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Pontos 1, 2 e 3 do edital da PFN

Estado fiscal e poder de tributar


Direito Tributário e Direito Privado
Conceitos Tributários-Constitucionais
Estado Fiscal e Poder de Tributar

- O Estado Fiscal foi precedido pelo Estado


Patrimonial e pelo Estado de Polícia

- No Estado Patrimonial, as receitas do Estado eram


obtidas pela utilização do patrimônio (terras) do
rei/príncipe
O Estado Patrimonial “consiste em se basear no
patrimonialismo financeiro, ou seja, em viver
fundamentalmente das rendas patrimoniais ou dominiais do
príncipe, só secundariamente se apoiando na receita
extrapatrimonial de tributos. (...) No Estado Patrimonial se
confundem o público e o privado, o imperium e o dominium, a
fazenda do príncipe e a fazenda pública.” (Lobo Torres, 2013, p.
7)
Não só os particulares (senhorios) possuíam terras e cobravam
pela sua utilização. Também os monarcas (Estado) exploravam
seu patrimônio, como uma atividade econômica incipiente.
“Estado Patrimonial é aquele no qual o Estado, valendo-se de
seus próprios meios, obtém o de que necessita para sua
subsistência. (...) no estágio Patrimonial, o Estado é poderoso
agente econômico, que atua, ao lado do particular, na
incipiente economia.” (Schoueri, 2015, p. 28)

O Estado Patrimonial foi substituído pelo Estado Policial, mais


intervencionista!!
Alguns consideram o Estado Policial apenas uma variante do
Estado Patrimonial, agora mais moderno e intervencionista

O Estado Fiscal substituiu o Estado Policial


A principal caracterísitca do Estado Fiscal é ter seu
financiamento prioritariamente por tributos
“Numa primeira fase, o Estado Fiscal assumiu feição
minimalista, sob inspiração do liberalismo: ao Estado não cabia
intervir na economia” (Schoueri, 2015, p. 30)
O Estado Fiscal Minimalista “se restringia ao exercício do poder
de polícia, da administração da justiça e da prestação de uns
poucos serviços públicos, não necessitando de sistemas
tributários amplos, por não assumir demasiados encargos na
via da despesa pública” (Lobo Torres, 2013, p. 8-9)
“o Estado Social Fiscal corresponde ao aspecto financeiro do
Estado Social de Direito (...) A atividade financeira continua a
se fundamentar na receita de tributos, proveniente da
economia privada, mas os impostos deixam-se impregnar pela
finalidade social ou extrafiscal (...) O orçamento público se
expande exageradamente e o Estado Social e Fiscal entra em
crise financeira e orçamentária a contar do final da década de
70.” (Lobo Torres, 2013, p. 9)
Direito Tributário

“o direito tributário positivo é o ramo didaticamente


autônomo do direito, integrado pelo conjunto das proposições
jurídico-normativas que correspondam, direta ou
indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de
tributos.” (Barros Carvalho, 2013, p. 42)
“Com instituição, arrecadação e fiscalização de tributos
queremos abraçar não só o nascimento, a vida e a extinção das
relações jurídico-tributárias como também momentos
anteriores ao surgimento daqueles liames, quando existem
apenas meros princípios a serem observados no processo de
elaboração legislativa ou, ainda, sempre que tais laços vierem a
ser objeto de qualquer indagação de caráter jurídico,
conquanto já extintos.” (Barros Carvalho, 2013, p. 43)
Fontes do Direito Tributário

Fontes materiais ou reais- pressuposto de fato da tributação;

Fontes formais- veículos introdutores das normas jurídicas. EX.:


Constituição, Resoluções do Senado, leis

CTN, art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as


leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e
as normas complementares que versem, no todo ou em parte,
sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.
Princípios do Direito Tributário

- tema será estudado separadamente


CTN, art. 109. Os princípios gerais de direito privado
utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo
e do alcance de seus institutos, conceitos e formas,
mas não para definição dos respectivos efeitos
tributários
Ex da definição de efeitos tributários próprios a
institutos e conceitos de direito privado: noção de
PJ
No direito privado, o conceito de PJ possui uma
compreensão no CC segundo a qual a PJ de direito
privado só começa a existir com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro
Para fins tributários, o CTN dispensa o conceito de
PJ para abranger sociedades irregulares como
sujeitos tributários

Art. 126, III do CTN: a capacidade tributária passiva


não depende de a PJ estar regularmente constituída,
bastando que configure uma unidade econômica ou
profissional
Do mesmo modo, o RIR (Decreto 9.580/2018, art.
162) equipara pessoas físicas empresárias
(empresas individuais) a PJ para fins de definição
do contribuinte de IR
ATENÇÃO!!!!

Limite para a manipulação dos conceitos de direito


privado pelo legislador tributário:
institutos, conceitos e formas de direito privado
utilizados pela CF para a definição de competências
tributárias
CTN, art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição,
o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas
de direito privado, utilizados, expressa ou
implicitamente, pela CF, pelas Constituições dos E, ou
pelas Leis Orgânicas do DF ou dos M, para definir ou
limitar competências tributárias
A partir do momento em que o constituinte se apropriou
do conceito, este faria parte do texto constitucional, e a
hierarquia da norma constitucional impede a
manipulação deste conceito pelo legislador tributário
O art. 110 do CTN é norma pedagógica que apenas
explicita a superioridade hierárquica das normas
constitucionais
É possível que o constituinte adote expressões criadas
no direito privado em sentido diverso???
Ao examinar o art 156 da CF, vê-se que não se referiu a
um imposto sobre o “direito de propriedade”, mas sobre
a “propriedade predial e territorial urbana”. Esta
expressão é mais ampla: é empregada no sentido de
“bem imóvel” (SCHOUERI, Dir Trib, 2015, p. 765)
STF (RE-RG 651.703, j. 29.09.2016): O Direito
Constitucional Tributário adota conceitos próprios, razão
pela qual não há um primado do Direito Privado. O art.
110 do CTN não veicula norma de interpretação
constitucional posto inadmissível interpretação autêntica
da CF encartada com exclusividade pelo legislador
infraconstitucional
STF (RE-RG 651.703, j. 29.09.2016):
A interpretação isolada do art. 110 do CTN conduz à
prevalência do método literal, dando aos conceitos de
Direito Privado a primazia hermenêutica na ordem
jurídica, o que é inconcebível
Conceitos utilizados na definição de competência
tributária podem ser alterados por interpretação dos
tribunais???
A conseqüência é particularmente grave: as
constituições, enquanto planos normativos voltados
para o futuro, não podem de maneira nenhuma perder a
sua flexibilidade e abertura. (STF, Rcl 2617 AgR, j.
23.02.2005)
Naturalmente e na medida do possível, convém
salvaguardar a continuidade dos standards
jurisprudenciais: alterações de rota, decisões overruling
demasiado repentinas e brutais contrastam com a
própria noção de jurisdição. (STF, Rcl 2617 AgR, j.
23.02.2005)
Os conceitos que definem competências tributárias
podem ter uma interpretação que se afasta das
convenções já estabelecidas:

Voto de Marco Aurélio no RE 253.472 (j. 25.08.2010):


Não se afigura como FG do IPTU apenas a propriedade
Admissível é que se tome como FG não só a
propriedade, como também o domínio útil ou a posse
quando esses fenômenos não estão na titularidade do
proprietário
Voto de Marco Aurélio no RE 727.851: quando há
“desdobramento das faculdades da propriedade, isto é,
separando-se a posse dos demais poderes a ela
inerentes, o critério para a aplicação da regra de
imunidade deve ser a titularidade da posse direta (...)
propriedade referida na Lei Maior há de ser tomada em
sentido amplo, de maneira a alcançar a posse a qualquer
título”
A própria compreensão da legalidade pode evoluir na
jurisprudência, conferindo maior espaço para o
intérprete na construção dos conceitos de competência
tributária
STF (RE-RG 838.284, j. 19.10.2016): Caminha-se para uma
legalidade SUFICIENTE, sendo que sua maior ou menor
abertura depende da natureza e da estrutura do tributo
No tocante às taxas de polícia, admite-se o especial
diálogo da lei com os regulamentos na fixação do
aspecto quantitativo da RMIT
A observância do princípio da legalidade tributária é
verificada de acordo com cada espécie tributária e à luz
de cada caso concreto.
É constitucional a flexibilização da legalidade tributária
do art. 27, § 2º da Lei 10.865/04, no que permitiu ao Poder
Executivo, prevendo as condições e fixando os tetos,
reduzir e restabelecer as alíquotas da contribuição ao
PIS e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras
auferidas por pessoas jurídicas sujeitas ao regime não
cumulativo, estando presente o desenvolvimento de
função extrafiscal. RE 1.043.313, RG, j. 10.12.2020
Legalidade cerrada X tipos fluidos

Legalidade cerrada - a lei descreve elementos


necessários para a ocorrência do FG; a ausência de um
único traço impediria a subsunção
Tipos são dotados de abertura e fluidez, o que permite
uma melhor adaptação às flutuações da realidade

Tipo fechado - contradição em termos


O STF admite a utilização de tipos ou há uma legalidade
cerrada, com conceitos fechados nas leis tributárias?

STF: os conceitos constitucionais tributários não são


fechados e unívocos (RE-RG 651.703, j. 29.09.2016)
A noção de operação de crédito descreve um TIPO.
Quando se fala que as operações de crédito devem
envolver vários elementos (tempo, confiança, interesse e
risco), a exclusão de um deles pode não descaracterizar
por inteiro a qualidade creditícia quando a presença dos
demais elementos for suficiente para essa qualidade
(ADI 1763, j. 16.06.2020)

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