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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE ARARAQUARA
FORO DE ARARAQUARA
4ª VARA CÍVEL
Rua dos Libaneses, n. 1998, Fórum - Carmo
CEP: 14801-425 - Araraquara - SP
Telefone: (16) 3336-1888 - E-mail: Araraq4cv@tjsp.jus.br

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1004134-10.2021.8.26.0037 e código 3E25B2A.
SENTENÇA

Processo nº: 1004134-10.2021.8.26.0037


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Obrigação de Fazer / Não Fazer
Requerente: Daiana da Silva Sousa
Requerido: Damásio Educacional S/A

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA CLAUDIA HABICE KOCK, liberado nos autos em 16/06/2021 às 09:42 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). ANA CLAUDIA HABICE KOCK

Vistos.

Trata-se de Procedimento Comum Cível - Obrigação de Fazer / Não Fazer


requerida por DAIANA DA SILVA SOUSA em face de DAMÁSIO EDUCACIONAL S/A
alegando, em síntese, que, no período de fevereiro de 2018 a junho de 2019, cursou e
completou o curso de pós-graduação latu sensu em Direito Processual Civil oferecido
pela ré. No entanto, ao requisitar o diploma, eis que cumpriu com todos os requisitos, a
requerida quedou-se inerte e não apresentou qualquer justificativa.

Pede tutela provisória de urgência para que a ré expeça imediatamente o


certificado de conclusão do curso de pós graduação e, a final, a procedência do pedido
para a confirmação da tutela de urgência e condenação da requerida ao pagamento de
indenização por danos morais e demais encargos da sucumbência.

O pedido de tutela provisória foi indeferido (fls. 49/50).

A requerida foi devidamente citada e apresentou resposta alegando, em


resumo, que a requerente completou o curso, sendo aprovada em todas as disciplinas e
tendo quitado todas as mensalidades. Entretanto, somente em abril de 2021 concluiu o
documento final para expedição do certificado, qual seja, questionário de defesa, e que a
partir da entrega de referido documento se inicia o prazo de 90 dias para entrega do
diploma. Aduz, por fim, que, não havendo ato ilícito, não há dever de indenizar. Pediu a
improcedência (fls. 55/61).

Houve réplica (fls. 150/153).

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É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

O processo comporta julgamento antecipado nos termos do artigo 355,


inciso I, do Código de Processo Civil, por se tratar de matéria de fato e direito, passível
de julgamento com as provas constantes dos autos.

Inicialmente, observo a existência de relação jurídica em que a autora

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA CLAUDIA HABICE KOCK, liberado nos autos em 16/06/2021 às 09:42 .
figura como destinatária final da prestação objeto do contrato descrito na inicial, em
condição de vulnerabilidade técnica, jurídica e econômica diante das obrigações nele
estipuladas.

De outro lado, anoto a presença de atividade econômica organizada,


desenvolvida pela ré em caráter habitual, circunstâncias que indicam a posição da ré na
relação jurídica como fornecedora de produtos ou serviços.

Considero, também, que o contrato celebrado entre as partes tem por


objeto a prestação de serviços e denota clara preponderância de cláusulas
preestabelecidas que vinculam o consumidor por adesão.

Por isso, examino a matéria controvertida à luz das disposições legais


relativas às relações de consumo, a teor do disposto nos artigos. 2º e 3º, §2º, da Lei
8.078/90.

Neste sentido:

“RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. ENSINO SUPERIOR.


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS POR INSTITUIÇÃO PRIVADA. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC. EXTINÇÃO ANTECIPADA DE CURSO.
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA. CONDUTA DESLEAL OU ABUSIVA.
AUSÊNCIA.1. O contrato de prestação de serviços educacionais está sujeito às
disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor - CDC. O estudante é
um consumidor de serviços educacionais. A universidade, por sua vez, deve
prestar seus serviços na forma contratada, oferecendo salas de aula, professores
e conteúdo didático- científico adequados ao bom desenvolvimento do curso
universitário. 2. A extinção antecipada de curso superior, ainda que por razões de
ordem econômica, encontra amparo no art. 207 da Constituição Federal e na Lei nº
9.394/1996, que asseguram autonomia universitária de ordem administrativa e
financeira, motivo pelo qual a indenização por dano moral será cabível tão
somente se configurada a existência de alguma conduta desleal ou abusiva da
instituição de ensino. 3. Na hipótese, segundo as instâncias ordinárias, a

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universidade teria comunicado previamente a extinção do curso, oferecido
restituição integral dos valores pagos e oportunidade de transferência, o que
demonstra transparência e boa-fé, não caracterizando, por conseguinte, nenhum
ato abusivo a ensejar indenização por danos morais. 4. Recurso especial não
provido”. (STJ – 3ª Turma- Resp 1155866/RS, Recurso Especial 2009/0169307-1 ,
Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/02/2015)

A autora pretende a expedição do seu diploma de conclusão do curso de


pós-graduação latu sensu em Direito Processual Civil.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA CLAUDIA HABICE KOCK, liberado nos autos em 16/06/2021 às 09:42 .
Restou incontroverso nos autos que a autora concluiu o curso, foi
aprovada em todas as matérias e quitou todas as mensalidades.

Os documentos juntados às fls. 38/45 demonstram que, de início, a


demora na emissão do diploma decorreu da negligência da autora em entregar os
documentos necessários à expedição pela requerida. Todavia, enviados todos os
documentos pleiteados, a requerida permaneceu inerte.

Não restou comprovado, ainda, que a demora se deu em razão de culpa


de terceiros, o que poderia excluir a responsabilidade da fornecedora, conforme prevê o
artigo 14, §3º, II, do Código de Defesa do Consumidor.

A requerida aduz que a autora somente completou todos os requisitos


para expedição do diploma em abril de 2021, sem, contudo, comprovar tal alegação. Na
realidade, em abril de 2021, a autora somente solicitou informações a respeito da data
em que teria realizado o questionário de defesa (fls. 47), sem resposta da requerida.

De rigor, portanto, o reconhecimento de que o atraso na emissão é


decorrente de omissão da ré, que não adotou as providências necessárias para a
entrega no tempo determinado.

Neste sentido:

"APELAÇÃO Ação de obrigação de fazer c.c indenizatória


de danos morais. Prestação de serviço educacional. Demora na entrega
do diploma. CDC. Decisão de procedência. RECURSO DA RÉ Ausência de prova
que a demora excessiva foi por culpa de terceiros. Culpa, existência de nexo
causal e obrigação de indenizar pelos danos morais, in re ipsa. Valor da
indenização atende aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, bem como
o caráter compensatório diante da má prestação de serviços. Sentença confirmada
nos termos do art. 252 do RITJSP. RECURSO ADESIVO DA AUTORA Majoração
da verba indenizatória fixada em R$ 10.000,00 para R$ 38.500,00. Descabimento.

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Recurso da ré e da autora desprovidos." (TJSP – 38ª Câmara de Direito Privado-
Apelação 1034940-38.2018.8.26.0100, Relator Desembargador Flávio Cunha da
Silva, 1. 03/10/2019)

Por fim, o pedido de danos morais não merece acolhida.

Tratando de descumprimento contratual, com previsível possibilidade de


dissabores durante o cumprimento, não há caminho ao dano moral.

Sabe-se que a reparação por danos morais pressupõe ofensa a direitos

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da personalidade, ou sofrimento intenso e profundo, a ser demonstrado caso a caso
(Maria Celina Bodin de Moraes, Danos à Pessoa Humana, Renovar, p. 64; REsp
202.564, Rel. Min Sálvio de Figueiredo Teixeira).

Além disso, ausente ofensa dos direitos da personalidade não está


caracterizado o dano moral, sendo descabida a indenização pretendida.

A saber:

"Apelação. Prestação de serviço bancário. Ação declaratória de


inexistência de débito c.c. restituição de quantias pagas cumulada com reparação
por danos morais. Indevida a indenização por dano moral, pois não se
verificou o abalo anormal a direito de personalidade. Majoração da verba
honorária. Aplicação do § 11 do artigo 85 do CPC de 2015. Sentença de
procedência parcial mantida. Recurso desprovido." (TJSP; Apelação Cível
1031186-54.2018.8.26.0564; Relator (a): Pedro Kodama; Órgão Julgador: 37ª
Câmara de Direito Privado; Foro de São Bernardo do Campo - 7ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 06/08/2019; Data de Registro: 07/08/2019) (grifei)
"AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO - Contratos de
empréstimo pessoal - Comprovação de que a ré cobrou juros abusivos - Limitação
dos juros à taxa média de mercado – Danos morais – Inocorrência - Fatos
narrados que configuram meros aborrecimentos - RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO." (TJSP; Apelação Cível 1007306-32.2018.8.26.0047;
Relator (a): Renato Rangel Desinano; Órgão Julgador: 11ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Assis - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 07/08/2019; Data de
Registro: 07/08/2019) (grifei)
"OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
Prestação de serviços de telefonia. Indisponibilidade dos serviços comprovada. Má
prestação dos serviços caracterizada. Mantida a determinação de
restabelecimento da linha telefônica da autora. Dano moral. Mero dissabor advindo
do inadimplemento contratual não autoriza a indenização pretendida. Ausência de
comprovação de como a má-prestação dos serviços da ré no
estabelecimento da autora afetou a imagem desta a ponto de ensejar uma
condenação por dano moral. Indenização afastada. Sentença parcialmente

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CEP: 14801-425 - Araraquara - SP
Telefone: (16) 3336-1888 - E-mail: Araraq4cv@tjsp.jus.br

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1004134-10.2021.8.26.0037 e código 3E25B2A.
reformada. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO." (TJSP; Apelação Cível
1019875-83.2017.8.26.0602; Relator (a): Afonso Bráz; Órgão Julgador: 17ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Sorocaba - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
24/06/2019; Data de Registro: 24/06/2019) (grifei)

Eventual transtorno é mero aborrecimento e dissabor, que não comporta


indenização.

Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para


condenar a requerida a expedir o diploma/certificado de conclusão de curso em favor da

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA CLAUDIA HABICE KOCK, liberado nos autos em 16/06/2021 às 09:42 .
autora referente ao curso de pós-graduação latu sensu em Direito Processual Civil, no
prazo máximo de 30 dias a contar do trânsito em julgado desta sentença.

Desta forma, as custas e despesas devem ser rateadas entre as partes


(art. 86 do Código de Processo Civil).

Condeno a autora a pagar honorários advocatícios no valor de


R$1.500,00, nos termos do art. 85, §8º, do CPC , observado o disposto no art. 98, §§2º
e 3º do CPC.

Condeno a requerida a pagar ao advogado da autora honorários


advocatícios no valor de R$1.500,00, nos termos do art. 85, §8º, do CPC.

Publique-se e Intimem-se.

Araraquara, 14 de junho de 2021.

(assinatura digital na margem direita)

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