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“O Atlântico Pardo.

Antropologia, pós-
colonialismo e o caso lusófono”
Miguel Vale de Almeida (2002)

Catarina Lemos – 94092 / Carolina Lopes – 94117/ Sara Fera – 92677/ Tomás Carvalho
- 93877
Licenciatura em Antropologia - Turma LAB 1 – UC de Colonialismo, Pós-Colonialismo
e Antropologia | Docente Paulo Raposo | 18 março 2021

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Introdução

A nossa apresentação tem como base a obra de Miguel Vale de Almeida “O


Atlântico Pardo. Antropologia, pós-colonialismo e o caso lusófono”.

Miguel Vale de Almeida é um professor no ISCTE e esta cadeira de colonialismo


foi iniciada por ele. Ele tirou a sua licenciatura em Antropologia Social em 83 e concluiu
o mestrado em 86 na State University of New York e em 94 doutorou-se no ISCTE em
Antropologia Social e atualmente é aqui professor. Dedicou-se a várias áreas de estudo,
desde o género e a sexualidade ao colonialismo e pós-colonialismo. Já publicou bastantes
artigos, sendo um deles a obra que iremos trabalhar aqui.

Então, a obra que lemos propõe uma reflexão sobre a Antropologia e o Pós-
colonial, a partir da experiência colonial portuguesa. Neste texto, o autor salienta, por
exemplo, que os estudos pós-coloniais devem englobar a economia e a política e
reconhece que é necessário colocar a história em primeiro lugar se se quer estudar o
colonialismo e o pós-colonialismo. Ele esforça-se por mostrar as inconsistências e lugares
comuns do debate pós-colonial no âmbito das reflexões anglo-saxónicas e após
reconhecer as ambiguidades do conceito “pós-colonial”, aceita a possibilidade de que esta
noção seja útil para que os estudos pós-coloniais sejam “reinseridos na mais antiga
tradição antropológica”.

A Invenção das Pós-colónia

Os Estudos Pós-Coloniais

Neste contexto contemporâneo de globalização, o campo dos estudos pós-


coloniais têm vindo a ser um desafio para os antropólogos que estudam a política da
identidade. Os estudos pós-coloniais desafiaram e desafiam ainda, atualmente, os
antropólogos pois estes vêem-se como especialistas em populações que normalmente são
alvos de análise para os estudos pós-coloniais. (Aqui falando dos povos que foram
colonizados). No contexto anglo-saxónico, estes estudos foram desencadeados pela
crítica da noção da Commonwealth literature. Os estudos pós-coloniais britânicos
deixaram apenas de se focar na classe trabalhadora, e começaram também a ter interesse
na população emergente das ex-colónias e na consequente constituição de uma sociedade
multicultural.

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Ao mesmo tempo, na Índia, a Negritude e o Pan-africanismo, o aumento do fluxo
para os centros académicos ocidentais, e procura, por parte da população, de uma
alternativa histórica que não fosse colonial estabeleceram as condições necessárias para
que emergisse o que veio a ser conhecido como os estudos pós-coloniais.

Miguel Vale de Almeida menciona, neste texto, Gyan Prakash, um historiador


da Índia moderna e professor de história, que é também membro coletivo dos Subaltern
Studies. Prakash aqui afirma que um dos muitos efeitos da crítica pós-colonial foi a
introdução de uma outra crítica que está direcionada aos padrões do conhecimento e
identidades sociais em que eram autorizados pelo colonialismo e pelo domínio ocidental.
Ou seja, como sabemos, o colonialismo e o seu legado funcionavam sob narrativas que
colocavam a Europa no centro de tudo. A crítica pós-colonial tentava, então, desconstruir
o eurocentrismo, mantendo ainda assim a consciência de que o pós-colonialismo não se
desenvolveria distante da história, isto é, a pós-colonialidade existe como um “depois” –
depois de ter sido trabalhada pelo colonialismo. Isto é o que se chama de uma situação
híbrida, uma situação de prática e negociação que segue a sequência “reverter, atacar e
deslocar um aparato de codificação de valores”.

Uma crítica da Aura Pós-colonial

O autor aqui menciona Arif Dirlik, um historiador turco que entre muitas outras,
trabalhou questões sobre modernidade, globalização e crítica pós-colonial. Dirlik aqui
afirma que o pós-colonialismo recupera para si um campo de que antes era conhecido
como o “terceiro mundo”, com o objetivo de anular distinções do tipo centro-periferia e
outros conceitos enraizados no colonialismo. (foto 1) O rótulo de “pós-colonial” foi usado
nos anos 80 para descrever os académicos do chamado “terceiro mundo”. Esta expressão
do “pós-colonial” tinha vários usos como descrever as condições das sociedades ex-
coloniais, tanto as do terceiro mundo como as de colonização, descrever uma condição
global posterior ao colonialismo e um discurso sobre as referidas condições, que pode
levantar a questão “Como pode o terceiro mundo escrever a sua própria história?”. Então,
a tendência pós-colonial caracterizava-se principalmente pela recusa de narrativas-
mestras e do orientalismo, caracterizava-se ainda pela crítica do eurocentrismo, e pela
narrativa considerada a principal ser sempre da modernização.

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Dirlik conclui a sua crítica afirmando que o pós-colonialismo se trata de uma
constituição discursiva do mundo, e acredita que o termo “pós-colonial” exclui todos os
que continuam a massacrar-se em conflitos étnicos, religiosos ou nacionais. Exclui
especialmente os ativistas indígenas que não aceitam a recusa das identidades
essencializadas. Em suma, estamos a assistir a uma mudança histórica nas relações entre
indivíduos, grupos, o Estado e a economia, mudança esta que afeta os recursos simbólicos
para ação disponíveis para pessoas que nós, antropólogos, estudamos.

Antropologia e Pós-colonialismo

A noção de pós-colonial não se aplica apenas ao período após as independências,


mas desde aí até à atualidade. O problema pós-colonial resultou da queda do socialismo
e do aumento da economia de mercado.

O autor faz questão de mostrar o que defende e afirma que o termo “pós-
colonial” deve ser aplicado ao período posterior ao colonialismo efetivo, como já
dissemos, e posterior ainda à decadência de projetos anticoloniais pós-independentes.
Este termo deve ser aplicado também aos complexos de relações transnacionais entre as
antigas colónias e metrópoles, e todas outras noções como globalização e sociedades de
colonização devem ser tratadas por si mesmas e não confundidas.

A definição de “pós-colonial” e a sua utilidade associa-se a uma oportunidade de análise


de continuidade histórica e da mútua constituição das representações sociais dos
colonizadores e colonizados, mas isto só é possível se a análise discursiva não dispensar
a economia política, se houver uma pesquisa empírica de natureza etnográfica, se for
usado um método comparativo, relativamente a diferentes experiências de colonização e
reestruturação pós-colonial e se não for descartada a consideração colonialismo/pós-
colonialismo. E apenas com estes pontos é que os estudos pós-coloniais podem ser
reinseridos na tradição antropológica que atenta nas versões dos outros sobre as suas
vidas.

O pós-colonial na Antropologia, enquanto disciplina, teve origem no


desenvolvimento dos mercados mundiais, coincidindo com o racionalismo ocidental. No
século XIX, a fase do imperialismo criou uma nova disciplina universalista, onde a
“modernização” se confundia com a “ocidentalização”. O autor admite que a

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Antropologia é encarregue de pressupostos colonialistas originais, que criou imagens do
outro e que concedeu princípios epistemológicos ao Ocidente.

A crítica dos estudos pós-coloniais estabelecia a ambiguidade teórica e política,


confundia a distinção entre colonizador/colonizado e dissolvia a política da resistência
através do afastamento da identificação de quem exerce a dominação.

O conceito pós-colonial é útil ao descrever e caracterizar a mudança nas relações


globais que marca a transição desigual da era dos impérios à era das pós-independências.
As sociedades colonizadas e colonizadores foram afetadas por esse processo, tornando-
se um processo universal. E o termo “pós-colonial” compreende a colonização como um
processo transnacional e translocal, resultando em narrativas descentradas e globais, e
portanto, o pós-colonial não se deu por fases.

Então, o autor defende que para estudar o pós-colonialismo é necessário colocar


a história em primeiro lugar, fazer uma etnografia da etnografia e uma antropologia pós-
colonial da sociedade colonial e ainda fazer uma antropologia das reconfigurações das
experiências coloniais nos ex-centros imperiais.

A Experiência Colonial Portuguesa

O Atlântico Pardo

O "Atlântico pardo" é uma expressão irónica e provocatória para designar o mundo criado
durante o império português.

Uma das experiências coloniais portuguesas que ocorreu no Brasil foi a escravidão,
focando-se mais com a raça negra que naquela altura não era considerada uma etnia, ou
seja, eram escravizados pelos colonizadores.

Com a abolição da escravatura, o povo negro que vivia no Brasil colocou-os numa posição
não étnica, ao contrário, dos povos indígenas ou dos grupos de imigrantes. Com a
comunidade negra sendo totalmente afastada da sociedade da altura, começaram a criar a
sua própria cultura, sendo esta expressiva e reproduzindo um conjunto de valores e
sentimentos comuns nesta comunidade.

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A criação de uma sociedade democrática e através da globalização, originou-se a
emergência de uma etnicidade negra brasileira, envolvendo a definição de uma herança
cultural específica, formas de objetificação cultural que precedem a mercadorização
cultural, à criação de uma narrativa funcional, isto é, o lugar de origem, a comunidade de
experiência e a construção histórica de valores específicos. Houve uma criação de laços
transnacionais com base numa africanidade e a aliança entre a publicidade dos produtos
da cultura expressiva e as reivindicações por direitos políticos e sociais no Estado Nação
democrático.

Cada colónia portuguesa acabou por desenvolver a sua própria identidade. A colónia
brasileira quando ganhou a sua independência, a sua identidade cultural não tem nada a
ver com a identidade cultural das colónias africanas e vice-versa, por isso, é que dizer que
os portugueses colonizaram os brasileiros como Afro-brasileiros está incorreto, pois estes
criaram a sua própria imagem e a sua história.

Gilroy, autor de “Black Atlantic”, utiliza o conceito de "dupla consciência" no caso


brasileiro, pois adquire os contornos de uma luta pelos direitos civis modernos e pela
democracia e, ao mesmo tempo, de uma luta pela recuperação e manutenção de tradições
e especificados, quer sejam inventadas ou não. Os Afro-Brasileiros confrontaram-se com
a escolha entre um nacionalismo étnico inventado (a África no Brasil) e a luta pela
democracia racial. A população negra e a questão da escravatura fizeram da questão racial
e cultural o ponto de foco das análises e construções do Estado-Nação e da identidade
Nacional. As teorias racistas, seriam pouco tempo depois substituídas por elogios à
miscigenação.

A formação racial brasileira subsiste graças à marginalização económica e a um efeito de


hegemonia que consiste na reprodução da desigualdade racial.

Freyre, na década de 1930, foi o ideólogo do Brasil miscigenado, apresentando um


discurso pós-colonial, mas as suas ideias foram altamente criticadas como sendo
ideológicas e contraditórias. Contudo, o aspeto interessante das ideias de Freyre é que a
sua interpretação sobre o Brasil foi usada pelo regime colonial português entre 1950 e
1970 para justificar a presença portuguesa nas colónias Africanas em tempos de
descolonização, afirmando ser um colonialismo humanista, multicultural e
miscigenador.

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Houve um hiato temporal entre a experiência de colonização do Brasil e o projeto
colonialista em África, o colonialismo português foi maioritariamente administrado por
um regime ditatorial e perdurou após a independência das colónias de outros países
europeus.

Pós-colonialismo em Português

Miguel Vale de Almeida afirma que após o fim da ditadura, tendo o País entrado
na União Europeia e dado independência às colónias, existia agora a necessidade de uma
reconfiguração pós-colonial, que estava lançada em ambos os lados da divisória colonial,
por causa do colapso de projetos nacionalistas e da emergência de divisões ético-políticas
graves, por causa do crescimento da imigração africana que levou à emergência da
categoria de minorias éticas e a múltiplas manifestações, e ainda ao desafio à identidade
nacional gerado pela perda do império. O autor questiona se Portugal finalmente não olha
para si próprio a partir das narrativas da expansão e se as ex-colónias se veem com a
narrativa da libertação do colonialismo.

É dito que apesar dos historiadores terem feito grandes esforços para uma
compreensão das estruturas históricas do colonialismo português, esse esforço
antropológico é fraco por parte da empresa colonial portuguesa, que o autor afirma
parecer “(…) ter sido herdado pela antropologia portuguesa contemporânea (…)”. Esta
análise dos processos de poder-saber coloniais, esta abordagem etnográfica dos terrenos
ex-coloniais e a consideração do continuum histórico e da mútua constituição das
identidades de colonizadores e colonizados estão apenas no início.

Este tipo de análise antropológica do pós-colonialismo português necessita de aceitar


a especificidade da sua experiência colonial, ao mesmo tempo que recusa noções de
excecionalismo culturalista, para no fim se poder libertar do luso-tropicalismo como
interpretação de senso-comum enraizada no imperialismo do século XIX.

O autor afirma que o colonialismo português, especialmente o seu terceiro império,


foi construído sobre conceitos de classificação racial e separação, bem como sobre
conceitos de cidadania e miscigenação. E que esses conceitos se baseavam na experiência
colonial do Brasil, onde o Estado-nação emergiu como autoproclamado híbrido
humanista. Isto têm tido um papel constitutivo da narrativa nacional portuguesa, pelo
menos desde o século XIX e sob uma variedade de regimes políticos, bem como uma

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parte conflituante nas autorrepresentações e nos projetos nacionais das elites das ex-
colónias.

Por fim, esta vaga noção de um passado e de uma língua comum, parecem-se com
tentativas de reconstruir uma entidade pós-colonial capaz de contrabalançar o efeito de
erosão da globalização e a marginalidade portuguesa no seio da União Europeia. Porém,
elas são contraditórias com uma análise fria dos processos de poder do colonialismo e das
realidades estruturantes do neocolonialismo. É este processo obscuro e contraditório, este
Atlântico «Pardo», como Miguel Vale de Almeida se refere, que precisa de ser abordado
em termos de pesquisa.

O Atlântico Negro

Num pequeno à parte, Miguel Vale de Almeida descreve como Paul Gilroy tem
sido uma fonte de inspiração para as suas reflexões sobre a situação pós-colonial da
diáspora africana. Principalmente o seu livro O Atlântico Negro, já que designa uma
formação intercultural e transnacional caracterizada pelo facto de a escravatura racial ter
sido parte integrante da civilização ocidental e da modernidade.

Conclusão

O autor tenta então, através do texto, perceber como se interpreta o pós-


colonialismo. Esta sua obra, dentro dos estudos pós-coloniais, é uma obra que na década
de 2000 começa a pensar e a refletir a situação do colonialismo português, o que foi o
colonialismo e como se processou. Nós, portugueses, somos pardos de origem, por
incluirmos na nossa população muçulmanos, indianos, ciganos, africanos, e muitos mais.

No caso concreto português, todos os emigrantes, todos os “espoliados do


Ultramar”, os “retornados”, eram defendidos pelo CDS (se entendi bem). No entanto, a
maioria das pessoas que vieram para Portugal após o 25 de Abril eram naturais das
colónias e ofendiam-se ao serem consideradas “retornadas”, visto que não retornaram,
mas sim vieram pela primeira vez para Portugal, como o caso da avó da Catarina.

Houve imensos problemas com esta vinda dos emigrantes para Portugal.
Contextualizando, até a música e a dança mudaram neste período, então, a chegada de
pessoas “racistas” que eram colonos com a chegada de pessoas mais liberais, abertas e

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progressistas, mais modernas, do que a população que já cá vivia. Estes choques
provocaram conflitos que foram “silenciados”. O Instituto de Apoio aos Retornados de
Nacionais (IARN), representado por Mário Soares, ajudava monetariamente os que cá
chegaram para retomarem a sua vida. Este apoio foi altamente criticado por parte da
população local que se revoltou. Esta atitude até nos lembra o discurso do CHEGA face
aos emigrantes atuais.

Porque é que existe uma diferença para com uma pessoa portuguesa, mas com a
cor da pele mais escura? Porque é que os retornados eram brancos, mas não eram
portugueses? Trata-se aqui de uma situação de origem, da matriz cultural e económica e
de modos de vida. Há aqui desigualdade que se torna preocupante com a diferença,
quando tanto os retornados, como os imigrantes ou os refugiados passam a ter menos
acessos, passam a ter os seus direitos mais limitados.

Algo intrigante é o facto de haverem poucas obras sobre os retornados, pouca


literatura e pouco cinema. Um escritor deste tema foi António Lobo Antunes que após
prestar serviço militar na guerra, escreveu sobre os retornados, seguido pela sua filha que
é, porventura, antropóloga.

O colonialismo é um dos marcos mais importantes da história do mundo. Sem o


colonialismo, provavelmente não haveria violência e diferenças. Mas existe outra
perspetiva, uma perspetiva maximalista que afirma que o problema no mundo é que as
colónias se perderam, e se isso não tivesse acontecido, tudo estava bem. Óbvio que esta
é uma forma errada de pensar, mas não é um pensamento inexistente. Relativamente a
experiências coloniais portuguesas, a colonização é baseada em pressupostos de mistura,
miscigenação, de pardo, que não são propriamente reais, são ideológicos, morais.

A Europa era o local mais modernizado, mais desenvolvido de todo o mundo, daí
a exploração e comércio das especiarias, do marfim, ouro, café, açúcar, entre outros, e
como resultado disto formaram a riqueza da europa e a não riqueza dos países explorados.
Isto foi afetado quando a descolonização "desequilibrou" o planeta, aumentando assim o
racismo e a discriminação, por parte dos que “possuíam o país” anteriormente e que
reagem mal à independência das colónias.

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Existe uma série que passou na RTP em 2012 “Depois do Adeus”, que em 2013
teve um livro lançado com o mesmo nome, baseado na série televisiva e que retrata uma
família num Portugal no rescaldo do 25 de abril. E aqui falamos das nossas famílias.

(ENTREVISTA)

Perguntas que não estão nos Slides:

1. Guerra colonial de 1961 – Como foi a tua participação?

R.: “Todos os indivíduos dentro dos parâmetros da idade pretendida eram mobilizados,
em princípio, para defender. Foi o meu caso. Fui chamado, fiz o normal, a recruta, tive
um acidente, tive 7 meses internado com uma fratura craniana no hospital militar, cá, e
pensava não ir. Um ano depois, fui, tal como todos os outros. Fui para uma situação
chamada recompletamento. Isto quer dizer que fomos eu e mais 112 pessoas, embarcados
na doca de Alcântara, no navio Pátria com destino a Angola, para irmos substituir aqueles
que tinham morrido lá em combate, ou os que tinham sido mutilados. Isto era o
recompletamento.”

1. Se fosse hoje, isto é, sabendo o que sabes hoje, tinhas lá ficado?

R.: Falando em qualidade de vida, se tivesse opção, a minha opção era Portugal. A
qualidade de vida lá, pela potencialidade económica do país (Angola), é quinhentas vezes
superior a Portugal Continental, não tenho dúvidas. Mas o problema não é a capacidade
económica ou a potencialidade. (…) A potencialidade económica de lá era muito superior
a Portugal e ainda hoje o é. Simplesmente as condições políticas nunca permitiram que
isso se desenvolvesse, antes pelo contrário, regrediam, e depois haviam outras questões,
independentemente do racismo ou não racismo, contrariamente ao que muito boa gente
pensa, não é só o branco que é racista. O “negro” é tanto ou mais racista quanto o
“branco”. Eu, por uma questão de segurança, de qualidade de vida, a garantia de emprego,
e por um problema de saúde, foi preferível ficar e a minha opção foi essa, como foi a da
maioria das pessoas, porque temíamos pela nossa segurança.”

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Perguntas:

➢ Será que após este período de subordinação, que durou tantos anos, se pode falar
em paz entre “brancos” e “negros”?
➢ Experiências pessoais (Têm alguém da família que tenha ido para uma colónia?)
➢ De que forma se pode verificar o existir de relações coloniais, entre o Primeiro e
o Terceiro Mundo, mesmo num período pós-colonial?
➢ Em que medida, falar de modernização é ainda, disfarçadamente falar em
colonialismo, sobretudo no Terceiro-Mundo?

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