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Colégio Moderno – Ciência Política 12º

Estado

Estado – comunidade política organizada sob um governo.

A noção de Estado tem variado ao longo do tempo e há várias definições propostas,


mas a versão de Max Weber no livro A política como vocação, inclui os seus pilares
básicos. Assim, um Estado caracteriza-se por ter um determinado território, habitado
por uma dada população sob um aparelho de poder.

O poder dos Estados independentes ou soberanos não vem de nenhum outro Estado,
mas é seu por direito próprio. E aplica-se a todo o território e toda a população desse
Estado. O Estado tem, além disso, o monopólio do uso legítimo da força para impor
a ordem e assegurar o respeito pelas leis.

Embora a palavra Estado seja muitas vezes aplicada ao conjunto das instituições
governantes, ela não se esgota nessa aceção.

Para compreendermos melhor a evolução deste conceito ao longo da História,


recordemos que Estado, num primeiro momento, tinha o significado que lhe damos
com letra minúscula, isto é, estado, a condição de alguma coisa num determinado
momento. No que à política diz respeito, referia-se ao estado de uma dada
comunidade ou pessoa. E era usado para referir os diferentes estratos sociais. Mas
rapidamente se estendeu às propriedades ou domínios dessa pessoa, daí que, no caso
do rei, tenha acabado por alargar-se ao estado de um país.

Estado ao longo da História

O ser humano sempre foi gregário, isto é, sempre viveu em grupo, associando-se ao
seu semelhante para prosseguir interesses comuns (subsistência, proteção, conforto).
Esta forma de viver leva ao aparecimento de vínculos, que podem ser familiares,
locais, sociais, religiosos, etc. Famílias, comunidades de vizinhos, igrejas, associações
profissionais são disso exemplo. O Estado também, como veremos.

Em qualquer comunidade humana surge, naturalmente, quem lidere e quem siga.


Fosse pela força, pela inteligência ou pela iniciativa, as comunidades primitivas
tinham líderes. A necessidade de liderança explica-se por razões internas (é preciso
organizar os recursos e as atividades dentro do grupo) e externas (protegê-lo de
ameaças, ataques e travar os inevitáveis conflitos com outros grupos). Desses
conflitos nascem também relações de poder e dominação, quando uma comunidade
subjuga ou elimina outra, por exemplo.
O progresso da Humanidade, os avanços técnicos, a melhoria das condições de vida e
o crescimento da dimensão das comunidades e dos recursos ao seu dispor obrigaram a
criar estruturas mais complexas de organização das sociedades.

Embora haja divergências entre os estudiosos quanto ao momento exato do


surgimento do Estado, é consensual que duas conquistas da Humanidade contribuíram
para a sua formação, ao propiciarem as primeiras formas duradouras de poder
centralizado. A agricultura e a escrita foram elementos importantes para que tal
pudesse acontecer. A primeira permitiu a sedentarização das comunidades e levantou
a questão de como gerir os excedentes de produção acumulados, levando ao
surgimento do comércio e, necessariamente, das primeiras diferenças económicas. A
segunda permitiu a manutenção de registos e a centralização da informação. Este
aumento da quantidade de recursos disponíveis também tornou as comunidades mais
desejáveis para outras comunidades e, logo, vulneráveis a ataques.

A sedentarização faz com que várias comunidades nómadas se agrupem em tribos ou


federações de tribos. Ainda não se trata do Estado definido por Weber, pois as
extensões territoriais que dominavam não eram bem definidas. Mas há um claro
avanço, em termos de complexidade. Era necessário um poder que assegurasse o
cumprimento de normas sociais; manter a ordem dentro da coletividade, defendê-la de
ameaças externas; administrar os bens coletivos; dirimir conflitos. Caso contrário, a
sociedade não funcionaria.

É na Antiguidade Clássica que começamos a identificar entidades a que se pode


chamar Estado, embora não fossem iguais aos Estados modernos de hoje. A mais
importante foi a cidade-Estado grega, que surgiu no século VIII a.C., na senda das
cidades-Estado da Mesopotâmia e da Fenícia. As cidades-Estado reconheciam direitos
de cidadania aos seus habitantes (embora restrito, recordemos que havia pessoas livres
e escravos) e o seu Governo era já uma forma de democracia. Na Antiguidade, houve
também monarquias (como o Egito dos faraós), com um líder politico-religioso,
impérios como o romano (que passou de monarquia a república), mais centrado na
eficácia dos exércitos e cuja aristocracia estava representada num Senado.

O Estado moderno europeu

A queda de Roma deixou o império fragmentado e nas mãos de senhores vários, de


que viria a resultar a Europa feudal. Nela, a necessidade de os reis e senhores
conservarem o apoio – militar e económico – dos seus suseranos (cujo grau de
dependência era variável, bem como os impostos que pagavam) obrigava-os a
negociar, isto é, o poder não era absoluto nem totalmente centralizado. Foi dessa
negociação que nasceram os parlamentos. A formalização destas relações de poder
permitiu uma centralização do mesmo (bem como da imposição de leis) no soberano,
embora ele cedesse, como vimos, parte desse poder.

Ao longo da Idade Média, o capitalismo, o mercantilismo e o absolutismo evoluem a


par e passo na Europa. A manta de retalhos do início da era medieval dá lugar a
Estados modernos, cujas fronteiras são melhor definidas e que se reconhecem – sem
prejuízo de conflitos – uns aos outros (recordemos os três elementos de formação do
Estado definidos por Weber). O Estado moderno, hoje, não é exclusivo da Europa. Foi
copiado em todo o planeta. Mas foi no Velho Continente que surgiu.

À medida que o território se fixa e o poder se centraliza, deixamos de falar de povos


enquanto coletividades políticas e falamos mais frequentemente de nacionalidades
(portugueses, ingleses, franceses, em vez de suevos, visigodos ou alanos). Devemos
continuar a distinguir Estado de nação. Esta é uma entidade mais baseada na
experiência comum, na cultura, no sentimento de pertença, e menos nas instituições.
Daí que haja nações sem Estado (Curdistão, por exemplo) e Estados sem nações
propriamente ditas (Vaticano). Quando o Estado e a nação são coincidentes, podemos
falar de Estado-nação. Portugal é um deles.

É no final do século XV que começa a existir o que designamos por Estado, não na
aceção geográfica, mas para designar o aparelho de poder ou o sistema político (ver
considerações acima sobre a palavra estado). Autores como Thomas Hobbes, John
Locke e Jean Bodin são os responsáveis pela sua introdução.

O Estado, nesta nova aceção, tem como pedras basilares o território, a população e o
aparelho de poder, como vimos.

Território: basta olhar para um planisfério para constatarmos que as fronteiras entre
os Estados estão definidas (sem prejuízo de haver algumas disputas territoriais) e que
toda a superfície terrestre está ocupada por Estados (exceção feita à Antártida). O
território de um Estado costuma ser contínuo, mas nem sempre assim é. O Alasca,
embora faça parte dos Estados Unidos da América, está fisicamente separado do
território principal (há mais exemplos, desafio-vos a procurarem-nos). Idem para as
ilhas que fazem parte de Estados continentais. Além da área sólida ocupada por um
Estado, a lei internacional define, atualmente, águas territoriais e espaço aéreo.

População: hoje, e de modo geral, todos os seres humanos – ou quase – são cidadãos
de um Estado. A maioria dos cidadãos de um Estado vive no território geográfico
desse Estado, mas há exceções – veja-se os fenómenos de emigração e imigração. O
que une estes cidadãos (que não partilham necessariamente uma cultura, língua ou
religião, embora tal suceda com frequência) é o facto de estarem sujeitos a esse
Estado, de terem a obrigação de respeitar as suas leis e ordem social. O que une esta
quantidade heterogénea de pessoas é um sentimento de pertença que os Estados têm,
ao longo da História, feito por estimular (estímulo esse que, ao longo da História, foi
da promoção da cultura e da língua de um país, legítima e desejável, à imposição de
uma homogeneidade linguística, religiosa ou cultural artificial e violenta). Não é
difícil compreender que essa união reforça o poder de um Estado face aos outros e,
também, o poder nesse Estado.

Aparelho de poder: o sistema de poder de um Estado moderno é-lhe exclusivo. Pode


assumir as mais variadas formas (república, monarquia, ditadura, democracia, etc.),
mas tem em comum o facto de valer por si, de não depender nem ser concedido por
nenhum outro Estado, e de se aplicar à totalidade do território e a toda a população
desse Estado. Esse aparelho é único, isto é, nenhum outro tem legitimidade para
exercer a governação. E a legitimidade vem-lhe da lei. Dito isto, é evidente que há
formas de poder que não são consideradas legítimas vistas do exterior, e que
eticamente são reprováveis, mas que são o poder vigente nos respetivos Estados.
As duas principais atividades do aparelho de poder têm que ver com legislação e com
a prossecução de políticas públicas. Por um lado, fazer leis, aplicá-las, zelar pelo seu
cumprimento e resolver os casos de violação da mesma, com a consequente sanção.
Por outro, a administração do bem público através de decisões, tratados, acordos,
obras públicas, políticas setoriais (externa, ambiental, agrícola, educativa, social,
laboral, económica, de saúde, de defesa, cultural, etc.).

Para poder cumprir estas funções, o Estado precisa, à semelhança dos reis medievais,
de recursos económicos e de força. A cobrança de impostos, a administração pública
e as forças da ordem são vitais para o exercício do poder. A capacidade de decidir,
comunicar as decisões, vigiar o seu cumprimento e a evolução das políticas que põe
em prática depende, em larga escala, dos mecanismos burocráticos e administrativos
(que permitem manter registos e informação), da existência de forças militares e
policiais e, acima de tudo, da impossibilidade prática de um cidadão garantir a sua
sobrevivência sem estar inserido no sistema que o Estado controla.

Os Estados soberanos, sendo independentes, não estão isolados. Até os Estados mais
fechados, como a Coreia do Norte ou a Birmânia, estabelecem relações diplomáticas,
culturais, militares, comerciais, etc. com os demais Estados.

Hoje a maioria dos Estados soberanos cabe na definição de Max Weber, mas alguns
não detêm o monopólio do uso da força ou não impõem a lei em todo o seu território
(Sudão, Somália). Outros cumprem os três princípios de Weber mas não são
reconhecidos internacionalmente (Somalilândia, República Turca do Chipre do
Norte). A falta de reconhecimento dificulta, por vezes, o estabelecimento de laços
(diplomáticos, económicos, culturais) com outros Estados.

Além dos Estados soberanos, existem Estados federados, que fazem parte de um
Estado maior (os 50 Estados dos EUA, os da Alemanha, Brasil, México), sendo-lhes
delegados alguns poderes. Os Estados associados estabelecem associações com
Estados maiores ou mais poderosos, pelo que a sua soberania é limitada (Palau ou
Ilhas Marshall com os EUA; Niue e ilhas Cook com a Nova Zelândia).

Com a globalização, o esbater das fronteiras e o surgir de entidades supranacionais e


transnacionais, há quem advogue o fim do Estado. Marx previu-o nos seus escritos,
mas também os movimentos anarquistas e libertários o defendem. O movimento
internacionalista faz disso uma bandeira.

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