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DIREITO PENAL DO INIMIGO NO RIO DE JANEIRO Do confronto ao tráfico de drogas

ao discurso da pacificação.
1. INTRODUÇÃO
O Rio de Janeiro se transformou num palco de corpos pobres agonizantes e
barbarizados, expostos à mídia como animais abatidos. O Estado que se manteve
ausente durante décadas trata de cidadãos como detritos, refugiados humanos. A
militarização da marginalidade urbana vai assumir uma face cruel de extirpador de
vidas, tornando o cenário carioca um ambiente desalentador.
A política criminal das batalhas armadas, da vigilância incessante e do extermínio
seletivo segue o seu curso no Rio de Janeiro, representando as táticas de eliminação
típicas do Direito Penal do Inimigo. O medo como mecanismo indutor e justificador da
política autoritária de controle social se pretende levar a efeito. A sociedade se torna
refém da insegurança criada por sua própria histeria punitiva enquanto as redes de
solidariedade social se desfacelam.
A incorporação do conceito de inimigo permite a consolidação de um estado de
exceço permanente, em que uma "violência pura" atua sem qualquer limitação jurídica.
A ordenação da exceço se torna um paradigma de governo, escondendo a aceitação
de uma "guerra suja" em que a inocuização do inimigo é um imperativo e a vida
humana se torna sacrificável.
O Direito Penal do Inimigo no Rio de Janeiro é uma política criminosa abertamente
genocida que permite a identificação do jovem pobre da favela como uma
excrescência que deve ser extirpada. Esta aplicação de corre das bases históricas
permitiu identificar o jovem pobre da favela como uma excrescência que deve ser
extirpada.
A incorporação da Ideologia da Segurança Nacional pelas políticas é uma lógica
belicista na política de segurança pública aparentemente difícil de desgarrar. No por
outra razão, o estreótipo de inimigo interno conseguiu migrar facilmente do militante
político revolucionário para a figura esdrxula do comerciante varejista de drogas ilcitas.

2. TEORIA DO DIREITO PENAL DO INIMIGO: “METÁFORA DA


GUERRA E ELIMINAÇÃO”:
Günter Jakobs fez uma distinção entre o Direito Penal do Inimigo e o Direito Penal do
Cidado, porque a contraposição desses "tipos ideais" não era desejável em um estado
puro, mas em uma constante sobreposição. Em 1985, o objetivo de um Direito Penal
do Inimigo foi a fixação de limites materiais à "criminalizações no estágio inicial à leso
a bem jurídico".
Jakobs reinterpretou o direito positivo com o objetivo de evitar a contaminação do
direito penal direcionado para o cidado pelas normas direcionadas a conter os
inimigos. O Direito Penal do Inimigo, logo, seria legítimo como um direito penal de
emergência, mas as manifestações mais recentes de Jakobs parecem relativizar essa
restriço, retirando o caráter de excepcionalidade do Direito Penal do Inimigo.
A vinculação ao Direito ou a opço de se manter constantemente contra o ordenamento
jurídico distingue estes dois planos de Direito Penal. O cidadão quando delinquente
faz o faz de forma ocasional, na sua condição de sujeito sujeito ao Direito. O inimigo
se ope permanentemente à sociedade e ao Direito, não oferecendo ainda uma
garantia cognitiva de que se adequará ao próprio comportamento social.
Os fatos delitivos cometidos por indivíduos, como assassinatos, lesões, roubos, não se
diferenciam daqueles realizados incidentalmente pelos cidadãos. O Direito Penal do
Inimigo não é uma conduta criminosa, mas é a habitualidade e profissionalismo com o
que se abre constantemente. Entre os exemplos mais comuns encontram-se
indivíduos pertencentes a organizações terroristas, de narcotráfico e desenvolvem
atividades típicas de chamada de criminalidade organizada. O Direito Penal do Inimigo
é uma legislaço de guerra contra o inimigo, que cria uma verdadeira legislaço de
guerra contra o inimigo, cujo nico fim seria a excluso e inocuizaço deste. A principal
finalidade é a segurança cognitiva, e a meta é eliminar todos aqueles que não
reforçam a garantia comportamental necessária para serem tratados como pessoas. O
Estado não interessa manter a ordem, restabelecendo a vigência da norma, mas
apena se dirige à segurança frente a fatos futuros e não à sanço de fatos cometidos. A
ideologia do combate e guerra desencadeada entre o Estado e os seus "inimigos"
serve para prevenir o perigo, renunciando às garantias materiais e processuais típicas
do Direito Penal Liberal. Estas normativas jurídico-penais denotam certa identificação
das mesmas como próprias de um Direito Penal do Inimigo.
A antecipação da punibilidade para permitir a perseguição penal dos atos
preparatórios é um dos pilares deste Direito Penal. A falta de segurança cognitiva ou a
inserção em uma organização criminosa está por trás da criminalização de condutas
antes da comissão de qualquer fato delituoso. A desproporcionalidade das penas é um
fator marcante das normas típicas de um Direito Penal do Inimigo. A antecipação da
punibilidade para alcançar os atos preparatórios no viria concomitante de nenhuma
redução de pena quanto evolutivas para os crimes tentados ou consumados. Há um
agravaço abusivo na pena pelo fato de o agente pertencer a uma organização
criminosa, que se torna desproporcional quando considerada a atividade desenvolvida
pelo indivíduo no bojo desta organização. Jakobs identificou a transformação da
legislaço penal em uma "legislaço de luta" como expresso próprio do Direito Penal do
Inimigo. O regime de leis invoca o combate ao narcotráfico e o terrorismo, aliado às
políticas públicas lastreadas na ideologia de batalha.
O Direito Penal do Inimigo é um fator chave no cumprimento da pena, com exemplos
como a limitação aos benefícios penitenciários e a ampliação dos requisitos para o
livramento condicional. No Brasil, o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) é um
exemplo da influência do Direito Penal do Inimigo. Por fim, uma das manifestações
mais consideráveis do Direito Penal do Inimigo reside nas restrições das garantias e
direitos processuais dos imputados. O processo penal do inimigo reduz as exigências
de licitude e admissibilidade da prova, introduz medidas de intervenção nas
comunicações, amplia os prazos de detenço policial para o cumprimento de "fins
investigatórios", sem contar o abuso das prisões cautelares.
Os discursos histórico-filosóficos sobre a criação do conceito de inimigo sempre
criariam fatos que supostamente colocariam em risco a existência do Estado. Para
Fichte, Rousseau, Hobbes e Jakobs, assassinato premeditado, delitos graves, crimes
de lesa-majestade, terrorismo, tráfico de drogas e criminalidade organizada em geral.
O Direito Penal do Inimigo concentra-se no plano subjetivo, constituindo uma
constante histórica a criação do inimigo como um ser desprovido de segurança
cognitiva comportamental. O Estado nega-se o caráter de pena à reação contra o
inimigo, entendendo que para prover segurança o Estado deve neutralizá-lo por meio
de atos de hostilidade.

3. A NEGAÇÃO DA CONDIÇÃO DE PESSOA: O Direito como


obrigação para os cidadãos, a Guerra como coação para os
inimigos.
Jakobs afirma que o Estado pode agir como uma pessoa ou como um indivíduo que
deve ser impedido de destruir o ordenamento jurídico. Aqueles indivíduos cujos atos
demonstram um forte distanciamento do Direito, não oferecendo uma garantia
cognitiva mnima quanto ao comportamento social, não devem ser reconhecidos como
pessoas.
O conceito de pessoa é uma atribuição normativa que designa o portador de um papel.
O reconhecimento do status de pessoa está intimamente ligado à confiança de que
determinado indivíduo se comportará corretamente diante da norma. Aqueles que
negam cumprir o seu papel social no cabe ao ordenamento jurídico para reestruturar a
vigência da norma, mas para combater um perigo.
Jakobs faz uma distinção entre indivíduos e pessoas para atribuir a qualidade de
nenhuma pessoa aos inimigos. A relação com o inimigo é só coaço, fazendo-se do
Direito Penal apenas um meio de se chegar à guerra. Esta diferença é essencial para
a atribuição da qualidade de não-pessoa aos inimigos. O indivíduo consubstancia o
homem em seu estado natural, mas a pessoa não é algo da natureza, mas uma
construção social que pode ser atribuída ou não. Os indivíduos aparecem como
pessoas quando definidas pelas tarefas e suas condutas constituem uma
manifestação da necessidade de cumprir deveres impostos pela sociedade.
Jakobs afirma que a pessoa é um produto social definido como uma unidade ideal de
direitos e deveres administrados por um corpo e uma consciência. Os inimigos, por
serem incapazes de atuar vinculados ao Direito, ficam sumariamente excluídos do
conceito de pessoa. Por isso, segundo Jakobs: O certo direito do Estado de atribuir ou
negar a condição de pessoa a seres humanos constitui, sem a menor sombra de
vidas, o principal alvo das críticas direcionadas. A negação da qualidade de pessoa ao
indivíduo constitui uma manifestação da incompatibilidade entre o conceito de inimigo
e o Estado Democrático de Direito. As dvidas quanto seria a periculosidade acabam
de conceder ao poder a prerrogativa de escolher arbitrariamente os alvos da
repressão, conduzindo necessariamente à atuaço seletiva das agências punitivas.

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