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05 FORMAS DE JUSTIFICAR UMA


TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR
por Dr. RENATO RAMOS
ESSE EBOOK FOI DIVIDIDO EM
DUAS PARTES
PARTE 01: UMA ANÁLISE APROFUNDADA DAS CAUSAS DE
JUSTIFICAÇÃO DO ART. 34, DA LC 893/01, e outras questões
jurídicas
PARTE 02: MECANISMOS OBJETIVOS DE DEFESA que podem ser
utilizados pelos Policiais Militares, em uma análise disciplinar

+ 30.000
SEGUIDORES DR. RENATO RAMOS
o autor
Renato Ramos da Silva

CARREIRA MILITAR - Asp 2009


PMESP - 2006 / 2019 (Oficial PM)

FORMAÇÃO JURÍDICA
DIREITO - USP

ESPECIALIZAÇÃO
DEPARTAMENTO JURÍDICO - INSPER

QUASE UMA DÉCADA COMO


CHEFE SJD

"Espero que este ebook auxilie na preservação da sua brilhante carreira,


com admiração pela profissão policial-militar,
grande abraço: Renato Ramos da Silva."
PARTE 01: CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO -
CONCEITO

Em analogia ao Direito Penal, as causas de justificação


assemelham-se às excludentes de ilicitude, pois permitem que
um policial militar pratique um ato geralmente considerado
transgressão disciplinar sem ser punido por isso.

E as causas de justificação previstas no artigo 34, do RDPM, são


as seguintes:

I - motivo de força maior ou caso fortuíto, plenamente


comprovados;
II - benefício do serviço, da preservação da ordem pública ou do
interesse público;
III - legítima defesa própria ou de outrem;
IV - obediência a ordem superior, desde que a ordem recebida não
seja manifestamente ilegal;
V - uso de força para compelir o subordinado a cumprir
rigorosamente o seu dever, no caso de perigo, necessidade urgente,
calamidade pública ou manutenção da ordem e da disciplina.

Portanto, o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado de


São Paulo (RDPM), que é a Lei Complementar n° 893, de 9 de
março de 2001, em seu artigo 34, determina que NÃO HAVERÁ
APLICAÇÃO DE SANÇÃO DISCIPLINAR quando for reconhecida
qualquer uma das causas de justificação.
APROFUNDANDO O TEMA

O Direito Administrativo-Disciplinar possui grande proximidade


com o Direito Penal, pois ambos possuem o escopo de sancionar
uma conduta humana indesejável: neste contexto, a esfera penal
do Direito aplicará penas ao autor de crimes, enquanto que na
seara administrativa aplicam-se sanções ao administrado que
comete transgressões.

Assim, o direito de punir (jus puniendi) somente surgirá para a


administração, bem como ocorre no Direito Penal, com a
comprovação da existência de autoria e de materialidade de uma
conduta humana prevista como irregular na lei e reprovada pela
sociedade.

Desta forma, tendo em vista que o Direito Penal pátrio adotou a


Teoria Finalista da Ação, em sua modalidade tripartida, e, portanto,
somente admite uma condenação por um fato típico, antijurídico e
culpável, devemos concluir que um policial militar também
somente poderá ser sancionado administrativamente se o fato por
ele praticado na seara administrativa for previsto em lei (típico), em
que pese essa tipcidade possuir caráter significamente mais aberto
no direito administrativo, contrário ao ordenamento jurídico
(antijurídico) e reprovável (culpável).

Com base nessa breve contextutalização, resta cogente a


conclusão no sentido que o Regulamento Disciplinar da Polícia
Militar do Esado de São Paulo (RDPM), em seu artigo 34, traz um rol
exemplificativo (numerus apertus) e não taxativo (numerus clausus) de
situações que impedem a aplicação de uma sanção disciplinar.

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E esta constatação é bastante óbvia, visto que, no próprio Direito
Penal, várias outras situações também impedem o sancionamento
de uma pessoa: por exemplo, alguém que pratique pratica algum
ato em estado de sonambolismo, não pode ser responsabilzada,
pois não possuía consciência de suas ações (sua conduta será
desconsiderada pelo Direito Penal e, logicamente, também pelo
Direito Administrativo).

Repare, nessa esteira, que esta situação não está descrita no


RDPM como causa de justificação, mas, indubitavelmente, impede
o sacionamento administrativo, sobretudo porque não há grau de
reprovabilidade dessa conduta, e sem a reprovabilidade, ausente
um elemento fundalmental da subsunção do fato à norma, o
elemento subjetivo do tipo.

EXEMPLOS DE HIPÓTESES QUE IMPEDEM A SANÇÃO PENAL, E


QUE, EM TERMOS GERAIS, TAMÉM IMPEDEM UMA
TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR (MESMO NÃO ESTANDO NO ROL DO
ART. 34 DO RDPM)

excluem a conduta:

a. A coação física irresistível (VIS ABSOLUTA);


b. A inconsciêcnia
c. Atos reflexos

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excluem a antinomartividade

a. O Estado de Necessidade
b. O Estrito Cumprimento do Dever Legal
c. O Exercício Regular do Direito

excluem a culpabilidade:

a. IMPUTABILIDADE: uma pessoa inimputável (sem discernimento)


não pode ser sancionada em sede penal e, por consequência,
também administrativa. São casos de: (i) doença mental (que gera
inteira incapacidade de entendimento e autodeterminação), pode-
se pedir incidente de sanidade, para demonstrar tal fato; e a (ii)
embriaguez completa e acidental (que gera perda da consciência
por conta de um acidente), a embriaguez voluntáriaa gera
responsabilidade a que ingeriu a substância.

b. POTENCIAL CONHECIMENTO DA ILICITUDE: é a possibilidade


de se conhecer o caráter injusto do fato: para que se tenha
culpabilidade, o agente deve ter a consciência de estar fazendo
algo errado, ou, pelo menos, deve ter a possibilidade de ter
tal consciência. Se o agente não tinha consciência da ilicitude ou
não for possível tê-la, exclui-se a culpa.

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c. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA: neste caso, a pessoa
deixará de ser punida caso tenha praticado a conduta sob
COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL ou em OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA.

Portanto, sob a lógica do Direito Penal, se o fato é cometido sob


coação moral irresistível (sob uma ameaça de morte a um filho, por
exemplo) ou em estrita obediência hirárquica em ordem não
manifestamente ilegal de um superior hierárquico, só será
punível o autor da coação ou da ordem ilegal (haverá
verdadeira excludente de culpabilidade para o coagido).

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PARTE 02: DICAS PRÁTICAS PARA UMA BOA
DEFESA DO POLICIAL MILITAR

Agora que já vimos todo o conceito que envolve as causas de


justificação de uma transgressão disciplinar, causas previstas no
artigo 34, do RDPM, prosseguiremos, de maneira bastante
objetiva, no estudo de alguns pontos relevantes para
elaboração de uma uma defesa eficiente e eficaz.

Seguir uma estratégia adequada de Defesa pode afastar por


completo a possibilidade de punição administrativa do policial
militar, ou, ao menos, mitigar os efeitos dessas sanções.

Vamos lembrar rapidamente quais são as sanções atualmente


possíveis de serem aplicadas aos militares do Estado de São Paulo

Artigo 14 - As sanções disciplinares aplicáveis aos militares do


Estado, independentemente do posto, graduação ou função que
ocupem, são:
I - advertência;
II - repreensão;
III - permanência disciplinar;
IV - detenção;
V - reforma administrativa disciplinar;
VI - demissão;
VII - expulsão;
VIII - proibição do uso do uniforme.

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E são exatamente essas sanções que se visam afastar ou mitigar as
consequências de uma sanção disciplinar. Obviamente se em
decorrência de uma boa defesa, o policial miliar deixar de ser
demitido para responder uma sanção não exclusória, esse fato por
si já seria, em tese, um ganho. Por isso a importância do presente
ebook.

As estratégias de defesa são inúmeras e dependem do caso


concreto. Muitas vezes, o grau de complexidade exigirá a atuação
direta de um advogado, mas em alguns, como por exemplo o PD
(Procedimento Disciplinar), o próprio policial militar pode trabalhar
com eficiência na elaboração de sua defesa.

E neste contexto, no qual o policial militar pode atuar diretamente


em sua defesa, se assim optar, há alguns pontos normativos que
se bem considerados, avaliados e sopesados, apresentam grande
solidez na discussão para afastar eventual transgressão disciplinar.
E para iniciar essa jornada tentaremos entender o que RDPM
espera do Policial Militar, para então apresentar alguns
mecanismos eficientes de estruturação defensiva.

SAIBA O QUE O RDPM ESPERA DE VOCÊ:

Saber o que o RDPM espera do Policial Militar já traz elementos


suficientes para que o militar do estado não seja submetido a um
PD (Procedimento Disciplinar). Entender a norma e atuar
preventivamente sempre será o melhor cenário.

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E para uma prevenção eficaz devemos conhecer o que não se
pode fazer, ou seja, as condutas vedadas aos policiais militares. E
essas condutas estão previstas em sua maioria no parágrafo único
do art. 13, da Lei Disciplinar da Polícia Militar, o RDPM (Lei
Complementar 893, de 09 de março de 2001).

Como são 132 as proibições de condutas previstas no parágrafo


único, do art. 13, do RDPM, vamos elencar aqui o caput do artigo, a
estrutura do parágrafo único, e alguns exemplos de condutas
vedadas, para demonstrar a estrutura da norma. Em sua defesa,
não deixe de consultar o parágrafo único do art. 13 do RDPM:

Artigo 13 - As transgressões disciplinares são classificadas de acordo


com sua gravidade em graves (G), médias (M) e leves (L).

Parágrafo único - As transgressões disciplinares são:

1 - desconsiderar os direitos constitucionais da pessoa no ato


da prisão (G);
(...)
60 - trabalhar mal, intencionalmente ou por desídia, em qualquer
serviço, instrução ou missão (M);
(...)
128 - discutir ou provocar discussão, por qualquer veículo de
comunicação, sobre assuntos políticos, militares ou policiais,
excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, quando
devidamente autorizado (L);

Se você conhece um pouco mais o direito administrativo-disciplinar


sabe que vigora, nesta seara, um certo grau de atipicidade.

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Ou seja, outras condutas, que não as previstas no art. 13, p.ú. do
RDPM podem ser consideradas transgressões disciplinares, e isso
acontecerá se e somente se houver violação de valores e
deveres tutelados pela administração (art. 7º e 8º do RDPM).

Então, em síntese, as condutas dos policiais militares poderão ser


consideradas transgressões disciplinares se ele violarem uma das
132 previsões do art. 13, p ú., do RDPM (condutas típicas), ou se
violarem os valores e deveres da instituição (condutas atípicas).
Estas últimas condutas, mais abertas, estão previstas no art. 12, §
1º, 2, do RDPM. Vejamos:

Artigo 12 - Transgressão disciplinar é a infração administrativa


caracterizada pela violação dos deveres policiais-militares, cominando
ao infrator as sanções previstas neste Regulamento.
§ 1º - As transgressões disciplinares compreendem:
(...)
2 - todas as ações ou omissões não especificadas no artigo 13
deste Regulamento, mas que também violem os valores e
deveres policiais-militares

São os valores e deveres previstos nos art. 7º e 8º, do RDPM:

Artigo 7º - Os valores fundamentais, determinantes da moral policial-


militar, são os seguintes:
I - o patriotismo;
(...)
XII - a coragem.

Artigo 8º - Os deveres éticos, emanados dos valores policiais-militares


e que conduzem a atividade profissional sob o signo da retidão moral,
são os seguintes:

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I - cultuar os símbolos e as tradições da Pátria, do Estado de São Paulo
e da Polícia Militar e zelar por sua inviolabilidade;
(...)
XXXV - atuar onde estiver, mesmo não estando em serviço, para
preservar a ordem pública ou prestar socorro, desde que não exista,
naquele momento, força de serviço suficiente.

Visto quais são efetivamente as transgressões diciplinares e como


se precaver de eventuais sanções, conhecendo melhor o RDPM,
vamos agora a alguns pontos a serem considerados na elaboração
de uma boa manifestação preliminar (fase anterior à instauração
do PD), ou mesmo de uma defesa formal dentro do processo, se
houver a elaboração do Termo Acusatório por uma das
autoridades do art. 31, da lei disciplinar da PMESP.

VERIFIQUE SE A AUTORIDADE QUE ASSINOU O TERMO


ACUSATÓRIO POSSUI COMPETÊNCIA PARA TAL ATO

As autoridades que podem assinar o termo acusatório são as do


art. 31 do RDPM e, em apertada síntese, vão desde o Governador
aos Oficiais PM no posto de Capitão PM. Mas fique atento!

Um Tenente poderá, se estiver no comando interino de uma


Cia/PM, assinar o termo acusatório, pois está na função de Capitão
PM. Porém, um Tenente PM na função própria de Tenente PM não
poderá assinar o Termo Acusatório.

Logo, se o termo acusatório for assinado por uma autoridade


incompetente, todos os demais atos daquele processo estarão
maculados (viciados), porque sua estrutura, desde a acusação,
fora iniciada por uma autoridade incompetente legalmente,
causa de vício dos atos subsequentes (nulidade absoluta).

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ENTENDENDO COM EFICIÊNCIA OS FATOS E DANDO
RELEVÂNCIA PROBATÓRIA PARA A DEFESA

Para se ter uma análise didática, objetiva e um procedimento claro


de atuação na defesa (uma estratégia bem fundamentada, com
sólidos alicerces), após verificar se a autoridade que assinou o
Termo Acusatório era competente para tal ato, passaremos a
entender os fatos respondendo a uma série de perguntas.
Entender os fatos trará um primeiro entendimento do ocorrido e
auxiliará em todas as fases subsequentes do processo.

E para esse entendimento eficaz dos fatos, utilizaremos uma


técnica denominada Heptâmetro de Quintiliano:

que? quem? quando? por quê? como? onde? e com que auxílio?

Responda a estas 07 perguntas e depois verifique quais provas


você irá requerer para que sejam produzidas no curso do PD, a fim
de afasar a transgressão disciplinar, versada no TA. Dentro da
possibilidade aponte ao menos uma prova para cada resposta
obtida nas perguntas acima. Isso fará da sua argumentação
defensiva uma tese bastante eficaz.

COMO TRAZER ELEMENTOS CONCRETOS PARA A


AUTORIDADE DISCIPLINAR

Verificamos que o afastamento da transgressão disciplinar está,


em tese, todo previsto no art. 34, do RDPM, digo em tese, porque o
ordenamento jurídico é um todo. O direito se comunica de
diversas formas, por leis, jurisprudência, doutrina que podem
afetar o processo, afastando a transgressão.

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Neste cenário, sugestiono elaborar sua defesa alicerçada nos dois
parâmetros a seguir:

Primeiro, apresentando sua versão dos fatos de acordo com as


respostas do Heptâmetro de Quintiliano, juntando provas do
alegado sempre que possível;

E, na sequência, construindo sua lógica defensiva, com todos


os elementos que a própria autoridade disciplinar avaliará para
julgar os fatos. E essa estrutura está prevista no art. 33, do
RDPM.

Vejamos:

Artigo 33 - Na aplicação das sanções disciplinares serão sempre


considerados a natureza, a gravidade, os motivos determinantes, os
danos causados, a personalidade e os antecedentes do agente, a
intensidade do dolo ou o grau da culpa.

Aborde cada elemento do art. 33, do RDPM. Isso dará clareza aos
principais pontos que serão sopesados pelo seu Comandante.

OUTRAS QUESTÕES RELEVANTES

Obviamente que uma boa estratégia defensiva não para por aqui,
deve ser analisada, por exemplo, a prescrição, a dosimetria, a
reincidência, dentre outros elementos e institutos. Todavia esse
conteúdo, se não afastar sua transgressão disciplinar, irá reduzir
substancialmente seus efeitos. Ganha você por trazer uma defesa
clara, ganha a administração ao entender melhor os fatos.

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sobretudo em questões que ultrapassam a complexidade do PD
(Procedimento Disciplinar)"

Forte abraço, RENATO RAMOS DA SILVA

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autores:
Renato Ramos da Silva
Rafael Ramos da Silva

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