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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA.
DISCIPLINA: GEOGRAFIA ECONÔMICA
ALUNO: DANIEL C. MARTINS

RESENHA – O FORDISMO (DAVID HARVEY IN CONDIÇÃO PÓS-MODERNA).

O fordismo pode ser entendido a priori a partir de algumas palavras chave como
“linha de montagem”, um modo de produção onde se racionaliza o máximo possível o tempo
de trabalho com a estratégia de produzir mais em menos tempo e uma concentração de
trabalho num espaço fabril, visando uma maior produção em menos tempo. Mas para
entender a complexidade de tal modelo econômico que ainda persiste, David Harvey vai
procurar trazer tal discussão do fordismo a partir de contextos específicos desde o seu início
até sua crise e como pensá-lo criticamente a partir da discussão geográfica em torno do
eventos que possibilitaram sua eficácia.

A partir das ideias de Taylor, Ford procura estabelecer uma base racional para um
novo modo de produção assim como “um novo tipo de trabalhador e um novo tipo de
homem”. Gramsci resume assim o que significa o fordismo e o americanismo para além do
modo de produção, mas para um novo modo de pensar e sentir a vida, o que direciona para
uma nova hegemonia em torno do trabalho.

Mas o fordismo só irá atingir seu apogeu no período pós-guerra. Foi a partir da
necessidade da reconstrução dos países atingidos pela guerra, isto é, na europa. Assim, o
Estado puramente liberal perde espaço por conta das posições de John Maynard Keynes. O
economista britânico situado que funda suas teses a partir das teorias marginais neoclássicas,
o que significa a margem das teorias liberais. Com as necessidades do momento, foi
necessário que o Estado interviesse na economia, dando margem para a teoria
demanda-consumo. A partir da demanda se aumentava a produção e logo se garantiria o
consumo, o que significa que quanto maior a produção, maior também o consumo, pois
quanto maior também o poder de compra mais a economia funcionava. Assim, o Estado
precisava intervir para garantir a subsunção do trabalhador, os direitos mínimos para que
possam ter segurança para que possam consumir. Tais fatores indicavam barreiras para a tese
liberal do livre-cambismo, já que o Estado passava a regular mais fortemente as relações de
trabalho e a economia em geral.

Portanto, o fordismo se encontrou com o Estado de bem estar social europeu a partir
da tese demanda-consumo, com aval dos EUA. O que possibilitou tal sucesso foi o fato do
Estado juntamente com as indústrias e os sindicatos, construindo um modelo que
pressupunha um equilíbrio de forças a partir dos interesses específicos. O que aparece nas
palavras de Harvey sobre a expansão do fordismo: ela ocorre numa conjuntura particular de
regulamentação político-econômica mundial e uma configuração geopolítica em que os
Estados Unidos dominavam por meio de um sistema bem distinto de alianças militares e
relações de poder.

Tais fatores apontam também, apesar das imposições relativas a disciplina extrema
aplicada no modo de produção fordista, também é necessário destacar o poder de negociação
dos sindicatos que tiveram suas demandas atendidas depois de muitas lutas, o que representa
conquistas e direitos. Por outro lado, os países periféricos não acompanhavam a mesma
lógica dos países europeus, pois o modelo fordista era aplicado de forma a não regulamentar
direitos aos trabalhadores, permanecendo com estruturas arcaicas de relações de trabalho.
Mas o fordismo de qualquer modo foi e ainda continua sendo hegemônico nos países
periféricos enquanto modo de produção principalmente por conta de suas imperfeições, pois a
mão de obra barata permanece sendo um atrativo importante para as empresas funcionarem.

O que fez o fordismo entrar em crise em termos globais não foi somente a questão
econômica do petróleo em 1973, mas também as convulsões sociais e culturais, onde
movimentos de contestação não aceitavam mais a lógica da burocratização típica da
modernização (o que foi fortemente abraçado pelo fordismo), o que gerou crises que
passaram a questionar os valores racionalizados que não vinham trazer respostas às novas
demandas e estilos de vida que vinham sendo adotados no momento. Assim, tal “crise
conjuntural” do capitalismo atinge fortemente a rigidez da centralização do trabalho pelo
fordismo, abrindo espaço para novas formas de produção que vão mudar radicalmente o
mundo do trabalho e também as estratégias utilizadas pelos estado nacionais que precisam
enfrentar as novas realidades impostas, abrindo espaço para o que vai ser debatido no
próximo capítulo: a acumulação flexível.
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA.
DISCIPLINA: GEOGRAFIA ECONÔMICA
ALUNO: DANIEL C. MARTINS

RESENHA – A ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL (DAVID HARVEY).

O período de acumulação flexível deve ser compreendido a partir de uma série de


mudanças estruturais no capitalismo que se deram a partir da crise do Estado de Bem-Estar
Social. A teoria keynesiana que previa o crescimento constante acabou não se sustentando,
pois o fordismo já não se estabelecia como antes e a crise dos anos 70 se instala, criando
dificuldades para a manutenção de benefícios e direitos sociais. O pacto que sustentou o
modo de produção fordista que envolvia o Estado, empresas e sindicatos passa a se
enfraquecer, abrindo espaço para uma economia global de livre mercado.

Para se compreender as mudanças de tal período, é preciso apontar uma série de


fatores que alteraram a dinâmica das relações econômicas. Tais mudanças passam a ocorrer
também de forma acelerada e que se transformam constantemente num curto espaço de
tempo, do mesmo modo como as crises estruturais se repetem cada vez mais rápido. Se o
fordismo através da produção industrial representava o eixo da economia, a partir da
acumulação flexível, o setor de serviços ganha mais espaços. O padrão de consumo cresceu
de tal forma que os serviços passaram não só a se ampliar, mas também se apresentar de
modo cada vez mais diversificados. O desemprego passou a ocorrer de forma estrutural, que
diminuiu a oferta de empregos formais abrindo mais ofertas para o trabalho parcial,
temporário e sem garantias anteriores.

Assim, o centro representado pelos trabalhadores formais diminui em relação aos


trabalhadores em relação aos trabalhadores periféricos que não tem o mesmo grau de
especialização então casuais e subcontratados por tempo determinado. Tal crescimento
fragiliza as estruturas sindicais que perdem o poder de negociação por conta da ausência de
acúmulo de trabalhadores capazes de endossar o corpo sindical já que os contratos se dão de
forma cada vez mais intermitentes, além do Estado não possuir mais o papel representativo
em torno da mediação de negociações. Assim, a acumulação flexível concentrou de forma
acelerada a produção em nichos especializados e de pequena escala, com aumento de
competição, prevalecendo a incerteza cultural da “pós-modernidade”.

Outro aspecto significativo foi o aumento da mão de obra feminina. Com as mudanças
acerca do papel cultural da mulher no processo produtivo, ela integra o mercado de trabalho
dentro das condições do trabalho parcial. Tal fenômeno não ocorre de forma progressista, já
que continuam recebendo salários menores e sem perspectivas de garantias. O conhecimento
passa também a aparecer como mercadoria, o que aponta para a compra de ideias,
aumentando assim o individualismo e a competitividade em torno de novas descobertas. O
exemplo do vale do silício enquanto produção de ideias é bem ilustrativo em torno de tal
nuance da flexibilização do trabalho.

O capital financeiro passa a ser protagonista de modo a integrar as demais atividades


inclusive as industriais, de modo a agregar tais interesses que passam por uma financeirização
onde o ganho dos lucros passa a ser visto no final como uma lógica que tem a tônica do ponto
de vista financeiro. Assim, os Estado capitalista passa a recuperar parte do poder que eles
haviam perdido nas décadas passadas. Com a entrada em jogo de agentes internacionais como
o FMI. Tal ponto é importante para que o papel do estado não seja reduzido ou minimizado
nas políticas adotadas a partir do predomínio financeiro, onde a redução dos gastos públicos e
outras medidas que mudam o papel intervencionista do Estado que passa a ser mentor de uma
nova lógica voltada para o livre cambismo. Isso fica evidente nos governos de Thatcher na
Inglaterra e Reagan nos EUA.

Tudo isso indica as mudanças culturais que se deram a partir da década de 1970. o
aumento da competitividade acabou ocorrendo e se estabelecendo dentro das próprias fissuras
da modernidade, já que naquele período se questionava muito a racionalidade presente nas
instituições com uma burocratização que sufocava os poros. Assim, as consequências para o
trabalho se tornam graves, mas se sustentam por conta das inovações e fatores criativos se
estabelecessem de tal forma a alterar a dinâmica social que passa a se dirigir em torno de
valores individualistas e em busca constante do conforto. Sua dinâmica se mantém nos dias
atuais por se apresentar com padrões que criaram novas necessidades humanas e que se
tornaram muitas vezes irreversíveis e a economia se direciona para todos esses aspectos que
aparecem com a acumulação flexível.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA.
DISCIPLINA: GEOGRAFIA ECONÔMICA
ALUNO: DANIEL C. MARTINS

David harvey - O neoliberalismo

Para David Harvey o neoliberalismo deve ser entendido como um avanço dos
objetivos de livre mercado frente ao Estado de bem-Estar social que passa a entrar em
crise. Assim, o autor vai debater acerca de questões que são importantes para entender os
desdobramentos que se dão a partir do neoliberalismo a partir de sua teoria e o modo como
vai estabelecer na prática.
No que diz respeito a teoria, é necessário fazer um parênteses apontando que as
premissas resultantes da persistente “escola austríaca de economia” liderada pelo sr.
Friedrich Von Hayek, que ficou durante três décadas na marginalidade por conta da maior
parte dos países da europa optarem pelo modelo keynesiano que se contrapunha ao livre
cambismo. Assim, o neoliberalismo se apresenta como o resultado de uma escola que
persistiu durante décadas até que as crises estruturais dos Estados keynesianos abriram
espaço para que Hayek e seus seguidores divulgassem suas ideias, adquirindo lentamente
a credibilidade que hoje se tornou hegemônica, já que ela passa a adquirir ares de
cientificidades que antes o liberalismo não possuía, se tornando ponto de diferenciação.
O neoliberalismo na teoria procura resolver as contradições sociais através do livre
mercado atuando a partir da ausência de interferências estatais, partindo do princípio da
igualdade de condições como forma de preservar as livres iniciativas individuais evitando
um “Estado gigantesco” e que criasse um “caminho da servidão” que na teoria de Hayek
aparecem os agentes econômicos que estão fora das relações comandadas pelo Estado
como condenados a uma “servidão”, já que não seriam contemplados por tais políticas.
Assim, foi formulada a tese do “remédio amargo”, onde a democracia não deveria aparecer
de modo tão presente já que em momentos econômicos adversos políticas estatais
democratizantes não seriam viáveis para as soluções que estariam exclusivamente na livre
iniciativa e na igualdade de condições.
Diante dessa longa exposição teórica, é possível ver através do texto de Harvey que
o neoliberalismo na prática não ocorreu conforme o apresentado nas “fórmulas mágicas”
acima. A primeira contradição apresentada é a do poder do monopólio, já que as grandes
corporações de mercado dominam o cenário econômico, concentrando a balança para os
mais fortes em detrimento dos mais fracos. Outro ponto é a fraqueza do mercado em
resolver as próprias situações que lhes são impostas, pois o Estado acaba apresentando
capacidades mais sólidas na hora de apresentar soluções para regular setores estratégicos
da economia. De tal forma, o conceito da igualdade de condições é no mínimo questionável.
É necessário então apontar os vícios que se apresentam nos desdobramentos do
neoliberalismo na prática. Um deles é o trabalho e o ambiente como mera mercadoria, outro
diz respeito ao favorecimento a integridade do sistema financeiro em detrimento de outros
setores, o que aponta um intervencionismo favorável aos mais fortes, derrubando sua
suposta neutralidade. O Estado neoliberal é parcial na medida em que tudo não pode ser
comercializado, pois o presidente impõe leis e regulamentações que nunca vão deixar de
ocorrer devido a natureza de tal instituição, levando a uma compatibilização entre
desenvolvimento e neoliberalização.
Mas quando se trata da desregulação financeira, o problema fica mais delicado já
que se torna mais complicado para que o Estado possa regular por conta de estragos
causados pelas instituições financeiras que fogem do próprio controle previsto. Isso faz com
que as crises ocorram de forma cada vez mais contínuas em períodos que outrora
demoravam mais para ocorrer. Daí que surgem instituições como o FMI e Banco Mundial
que aparecem de forma impositiva diante de governos para negociar o alívio das dívidas, o
que implica a uma contradição gritante, já que cada um não seria responsável por seus
próprios erros? Um exemplo disso, é a imposição do FMI ao México para um ajuste
estrutural de suas dívidas com o objetivo de proteger os bancos de Nova York da falência.
Também há um aumento da extração da mais valia nos países do terceiro mundo, pois a
lógica econômica ocorre no sentido onde os países pobre subsidiam os ricos, onde
governos populistas contribuem para tal quadro na América latina.
Tudo isso cria uma ausência de solidariedade que se expressa na medida em que o
Estado deixa de assumir responsabilidades fundamentais como saúde e educação, pois ao
criar estruturas regulatórias que só favorecem as grandes corporações financeiras, acaba
reprimindo o dissenso, o que aponta para uma situação onde a democracia que era um
valor integrante na teoria liberal, deixa de fazer parte da perspectiva neoliberal.
Assim, o objetivo do neoliberalismo consiste em aumentar o poder da classe
dominante, restituindo o que tal classe havia “perdido” com o Estado keynesiano, abrindo
espaço também para ideologias conservadoras, inclusive nacionalistas, que flertam com a
liberdade do livre mercado. Ou seja, a era de incertezas geradas que se expressam pela
anarquia social e o niilismo, acaba abrindo espaço para todos os tipos de conservadorismos
com viés autoritário se apresentem para reprimir direitos e garantias que representaram
conquistas civilizatórias para a humanidade.

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