EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS
CÍVEIS DA COMARCA DE ____________.
_____________, brasileira, viú va, pensionista, portadora da cédula de RG nº _________, inscrita no CPF sob nº __________, residente e domiciliada na Rua _________ nº ___, Bairro _______, [Município], CEP: _______-___, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência por intermédio de seu advogado abaixo assinado, com fulcro nos artigos 186 e 927 do Có digo Civil e artigos 6º, VI e 39, III, do Có digo de Defesa do Consumidor, propor a seguinte: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, em face de: BANCO _________, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº ______________, com sede na Avenida __________ nº _____, Bairro _____, [Município], CEP _____-___, com sucursal estabelecida na Capital do Estado de Sã o Paulo na Avenida ____________ nº ___- __ andar, Bairro ____, [Município], CEP: ______-___, pelas razõ es de fato e de direito a seguir aduzidas: I - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA Inicialmente cumpre esclarecer o pedido de gratuidade de justiça, pois, a autora é auxiliar administrativo e aufere renda mensal apenas para a manutençã o de seus víveres junto com sua família. O fato de estar assistida por advogado contratado justifica-se tã o somente pela relaçã o de confiança que a mesma tem com este causídico (inteligência do artigo 99, § 4º da Lei 13.105/2015 - Novo Có digo de Processo Civil), que de imediato aceitou o encargo em nome da má xima que envolve os profissionais do Direito, a manutençã o da Justiça, firmando contrato com a clá usula “ad exitum”. Destarte requer a concessã o da gratuidade de justiça, pois a autora nã o tem condiçõ es de arcar com as custas do processo, sem prejuízo pró prio ou de sua família, nos termos do artigo 4º da Lei nº 1.060/50 , conforme a declaraçã o firmada em anexo. II - DOS FATOS A requerente, como já declinado é auxiliar administrativo, pessoa simples, porém, consumidora ativa de alguns serviços junto a instituiçõ es financeiras (bancos), como é absolutamente comum nos tempos atuais. Em meados do mês de março de 2013, chegou à residência da requerente, via correio, um cartã o de crédito o qual tanto no interior tanto no exterior da correspondência constava propaganda ostensiva da oferta de crédito, com os dizeres “chegou seu cartã o____”. Tal correspondência foi interpretada pela requerente como oferta inofensiva do banco, como milhares de pessoas recebem todos os dias em suas casas. Com o passar de curto espaço de tempo, mais precisamente no mês de abril de 2013 (doc.anexo) a requerente foi surpreendida pela primeira de uma série de muitas faturas de cobrança em seu nome, com o nú mero do cartã o que esta sequer desprendeu da correspondência acima referida. Malgrado empreendido por diversas vezes esforços para encontrar uma justificativa sobre aquelas cobranças absolutamente desconhecidas pela autora, nada lhe foi esclarecido. Com o passar do tempo e ainda sem resposta por parte dos requeridos mais e mais faturas de cobrança chegavam em sua residência, importante atentar para o fato de que em todas elas os valores dos boletos sã o aleatoriamente lançados, sem nenhum apontamento no campo descriçã o, logo a autora que desconhece absolutamente os débitos do cartã o de crédito nunca utilizado e pasme Excelência, ainda bloqueado, nã o sabe a natureza dos débitos lançados irregularmente em seu nome. Até o momento foram recebidas em seu endereço 11 correspondências, a saber: Vencimento 10/02/2015 = Valor da Fatura R$ 965,16 Vencimento 10/01/2015 = Valor da Fatura R$ 974,28 Vencimento 10/04/2014 = Valor da Fatura R$ 1.012,84 Vencimento 10/12/2013 = Valor da Fatura R$ 1.031,15 Vencimento 10/11/2013 = Valor da Fatura R$ 1.037,29 Vencimento 10/10/2013 = Valor da Fatura R$ 1.042,48 Vencimento 10/09/2013 = Valor da Fatura R$ 1.063,50 Vencimento 10/08/2013 = Valor da Fatura R$ 1.083,80 Vencimento 10/07/2013 = Valor da Fatura R$ 1.014,35 Vencimento 10/06/2013 = Valor da Fatura R$ 1.125,25 Vencimento 10/04/2013 = Valor da Fatura R$ 1.169,57 A quantia acima é expressiva frente aos rendimentos da requerente que se encontra angustiada, sob grande temor de ser surpreendida por mais e mais cobranças. Ainda sob o contexto fá tico cumpre informar que nã o houve qualquer soluçã o para o problema apresentado ou contato/ retorno do banco para fornecer esclarecimentos sobre o ocorrido. A situaçã o ainda perdura e a verdade sobre os fatos é que a requerente ainda esta sob o temor de receber novas cobranças, das quais tem absoluto desconhecimento. Em face de todos os seus esforços infrutíferos, nã o resta alternativa para a requerente senã o buscar a intervençã o do Poder Judiciá rio. II - DO DIREITO Em apertada síntese, os fatos acima declinados se demonstram suficientes para que o magistrado solucione o caso. O sempre Egrégio Superior Tribunal de Justiça (STJ), já se pronunciou sobre caso idêntico no julgamento do REsp nº1.061.500, naquela ocasiã o sequer houveram débitos lançados em nome do consumidor lesado, a pretensã o invocava o direito de indenizaçã o por danos morais, simplesmente pelo fato de ter sido o consumidor vítima de prá tica abusiva estampada no Có digo de Defesa do Consumidor em seu artigo 39, inciso III, litteris: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...) III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO E DE FATURAS COBRANDO ANUIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO. I - Para se presumir o dano moral pela simples comprovação do ato ilícito, esse ato deve ser objetivamente capaz de acarretar a dor, o sofrimento, a lesão aos sentimentos íntimos juridicamente protegidos. II - O envio de cartão de crédito não solicitado, conduta considerada pelo Código de Defesa do Consumidor como prática abusiva (art. 39, III), adicionado aos incômodos decorrentes das providências notoriamente dificultosas para o cancelamento cartão causam dano moral ao consumidor, mormente em se tratando de pessoa de idade avançada, próxima dos cem anos de idade à época dos fatos, circunstância que agrava o sofrimento moral. Recurso Especial não conhecido RECURSO ESPECIAL Nº 1.061.500 - RS (2008/0119719-3) Relator - Min. Sidnei Beneti. A chegada de cartã o de crédito em domicílio, de modo surpresa, é uma das mais claras situaçõ es que o legislador consumerista tentou evitar no texto legal acima colacionado. A norma é de tamanha precisã o e cuidado que utiliza expressõ es tais como “ enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço” com a devida vênia pela demasiada repetiçã o, nã o restam dú vidas que a consumidora, aqui requerente, foi vítima de prá tica comercial abusiva. A preocupaçã o do legislador consumerista foi tamanha na produçã o deste avançado códex, que destinou uma seçã o exclusiva para tratar das prá ticas abusivas. A liberdade de contratar e a ampla concorrência sã o linhas mestras do direito do consumidor, porém, quando diante de abusos, o estado-juiz deve ser combativo para frear o ímpeto daqueles que disseminam prá ticas lesivas no mercado, em especial as prá ticas abusivas as quais sã o arraigadas da mais pura falta de lealdade. Quando recebe em seu domicílio cartã o de crédito sem pedido, a prá tica abusiva já se verifica, ademais o fornecedor deve agir com cautela quando oferece qualquer produto, vejamos a liçã o do professor Nelson Nery Jr: “O fornecedor deverá ter a cautela de oferecer oportunidade ao consumidor para que, antes de concluir o contrato de consumo, tome conhecimento do conteúdo do contrato, com todas as implicações consequências daquela contratação no que respeita aos deveres e direitos de ambos os contratantes, bem como das sanções por eventual inadimplemento de alguma prestação a ser assumida no contrato”. (NERY JÚNIOR, Nelson. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 542) Outra situaçã o clara a ser apontada, é que tal prá tica abusiva vai frontalmente contra inú meras disposiçõ es legais, no plano que até mesmo antecede a formaçã o dos contratos, a boa-fé objetiva (artigo 113 e 422 do Có digo Civil)é manifestamente violada, eis que o Có digo de Defesa do Consumidor impõ e um comportamento específico a ser seguido por quem oferta crédito no mercado, o artigo 52 do CDC traz as informaçõ es mínimas que devem ser disponibilizadas ao consumidor, vejamos: Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos; IV - número e periodicidade das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento. § 1º As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigação no seu termo não poderão ser superiores a dez por cento do valor da prestação. § 1º As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação. § 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos. As disposiçõ es do artigo 52 do CDC ficaram longe de ocorrer, repisando, a autora foi surpreendida por um cartã o de crédito em uma correspondência simples, sem nenhuma informaçã o que a lei obriga a instituiçã o financeira a prestar, em seguida transtornada por repetidas cobranças sem utilizar qualquer serviço. Com relaçã o ao Dano Moral experimentado pela autora, este se encontra ínsito no pró prio fato, a situaçã o de angú stia que vem experimentando toca sua esfera íntima de maneira prejudicial, retirando a paz de espírito e a energia moral da autora, que se vê até o momento a sorte e sem soluçã o, sob o risco de ver seu nome negativado junto aos ó rgã os de proteçã o ao crédito (SPC e Serasa). A Constituiçã o Federal vigente deu grande relevo ao aludido direito, assim sendo, guindou ao rol do artigo 5º a proteçã o da honra e da intimidade, assegurando o direito de reparaçã o por dano moral e/ou material decorrente de sua violaçã o, como bem jurídico da mais alta relevâ ncia. Na situaçã o apresentada, deve o julgador também analisar a condenaçã o em danos morais como verdadeira questã o de direito TRANSINDIVIDUAL, porque saindo as requeridas incó lumes deste processo, o judiciá rio cria precedente de estimulo à s instituiçõ es financeiras no sentido de descumprirem suas decisõ es, sendo inatingíveis por qualquer tipo de sançã o, neste sentido: Enunciado 379, IV Jornada de Direito Civil: "O art. 944 , caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil . " Para que os direitos da autora sejam integralmente tutelados, requer que na prolaçã o da sentença conste expressamente a inexistência de relaçã o jurídica com relaçã o ao cartã o de crédito de nú mero (doc.anexo), pois está nunca celebrou com as rés contrato desta natureza, outrossim requer declaraçã o de inexistência de débitos relativos ao contrato de cartã o de crédito absolutamente desconhecido, ora guerreado. IV - DA OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER E DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA Conforme se pode constatar, a aparência do direito, exigida pelo artigo 273 do Có digo de Processo Civil, e que corresponde ao requisito legal da prova inequívoca e da verossimilhança da alegaçã o, encontra-se presente nos fatos alegados e nas provas juntadas na inicial, formando o conjunto probató rio necessá rio para a realizaçã o da cogniçã o da sumá ria, indispensá vel a esta tutela de urgência. A autora está sobre o premente risco de ver seu nome incluído junto aos ó rgã os de proteçã o de crédito (SPC e Serasa), como já declinado, aguardar pelo julgamento final desta demanda pode lhe trazer sérios gravames com o apontamento de seus dados no cadastro de inadimplentes. Nesta esteira, requer de plano, a concessã o da tutela antecipada, inaudita altera pars, para obrigar o BANCO _____ e a MASTERCARD DO BRASIL a NÃ O inscrever o nome da autora em qualquer cadastro de inadimplentes, adotando-se como medida coativa multa diá ria pelo descumprimento mais as medidas que Vossa Excelência entender necessá rias, nos termos do artigo 461 e seguintes do Có digo de Processo Civil. V - CONCLUSÃO Diante dos fatos narrados e todos os dispositivos legais que amparam o direito da requerente, nã o resta aplicar outra soluçã o senã o a mais equâ nime para o caso em tela, sendo entã o a condenaçã o por danos morais e o deferimento do pedido de tutela antecipada a medida de justiça que se impõ e a fim de recompor o patrimô nio imaterial da lesada. Isto com fundamento no artigo 5º, X da Constituiçã o Federal, artigos 113, 186, 187, 402, 927 e 944 todos do Có digo Civil, e as demais disposiçõ es do Có digo de Defesa do Consumidor aplicá veis em especial artigo 39,III, do mencionado diploma. VI - DO PEDIDO Diante do exposto requer em cará ter de urgência: Seja deferida a tutela antecipada, conforme pedido expresso acima; Em cará ter definitivo: A) A total procedência da açã o nos termos do pedido, com a condenaçã o da requerida ao pagamento de indenizaçã o à título de Danos Morais pelos transtornos, dissabores e inconvenientes sofridos, em quantia nã o inferior a quarenta e um salá rios mínimos R$ 32.308,00 (trinta e dois mil reais trezentos e oito reais), ou outra que Vossa Excelência entender conveniente; B) Sejam citadas as rés na forma da lei, para querendo contestarem à presente açã o no prazo legal assinalado, sob pena de nã o o fazendo serem os fatos considerados verdadeiros (art. 319 CPC); C) Seja decretada a inversã o do ô nus da prova nos pontos os quais Vossa Excelência necessitar de maiores esclarecimentos se estes estiverem foram do alcance do autor, nos termos do artigo 6º, inciso VIII do Có digo de Defesa do Consumidor. D) A antecipaçã o do julgamento da lide pela manifesta desnecessidade de ampliaçã o da dilaçã o probató ria, nos termos do artigo 330, I e II do Có digo de Processo Civil. E) Seja condenada a requerida a arcar com as custas processuais e honorá rios de sucumbência no importe má ximo de 20%. F) Seja deferido os benefícios da Justiça Gratuita nos termos da Lei 1060/50, conforme declaraçã o firmada em anexo. Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente pelos documentos juntados e se necessá rio pelo depoimento pessoal das partes. Dá -se a causa o valor de R$ 32.308,00 (trinta e dois mil reais trezentos e oito reais). Termos em que, Pede Deferimento. [Local], [dia] de [mês] de [ano]. [Assinatura do Advogado] [Nú mero de Inscriçã o na OAB]