portanto, a URSS não
fomentava Revoluções no Terceiro Mundo, mesmo que concordasse em apoiar a Revolução
Cubana de 1959. (II) Hobsbawm discorre ainda sobre uma característica estrategista dos
movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, especificamente os de origem latino-
americana. A tática de guerrilha no segundo pós-guerra se manifesta como uma estratégia de
conquista da Revolução. Como se viu, essas estratégias não foram importadas da URSS, mas
das experiências de regiões mais agrárias como as de Mao-Tsé-Tung, Fidel e Che Guevara.
Essas estratégias se capilarizam no Terceiro Mundo e influenciam grande parte das lutas pela
libertação nacional. (III) Apresenta em seguida atores importantes no contexto da Revolução
ou Insurreições populares, pois afirma que as Revoluções mudaram em qualidade em relação
às de 1917 e a de 1793. Trata dos estudantes que, em todos os três mundos, representaram
atores importantes no processo de efervescência política. Como contraponto a ascensão
estudantil na linha de frente das insurreições populares o autor apresenta o processo de
secundarização do proletariado nesse contexto. Os proletários perdem o protagonismo
oriundo do século passado. Ademais, o autor afirma existir, nesse período do segundo pós-
guerra, um rompimento com o ideal da Revolução Mundial. As várias experiências
insurrecionais, sobretudo no espectro do Terceiro Mundo, representavam pautas nacionais, de
libertação e descolonização. (IV) Nesta direção de Revoluções e insurreições populares não
clássicas ao modo de 1789-1917, o autor discorre sobre as Revoluções no contexto específico
da década de 1970, período de crise dos anos de Ouro do capitalismo. Afirma ser desse pano
de fundo econômico o surgimento de Revoluções não clássicas no Terceiro Mundo. Dá o
exemplo da Revolução de 1979 do Irã. Tratou-se de uma Revolução não clássica, pois a
derrubada do xá fora influenciada por um tipo específico de fundamentalismo religioso
islâmico. O autor dá este exemplo para mostrar que nem toda Revolução no contexto do
segundo pós guerra se assemelhou às balizas de 1789-1917. (V) Finalmente, Hobsbawm
conclui o capítulo 15 mostrando duas características inovadoras nos processos
Revolucionários do Terceiro Mundo da década de 1970: a superação das formas e estratégias
antigas de Revolução e a aderência massiva da população nos processos revolucionários.
Enfatizando essa última característica o autor afirma que o apoio popular a estas novas
experiências revolucionárias é muito maior que o de 1917. As Revoluções clássicas foram
organizadas por uma vanguarda político-militar; raramente teve apoio das massas. Nesse
contexto do pós-crise (a partir de 1970) as insurreições tinham profundo apoio popular.
Hobsbawm explica esse fenômeno partindo da hipótese da urbanização da população, pois as
Revoluções são eminentemente urbanas.
Capítulo 16 – (I) No capítulo 16 o autor discorrerá sobre o fim do socialismo. Num
primeiro momento Hobsbawm se debruça sobre a realidade do socialismo Chinês. Expõe o
movimento de ascensão do comunismo naquele país, e apresenta pistas de sua derrocada.
Enfatiza o caráter do governo de Mao Tsé Tung que, ancorado numa supervalorização da
vontade e subjetividade revolucionária numa clara contraposição ao marxismo clássico,
impetrou medidas desastrosas para a comunidade chinesa. Destaca também o rompimento das
relações internacionais entre a China e a URSS. Essa realidade termina apenas com sua morte
em 1976, período em que começa um novo rumo no socialismo Chinês. (II) Trata ainda do
processo de derrocada da URSS que, a partir da década de 1970, começa a declinar em seu
desenvolvimento econômico. O autor retoma seu comentário de outros momentos ao retratar
que um dos motivos do processo de queda da URSS foi sua incorporação na economia
mundializada, mas foi justamente esta nova abordagem que colocou a URSS no olho do
furacão das crises do capitalismo mundial. Está posto o cenário de governo do Gorbachev na
década de 1980. (III) Hobsbawm discorre sobre a ascensão de Gorbachev no governo da
URSS. Trata primeiro do contexto do governo de Brejnev, com acentuada corrupção,
economia inflexível e corrida armamentista incoerente com a situação econômica da união. O
autor discorre sobre processos de disputa dentro da elite soviética. Os reformadores do regime
criticavam essas características suprarreferidas e defendiam medidas que fomentassem o
desenvolvimento da união. Foi este o contexto de ascensão de Gorbachev que o fez acabar
com a corrida armamentista do lado socialista, flexibilizar a economia e abrir relações
comerciais com os EUA. Não à toa Gorbachev foi mais querido no ocidente do que na URSS.
(IV) Discorre sobre os pilares do governo de Gorbachev que foram a Perestroika -
reestruturação da economia - e a Glasnost - reestruturação da política e da democracia.
Hobsbawm afirma que essas medidas de liberalização da economia e descentralização do
poder do governo para o Estado tiveram apoio em função da crise de corrupção e
burocratização da nomenklatura (Brejnev). Foram as medidas da Perestroika e Glasnost que
permitiram maior abertura da economia da URSS e que fortaleceram as Repúblicas Nacionais
vinculadas ao regime, criando uma verdadeira crise de autoridade. (V) Descreve o processo de
derrocada da URSS. Discorre sobre os conflitos internos das Repúblicas vinculadas ao
regime, em função do processo de descentralização. Ademais, desenha o cenário de caos
econômico-social. A economia do regime entrou em colapso; os próprios reformadores
intelectuais propunham medidas absolutamente radicais como a proposta de 100% mercado
livre. O colapso econômico e estrutural da URSS fez com que uma última tentativa de unir o
regime fosse implementada, o que fracassou completamente. Boris Yeltsin assume o Governo
em 1991 radicalizando a tendência econômica proposta anteriormente, e separando a Rússia
da URSS - com o processo de derrocada - tornando a primeira a grande herdeira dos bens da
união. A esta altura Gorbachev fora absolutamente esquecido nos entulhos da crise que suas
medidas engendraram. (VI) Finalmente, Hobsbawm comenta o processo de derrocada da
URSS. Balizado por uma citação de Marx sobre o conflito entre o desenvolvimento das forças
produtivas com as relações de produção Hobsbawm encara dessa perspectiva a derrocada da
URSS. O momento de revoluções sociais da qual falou Marx, no contexto da União soviética,
pendeu mais para o lado do livre mercado no final da década de 1980. O socialismo soviético
foi singular porque de realidade profundamente específica, de estrutura econômico-social
atrasada; o que não permitiu um socialismo nato, de perspectiva internacionalista, etc. Tendo
em vista esta especificidade que germinou o socialismo soviético ficou claro que, conforme as
forças produtivas se desenvolveram os conflitos sociais e revoluções sociais penderam mais
para o desenvolvimento do mercado.
Capítulo 17 – (I) No capítulo 17 Hobsbawm discorrerá sobre a morte da
Vanguarda: a arte após a década de 1950. Num primeiro momento destaca a influência da
tecnologia no processo de popularização e capilarização das artes, da palavra cantada ou
escrita. Afirma ser de responsabilidade da tecnologia a capacidade de tornar a arte
onipresente. Seu caráter de tornar aparelhos, que já existiam, em aparelhos portáteis (rádio,
fitas, etc) teve um forte impacto no processo de popularização da arte. (II) Trata ainda da
situação da arte tradicional a partir da década de 1950. Hobsbawm afirma que este tipo de arte
se espalha no mundo, rompendo com as fronteiras da Europa. Foi possível verificar
expressões artísticas modernas nos EUA, até na parte socialista da Alemanha. Entretanto, o
autor chama atenção para outra tendência que vem marcando o final do século XX: o pós-
modernismo. O pós-modernismo segue o legado do modernismo de não impor regras a
dimensão artística, entretanto diverge daquele movimento em função de ter um profundo
caráter espetacular da realidade, relativo, hiper-realista. A arte espetacularizada se torna
massificada a fim de atender interesses de consumo, de prazer, de hedonismo, etc. A arte
moderna, por sua vez, concentrou seus esforços na direção de estabelecer uma crítica ao
tradicionalismo, além de propor a representação da realidade nas expressões artísticas – ainda
que de forma abstrata. Ou seja, o objetivo era compreender a realidade, a fim de que se
pudesse transformá-la. No pós-modernismo não existe esta proposta de representação da
realidade, pois a perspectiva é de relatividade (a realidade é relativa); ao contrário, a proposta
é de criar uma realidade artística que suplante a realidade concreta, daí o caráter
espetaculizador e, por que não dizer, alienante do pós-modernismo. O autor encerra, portanto,
tratando da morte da vanguarda artística, ou seja, do modernismo.
Capítulo 18 – (I) No capítulo 18 o autor discorrerá sobre o lugar das ciências
naturais no século XX, sobretudo a partir da década de 1970. Hobsabwm afirma existir uma
mudança significativa da ciência do século XIX para a do século posterior. O progresso
científico se intensificou de uma forma assustadora. Esse processo de intensificação científica
se desdobra, sobretudo, no contexto de tentativa de universalização do ensino superior, como
visto no período de ouro do capitalismo. O centro científico mundial deixa de ser o Europeu e
passa a ser assumido pelos EUA, muito em função dos contextos de pós-guerra, que tiveram
os EUA como maior beneficiado. O fato é que a ciência se capilariza de forma assustadora,
promovendo um sentimento de alienação e medo do desconhecido na maior parte da
população leiga em relação à ciência. O que seria o discurso sobre visões de discos voadores
senão uma forma de protesto da subjetividade coletiva contra o despotismo científico? - o
exemplo dos protestos em relação às águas com flúor também é emblemático. No contexto da
URSS e do nacional socialismo Alemão houveram dificuldades em relação à incorporação da
ciência. Apesar da URSS querer mostrar superioridade científica, este regime foi avesso a
teorias que colocavam verdades absolutas em xeque - como na teoria da relatividade de
Einstein. De forma geral, as ciências naturais se desenvolvem e se mundializam ao lado do
progresso científico, naturalizando os produtos científicos como se estivessem para além da
produção humana - Ex: Ninguém sabe como é feito um produto tecnológico, apesar de utilizá-
lo... na pós-modernidade ninguém se assusta com este fenômeno. (II) Nesta parte Hobsbawm
trata da queda da ciência experimental e da ascensão das ciências mais teóricas no campo da
matemática e da física. Exemplifica este fenômeno discorrendo sobre a realidade da física,
que sofre profundas mudanças no século XX. As leis de Newton são derrubadas por uma
teoria da relatividade de Einstein que, por sua vez, é radicalizada na teoria das incertezas e da
física quântica. O fato é que a compreensão da realidade deixa de ser experimental, palpável,
visível e passa a ser mais teórica, especulativa, supervalorizadora da tendência de incertezas e
relatividades. Entretanto, também trata do compromisso de parte desta comunidade científica
do campo das ciências naturais com o movimento de esquerda. (III) Aqui Hobsbawm discorre
sobre o lugar dos cientistas na URSS. Afirma não ter existido uma cruzada contra estes, mas o
Estado se constituiu como um certo empecilho para a divulgação de resultados de estudos.
Entretanto, o autor mostra o caráter importante dos cientistas para o regime, afirmando que no
contexto da união soviética os cientistas foram profundamente necessários para confrontarem
a ciência ocidental, numa verdadeira corrida produtiva. (IV) Aqui Hobsbawm defende a tese
de que a ciência do século XX é marcada pela realidade social do século. Os cientistas
incorporam os elementos presentes na realidade e acabam criando teorias de profunda relação
com esta mesma realidade; ainda que não se perceba essa processo. Exemplo dessa ideia é o
fato de que é no século XX a criação de teorias que procuram explicar o organismo vivo a
partir de fórmulas e mapas tecnológicos (tecnologia essa derivada deste contexto histórico);
além das teorias do caos e/ou cataclísmicas, bem diante do legado histórico das duas grandes
guerras. (V) Finalmente, concluindo o capítulo 18, Hobsbawm trata dos impactos éticos da
pesquisa no século XX. Grosso modo afirma que neste período os limites éticos foram se
tornando cada vez mais largos em função da própria pesquisa científica. Os exemplos das
pesquisas referentes ao aquecimento global, ou do movimento feminista - que se contrapunha
a teorias que discutissem uma pretensa superioridade biológica masculina - são emblemáticos.
Ambas experiências contribuíram para impor limites éticos às pesquisas; o que nem sempre
vem sendo respeitado. Desenvolve-se uma ideia de que o progresso científico deve ser
alcançado a qualquer custo, não importando onde os resultados levarão. A engenharia
genética é um exemplo da banalização dos limites éticos na ciência.
Capítulo 19 – (I) O último capítulo do livro trata dos caminhos que se gestaram para o
novo milênio. Num primeiro momento Hobsbawm discorre sobre algumas características
gerais desse período de transição para o novo milênio. Trata da ausência de perspectivas
internacionalistas dos Estados-nação; fala de possíveis conflitos bélicos, mas sem as
características das duas grandes guerras; fala dos possíveis conflitos dos países desenvolvidos
com os de Terceiro Mundo, etc. (II) Discorre ainda sobre a crise das ideologias políticas
clássicas do século XX: a socialista e a ultraliberal. Ambas as ideologias entram em processo
de derrocada na transição para o novo milênio. A queda do socialismo reverberou no
enfraquecimento da ideologia socialista, o que não significa a insignificância de Marx para o
próximo milênio, mas novas releituras a partir de experiências diferentes das que ocorreram.
Da mesma forma, a ideologia ultraliberal entra em profunda crise, pois o próprio governo
Thatcher sofreu a consequência da impopularidade das medidas ultraliberais. Até mesmo as
medidas do período de ouro do capitalismo entram em crise. A proposta de economia mista
não tem mais ressonância num mundo dominado pela tendência neoliberal. Hobsbawm trata
ainda da crise das instituições religiosas tradicionais, que entram num processo de decadência
nas sociedades. Ademais, discorre sobre uma nova espiritualidade que surge neste período de
transição, não mais vinculada àquelas instituições tradicionais do século passado, mas a um
novo ethos de supervalorização de experiências irracionalistas. No terceiro mundo a
religiosidade popular não sofre os mesmos processos de derrocada das religiões tradicionais,
sendo mais relacionada a uma religiosidade militante. (III) Trata também de dois elementos
importantes para compreender o período de transição do milênio: as crises demográfica e
ecológica. O autor discorre sobre o aumento demográfico tratando-o como um problema para
o terceiro mundo, haja vista que os países desenvolvidos assumem a tendência oposta. O
aumento demográfico do planeta seria um problema a ser enfrentado no século XXI. Ao lado
deste a crise ecológica também se configura como um problema em latência, caso não se
assumam medidas concretas que visem frear o capitalismo devorador da natureza e do
ecossistema. (IV) Discorre ainda sobre o elemento econômico do período de transição
milenar. Afirma ser este um período de intensa crise do capitalismo. Ainda que existisse
esperança de que o final do século fosse de tempos melhores para a economia não foi isso que
se viu. O autor defende a tese de que foram justamente as políticas econômicas não ortodoxas
que salvaram o capitalismo da crise, portanto não é o modelo neoliberal que permitirá o
progresso e a ascensão do capitalismo. O que muda, entretanto, no período de transição
milenar é o fato de que agora o movimento da classe operária está profundamente
enfraquecido, bem como os regimes socialistas, que representavam alternativas ao modelo
capitalista de organização econômica, ruíram. Por este motivo a crise econômica e política são
irreversíveis para o próximo milênio, haja vista que não existe possibilidade de aderência a
um modelo de organização econômica com base no período glorioso do capitalismo -
aderência que fora condicionada por uma classe trabalhadora forte. (V) Discorre sobre as
instabilidades que potencialmente rondam os Estados-nação. A dinâmica da
transnacionalização faz com que muitos Estados-nação percam autonomia sobre seus próprios
territórios, sendo incerto a estabilidade de regimes ancorados na democracia liberal. O autor
afirma ainda que um grande desafio dos Estados-nação, além de manter-se estável diante da
dinâmica transnacionalizada, é a de promover distribuição social no novo milênio. (VI)
Destacada esta preocupação do autor com a estabilidade do Estado-nação, Hobsbawm
discorre ainda sobre um processo de despolitização que acredita se tornar cada vez mais
comum no novo milênio. A tendência das políticas econômicas do novo milênio será
profundamente antipopular, pois será contrária à perspectiva do segundo pós-guerra. Portanto,
cada vez mais serão fomentadas formas de manutenção do status quo - ainda que
eleitoralmente - mas que ainda signifiquem despolitização. É muito semelhante com a ideia de
representação, não representatividade. Delegar para o outro responsabilidades que deveriam
ser coletivas. (VII) Finalmente o autor conclui seu capítulo e sua obra de forma humilde.
Reconhece as limitações de fazer conjecturas sobre o novo milênio a partir do século XX.
Entretanto, enfrenta esta tarefa com otimismo, afirmando não desconsiderar as possibilidades
latentes de o próximo século ser melhor que este. Ademais, acredita que uma mudança na
forma de organização da sociedade é profundamente necessária.
Referência Bibliográfica: LEMOS, Flávia Cristina Silveira. História, cultura e subjetividade:
problematizações. Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 19 - n. 1, p. 61-68,
Jan./Jun. 2007.

Comentário pessoal: Flávia Lemos propõe algumas problematizações sobre a conceituação


de cultura, que, na contemporaneidade, tem profundo caráter plural e fragmentário.
Afirma ser, a noção de cultura clássica, uma dimensão naturalizada, metafísica,
descolada das realidades econômicas, políticas e sociais. A proposta da História Cultural, ou
da sociologia cultural, é justamente a de romper com esta perspectiva, na medida em que
caminha na direção de explicar as práticas determinantes da cultura, os processos que levam à
produção da cultura, conforme Roger Chartier (historiador francês dedicado ao campo da
história cultural).
Nessa direção, Lemos recorre a Michel de Certeau (historiador francês) para tratar da
cultura numa perspectiva plural. Se contrapõe ao conceito de Hannah Arendt (filósofa alemã),
que considera cultura como um legado do passado, uma herança recebida, etc., para expor
uma noção de cultura plural, em movimento e heterogênea, não dividia em erudita e popular.
Existe um intercâmbio, um fluxo de modos de vida que transitam entre o erudito e o popular,
sendo impossível conceituar cultura numa perspectiva de identidades fixas (Chartier).
Ademais, a noção de cultura se complexifica cada vez mais, na medida em que põem-
se em questão as categorias das relações de poder como parte constitutiva do processo de
produção da cultura. Nessa direção, Foucault estabelece como proposta a captação da
singularidade dos objetos culturais, produzidos em contextos e relações de poder
diferenciados que envolvem categorias diversas (classe, raça, gênero, etc.).
A despeito da proposta de Foucault sobre a captação das singularidades dos objetos da
cultura a autora apresenta o conceito de Félix Guattari de subjetividades homogeneizadas no
contexto do capitalismo mundial. Guattari denuncia o processo de captura das subjetividades
promovido pelo capital, mas vislumbra a possibilidade de resistirmos a este processo, na
medida em que desenvolvamos processos de singularização em relação à subjetividade
homogênea e castradora.

Referência Bibliográfica: SILVEIRA, Maria Lídia Souza da. Algumas notas sobre a
temática da subjetividade no âmbito do marxismo. Revista Outubro, N. 7, 2002, p. 103-113.

Comentário pessoal: Silveira inicia seu texto com o poema de Vinicius de Moraes que trata
do olhar do operário que extrapola o do patrão. A visão do operário é engendrada por sua
atividade produtiva. Trata-se de um poema que mostra essa relação entre objetividade e
subjetividade.
A proposta do texto de Silveira é mostrar as relações entre objetividade, singularidade
e subjetividade, no âmbito do protagonismo coletivo... Protagonismo esse que vem sendo
profundamente capturado pela lógica do mercado.
A autora mostra trabalhar com o pressuposto de que a subjetividade é socialmente
produzida, sendo um erro de análise tratar da objetividade sem considerá-la, ou tratar da
subjetividade sem os processos objetivos, contextuais que a determinam e produzem.
A autora recorre a Marx para justificar seu pressuposto (subjetividade produzida
socialmente, concretamente, objetivamente). Tratando da produção de mercadorias no modo
de produção capitalista a autora afirma que o homem, além das mercadorias, produz a si
mesmo. A atividade humana no contexto do capitalismo produz, além das mercadorias
objetivas, uma subjetividade que fetichiza o produto do trabalho humano. Esse processo de
fetichização nada mais é do que um impacto subjetivo produzido pela alienação objetiva do
trabalho humano no capitalismo. A produção humana é desconsiderada e é realçado o caráter
fetichizador da mercadoria, como se ela não fosse produto do trabalho humano. Esse fetiche,
fruto do trabalho alienado, é uma forma de subjetividade produzida socialmente.
Constatado esse pressuposto na teoria de Marx, a autora faz diálogos com teóricos da
psicanálise como Freud, Joel Birman e Jurandir Freire Costa, esses últimos brasileiros. Em
Birman a autora destaca como que as transformações políticas e sociais no âmbito do Estado e
da sociedade civil têm impacto nos processos de subjetivação. Em última instância a autora
chama atenção para a fragmentação social que produz uma fragilização de valores e perda de
referenciais coletivos. De forma semelhante, a autora discorre sobre a teoria de Jurandir no
campo dos valores produzidos pela sociabilidade mercadológica. Os valores passam a ser
geridos pela lógica do mercado. Ademais, esses processos de transformações, acúmulo do
capital e neoliberalismo têm impacto direto na subjetividade dos sujeitos sociais, produzindo
uma série de sofrimentos mentais (desalento, uso de drogas, tratamento psiquiátrico,
compulsões sexuais e alimentares, perversão e masoquismo, etc.). Todo esse processo de
subjetivação impede os sujeitos sociais de criarem alternativas para suas vidas.
Por fim, Silveira trata de forma mais objetiva sobre a relação do ordenamento social
como processo de subjetivação. Recorre a Hobsbawm para tratar de uma característica
essencial do ordenamento societário do século XX: O presenteísmo constante. Esse elemento
nos desconecta do passado e nos desutopiza para o futuro. Aliado a este processo, outros
como o autocentramento e o narcisismo caracterizam os sujeitos modernos: fragmentados,
competitivos, sem afeição coletiva, etc. A alternativa a este cenário catastrófico de
estruturação dos sujeitos, para Silveira, em diálogo com o pensamento Gramsciano, está na
construção de valores contra-hegemônicos, no processo formativo da classe subalterna, de sua
personalidade e de sua cultura; todo esse processo formativo, estruturador de subjetividades,
concatenado à luta anticapitalista.

Referência Bibliográfica: AZEVEDO, Adriana Fonseca de. Serviço Social e marxismo: uma
discussão da problemática do indivíduo. Serviço Social & Sociedade, a. XIX, n. 57, São
Paulo, jul. 1998, p. 109-132.

Comentário pessoal: Adriana Azevedo introduz seu texto tratando das polêmicas que
envolvem a questão da individualidade e subjetividade no âmbito do marxismo. Remonta esta
polêmica aos marcos do stalinismo e que até hoje tem ressonância no marxismo. De outro
lado, teóricos não marxistas afirmam ser a teoria de Marx não pertinente para tratar da
individualidade. A autora também apresenta as polêmicas no contexto do Serviço Social
brasileiro, que se aproximou do marxismo de forma enviesada. O desafio no cenário da
profissão é aproximar-se da individualidade e subjetividade para além do estrutural–
funcionalismo (indivíduo descontextualizado) e do marxismo althusseriano (valoriza as
dimensões econômicas e políticas, em detrimento das humanistas, religiosas, filosóficas, etc.).
Nessa direção, a autora propõe uma análise da obra marxiana e de alguns comentadores
marxistas, a fim de identificar o tratamento dados aos elementos da individualidade e
subjetividade.
Num primeiro momento do texto Azevedo apresenta o cenário onde emergiram as
primeiras discussões sobre o indivíduo no âmbito do marxismo soviético. É apenas na
segunda metade de 1950 que esse assunto se torna relevante e possível de discussão, muito
em função da crise do stalinismo – e também da morte de Stálin. A autora apresenta alguns
motivos para este recalque no contexto soviético: dogmatismo e simplificação teórica
(marxismo-leninista), desconhecimento dos escritos do jovem Marx humanista, contraposição
ideológica às ciências consideradas burguesas (a exemplo da psicanálise), e aderência dos
intelectuais marxistas ao culto da personalidade de Stálin. Enquanto essa escuridão se gestava
na URSS, esse debate se dava entre os existencialistas e os marxistas da escola de Frankfurt
(entre 30 e 50). A autora, nesse sentido, propõe a apresentação do debate sobre o indivíduo no
âmbito do marxismo a partir das décadas de 60/70; período de maturidade sobre essa
discussão teórica.
Em seguida, Adriana Azevedo, antes de discutir sobre categorias da obra marxiana,
digressa sobre a natureza unitária da obra de Marx. Apresenta o debate que trata das fases de
Marx: sua juventude humanista e sua maturidade científica. Essa divisão foi muito
influenciada por Althusser na década de 1960, quando propôs um marxismo científico
apartado da ideologia. Ademais, a autora recorre a Sève para defender a ideia de unidade na
obra marxiana, sendo necessário combater as perspectivas anti-humanistas em relação a obra
de Marx, e também aquelas que a consideram como humanista especulativa (em se tratando
do jovem Marx).
Azevedo trata ainda da noção de natureza e essência humana na obra marxiana,
sobretudo interpretados por Sève, Schaff e Heller. Grosso modo, a autora demonstra que a
noção de essência humana não pousa na concepção de indivíduo isolado, mas é social,
coletiva, está nas relações sociais. Essência humana, portanto, tem a ver com a genericidade
do humano, com as relações sociais. A essência humana é a vida em sociedade. Portanto, o
indivíduo não tem regência sobre a sociedade, o indivíduo é produto das relações sociais, da
sociedade.
A autora também apresenta duas categorias que não podem deixar de serem
consideradas ao tratar da questão do indivíduo na obra de Marx: a história e o trabalho. Para
Marx a história não pode ser naturalizada, ela se movimenta, os homens a fazem sob
condições objetivas e são transformados nesse processo. O trabalho, por sua vez, é o elemento
fundante do Ser Social. No contexto do capitalismo esse trabalho aliena o homem e impede
suas potencialidades de realização e emancipação. Portanto, o trabalho é uma categoria que
explica a produção do indivíduo. Logo, não se pode tratar do indivíduo sem considerar essas
duas categorias elementares na obra de Marx.
Adriana Azevedo ainda discorre sobre alguns subsídios para uma teoria da
personalidade ancorada na teoria marxiana. Novamente utiliza Sève, Schaff e Heller para
demonstrar essa possibilidade. Grosso modo, a personalidade, considerando as capacidades
individuais, a individualidade irrepetível, e a singularidade do homem, tem relação intrínseca
com os condicionamentos sociais, o trabalho alienado ou não, e com a genericidade humana.
Ademais, o homem é um ente complexo, ao mesmo tempo individual, singular e genérico.
Portanto, a personalidade caminha na direção de levar em consideração esses elementos.
Azevedo discute sobre o surgimento da categoria indivíduo na história. Afirma ser
essa categoria emergente da sociedade burguesa. Duas correntes teóricas digressam sobre ela:
os liberais acreditam ser essa categoria exclusiva à sociedade burguesa; e os românticos
afirmam que, a despeito desta individualidade ter sido engendrada na sociedade burguesa, sua
realização verdadeira é impedida pela alienação capitalista. A autora defende que essa
individualidade no contexto da sociedade burguesa é vivenciada de forma problemática na
vida cotidiana, pois a alienação que nos é imposta fere nossa noção de sentido, o que torna
nossa experiência de vida sem valores e comumente refugiada em experiências de
anestesiamento da realidade. A autora afirma que essa busca de sentido deve projetar-se na
direção da alteridade, a fim de buscarmos uma conexão com a genericidade humana; ai está a
estratégia de desalienação.
Finalmente, concluindo seu texto, Azevedo discorre sobre a capacidade de fazer
escolhas do Ser Social. A sociedade burguesa, como já fora tratado, inaugura essa
possibilidade de desenvolvimento da autonomia, entretanto, não se pode deixar de considerar
os condicionantes a que essas escolhas individuais estão subordinadas na sociedade burguesa
alienante. É nessa direção que a autora dialoga com Heller e Schaff para defender a
construção de uma ética da responsabilidade, objetivando não tratar essa questão da
autonomia como escolhas relativas apenas à individualidade singular, mas relacionando-a
também a um compromisso social, coletivo, a uma responsabilidade ética.

Referência Bibliográfica: DUARTE, Marco José de Oliveira. Subjetividade, marxismo e


Serviço Social: um ensaio crítico. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 101, p. 5-24, jan./mar. 2010.

Comentário pessoal: Duarte introduz seu texto indo ao ponto essencial da polêmica que traz
em seu texto, o fato da subjetividade ser considerada algo de menos importância para a
tradição marxiana e marxista. O autor vai discordar desse ponto mostrando de um lado que
ainda que a teoria social crítica marxiana não tivesse dado um tratamento específico para a
subjetividade, ela não foi um elemento de menos importância. De outro lado, Duarte defende
a tese de que as críticas contra a não discussão (recalque) da subjetividade pelos marxistas são
infundadas, podendo perceber essa relação em muitos autores marxistas e também nos
chamados freudo-marxistas da escola de Frankfurt.
Num primeiro momento do texto Duarte relaciona o marxismo à psicanálise, propondo
oferecer pistas para convergências no âmbito da teoria social crítica. Duarte apresenta as
características de cada proposta teórica. Em Marx tem-se uma teoria geral da sociedade, numa
perspectiva universalista. Em Freud, todavia, tem-se uma teoria particular, numa perspectiva
do indivíduo, mas mantendo diálogos com a dimensão civilizatória. Duarte chama atenção
para o fato de que, conforme Rouanet, tratam-se de duas teorias de natureza distinta, logo não
são parte de um método. Qualquer diálogo e convergência que possa haver é uma imposição
do objeto, nunca dos autores, pois não eram esses seus objetivos. Ademais, Duarte mostra
como que a teoria Freudiana caducou, na medida em que a alienação produzida por certa
forma de civilização, da qual ele tratou, foi substituída por nova forma de civilização. Nesse
sentido, Duarte defende um diálogo da teoria social crítica com a psicanálise, na medida em
que se façam as críticas ao esgotamento histórico de Freud. Mas esse diálogo é fecundo, pois
mostra possibilidades de reatualizar a crítica de Freud à civilização e à felicidade. Grosso
modo, é possível uma convergência dialógica na medida em que se estabeleça a teoria
marxiana como elemento chave, a fim de que a essência da crítica Freudiana possa ter
correspondência.
Noutro momento de seu texto, Duarte discorre sobre essa relação com a psicanálise no
âmbito do serviço social. Primeiro, o autor afirma que se a categoria empreendeu uma ruptura
com o conservadorismo no seio da profissão, é necessário que também rompamos com alguns
equívocos relacionados a subjetividade e marxismo. No contexto do Serviço Social, Duarte
apresenta teóricos (Vasconcelos, Bisneto e Nicácio) que dialogam com a psicanálise numa
perspectiva crítica. São teóricos que tecem críticas à psicologia do ego, um revisionismo
grosseiro da teoria freudiana que se estendeu aos EUA. A exemplo destes teóricos Duarte
mostra como é possível fazer uma interlocução crítica com a psicanálise sem cair na
perspectiva conservadora de psicologização das relações sociais, oriunda da psicologia do
ego. Ademais, mostra a importância dessa aproximação, na medida em que a produção
humana também é promotora de subjetividade e, neste contexto de alienação, essa
subjetividade também sofre os rebatimentos dessa alienação. Duarte também demonstra a
importância dessa discussão na atenção ao usuário. A atenção ao usuário e às suas dimensões
subjetivas não encerra o trabalho do assistente social no campo da psicanálise, muito pelo
contrário, trata-se de uma atenção que associa os elementos da subjetividade ao seu processo
de produção correspondente.

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