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REGISTRO DE TERMO
CIRCUNSTANCIADO DE
OCORRÊNCIAS (TCO)
PELA POLÍCIA MILITAR
DE MINAS GERAIS
Módulo 1
Legislação Aplicável à
Fase Policial Militar nos
Processos Criminais de
Competência do Juizado
Especial Criminal
Maj PM Douglas Antônio da Silva
Maj PM Leonardo dos Santos da Silva
Cap PM Henrique Oliveira Santos
1º Ten PM Christian Lucas Del Cantoni
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
CURRÍCULO DOS AUTORES
Douglas Antônio da Silva
Major da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Curso de Formação de Oficiais (2001). Bacharel em Direito (FUMEC–
2009). Especialista em Segurança Pública (Fundação João Pinheiro – 2014). Chefe da Adjuntoria de Operações da
Assessoria Estratégica de Emprego Operacional do Comando Geral da PMMG.
Sumário
UNIDADE 1
Do Crime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Conceito de Crime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Crime Consumado e Tentado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
UNIDADE 2
Do Concurso de Crimes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Concurso Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Concurso Formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Crime Continuado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
UNIDADE 3
Dos Crimes da Parte Especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Dos principais crimes de menor potencial ofensivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Das Principais Contravenções Penais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
UNIDADE 4
Da Ação Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Ação Penal Pública x Ação Penal Privada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
UNIDADE 5
Do Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
A Sistemática no Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Crimes de Menor Potencial Ofensivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Princípios Norteadores dos Juizados Especiais Criminais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
O Rito Processual no Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
A Lei Federal n. 9.099/95 e o Termo Circunstanciado de Ocorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
O Termo Circunstanciado de Ocorrência no Juizado Especial Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Infrações de Menor Potencial Ofensivo de Competência do Juizado Especial Federal . . . . . . . . . . . . 32
UNIDADE 6
Da Legalidade da Lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência pelo Policial
Militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Situações em que não é Lavrado o TCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
Apresentação
Caro(a) Policial,
Seja muito bem-vindo à disciplina legislação aplicável à fase policial militar nos
processos criminais de competência do Juizado Especial Criminal. Aqui você
irá conhecer com detalhes a legislação que trata do Termo Circunstanciado de
Ocorrência - TCO, especialmente direcionada a lavratura pelo policial militar,
dando base para que esse procedimento seja adotado na prática em todo o Es-
tado. Desejamos sucesso e ótimo aprendizado a todos.
Os autores.
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
INFR
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
UNIDADE
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U N I DA D E 1
Do Crime
Infração penal é gênero que comporta duas espécies: crimes (também chama-
dos delitos) e as contravenções penais. Os crimes estão previstos no Código
Penal e nas leis penais chamadas especiais ou extravagantes (Lei antidrogas,
Lei dos crimes ambientais, etc.), já as contravenções estão previstas somente
na Lei de Contravenções Penais – Decreto-Lei n. 3688/41.
Conceito de Crime
Em que pese o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal e a Lei de Con-
travenções Penais trazerem elementos que indicariam a incidência de um cri-
me, não há em nosso ordenamento jurídico-penal um conceito de crime escrito
na lei em razão da superação de tal proposta pela Lei 11.343/2006 e pela Lei
8069/90 . Em face dessa lacuna, a doutrina debate sobre o conceito jurídico de
crime, com três focos distintos, a saber:
1. Conceito Formal: crime é toda conduta humana que colide frontalmente contra a lei
editada pelo Estado;
2. Conceito Material: crime é a conduta humana que viola os bens jurídicos mais im-
AÇÃO
portantes no convívio em sociedade.
3. Conceito Analítico: crime é o fenômeno jurídico que se constitui de fato típico, anti-
jurídico e culpável.
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Mas o que quer dizer essa afirmação? Como interpretar essa conceituação de
crime consumado?
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
Crime Tentado
Inicialmente, para que se possa falar em tentativa, é preciso que a conduta seja
dolosa, isto é, que exista uma vontade livre e consciente de querer praticar de-
terminada infração penal, desde que:
b. O agente não consiga chegar à consumação do crime por circunstâncias alheias a
sua vontade.
Atenção:
Existe possibilidade de tentativa de contravenção penal? Não.
A Lei de Contravenções Penais dispõe no art. 4º que não é punida a tentativa de contravenção.
Se o fato não é consumado o agente não cometeu contravenção penal por ter ficado apenas na
tentativa.
Crimes Habituais
São delitos que, para se chegar à consumação, é preciso que o agente pratique,
de forma reiterada e habitual, a conduta descrita no tipo. Ou o agente comete
a série de condutas necessárias e consuma a infração penal, ou o fato por ele
levado a efeito é atípico.
Crimes Culposos
No crime culposo o agente não quis diretamente e nem assumiu o risco de pro-
duzir o resultado, ou seja, sua vontade não foi finalisticamente dirigida a causar
o resultado lesivo, mas sim que este ocorrera em virtude de sua inobservância
para com o seu dever de cuidado. Aqui, o agente não atua dirigindo sua vonta-
de a fim de praticar a infração penal, somente ocorrendo o resultado lesivo de-
vido ao fato de ter agido com negligência, imprudência ou imperícia.
Não se fala, portanto, em tentativa de crimes culposos, uma vez que, se não há
vontade dirigida à prática de uma infração penal, não existirá a necessária cir-
cunstância alheia, impeditiva da sua consumação.
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Crimes Preterdolosos
Há preterdolo quando o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado
agravador advém de culpa, ou seja, há o dolo na conduta e culpa no resultado,
há o dolo no antecedente e culpa no consequente. Os crimes culposos são de-
litos que, obrigatoriamente, para sua consumação, necessitam de um resultado
naturalístico. Se não houver esse resultado, não há que falar em crime culposo.
Crimes Unissubsistentes
Unissubsistente é o crime no qual a conduta do agente é exaurida num único
ato, não se podendo fracionar o iter criminis. A injúria verbal é um tipo de crime
Glossário
unissubsistente, visto que ou o agente profere as palavras ofensivas à honra
iter criminis
subjetiva da vítima e consuma a infração penal, ou cala-se, caso em que, como
(Lê-se: íter críminis.)
O caminho do crime, é cediço, não poderá ser punido.
delito. É o conjunto
dos atos preparatórios
e executórios de um
crime. Crimes Omissivos Próprios
Fonte: http://www. Nesta modalidade de infração penal, ou o agente não faz aquilo que a lei de-
enciclopedia-juridica. termina e assim consuma a infração; ou atua de acordo com o comando da
biz14.com/pt/d/iter-
criminis/iter-criminis. lei e não pratica qualquer fato típico. Exemplo: omissão de socorro, art. 135,
htm do Código Penal.
CONC
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
UNIDADE
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U N I DA D E 2
Do Concurso de Crimes
Conceitua-se concurso de crimes a ocorrência de dois ou mais crimes, por meio
de uma ou mais ação ou omissão. Difere-se do concurso de pessoas, em que há
pluralidade de agentes e unidade de crime. No concurso de crimes, a quantidade
de crimes é que está em questão e não a quantidade de pessoas. O agente, me-
diante uma ou mais ações ou omissões, pratica dois ou mais crimes.
Concurso Material
Esta primeira modalidade de concurso de crimes está prevista no art. 69 do Có-
digo Penal.
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
URSO
primeiro aquela.
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Exemplo: o agente comete uma calúnia (art. 138, do CP), a seguir, pratica lesão
corporal (art.129, caput do CP) contra a mesma vítima.
O agente pode praticar os crimes mediante omissão também como, por exem-
plo, no caso do “agente garantidor” (um salva-vidas, mediante duas “ações
omissivas”, deixa de salvar duas pessoas que se afogavam, vindo estas a mor-
rer). É a chamada omissão imprópria prevista no art. 13, § 2º do Código Penal
sob título: relevância da omissão.
Concurso Formal
No concurso formal, previsto no art. 70 do CP, o agente pratica, a partir de uma
ação única, mais de um delito, sendo a pena unificada em torno de um só re-
sultado. Em resumo, o agente pratica mais de um crime e recebe a punição por
apenas um só, ainda que com a pena aumentada de 1/6 até a metade.
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
Crime Continuado
Previsto no art. 71 do CP, tal instituto não é senão mais uma ficção jurídica, ou
Importante
seja, não passa de uma criação da lei, já que, em verdade, múltiplos são os deli-
Os critérios ou
tos e, se efetivamente existisse o crime único, a pena haveria que ser a mesma requisitos legais do
cominada para um só dos crimes concorrentes. crime continuado são:
que os crimes sejam
Tal como o concurso material, o crime continuado também enseja a prática de da mesma espécie;
mais de uma ação ou omissão por parte do agente e, consequentemente, mais que haja conexão
(semelhança) entre as
de um resultado. Até aqui, tudo igual. Mas os dois institutos se diferenciam condições de tempo,
pelo objetivo buscado pela lei. A diferença é que, no crime continuado, embora lugar e maneira de
haja mais de uma ação ou omissão e resultados diversos, por vontade da lei, execução.
todos os outros crimes, desde que atendidos alguns critérios legais, serão tidos
como continuação do primeiro.
Quanto aos critérios tempo, lugar e maneira de execução, a lei penal também
não foi precisa, devendo-se, portanto, recorrer às soluções dogmáticas (doutri-
nárias) e jurisprudenciais.
Como exemplo, pode ser citado o caso de um agente que durante uma mani-
festação comete o crime de dano em vários portões de residências particula-
res. Nesse caso, o crime em tela seria o previsto no art. 163, caput, o qual tem
pena de um a seis meses.
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
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CR
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
UNIDADE
3
U N I DA D E 3
RIMES
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima
do acidente;
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.
Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.
Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a
um conto de réis, se o fato não constitui crime.
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil
réis a dois contos de réis.
Jogo de Azar
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao
público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele.
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze con-
tos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e ob-
jetos de decoração do local.
•• O art. 25, da Lei de Contravenções Penais, não foi recepcionado pela CF/88
por violar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
•• Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de fur-
to ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido
como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumen-
tos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não
prove destinação legítima. Pena – prisão simples, de dois meses a um ano,
e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis.
AÇÃO P
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
UNIDADE
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Da Ação Penal
Glossário
O conceito de ação penal coube à doutrina, já que o Código de Processo Penal
persecutio criminis
e o Código Penal não o estabeleceram, segundo Borges da Rosa. Para alguns
(Lê-se: persecúcio
autores, “ação penal é o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar críminis.) Lireralmente:
em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das perseguição do
normas de direito penal ao caso concreto”, para outros, é um “direito conexo crime. Comentário: A
expressão, no âmbito
[formalmente] a uma pretensão, sendo necessária a existência de um litígio”, jurídico, significa:
que se constitui na fase da persecutio criminis. perseguição judiciária
ao crime; delito à
Edilson Mougenot Bonfim, concordando, sem, contudo, adotar posição defi- infração penal.
nitiva sobre o tema, transcreve a lição de Frederico Marques, que a conceitua Fonte: http://www.
como direito de “agir exercido perante os juízes e tribunais da justiça criminal”. enciclopedia-juridica.
biz14.com/pt/d/
Enquanto isso, o Professor Rogério Lauria Tucci aduz que a ação penal é a persecutio-criminis/
“atuação correspondente ao exercício de um direito abstrato (em linha de prin- persecutio-criminis.
cípio, até porque, com ela, se concretiza), autônomo, público, genérico e subjeti- htm
Há quem diga que a ação penal nada mais é do que o direito de pedido de pro-
vimento jurisdicional quando violada efetiva ou aparentemente a norma penal,
momento em que nasce a pretensão punitiva do Estado (nessa ocasião, o direi-
to de punir sai do plano abstrato e se apresenta no concreto).
Incondicionada
Pública Representação
Condicionada
PENAL
Requisição
Ação Penal
Exclusivamente
Privada Personalíssima
Subsidiária
Da ação penal
Fonte: Adaptado de http://estudesdireito.blogspot.com.br/2015/04/acao-penal-privada-ii-especies-
-de-acao.html
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Em alguns casos, a lei prevê que a própria pessoa atingida por um ilícito penal (de-
nominado ofendido) promova as medidas processuais para a punição do autor do
crime. A depender do caso, a lei também pode autorizar essas medidas à família
ou aos sucessores do ofendido. Nesses casos, a ação penal é de iniciativa privada,
ou seja, o próprio ofendido ou seus sucessores devem contratar advogado, para
que ele ajuíze o processo criminal contra o ofensor.
Como regra geral, no Direito brasileiro, a ação penal que cabe diante da prática de um ilícito penal
é de iniciativa pública, isto é, cabe ao Ministério Público propô-la, seja ou não provocado por
qualquer pessoa para esse fim. Basta que o Ministério Público tome conhecimento do crime ou
contravenção para que sejam adotadas as providências de apuração e, em seguida, promover a
ação penal, se couber.
Dica
Quando a lei não trata Para saber se um crime ou contravenção deve ser objeto de ação pública, basta
da legitimidade para consultar a lei que os defina. Às vezes a lei diz isso expressamente. Por exem-
promover a ação
penal, entende-se plo, a Lei de Licitações e Contratos Administrativos – Lei n. 8.666, de 21 de
que a ação penal é junho de 1993 – prevê de forma explícita a competência do Ministério Público
pública, ou seja, cabe para as ações penais nos crimes que ela define. Seu artigo 100 estabelece que
ao Ministério Público.
Isso decorre da regra os crimes definidos na citada lei são de ação penal pública incondicionada, ca-
geral contida no bendo ao Ministério Público promovê-la.
artigo 100 do Código
Penal, que dispõe Também em virtude da regra do art. 100, para que a ação penal seja de ini-
que a ação penal é ciativa privada, é necessário que a lei expressamente determine dessa forma.
pública, salvo quando
a lei expressamente a Exemplos: maioria dos crimes contra a honra, conforme prevê o artigo 145, do
declara como sendo CP: “Art. 145. Nos crimes previstos neste capítulo somente se procede median-
privativa do ofendido. te queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2.º, da violência resulta lesão
corporal.”
A referência do artigo ao termo “queixa” indica que se trata de ação penal priva-
da, pois “queixa” é o nome da petição inicial dessa espécie de ação.
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CRIM
Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
UNIDADE
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U N I DA D E 5
Do Juizado Especial
Criminal
Esta unidade tem como foco contextualizar o tema, por meio de uma breve ex-
plicação sobre a sistemática de funcionamento do Juizado Especial Criminal
e o procedimento de lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)
pelo Policial Militar, levando-se em conta os princípios da Administração Públi-
ca, principalmente o princípio da eficiência, e os princípios trazidos pela Lei n.
9.099/95 para nortear o processo nesse Juizado.
Diante disso, surgiu a Lei n. 9.099/95, que cuidou, em sua parte criminal, dos
crimes de menor potencial ofensivo, da transação penal, da suspensão con-
dicional do processo e dos institutos de conciliação, também denominados
como Juizados Especiais Criminais.
MINAL
Deu-se resposta à imperiosa necessidade de o sistema processual penal brasileiro, abriu-se
às posições e tendências contemporâneas, possibilitando-se uma solução rápida para a lide
penal, quer pelo consenso das partes, com a pronta reparação dos danos sofridos pela vítima
na composição, quer pela transação, com a aplicação de penas não privativas de liberdade, quer
por um procedimento célere para a apuração da responsabilidade penal dos autores de infrações
penais de menor gravidade na hipótese de não se lograr ou não ser possível aplicar uma ou outra
daquelas medidas inovadoras (MIRABETE, 1998, p. 16).
25
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I- juizados especiais,
providos por juízes togados, ou togados leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau [...] (BRASIL, 1988).
Essa lei vem, em seu art. 60, tratar especificamente da competência do Juizado
Especial Criminal, tendo a seguinte redação:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência (BRASIL, 1995).
Vê-se então que os Juizados Especiais Criminais vieram para aperfeiçoar o jul-
gamento das infrações penais de menor potencial ofensivo com adequações
aos anseios da sociedade, assumindo efetivamente o seu papel, reavaliando os
seus procedimentos e acompanhando as posições e tendências para êxito na
melhoria ao atendimento à sociedade.
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
28 de junho de 2006, por sua vez, alterou o art. 61 da Lei n. 9.099/95 alinhando esta
norma com o previsto na Lei n. 10.259/01, ou seja, definindo infrações penais de me-
nor potencial ofensivo como as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
Simplicidade e Informalidade
Os princípios da simplicidade e da informalidade caminham para objetivos co-
muns, por isso, muitos autores os tratam como o mesmo princípio. Individua-
lizando os princípios, pode-se tratar o da simplicidade, segundo Jesus (1996),
como aquele que busca a finalidade do ato processual pela forma mais sim-
ples possível.
Oralidade
O princípio da oralidade, segundo Jesus (1996), tem sua aplicação, na Lei n.
9.099/95, limitada a documentação do mínimo possível. Além disso, ainda
conforme esse autor, as partes devem debater e dialogar, procurando encon-
trar uma resposta penal que seja justa para o autor do fato e satisfaça, para o
Estado, os fins de prevenção geral e especial. É importante que o princípio da
oralidade tenha a prevalência da fala sobre a escrita como meio de comunica-
ção dos envolvidos no processo, tendo em vista a simplificação e a celeridade
dos trâmites processuais. Nesse entendimento, Mirabete (1998) discorre que o
princípio da oralidade:
27
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Economia Processual
O princípio da economia processual tem como finalidade principal maximizar
os resultados com o mínimo de esforço. Jesus (1996, p. 45) deixa claro que
esse princípio “visa à realização do maior número de atos processuais na mes-
ma audiência”. Nesse sentido, discorre, também, sobre o assunto Batista e Fux
(1998):
Celeridade
O princípio da celeridade advém com o cumprimento dos demais princípios,
pois se sabe que, quando se tem a observância da oralidade, da simplicidade,
da informalidade e da economia processual, o procedimento terá maior celeri-
dade. Assim, todos os outros princípios informativos do Juizado Especial guar-
dam estreita relação com a celeridade processual, porque a essência do pro-
cesso reside na dinamização da prestação jurisdicional. Conforme Rosa (2007,
p. 20) o princípio da celeridade opera conjuntamente com a economia proces-
sual, objetivando a resolução do processo no menor de tempo.
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
O rito processual nos Juizados Especiais inicia-se com a fase preliminar, que
engloba o conhecimento pela autoridade judiciária da infração de menor poten-
cial ofensivo, o que se dá, em regra, pelo termo circunstanciado de ocorrência.
Nesse momento, poderá haver acordo sobre a reparação dos danos civis sofri-
dos pela vítima. Pode-se considerar que o procedimento da audiência prelimi-
nar será realizado da seguinte forma:
[...] Tratando-se de crime de ação penal pública condicionada à representação (como ameaça e
lesão corporal leve, entre outros) ou de crime de ação penal privada [...], faculta-se às partes a
possibilidade de realizarem a composição cível, isto é, um acordo negociado, que pode inclusive
resultar em uma indenização pecuniária à vítima pelo autor do fato, configurando assim uma
notável “civilização” do processo penal. Na hipótese de haver composição cível, o conciliador
faz as partes assinarem um acordo e o juiz declarará extinta a punibilidade, terminando o feito.
Caso a composição não seja possível – ou quando se tratar de crimes de ação penal pública
incondicionada – o feito passará à segunda fase, da transação penal [...] (AMORIM, 2003, p.34).
29
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
A Lei n. 9.099/95, em seu art. 76, prevê a transação penal para as ações pe-
nais públicas, condicionadas e incondicionadas, excluindo os crimes de ação
privada. Pode-se observar que a finalidade precípua da transação penal seria
evitar que o processo tenha andamento, poupando o réu e o Estado de todas
as cargas consequentes do processo. Nesse sentido, Jesus (2010, p. 72), de-
limitando o instituto, discorre que ele “não se trata de um negócio entre o MP
e a defesa: cuida-se de um instituto que permite ao juiz, de imediato, aplicar
uma pena alternativa ao autuado, justa para acusação e defesa, encerrando o
procedimento”.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou
não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal) (BRASIL, 1995).
Ainda segundo esse autor, caso o juiz não aceite a transação, ou o promotor
não a considere cabível para o caso em questão, ou ainda se o autor do fato
não concordar, passa-se à audiência de instrução e julgamento, cujo desfecho é
a sentença proferida na ação penal propriamente dita. Assim, recusada a tran-
sação ou, por qualquer outro motivo, não sendo aplicada a pena alternativa, os
autos irão ao Ministério Público para o imediato oferecimento da denúncia (art.
77, Lei n. 9.099/95), ou para o ofendido, se privada a ação penal (art.77, § 3°, da
Lei n. 9.099/95).
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
O termo circunstanciado é uma espécie de boletim de ocorrência policial mais detalhado, porém
sem as formalidades exigidas no inquérito policial, contendo a notícia de uma infração penal
de menor potencial ofensivo (notitia criminis). Em resumo, o TCO trata-se da narração sucinta
do fato delituoso, com local e hora definidos, acrescida de breves relatos de autor, vítima e
testemunha(s), bem como, citando-se objeto(s) apreendido(s), relacionado(s) à infração, se
houver, podendo conter, ainda, dependendo do delito, a indicação das perícias requeridas pela
autoridade policial que o lavrou.
Este “boletim de ocorrência” lavrado pela autoridade policial, seja civil ou mili-
tar, despido de inúmeras formalidades que o Inquérito Policial exige, é encami-
nhado ao Juizado Especial Criminal competente.
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
OCORR
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
UNIDADE
6
U N I DA D E 6
Da Legalidade da Lavratura
do Termo Circunstanciado de
Ocorrência pelo Policial Militar
Com o advento da Lei n. 9.099/95 iniciou ampla discussão se o Policial Militar
pode confeccionar o termo circunstanciado de ocorrência, pois isso poderia be-
neficiar a Segurança Pública em muitos aspectos, influenciando, consequente-
mente, a qualidade dos serviços prestados pelo Estado à sociedade.
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários (BRASIL, 1995).
Qualquer agente
policial da rua é
autoridade policial
RÊNCIA
Autoridade
policial
Somente o Delegado Todas as autoridades
de Polícia é autoridade policiais reconhecidas
policial por lei
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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
Sabe-se, desse modo, que o conceito de autoridade policial pode ser considerado
restritivo ou extensivo. Nesse sentido, o conceito restritivo tem por principal em-
basamento o texto constitucional, especificamente o § 4° do art. 144, combinado
com o art. 4° do Código de Processo Penal, conforme ensina Rosa (2007):
O § 4° do art. 144 da CRFB/88 concretiza esse preceito impondo que “às polí-
cias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada
a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de in-
frações penais, exceto as militares” (BRASIL, 1988). Em combinação com esse
artigo, é importante trazer a redação do CPP, em seu artigo 4°, preceituando
que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território
de suas respectivas circunscrições e terá, por fim, a apuração das infrações pe-
nais e da sua autoria” (BRASIL, 1941).
Dessa forma, essa corrente doutrinária entende que o artigo 144 §4º da
CRFB/88, combinado com o art. 4° do CPP, estaria restringindo apenas aos De-
legados de Polícia o termo “autoridade policial”, por isso seria inconstitucional
a lavratura do TCO pelo Policial Militar.
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
Destaca-se que o argumento dessa corrente leva em conta que o termo cir-
cunstanciado de ocorrência teria finalidade de apurar a autoria e materialidade,
porém o TCO é meramente informativo, tendo por finalidade precípua, apenas,
levar ao conhecimento da autoridade judiciária o cometimento de uma infração
penal de menor potencial ofensivo.
Considerando que a autoridade é qualquer agente público com poder legal para influir na vida
de outrem, o qualificativo policial‟ serve para designar os agentes públicos encarregados do
policiamento, seja preventivo, seja repressivo. Assim, podemos, lato sensu, conceituar autoridade
policial como todo servidor público dotado do poder legal de submeter pessoas ao exercício da
atividade de policiamento (JESUS, 2010, p. 50-51).
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[...] sem nenhuma dúvida podemos afirmar que, o policial militar é autoridade policial, porque,
variando a sua posição conforme o grau hierárquico que ocupe e as funções que a ele sejam
cometidas em razão de suas atribuições constitucionais [...] é o titular e portador dos direitos e
deveres do Estado, não tendo personalidade, mas fazendo parte da pessoa jurídica do Estado
(LAZZARINI, 1999, p. 12-13).
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Registro do Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO)
dúvida que o Policial Militar é abrangido pelo termo “autoridade policial”, previs-
to no art. 69 da Lei 9.099/95. Por isso, o militar estadual pode, sem nenhuma
ilegalidade, lavrar o Termo Circunstanciado de Ocorrência.
•• Infrações penais eleitorais, salvo quando no local da infração não houver ór-
gãos da Polícia Federal;
•• Crimes militares;
•• Ocorrência de dois ou mais delitos em concurso material ou formal, os quais
a soma das respectivas penas máximas cominadas em abstrato ou a inci-
dência de causa de aumento de pena ultrapassem 2 (dois) anos.
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Referências
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Paulo: Malheiros, 1995. 456 p.
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Módulo 1