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3.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA


COM INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS (emissão não solicitada de
cartão de crédito e o seu uso posterior por terceiros em fraude contra o banco)

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Cível do Foro de Mogi das
Cruzes, São Paulo.

W. S. dos S., brasileiro, casado, aposentado, sem endereço eletrônico,


portador do RG 00.000.000-SSP/SP e do CPF 000.000.000-00, residente e domiciliado na Rua
Laurentino Alves dos Santos, nº 00, Vila Natal, cidade de Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000,
por seu Advogado que esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Adelino
Torquato, nº 00, sala 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, onde recebe intimações
(e-mail: gediel@gsa.com.br), vem à presença de Vossa Excelência propor ação declaratória de
inexistência de débito cumulada com indenização por danos morais, observando-se o
procedimento comum, com pedido liminar, em face de Banco G. S.A., inscrito no CNPJ
nº 00.000.000/0000-00, com endereço eletrônico desconhecido, com filial na Avenida Voluntário
Fernando Pinheiro Franco, nº 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, pelos
motivos de fato e de direito que a seguir expõe:

Dos Fatos:
O autor mantém contrato de conta-corrente com o banco réu, onde inclusive
recebe os seus parcos rendimentos. Trata-se de conta-corrente simples, sem cheque especial ou
qualquer outro contrato acessório, daí a razão de o autor ter estranhado quando recebeu em sua
residência, em meados de maio próximo passado, cartão de crédito emitido pelo banco em seu
favor (cartão não solicitado). Como o cartão estava bloqueado, havendo uma tarja de aviso nele
no sentido de que o desbloqueio deveria ser feito na agência, não deu maior atenção ao assunto.

Qual não foi então sua surpresa quando no mês seguinte recebeu uma fatura
do referido cartão de crédito no valor de R$ 1.745,32 (um mil, setecentos e quarenta e cinco reais
e trinta e dois centavos); ou seja, várias compras haviam sido feitas utilizando o referido cartão
sem que o autor o tivesse desbloqueado ou usado.

Assustado, o autor ligou para o Serviço de Atendimento do banco réu,


protocolo 00000000, quando então foi orientado a lavrar boletim de ocorrência e fazer uma carta
de próprio punho, impugnando as referidas compras e protocolá-la na agência onde tem conta
(documentos anexos).

Mesmo revoltado com as exigências, afinal ele não só não tinha utilizado o
cartão de crédito, mas o que é pior, não o tinha requerido, o autor procedeu conforme orientado,
sendo que na agência lhe disseram que o prazo para resposta era de 4 (quatro meses).

Alguns dias depois, o autor percebeu que foi debitado em sua conta-corrente
o valor de R$ 174,53 (cento e setenta e quatro reais e cinquenta e três centavos), referente à
parcela mínima do saldo do referido cartão de crédito. Veja, douto Magistrado, o autor vive da
sua pequena aposentadoria, sendo que ela mal dá para os remédios e para a manutenção sua e da
sua família, ele simplesmente não pode viver sem o referido valor. Desesperado, ele compareceu
na agência, mas os prepostos da ré simplesmente lhe disseram que nada podia ser feito.

A atitude da ré não deixou, ao cidadão, outra alternativa senão a de buscar a


tutela jurisdicional por meio desta.

Do Direito:
“Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor”.

A relação entre as partes é de natureza consumerista, conforme súmula do


Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 297 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras.

“Da responsabilidade objetiva das instituições financeiras por fraudes


perpetradas por terceiros nas relações de natureza bancária.”

O CDC é claro e direto sobre a natureza da responsabilidade da ré quanto aos


fatos narrados nesta inicial, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
(grifo nosso)

Quanto a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações


bancárias, o Superior Tribunal de Justiça também já emitiu súmula:

Súmula 479 do STJ: As instituições financeiras respondem


objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias.

“Da prática abusiva – envio de cartão de crédito não requerido”.

Há que se lembrar que todos os problemas do autor ocorreram porque o


banco réu, ignorando a letra expressa da lei, lhe enviou um cartão de crédito não solicitado; ou
seja, o banco criou um produto sem solicitação, depois ainda “permitiu” que terceiros não
identificados acessassem este produto, causando inaceitáveis prejuízos ao consumidor.

Eis o que diz o CDC:


Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras
práticas abusivas:
(...)

III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer


produto, ou fornecer qualquer serviço;

(grifo nosso)

Na verdade, o tema não comporta muitas discussões visto que o Superior


Tribunal de Justiça já emitiu súmula sobre o tema:

Súmula 532 do STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de


cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor,
configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa.

Ao comentar o referido dispositivo, o Dr. Rizzatto Nunes, no seu livro


Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, 7ª edição, da Editora Saraiva, na página 604,
observa o absurdo do envio de cartão de crédito sem prévia solicitação do consumidor:

“Em primeiro lugar, para abrir a conta do consumidor, cadastrá-lo e


fornecer o cartão, a administradora violou sua privacidade, uma vez que
manipulou seus dados sem autorização. Depois, colocou em risco a
imagem e o nome do consumidor, pois, ao enviar o cartão pelo correio,
este poderia ter-se extraviado ou sido subtraído, podendo gerar
problemas para a pessoa do consumidor, que tem seu nome impresso no
cartão (e nem desconfia do que está acontecendo). Lamentavelmente
pode ocorrer até de o consumidor, nesses casos, chegar a ser cobrado por
compras que não fez e ser negativado nos serviços de proteção ao
crédito”.

Neste caso, proféticas as palavras do professor Rizzatto.

Dos Pedidos:
Ante o exposto, considerando que a pretensão do autor encontra fundamento
no Código de Defesa do Consumidor e na jurisprudência do STJ, como indicado em item próprio
retro, requer:

a) os benefícios da justiça gratuita, vez que se declara pobre no sentido


jurídico do termo, conforme declaração anexa;

b) a prioridade na tramitação do feito, conforme permissivo do art. 1.048, I,


do CPC, visto que tem 63 (sessenta e três) anos de idade;

c) seja concedida liminar, em tutela provisória de urgência (art. 300 do CPC),


no sentido de determinar ao banco réu que IMEDIATAMENTE suspenda a cobrança, débito em
conta-corrente, dos valores devidos em razão de compras feitas por meio do cartão de crédito
número 0000 0000 0000 0000, emitido sem solicitação do consumidor;

d) a citação do réu, na pessoa de um de seus representantes legais, para que,


querendo, apresente resposta no prazo legal, sob pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia;

e) seja declarada a inexigibilidade de todas as transações efetuadas por meio


de cartão de crédito nº 0000 0000 0000 0000, emitido sem requerimento do consumidor,
determinando-se o seu imediato e total “cancelamento” sem qualquer custo para o autor,
confirmando-se a liminar;

f) seja o banco réu condenado a devolver ao autor o valor de R$ 174,53


(cento e setenta e quatro reais e cinquenta e três centavos), devidamente corrigido e acrescido de
juros desde a data do débito na conta-corrente do autor, assim como outras parcelas que venham
eventualmente a ser debitadas na conta-corrente do autor durante o trâmite do feito em razão do
referido cartão de crédito, não solicitado e não desbloqueado pelo consumidor;

g) considerando o poderio econômico do banco réu, assim como a “prática


abusiva” de enviar ao consumidor produto não requerido, que envolveu o manuseio “não
autorizado” de seu cadastro e de seus dados, causando aborrecimentos e sérios problemas ao
autor, que se viu lançado em história surreal que ainda o desfalcou de parte da sua renda, seja o
banco réu condenado a pagar indenização por danos morais ao autor no valor total de
R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Das Provas, da Audiência de Conciliação e do Valor da Causa:


Ressalvando-se que a responsabilidade do banco réu, na qualidade de
fornecedor de serviços, é objetiva (art. 14 da Lei 8.078/90-CDC), indica que provará o que for
necessário, usando de todos os meios permitidos em direito, em especial pela juntada de
documentos (anexos) e oitiva de testemunhas (rol anexo).

Em atenção ao que determina o art. 319, VII, do CPC, o autor registra que
NÃO TEM interesse na designação de audiência de conciliação neste momento, fato que apenas
atrasaria o trâmite do feito.

Dá-se ao feito o valor de R$ 11.745,32 (onze mil, setecentos e quarenta e


cinco reais e trinta e dois centavos).

Termos em que,
P. Deferimento.

Mogi das Cruzes, 00 de julho de 0000.

Gediel Claudino de Araujo Júnior


OAB/SP 000.000

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