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A rigor, quase todo o Direito Penal do século XX, na medida em que teorizou
admitindo que alguns seres humanos são perigosos só por isso devem ser
segregados ou eliminados, coisificou-os sem dizê-lo, e com isso deixou de
considerá-los pessoas, ocultando esse fato com racionalizações.
Segundo o autor, o contexto mundial atual torna a reação política obrigatória contra
o designado inimigo da sociedade, sobre o qual se pretende o aniquilamento total.
Em tempos de discussões sobre os direitos humanos e negociação, o que ocorre, na
prática, é a “solução que arrasa com os direitos e, mais cedo ou mais tarde, acaba
no genocídio.
3.O CONTEXTO MUNDIAL TORNA A REAÇÃO POLÍTICA OBRIGATORIA
Deste ponto, cabe ressaltar que o exercício do poder de vigilância que surgiu desta
transformação é o poder do senhor, conhecido como dominus, “que monopolizava o
bem, e quem se lhe opunha era sempre o mal” O dominus era bom, e sua
“generosidade” se mostrava em verdadeira campanha para “nos libertar” dos
inimigos, de todo o mal que se expressava no Satã, nos hereges na bruxaria.
Já no século XX, surge um autoritarismo que no plano concreto exerceu seu “poder
repressivo de forma genocida, criando sistemas penais subterrâneos, com
desaparecimentos, torturas, e execuções policiais, individuais e em massa sem
nenhum respaldo legal. Este autoritarismo fundava-se num velho racismo
spenceriano e numa técnica de manipulação das massas intitulada völkisch.
No terceiro capítulo, constatamos que ele tem por objetivo estimular uma reflexão
crítica acerca da natureza dos discursos jurídicos penais e criminológicos sobre o
inimigo. Esses discursos tiveram como precursor o filósofo Protágoras, que
sustentava a tese de que os incorrigíveis deveriam ser excluídos da sociedade.
A modernidade, por sua vez, adveio com uma definição de inimigo etnocentrista e
racista. Os inimigos não mais se limitavam aos criminosos graves, incluíam agora os
chamados indesejáveis: pequenos ladrões, prostitutas, homossexuais, bêbados,
vagabundos, jogadores, etc.
Ambos compartilham uma visão passiva e defensiva de cidadania, que não visualiza
a importância da participação e do consenso. Importa-lhes a esfera pública apenas
na medida que preserva ou ameaça a esfera da vida privada.
4.O CONFRONTO ENTRE KANT E FEUERBACH
Argumenta –se contra as observações de Jakobs que hostis nos dias de hoje
seriam submetidos a contenção como individuo perigoso,em razão da falta de
confiança em seu comportamento futuro. Como ninguém pode prever o futuro a
incerteza do futuro mantem em aberto o juízo de periculosidade em aberto.
3. A INEVITAVEL QUEBRA DO ESTADO DE DIREITO
Neste capitulo Zaffaroni pontifica os Estados de direito não são nada além da
contenção dos Estados de polícia, penosamente conseguida como resultado da
experiência acumulada ao longo das lutas contra o poder absoluto. Apesar da
luta, é bom deixar claro que o Estado de polícia não veio a óbito, apenas
encontra-se encapsulado.
3. EXITOS E FRACASSOS
Este receio justifica-se, pois o autor argentino percebe que o verdadeiro inimigo
do direito penal é o Estado de polícia, que, por sua essência, não pode deixar de
buscar o absolutismo.
4. DUAS PALAVRAS SOBRE O DIREITO PENAL INTERNACIONAL
Por fim, Zaffaroni chama a atenção para o fato de que o direito internacional
penal é direito penal do inimigo e não do cidadão. Para tanto, cita exemplos da
atualidade, tais como, o caso ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic.
Outrossim, atenta para o que. ele chama de lógica do quitandeiro[30] no combate
ao terrorismo e propõe como sendo o papel do direito penal nada mais que o
ordinário, ou seja, “se delitos são cometidos, seus responsáveis devem ser
individualizados, detidos, processados, julgados, condenados e levados a
cumprir a pena
Ao longo dos séculos, sempre existiu um poder punitivo capaz de tratar algumas
pessoas como inimigos. Esta política estava presente já nos romanos com o seu
hostis e não há como negar o seu papel fundamental em manipular as massas,
pois quando se tem um inimigo comum, une-se as forças para derrotá-lo. Vale
aqui menção, também, acerca da proximidade entre esta política e a do pane et
circus, pois ambas auxiliam o soberano a conduzir as massas de acordo com sua
vontade. Retomando ao direito penal do inimigo, tem-se que tal doutrina atinge o
Estado de direito concreto, real ou histórico; portanto, perde o rumo das
conquistas já obtidas nas diversas lutas sociais já existentes. Nesse sentido, vale
ressaltar que o Estado de direito não admite nenhuma exceção legítima, pois tal
atitude significaria o rompimento da dialética que se opera no interior de todo
Estado de direito com o Estado de polícia.
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Outra injustiça, para Zaffaroni, é a falta de “critérios” para a “quantificação” (p. 27)
das penas. Os juízes ficam com grande liberdade para fixarem penas, sem critérios
claros e terminariam sendo cruéis contra pessoas pobres e brandos com pessoas
ricas.
“discurso penal”, o direito penal que é aplicado hoje. Os defensores do atual sistema
penal atacam toda crítica, especialmente da “criminologia da reação social”, fazendo
a “satanização” dos críticos. Os que defendem o atual direito penal praticamente
dizem que as críticas seriam do diabo (p. 36), rotulando críticos como Zaffaroni de
“marxistas” (p. 36).