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Universidade Federal da Bahia

Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Milton Santos


HACA79 – Tópicos Especiais em Artes I
Docente: Karliane Macedo Nunes
Discente: Maurício Menezes de Castro - BI em Artes – Matrícula 217119368

Atividade 1 – Resumo do texto “Uma breve história dos estudos decoloniais”

O texto "Uma breve história dos estudos decoloniais", de Pablo Quintero,


Patrícia Figueira e Paz Elizalde, publicado em 2019, apresenta uma introdução
a este campo de estudo, surgido no final da década de 90 na América Latina.

Os estudos decoloniais tratam de uma variedade de temas, mas todos


relacionam-se a alguns pontos, como o questionamento do eurocentrismo –
que se trata da universalização do conhecimento produzido na Europa, imposto
também aos povos colonizados em detrimento de suas próprias epistemologias
– e da colonialidade, que passou a ser problematizada por Aníbal Quijano, o
que impulsionou as investigações sobre decolonialidade.

Os autores iniciam o texto introduzindo o início dos estudos decoloniais


e como estes acabam por confluir com outras críticas que, embora tenham
muitas semelhanças, têm genealogias e interesses distintos, como os estudos
subalternos e os estudos pós-coloniais, os quais são definidos e diferenciados
logo em seguida. Segundo os autores, tais diferenças

(...) não acarretam necessariamente um empecilho à sua


articulação, pois o uso conjunto dessas aproximações, longe
de criar obstáculos a análise da colonialidade, em alguns casos
a potencializa, graças à presença e integração de outros
instrumentos analíticos e de tradições críticas que podem
auxiliar na compreensão de suas dinâmicas. (QUINTERO,
FIGUEIRA E PAZ, 2019, p.5)
Em seguida, os autores abordam os conceitos de modernidade,
colonialidade e decolonialidade mais a fundo, citando um conjunto de
procedimentos teóricos dos estudos decoloniais, que são: 1) A origem da
modernidade no período de conquista das Américas e controle do Atlântico
pela Europa, e não no Iluminismo ou Revolução Industrial; 2) A ênfase na
estruturação colonial do poder constituindo as dinâmicas do mundo moderno;
3) A compreensão da modernidade como sistema global, pautado em relações
assimétricas de poder; 4) A assimetria das relações de poder entre a Europa e
outros territórios como constitutiva da modernidade e subalternizadora das
epistemologias dos povos dominados; 5) A subalternização da maioria da
população mundial estabelecida pelo controle do trabalho e meios de produção
e das subjetividades; 6) O eurocentrismo como forma hegemônica de produção
de conhecimento na modernidade.

Ou seja, a modernidade é marcada pelo eurocentrismo, que naturaliza a


desigualdade e a exclusão, perpetuando as consequências do colonialismo em
modelos largamente replicados não só nas Américas como em toda a periferia
global, e tal estrutura é chamada de colonialidade do poder – conforme
conceito de Quijano. Esse conceito explica o fato de que, mesmo com a
emancipação latino-americana que deu-se a partir do século 19, as sociedades
desse território ainda mantém diversas estruturas de matriz colonial, e mantém-
se também as diversas consequências do colonialismo, que até os dias atuais
subalternizam socialmente descendentes dos colonizados e privilegiam
socialmente descendentes dos colonizadores. Enquanto o colonialismo foi o
processo de dominação e exploração ocorrido nas colônias, a colonialidade é o
legado desse processo.

Após discorrer sobre colonialidade do poder, os autores passam a se


aprofundar nos estudos decoloniais, destacando que estes têm seguido uma
expansão da estrutura teórica e conceitual da decolonialidade, aplicando os
conceitos de colonialidade a diversas dimensões, para além do poder: a
colonialidade do ser – interiorização pelos colonizados dos valores do
colonizador – e da natureza – visão que coloca europeus em posição de
superioridade natural em relação a outros seres humanos não europeus – além
da colonialidade do gênero – que coloca homens europeus em superioridade
em relação a mulheres – conforme citado pelos autores. Tal expansão teórica
decolonial ocasiona um processo de recuperação do pensamento crítico latino-
americano, além de fortalecer a pesquisa histórica, tanto em escala mais global
como em estudo de casos locais. Portanto, podemos dizer que os estudos
decoloniais têm também uma perspectiva interdisciplinar, unindo sociologia,
história, antropologia e outras áreas em um viés contra-hegemônico
extremamente necessário para a formação de sociedades latino-americanas
mais justas, igualitárias e empoderadas, tirando epistemologias e grupos
sociais da subalternização. Acima de tudo, é disso que se trata a
decolonialidade.

Referência:

QUINTERO, Pablo; FIGUEIRA, Patrícia; ELIZALDE, Paz. Arte e


descolonização: uma breve história dos estudos decoloniais. In: MASP
Afterall. N. 3, 2019.

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