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DOUTO JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DO CONSUMIDOR DA

COMARCA DE __________

________________________, brasileira, do lar, casada, inscrita no CPF


sob o nº __________________, portadora da cédula de identidade sob o nº______________,
residente e domiciliada na ________________________________, CEP: 4_______, vem, por
intermédio de sua advogada infra-assinada, à presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E


MATERIAIS

Em face de BOMPRECO BAHIA SUPERMERCADOS LTDA, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ 97.422.620/0035-08, com sede na Av. Reitor Miguel Calmon, nº 381, Loja
563, Campo Grande, Salvador/BA, CEP: 40.080-030.
Em face de COMPANHIA ULTRAGAZ S A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ
61.602.199/0001-12, com sede na Av. Brigadeiro Luís Antônio, 1343, Andar 9, Bela Vista, São
Paulo/SP, CEP: 01.317-910, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

DO PEDIDO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente requer a concessão dos benefícios da Gratuidade da Justiça com


fulcro no art. 98 e seguintes da Lei 13.105/2015, por ser a Autora pessoa carente de recursos
suficientes para arcar com as custas processuais, e não possuir condições de assumir as
despesas sem prejuízo próprio e de sua família.
Conforme o artigo 99, §3º do CPC, “presume-se verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”. É importante destacar
também que, ao Magistrado somente cabe indeferir o pedido se houver nos autos
elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, de
acordo com o artigo 99, §2º do CPC.

DOS FATOS

No dia 10.07.2021 a Autora comprou um Vale Gás da 2ª Acionada, no valor de


R$ 87,99 (oitenta e sete reais e noventa e nove centavos) no supermercado da 1ª Ré. Em
seguida, realizou o pedido por telefone do produto, e recebeu uma mensagem de
confirmação no celular.

Contudo, a Peticionária não recebeu a mercadoria na sua residência, embora


tenha efetuado pagamento devidamente. Acreditando que seria apenas um atraso
momentâneo, precisou utilizar o botijão de gás emprestada de terceiros.

A autora buscou de todas as formas resolver, entrou em contato, mandou msg


no WhatsApp da empresa, buscou o gerente do supermercado e nada foi resolvido.

Ocorre que se delongou e não chegou o produto. Nessa senda, a Autora


compareceu presencialmente ao estabelecimento da 2ª Ré para esclarecer o ocorrido, sendo
informada que o gerente sanaria o problema.

Sucede que, até o presente momento, não houve quaisquer providências por
parte das Acionadas para resolver esta situação, considerando que não recebeu o produto
adquirido, e nem foi reembolsada pelo valor pago. Cumpre ressaltar que, a Acionante
precisou efetuar pagamento em outro gás de cozinha, no valor de R$ 88,98 (oitenta e oito
reais e noventa e oito centavos), para realizar suas atividades domésticas essenciais, em vista
da conduta negligente das Rés pois sua vizinha pediu de volta o botijão.
Comprovante da 2ª Compra R$ 88,98.

Tratativas junto à 2ª Acionada. Sem solução


Tratativas junto à 2ª Acionada. Sem solução.

Excelência, a Requerente permaneceu ávida pelo recebimento do produto


adquirido, tendo em vista que cumpriu com sua parte do acordo, efetuando o pagamento e
solicitando a entrega do produto. Ora, mesmo o gás de cozinha sendo um item essencial em
qualquer residência, as Acionadas, que se propuseram a fornecer este produto, simplesmente
não cumpriram a entrega.

Importa destacar que, a Autora é pessoa humilde, de baixa renda, e não dispõe
de recursos suficientes para despender o pagamento, duas vezes, por esta mercadoria, sem
que isso afete outra despesas mensais. Inobstante a isso, precisou arcar com pagamento de
outro gás de cozinha, mesmo com o pagamento aprovado da primeira compra.

Assevera-se que, diante da evidente falha na prestação de serviço, a


Requerente entrou em contato com a loja, e posteriormente compareceu presencialmente ao
estabelecimento. Todavia, foi igualmente ignorada pelas partes Demandadas.
Para agravar a situação, ao tentar novamente requerer a entrega da garrafa de
gás, a 2ª Acionada informou, arbitrariamente, que o pedido havia sido cancelado
unilateralmente. Entretanto, além de realizar o cancelamento unilateral do pedido, as
Demandadas sequer adotaram as medidas cabíveis para o ressarcimento do valor pago pela
Peticionária, que está desamparada na relação de consumo em comento, em vista da postura
abusiva e ilícita das Reclamadas.

É de se observar a omissão das Acionadas no caso em tela, visto que, realizam


um serviço essencial, qual seja, distribuição de gás, e não cumprem com a sua parte da avença
contratual. Além das Acionadas não entregarem a mercadoria, também cancelaram
unilateralmente a compra após confirmação do pedido, sem sequer reembolsar o valor
despendido na aquisição.

É inadmissível que as empresas fornecedoras possam fazer isso com uma


consumidora, ludibriando e desfalcando uma pessoa humilde, que realiza suas compras com
muito esforço, sendo que adquiriu produto de caráter essencial para utilizar em sua
residência, e agora está em desvantagem manifestamente excessiva, visto que as Acionadas
se abstiveram de entregar a mercadoria e estão retendo ilicitamente seus recursos
financeiros. Por estes motivos, vem postular em juízo.

DO DIREITO

O art. 186 do CC contém a seguinte regra:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

A pretensão da Autora está respaldada no art. 2º do Código de Defesa do


Consumidor, que conceitua consumidor como sendo “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviços como destinatário final”. E no art. 3º do mesmo código, que prevê:
Art. 3º: “Fornecedor é toda pessoa física e jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

Por estarmos inegavelmente diante de uma relação de consumo, além dos


dispositivos contidos na lei material, o caso sub examine deve ser julgado com base no art. 14
do CDC, que tem a seguinte redação:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos”.

Contudo, as Requeridas desrespeitaram a consumidora, ora Requerente, conforme art. 5º,


inciso III da Constituição Federal, e também violou os Princípios que regem as relações de
consumo, constantes do art. 4º, I, III e IV do CDC, quais sejam a Boa-fé, Equidade, o Equilíbrio
Contratual e o da Informação.

“Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo
o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:”
“III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a
necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170,
da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores;”
“IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto
aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;”

Demais disso, imperioso destacar que o decreto nº 10.282, de 20 de março de


2020, conceitua o serviço de distribuição de gás como serviço essencial.

Art. 3º:
§ 1º São serviços públicos e atividades essenciais aqueles
indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade, assim considerados aqueles que, se não atendidos,
colocam em perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da
população, tais como:
LII - produção, transporte e distribuição de gás natural

No caso em comento, a Requerente efetuou a compra do produto de caráter


essencial para utilizar em sua residência, com a devida confirmação do pedido, mas, não recebeu
o produto, e inopinadamente teve o seu pedido cancelado. Ressalta que as Demandadas sequer
procederam com o ressarcimento, prejudicando a Acionante de forma descabida.

DO CUMPRIMENTO DO CONTRATO

O Código de Defesa do Consumidor preceitua no seu artigo 35, in verbis:

“Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar o


cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor
poderá, alternativamente e à sua livre escolha:”
“I- Exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da
oferta, apresentação ou publicidade;”
“II- Aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
“III- Rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada e as perdas e danos.”.

Desta forma, a Requerente comprou o produto de seu interesse, e este não foi
entregue, mesmo após longa espera por esta Peticionário, não havendo cumprimento da
legislação consumerista.

Em consonância com o inciso I do artigo supracitado, a oferta deve ser


cumprida, nos termos da sua apresentação.

Outrossim, não resta dúvidas que a situação gerou transtornos à Requerente,


que ultrapassam o mero aborrecimento, pois não houve boa fé, nem respeito ao consumidor,
por parte das Requeridas, que foram negligentes e omissas.

Por isso, deve ainda ser aplicado o disposto no art. 6º do CDC, em seu inciso VI,
que prevê como direito básico do consumidor, a prevenção e a efetiva reparação pelos danos
morais sofridos, sendo a responsabilidade civil nas RELAÇÕES DE CONSUMO OBJETIVA, desse
modo, basta apenas a existência do dano e do nexo causal.

“VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;”.

No mesmo contexto, estrutura-se a falha na prestação de serviços das


Requeridas, na forma dos artigos 30 do CDC.

“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,


veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a
ser celebrado.”.

É insofismável que as Requeridas violaram os direitos da Requerente, ao agirem


com total descaso, desrespeito e negligência. Como preconiza o art. 927 do Código Civil,
configurando, ainda, a má prestação de serviços.

DOS DANOS MORAIS

É oportuno destacar que, ao dispor sobre as consequências advindas da prática


do ato ilícito, o art. 927 do Código Civil preceitua: “Aquele que, por ato ilícito, causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo”.

“Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”.

Com base nos fatos expostos anteriormente, é fácil concluir que o dano
causado ao Autor provém da frustração decorrente da PRODUTO COMPRADO NA LOJA MAS
NÃO FOI ENVIADO PARA O CONSUMIDOR – AUSÊNCIA INJUSTIFICADA NA ENTREGA –
AUSÊNCIA DE RESSARCIMENTO – CANCELAMENTO UNILATERAL – FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO

Assevera-se ainda que, a Autora tentou solucionar o problema por todos os


meios de comunicação disponibilizados pelas Rés, que ignoraram completamente o seu pleito
impondo dificuldades para a resolução do negócio consumerista.

Não é difícil imaginar a frustração suportada pela Requerente, que ficou,


literalmente, à mercê da boa-fé das Requeridas. Conforme os dias passavam, aguardava
ansiosamente o cumprimento da oferta, mesmo que com o atraso demonstrado. Ao final,
tudo se transformou apenas em frustração, nunca recebeu o produto, nem foi ressarcida pelo
valor despendido.
A Autor perdeu tempo e dinheiro tentando, reiteradas vezes, solucionar o
problema com as Requeridas, que não apenas deixaram de resolver esta situação, como
também a negligenciaram totalmente, demonstrando total descaso com o consumidor.

É imperioso destacar, Excelência, que essas empresas oferecem seus produtos


como grandes oportunidades, induzindo à compra imediata, mas acabam por violar o direito
de alguns consumidores, considerando que não tem controle de suas operações, fazendo
constantemente cobranças indevidas, enviando produtos trocados, ou deixando de cumprir
com o prometido, como no caso “sub examine”.

Por este motivo, devem ser as Acionadas condenadas pelos danos morais
configurados no caso em comento. As empresas Requeridas mantém inúmeras ofertas, e no
final apenas forneceram aborrecimentos e frustrações ao Requerente.

O direito à indenização deve ser visto a partir de vários aspectos: ressarcimento


pelo estresse psicológico causado, além de ser um meio de deter estas práticas de desprezo ao
consumidor.

Destarte, amparada pela lei, doutrina e jurisprudência pátria, o Requerente,


deverá ser indenizada pelos danos que lhe forem causados, assim, é cabível o ressarcimento a
título de danos morais, a ser arbitrado por Vossa Excelência, de conformidade com os
princípios de equidade e justiça.

Desse modo, resta comprovado o nexo de causalidade decorrente da falha na


prestação dos serviços pela empresa Ré, ao violarem os direitos da Autora no negócio
consumerista, resultando na necessidade de que sejam condenadas ao pagamento de
indenização pelos danos morais causados.

Sobre o nexo de causalidade, o mestre VENOSA nos ensina:

“É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da


relação causal que se conclui quem foi o causador do dano” (VENOSA, Sílvio
de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2010).

Quanto ao dano moral, requer que se digne Vossa Excelência fixar o montante
indenizatório, com base no art. 944 do CC, o qual estabelece que a indenização deve guardar

proporção com o dano sofrido.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

No contexto da presente demanda, há possibilidades claras de inversão do


ônus da prova diante da verossimilhança das alegações, conforme disposto no artigo 6º do
Código de Defesa do Consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII – a facilitação da


defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, seguindo as regras
ordinárias de expectativas.

Desse modo, cabe ao requerido apresentar provas contrárias ao que foi


exposto pela Autor, quais sejam, comprovante de entrega do produto; solicitação de
cancelamento; comprovante de reembolso.

É de se verificar que algumas provas seguem em anexo. Assim, para as demais


constatações que se fizerem necessárias para resolução da lide, deverá ser observado o
dispositivo da citação acima, pois se trata de princípio básico do consumidor.

DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Posta a questão nesses termos, demonstrada a veracidade das alegações expostas


nesta manifestação processual, requer o Autor que se digne Vossa Excelência a:

Designar dia e hora para a realização da audiência de conciliação a que se


refere o art. 334 do CPC, desde logo manifestando o seu interesse pela autocomposição
(inciso VII da mesma norma), para tanto requerendo que as adversas partes sejam intimadas
a comparecer ao citado ato processual.

a) Deferimento do pedido a fim de que seja concedida a JUSTIÇA GRATUITA.

b) Determinar o aperfeiçoamento da citação das adversas partes, para que, querendo,


apresentem contestação no prazo legal, sob pena de revelia.

c) Que seja deferida a inversão do ônus da prova, conforme previsto no art. 6º, inciso VIII, do
CDC. Considerando a hipossuficiência técnica da consumidora.

d) Ao final, JULGAR A AÇÃO PELA PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS, condenando a Ré ao


pagamento de INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS na quantia de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), pelo descaso e negligencia em face do consumidor.

e) Seja condenada a adversa parte a proceder com a ENTREGA DO PRODUTO ADQUIRIDO, ou,
RESTITUIÇÃO DE VALOR PAGO no total de R$ 87,99 (oitenta e sete reais e noventa e nove
centavos) com os reajustes previstos em lei.

f) Seja condenada a adversa parte a INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, restituindo o


valor que a Autora precisou despender em outra garrafa de gás, na quantia de R$ 88,98
(oitenta e oito reais e noventa e oito centavos), considerando a ausência de entrega do
produto adquirido.

Protesta por todos os meios de provas em direito admitidos, principalmente


documental, depoimento pessoal do representante da demandada, e a juntada de novos
documentos.
Dá-se à causa o valor de R$ 10.176,97 (dez mil e oitenta e oito reais e noventa e
oito
centavos).

Nestes termos, pede deferimento.

Salvador/BA, data inserido digitalmente.

F__________________
OAB/BA _____

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