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TEMA 01 – A FORMAÇÃO DO ESTADO-NAÇÃO

Parte 01 – Estado: a questão fundamental no


pensamento politico moderno

ARA0192 – Ciência Política e Teoria Geral do Estado


Profa. Valéria Mikaluckis
II – Construção do Pensamento
Político
SITUAÇÃO PROBLEMA S-1 e S-2

Como Maquiavel e Hobbes conceberam de Reflita sobre como Rousseau, Locke e


forma diversa a genealogia, o papel e as funções Montesquieu conceberam de forma
do Estado? diversa a genealogia, o papel e as funções
do Estado
Origem e formação do Estado:

Denominação: Estado (do latim status = estar firme). Situação de


permanência de convivência de uma sociedade política. A primeira vez em
que o termo aparece é na obra “O Príncipe” (1513), de Maquiavel.
Para muitos autores, o Estado é uma forma de organização política que
somente surge nos Séculos XVI e XVII, não somente pelo nome, mas
também por certas características bem definidas.
Para outros, o termo pode ser utilizado também para sociedades anteriores
que tiveram alguma autoridade superior.
Origem e formação do Estado:
Teorias a respeito do surgimento do Estado:

Não existe consenso quanto ao surgimento do Estado, mas algumas posições


majoritárias tais como:
● O Estado sempre existiu: desde que o homem habita a terra, ele está
integrado em uma ordem social, com poder e autoridade superiores. O
Estado é um princípio de organização social universal. (Meyer/ Koppers)

● O Estado nem sempre existiu: quando foi necessário, o Estado surge como
forma de organização política para atender às conveniências da sociedade.
O Estado foi aparecendo conforme as condições concretas de cada lugar.
Origem e formação do Estado:
Teorias a respeito do surgimento do Estado:
Podemos qualificar o Estado quanto à sua formação, que pode se dar através da Formação Originária
(grupos humanos ainda não integrados em qualquer Estado), ou através da Formação Derivada
(formação de Estados a partir de outros preexistentes).
Formação originária:
A. Formação natural: o Estado se forma naturalmente de forma semelhante nas sociedades humanas;
B. Formação contratual: o Estado é resultado de um acordo de vontade entre alguns ou todos os
homens de uma sociedade política.
Formação derivada:
A. Fracionamento: uma parte do território do Estado se desmembra e passa a constituir um novo
Estado.
B. União: adoção de uma Constituição comum, desaparecendo os Estados preexistentes que
aderiram à nova forma, a União dos Estados
TEORIAS SOBRE A FORMAÇÃO DO ESTADO
a) Formação Natural (NATURALISTAS/NÃO-CONTRATUALISTAS)
• familiar ou patriarcal.
• atos de conquista. Relação de vencedor e vencido.
• causas econômicas ou patrimoniais. (Marx e Engels – Estado como instrumento da
burguesia para a exploração do proletariado)
• desenvolvimento espontâneo e interno da sociedade que acarreta o
surgimento do Estado.

b) Formação Contratual (CONTRATUALISTAS)


Apresentam em comum, apesar de divergirem entre si quanto às causas,
a ideia de que foi a vontade de alguns homens ou de todos os homens
que levou a criação do Estado.
Formação do Estado Nação
ESTADO: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Estado Antigo (Oriental / Teocrático)
Os tipos estatais não tem curso uniforme,
- Formas políticas mais antigas, desenvolvidas
podendo muitas vezes ter influência em períodos
nas civilizações orientais mais antigas e
descontínuos.
também na região do Mediterrâneo. A família,
É possível estabelecer com objetividade tipos de a religião, a economia e a política formam um
Estados? só conjunto, não sendo possível isolar uma
dessas características; todas elas eram
Segundo Jellinek é possível, o autor demonstra conjugadas nessas civilizações.
que é possível reunir características comuns em - Duas marcas fundamentais:
vários tipos de Estados, independentemente de
suas diferenças. • Natureza unitária: não admite divisão
interior, seja territorial, seja funcional.
• Religiosidade: a autoridade dos
governantes é uma expressão do poder
divino.
Formação do Estado Nação
Estado Grego (Polis) Estado Romano (Civitas)
- Refere-se a certas - Roma, apesar da expansão territorial e dos séculos de dominação, sempre
características comuns nas manteve as características de cidade-Estado. A grande extensão dos
polis da civilização helênica domínios e o posterior cristianismo possibilitaram a crise desse modelo e as
(Esparta , Atenas etc) novas formas políticas surgidas na Idade Média.
- Base familiar de organização: a civitas resultou da união de grupos
- Ideal de autossuficiência de
familiares, razão pela qual os membros das famílias patrícias sempre tiveram
cada cidade-Estado
privilégios.
- Democracia. Parte restrita - Incialmente caracterizada por uma pluralidade jurídica dos domínios, com o
da população participava advento do Império verificou-se uma integração jurídicas dos povos
das decisões. conquistados.
- Com a naturalização de todos os povos do Império em 212 e com a
segurança de liberdade religiosa concedida pelo Edito de Milão em 313, a
noção de superioridade dos romanos com cidadania diferenciada
desapareceu, iniciando a fase de transição para o medievo.
Formação do Estado Nação
Estado Medieval (Regnum)
- Formas políticas instáveis e heterogêneas.
- Elementos presentes na presentes na sociedade medieval: Cristianismo, Invasões Bárbaras e Feudalismo.
- Universalidade pretendida pelo cristianismo. Ideia de que todos os homens valem de forma igual, não importando
sua origem. Todos os cristãos deveriam ser integrados em uma só sociedade política.
- Criação do Império em 800, mas na prática não havia uma autoridade suprema diante a multiplicidade de núcleos
de poder.
- Conflito entre poder espiritual (Papa) e o poder temporal (Imperador e Reis)
- Valorização e dependência da propriedade da terra, onde todos deveriam tirar sua subsistência.
- Sistema militar e administrativo ligados à situação patrimonial do ESTADO.
Formação do Estado Nação
Estado Moderno
Depois da organização política medieval – uma série de poderes ou autoridades, cada qual
com ampla jurisdição, verticalmente dispostos – vai ressurgir a ideia de Estado, na plena
ascensão do termo.

Pois o poder centraliza–se e concentra–se no Rei e toda a autoridade pública passa e emanar
dele; ele atinge todos os indivíduos – por serem súditos do mesmo Rei; o território adquire
limites precisos e a todas as parcelas o governo central vai fazer chegar a sua lei.

Também, mais do que em qualquer outra época ou civilização, essa concentração acompanha–
se de uma crescente institucionalização, determinada pelo próprio alargamento da
comunidade política e pelo reforço do aparelho de poder, bem como pelas transformações
intelectuais que, entretanto, ocorrem. E com o constitucionalismo todo o Estado ficará
envolvido por regras e processos jurídicos estritos.
Formação histórica do Estado

Revolução
Paz Vestfália Francesa
1648 1789
Concepção Estado
Medieval Absoluto
de Estado
Nascimento do Estado moderno

Formação do Direito Internacional Público:


Sociedade Internacional de Estados Nacionais

Paz de Vestfália de 1648

Formação do Estado Nacional propriamente dito:


Estado Absoluto com os três elementos essenciais –
povo, território e soberania una e indivisível.
• Em um esforço sintético, podemos dizer que o modelo westphaliano de Estado
simboliza, a um só tempo:
• a) a passagem do Estado Medieval para o Estado Absoluto;
• b) a criação do Direito Internacional Público, tal qual é concebido nos dias atuais;
• c) o nascimento do Estado Nacional propriamente dito, formado a partir da coexistência
dos seus três grandes elementos essenciais (povo, território e soberania una e
indivisível).

Trataremos a seguir dos


elementos do Estado
MAQUIAVEL

Na obra O Príncipe faz a defesa monárquica


absolutista, isto é, a centralização do poder politico
nas mãos do soberano.
Formação do Estado Nação
Ponto de ruptura com o Pensamento Clássico

Antes de entrarmos na discussão contratualista, cabe analisar


um autor que pode ser considerado o “ponto de ruptura” com o
pensamento clássico.

Pode-se dizer que esse ponto tem um dos nomes mais


conhecidos da Política, seja ela a Ciência ou a Política cotidiana.
Estamos falando do Florentino Nicolau Maquiavel.

Produto típico do Renascimento, suas ideias refletem a transição


da Idade Média para os novos tempos.

Viveu em momento de grande agitação na Itália (final do século


XV e começo do século XVI) tendo em vista varias invasões de
franceses, espanhóis, suíços e alemães na Itália.
Formação do Estado Nação
Ponto de ruptura com o Pensamento Clássico

Amadureceu a convicção de que um Estado forte e um Exército nacional


eram os únicos meios de libertar a Itália de seus invasores. Por este motivo Você sabia que a palavra Estado
escreveu O Príncipe dedicado a Lourenço de Médici. foi usada pela primeira vez na obra
O príncipe, de Maquiavel?
Ele rejeita toda a filosofia política anterior que estava direcionada ao
modo de governar.

Em sua obra O príncipe, Maquiavel procurou mostrar a verdade


efetiva dos fatos, a conquista e a manutenção do poder. Para Maquiavel
o poder está distante da ética, ao menos no sentido da teoria política grega -
dissociação entre Moral e Política
Formação do Estado Nação
Ponto de ruptura com o Pensamento Clássico

Maquiavel foi ousado em dizer, de forma explícita, a maneira como O príncipe:


deve comportar-se o homem público para manter-se no poder, Objetivo da obra: saber qual é a
propondo uma análise empírica do fenômeno político. essência dos principados, quantas
espécies de principados existem e
Também foi precursor na maneira sarcástica de evidenciar os como surgem, como se mantém e
comportamentos dos políticos que buscam o poder -Ressalva que o porque se perdem.
conflito é inerente aos seres humanos.
Pensando na situação italiana,
Maquiavel procura apenas definir
Em seus escritos Maquiavel apresenta a realidade o governante para
as condições de que depende a
se manter no poder. ordem e de como é possível
estabelecer um Estado estável, por
O poder gera conflitos, assim Maquiavel alerta que para governar é este motivo se interessa mais por
necessário astúcia e estratégias. definir as qualidades do Príncipe
do que o Estado em si.
Defendeu a legitimidade do poder, ignorando o direito divino e
determinando como origem do poder a força.
Formação do Estado Nação
Ponto de ruptura com o Pensamento Clássico

O ideal do Príncipe: “Um homem que quer ser


• Não há de se fazer especulações sobre o que o Príncipe deve ser, mas perfeitamente honesto entre
de definir a sua conduta em face das realidades. gente desonesta não pode
deixar de, cedo ou tarde,
Figura moral do Príncipe: perecer. Um príncipe que quer
manter-se deve aprender a não
“Um príncipe não pode exercer impunemente todas as virtudes do ser sempre bom, para que tal
homem médio, porque o interesse da sua conservação o obriga muitas como as circunstancias e o
vezes a violar as leis da humanidade, da caridade, da lealdade e da interesse da sua conservação o
religião. Ele deve perseverar no bem, quando nisso não vê poderão exigir”.
inconveniente, e desviar-se dele quando as circunstancias o exigem.”
“Não deve (o príncipe) temer
• Príncipe deve ser um realista, preocupado com o êxito da ação. incorrer em censura pelos vícios
uteis à conservação dos seus
Estados”.
Formação do Estado Nação
Ponto de ruptura com o Pensamento Clássico

O príncipe e a sua relação com os súditos:

“ao príncipe convém mais ser temido do que amado porque os homens
em geral são mais inclinados a poupar o que se faz temer do que o que
se faz amar”.

“quando se trata de manter os seus súditos no dever, não se deve temer


a censura de crueldade, tanto mais que, afinal, o príncipe acabara por
ser mais humano dando um pequeno numero de exemplos necessários
do que aqueles que por demasiada indulgencia encorajam as desordens
e provocam o assassinato e o banditismo.”

Pergunta-se: Na política, os fins justificam os


meios?
Formação do Estado Nação
Síntese do pensamento de Maquiavel

O Estado é a única organização cuja ação mobiliza todos, visto


que dispõe de todos os meios e bens materiais de gestão e
coação.

O Estado é um meio de cooptação e coerção que age sobre a


sociedade e os indivíduos. A figura do Príncipe é uma forma de
corporificação da paz, para que esse conflito seja amenizado, daí
a necessidade de instrumentalizar-se o Príncipe.

O Príncipe deve governar pela força e pela Virtù, que se compõe


de várias qualidades pessoais.
Formação do Estado Nação
Síntese do pensamento de Maquiavel

A Virtú que nos propõe Maquiavel é no sentido da capacidade e da qualidade para a


realização da história, enquanto força criadora, racionalidade, ação calculada capaz
de fazer o homem ser sujeito de sua história.

A perspectiva de Maquiavel aponta nesse sentido que a política não comporta


voluntarismos, posto que a ação do homem em Maquiavel é marcada pelo cálculo e
pelas circunstâncias que permitem a ação política.

Fortuna e Virtú são meios e fins da ação política, nos aponta Maquiavel, sendo
a Virtù a capacidade, qualidade de força social, de realização de uma razão
calculada, e a fortuna, a ocasião concreta para a realização da ação política do
homem dotado de Virtù.

É a circunstância que permite a eficácia da iniciativa política.

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