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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE JARINU
FORO DE JARINU
VARA ÚNICA
AV. DR. ANTENOR SOARES GANDRA, 465, Jarinu-SP - CEP
13240-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000728-62.2021.8.26.0301 e código A153468.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1000728-62.2021.8.26.0301 nº 2021/001559


Classe – Assunto: Procedimento Comum Cível - Defeito, nulidade ou anulação
Requerente: Wanderley Vieira
Requerido: BANCO PAN S/A e outro
Justiça Gratuita
Prioridade Idoso

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABRICIO AUGUSTO DIAS, liberado nos autos em 08/08/2022 às 14:55 .
Juiz de Direito: FABRÍCIO AUGUSTO DIAS

Trata-se de ação de conhecimento. O autor alegou que uma pessoa fez contato
telefônico e lhe disse que era do Banco Pan e que havia o valor de R$3.500,00 para ele receber,
decorrente de um empréstimo com juros elevados que ele teria contratado com o banco. Aduziu
que no mesmo telefonema a pessoa lhe disse que houve aprovação para empréstimo de
R$47.281,24 ao autor. Relatou que disse ao interlocutor que tinha interesse na quantia de
R$3.500,00, mas não no empréstimo de R$47.281,24. Asseverou que enviou foto ao interlocutor
para receber os R$3.500,00. Sustentou que depois verificou no extrato que havia a quantia de
R$47.281,24 em sua conta e tentou devolver. Aduziu que entrou em contato com o banco e o
atendente o orientou a pagar boleto de R$47.281,24 devolvendo a quantia. Alegou que recebeu o
boleto pelo Whatsapp e pagou, mas depois descobriu que o valor foi direcionado para pessoa
desconhecida. Asseverou que está sendo cobrado pelas 84 parcelas de R$1.214,00 desse
empréstimo consignado que tentou devolver, estão sendo descontadas de seu benefício
previdenciário. Requereu a tutela provisória para suspender os descontos em seu benefício
previdenciário e, ao final, pleiteou a confirmação da tutela, a declaração de inexistência de
relação jurídica e a condenação ao pagamento de indenização por dano material e compensação
por dano moral.

Juntou documentos (fls. 12/66).

Foi deferida a gratuidade judiciária e a tutela provisória (fls. 67/68).

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COMARCA DE JARINU
FORO DE JARINU
VARA ÚNICA
AV. DR. ANTENOR SOARES GANDRA, 465, Jarinu-SP - CEP
13240-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000728-62.2021.8.26.0301 e código A153468.
Os requeridos apresentaram contestação. O Banco Pan aduziu que a contratação
do empréstimo consignado foi lícita e que o autor não devolveu o valor (fls. 90/110). O banco
Bradesco aduziu que o fato de o fraudador ter se utilizado de boleto seu não leva à sua
responsabilização pelo evento danoso (fls. 192/214).

Juntaram documentos (fls. 111/191 e 215/241).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABRICIO AUGUSTO DIAS, liberado nos autos em 08/08/2022 às 14:55 .
Réplica a fls. 244/246.

As partes não manifestaram interesse na produção de outras provas (fls. 260, 263
e 289/290).

É o relatório.
Fundamento e decido.

Por não haver necessidade de produzir outras provas, em virtude da suficiência do


arcabouço probatório existente nos autos para o deslinde da causa, promovo o julgamento
antecipado do mérito, com esteio nos arts. 355 e 370 do Código de Processo Civil.

Assiste razão aos requeridos.

O autor foi vítima de fraude, em que uma pessoa, passando-se por atendente do
Banco Pan, o teria convencido a pagar boleto bancário no valor de R$47.281,24, supostamente era
a devolução de valor de empréstimo consignado que o autor não teria contratado. Assim, o autor
estaria pagando esse boleto como forma de devolução do valor mutuado, já que não pretendia o
empréstimo.

Ocorre que o autor não provou o pagamento do referido boleto - também não
provou o recebimento dos R$3.500,00 nem o negócio jurídico que o faria ter direito aos
R$3.500,00 -, já que não juntou aos autos o comprovante de pagamento ou o extrato bancário,
colacionou apenas o boleto (fls. 19/20). Ainda que tenha pago, o fez em favor do fraudador e não
da instituição financeira, que não contribuiu de qualquer forma para o evento danoso, inexistindo

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nexo causal.

O autor pagou boleto enviado por Whatsapp pelo fraudador, não se certificou do
destino do pagamento e nada pagou em favor do banco. No boleto bancário consta que o
beneficiário é "Empire Soluções Financeiras EIRELI", evidentemente se trata da empresa de
fachada usada pelo criminoso para recebimento da quantia.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABRICIO AUGUSTO DIAS, liberado nos autos em 08/08/2022 às 14:55 .
Quanto ao empréstimo consignado celebrado com o requerido, foi legitimamente
celebrado eletronicamente, conforma documentos acostados a fls. 31/46. O autor enviou
fotografia sua e de seu RG para a celebração do contrato e os logs demonstram o caminho
percorrido no aplicativo bancário para a celebração do negócio, tendo o autor anuído com o
empréstimo (fls. 92/93).

Os prints juntados pelo autor, da tela do aplicativo Whatsapp (fls. 53/63), apenas
afastam qualquer dúvida acerca da fraude, nota-se que terceiros se passaram por atendentes do
Banco Pan para aplicarem o golpe. O fato de a foto de perfil conter o nome do Banco Pan não
significa, por óbvio, que fosse um atendente do banco, já que qualquer pessoa pode colocar em
seu perfil no referido aplicativo foto de qualquer lugar. Outrossim, os números telefônicos que
entraram em contato com o autor via Whatsapp não se relacionam ao Banco Pan, o que também
não foi verificado pelo autor.

O Banco Bradesco também não tem responsabilidade pelo ocorrido. A emissão de


boletos de cobrança a requerimento dos credores (ou supostos credores) não coloca a instituição
financeira na cadeia de consumo, na medida em que não possui qualquer relação com o negócio
jurídico (ou suposto negócio jurídico) entabulado entre credor e devedor. A parte requerida não
tem o dever de verificar a existência ou higidez da dívida que deu origem à emissão do boleto.

APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. COMPRA PELA INTERNET. ALEGAÇÃO DE


FRAUDE. EMISSÃO REGULAR DE BOLETO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA. SENTENÇA MANTIDA. APELAÇÃO
DESPROVIDA. Não há como imputar responsabilidade a instituição financeira por suposto
dano moral sofrido pela autora se sua conduta foi regular ao emitir boleto com o

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consequente repasse à intermediadora do negócio que repassou ao vendedor, o qual não
entregou o bem adquirido pela autora.
(TJSP; Apelação Cível 1071562-53.2017.8.26.0100; Relator (a): Adilson de Araujo; Órgão
Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional I - Santana - 6ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 04/02/2020; Data de Registro: 04/02/2020)

RECURSOS INOMINADOS (2). COBRANÇA INDEVIDA. RECURSO DA RÉ BV


FINANCEIRA. ACORDO FIRMADO COM O AUTOR EM SEDE RECURSAL JÁ

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABRICIO AUGUSTO DIAS, liberado nos autos em 08/08/2022 às 14:55 .
HOMOLOGADO. RECURSO PREJUDICADO. RECURSO DO AUTOR. PEDIDO DE
CONDENAÇÃO DO RÉU BANCO DO BRASIL. ILEGITIMIDADE PASSIVA MANTIDA.
MERO EMITENTE DO BOLETO DE COBRANÇA DA RÉ BV FINANCEIRA.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DO AUTOR CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
RECURSO DA RÉ PREJUDICADO.
(TJPR - 2ª Turma Recursal - RI 0014449-78.2016.8.16.0034 - Piraquara - Rel.: Juíza
Fernanda Bernert Michelin - J. 28.08.2020)

RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS. FRAUDE.


COMPRA ON-LINE. PRODUTO NUNCA ENTREGUE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. SERVIÇOS BANCÁRIOS. INTERMEDIAÇÃO
FINANCEIRA ENTRE PARTICULARES. COMPRA E VENDA ON-LINE. PARTICIPAÇÃO.
AUSÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. Ação ajuizada em 30/06/2015. Recurso especial interposto em 16/03/2018 e atribuído em
22/10/2018.
2. O propósito recursal consiste em determinar se o banco recorrido seria objetivamente
responsável pelos danos suportados pelo recorrente, originados após ter sido vítima de
suposto estelionato, perpetrado na internet, em que o recorrente adquiriu um bem que nunca
recebeu.
3. Nos termos da Súmula 479/STJ, "as instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias".
4. O banco recorrido não pode ser considerado um fornecedor da relação de consumo que
causou prejuízos à recorrente, pois não se verifica qualquer falha na prestação de seu
serviço bancário, apenas por ter emitido o boleto utilizado para pagamento.
5. Não pertencendo à cadeia de fornecimento em questão, não há como responsabilizar o
banco recorrido pelos produtos não recebidos. Ademais, também não se pode considerar

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esse suposto estelionato como uma falha no dever de segurança dos serviços bancários
prestados pelo recorrido.
6. Recurso especial não provido.
(REsp 1786157/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
03/09/2019, DJe 05/09/2019)

Portanto, não há responsabilidade civil das instituições financeiras pelo ocorrido.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABRICIO AUGUSTO DIAS, liberado nos autos em 08/08/2022 às 14:55 .
Ante o exposto e nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil,
revogo a tutela provisória e JULGO IMPROCEDENTE o pedido.

Condeno o autor ao pagamento das custas processuais e de honorários


advocatícios de 10% sobre o valor da causa, na forma dos arts. 82 e 85 do Código de Processo
Civil. Observem-se os §§ 2º e 3º do art. 98 do Código de Processo Civil.

Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos.

Esta sentença valerá como mandado, carta, termo, ofício, carta precatória e alvará,
a autenticação eletrônica lhe confere originalidade para todos os efeitos legais.

Sentença registrada. Publique-se.

Jarinu, 8 de agosto de 2022.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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