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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LILIAN SAYURI NAKANO FERREIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao

Paulo, protocolado em 08/11/2022 às 10:55 , sob o número WPRO22013532016.


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2208810-77.2022.8.26.0000 e código 1CC0B0F0.
ESTADO DE SÃO PAULO

Processo n° 2208810-77.2022.8.26.0000

MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PIRES, já qualificado nos


autos do Recurso em epígrafe, vem respeitosamente a Vossa Excelência,
apresentar CONTRAMINUTA AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, interposto por
ROSANGELA CARVALHO SILVEIRA, ANTONIO AUGUSTO SILVEIRA e CESAR AUGUSTO
SILVEIRA FILHO consoante minuta em anexo.

Termos em que,

Pede-se deferimento.

Ribeirão Pires, 08 de novembro de 2022

Lilian Sayuri Nakano Ferreira


Procuradora do Município
OAB/SP 155.757

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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LILIAN SAYURI NAKANO FERREIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 08/11/2022 às 10:55 , sob o número WPRO22013532016.
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Processo n°: 208810-77.2022.8.26.0000

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Origem: 1ª Vara da Comarca de Ribeirão Pires

Agravante: ROSANGELA CARVALHO SILVEIRA, ANTONIO AUGUSTO SILVEIRA


e CESAR AUGUSTO SILVEIRA FILHO

Agravado: MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PIRES

CONTRAMINUTA AO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Egrégio Tribunal!

Colenda Câmara!

Ínclitos Julgadores!

Em que pesem os argumentos apresentados pela


Agravante, data máxima venia, o Recurso não merece ter provimento,
pelos fatos e motivos que passa a expor.

I. DOS FATOS

Trata-se de ação pelo procedimento comum, em que


a Agravante requer o fornecimento do prontuário médico, o pagamento de
indenização por danos morais e de pensão, onde a Agravante interpôs o
presente Recurso relatando, em síntese, que o Juiz de primeiro grau não
apreciou o pedido de inversão do ônus da prova, tendo em vista a
relação de consumo existente, requerendo a sua concessão.

Todavia, tais alegações não merecem prosperar,


senão vejamos.

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II. DO MÉRITO

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1. Da inaplicabilidade do CDC para a Fazenda Pública

Cumpre evidenciar que o pedido efetuado pela


Agravante acerca da inversão do ônus da prova em conformidade com o
Código de Defesa do Consumidor deve ser rechaçado.

O art. 3°, § 2°, do CDC estabelece que para a


relação consumerista:

“Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Com isso, entende-se que a relação de consumo


sobre serviços é configurada nos casos em que o fornecedor presta-os
mediante remuneração direita.

Porém, na prestação de serviços pela Fazenda


Pública, neste caso referente à saúde, não se configura relação de
consumo, tendo em vista que não há remuneração direta e específica ao
fornecedor, sendo esta indireta, ou melhor, custeada pela arrecadação
de impostos, diversamente do que ocorre nas relações consumeristas.

Além disso, o serviço em questão é prestado pela


União, Estados e Municípios de forma universal visando o bem comum, não
sendo este caracterizado pela individualização presente nas relações de
consumo.

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Neste sentido, a doutrina leciona:

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“O que se pretende dizer é que o “contribuinte”
não se confunde com o “consumidor”, já que no primeiro caso o que
subsiste é uma relação de Direito Tributário, inserida a prestação de
serviços públicos, genérica e universalmente considerada, na atividade
precípua do Estado, ou seja, a persecução do bem comum.” (g.n.) (Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor – Comentado pelos Autores do
Anteprojeto; Editora Universitária, 6ª edição, pag. 131).

E, “Relembre-se que, pela definição de serviços


do art. 3º do CDC, somente àqueles serviços pagos, isto é, como afirma
o § 2º, “mediante remuneração”, serão aplicadas as normas do CDC. Em
uma interpretação literal da norma, os serviços uti universi, isto é,
aqueles prestados a todos os cidadãos, com os recursos arrecadados em
impostos, ficariam excluídos da obrigação de adequação e eficiência
previstos pelo CDC. De qualquer maneira, interessa ao nosso estudo
somente aqueles serviços prestados em virtude de um vínculo
contratual, e não meramente cívico, entre o consumidor e o órgão
público ou seu concessionário.” (Cláudia Lima Marques, in Contratos no
Código de Defesa do Consumidor, RT, 3ª edição, p. 211).

Em situações similares o Superior Tribunal de


Justiça, dispôs:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE


COMPETÊNCIA. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
PÚBLICO. AUSÊNCIA DE REMUNERAÇÃO. RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO-
CONFIGURADA. DESPROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. 1.
Hipótese de discussão do foro competente para processar e
julgar ação indenizatória proposta contra o Estado, em
face de morte causada por prestação de serviços médicos em
hospital público, sob a alegação de existência de relação
de consumo. 2. O conceito de "serviço" previsto na
legislação consumerista exige para a sua configuração,

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necessariamente, que a atividade seja prestada mediante

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remuneração (art. 3º, § 2º, do CDC). 3. Portanto, no caso
dos autos, não se pode falar em prestação de serviço
subordinada às regras previstas no Código de Defesa do
Consumidor, pois inexistente qualquer forma de remuneração
direta referente ao serviço de saúde prestado pelo
hospital público, o qual pode ser classificado como uma
atividade geral exercida pelo Estado à coletividade em
cumprimento de garantia fundamental (art. 196 da CF). 4.
Referido serviço, em face das próprias características,
normalmente é prestado pelo Estado de maneira universal, o
que impede a sua individualização, bem como a mensuração
de remuneração específica, afastando a possibilidade da
incidência das regras de competência contidas na
legislação específica. 5. Recurso especial desprovido.
(STJ - REsp: 493181 SP 2002/0154199-9, Relator: Ministra
DENISE ARRUDA, Data de Julgamento: 15/12/2005, T1 -
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 01/02/2006 p. 431).

Assim, restam excluídos da relação de consumo os


serviços próprios, prestados pelo Poder Público.

Portanto, não se configurando relação de consumo


e nem se aplicando o CDC, não restam motivos para a inversão do ônus da
prova.

Neste sentido, o julgado do E. Tribunal de


Justiça do Estado do Paraná:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ERRO


MÉDICO. REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO EM HOSPITAL PARTICULAR.
ATENDIMENTO PELO CONVÊNIO COM O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
(SUS). SERVIÇOS MÉDICOS-HOSPITALARES REMUNERADOS PELOS
COFRES PÚBLICOS. DEVER LEGAL DE FISCALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO.

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CDC. INAPLICABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO.

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ATIVIDADE QUE NÃO SE INSERE NO CONCEITO PREVISTO NO ARTIGO
3º, § 2º, DA LEI Nº 8.078/1990. REMUNERAÇÃO INDIRETA. ÔNUS
DA PROVA. INVERSÃO. AFASTAMENTO. RECURSO PROVIDO. (TJPR -
3ª C. Cível - AI - 1682472-1 - Assis Chateaubriand - Rel.:
Desembargador Sérgio Roberto Nóbrega Rolanski - Unânime -
J. 27.03.2018)

Desta forma, conclui-se que não se aplica o CDC


para a fazenda pública pois seu serviço se dá por meio de remuneração
indireta, que provem de impostos, e que por causa disso não se aplica a
inversão do ônus da prova presente na legislação consumerista.

IV. CONCLUSÃO

Diante do exposto, comprovada a inaplicabilidade


do Código de Defesa do Consumidor e a impossibilidade de inversão do
ônus da prova, requer que seja negado provimento ao Agravo de
Instrumento interposto e que a R. Decisão de fls. 129/130 seja mantida.

Termos em que,

Pede-se deferimento.

Ribeirão Pires, 08 de novembro de 2022

Lilian Sayuri Nakano Ferreira


Procuradora Municipal
OAB/SP 155.757

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