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EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA VARA JUDICIAL DA

COMARCA DE FAXINAL DO SOTURNO

GUSTAVO FLORIANI, brasileiro, casado,


porteiro, domiciliado e residente na Rua da
Esperança, n° 001, Faxinal do Soturno/RS –
CEP: 00000-00, CPF n° 000.000.000-00, RG n°
000000000, telefone n° (55) 999000000 e
GISELE FLORIANI, brasileira, casada, do lar,
domiciliada e residente no endereço informado
acima, CPF n° 000.000.000-00, RG n°
000000000, telefone n° (55) 996000000, vem,
por meio desta procuradora (Procuração em
anexo), com fundamento nos arts. 539 e ss. do
CPC, propor a presente

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

em face do BANCO DO ESTADO DO RIO


GRANDE DO SUL, inscrito no CNPJ n°
92.702.067/0001-96, com sede na rua Rua
Capitão Montanha, 177 – Centro Histórico –
Porto Alegre/RS – CEP: 90.010-040, pelos
fatos e fundamentos a seguir elencados:

I. DAS PRELIMINARES
Excelência, antes de adentrar na análise fático/jurídica do caso, cabe
ressaltar que, a parte autora não possui condições de arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio, razão
pela qual faz jus ao benefício da gratuidade da justiça, assegurado pela
Constituição Federal, art. 5º, LXXIV e pelo Código de Processo Civil, arts. 98 e
ss.

Para tal benefício os autores juntam a declaração de hipossuficiência e


comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das
custas judiciais sem comprometer sua subsistência, devendo ser acolhido o
pleito de gratuidade da justiça.
II. DOS FATOS
Os requerentes celebraram, juntamente com a instituição financeira
requerida, contrato de financiamento de imóvel com alienação fiduciária (nº
C33441518-4) em fevereiro de 2023.

Ocorre que, ao final do referido ano, os autores passaram por alguns


problemas financeiros, o que fez com que não conseguissem adimplir as
parcelas de n° 09, 10, 11 e 12, nos valores de R$ 1.500,00, sendo que a
primeira delas tinha como data de vencimento o dia 15 de novembro de 2023.

Ante o inadimplemento, a instituição financeira abriu processo


administrativo junto ao Registro de Imóveis de Faxinal do Soturno/RS
(processo n° 46502/2024), a fim de consolidar a propriedade do imóvel em seu
nome.

No entanto, em março de 2024, ao conseguirem recuperar sua condição


financeira, o casal voltou a adimplir normalmente as parcelas oriundas do
financiamento, tendo empreitado diversas tentativas para o pagamento das
parcelas atrasadas junto ao Banco réu. No entanto, o requerido recusou-se a
recebê-las, exigindo o pagamento integral do contrato.

Porém, excelência, os demandantes não possuem condições para o


pagamento do valor integral do contrato, mas se dispuseram a pagar o valor
atualizado das parcelas atrasadas, bem como continuaram cumprir com o
contrato nas prestações restantes.

Portanto, verifica-se que a exigência do Banco réu se mostra absurda,


configurando de forma clara a recusa injustificada em receber os valores,
embora as diversas tentativas consensuais empreitadas pelos autores.

Dessa forma, não se vislumbra outro meio, senão o ingresso de ação


judicial para proceder ao depósito dos valores devidos, visando liberar-se da
obrigação.

III. DO DIREITO
A ação de consignação em pagamento é procedimento especial que visa
a permitir a realização daquele instituto de direito material, por meio do qual o
autor da ação busca uma sentença declaratória da extinção da obrigação.

Nesse sentido, o art. 335 do Código Civil estabelece que cabe


consignação quando o credor, sem justa causa, recusar-se a receber o
pagamento:

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar
receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;

No caso narrado, os requerentes intentam resolver os valores das


parcelas em aberto, as quais somente não foram pagas ainda, devido à recusa
do banco réu em recebê-las, ainda que atualizadas, dando assim causa à
inadimplência.

Nesse sentido, a jurisprudência tem entendido como cabível a ação de


consignação me pagamento, vejamos:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO


EM PAGAMENTO. DÍVIDA DE CHEQUE ESPECIAL.
ACORDO. RECUSA DO PAGAMENTO DAS ÚLTIMAS
QUATRO PARCELAS. PROVA. MULTA. HONORÁRIOS
ADVOCATICIOS. MAJORAÇÃO. RECURSO DE
APELAÇÃO PARTE DEMANDADA PROVA: É possível no
caso em comento a inversão do ônus da prova que na
verdade é uma valoração dos argumentos e dos
documentos anexados na lide que resolveu a mesma em
favor da parte autora. A prova da injusta recusa, a partir da
tese defensiva do Banco Santander, impôs o seu dever de
provar fato impeditivo, extintivo ou modificativo do dirieto da
parte autora (art. 373, II, do CPC). CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO. RECUSA INJUSTA: A instituição
financeira não apresentou prova suficiente que era justa
a recusa das quatro últimas parcelas que foram quitadas
intempestividamente, pois a imposição de renegociação
do acordo anterior relativo ao débito do cheque especial
impediu o recebimento das mesma. Prova suficiente
para procedência da ação, face injusta recusa da
instituição bancária. Apelo que se nega provimento. DANO
MORAL: Não conhecido o apelo no ponto, eis que matéria
estranha à lide. MULTA: A multa para o caso de
descumprimento da ordem judicial é de ser mantida,
porquanto atende, no caso concreto, ao propósito coercitivo
da medida, notadamente quando considerado o poder
econômico da parte apelante Mostra-se adequado o valor
fixado em R$ 100,00. Negado provimento ao apelo na
integralidade, na parte conhecida. RECURSO DE
APELAÇÃO PARTE AUTORA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:
O pedido de gratuidade da justiça à procuradora inicialmente
foi indeferido, decisão que foi modificada quando do
provimento do agravo interno interposto, em juízo de
retratação. Benefício foi concedido à procuradora e mantido,
o que dispensa o preparo. VERBA HONORÁRIA: Majorada
considerando que (i) não houve condenaçao, (ii) o provento
econômico é de difícil aferição e (iii) o valor da causa é muito
baixo (R$ 905,40). Aplicação da regra subsidiária
(apreciação equitativa) prevista nos §8º do art. 85 do CPC,
com o acréscimo trazido pelo 8º-A, mesmo dispositivo legal,
o que implica majoração da verba honorária em valor fixo.
PREQUESTIONAMENTO: Desnecessário que o órgão
julgador se manifeste sobre quaisquer argumentos ou
dispositivos legais suscitados pelas partes durante o curso
da lide, haja vista que a motivação que embasa a decisão
judicial afasta entendimento em sentido diverso.
SUCUMBÊNCIA RECURSAL: Aplicável a regra do artigo 85,
§ 2º, do CPC. Honorários advocatícios majorados.
NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DA PARTE
DEMANDADA, NA PARTE CONHECIDA. DERAM
PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO DO AUTOR.
(Apelação Cível, Nº 50066681320198210021, Décima Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo
João Lima Costa, Julgado em: 03-08-2023) (Grifado).

Da mesma forma como ocorre no caso em tela, o demandado recusa-se


a receber as parcelas em aberto, requerendo o pagamento integral do
contratado, sem apresentar, contudo, qualquer prova possível de justificar tal
comportamento.

Assim, requer a determinação para que posse realizar o depósito judicial


da quantia correspondente às parcelas de n° 09, 10, 11 e 12, no valor de R$
1.500,00, devidamente corrigido, que estão em aberto.

IV. DA TUTELA DE URGÊNCIA


O artigo 300 do Código de Processo Civil dispõe sobre a possibilidade
de tutela de urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito é evidente quando é demonstrado que as


partes possuem o interesse de pagar as parcelas n° 09, 10, 11 e 12 que não
foram adimplidas. Porém, o banco requerido enseja o adimplemento total do
contrato.

O perigo de dano ao resultado útil da presente ação reside no fato que já


tramita processo para consolidar a propriedade do imóvel no nome do banco, o
qual procederá, após a conclusão deste, ao leilão do bem.

Tal ato é de extrema gravidade para a parte autora, uma vez que utiliza
o referido imóvel para moradia, havendo sério risco de ficarem sem local para
habitação.
Desta maneira, a parte autora requer que seja concedida a tutela de
urgência a fim de suspender o processo administrativo tombado sob o n°
46502/2024, até o julgamento desta ação, ante a possibilidade de dano
irreparável.

Nesse sentido, segue precedente do TJRS:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO


NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO. TUTELA DE URGÊNCIA. PRETENSÃO DE
SUSPENSÃO DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL. ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL. DEPÓSITO JUDICIAL DAS
PARCELAS VENCIDAS E VINCENDAS. PROBABILIDADE
DO DIREITO. DETERMINAÇÃO DE SUSPENSÃO DOS
LEILÕES ATÉ O JULGAMENTO DA DEMANDA. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº
52517087820218217000, Décima Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto
Vieira Rebout, Julgado em: 28-06-2022) (Grifado)

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO


NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO E ANULATÓRIA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE
COISA IMÓVEL. LEI Nº 9.514/1997. POSSIBILIDADE DE
PURGAR A MORA APÓS A CONSOLIDAÇÃO DA
PROPRIEDADE EM NOME DO CREDOR FIDUCIÁRIO.
PRECEDENTES DO STJ E DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
E DO TJRS NO SENTIDO DE QUE O CONTRATO, NO
ÂMBITO DA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEIS EM
GARANTIA, NÃO SE EXTINGUE POR FORÇA DA
CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM NOME DO
CREDOR FIDUCIÁRIO, MAS PELA ALIENAÇÃO DO BEM
EM LEILÃO PÚBLICO E DEPOIS A LAVRATURA DO AUTO
DE ARREMATAÇÃO, O QUE NÃO OCORRE NA HIPÓTESE
DOS AUTOS EM QUE A PARTE AGRAVADA, DESDE O
INÍCIO DA TRAMITAÇÃO DA DEMANDA, DEMONSTROU
BOA-FÉ E DEPOSITOU VALORES SUBSTANCIAIS PARA
QUITAR SEU DÉBITO. SUSPENSÃO DA REALIZAÇÃO DO
LEILÃO DO BEM QUE NÃO ACARRETARÁ PREJUÍZO A
NENHUM DOS LITIGANTES. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº
52393221620218217000, Décima Primeira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Ines Claraz de Souza
Linck, Julgado em: 22-04-2022)(Grifado)
Diante disso, requer que seja acolhida a tutela de urgência, a fim de
suspender o processo administrativo de n° 46502/2023, até o julgamento da
ação de consignação, onde se auferirá se há algum débito restante por parte
dos requerentes, ou se a obrigação foi devidamente quitada.

V. DOS PEDIDOS
a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, uma vez que os autores
estão sem condições financeiras para o pagamento das despesas
processuais, conforme os preceitos do art. 5º, LXXIV da Constituição
Federal e art. 98 do Código de Processo Civil e declaração de
hipossuficiência;

b) Seja deferido o depósito judicial no valor de R$6.297,50 atualizado até


15/03/2024, de modo a descaracterizar qualquer mora da parte autora,
tendo em vista a exigência de pagamento integral do contrato pelo
Banco Banrisul;

c) A citação do réu no endereço constante nos autos, para ciência da


demanda, bem assim contestá-la, se desejar, sob pena de declaração
de quitação da dívida;

d) Que ao final sejam julgados totalmente procedentes os pedidos da


presente demanda, DANDO-SE POR QUITADOS OS VALORES
CONSIGNADOS REFERENTE AS PARCELAS EM ATRASO,
extinguindo-se a referida obrigação da parte autora em relação ao réu;

e) Condenação da parte ré nas custas processuais e honorários de


sucumbência no valor de 20%; e

f) Seja deferida a tutela de urgência, para fim de suspender-se o processo


n° 46502/2024 até o término da presente ação de consignação de
contas, ante o risco de penhora do bem.

Dê-se a causa o valor de R$ 6.297,50.

Nestes termos, pede deferimento.

Faxinal do Soturno, RS, 15 de março de 2024.


Amalia Lopes Soares

OAB/ RS XXX

Documento ass. eletronicamente por Amalia L. Soares (OAB/ RS XXX) – email:


amalialsoares.adv@gmail.com

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