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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Nome: João Pedro Vinícius Lazaro – RA: 11202210089


Disciplina: História, Eurocentrismo e Pós-colonialismo – Turno Matutino
Docente: Prof.ª Dr.ª Márcia Helena Alvim

Fichamento Bibliográfico
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de
Ciência Política, Brasília, nº 11, p. 89-117, agosto de 2013.

Apresentação do texto
A autora se propõe apresentar e analisar o surgimento, o desenvolvimento e as
principais ideias desenvolvidas pelo Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C),
formado em 1990 por intelectuais latino-americanos a partir de dissidentes dos
estudos subalternos. Utiliza a noção de “giro decolonial” como chave conceitual para
construir sua narrativa acerca da radicalização do argumento pós-colonial realizada
pelo M/C, além de discorrer sobre o desafio de enfrentar e superar a colonialidade
entranhada em nosso país.

Uma breve genealogia do pós-colonialismo


Nesta seção do texto a autora se detém sobre o significado e o surgimento do
pós-colonialismo. Acerca do significado, afirma que podem ser dois, a saber:
1. O conjunto dos processos de descolonização do “terceiro mundo”.
2. As teorias desenvolvidas acerca da colonialidade, que se destacaram a
partir dos anos 1980. E é este o fenômeno a ser contextualizado pela
autora.
Ao citar definições propostas por Sérgio Costa, que parecem se aproximar dos
pós-estruturalismos e pós-modernismos, a autora pontua algumas questões sobre a
especificidade do pós-colonialismo:
 Que autores anteriores à institucionalização dessa área de estudos já
abordavam o tema, como Franz Fanon;
 Que o movimento surge a partir de uma relação antagônica binária entre
colonizador e colonizado, a “diferença colonial”, para Mignolo.
A autora chama atenção para a importância da chamada “tríade francesa”,
autores que produziram trabalhos hoje considerados clássicos do pós-colonialismo, a
saber: Franz Fanon (1925-1961), Aimé Césaire (1913-2008) e Albert Memmi (1920-),
além de Edward Said (1935-2003).
Paralelamente, o Grupo de Estudos Subalternos se formava em 1970 no sul
asiático, com autores que questionavam o eurocentrismo e as heranças do
colonialismo na Índia, como Ranajit Guha, Partha Chatterjee, Dipesh Chakrabarty e
Gayatri Spivak. Guha e Spivak tendo sido, respectivamente, os principais expoentes
do grupo. Ao se difundir para Inglaterra e EUA, três autores se destacaram para os
leitores brasileiros: Homi Bhabha, Stuart Hall e Paul Gilroy.
Em 1992 é fundado o Grupo Latino-Americano de Estudos Subalternos e em
1998 tem seu fim. As origens do M/C remontam a esse período, devido às
divergências entre os membros do antigo grupo.

O Grupo Modernidade/Colonialidade e o giro decolonial


O M/C foi sendo estruturado a partir do final da década de 1990 por vários
seminários, nos quais as figuras de Walter Mignolo, Enrique Dussel e Aníbal Quijano
eram centrais. A partir dos anos 2000, outros autores de diferentes áreas foram se
agregando ao grupo, entre eles Boaventura de Sousa Santos. Suas referências
teóricas foram as mais diversas, desde os trabalhos anteriores de seus próprios
integrantes até autores das teorias críticas europeus e estadounidenses.

Colonialidade do Poder
Conceito desenvolvido por Aníbal Quijano em 1989.
 Ideia chave: as relações coloniais não acabaram com o fim do sistema
colonial.
Dupla pretensão:
1. Denunciar “a continuidade das formas coloniais de dominação após o fim
das administrações coloniais, produzidas pelas culturas coloniais e pelas
estruturas do sistema-mundo capitalista moderno/colonial”
(GROSFOGUEL, 2008, p.126).
2. Explicar de modo atualizado e contemporâneo processos supostamente
apagados, assimilados ou superados pela modernidade.
Mignolo propõe expandir o conceito de colonialidade para além do âmbito do
poder, criando o conceito de matriz colonial do poder, uma espécie de rede complexa
de relações que herdam a estrutura colonial. A colonialidade, para ele, é o lado
obscuro da modernidade, estando entranhada nesta.
Tripla dimensão da colonialidade: do poder, do saber e do ser.

Modernidade/colonialidade
Raça, Gênero e Trabalho: linhas principais de classificação do capitalismo
colonial (Quijano).
Sustentada por esses pilares, a modernidade justifica sua “práxis irracional da
violência” e reproduz o “mito da modernidade” (Dussel).
Invenção da América como “outro” é a origem das categorias coloniais
capitalistas e da diferença colonial cujo lócus de enunciação é o homem branco
europeu.

Geopolítica do conhecimento
Colonialidade do Saber: necessidade de ampliação da noção de violência
epistêmica foucaultiana para abarcar o papel do eurocentrismo neste fenômeno.
Lógica do “ponto zero”: universalismo falacioso que afirma a linguagem
científica moderna e europeia como absoluta e neutra, expressão mais fiel da própria
razão universal da natureza.

Giro decolonial
Termo cunhado por Nelson Maldonado-Torres que nomeia o movimento de
recusa e enfrentamento à lógica da modernidade/colonialidade a partir da resistência
em vários âmbitos.
Decolonialidade como terceiro elemento da modernidade/colonialidade.
Wama Pomam de Ayala e Otabbah Cougoano como os primeiros autores de
tratados políticos decoloniais, tendo a decolonialidade, nesse sentido, surgido junto
com o processo colonial.
Pensamento fronteiriço: resiste às cinco ideologias da modernidade:
cristianismo, liberalismo, marxismo, conservadorismo e colonialismo. Apesar disso,
incorpora elementos do marxismo e do marxismo periférico.
Transmodernidade (Dussel): “pluriversalidade como projeto universal”
(Mignolo).
Decolonialidade x Descolonização: marca a especificidade do grupo M/C frente
à outros movimentos e processos históricos.

Considerações Finais
A decolonialidade não propõe uma recusa à produção do norte global, mas uma
crítica às práticas de invalidação e desvalorização do conhecimento, dos modos de
vida e das experiências gestadas historicamente no sul global.
Questionamento do universalismo etnocêntrico europeu, seus valores e
produtos culturais. Epistemologias do sul: valorizar e redescobrir perspectivas que
auxiliem a decolonização epistemológica.
“O papel e a importância da teoria repousam não somente na sua capacidade
explicativa, mas também no seu potencial normativo.” (Ballestrin).
O Grupo Modernidade/Colonialidade possui méritos pelo esforço em desocultar
diversas questões latentes acerca das conquistas da modernidade e propor
alternativas às correntes de pensamento herdadas da Europa, mas também possui
pontos problemáticos como “diagnósticos romanceados e produtores de
maniqueísmos" (Ballestrin).
Ao final do texto, a autora propõe pensar questões imediatas do contexto
brasileiro a partir da ótica decolonial.

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