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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

CENTRO DE ARTES
ESTUDO DE FICHAMENTO
PROFA. DRA. NEIVA BOHNS

Identificação: Anna Alvarenga

Data: 29/11/2023

QUINTERO, Pablo; FIGUEIRA, Patrícia; ELIZALDE, Paz Concha. Uma breve história dos estudos
decoloniais. São Paulo: MASP; Centro de Pesquisa Afterall, 2019. p.01-12

1. Nota bibliográfica sobre os autores

PABLO QUINTERO é doutor em Antropologia (Universidad de Buenos Aires), mestre em


Ciências Sociais (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales), graduado em
Antropologia (Universidad Central de Venezuela). Foi diretor do Grupo de Estudos sobre
Colonialidad (GESCO) da Universidad de Buenos Aires entre 2006 e 2012. Tem
desenvolvido a maioria das suas pesquisas sobre economias, relações interetnicas,
colonialidade junto às populações indígenas da América Latina. Atualmente é professor do
departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seu último
livro é alternativo descoloniales al capitalismo colonial/ moderno (Buenos Aires: Ediciones
del Signo, 2016).

PATRICIA FIGUEIRA é doutoranda em Antropologia Social e bolsista de doutorado e


professora da Universidad de Buenos Aires. Graduada em Ciências Antropológicas.
Pesquisadora do Grupo Economias Alternativas e Bem Viver do Conselho Latino -
Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Pesquisa sobre educação, movimentos sociais e
colonialidade com comunidade Qom no Chaco argentino. Foi parte do Grupo de Estudos
sobre Colonialidad (GESCO) da Universidad de Buenos Aires entre 2006 e 2012.

PAZ CONCHA ELIZALDE é doutoranda em Antropologia Social e bolsista de doutorado da


Universidad de Buenos Aires, onde fez graduação em Ciências Antropológicas.
Pesquisadora do Grupo “Economias Alternativas e Bem Viver” do Conselho Latino -
Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Há mais de dez anos pesquisa com organizações
indígenas do povo Qom no Chaco argentino sobre temáticas relacionadas a território/
territorialidade, colonialidade e direito. Foi parte do Grupo de Estudos sobre Colonialidad
(GESCO) da Universidad de Buenos Aires entre 2006 e 2012.

1.1-Biografia da artista

ESTEFANÍA PEÑAFIEL LOAIZA é artista, nasceu em Quito, Colômbia. Atualmente vive e


trabalha em Paris, França. Sua prática encontra motivação constante em questões
relacionadas a seus próprios deslocamentos e mudanças. É formanda em artes pela
Pontifícia Universidad Católica del Ecuador e pós-graduada na Beaux-Arts (ENSBA).
Participou das exposições at image/imatge art center (errements, Orthez, 2018); at the
3bisf art space (détours (la loterie à Babylone), Aix-en-Provence, 2018); in 2016 at FRAC
Franche-Comté (à rebours, Besançon); at La Maison Salvan (casa tomada, Labège); at the
CPIF (fragments liminaires, PontaultCombault, 2015), entre outras.

2. Descrição da obra
Texto publicado em 2019.

Arte e Descolonização é um projeto de longo prazo que apoia o desenvolvimento de


pesquisas no Museu de Arte de São Paulo (MASP), coordenado por André Mesquita e
Mark Lewis; e no Afterall Research Center, coordenado por Charles Esche e Mark Lewis.
Esta colaboração é apoiada pela British Academy e pela University of the Arts London.

O centro de pesquisa Afterall e o MASP firmaram parceria para explorar o tema arte e
descolonização. O objetivo desta iniciativa é desafiar as narrativas oficiais e os pontos de
vista eurocêntricos que dominam o mundo da arte e apresentá-los como uma história
completa. O projeto alcançará isso oferecendo workshops, seminários e publicando
artigos que fornecem novos insights sobre coleções de museus e exposições. Além disso,
os eventos abordarão o surgimento de novas práticas artísticas e curatoriais que
questionam e criticam explicitamente os legados coloniais na arte, na curadoria e na
crítica de arte. Com a parceria, MASP e Afterall esperam estimular novas discussões e
pesquisas sobre temas como descolonização, decolonialidade e estudos pós-coloniais.
Assim, buscando questionar as narrativas eurocêntricas da arte e promover novas
discussões sobre descolonização.

3. Palavras-chaves

Arte; Descolonização; Narrativas eurocêntricas; Práticas artísticas; Estudos decoloniais;


crítica de arte; Modernidade; Decolonialidade; Pós-colonialismo;

4. Linha conceitual
O emprego do conceito decolonial ou decolonialidade é um tema de considerável debate,
sem consenso claro entre os estudiosos. Tanto o conceito de decolonial como de
decolonialidade pretendem descrever o desmantelamento das estruturas de exploração e
dominação estabelecidas pela colonialidade, juntamente com o desmantelamento dos
seus mecanismos primários. Enquanto alguns autores, como Aníbal Quijano, favorecem o
termo descolonialidad, a maioria dos estudiosos usa o termo decolonialidad.

O estudo da descolonização caracteriza-se por uma coleção metódica de afirmações


teóricas que reexaminam a questão do poder na modernidade.

As raízes da modernidade remontam à conquista europeia das Américas e ao seu domínio


sobre o Atlântico no final do século XV e início do século XVI.

Este conceito coloca uma ênfase significativa na organização do poder através do


colonialismo e na dinâmica inerente ao sistema mundial capitalista moderno, juntamente
com as suas distintas formas de acumulação e exploração à escala global.

A modernidade é amplamente considerada como uma ocorrência global que surge de


uma rede complexa de dinâmicas de poder assimétricas, e não como um fenómeno
simétrico que emana exclusivamente da Europa e é subsequentemente disseminado por
todo o mundo.

O desequilíbrio de poder inerente entre a Europa e aqueles considerados “outros” é um


aspecto fundamental da modernidade. Consequentemente, esta dinâmica resulta
inevitavelmente na marginalização dos costumes e individualidades daqueles que estão
sob domínio.
A colonialidade do poder é moldada pela colonização da América, que ocorreu durante o
mesmo processo histórico que marcou o início da interconectividade global (globalidade)
e o estabelecimento do modo de produção capitalista.

A emergência de um sistema é a principal consequência destes movimentos centrais.

Com o aumento da dominação e da exploração social sem paralelo, emergiu um novo


paradigma de conflito.

A colonialidade do poder num contexto histórico amplo é moldada pela fusão de dois
elementos distintos.

Os eixos centrais são componentes essenciais de muitos sistemas mecânicos. Esses eixos
servem como pontos de articulação principais em torno dos quais outros componentes
giram ou se movem. Sem estes eixos centrais, o sistema mecânico em questão seria
incapaz de funcionar adequadamente e provavelmente não conseguiria cumprir a
finalidade pretendida.

Uma perspectiva postula a criação de uma hegemonia cultural que controla a geração e a
perpetuação de experiências subjetivas. Isto seria conseguido através das lentes do
eurocentrismo e da racionalidade moderna, que se baseia numa estrutura hierárquica
para a população mundial.

Por um lado, existe a criação de um sistema global que explora as sociedades, que
abrange todas as formas de regulamentação laboral que existem hoje sob o domínio
exclusivo do capital. Por outro lado, há o desenvolvimento de um sistema de exploração
social global que articulará todas as formas conhecidas e atuais de controlo do trabalho
sob a hegemonia exclusiva do capital.

A área de intersecção e convergência é precisamente onde vários aspectos da existência


social são impactados de forma heterogênea, mas conectada. Isto inclui a sexualidade, as
estruturas coletivas de poder e o conceito de “natureza”, bem como o trabalho e a
subjetividade individual.

No início do século XIX, a libertação latino-americana marcou o início de um processo de


descolonização limitado. As repúblicas recém-formadas conseguiram livrar-se com sucesso
do controle político das potências metropolitanas. No entanto, apesar deste progresso, a
colonialidade e os seus consequentes impactos persistiram na formação destas
sociedades. Ao longo do tempo, estes efeitos manifestaram-se em várias estruturas sociais
que remontam às origens coloniais. É evidente que o colonialismo foi uma ocorrência
histórica que precedeu e deu origem à colonialidade como estrutura de poder dominante.
No entanto, mesmo depois do fim do colonialismo, a colonialidade continuou a perdurar.

À medida que o substantivo colonialidade se tornou mais prevalente, surgiram quatro


conceitos primários: colonialidade do conhecimento, colonialidade do ser, colonialidade
da natureza e colonialidade do género.

5. Resumo
Uma breve história dos estudos decoloniais apresenta uma discussão sobre a
descolonização na arte e na cultura em geral, buscando questionar as narrativas
eurocêntricas que dominam esses campos. Para isso, ele se baseia em reflexões e
discussões sobre práticas artísticas e curatoriais que possam contribuir para essa
transformação, bem como em uma história dos estudos decoloniais e autores que
contribuem para essa perspectiva crítica. O texto começa apresentando a configuração do
projeto Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade (MCD), que se tornou um tema de
debate e uma categoria de uso comum em diversas disciplinas. Ele destaca a presença
crescente de coletivos, grupos de discussão e institutos de pesquisa em torno desses
assuntos, que buscam aprofundar e expandir as reflexões sobre a colonialidade e seus
correlatos. Em seguida, apresenta uma discussão sobre a relação entre as ideias centrais de
Quijano e o método foucaultiano, que permitiu a identificação de uma colonialidade que
se articulou com diferentes dispositivos históricos de poder/saber. Ele também destaca o
crescente número de trabalhos sobre movimentos sociais e alternativas de vida, que
recolhem as trajetórias de coletivos humanos historicamente subordinados pela
colonialidade. O texto diz sobre a crítica de arte decolonial, que busca questionar as
narrativas eurocêntricas que dominam a história da arte e promover novas reflexões e
práticas artísticas que possam contribuir para a descolonização. Ele destaca a importância
de uma abordagem crítica e reflexiva, que possa promover uma transformação na arte e na
cultura em geral. Por fim, faz uma reflexão sobre a importância da descolonização na arte
e na cultura, destacando a necessidade de uma perspectiva crítica e reflexiva que possa
questionar as narrativas eurocêntricas e promover novas práticas artísticas e curatoriais.
Ele destaca a importância de uma abordagem descolonial, que possa contribuir para a
transformação da arte e da cultura em geral.

6. Citações diretas

“A revisão da constituição histórica da modernidade e de suas transformações na América


Latina foi o nodo a partir do qual essas questões se articularam, à luz da categoria
colonialidade como o reverso da modernidade. A posterior configuração daquilo que
Arturo Escobar2 chamou de projeto Modernidade/ Colonialidade/ Decolonialidade (MCD)
resultou no aprofundamento e na expansão sistemática dessas linhas.” p.03

“Os estudos pós -coloniais, por sua vez, são oriundos de importantes centros de produção
acadêmica do chamado “primeiro mundo” e surgiram com uma forte influência do pós -
modernismo e do pós -estruturalismo, mais focados, portanto, na análise do discurso e da
textualidade.” p. 04

“(...) o pós -colonialismo teve, também desde os anos 1990, uma forte influência na
produção intelectual periférica, sempre atenta ao discurso dominante.” p.04

“Os estudos decoloniais compartilham um conjunto sistemático de enunciados teóricos


que revisitam a questão do poder na modernidade.” p. 05

“ Embora em cada uma das diversas sociedades os setores brancos fossem uma reduzida
minoria do total da população, eles exerceram a dominação e a exploração das maiorias de
indígenas, afrodescendentes e mestiços que habitavam as repúblicas nascentes.” p.06

“A colonialidade do gênero (e da sexualidade) foi certamente uma das questões menos


trabalhadas nos estudos decoloniais atuais, apesar dos muitos pontos de contato
existentes entre algumas das proposições centrais do MCD, a teoria feminista latino-
americana contemporânea e as tendências pós -coloniais.” p.08
“(...) a colonialidade do poder, tal como foi conceitualizada por Quijano, é a chave analítica
que permite visualizar o espaço de confluência entre a modernidade e o capitalismo, bem
como o campo formado por essa associação estrutural. É justamente nesse campo de
confluência e conjunção que se veem afetadas, de modo heterogêneo porém contínuo,
todas as áreas da existência social, tais como a sexualidade, a autoridade coletiva e a
“natureza”, além, é claro, do trabalho e da subjetividade.” P. 06

“A colonialidade, em seu caráter de padrão de poder, acarretou profundas consequências


para a constituição das sociedades latino -americanas, pois assentou a conformação das
novas repúblicas, modelando suas instituições e reproduzindo nesse ato a dependência
histórico -estrutural.” P.06

7. Citações indiretas

De acordo com Pablo Quintero, Patrícia Figueira e Paz Elizalde, a formação da modernidade
ao longo da história e de suas mudanças na América Latina serviu de ponto de partida para
essas indagações. Estas questões foram formuladas tendo em conta o conceito de
colonialidade, que é o oposto da modernidade. p.03

Conforme Pablo Quintero, Patrícia Figueira e Paz Elizalde, o estudo do pós-colonialismo


origina-se de importantes centros acadêmicos localizados no chamado “primeiro
mundo”. Deve muito do seu desenvolvimento ao impacto do pós-modernismo e do pós-
estruturalismo, resultando numa ênfase mais pronunciada na análise do discurso e na
interpretação textual. P. 04

Como esclarecem Pablo Quintero, Patrícia Figueira e Paz Elizalde, a partir da década de
1990, o pós-colonialismo exerceu um impacto significativo na produção intelectual
originária da periferia. Essa produção permanece perfeitamente sintonizada com o
discurso predominante, embora simultaneamente influenciada pelo pós-colonialismo. P.04

Segundo Pablo Quintero, Patrícia Figueira e Paz Elizalde, o campo dos estudos decoloniais é
caracterizado por uma coleção sistemática de afirmações teóricas que reexaminam o
conceito de poder na modernidade. p. 05

Apesar de serem uma minoria nas respetivas sociedades, as comunidades brancas


exerciam o poder e exploravam as massas nativas, afrodescendentes e mestiças que
constituíam a maioria da população nas repúblicas emergentes, afirmam Pablo Quintero,
Patrícia Figueira e Paz Elizalde. P. 06

A questão tem sido estudada insistentemente pelos autores, Pablo Quintero, Patrícia
Figueira e Paz Elizalde, a colonialidade do género (e da sexualidade) tem recebido atenção
insuficiente nos estudos decoloniais atuais. Existem inúmeras áreas de sobreposição entre
os princípios fundamentais do Sistema Mundial Moderno/Colonial, a teoria feminista nos
contextos latino-americanos contemporâneos e o pós-colonialismo; no entanto, este
tópico é frequentemente esquecido. P.08
Pablo Quintero, Patrícia Figueira e Paz Elizalde declaram que o conceito de colonialidade do
poder de Quijano é uma ferramenta crucial para analisar a intersecção entre modernidade
e capitalismo. Através desta lente, podemos compreender melhor o campo criado pela
associação estrutural entre estas duas forças. Este campo de conjunção e confluência
impacta todas as áreas da existência social, incluindo, mas não se limitando, à sexualidade,
à autoridade coletiva e ao conceito de “natureza”. Os efeitos dessa associação são diversos
e contínuos, impactando não só o trabalho e a subjetividade, mas também diversas facetas
da vida social de forma heterogênea. P.06

Nas palavras de Pablo Quintero, Patrícia Figueira e Paz Elizalde, o padrão de poder
conhecido na colonialidade teve ramificações significativas para o desenvolvimento das
sociedades latino-americanas. Formou a base para o estabelecimento de novas repúblicas
e, consequentemente, moldou a estrutura das suas instituições. Como resultado, a
dependência histórico-estrutural foi perpetuada através deste processo. P.06

8. Autores/ artistas citados

Aníbal Quijano
Arturo Escobar
Boris Marañón
Carolina Ortiz Fernández
Catherine Walsh
Cornejo Polar
Edgardo Lander
Edward Said
Enrique Dussel
ESCOBAR, Arturo. Más allá del Tercer Mundo. Globalización y diferencia. Bogotá: Instituto
Colombiano de Antropología e Historia-Universidad del Cauca, 2005.
ESTEFANIA PEÑAFIEL LOAIZA
Fernando Coronil
Hector Alimonda
Maria Lugones
Nelson Maldonado-Torres
Ochy Curiel
Ranajit Guha
Rita Segato
Santiago Castro-Gómez
Walter Mignolo
Waman Puma
Zulma Palermo

9. Análise pessoal – 29/11/2023

O texto aborda analises bem importantes sobre a decolonização e a descolonização,


fazendo uma conexão sobre sexualidade, gênero, juntamente com o poder e o saber
articulando as diversas faces do colonialismo, modernidade e a decolonialidade.
Precisarei reler o texto mais vezes para compreendê-lo melhor, apesar de poucas paginas
traz uma bagagem importantíssimas, sobre a constante luta para a sobrevivência de uma
cultura quase apagada pelo eurocentristas que é uma hierarquia baseada na população
mundial, assim controlando e fazendo uma exploração social global.

10. Imagens de obra de arte

ESTEFANIA PEÑAFIEL LOAIZA Cartographie 1. the crisis of dimension, 2010 Cortesia da


artista

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