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Fichamento Bibliográfico
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de
Ciência Política, Brasília, nº 11, p. 89-117, agosto de 2013.
Apresentação do texto
A autora se propõe apresentar e analisar o surgimento, o desenvolvimento e as
principais ideias desenvolvidas pelo Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C),
formado em 1990 por intelectuais latino-americanos a partir de dissidentes dos
estudos subalternos. Utiliza a noção de “giro decolonial” como chave conceitual para
construir sua narrativa acerca da radicalização do argumento pós-colonial realizada
pelo M/C, além de discorrer sobre o desafio de enfrentar e superar a colonialidade
entranhada em nosso país.
Colonialidade do Poder
Conceito desenvolvido por Aníbal Quijano em 1989.
Ideia chave: as relações coloniais não acabaram com o fim do sistema
colonial.
Dupla pretensão:
1. Denunciar “a continuidade das formas coloniais de dominação após o fim
das administrações coloniais, produzidas pelas culturas coloniais e pelas
estruturas do sistema-mundo capitalista moderno/colonial”
(GROSFOGUEL, 2008, p.126).
2. Explicar de modo atualizado e contemporâneo processos supostamente
apagados, assimilados ou superados pela modernidade.
Mignolo propõe expandir o conceito de colonialidade para além do âmbito do
poder, criando o conceito de matriz colonial do poder, uma espécie de rede complexa
de relações que herdam a estrutura colonial. A colonialidade, para ele, é o lado
obscuro da modernidade, estando entranhada nesta.
Tripla dimensão da colonialidade: do poder, do saber e do ser.
Modernidade/colonialidade
Raça, Gênero e Trabalho: linhas principais de classificação do capitalismo
colonial (Quijano).
Sustentada por esses pilares, a modernidade justifica sua “práxis irracional da
violência” e reproduz o “mito da modernidade” (Dussel).
Invenção da América como “outro” é a origem das categorias coloniais
capitalistas e da diferença colonial cujo lócus de enunciação é o homem branco
europeu.
Geopolítica do conhecimento
Colonialidade do Saber: necessidade de ampliação da noção de violência
epistêmica foucaultiana para abarcar o papel do eurocentrismo neste fenômeno.
Lógica do “ponto zero”: universalismo falacioso que afirma a linguagem
científica moderna e europeia como absoluta e neutra, expressão mais fiel da própria
razão universal da natureza.
Giro decolonial
Termo cunhado por Nelson Maldonado-Torres que nomeia o movimento de
recusa e enfrentamento à lógica da modernidade/colonialidade a partir da resistência
em vários âmbitos.
Decolonialidade como terceiro elemento da modernidade/colonialidade.
Wama Pomam de Ayala e Otabbah Cougoano como os primeiros autores de
tratados políticos decoloniais, tendo a decolonialidade, nesse sentido, surgido junto
com o processo colonial.
Pensamento fronteiriço: resiste às cinco ideologias da modernidade:
cristianismo, liberalismo, marxismo, conservadorismo e colonialismo. Apesar disso,
incorpora elementos do marxismo e do marxismo periférico.
Transmodernidade (Dussel): “pluriversalidade como projeto universal”
(Mignolo).
Decolonialidade x Descolonização: marca a especificidade do grupo M/C frente
à outros movimentos e processos históricos.
Considerações Finais
A decolonialidade não propõe uma recusa à produção do norte global, mas uma
crítica às práticas de invalidação e desvalorização do conhecimento, dos modos de
vida e das experiências gestadas historicamente no sul global.
Questionamento do universalismo etnocêntrico europeu, seus valores e
produtos culturais. Epistemologias do sul: valorizar e redescobrir perspectivas que
auxiliem a decolonização epistemológica.
“O papel e a importância da teoria repousam não somente na sua capacidade
explicativa, mas também no seu potencial normativo.” (Ballestrin).
O Grupo Modernidade/Colonialidade possui méritos pelo esforço em desocultar
diversas questões latentes acerca das conquistas da modernidade e propor
alternativas às correntes de pensamento herdadas da Europa, mas também possui
pontos problemáticos como “diagnósticos romanceados e produtores de
maniqueísmos" (Ballestrin).
Ao final do texto, a autora propõe pensar questões imediatas do contexto
brasileiro a partir da ótica decolonial.