Você está na página 1de 9

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 1ª

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CURITIBA-PARANÁ.

Processo n.° 0003789-29.2022.8.16.0191

DEUSITA APARECIDA GRITTEN AFONSO, já devidamente


qualificada nos autos supracitado que move contra BANCO PAN S/A, por
intermédio de sua procuradora que esta subscreve, vem mui respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, inconformado com o teor da sentença prolatada
no movimento n° 99/101, com fulcro no artigo 41 e seguintes da Lei Federal nº.
9.099/95, interpor o presente RECURSO INOMINADO, a fimde que a matéria
seja novamente apreciada pela Egrégia Turma Recursal, requerendo seu
recebimento no efeito devolutivo e que sejam consideradas ínsitas no presente
recurso as inclusas razões do remédio legal.

Cumpridas todas as formalidades legais e captadas as


manifestações dos recorridos, sejam os autos remetidos à Instância ad quem para
os fins colimados.

Por derradeiro, pugna pela concessão à recorrente do benefício da


assistência judiciária gratuita, conforme previsto no art. 98 do Código de
Processo Civil, em virtude de que a atual condição finan ceira não permite o
pagamento de custas processuais, custas recursais e honorários advocatícios sem
comprometer o sustento próprio e da família, conforme declaração de pobreza
em anexo.

Nesses termos,
Pede de ferimento.
LINDALVA LOPES DA MAIA
OAB/PR 55.128
TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO ESTADO DO
PARANÁ

Origem: 1º Juizado Especial Cível da Comarca da Região Metropolitana de


Curitiba/PR.

Autos de n° 0003789-29.2022.8.16.0191

Recorrente: DEUSITA APARECIDA GRITTEN AFONSO

Recorridos: BANCO PAN S/A.

RAZÕES DE RECURSO INOMINADO

Colenda Turma Recursal!

Ínclitos Julgadores!

1. DA TEMPESTIVIDADE:
O presente recurso é tempestivo, vez que protocolado dentro do
prazo legal. Isso porque, a presente sentença foi prolatada em 19/06/2023 (mov.
101), tendo a patrona da autora tomado ciência em 29/06/2023 (mov. 103).
Assim, o termo início do prazo recursal ocorreu em 30/06/2023 e, tendo o
presente recuso sido interposto na presente data, comprovada está sua
tempestividade.

2. DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA:


A recorrente, ante sua hipossuficência econômica, vez que não tem
condições de arcar com as despesas processuais sem prejuízo próprio e/ou de sua
família, requer a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita e, para
tanto, conforme determinado no art. 98 do Código de Processo Civil, acosta no
presente momento processual declaração de pobreza.

3. DA SENTENÇA PROLATADA:
A r. sentença julgou improcedentes oa pedidos iniciais, entendendo
não ter a autora comprovado que foi vítima de fraude.
Mas, no entanto, conforme se passará a expor apesar de não ter sido
acostado aos autos a conversa integral com os farsantes (em razão da autora não
mais os ter, já que quando dos fatos estava em condições precárias de saúde –
acamada – e em razão da frustração com o ocorrido acabou por apagar a
conversa), há diversos outros indícios que demonstram a verossimilhança do
alegado.

4. DAS RAZÕES PARA REFORMA:


Data máxima vênia, como pode se extrair da r. sentença, o juízo “a
quo” baseou seu convencimento em falsas premissas.
Vejam, Nobres Julgadores, caso a parte autora quisesse DE FATO
CONTRATAR O EMPRÉSTIMO, teria procurado a financeira recorrida e após
teria feito uso dos valores ao invés de depositá-los em juízo, como fez para
provar sua boa-fé de que não desejava os valores (mov. 40).
O Magistrado de primeiro grau julgou válida a contratação de
empréstimo que é proibido pela Lei Paranaense nº 20.276/20, que assim dispõe:

Art. 1º Proíbe as instituições financeiras, correspondentes bancários e sociedades de


arrendamento mercantil em atividade no Estado do Paraná, diretamente ou por meio de
interposta pessoa física ou jurídica, de realizar qualquer atividade de telemarketing
ativo, oferta comercial, proposta, publicidade ou qualquer tipo de atividade tendente a
convencer aposentados e pensionistas a celebrar contratos de empréstimo de qualquer
natureza.

Art. 2º Proíbe as instituições financeiras, correspondentes bancários e sociedades de


arrendamento mercantil, diretamente ou por meio de interposta pessoa física ou
jurídica, de celebrar contratos de empréstimo de qualquer natureza que não tenham
sido expressamente solicitados pelos beneficiários a aposentados e pensionistas
através de ligação telefônica.
§ 1º A celebração de empréstimos de qualquer natureza com aposentados e
pensionistas de que trata este artigo deve ser realizada mediante a assinatura de
contrato com apresentação de documento de identidade idôneo, não sendo aceita
autorização dada por telefone e nem a gravação de voz reconhecida como meio de
prova de ocorrência. (Grifamos)

A parte autora NÃO PROCUROU A FINANCEIRA E NÃO


SOLICITOU o empréstimo que foi realizado em seu nome por fraudadores.
Ilustres Julgadores, estamos diante de uma pessoa idosa, que
quando dos fatos encontrava-se acamada com seu estudo de saúde
extremamente debilitado, que sequer fez uso deste dinheiro depositado em sua
conta!
Assim, não houve a solicitação ou a anuência da parte reclamante,
ora Recorrente, quanto à contratação do empréstimo fraudulentamente realizado
em seu nome por terceiros.
Além disso, conforme histórico apresentado pelo INSS a autora, ora
recorrente, não tem qualquer outro empréstimo averbado em seu benefício
(mov. 21.2). O que demonstra, sem dúvida, que a recorrente não coaduna e não
costuma realizar tal tipo de contratação.
Some-se a isso, ainda, o fato de que quando da contratação a
recorrente possuía saldo positivo em sua conta de mais de 6 mil reais, o que
demonstra que NÃO PRECISAVA do valor “emprestado” (mov. 1.8).
Ainda, conforme se verifica do contrato apresentado pela reclamada
a contratação se deu por biometria facial (o que é facilmente fraudado, vez que
basta a apresentação de foto da consumidora), bem como o suposto
correspondente bancário tem sede em Olinda/Pernambuco (mov. 59.4),
cidade bem distante da capital paranaense.
Ademais, o número da residência da consumidora está errado no
contrato. A recorrente reside no nº 315 ao passo que no contrato constou nº 33.
Por fim, a recorrente ingressou com a presente ação logo após os
fatos e de pronto realizou o depósito do valor fraudulentamente depositado em
sua conta (mov. 40.2).
Conforme os fatos acima descritos, o recorrido ao efetuar o
empréstimo em nome da recorrente, pessoa idosa sem qualquer autorização,
mesmo alegando que a recorrente estava ciente do empréstimo, agiu com
completa omissão, visto que induziu a recorrente a erro, informando que os
dados, fotos e autorizações que estava fazendo era única e exclusivamente para
receber valores a que teria direito a título de FGTS.
Portanto, não há outra solução senão a declaração de
inexistência/anulação do contrato, com a restituição em dobro dos valores
indevidamente descontados do benefício previdenciário da recorrente em dobro
(art. 42, parágrafo único, CDC) e a condenação da recorrida ao pagamento de
indenização por dano moral.

5. RELAÇÃO DE CONSUMO:
A Recorrente é considerada consumidora por comparação, sendo
submetida, pois, à Legislação Consumerista (STJ – Súmula 297). Como dito
alhures, em verdade não usufruiu do empréstimo bancário da instituição
financeira demandada. Nada obstante, fora prejudicada, ao extremo, o que lhe
permite ser albergada pela legislação especial consumerista.
Nesse passo, assentada o enlace consumerista, e, indiferente se há
conduta culposa do fornecedor, existindo defeito na prestação do serviço,
alberga-se a responsabilidade civil desse. (CDC, art. 14) É dizer, configura-se a
teoria da responsabilidade civil objetiva.
Uma vez que, nessa situação, o dano é presumido (in re ipsa),
maiormente face à falha na prestação de serviço (permissão de que fraudadores
contratem empréstimos consignados), cabe à recorrida, por isso, desincumbir-se
em comprovar a regularidade no contrato firmado.
Entretanto, não há nos autos qualquer comprovação de ter a
recorrente procurado a instituição financeira em busca de empréstimo consignado
e anuído com o pacto em questão. Afirmando a recorrente não ter solicitado o
importe que foi creditado em sua conta, bem como tendo realizado o depósito
judicial do valor, não resta dúvida de que a contratação foi fraudulenta.
Ainda, permitindo a instituição recorrida que empresas
terceirizadas (correspondentes) realizem a contratação de empréstimos deve
responder pelos danos decorrentes de contratações fraudulentas, vez que abre
mão da segurança e higidez das transações realizadas em busca de aumentar o
número de contratos celebrados.

6. DEVOLUÇÃO DOBRADA:
De outro bordo, os valores, indevidamente descontados no
benefício da recorrente, deverão ser restituídos de forma dobrada, à luz do que
rege o parágrafo único, do art. 42, do Código de Defesa do Consumidor.

7. DANOS MORAIS:
Ainda, a recorrente deve ser indenizada devido aos descontos
indevidos em seu benefício previdenciário, pois a instituição financeira realizou
esses descontos sem sua autorização, violando seus direitos e causando-lhe danos
morais e financeiros, implicando em considerável supressão de verba alimentar.
Além disso, de acordo com a legislação, a instituição financeira é
responsável por tomar as medidas necessárias para evitar descontos indevidos, e
não cumpriu essa obrigação.
Dessa forma, além da devolução em dobro dos valores descontados
é necessário reparar os danos.

8. JURISPRUDÊNCIA DE CASOS SEMELHANTES:


Em casos análogos ao ora em questão, as Eg. Turmas Recursais do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná já decidiram, declarando a nulidade do
contrato por vício de vontade, determinando a restituição em dobro dos valores
indevidamente descontados, bem como condenando a instituição financeira ao
pagamento de indenização por dano moral.
Veja-se:

RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.


CONTRATAÇÃO COM ASSINATURA POR BIOMETRIA (SELFIE). DIVERGÊNCIA
DOS DADOS DO CONTRATANTE. CORRESPONDENTE BANCÁRIO DE OUTRO
ESTADO. AUTOR QUE NEGA A CONTRATAÇÃO E DIZ TER RECEBIDO LIGAÇÃO
PARA CANCELAMENTO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO, OCASIÃO
EM QUE FORNECEU SELFIE PARA ESSE FIM. AUTOR IDOSO. RÁPIDA
PROMOÇÃO DESTA DEMANDA E DEPÓSITO JUDICIAL DO VALOR CREDITADO A
TÍTULO DO EMPRÉSTIMO QUE DENOTA BOA-FÉ. CONJUNTO PROBATÓRIO
INDICATIVO DA EXISTÊNCIA DE FRAUDE. DECLARAÇÃO DA INEXISTÊNCIA DE
CONTRATO MANTIDA. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. DESCONTO DE
PRESTAÇÕES QUE IMPLICARAM SUPRESSÃO CONSIDERÁVEL DE VERBA
ALIMENTAR. VALOR DA INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO CABÍVEL. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais - 0027454-04.2022.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA
TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MANUELA TALLÃO BENKE - J.
26.06.2023).

RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CONJUNTO


PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA A FRAUDE NA CONTRATAÇÃO.
VEROSSIMILHANÇA DA NARRATIVA AUTORAL VERIFICADA NO CASO
CONCRETO. OPERAÇÃO INTERMEDIADA POR CORRESPONDENTE BANCÁRIO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. NULIDADE DO
NEGÓCIO JURÍDICO. RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES DESCONTADOS
INDEVIDAMENTE. DEVER DE DEVOLUÇÃO DO MONTANTE CREDITADO.
PRECEDENTE DO STJ. DANO MORAL CONFIGURADO. CARÁTER PUNITIVO-
COMPENSATÓRIO. VALOR INDENIZATÓRIO FIXADO. RECURSO PROVIDO. (TJPR
- 2ª Turma Recursal - 0023723-97.2022.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: JUIZ DE DIREITO
DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS ALVARO RODRIGUES JUNIOR
- J. 20.06.2023).

9. REQUERIMENTOS:
a) Deferimento do benefício da assistência judiciária gratuita à recorrente;
b) Recebimento e provimento do presente Recurso Inominado para o fim de que:

- seja declarado inexistente/anulado o contrato e negócio jurídico


referente ao empréstimo consignado em discussão, haja visto a ausência
de contratação de empréstimo ou qualquer outra operação que justifique
a sua cobrança;
- seja declarada a inexistência do débito fundado em contrato de
empréstimo consignado e do CDC, bem como seja o réu condenado ao
ressarcimento das parcelas descontadas no benefício da parte autora em
dobro, nos moldes do art. 42, parágrafo único, do CDC, a ser corrigido
monetariamente e aplicado juros de moral;
- seja confirmada a liminar, cessando em definitivo os descontos no
benefício previdenciário da recorrente;
- Seja a recorrida condenada também ao pagamento de indenização a
título de danos morais a parte autora, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) ou, caso entenda Vossa Excelência, quantia arbitrada de acordo
com a concepção deste Juízo, nos moldes dos fundamentos apresentados;
- Que a recorrida seja condenada a realizar o pagamento das custas
processuais e os honorários advocatícios, conforme prevê o art. 55 da Lei
Federal nº. 9.099/95, sendo fixado os honorários advocatícios no valor
máximo permitido por lei.

Nestes Termos,
Pede deferimento.

LINDALVA LOPES DA MAIA


OAB/PR 55.128

Você também pode gostar