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MÓDULO

1
REGISTRO DE TERMO
CIRCUNSTANCIADO DE
OCORRÊNCIAS (TCO)
PELA POLÍCIA MILITAR
DE MINAS GERAIS
Módulo 1

Legislação Aplicável à
Fase Policial Militar nos
Processos Criminais de
Competência do Juizado
Especial Criminal
Maj PM Douglas Antônio da Silva
Maj PM Leonardo dos Santos da Silva
Cap PM Henrique Oliveira Santos
1º Ten PM Christian Lucas Del Cantoni

Acesse o conteúdo interativo e


complemente seus estudos.
Comandante-Geral da Polícia Militar de Minas Gerais MÓDULO 1- LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À FASE POLICIAL MILITAR
CEL PM HELBERT FIGUEIRÓ DE LOURDES NOS PROCESSOS CRIMINAIS DE COMPETÊNCIA DO JUIZADO
ESPECIAL CRIMINAL
Subcomandante-Geral da Polícia Militar de Minas Gerais
CEL PM ANDRÉ AGOSTINHO LEÃO DE OLIVEIRA Autores
MAJ PM DOUGLAS ANTÔNIO DA SILVA
Presidente da Comissão Organizadora MAJ PM LEONARDO DOS SANTOS DA SILVA
CEL PM MAURO LÚCIO DE MOURA ALVES CAP PM HENRIQUE OLIVEIRA SANTOS
CEL PM GIOVANNE GOMES DA SILVA 1º TEN PM CHRISTIAN LUCAS DEL CANTONI

Diretor de Apoio Operacional Coordenação de Produção


CEL PM ALEXANDRE COSTA PINTO PATRÍCIA TAKAKI NEVES

Comissão Organizadora Design Instrucional


MAJ PM SANDRO MANSOLDO DE SOUZA GREICIELE DE CARVALHO MAIA
MAJ PM ISRAEL CALIXTO JÚNIOR
MAJ PM HALYSSON CLAUDINO CÂMARA SANTOS Revisão de Língua Portuguesa
MAJ PM DOUGLAS ANTÔNIO DA SILVA CAP PM RICARDO LUIZ AMORIM GONTIJO FOUREAUX
MAJ PM LEONARDO DOS SANTOS DA SILVA JOELI TEIXEIRA ANTUNES
MAJ PM WANDERSON DE ARAÚJO JÚNIOR
MAJ PM LÚCIO FERREIRA DA SILVA NETO Revisão Técnica
CAP PM RICARDO LUIZ AMORIM GONTIJO FOUREAUX CAMILLA MARIA SILVA RODRIGUES
CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA WENDELL BRITO MINEIRO
CAP PM DOUGLAS RODRIGUES MENDONÇA
CAP PM CLÁUDIO MOISÉS RODRIGUES PEREIRA Diagramação
CAP PM HENRIQUE OLIVEIRA SANTOS ALEXANDRE RODRIGUES COSTA FILHO
1º TEN PM GLAUDSTON HORTA FELISBERTO HUGO DANIEL DUARTE SILVA
1º TEN PM NATHÁLIA BATISTA RAMOS JÉSUS RICARDO DE FARIA ALMEIDA
1º TEN PM RAFAEL FERREIRA DE BARROS LUCAS GUIMARÃES CAVALCANTE DE ASSIS
1º TEN PM CHRISTIAN LUCAS DEL CANTONI
3º SGT PM RAFAEL DIEGO SOARES SILVA Desenvolvimento Interativo
FC ANDERSON APARECIDA DA CONCEIÇÃO ROBERTO CHRISTIAN RODRIGO RIBEIRO ROCHA
MARIELLEN IVO DE SOUSA
PATRICK PIERRE FERNANDEZ FERREIRA

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


Divisão de Serviços Técnicos. Catalogação da publicação na fonte.
Biblioteca Mons. Raimundo Gomes Barbosa

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
CURRÍCULO DOS AUTORES
Douglas Antônio da Silva
Major da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Curso de Formação de Oficiais (2001). Bacharel em Direito (FUMEC–
2009). Especialista em Segurança Pública (Fundação João Pinheiro – 2014). Chefe da Adjuntoria de Operações da
Assessoria Estratégica de Emprego Operacional do Comando Geral da PMMG.

Leonardo dos Santos da Silva


Major da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), bacharel em Direito. Pós-graduado em Segurança Pública.
Direito Público e Direitos Humanos. Mestre em Direito. Presidente de Comissão Administrativo-Disciplinar na
Corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais. Comandante da 21ª Cia PM do 34º BPM

Henrique Oliveira Santos


Capitão da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Bacharel em Ciências Militares com ênfase em Defesa Social
(2007). Bacharel em Direito. Adjunto da Assessoria Jurídica da Polícia Militar de Minas Gerais.

Christian Lucas Del Cantoni


1º Tenente da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), bacharel em Ciências Militares com ênfase em defesa
social. Bacharel em Direito. Pós-graduado em Processo Penal Militar. Chefe da Seção da Articulação Prisional e
Chefe da Seção de Polícia Judiciária Militar.
Legislação Aplicável à Fase Policial Militar nos Processos Criminais
de Competência do Juizado Especial Criminal

Sumário

UNIDADE 1
Do Crime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Conceito de Crime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Crime Consumado e Tentado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

UNIDADE 2
Do Concurso de Crimes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Concurso Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Concurso Formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Crime Continuado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

UNIDADE 3
Dos Crimes da Parte Especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Dos principais crimes de menor potencial ofensivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Das Principais Contravenções Penais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

UNIDADE 4
Da Ação Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Ação Penal Pública x Ação Penal Privada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

UNIDADE 5
Do Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
A Sistemática no Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Crimes de Menor Potencial Ofensivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Princípios Norteadores dos Juizados Especiais Criminais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
O Rito Processual no Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
A Lei Federal n. 9.099/95 e o Termo Circunstanciado de Ocorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
O Termo Circunstanciado de Ocorrência no Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Infrações de Menor Potencial Ofensivo de Competência do Juizado Especial Federal . . . . . . . . . . . . 32

UNIDADE 6
Da Legalidade da Lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência pelo Policial
Militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Situações em que não é Lavrado o TCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

Apresentação
Caro(a) Policial,

Seja muito bem-vindo à disciplina legislação aplicável à fase policial militar nos
processos criminais de competência do Juizado Especial Criminal. Aqui você
irá conhecer com detalhes a legislação que trata do Termo Circunstanciado de
Ocorrência - TCO, especialmente direcionada a lavratura pelo policial militar,
dando base para que esse procedimento seja adotado na prática em todo o Es-
tado. Desejamos sucesso e ótimo aprendizado a todos.

Os autores.

9
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

INFR
10
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

UNIDADE

1
U N I DA D E 1

Do Crime
Infração penal é gênero que comporta duas espécies: crimes (também chama-
dos delitos) e as contravenções penais. Os crimes estão previstos no Código
Penal e nas leis penais chamadas especiais ou extravagantes (Lei antidrogas,
Lei dos crimes ambientais, etc.), já as contravenções estão previstas somente
na Lei de Contravenções Penais – Decreto-Lei n. 3688/41.

Não há diferença substancial entre contravenção penal e crime. O critério de Importante


escolha dos bens a serem protegidos pelo Direito Penal é político (significa di- As contravenções que
zer que é uma escolha da sociedade, materializada por seus representantes le- disciplinavam o uso
irregular de arma de
gislativos). Da mesma forma é política a rotulação da conduta como criminosa fogo foram revogadas
ou contravencional. O que hoje é considerado crime amanhã poderá vir a ser pelo Estatuto do
contravenção e vice-versa. Desarmamento, Lei n.
10.826/03, passando
Na verdade, se aplicarmos fielmente o princípio da intervenção mínima, que a ser tratado como
crime.
apregoa que o Direito Penal só deve preocupar-se com bens e interesses mais
importantes e necessários ao convívio em sociedade, não deveríamos sequer
falar em contravenções, cujos bens por elas tutelados poderiam ter sido prote-
gidos satisfatoriamente pelos demais ramos do Direito.

Conceito de Crime
Em que pese o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal e a Lei de Con-
travenções Penais trazerem elementos que indicariam a incidência de um cri-
me, não há em nosso ordenamento jurídico-penal um conceito de crime escrito
na lei em razão da superação de tal proposta pela Lei 11.343/2006 e pela Lei
8069/90 . Em face dessa lacuna, a doutrina debate sobre o conceito jurídico de
crime, com três focos distintos, a saber:

1. Conceito Formal: crime é toda conduta humana que colide frontalmente contra a lei
editada pelo Estado;

2. Conceito Material: crime é a conduta humana que viola os bens jurídicos mais im-

AÇÃO
portantes no convívio em sociedade.

Os dois primeiros acabam por não alcançar as condutas criminosas em todas


as formas que possam se apresentar, logo, o conceito analítico, a seguir apre-
sentado, é predominantemente aceito na doutrina.

3. Conceito Analítico: crime é o fenômeno jurídico que se constitui de fato típico, anti-
jurídico e culpável.

11
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Fato Típico Fato Antijurídico Fato Culpável


• Conduta: comissiva ou Será antijurídico (ilícito) • Imputabilidade: maior de
omissiva, dolosa ou quando não estiver 18 anos ou saúde mental;
culposa; amparado pelo art. 23 a • Potencial consciência
• Nexo: ligação entre a 25 do Código Penal - CP da ilicitude do fato
conduta e o resultado; (legítima defesa, estado praticado: aquilo que se
de necessidade, estrito espera de uma pessoa
• Resultado: o produto do
cumprimento do dever com capacidade mental
crime;
legal e exercício regular normal, um homem médio;
• Tipicidade: adequação do direito) e/ou houve o
material da conduta a • Inexigibilidade de
consentimento do ofendido
um tipo penal (artigo que conduta diversa: não
(o consentimento do
tipifica um crime). era possível exigir outro
ofendido trata-se de uma
comportamento do que
causa supralegal, ou seja,
aquele praticado pelo
não previsto expressamente
agente.
na lei).

Crime Consumado e Tentado


Crime Consumado
De acordo com o inciso I do art. 14, do Código Penal, diz-se consumado o crime quando nele se
reúnem todos os elementos de sua definição legal.

Mas o que quer dizer essa afirmação? Como interpretar essa conceituação de
crime consumado?

Simples: definição legal é a previsão no código (Lei) de que determinado com-


portamento (conduta) configura crime.

Para entender melhor


Vamos analisar como exemplo, o conceito previsto no art. 129, caput do Código
Penal, que diz: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”, cuja pena
é de 03 meses a 01 ano.

Os elementos da definição legal é a ofensa à saúde corporal de uma terceira


pessoa (outrem), de sorte que, ainda que o autor venha causar uma lesão dolo-
sa a si próprio, causando ofensa à sua integridade corporal, não haverá o crime
previsto no art. 129, caput, do Código Penal. Isso porque a definição legal do
crime se dá por ofensa a integridade física de outrem.

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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

Crime Tentado
Inicialmente, para que se possa falar em tentativa, é preciso que a conduta seja
dolosa, isto é, que exista uma vontade livre e consciente de querer praticar de-
terminada infração penal, desde que:

a. O agente ingresse, obrigatoriamente, na fase dos atos de execução;

b. O agente não consiga chegar à consumação do crime por circunstâncias alheias a
sua vontade.

Não há um dolo de tentar um crime. O dolo do agente, na verdade, é dirigido à


concretização do resultado descrito no tipo penal e acaba por ter seu objetivo
interrompido por circunstâncias alheias à sua vontade. Seu dolo inicial de que-
rer o resultado final não se modifica por ter sido interrompido o seu intento.
Essa interrupção da ação ou do resultado almejado contra a sua vontade (cir-
cunstância alheia), caracteriza a tentativa.

Atenção:
Existe possibilidade de tentativa de contravenção penal? Não.
A Lei de Contravenções Penais dispõe no art. 4º que não é punida a tentativa de contravenção.
Se o fato não é consumado o agente não cometeu contravenção penal por ter ficado apenas na
tentativa.

Há outras infrações penais que não admitem a tentativa e só se pune a con-


duta consumada como no caso dos crimes habituais, crimes culposos, crimes
preterdolosos, crimes unissubsistentes e crimes omissivos próprios. Adiante,
aprenderemos mais sobre essas infrações.

Crimes Habituais
São delitos que, para se chegar à consumação, é preciso que o agente pratique,
de forma reiterada e habitual, a conduta descrita no tipo. Ou o agente comete
a série de condutas necessárias e consuma a infração penal, ou o fato por ele
levado a efeito é atípico.

Exemplo: curandeirismo(art. 284 do Código Penal).

Crimes Culposos
No crime culposo o agente não quis diretamente e nem assumiu o risco de pro-
duzir o resultado, ou seja, sua vontade não foi finalisticamente dirigida a causar
o resultado lesivo, mas sim que este ocorrera em virtude de sua inobservância
para com o seu dever de cuidado. Aqui, o agente não atua dirigindo sua vonta-
de a fim de praticar a infração penal, somente ocorrendo o resultado lesivo de-
vido ao fato de ter agido com negligência, imprudência ou imperícia.

Não se fala, portanto, em tentativa de crimes culposos, uma vez que, se não há
vontade dirigida à prática de uma infração penal, não existirá a necessária cir-
cunstância alheia, impeditiva da sua consumação.

13
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Crimes Preterdolosos
Há preterdolo quando o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado
agravador advém de culpa, ou seja, há o dolo na conduta e culpa no resultado,
há o dolo no antecedente e culpa no consequente. Os crimes culposos são de-
litos que, obrigatoriamente, para sua consumação, necessitam de um resultado
naturalístico. Se não houver esse resultado, não há que falar em crime culposo.

Exemplificando: não se fala em tentativa de lesão corporal seguida de morte,


ou tentativa de lesão corporal qualificada pelo resultado aborto, uma vez que o
resultado não pode ter sido querido ou assumido pelo agente, pois, caso con-
trário, ele responderá por outras infrações penais (tentativa de homicídio e ten-
tativa de aborto).

Crimes Unissubsistentes
Unissubsistente é o crime no qual a conduta do agente é exaurida num único
ato, não se podendo fracionar o iter criminis. A injúria verbal é um tipo de crime
Glossário
unissubsistente, visto que ou o agente profere as palavras ofensivas à honra
iter criminis
subjetiva da vítima e consuma a infração penal, ou cala-se, caso em que, como
(Lê-se: íter críminis.)
O caminho do crime, é cediço, não poderá ser punido.
delito. É o conjunto
dos atos preparatórios
e executórios de um
crime. Crimes Omissivos Próprios
Fonte: http://www. Nesta modalidade de infração penal, ou o agente não faz aquilo que a lei de-
enciclopedia-juridica. termina e assim consuma a infração; ou atua de acordo com o comando da
biz14.com/pt/d/iter-
criminis/iter-criminis. lei e não pratica qualquer fato típico. Exemplo: omissão de socorro, art. 135,
htm do Código Penal.

CONC
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

UNIDADE

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U N I DA D E 2

Do Concurso de Crimes
Conceitua-se concurso de crimes a ocorrência de dois ou mais crimes, por meio
de uma ou mais ação ou omissão. Difere-se do concurso de pessoas, em que há
pluralidade de agentes e unidade de crime. No concurso de crimes, a quantidade
de crimes é que está em questão e não a quantidade de pessoas. O agente, me-
diante uma ou mais ações ou omissões, pratica dois ou mais crimes.

Chama-se concurso de crimes, pois há um somatório deles, mas nem sempre


haverá um somatório de penas como se verá a seguir.

Há, no ordenamento jurídico penal, três espécies de concurso de crimes:

• Concurso Material - neste, o agente, mediante mais de uma ação ou omis-


são, pratica dois ou mais crimes;

• Concurso Formal - neste, o agente, mediante uma só ação ou omissão, prati-


ca dois ou mais crimes;

• Crime Continuado - neste, o agente, mediante mais de uma ação ou omis-


são, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, num mesmo contexto
temporal, espacial e modal (modo de execução), razão pela qual os crimes
subsequentes devem ser tidos como continuação do primeiro.

Aprenderemos mais sobre cada espécie.

Concurso Material
Esta primeira modalidade de concurso de crimes está prevista no art. 69 do Có-
digo Penal.

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se

URSO
primeiro aquela.

Trata-se da modalidade mais simples de todas, pois o agente pratica duas ou


mais ações ou omissões e alcança dois ou mais resultados, idênticos ou não,
também não se levando em consideração se os crimes ocorreram na mesma
ocasião ou em dias diferentes.

15
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Exemplo: o agente comete uma calúnia (art. 138, do CP), a seguir, pratica lesão
corporal (art.129, caput do CP) contra a mesma vítima.

O agente pode praticar os crimes mediante omissão também como, por exem-
plo, no caso do “agente garantidor” (um salva-vidas, mediante duas “ações
omissivas”, deixa de salvar duas pessoas que se afogavam, vindo estas a mor-
rer). É a chamada omissão imprópria prevista no art. 13, § 2º do Código Penal
sob título: relevância da omissão.

Para o concurso material de crimes aplica-se o sistema do cúmulo material (ou


da acumulação material), que importa no somatório das penas dos crimes pra-
ticados(no caso do exemplo do agente que cometeu o crime de calúnia e lesão
corporal contra a mesma vítima, a pena deve ser somada. Assim, a pena máxi-
ma a ser analisada será de 03 anos devido a soma de dois anos - crime de calú-
nia - e um ano - crime de lesão corporal)

Concurso Formal
No concurso formal, previsto no art. 70 do CP, o agente pratica, a partir de uma
ação única, mais de um delito, sendo a pena unificada em torno de um só re-
sultado. Em resumo, o agente pratica mais de um crime e recebe a punição por
apenas um só, ainda que com a pena aumentada de 1/6 até a metade.

Como exemplo de concurso formal, cita-se uma hipótese: um motorista se dis-


trai na direção do veículo e acaba atropelando duas pessoas, que morrem ins-
tantaneamente. Há uma conduta típica (culposa) e dois resultados (as mortes).
Portanto, nesse caso, há concurso formal de crimes.

Diferenças entre o concurso material e o concurso formal


É a quantidade de condutas que os diferem, isto é, pelo concurso formal, o agente pratica uma
única ação, mas o resultado é duplo ou múltiplo. No concurso material, há mais de uma conduta e
resultado, também duplo ou múltiplo.

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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

Crime Continuado
Previsto no art. 71 do CP, tal instituto não é senão mais uma ficção jurídica, ou
Importante
seja, não passa de uma criação da lei, já que, em verdade, múltiplos são os deli-
Os critérios ou
tos e, se efetivamente existisse o crime único, a pena haveria que ser a mesma requisitos legais do
cominada para um só dos crimes concorrentes. crime continuado são:
que os crimes sejam
Tal como o concurso material, o crime continuado também enseja a prática de da mesma espécie;
mais de uma ação ou omissão por parte do agente e, consequentemente, mais que haja conexão
(semelhança) entre as
de um resultado. Até aqui, tudo igual. Mas os dois institutos se diferenciam condições de tempo,
pelo objetivo buscado pela lei. A diferença é que, no crime continuado, embora lugar e maneira de
haja mais de uma ação ou omissão e resultados diversos, por vontade da lei, execução.

todos os outros crimes, desde que atendidos alguns critérios legais, serão tidos
como continuação do primeiro.

Quanto aos critérios tempo, lugar e maneira de execução, a lei penal também
não foi precisa, devendo-se, portanto, recorrer às soluções dogmáticas (doutri-
nárias) e jurisprudenciais.

Como exemplo, pode ser citado o caso de um agente que durante uma mani-
festação comete o crime de dano em vários portões de residências particula-
res. Nesse caso, o crime em tela seria o previsto no art. 163, caput, o qual tem
pena de um a seis meses.

17
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

18

CR
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

UNIDADE

3
U N I DA D E 3

Dos Crimes da Parte


Especial

Dos principais crimes de menor potencial


ofensivo
Lesão Corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão Corporal Culposa


Art. 129, § 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965).

Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Lesão Corporal Culposa no Trânsito


Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor.

Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer


qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302.

Art. 302, § 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor,


a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:

RIMES
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima
do acidente;

IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de trans-


porte de passageiros.

Em regra o TCO pela PMMG é cabível na “Lesão Corporal Culposa no trânsito”,


exceto nas hipóteses previstas no § 1º do artigo 291.

19
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


Atenção
qualquer dos crimes é cometido:
Verifique se há o
aumento de pena I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
previsto no art. 141, do
CP, principalmente no II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
caso de calúnia.
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ca-
lúnia, da difamação ou da injúria;

IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,


exceto no caso de injúria.

Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de re-


compensa, aplica-se a pena em dobro.

Das Principais Contravenções Penais


Vias de Fato
Art. 21 da LCP - Praticar vias de fato contra alguém.

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a
um conto de réis, se o fato não constitui crime.

Perturbação do trabalho ou sossego alheios


Art. 42. Perturbar alguém ou trabalho ou o sossego alheios:

I – com gritaria ou algazarra;

II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescri-


ções legais;

III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;

IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de


que tem a guarda.

20
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.

Jogo de Azar
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao
público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele.

Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze con-
tos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e ob-
jetos de decoração do local.

§ 1º A pena é aumentada de um terço, se existe entre os empregados ou parti-


cipa do jogo pessoa menor de dezoito anos.

§ 2º Incorre na pena de multa, de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 200.000,00


(duzentos mil reais), quem é encontrado a participar do jogo, ainda que pela in-
ternet ou por qualquer outro meio de comunicação, como ponteiro ou aposta-
dor (Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015).

§ 3º Consideram-se, jogos de azar:

a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da


sorte;

b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde se-


jam autorizadas;

c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.

§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessível ao público:

a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitual-


mente participam pessoas que não sejam da família de quem a ocupa;

b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se pro-


porciona jogo de azar;

c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo


de azar;

d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se dis-


simule esse destino.

Algumas observações sobre as contravenções penais

•• Todas as contravenções penais previstas no Decreto-Lei n. 3688/41 são de


menor potencial ofensivo e competem aos Juizados Especiais Criminais Es-
taduais.

•• Os Juizados Especiais Criminais Federais não julgam contravenção, apenas


crimes. Assim, uma conduta contravencional praticada contra União deverá
ser encerrada no JECRIM Estadual.

•• O art. 25, da Lei de Contravenções Penais, não foi recepcionado pela CF/88
por violar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da

21
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

isonomia. (STF. Plenário. RE 583523/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


3/10/2013; RE 755565/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/10/2013).

•• Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de fur-
to ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido
como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumen-
tos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não
prove destinação legítima. Pena – prisão simples, de dois meses a um ano,
e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis.

•• As contravenções alusivas a trânsito, arma de fogo e meio ambiente passa-


ram a ser disciplinadas como crime, respectivamente, pela Lei n. 9.503/97
(Código de Trânsito Brasileiro), pela Lei n. 10.826/03 (Estatuto do Desarma-
mento) e pela Lei n. 9.605/98 (Crimes Ambientais).

AÇÃO P
22
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

UNIDADE

4
U N I DA D E 4

Da Ação Penal
Glossário
O conceito de ação penal coube à doutrina, já que o Código de Processo Penal
persecutio criminis
e o Código Penal não o estabeleceram, segundo Borges da Rosa. Para alguns
(Lê-se: persecúcio
autores, “ação penal é o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar críminis.) Lireralmente:
em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das perseguição do
normas de direito penal ao caso concreto”, para outros, é um “direito conexo crime. Comentário: A
expressão, no âmbito
[formalmente] a uma pretensão, sendo necessária a existência de um litígio”, jurídico, significa:
que se constitui na fase da persecutio criminis. perseguição judiciária
ao crime; delito à
Edilson Mougenot Bonfim, concordando, sem, contudo, adotar posição defi- infração penal.
nitiva sobre o tema, transcreve a lição de Frederico Marques, que a conceitua Fonte: http://www.
como direito de “agir exercido perante os juízes e tribunais da justiça criminal”. enciclopedia-juridica.
biz14.com/pt/d/
Enquanto isso, o Professor Rogério Lauria Tucci aduz que a ação penal é a persecutio-criminis/
“atuação correspondente ao exercício de um direito abstrato (em linha de prin- persecutio-criminis.
cípio, até porque, com ela, se concretiza), autônomo, público, genérico e subjeti- htm

vo, qual seja, o direito à jurisdição”.

Há quem diga que a ação penal nada mais é do que o direito de pedido de pro-
vimento jurisdicional quando violada efetiva ou aparentemente a norma penal,
momento em que nasce a pretensão punitiva do Estado (nessa ocasião, o direi-
to de punir sai do plano abstrato e se apresenta no concreto).

Ação Penal Pública x Ação Penal Privada


Conforme foi abordado anteriormente, o meio processual para que alguém seja
punido por um ilícito criminal é a ação penal, que pode ser de iniciativa pública
ou privada.

Incondicionada
Pública Representação

Condicionada

PENAL
Requisição
Ação Penal
Exclusivamente

Privada Personalíssima

Subsidiária

Da ação penal
Fonte: Adaptado de http://estudesdireito.blogspot.com.br/2015/04/acao-penal-privada-ii-especies-
-de-acao.html

23
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Em alguns casos, a lei prevê que a própria pessoa atingida por um ilícito penal (de-
nominado ofendido) promova as medidas processuais para a punição do autor do
crime. A depender do caso, a lei também pode autorizar essas medidas à família
ou aos sucessores do ofendido. Nesses casos, a ação penal é de iniciativa privada,
ou seja, o próprio ofendido ou seus sucessores devem contratar advogado, para
que ele ajuíze o processo criminal contra o ofensor.

Como regra geral, no Direito brasileiro, a ação penal que cabe diante da prática de um ilícito penal
é de iniciativa pública, isto é, cabe ao Ministério Público propô-la, seja ou não provocado por
qualquer pessoa para esse fim. Basta que o Ministério Público tome conhecimento do crime ou
contravenção para que sejam adotadas as providências de apuração e, em seguida, promover a
ação penal, se couber.

Dica
Quando a lei não trata Para saber se um crime ou contravenção deve ser objeto de ação pública, basta
da legitimidade para consultar a lei que os defina. Às vezes a lei diz isso expressamente. Por exem-
promover a ação
penal, entende-se plo, a Lei de Licitações e Contratos Administrativos – Lei n. 8.666, de 21 de
que a ação penal é junho de 1993 – prevê de forma explícita a competência do Ministério Público
pública, ou seja, cabe para as ações penais nos crimes que ela define. Seu artigo 100 estabelece que
ao Ministério Público.
Isso decorre da regra os crimes definidos na citada lei são de ação penal pública incondicionada, ca-
geral contida no bendo ao Ministério Público promovê-la.
artigo 100 do Código
Penal, que dispõe Também em virtude da regra do art. 100, para que a ação penal seja de ini-
que a ação penal é ciativa privada, é necessário que a lei expressamente determine dessa forma.
pública, salvo quando
a lei expressamente a Exemplos: maioria dos crimes contra a honra, conforme prevê o artigo 145, do
declara como sendo CP: “Art. 145. Nos crimes previstos neste capítulo somente se procede median-
privativa do ofendido. te queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2.º, da violência resulta lesão
corporal.”

A referência do artigo ao termo “queixa” indica que se trata de ação penal priva-
da, pois “queixa” é o nome da petição inicial dessa espécie de ação.

24

CRIM
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

UNIDADE

5
U N I DA D E 5

Do Juizado Especial
Criminal
Esta unidade tem como foco contextualizar o tema, por meio de uma breve ex-
plicação sobre a sistemática de funcionamento do Juizado Especial Criminal
e o procedimento de lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)
pelo Policial Militar, levando-se em conta os princípios da Administração Públi-
ca, principalmente o princípio da eficiência, e os princípios trazidos pela Lei n.
9.099/95 para nortear o processo nesse Juizado.

A Sistemática no Juizado Especial


Criminal
Após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(CRFB/88), adveio uma nova ordem jurídica, com o objetivo de superar a tradi-
cional jurisdição de conflito, a qual pode ser caracterizada pelo processo con-
tencioso entre acusação e defesa.

A partir do Estado Democrático de Direito definido pela CRFB/88, foi estabele-


cido espaço para a solução rápida da lide penal. Ela poderia ser resolvida pelo
consenso das partes, pela transação ou por um procedimento célere para a
apuração da responsabilidade penal dos autores de infrações penais de menor
gravidade. Isto, na maioria das vezes, evita a instauração do inquérito policial.

Diante disso, surgiu a Lei n. 9.099/95, que cuidou, em sua parte criminal, dos
crimes de menor potencial ofensivo, da transação penal, da suspensão con-
dicional do processo e dos institutos de conciliação, também denominados
como Juizados Especiais Criminais.

Nesse sentido, muito importante se faz a abordagem de Mirabete (1998) sobre


a temática da necessidade que se fez a criação dos Juizados Especiais no ce-
nário processual penal atual no Brasil.

MINAL
Deu-se resposta à imperiosa necessidade de o sistema processual penal brasileiro, abriu-se
às posições e tendências contemporâneas, possibilitando-se uma solução rápida para a lide
penal, quer pelo consenso das partes, com a pronta reparação dos danos sofridos pela vítima
na composição, quer pela transação, com a aplicação de penas não privativas de liberdade, quer
por um procedimento célere para a apuração da responsabilidade penal dos autores de infrações
penais de menor gravidade na hipótese de não se lograr ou não ser possível aplicar uma ou outra
daquelas medidas inovadoras (MIRABETE, 1998, p. 16).

25
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

O Juizado Especial Criminal é um órgão do Poder Judiciário destinado a julgar


as infrações de menor potencial ofensivo. Além disso, esse órgão público foi
criado devido ao crescente número de infrações dessa natureza, o que dificulta-
va o trâmite do processo na Justiça Comum. A criação dos Juizados Especiais
foi prevista, inicialmente, no art. 98, inciso I, da Constituição Federal de 1988:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I- juizados especiais,
providos por juízes togados, ou togados leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau [...] (BRASIL, 1988).

Destarte, em acordo com o previsto no art. 98, da Constituição Federal de 1988,


a Lei n. 9.099/95 veio regulamentar o funcionamento dos Juizados Cíveis e Cri-
minais. Torna-se importante salientar, também, que a Lei n. 9.099/95 foi criada
com o objetivo precípuo de desafogar o sistema carcerário e judiciário sobre-
carregados com uma demanda muito superior a sua possibilidade de atendi-
mento, privilegiando a utilização de um procedimento simples e célere e a apli-
cação de penas com caráter mais social e menos punitivo.

Essa lei vem, em seu art. 60, tratar especificamente da competência do Juizado
Especial Criminal, tendo a seguinte redação:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência (BRASIL, 1995).

Vê-se então que os Juizados Especiais Criminais vieram para aperfeiçoar o jul-
gamento das infrações penais de menor potencial ofensivo com adequações
aos anseios da sociedade, assumindo efetivamente o seu papel, reavaliando os
seus procedimentos e acompanhando as posições e tendências para êxito na
melhoria ao atendimento à sociedade.

Crimes de Menor Potencial Ofensivo


O art. 61 da Lei n. 9.099/95, alterado pela Lei n. 11.313/06, conceitua infrações penais
de menor potencial ofensivo como sendo as contravenções penais e os crimes a que a
Atenção lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa.
É importante saber o
conceito de infrações O texto inicial da Lei n. 9.099/95, que trata dos Juizados Especiais, em seu art. 61,
de menor potencial conceituava que as infrações de menor potencial ofensivo seriam as contravenções
ofensivo para se ter em penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetua-
vista as ocorrências
em que haverá a do os casos em que a lei previa procedimento especial. Entretanto, posteriormente,
lavratura do termo com a publicação da Lei n. 10.259, de 12 de julho de 2001 (que dispõe sobre a ins-
circunstanciado de tituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal) o
ocorrência (TCO),
conforme previsto na legislador inovou ao definir que as infrações penais de menor potencial ofensivo in-
Lei 9.099/95. cluíam os crimes cuja pena máxima não ultrapassasse dois anos. A Lei n. 11.313, de

26
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

28 de junho de 2006, por sua vez, alterou o art. 61 da Lei n. 9.099/95 alinhando esta
norma com o previsto na Lei n. 10.259/01, ou seja, definindo infrações penais de me-
nor potencial ofensivo como as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Princípios Norteadores dos Juizados


Especiais Criminais
Para a compreensão do procedimento operacional nos Juizados Especiais Cri- Destaca-se que todos
minais torna-se de fundamental importância, inicialmente, o estudo dos princí- os princípios tratados
do art. 2° da Lei
pios norteadores previstos em lei para esses juizados. 9.099/95 são tratados
também no art. 62,
São princípios norteadores da Lei n. 9.099/95: simplicidade, informalidade, ora- exceto o princípio da
lidade, economia processual e celeridade. Estes princípios estão previstos no simplicidade, o qual
art. 2° e 62°, da norma. trabalha em conjunto
com o princípio da
Aprenderemos a seguir mais sobre os princípios citados. Eles são essenciais para informalidade para a
instrumentalidade do
o estudo do procedimento operacional ocorrido nos Juizados Especiais Criminais. processo.

Simplicidade e Informalidade
Os princípios da simplicidade e da informalidade caminham para objetivos co-
muns, por isso, muitos autores os tratam como o mesmo princípio. Individua-
lizando os princípios, pode-se tratar o da simplicidade, segundo Jesus (1996),
como aquele que busca a finalidade do ato processual pela forma mais sim-
ples possível.

Conforme Jesus (1996), o princípio da informalidade tem como finalidade pre-


cípua imprimir ao processo um ritmo sem formalidades inúteis. Nesse mesmo
entendimento, Rosa (2007) aduz que o princípio da informalidade, também cha-
mado de princípio da simplicidade, diz respeito ao desapego a formas preesta-
belecidas, valendo-se do disposto no artigo 65 da Lei n. 9.099/95, que afirma
que os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades
para as quais foram realizados, atendidos os critérios que norteiam o processo
no Juizado Especial Criminal.

Oralidade
O princípio da oralidade, segundo Jesus (1996), tem sua aplicação, na Lei n.
9.099/95, limitada a documentação do mínimo possível. Além disso, ainda
conforme esse autor, as partes devem debater e dialogar, procurando encon-
trar uma resposta penal que seja justa para o autor do fato e satisfaça, para o
Estado, os fins de prevenção geral e especial. É importante que o princípio da
oralidade tenha a prevalência da fala sobre a escrita como meio de comunica-
ção dos envolvidos no processo, tendo em vista a simplificação e a celeridade
dos trâmites processuais. Nesse entendimento, Mirabete (1998) discorre que o
princípio da oralidade:

27
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

[...] proporciona a imediação, possibilitando o contato direto


do juiz com as provas e a irrecorribilidade das decisões in-
terlocutórias, representando a vedação ao recurso em face
de decisões que não tenham por consequência a extinção do
processo (MIRABETE, 1998, p. 87).

Economia Processual
O princípio da economia processual tem como finalidade principal maximizar
os resultados com o mínimo de esforço. Jesus (1996, p. 45) deixa claro que
esse princípio “visa à realização do maior número de atos processuais na mes-
ma audiência”. Nesse sentido, discorre, também, sobre o assunto Batista e Fux
(1998):

[...] impõe ao julgador que dirija o processo, conferindo às


partes um máximo de resultado em confronto com um míni-
mo de esforço processual. O dispêndio de energia não deve
guardar proporção com os benefícios oriundos do processo
(BATISTA; FUX, 1998, p. 93).

Verifica-se ainda que, com a economia processual, objetiva-se o menor dispên-


dio da atividade jurisdicional, excluindo do processo os procedimentos que o
tornem mais demorados e dispendiosos. Por fim, observa-se que Mirabete
(1996) defende que o princípio se manifesta na possibilidade de acumulação
de pedidos em somente um processo, no julgamento antecipado do mérito,
quando não houver necessidade de provas orais em audiência, nos embargos
declaratórios e na correção de ofício de erros materiais.

Celeridade
O princípio da celeridade advém com o cumprimento dos demais princípios,
pois se sabe que, quando se tem a observância da oralidade, da simplicidade,
da informalidade e da economia processual, o procedimento terá maior celeri-
dade. Assim, todos os outros princípios informativos do Juizado Especial guar-
dam estreita relação com a celeridade processual, porque a essência do pro-
cesso reside na dinamização da prestação jurisdicional. Conforme Rosa (2007,
p. 20) o princípio da celeridade opera conjuntamente com a economia proces-
sual, objetivando a resolução do processo no menor de tempo.

28
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

O Rito Processual no Juizado Especial


Criminal
Os atos processuais, no âmbito da Lei n. 9.099/95, buscam dar uma ordem prá-
tica ao desenvolver a persecução criminal, tendo em vista a necessidade de ce-
leridade ao feito.

O rito processual nos Juizados Especiais inicia-se com a fase preliminar, que
engloba o conhecimento pela autoridade judiciária da infração de menor poten-
cial ofensivo, o que se dá, em regra, pelo termo circunstanciado de ocorrência.

Posteriormente, será realizada a audiência preliminar que será conduzida pelo


conciliador acompanhado pelo juiz, representante do Ministério Público, o au-
tor do fato e a vítima, se possível acompanhados por seus advogados ou por
Defensor Público. Essa fase, considerada Audiência Preliminar ou Audiência de
Conciliação, é prevista no art. 72 da Lei n. 9.099/95 devendo o Juiz verificar a
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplica-
ção imediata de pena não privativa de liberdade (BRASIL, 1995).

Nesse momento, poderá haver acordo sobre a reparação dos danos civis sofri-
dos pela vítima. Pode-se considerar que o procedimento da audiência prelimi-
nar será realizado da seguinte forma:

[...] Tratando-se de crime de ação penal pública condicionada à representação (como ameaça e
lesão corporal leve, entre outros) ou de crime de ação penal privada [...], faculta-se às partes a
possibilidade de realizarem a composição cível, isto é, um acordo negociado, que pode inclusive
resultar em uma indenização pecuniária à vítima pelo autor do fato, configurando assim uma
notável “civilização” do processo penal. Na hipótese de haver composição cível, o conciliador
faz as partes assinarem um acordo e o juiz declarará extinta a punibilidade, terminando o feito.
Caso a composição não seja possível – ou quando se tratar de crimes de ação penal pública
incondicionada – o feito passará à segunda fase, da transação penal [...] (AMORIM, 2003, p.34).

Ao resultar a conciliação, nos casos de ação penal privada ou condicionada à


Atenção
representação do ofendido, a punibilidade do fato será extinta, decorrente da
É essencial destacar
renúncia do direito de queixa ou representação, conforme prevê o art. 74, Pará- que o disposto
grafo Único, da Lei 9.099/95. no art. 74 da Lei
9.099/95 não revoga
Cumpre destacar, ainda, que, não havendo a composição civil dos danos, pas- o disposto no art.
sa-se à fase de conciliação penal propriamente dita. Segundo Rosa (2007), 104, parágrafo único,
do Código Penal, no
caso o conflito não seja resolvido na fase preliminar do processo, este seguirá qual se prevê que a
seus trâmites, valendo-se de um rito sumaríssimo, que visa ao atendimento aos composição civil dos
princípios norteadores do processo. Ainda, segundo esse autor, nesse caso, danos não implica a
renúncia ao direito de
desde que não seja motivo de arquivamento do processo, nos crimes de ação queixa.
pública incondicionada, ou mesmo naqueles em que necessite de representa-
ção por parte do ofendido, o Ministério Público terá a faculdade de sugerir a
aplicação imediata de uma pena restritiva de direitos ou de multas. Esta pena
será especificada na proposta feita pelo Promotor de Justiça, o que se denomi-
na como transação penal. Por fim, Rosa (2007) defende que caso a transação
penal seja aceita pelo acusado, esta passará então pelo crivo do juiz, podendo
ser acolhida ou não.

29
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

A fin a l ida de precí pua da tr a ns ação


pen a l seri a e vita r qu e o pro ces so
tenh a a nda m en to.

A Lei n. 9.099/95, em seu art. 76, prevê a transação penal para as ações pe-
nais públicas, condicionadas e incondicionadas, excluindo os crimes de ação
privada. Pode-se observar que a finalidade precípua da transação penal seria
evitar que o processo tenha andamento, poupando o réu e o Estado de todas
as cargas consequentes do processo. Nesse sentido, Jesus (2010, p. 72), de-
limitando o instituto, discorre que ele “não se trata de um negócio entre o MP
e a defesa: cuida-se de um instituto que permite ao juiz, de imediato, aplicar
uma pena alternativa ao autuado, justa para acusação e defesa, encerrando o
procedimento”.

A intenção da transação penal é a de trazer a despenalização. Além disso, com


essa mesma intenção, veio o art. 89, da Lei 9.099/95, prevendo o instituto da
suspensão condicional do processo:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou
não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal) (BRASIL, 1995).

Conforme defende Amorim (2003), na fase de transação penal, cabe ao Promo-


tor de Justiça propor ao autor do fato a aplicação de pena mais leve, alterna-
tiva, restritiva de direitos ou pecuniária, porém, se o autor aceitar, o juiz pode
homologar o acordo, fixando a pena alternativa que, em geral, consiste na pres-
tação de serviços à comunidade ou na doação de mercadorias de utilidade
para instituições filantrópicas.

Ainda segundo esse autor, caso o juiz não aceite a transação, ou o promotor
não a considere cabível para o caso em questão, ou ainda se o autor do fato
não concordar, passa-se à audiência de instrução e julgamento, cujo desfecho é
a sentença proferida na ação penal propriamente dita. Assim, recusada a tran-
sação ou, por qualquer outro motivo, não sendo aplicada a pena alternativa, os
autos irão ao Ministério Público para o imediato oferecimento da denúncia (art.
77, Lei n. 9.099/95), ou para o ofendido, se privada a ação penal (art.77, § 3°, da
Lei n. 9.099/95).

É possível perceber que toda sistemática de funcionamento processual do Jui-


zado Especial Criminal tem como objetivo principal dinamizar o processo de
persecução criminal de forma que os princípios da oralidade, da informalidade,
da simplicidade, da economia processual e da celeridade estejam em sintonia
com a agilidade procedimental desse processo.

30
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

A Lei Federal n. 9.099/95 e o Termo


Circunstanciado de Ocorrência A lavratura do TCO
pelo Policial Militar
Com a edição da Lei Federal n. 9.099/95, o legislador brasileiro, na tentativa de inclui-se nessa
incrementar o direito penal mínimo, utilizando institutos modernos, buscou al- dinâmica, tendo
em vista que esse
ternativas para melhorar o antigo e ultrapassado sistema processual brasileiro procedimento está de
vigente até então. acordo não só com os
princípios norteadores
A lei buscou criar condições que possibilitassem uma Justiça mais célere e efi- da Lei n. 9.099/95,
ciente, pelo menos no que tange ao tratamento dispensado às infrações penais mas também com
os princípios da
de menor potencial ofensivo. Administração
Pública,
Assim foi criada a figura do termo circunstanciado de ocorrências, em substi- principalmente o
tuição ao conhecido inquérito policial, que é lavrado quando a autoridade poli- princípio da eficiência.
cial se deparar com infrações penais de menor potencial ofensivo.

O termo circunstanciado é uma espécie de boletim de ocorrência policial mais detalhado, porém
sem as formalidades exigidas no inquérito policial, contendo a notícia de uma infração penal
de menor potencial ofensivo (notitia criminis). Em resumo, o TCO trata-se da narração sucinta
do fato delituoso, com local e hora definidos, acrescida de breves relatos de autor, vítima e
testemunha(s), bem como, citando-se objeto(s) apreendido(s), relacionado(s) à infração, se
houver, podendo conter, ainda, dependendo do delito, a indicação das perícias requeridas pela
autoridade policial que o lavrou.

No ensinamento de Tourinho Filho, o termo circunstanciado deve conter a qua-


lificação dos envolvidos e de eventuais testemunhas, se possível com a indica-
ção dos números de seus telefones, uma súmula de suas versões e o compro-
misso que as partes assumiram de comparecer perante o Juizado.

Nas palavras de Gonçalves “a finalidade do termo circunstanciado é a mesma


do inquérito policial, mas aquele é realizado de maneira menos formal e sem a
necessidade de colheita minuciosa de provas”.

Este “boletim de ocorrência” lavrado pela autoridade policial, seja civil ou mili-
tar, despido de inúmeras formalidades que o Inquérito Policial exige, é encami-
nhado ao Juizado Especial Criminal competente.

O termo circunstanciado é, pois, não só um expediente que substitui o arcaico


inquérito policial, mas também um mecanismo pré-processual que visa atender
todos os princípios norteadores da Lei n. 9.099/95, expressos no seu art. 2º.

Poder-se-ia dizer ainda que o termo é um instrumento de cidadania, que busca


diminuir o sofrimento da vítima de um determinado ilícito penal, mediante uma
rápida resposta estatal, que se inicia com o conhecimento do fato pela autori-
dade policial e se desdobra em algumas providências simples, céleres, e com
poucas formalidades, para, então, terminar diante do Estado-juiz, o qual propi-
ciará a solução do caso penal, seja com a conciliação, transação penal, ou, res-
tando esta sem êxito, com o oferecimento da denúncia ou queixa-crime. Este é
o espírito da lei.

31
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

O Termo Circunstanciado de Ocorrência


no Juizado Especial Criminal

O TCO é definido como a formalização da ocorrência policial, referente à prá-


tica de uma infração de menor potencial ofensivo, em uma peça escrita, con-
tendo dados detalhados da data e hora do fato e sua comunicação, local e
natureza da ocorrência, nome e qualificação dos envolvidos e resumo de suas
declarações, nome e qualificações de testemunhas e resumo de suas declara-
ções, se elas quiserem prestá-las, indicação dos eventuais exames periciais re-
quisitados, bem como de juntada de informes sobre a vida pregressa do autor
(Nucci, 2007). Esse é o entendimento predominante da doutrina nacional.

Infrações de Menor Potencial Ofensivo de


Competência do Juizado Especial Federal

O Juizado Especial Criminal é órgão da Justiça que existe no âmbito da União,


do Distrito Federal e dos Estados, instituído pela Lei n. 10259/01. Tem compe-
tência para processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal rela-
Dica
tivos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de cone-
Os feitos da Justiça
Federal, conforme xão e continência.
destacou a norma
legal, dizem respeito Importante sempre observar as hipóteses do art. 109 da Constituição Federal
ao rol de competência de 1988, principalmente, o seu inciso IV, o qual preconiza que será de com-
estabelecido no art. petência da Justiça Federal as infrações penais praticadas em detrimento de
109 da Constituição
Federal. bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou em-
presas públicas, excluídas as contravenções penais e ressalvada a competên-
cia da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.

É essencial que, na atividade operacional da PMMG, o policial identifique os fei-


tos de competência da Justiça Federal, pois nesses casos o policial militar não
lavrará o termo circunstanciado de ocorrência.

OCORR
32
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

UNIDADE

6
U N I DA D E 6

Da Legalidade da Lavratura
do Termo Circunstanciado de
Ocorrência pelo Policial Militar
Com o advento da Lei n. 9.099/95 iniciou ampla discussão se o Policial Militar
pode confeccionar o termo circunstanciado de ocorrência, pois isso poderia be-
neficiar a Segurança Pública em muitos aspectos, influenciando, consequente-
mente, a qualidade dos serviços prestados pelo Estado à sociedade.

A discussão quanto à competência da Polícia Militar para a realização do pro-


cedimento de lavratura do TCO está, principalmente, no conceito de autoridade
policial, previsto no art. 69 da Lei 9.099/95.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários (BRASIL, 1995).

Quando se trata do conceito de autoridade policial, é preponderante se registrar


as controvérsias. Segundo Jesus (1996), o tema tem controvérsias, pois há três
correntes distintas: primeiramente, existem doutrinadores que defendem que
qualquer agente policial da rua é autoridade policial; a segunda é mais restritiva
e aduz que a autoridade policial é somente o Delegado de Polícia e a última en-
tende que a expressão “autoridade policial” compreende todas as autoridades
reconhecidas por lei.

Qualquer agente
policial da rua é
autoridade policial

RÊNCIA
Autoridade
policial
Somente o Delegado Todas as autoridades
de Polícia é autoridade policiais reconhecidas
policial por lei

Correntes doutrinárias acerca do conceito de Autoridade policial


Fonte: Elaboração do quadro a partir de dados obtidos na monografia de Cantoni, 2013.

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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Sabe-se, desse modo, que o conceito de autoridade policial pode ser considerado
restritivo ou extensivo. Nesse sentido, o conceito restritivo tem por principal em-
basamento o texto constitucional, especificamente o § 4° do art. 144, combinado
com o art. 4° do Código de Processo Penal, conforme ensina Rosa (2007):

Muitos são os pontos que são questionados sobre o policial


militar como autoridade competente para a lavratura do TCO.
Um deles seria o de que a missão constitucional do policial
militar não prevê tal procedimento, isso devido ao argumento
de que a elaboração do termo circunstanciado faz parte da
investigação criminal e não da polícia ostensiva de preserva-
ção da ordem pública, portanto os militares estariam atuan-
do fora da competência que a Constituição lhes confere
(ROSA, 2007, p. 46).

O § 4° do art. 144 da CRFB/88 concretiza esse preceito impondo que “às polí-
cias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada
a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de in-
frações penais, exceto as militares” (BRASIL, 1988). Em combinação com esse
artigo, é importante trazer a redação do CPP, em seu artigo 4°, preceituando
que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território
de suas respectivas circunscrições e terá, por fim, a apuração das infrações pe-
nais e da sua autoria” (BRASIL, 1941).

Dessa forma, essa corrente doutrinária entende que o artigo 144 §4º da
CRFB/88, combinado com o art. 4° do CPP, estaria restringindo apenas aos De-
legados de Polícia o termo “autoridade policial”, por isso seria inconstitucional
a lavratura do TCO pelo Policial Militar.

Mirabete (1998), também, entende que as autoridades policiais são apenas as


que exercem a autoridade de polícia judiciária com o fim de apuração das infra-
ções penais e da sua autoria. Esse entendimento defende que a expressão “au-
toridade policial” presente no texto da Lei n° 9.099/95 é sinônima da expressão
“autoridade de polícia judiciária” previsto no Código de Processo Penal. Torna-
-se necessário salientar ainda que, nesse mesmo entendimento, Tourinho Filho
escreve que:

[...] Na hipótese em análise, a lei não as atribuiu à polícia mili-


tar; sendo assim, parece-nos que o Termo Circunstanciado a
que se refere o art.69 da lei em estudo é da exclusiva alçada
da polícia civil. [...] Se pudesse ser, também, função integran-
te da Polícia Militar, surgiriam dois inconvenientes: no caso de
o Promotor desejar maiores esclarecimentos, obviamente se-
riam estes requisitados daquele que tomou conhecimento da
ocorrência, ou seja, o Policial Militar, o que não parece lógico.
Ademais, ainda que fosse, poderia o Ministério Público exercer
o controle externo da atividade policial militar, indo ao quartel
saber, por exemplo, se as ocorrências atendidas foram ou não
objetos de Termo Circunstanciado, tal como permitido pelo
art. 129, VII, da Carta Política. Os Juízes, também, passariam
a exercer as funções de corregedores da Polícia Militar, o que
seria um disparate (TOURINHO FILHO, 2008, p. 76).

34
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

Destaca-se que o argumento dessa corrente leva em conta que o termo cir-
cunstanciado de ocorrência teria finalidade de apurar a autoria e materialidade,
porém o TCO é meramente informativo, tendo por finalidade precípua, apenas,
levar ao conhecimento da autoridade judiciária o cometimento de uma infração
penal de menor potencial ofensivo.

A corrente majoritária entende como predominante o conceito extensivo da ex-


pressão “autoridade policial”, podendo ser sintetizado com o entendimento de
que essa expressão inclui todos os órgãos encarregados constitucionalmente
da Segurança Pública.

Nesse sentido, é predominante o seguinte posicionamento:

Considerando que a autoridade é qualquer agente público com poder legal para influir na vida
de outrem, o qualificativo policial‟ serve para designar os agentes públicos encarregados do
policiamento, seja preventivo, seja repressivo. Assim, podemos, lato sensu, conceituar autoridade
policial como todo servidor público dotado do poder legal de submeter pessoas ao exercício da
atividade de policiamento (JESUS, 2010, p. 50-51).

Ainda de acordo esse entendimento, é necessário ressaltar, também, que a au-


toridade policial pode ser considerada apenas uma ramificação da autoridade
administrativa, que exerce suas atividades com fundamento no poder de polícia
delegado aos órgãos administrativos.

O con cei to d e au torida de fi ca


atrel a d o às compe tên ci as
d el ega das ao agen te

Ainda, a polícia administrativa é de responsabilidade da Polícia Militar e tem ca-


ráter preventivo, destinando-se a garantir a Ordem Pública e a impedir a prática
de delitos. Diante disso, o entendimento predominante é de que o conceito de
autoridade fica atrelado às competências delegadas ao agente e nesse enten-
dimento Jesus (1996) discorre que:

[...] No caso específico dos agentes públicos policiais, que


são servidores públicos, conforme já visto, todos são consi-
derados autoridades, de maior ou menor poder, uma vez que
este é pressuposto necessário para o desempenho da fun-
ção de policiamento. Não importa se o policiamento é pre-
ventivo ou repressivo. A finalidade da atividade policial não
desnatura a condição de quem a exerce. A autoridade decor-
re do fato de o agente ser policial, civil ou militar. Será auto-
ridade tanto o policial militar que procede a uma revista pes-
soal contra a vontade do suspeito, na hipótese do art. 244 do
CPP, quanto o Delegado de Polícia [...] (JESUS, 1996, p. 55).

35
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Nessa mesma corrente, aduz Lazzarini (1999) que:

[...] sem nenhuma dúvida podemos afirmar que, o policial militar é autoridade policial, porque,
variando a sua posição conforme o grau hierárquico que ocupe e as funções que a ele sejam
cometidas em razão de suas atribuições constitucionais [...] é o titular e portador dos direitos e
deveres do Estado, não tendo personalidade, mas fazendo parte da pessoa jurídica do Estado
(LAZZARINI, 1999, p. 12-13).

Para reforçar, é importante destacar, ainda, o seguinte entendimento prevale-


cente no cenário jurídico:

[...] qualquer autoridade policial poderá ter conhecimento do


fato que poderia configurar, em tese, infração penal. Não so-
mente as polícias federal e civil, que têm a função institucio-
nal de polícia judiciária da União e dos Estados, mas também
a polícia militar (GRINOVER et al, 2005, p. 55).

Pode-se citar, ainda, o entendimento do Juiz da Justiça Militar do Estado de Mi-


nas Gerais, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa que afirma:

As atividades de segurança pública têm por objetivo assegu-


rar a integridade física e patrimonial dos administrados. Os
órgãos policiais são responsáveis pela manutenção ou pre-
servação da ordem pública, e os seus agentes encontram-se
investidos da função policial. No texto da Lei 9.099/95, a ex-
pressão autoridade policial não está restrita a determinada
força policial (ROSA, 2001, p. 1).

Além de doutrinadores de renome, em algumas conferências chegou-se à con-


clusão de que, para os fins de aplicação da Lei n. 9.099/95, o significado da
expressão “autoridade policial” alcança os responsáveis pelo policiamento
ostensivo, como, por exemplo a 9ª conclusão da Comissão Nacional de Inter-
pretação da Lei n. 9.099/95, realizada pela Escola Nacional da Magistratura –
disponível na Biblioteca Digital Jurídica do Superior Tribunal de Justiça, no link
http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/1281/Comiss%C3%A3o_Nacional_
Interpreta%C3%A7%C3%A3o.pdf.

O mil ita r esta dua l p od e , sem


nenh u m a il ega l ida de , l avr a r
o Term o Circu nsta n ci a d o de
O corrên ci a .

Por fim, embora haja entendimento diverso, o conceito majoritário e prevale-


cente no cenário processual penal é o de que a expressão “autoridade policial”
não abrange somente os Delegados de Polícia, mas também o Policial Militar.
Diante disso, para a continuidade do estudo, faz-se necessário que não se reste

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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

dúvida que o Policial Militar é abrangido pelo termo “autoridade policial”, previs-
to no art. 69 da Lei 9.099/95. Por isso, o militar estadual pode, sem nenhuma
ilegalidade, lavrar o Termo Circunstanciado de Ocorrência.

Situações em que não é Lavrado o TCO


Como visto, em caso de flagrante nas infrações de menor potencial ofensivo,
comprometendo-se o autor a comparecer em juízo, será lavrado o TCO, para
continuação das providências legais.

Ocorre que há fatos jurídicos penais que se enquadrariam no critério da pena


para fins de ser considerado de menor potencial ofensivo, contudo, não será
lavrado o TCO e sim condução do autor perante a autoridade competente para
autuação ou não. São elas:

•• Atos infracionais análogos às infrações penais de menor potencial ofensivo.


Na regra geral não há TCO para crianças e adolescentes autores/coautores/
etc, entretanto, pode ser acordado Termo assemelhado para as condutas de
menor potencial ofensivo praticadas por eles;

•• Infrações penais de menor potencial ofensivo de registro posterior, ou seja, sem


localização do autor do delito;

•• Infrações penais relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mu-


lher, a que alude o art. 41 da Lei 11.340/06;

•• Infrações penais eleitorais, salvo quando no local da infração não houver ór-
gãos da Polícia Federal;

•• Crimes militares;
•• Ocorrência de dois ou mais delitos em concurso material ou formal, os quais
a soma das respectivas penas máximas cominadas em abstrato ou a inci-
dência de causa de aumento de pena ultrapassem 2 (dois) anos.

•• Os crimes de competência da Justiça Federal, independente da pena máxima;


•• Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, conforme previsto
no art. 291, §2º, do Código de Trânsito Brasileiro.

37
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)

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39
Módulo 1

Legislação Aplicável à Fase


Policial Militar nos Processos
Criminais de Competência do
Juizado Especial Criminal

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