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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE IBITINGA
FORO DE IBITINGA
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL
RUA TIRADENTES, Nº 519, Ibitinga - SP - CEP 14940-000
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às18h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001691-08.2020.8.26.0236 e código 3672A71.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1001691-08.2020.8.26.0236


Classe - Assunto Procedimento do Juizado Especial Cível - Indenização por Dano Moral
Requerente: Paulo Ricardo Cano Dias
Requerido: Claro S/A

Juiz de Direito: Doutor Júlio César Franceschet

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIO CESAR FRANCESCHET, liberado nos autos em 06/10/2020 às 11:26 .
Vistos.

PAULO RICARDO CANO DIAS propôs ação declaratória c.c. pedido de


indenização por dano moral contra CLARO S/A, ambos qualificados na inicial,
alegando que é titular de uma linha telefônica móvel administrada pela empresa ré.
Narra que, em maio de 2020, procedeu à troca do aparelho celular, conforme termo
de adesão para planos e serviços pós-pagos-SMP, e manteve o plano ativo, no valor
de R$ 139,99. Informa que a fatura do mês de maio/2020 foi emitida no valor de R$
304,36 e a de junho/2020, no valor de R$ 444,35. Alega que procurou o
representante da ré para saber o motivo do valor cobrado, porém, não lhe
explicaram a origem do débito, motivo pelo qual está pagando apenas o valor das
mensalidades. Por conta disso, informa que a ré suspendeu os serviços contratados,
situação que vem lhe causando prejuízos, pois o celular é utilizado para contato de
trabalho. Requer a concessão de tutela de urgência, determinando o
restabelecimento dos serviços contratados. Pleiteia a declaração de inexigibilidade
do débito cobrado, bem como a condenação da ré ao pagamento em dobro da
referida quantia, além de indenização de R$ 5.000,00, a título de dano moral. Pede a
concessão dos benefícios da assistência jurídica (fls. 1/16). Anexou documentos (fls.
17/22).

O pedido de tutela de urgência foi deferido (fls. 23/26).

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A parte ré contestou a ação alegando, em síntese, que a suspensão dos
serviços se deu no exercício regular de seu direito, pois o autor estava inadimplente
com o pagamento integral das faturas. Informa que o valor impugnado refere-se à
cobrança de multa de fidelidade, em virtude da troca de aparelho. Afirma que não
praticou qualquer ato ilícito e que a situação refletida nos autos apenas caracteriza

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIO CESAR FRANCESCHET, liberado nos autos em 06/10/2020 às 11:26 .
eventual mero aborrecimento, sendo indevida a indenização pretendida. Em caso de
condenação, pondera que a fixação do valor considere os impactos financeiros
decorrentes da pandemia e os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Pede
a rejeição do pedido de devolução em dobro, pois o autor não pagou a multa
contratual, nem houve má-fé na cobrança do valor (fls. 80/97). Trouxe documentos
(fls. 98/129).

Réplica (fls. 132/135).

É o relatório. Fundamento e DECIDO.

Conheço diretamente da demanda, nos termos do artigo 355, inciso I, do


Código de Processo Civil. Como ensina Cândido Rangel Dinamarco em lição
compatível com o CPC/2015:

A razão pela qual se permite a antecipação do julgamento do mérito é


invariavelmente a desnecessidade de produzir provas. Os dois incisos do art.
330 desmembram essa causa única em várias hipóteses, mediante uma redação
cuja leitura deve ser feita com a consciência de que só será lícito privar as
partes de provar quando as provas não forem necessárias ao julgamento
(Instituições de Direito Processual Civil, v. III, 2ª ed., Malheiros, p. 555).

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No mérito, a pretensão inicial PROCEDE EM PARTE.

A relação jurídica existente entre as partes está bem demonstrada nos autos,
consubstanciada na prestação de serviços de telefonia e aquisição de aparelhos
celulares, conforme documentos anexados a fls. 20/21 e 98/129.

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Divergem as partes, contudo, acerca da legitimidade da cobrança da multa
de fidelização, no valor de R$ 304,36 (f. 120), e da suspensão dos serviços por falta
de pagamento da referida multa.

Com efeito, os documentos apresentados pela empresa ré (fls. 103/104)


revelam que, em 7 de agosto de 2019, as partes firmaram termo de adesão para
plano de serviços, ocasião em que a parte autora adquiriu um aparelho Samsung
Galaxy A80 e um plano denominado Claro pós 10GB.

De fato, consta do referido contrato, em quadro-resumo, cláusulas de


permanência (365) e multa de serviço e/ou aparelho, no valor de R$ 1.125,20.

Nesse contexto, de acordo com a empresa ré, quando o autor efetuou a troca
do aparelho, em 20 de maio de 2020, ainda estava fidelizado (término somente em
agosto de 2020), motivo pelo qual foi cobrada a multa de forma proporcional.

Sem razão, contudo, a parte ré. Vejamos.

A despeito dos argumentos invocados pela empresa ré e da previsão formal


da multa no contrato firmado entre as partes, tenho que a aplicação da penalidade,
no específico caso em apreço, não deve prevalecer.

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O Código de Defesa do Consumidor assegura em seu art. 6º, inciso III, o
direito à adequada informação. Tal dispositivo busca conferir efetividade à
transparência no mercado de consumo, de forma que o consumidor tenha ciência,
antes da pactuação, do produto/serviço contratado.

Permita-se transcrever excerto de pertinente julgado do Superior Tribunal

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de Justiça, proferido nos autos do Resp nº 1.537.571-SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, que aborda de maneira didática o verdadeiro significado e alcance do
dever de informação, em sua dimensão de advertência:

"Embora toda advertência seja informação, nem toda informação é


advertência. Quem informa nem sempre adverte. A advertência é informação
qualificada: vem destacada do conjunto da mensagem, de modo a chamar a
atenção do consumidor, seja porque o objeto da advertência é fonte de
onerosidade além da normal, seja porque é imprescindível à prevenção de
acidentes de consumo." (Informativo nº 677, publicado em 11/09/2020 - destaquei
no original).

No caso em apreço, análise atenta do instrumento contratual coligido aos


autos revela que o dever de informação não foi adequadamente observado pela
fornecedora/ré.

Primeiro porque, em se tratando de penalidade aplicável, é inapropriada a


inserção do valor da multa cobrada apenas em quadro-resumo e sem qualquer
diferenciação das demais informações ali constantes; Segundo porque a cláusula
que prevê as hipóteses de incidência da penalidade (f. 104, letra "j") está redigida
conjuntamente com outras previsões contratuais, não havendo qualquer destaque,
como tamanho/tipo da fonte, uso de negrito, grifo ou outro recurso apto a chamar a

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atenção do consumidor, permitindo sua imediata e fácil compreensão (art. 54, § 4º,
do CDC); Terceiro porque a cláusula estabelece, genérica e vagamente, que a multa
será devida "na hipótese de cancelamento ou alteração das condições contratadas",
não sendo possível identificar, de forma clara e objetiva, a informação de que a
penalidade também seria devida em caso de troca do aparelho dentro do período de
fidelização.

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Na qualidade de empresa especializada no ramo de serviços
telefônicos/internet e detentora de manifesta superioridade técnica em relação ao
conhecimento dos contratos que realiza, deveria a parte ré demonstrar que advertiu
o autor que a troca do aparelho, e não só do plano, representaria quebra da cláusula
de fidelização, acarretando a cobrança proporcional da multa.

Trata-se de conduta concretizadora do dever de informação e do princípio


da boa-fé, que deve permear a relação contratual, assim na conclusão do contrato,
como em sua execução (art. 4º, III, do Código do Consumidor em diálogo com o art.
422 do Código Civil), os quais, contudo, não foram observandos.

Detendo-me um instante mais sobre o elemento informação, por


fundamental ao desenlace da controvérsia, poderia a parte ré, por exemplo, inserir
no termo de adesão de fls. 107/109, ou em documento apartado, a informação de
que o autor estava ciente sobre o pagamento da multa ou, ainda, apresentar eventual
gravação de atendimento, comprovando que prestou tais informações ao autor.
Deste ônus, todavia, não se desincumbiu.

Assim, a exigência da penalidade pretendida pela parte ré mostra-se


descabida, de modo que a declaração de inexigibilidade do débito, no valor de
R$304,36, é medida de rigor.

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Dano moral, contudo, é indevido na espécie.

A interpretação errônea ou unilateral de cláusulas do contrato por uma das


partes se situa no campo dos conflitos de interesses negociais, não avançando
automaticamente para o âmbito da ofensa aos direitos da personalidade e da honra

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do contratante, a ensejar reparação por dano moral.

Não obstante o dano moral ocorra com o atingimento da esfera íntima da


pessoa, para cuja comprovação a técnica probatória se revela insuficiente, não se
pode concluir sua existência com o simples inadimplemento contratual que não
repercuta efeitos com maiores potencialidades lesivas.

No específico caso em apreço, a suspensão dos serviços pela empresa ré


resultou do não pagamento da multa de fidelidade, que encontra fundamento em
cláusula contratual, cuja abusividade decorre de uma interpretação judicial
favorável ao autor/consumidor. Não sendo manifesta a abusividade, que, repito,
decorreu de uma inadequada aplicação de cláusula contratual, não se pode falar em
ato ilícito capaz de, na espécie, ter causado dano à integridade psicofísica do autor.
Veja-se, portanto, que a suspensão dos serviços encontrou amparo em cláusula
contratual, cujos contornos apenas agora foram aclarados.

Logo, embora esse Magistrado reconheça a essencialidade dos serviços


prestados pela ré ao autor, não há dano moral decorrente da suspensão, no
específico caso em apreço, posto que a exigibilidade da multa era questão
controvertida e apenas agora restou afastada.

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Por fim, quanto ao pedido de pagamento em dobro do valor cobrado, a
pretensão não merece ser acolhida, pois o próprio autor declarou ter efetuado apenas
o pagamento da mensalidade do plano contratado, de sorte que não houve o efetivo
desembolso da quantia relativa à multa. Além disso, não há que se falar em má-fé
por parte da ré, já que, volto a repetir, havia previsão contratual sobre a cobrança
questionada, a qual somente agora foi declarada indevida. Assim, inaplicável o

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disposto no art. 42, parágrafo único, do CDC. A propósito, "a jurisprudência do
STJ é firme no sentido de que a repetição em dobro do indébito, sanção
prevista no art. 42, parágrafo único, do CDC, pressupõe tanto a existência de
pagamento indevido quanto a má-fé do credor".

Destarte, a parcial procedência do pedido é medida que se impõe.

Posto isso, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do
Código de Processo Civil, julgo a demanda PARCIALMENTE PROCEDENTE
para declarar a inexigibilidade do débito relativo à multa de fidelização, no valor de
R$ 304,36 (f. 120).

Convolo em definitiva a decisão de fls. 23/26.

Sem condenação em custas e honorários advocatícios nesta fase processual,


por força do disposto no artigo 55 da lei 9.099/95.

O recurso cabível é o inominado (art. 41 da Lei nº 9.099/95). O preparo


compreende as custas dispensadas em primeiro grau (art. 54, parágrafo único, da Lei
nº 9.099/95 e art. 4º, I e II da Lei Estadual nº 11.608/03, com as alterações da Lei nº
15.855/15); é a soma de 1% do valor atualizado dado à causa ou cinco Ufesps
(o que for maior); mais 4% da condenação ou cinco Ufesps (o que for maior).

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Para a correta apreciação do pedido de gratuidade deduzido pela parte
autora, deverá trazer aos autos comprovantes de renda familiar ou documento
equivalente.

Publique-se. Intimem-se.

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Ibitinga, 06 de outubro de 2020.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

1001691-08.2020.8.26.0236 - lauda 8

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