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Belo Horizonte
26 de julho de 2019
RESUMO
O artigo terá como principal objetivo o estudo do conceito de colonialidade. Tal conceito
encontra-se interseccionado na maioria dos debates teóricos decolonias do campo das
Relações Internacionais e é de suma importância na compreensão a maneira como essa
“teoria” cria novas perspectivas de análise e como ela dialoga sobre e com o Brasil. Para
tanto, será necessária uma análise do conceito de “colonialidade” trabalhando com as
contribuições dos nomes pioneiros do pensamento decolonial, principalmente aquelas(es)
autoras(es) do grupo Modernidade/Colonialidade (M/C), embora não se limitando a elas(es).
Para traçar uma ampla análise crítica de tal conceito, é imprescindível trabalhar primeiramente
com o estudo pioneiro de Aníbal Quijano, sobre a colonialidade do saber, e posteriormente as
contribuições de Walter Mignolo, com os cinco níveis de colonialidade do poder, além da
contribuição de demais autores para o conceito de colonialidade do ser, entre outros. Não
obstante, é possível perceber que conforme os debates decoloniais foram se expandindo e
englobando novas temáticas, inclusive entrando em contato com novas teorias (como o
surgimento do feminismo subalterno), o conceito de colonialidade foi sendo retrabalhado.
Esse processo pode ser percebido nos estudos de María Lugones, além de Luciana Ballestrin,
Cristina Rojas, Arlene B. Tickner, dentre outros. Por fim, a análise da utilização do conceito
de colonialidade na “teoria” decolonial latino-americana possibilita nortear alguns
desdobramentos importantes que estão ocorrendo dentro do campo dos estudos decoloniais,
buscando posteriormente compreender em que medida essas teorias estão sendo retomadas.
Dentre essas novas formas de trabalhar a “colonialidade” percebe-se forte contribuição que
tal conceito nas discussões sobre antropoceno, o feminismo subalterno, a questão da
imperialidade, a violência contra povos indígenas, o genocídio da juventude negra, dentre
outros.
Palavras-chave: Colonialidade; Decolonialidade; Brasil.
1 INTRODUÇÃO
As considerações finais tem por objetivo mapear futuros caminhos para a minha
pesquisa, apontando a recente mobilização do conceito enquanto escopo para entender a
realidade atual, o diálogo com outras(os) autoras(es) pioneiras(os) nas discussões raciais,
incluindo os diálogos com teóricas(os) das interpretações de Brasil.
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Ao longo do texto será utilizado o conceito de “libertação” ao invés de “emancipação”. Dussel (2005)
e Mignolo (2007) afirmam que a modernidade tem um "conceito racional de emancipação", mas
aparece também como um "mito" que justifica a violência genocida. Portanto, em um movimento
geopolítico, eles sugerem que é melhor usarmos a palavra "libertação" - política e econômica, bem
como epistêmica - de acordo com os movimentos reais no Terceiro Mundo. "Libertação" aponta para
"desvinculação", decolonização e pensamento de fronteira, longe de uma trajetória linear da história e
dos pensamentos ocidentais (MAURÍCIO DOMINGUES, 2009).
surge entre dois povos ou nações, porém também demonstra como relações intersubjetivas
são articuladas entre si, através do sistema capitalista mundial e da noção de raça
(MALDONADO-TORRES, 2007). Portanto, a colonialidade sobrevive ao colonialismo mesmo
sendo derivado dela, já que suas estruturas de poder e dominação estão presentes em todo
processo de desenvolvimento histórico desde então (MALDONADO-TORRES, 2007;
QUIJANO, 2000). Ou seja, não existe modernidade sem colonialidade (MIGNOLO, 2000).
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Apesar de partilharem similaridades, o conceito de colonialidade do saber e do ser são apresentados
de formas diferentes por algumas(uns) autoras(es). Colonialidade do saber pode ser percebida
enquanto colonialidade do conhecimento; já a colonialidade do ser pode ser vista enquanto
colonialidade com relação aos modos de vida, enquanto dimensão ontológica de pluriversos distindos,
como trabalhado por Cristina Rojas (2016).
3 PARTE II: DESDOBRAMENTOS
Nessa parte serão apresentados alguns dos desdobramentos dos estudos acerca da
Modernidade/Colonialidade (e posteriormente Deconolialidade – M/C/D), sendo esses os
conceitos de feminismo decolonial, imperialidade, pensamento fronteiriço, pluriverso e
antropoceno. Entendida a lógica de colonialidade, o conceito é expandido para se pensar em
formas de resistência e combate a essa lógica problemática da realidade atual, passando ao
aprofundamento dos estudos e do conceito de decolonialidade.
O projeto decolonial busca então romper com a lógica dualista característica da M/C,
rejeitando a separação do conhecer e do fazer. Questionam-se radicalmente as relações
binárias e assimetrias (ESCOBAR, 2000). Surge então o chamado giro decolonial, sendo este
“um movimento de resistência teórico e prático, político e epistemológico, à lógica da M/C”
(CASTRO-GÓMEZ & GROSFOGUEL, 2007, p.20). A decolonialidade passa a ser trabalhada
como o terceiro elemento da M/C, revelando novos projetos de libertação.
Por fim, pode-se inferir que a virada decolonial refere-se a uma mudança de paradigma
onde deixa-se para trás a aceitação da inferioridade do subalterno para a suposição da
“posição de um questionador”, reconhecendo-o enquanto agente transformador da realidade.
Esse fenômeno tem como consequência a identificação do colonialismo como um problema
estrutural, e a noção da decolonização como um projeto continuado e inacabado
(MALDONADO-TORRES, 2007; BALLESTRIN, 2017a).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: NOVOS OLHARES E PERSPECTIVAS
Nessa parte final, busco mapear futuros caminhos para a minha pesquisa, ao procurar
entender como teóricas(os) da decolonialidade mobilizam o conceito de colonialismo afim de
sublinhar processos de repressão presentes na realidade atual, e também no diálogo sobre e
com o Brasil. Percebe-se que existe um movimento de retomada de debates de outras(os)
teóricas(os) que também tratam de temas amplamente recorrentes no estudo da
decolonialidade, tais quais a posição do negro enquanto agente questionador, e não apenas
como objeto de estudo. Essa mobilização de ideias gera um diálogo entre as(os) autoras(es)
tidas(os) como decoloniais, e outros nomes que também trabalham com certas temáticas
consonantes, trazendo a perspectiva de contestação do negro enquanto projeto de libertação.
Percebe-se que o conceito de colonialidade tal qual trabalhado no grupo M/C ganha
novos debates. No entanto, estes mesmos conceitos estão sendo mobilizados para analisar
criticamente as realidades históricas do momento atual, tanto em debates econômicos-
políticos, quanto sócio-culturais. Existe a oportunidade de explorar tal temática por novos
olhares de desconstrução pelo projeto decolonial, inclusive mobilizando conceitos e ideias de
demais autoras(es) que não pertencentes ao movimento teórico M/D/C, sendo esta uma
grande oportunidade de trazer mais visibilidade a autoras(es) brasileiras(os). O intuito dessas
considerações, no entanto, não foi um total engajamento nesses debates, mas o apontamento
de novos caminhos intrigantes para futuras análises.
REFERÊNCIAS