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Fichamento: A Relação entre o Estado e o Solo - Capítulo I

Disciplina: Geografia Política


Docente: Antonio Roseira

RATZEL, Friedrich. A Relação entre o Estado e o Solo. O Estado como Organismo Ligado ao
Solo. Geousp – Espaço e tempo. São Paulo. Número 29, p. 51-58, 2011.

RESUMO DO CAPÍTULO
1. O Estado na geografia e a concepção de Estado
A vida do homem se parece com a dos outros animais por causa de suas imagens (ilha
política, onda humana, ilha humana, maré humana, etc.).
Para a biogeografia, o próprio Estado é uma extensão da vida que sofre a mesma influência
que qualquer outra forma de vida. O Estado não se cria ou não se expande em regiões “hostis”, como
por exemplo as desérticas e polares. Ao longo da história, os Estados cresceram juntos com a
população. Sua fronteira é a expressão de um movimento orgânico e inorgânico, e sua formação
estatal é parecida com um tecido celular .
O solo favorece ou impede o crescimento do Estado: aqueles localizados perto da margem de
rios ou costas prosperaram por causa do sistema de comunicação natural que o solo criou; Estados
montanhosos são menos povoados e tem uma relação desigual entre superfície e povo; Os que ficam
longe da linha do Equador dispõe de um espaço estreito que torna o solo precioso; por fim, os
maiores e mais potentes estão em zonas moderadas perto do mar.

2. O Estado é uma fração da humanidade e uma fração do solo


Sem o solo terrestre e sem o Estado o homem não existe. O Estado é uma fração da
superfície terrestre, pois é obrigado a viver do solo e possui apenas as vantagens que este dá. Em
resumo, o território pertence à essência do Estado, tal como mostra a ciência política. Na história,
forças políticas tomaram o solo para construir um Estado. Dessa forma, Ratzel define o povo como
um conjunto político de grupos e indivíduos vinculados por um solo comum.
Ordens e grupos sociais, comércio e religião extraem do solo a força política para formar o
Estado. No século XIX, surge a ideia nacional. A política nacional é, para muitos, feita a partir do
momento que se compreende o valor do solo.

3. Organização política do solo


O Estado é um tipo de organismo ligado a um pedaço da superfície terrestre com
características que dependem de seu povo e do solo. As mais importantes características dele são a
extensão, situação, fronteiras, o tipo e forma do solo, e a relação com o resto da superfície terrestre.
O conjunto dessas características forma o país, que tem, além desse fundamento geográfico, um
sentido espiritual e sentimental entre seu povo e sua história.
Não se pode pensar no Estado sem seu povo e vice-versa, um depende do outro como um
único ser. Um solo inabitável é um desperdício histórico, enquanto o habitável favorece o
desenvolvimento de um Estado, ainda mais quando suas fronteiras são limitadas. A característica do
solo determina como se dará o desenvolvimento de seu povo no decorrer da história: os gregos são
marinheiros e comerciantes, os suíços tem certas liberdades que a confederação lhes dá. Às vezes,
determinado espaço/solo se valoriza devido a acontecimentos históricos, como no caso da Grécia e
Itália que, ao falharem na construção de um império, tiveram que voltar a prestar atenção em seus
solos.
A ligação com o solo é mais forte entre os povos que vivem em espaços menores, pois podem
dominá-lo e explorá-lo mais facilmente, como no caso de ilhas, cuja força nacionalista vem da
conscientização sobre seu solo. Quanto mais se aprofunda a relação com o solo, mais o Estado cresce.
O crescimento demográfico faz com que, se aprofunde a relação entre povo e solo, os recursos
naturais sejam mais explorados e as fronteiras sejam mais protegidas, porém aumenta a dependência
do povo com o solo. Quanto mais vasto o solo, mais frágil é a relação entre ele e seu povo. Um Estado
civilizado é o que tem o solo mais organizado. Plano de desenvolvimento sem levar em consideração
o solo é um projeto incompleto. Estados menos desenvolvidos têm essa condição, além de outros
fatores não geográficos, por causa da falta de ligação com o solo, fronteiras imprecisas e ausência de
vias comunicativas.

4.

Estados civilizados têm uma alma política detida pelo povo que sustenta seu “corpo”, quanto
mais essa alma anima o corpo, mais vigoroso é o Estado. Essa alma sempre renova-se através das
gerações. Membros que não são penetrados pela alma política se separam e com isso a unidade
política também termina.
Apesar da política ser o espírito do Estado nem sempre só ela basta, como por exemplo no
caso da Suíça, formada por povos diversos e Estados fragmentados, em que a política da
confederação foi possível também graças ao amor geográfico dos suíços pelo seu país. Nas palavras
de Ratzel: “é este fundamento geográfico que fez com que esta ideia política animasse o corpo fraco
de uma alma forte”.
Quando o Estado está durante séculos intimamente associado ao seu solo é quase impossível
separar um do outro: não se pode pensar na Suíça sem seus alpes, nos holandeses sem a Holanda ou
em franceses sem a França. Como expõe Platão, homem e Estado se diferenciam apenas em função
do ambiente. É como se a natureza inconscientemente fizesse com que Estados únicos, que se
tornarão territórios unificados, cubram os solos que são suscetíveis para dar resultados.
Somente uma potência política pode colher as vantagens de determinado solo, a presença de
um segundo Estado faz com que a potência se enfraqueça: “Não é como o crescimento de um
carvalho que deixa ainda crescer erva sob a sua coroa” - Ratzel. Foi no momento em que outros
Estados, através de seus funcionários, começaram a nascer dentro do Estado imperial alemão que ele
se desfez.
A maioria da população deve considerar o solo como o solo dela para que a economia tenha
valor do ponto de vista do Estado.

5. A história de um Estado não conseguiria instruir sua política sem a fixidez de um solo

O Estado faz sua política porque o solo é fixo. As características do solo comportam-se
conforme a modificação feita pelo povo. O solo sempre prevalece sobre o Estado: Apeninos, mesmo
nem sempre estando no centro de um império, permaneceu como uma das regiões mais importantes
do mundo. A geografia política aprende sobre o futuro pois presta atenção na constância do solo. O
objetivo último do Estado é garantir ao povo o solo para seu desenvolvimento.

6. Os Limites do Orgânico no Estado

O Estado é um organismo imperfeito, pois as partes que compõe ele são independentes, elas
não se sacrificam em prol de todos, mas ele termina por ser potente e produtivo por causa de sua
espiritualidade e moral. Os habitantes de um Estado são fixados espiritualmente a sua terra em razão
de um objetivo em comum. Estados primitivos têm crescimento orgânico, isto é, utilizam o solo
apenas para sua cultura e defesa, enquanto os desenvolvidos são inorgânicos e precisam das forças
espirituais para seu desenvolvimento.
No entanto, é importante notar que a comparação entre o Estado e um organismo deve ser
feita com cuidado, não levando totalmente ao pé da letra a analogia entre os dois. No Estado, o
homem não sacrifica nada importante em prol do todo e não é dependente dele, enquanto em um
organismo, os elementos são todos dependentes do todo.

7. A única base material da unidade do Estado é o solo


O que une o Estado é o solo. Quanto mais ele corre o risco de dissolver-se, mais o solo é
importante. O Estado define sua fronteira conforme o solo. Motivos religiosos, nacionais, históricos,
etc., estão entre os motivos que formam um Estado. Enquanto existir ideias diretoras da parte do
povo, o Estado também existe.
O Estado é a união entre o espiritual, vindo do solo, e o material. Não se deve deixar que
desavenças políticas-econômicas afetem também a força do solo.

8. A relação espiritual com o solo reside no hábito de viver juntos, no trabalho comum e na
necessidade de proteção
Do hábito de viver juntos, surge a consciência nacional; do trabalho comum, a relação
econômica do Estado; da necessidade de proteção, o poder dado ao soberano para manter a
unidade. O solo é a cena, o objeto e a fonte (dos frutos) do trabalho. Certos lugares são sagrados por
causa do hábito de viver juntos que cria uma conexão profunda entre o povo e o solo. A necessidade
de proteção faz com que as fronteiras sejam fortalecidas e certos lugares tenham mais investimentos.

9. Os elementos últimos do organismo estatal são os grupos sociais


Raramente um indivíduo por si só se torna soberano de um Estado, o coletivo sempre é mais
importante e sempre vai prevalecer. A família é o grupo mais importante para a organização do
Estado, pois além de ser o agente do crescimento demográfico, é também a fonte do acúmulo de
conhecimentos e experiências através das gerações.

10. A formação de órgãos pelo Estado necessariamente é limitada


O Estado cria órgãos apenas para lidar com diferenças territoriais e de repartição
populacional. A geografia é o principal fator que causa essas diferenças internas: “[...] oposições entre
as zonas periféricas e centrais, costas e interior, planícies e montanhas, cidades e campos, zonas com
forte e fraca densidade demográfica.”

11. Certas partes de um organismo são mais estritamente ligadas à vida do ponto de vista do
todo do que outras.
Todo Estado tem uma parte geográfica que é mais importante politicamente do que outras,
de modo que sua perda causaria grande dano. As partes mais importantes são onde tem grandes vias
de comunicação, como as zonas costeiras e as vias fluviais ligadas ao mar. Conforme a civilização
progride, as zonas mais importantes se beneficiam. Sem o Danúbio, a Sérvia precisa de Belgrado, já a
Suíça depende dos Alpes.

12. A esfera econômica tende à organicidade


O valor econômico de uma região do país depende do que ela tem a oferecer, de forma que,
conforme a necessidade, certos lugares terminam por ser órgãos essenciais como o Egito como
Roma.

13. Há na própria terra limites necessários para a formação de órgãos


Não é possível considerar povos e países como simples engrenagens de uma máquina. De
modo que as repressões de metrópoles contra suas colônias para que não houvesse
desenvolvimento comercial resultaram em uma tentativa fracassada na maioria das vezes.
Qualquer comunidade humana luta para ser um organismo, e não apenas o órgão de
um todo. O comércio internacional [da época de Ratzel], no entanto, busca transformar todos
os povos e países em órgãos de um sistema.
Qualquer vantagem de uma parte do território beneficia o todo, da mesmo modo
que algum dano também faz com que o todo seja prejudicado.

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