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EXCELENTISSÍMO JUÍZO DE DIREITO DO JUÍZADO ESPECIAL CIVEL DA

COMARCA DE SETE LAGOAS NO ESTADO DE MINAS GERAIS

THALLES EDUARDO CORDEIRO MACHADO, brasileiro, solteiro,


autônomo, portadora do documento de identidade nº MG – 13.493.108, inscrito no
CPF sob o nº 083.325.386-70, residente e domiciliada na Rua Araçaí, nº83, Bairro
Bernardo Valadares, Sete Lagoas/MG, CEP: 35.702-7366 Tel.: (31) 9 99595-8909,
vem perante Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado infra-assinado,
propor a seguinte

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANO MORAL

Em face de CORI SAÚDE OCUPACIONAL, nome fantasia (CORI – CENTRO


DE SAÚDE OCUPACIONAL, RADIOLOGIA E IMAGEM SETE LAGOAS LTDA -
ME) pessoa jurídica de direito privado, CNPJ: 12.091.284/0001-58, com sede
situada na Rua Sousa Viana, nº 380 BLOCO 02 Bairro Centro, Sete Lagoas /MG –
CEP: 35.700-015.

DOS FATOS
O requerente foi servidor público municipal e para pleitear tal cargo é
necessário participar de processo de convocação atentando-se a levar todos os
documentos descritos no edital, sendo um deles um atestado de saúde
ocupacional emitido por um médico do trabalho atestando a aptidão para
desempenhar o cargo pleiteado.

O requerente por conhecer apenas uma única clínica do trabalho na cidade,


sendo a clínica requerida sempre a procurou desde 2016 para concorrência do
cargo. Acontece que a denominada clínica sempre colocou empecilhos para
atender o cliente como por exemplo cobrar valores diferentes para emissão da nota
fiscal de serviço entre outras condutas como a cobranças por atestados (laudos) e
não pela consulta. Sendo assim, se o requerente necessitasse de dois laudos era
necessário pagar a consulta duas vezes para emissão dos laudos. Sendo que a
cobrança é feita pelo serviço de consulta e não pelos laudos, sendo direito do
paciente a solicitação de quantos laudos forem necessários a serem atendidos em
uma única consulta.

A Resolução CFM n 1.658/02, que normatiza a emissão de


atestado médico, estabelece:

Art. 1 O atestado médico é parte integrante do ato médico,


sendo seu fornecimento direito inalienável do paciente, não
podendo importar em qualquer majoração de honorários.

Aos 15 de fevereiro de 2023 compareceu a clínica requerida com o intuito de


realizar consulta para obtenção do atestado validando a aptidão ocupacional para
exercício laboral, estando presente o requerente da ação e sua mãe Marinês Sousa
Cordeiro, ambos para obtenção de atestado ocupacional.

Depois de preenchida a ficha do requerente e de sua mãe, o mesmo foi


chamado a sala da coordenação da clínica, oportunidade essa em que a
proprietária do estabelecimento Adriana Maria Alves da Fonseca informou que não
realizaria os atendimentos seu nem de sua mãe, justificando que sempre que o
requerente se dirigia à clinica era para levar problemas e dores de cabeça, motivos
pelos quais não os atenderia mais. Oportunidade essa que foi indagada pelo
requerente quanto a qual tipo de dor de cabeça era estaria causando, uma vez
que sempre apenas requereu o que lhe é de direito.

Solicitar a nota fiscal do serviço, questionar o valor da consulta ser um valor


com emissão de nota fiscal e outro valor sem emissão de nota fiscal, bem como
questionar a quantidade de laudos necessários à consulta, não aceitando pagar
por laudos e sim por a consulta.
Diante disso a proprietária respondeu que já teria inclusive respondido um
processo administrativo devido denúncia realizada pelo requerente no ano de
2017, havia gastado dinheiro com advogado e em razão disso não iria atender o
requerente nem a mãe de forma alguma.

O requerente realizou denuncia no Conselho Federal de Medicina contra


conduta considerada antiética e ilícita por parte da clinica no ano de 2017. Sob o
nº de protocolo: 000786/2017 em 23 de janeiro de 2017.

Ao informar a recusa ao atendimento de um estabelecimento aberto ao


público o requerente se sentiu coagido e discriminado momento esse que solicitou
o comparecimento da polícia militar para registro de ocorrência.

Após alguns minutos na sala da coordenação chegou ao recinto um senhor


chamado Gabriel Nogueira Marques, gritando de maneira vexatória com o
requerente e sua mãe, ordenando a sua saída do seu hospital, pedido esse que não
foi obedecido pelo requerente que solicitou que o senhor Gabriel se afastasse
devido ao período de distanciamento social que estava decretado, sendo o pedido
desacatado pelo senhor Gabriel, oportunidade que o requerente retirou o celular
do bolso para produzir provas por meio de vídeo. Diante da atitude o senhor
Gabriel agarrou os braços e pescoço do requerente tomando o celular de sua mão
e o expulsando de maneira vexatória perante todos ali presente até a porta da rua.
Oportunidade também que foi feita a tentativa de devolução dos valores pagos
para a mãe do requerente, que prontamente recusou a devolução alegando que
aguardaria a chegada da polícia, em ato contínuo a Adriana tentou tomar a bolsa
dos braços da mãe do requerente com o intuito de introduzir o dinheiro devolvido
no interior da bolsa, tentativa que se falhou, então nesse momento a senhora
Adriana proferiu os seguintes dizeres de baixo calão como: “Você é uma picareta,
se quiser conseguir dinheiro vão a outro lugar!”. Diante dos fatos foi esperada a
chegada da polícia militar para registro de ocorrência e futuras providências. BO
nº2022-007147631-001
É importante ressaltar que conforme depoimento do próprio requerido em
boletim de ocorrência, Gabriel e Adriana assumem ter colocado o requerente para
fora do estabelecimento pelos braços e que não o atenderia na sua empresa.

O requerente faz tratamento psiquiátrico para depressão tomando as


seguintes medicações Quetiapina 25mg e Venlafaxina 150mg. Tal acontecimento
ainda traz lembranças e tormentas sempre que o requerente precisa passar por
alguma sala de espera em consultórios médicos.

Nenhuma empresa pode discriminar um consumidor, uma prática abusiva


segundo o Código de Defesa do Consumidor, sendo assim terminantemente
proibido recusar atendimento ao consumidor, segundo o artigo 39, inciso II do
CDC.

É vedado ao fornecedor de produtos ou


serviços, dentre outras práticas abusivas:

II – Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na


exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de
conformidade com os usos e costumes.”

IX – Recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,


diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto
pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados
em leis especiais.”

Ademais, existem até mesmo decisões judiciais que determinam o pagamento de


danos morais por negar atendimento possível à demanda do consumidor.

Nesse sentido, a Lei 1.521/51 que trata dos Crimes Contra a Economia


Popular, dispõe em seu artigo 2º, inciso I, que é crime recusar individualmente
em estabelecimento comercial a prestação de serviços essenciais à subsistência;
sonegar mercadoria ou recusar vende-la a quem esteja em condições de comprar
a pronto pagamento. Com relação ao ato que viola as contra as relações de
consumo, o artigo 7º, inciso VI da Lei 8.137/90 confirma que aquele que negar
insumos ou bens, recusando-se a vende-los a quem pretenda compra-los nas
condições publicamente ofertadas, ou rete-los para o fim de especulação,
comete crime contra as relações de consumo.

Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária


suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes
condutas: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000) 

VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a


vendê-los a quem pretenda comprá-los nas
condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o
fim de especulação; Ver tópico (167 documentos)

Art. 1º. Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes


e as contravenções contra a economia popular, Esta
Lei regulará o seu julgamento. Ver tópico (503
documentos)

Art. 2º. São crimes desta natureza: 


I - recusar individualmente em estabelecimento
comercial a prestação de serviços essenciais à
subsistência; sonegar mercadoria ou recusar vendê-
la a quem esteja em condições de comprar a pronto
pagamento;

DOS FUNDAMENTOS

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
A Requerente faz jus à concessão da gratuidade de Justiça isto pois, não
possui condições de pagar as custas e despesas do processo sem prejuízo próprio
ou de sua família, conforme declaração de hipossuficiência anexa sob égide do
Novo Código de Processo Civil, art. 98 e seguintes e pelo artigo 5º, inc. LXXIV da
Constituição Federal.
Salienta-se que a Requerente está sobe os poderes de advogado particular,
dado que o mesmo só obterá algum benefício caso a ação seja julgada procedente.
O § 4º do art. 99 do NCPC assim prevê:
“à assistência da Requerente por advogado particular não impede a
concessão de gratuidade de justiça”.
Diante disso, requer o deferimento da gratuidade da justiça pelas razões acima
expostas.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Dado o patente desequilíbrio entre as partes desta relação, nada mais justo
do que a aplicação do art. 6º, Inc. VII do diploma legal em tela, que ´possibilita a
inversão do “ônus probandi” em favor da parte inferiorizada, qual seja, o
consumidor. Tem-se portanto:
VIII: A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências. (g.n).
Faz- se pertinente transcrever o seguinte Enunciado das Turmas Recursais
dos Juizados Especiais, no que diz respeito à inversão do ônus da prova:
Enunciado 17
“É cabível a inversão do ônus da prova, com base no princípio
da equidade e nas regras de experiência comum, a critério do
Magistrado, convencido este a respeito da verossimilhança da
alegação ou dificuldade da produção da prova pelo reclamante”
(g.n).
Diante do exposto, requer o deferimento da inversão do ônus da prova.

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


Não se pode olvidar que a moral é reconhecida como bem jurídico,
recebendo dos mais diversos diplomas legais a devida proteção, inclusive
amparada pelo art. 5º, inc. V, da Carta Magna/1988:
“art. 5° (omissis):
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;”
Outrossim, o art. 186 e o art. 927 do Código Civil de 2002 assim
estabelecem:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão, voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
(g.n).
“Art. 927. Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. (g.n).

Nesse sentido, impede trazer a lume o entendimento do Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, em caso semelhante ao da Autora, a saber:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. RESTRIÇÃO CADASTRAL INTERNA. DÍVIDA
INEXISTENTE. DANO MORAL. INCORRÊNCIA. SERVIÇO DE
TELEFONIA. RECUSA DE CONTRATAR. AUSÊNCIA DE
JUSTIFICATIVA. ATO ILÍCITO. DANO MORAL. QUANTUM.
RAZOABILIDADE. APELO PROVIDO. –A noção de dano moral há
muito se distanciou da ideia de dor emocional para incidir nas
situações em que há lesão aos direitos da personalidade, caso do
bom nome e respeitabilidade.
-A simples inclusão em cadastro interno de inadimplentes, de forma
não vexatória não tem o condão de ocasionar dano moral, mormente
em se considerando que não houve inclusão nos cadastros públicos
restritivos de crédito.
- A liberdade de contratar é princípio basilar da teoria dos
contratos. Como todo imperativo, comportar mitigações à luz da
função social do contrato e de casos em que o dever de fornecer um
produto ou serviço sobreleva em relação à autonomia do fornecedor.
- O Código de Defesa do Consumidor prevê hipóteses em haverá
efetiva obrigação de o fornecedor celebrar contrato, a exemplo do
princípio da vinculação da oferta (art. 30 e 35, I, do CDC), bem
assim da vedação de recusa de atendimento à demanda do
consumidor, conforme disponibilidade de estoque e em
conformidade com usos e costumes (art. 39, II, CDC).
- Assim, a liberdade de contratar encontra limite em casos em que a
própria lei dispõe ser obrigatório o fornecimento do bem ou do
serviço. Embora o fornecedor possa negar-se a celebrar contrato de
prestação de serviços de telefonia, a negativa deve ser proporcional
e devidamente justificada ao consumidor, pena de configurar ilícito
indenizável.
- Configura ato ilícito indenizável a negativa de contratação de
serviço de telefonia fundada em informações internas e falsas,
relacionadas à suposta inadimplência do consumidor.
- A indenização deve ser fixada com observância da natureza e
intensidade do dano, da repercussão no meio social, da conduta do
ofensor, bem como da capacidade econômica das partes envolvidas.
Evitando-se enriquecimento sem causa da parte autora. (TJMG –
APELAÇÃO CPÍVEL 1.0498.17.002530-4/001, Relator(a): Des.(a)
José Marcos Vieira, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
24/10/2018, público da súmula em 05/11/2018).

O dano moral é instituto assegurado pela própria Constituição, quando no


seu art. 5º, inc. X dispõe que:

X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação.

Na mesma linha, o Código Civil prevê a incidência do dano moral nas


seguintes hipóteses:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito


da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei.

Na análise do caso sub examine a lição de JOSÉ EDUARDO CALLEGARI, se


encaixa como luvas:

“Ora, o homem constrói a reputação no curso de sua vida, através


de esforço, regular comportamento respeitoso aos outros e à própria
comunidade. A propriedade do cidadão no passar do tempo angaria
a ele créditos sociais de difícil apreciação econômica, mas que
constitui um verdadeiro tesouro. É certo que a honorabilidade da
pessoa lhe propicia felicidade e permite a ela evoluir no comércio, na
ciência, na política e em carreiras múltiplas. Uma única
maledicência, porém, pode, com maior ou menor força, dependendo,
às vezes, da contribuição dos meios de comunicação, produzir ao
homem desconforto ínfimo, diminuir o seu avanço vocacional ou até
acabar com ele” (RT 702/263).

Isto posto, salienta-se destacar que em face dos prejuízos sofridos pela
Requerente, restou caracterizada a ocorrência de dano moral e o direito à
percepção de indenização.
O respeito ao consumidor no tocante ao atendimento também é primordial,
não apenas um “plus” de marketing, mas sim uma obrigação, prevista no Código
de Defesa do Consumidor.

Assim, a empresa fornecedora de produtos e serviços que não cumprir com


tais obrigações está agindo de forma ilegal, o que gera DEVER DE INDENIZAR
SEUS CLIENTES.

Ademais, não havia nenhum motivo que justificasse a negativação interna


do nome da Autora.

Ante o exposto, requer a condenação da Ré à compensação por danos


morais em valor a ser fixado por Vossa Excelência.

DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTO:

Diante do exporto e do mais que dos autos consta, requer:


a) A citação da Ré, a ser expedida no endereço fornecido no preâmbulo para
que, querendo, compareça em audiência de conciliação, a ser designada por
este Douto Juízo, sob pena de presumirem verdadeiros os fatos alegados na
inicial;
b) Caso as partes não logrem êxito na conciliação, que conceda a Ré a
possibilidade da apresentação de suas contestações, devendo ser as mesmas
apresentadas na mesma Audiência, em virtude dos princípios regidos por
este Juizado Especial, qual seja, oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade;
c) Que julgue totalmente procedente a presente ação declarando inexistente o
débito e condenando a Requerida ao pagamento de uma indenização, o valor
de cunho indenizatório a ser fixado no montante de R$8000,00 (oito mil
reais), o qual sirva de desestímulo à Requerida, para que a mesma não
cometa o mesmo erro com outros clientes;
d) Por ser a Autora Hipossuficiente, requer a inversão do ônus da prova;
e) Que seja deferida a assistência Judiciária Gratuita, tendo em vista ser A
Autora pobre no sentido jurídico da palavra, não podendo arcar com as
custas e encargos processuais sem prejuízo de seu sustento e de sua
família, de acordo com o art. 98 e adiantes do NCPC.
Requer provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em Direito.

Atribui-se a causa o valor de R$8.000,00 (oito mil reais).

Sete Lagoas/MG, 15 de março de 2023


Dalvan Freitas Dias de Abreu – OAB/MG 170183

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