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A palavra Estado vem do latim “status”, verbo stare, que significa manter-se em pé,
sustentar-se. Na antiguidade clássica, em Roma, a palavra para designar o complexo
político administrativo que organizava a sociedade era “status rei pubblicae”, ou seja,
situação de coisa pública; na Grécia, a palavra usada era polis.
A palavra latina “status” passa a ser utilizada desde então para designar o conjunto
de instituições e pessoas que detinham o domínio sobre um território e seus
habitantes (BOBBIO).
O Estado é produto do artificio humano, para retomar um termo caro a Maquiavel, uma obra
da virtù, não um desdobramento da natureza. Por isso mesmo, Maquiavel tem clara
consciência de que uma das tarefas mais difíceis consiste na introdução de uma nova ordem
política, de um novo “Estado”. Um dos objetivos do livro O Príncipe é precisamente
demonstrar as resistências que todo criador de uma nova ordem política ou de um novo
Estado terá que enfrentar.
Maquiavel, que era apaixonado pelo estudo da história, busca encontrar exemplos de estadistas bem
sucedidos que sirvam como modelo para ação no presente. Essa perspectiva da história como mestra da
vida, de que o estudo do passado pode ser instrumentalizado para guiar nossa ação no presente é central na
elaboração do seu pensamento político. Ao estudar as causas dos êxitos e fracassos de estadistas do
passado e do presente, Maquiavel chega a uma conclusão que terá grande repercussão nos séculos
posteriores: a ação do estadista não pode ser julgada a partir de critérios morais absolutos de bem ou mal,
mas apenas por critérios exclusivamente políticos. Uma boa ação política é aquela que promove uma
consolidação do poder do Estado, e não a que realiza um fim moral externo à própria política.
Por exemplo, ainda que a mentira seja algo moralmente condenável, muitas vezes o estadista precisará
mentir – seja para inimigos seja para aliados – para manter ou consolidar seu poder. Vejam como Maquiavel
se refere a essa questão:
“(...) um Príncipe prudente não pode, nem deve, guardar a palavra dada, quando
isso se torna prejudicial ou quando deixam de existir as razões que o haviam
levado a prometer. Se os homens fossem todos bons, este preceito não seria bom,
mas como são maus e não mantêm sua palavra para contigo, não tens
também que cumprir a tua” (MAQUIAVEL, 2004, p. 84)
Isso quer dizer que a vida pública não está submetida aos mesmos critérios morais
da vida privada. Em outras palavras, Maquiavel sustenta a tese da emancipação
ética da política ou a amoralidade da política, pois para ele o poder político não
pode estar submetido ao poder espiritual da Igreja, nem aos juízos morais que
organizam a vida privada. Esse tema é fundamental para a compreensão do Estado
moderno, pois implica reconhecer que o Estado se constitui como uma instância
autônoma e segue uma dinâmica própria não redutível a outras esferas da vida
social. A razão de Estado tem precedência sobre as razões privadas.
Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de
que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar
uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens
pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo,
ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio
sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja
longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que confiou
inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de outros meios de defesa, está
perdido: as amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma,
são compradas, mas com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não se torna
possível utilizá-las. (MAQUIAVEL)
Ainda que Maquiavel em muitas passagens demonstre sua predileção pelo modelo republicano que garante formas de
participação do povo no poder político (MAQUIAVEL, 2007), ele enxerga a construção de um Estado, qualquer que seja ele,
como um bem em si, dando pouca atenção para a justificação para o exercício do poder político.
O pensador inglês Thomas Hobbes (1588-1679) que escreveu seu famoso livro O Leviatã tentará preencher essa lacuna,
empenhando-se em estabelecer os princípios que funda-mentam a obediência política ao Estado. Tal como Maquiavel,
Hobbes viveu em um momento de extrema instabilidade política e de guerras religiosas.
Para Hobbes, os homens precisavam de um Estado forte, pois a ausência de um poder superior resultava na guerra. O ser
humano, que é egoísta, se submetia a um poder maior, somente para que pudesse viver em paz e também ter condição de
prosperar.
Não por acaso, Hobbes chama o "Estado" de Leviatã, um dos nomes que o diabo recebe na Bíblia, com o propósito de
reforçar que é a natureza perversa do homem que o faz buscar a união com outros homens.
O Estado, por sua parte, terá o dever de evitar conflitos entre os seres humanos, velar pela segurança e preservar a
propriedade privada.
John Locke nasceu em 1632 e faleceu em 1702, na Inglaterra. Sua vida discorreu no mesmo período da
Revolução Inglesa que redefiniu o poder monárquico britânico.
Segundo Locke, o homem vivia num estado natural onde não havia organização política, nem social. Isso
restringia sua liberdade e impossibilitava o desenvolvimento de nenhuma ciência ou arte. O problema é que
não existia um juiz, um poder acima dos demais que pudesse fiscalizar se todos estão gozando dos direitos
naturais.
Então, para solucionar este vazio de poder, os homens vão concordar, livremente, em se constituir numa
sociedade política organizada. O homem poderá influir diretamente nas decisões políticas da sociedade civil
seja através do exercício da democracia direta ou delegando a outra pessoa seu poder de decisão. Este é o
caso da democracia representativa, na qual os cidadãos elegem seus representantes. Por sua parte, o
Estado tem como fim zelar pelos direitos dos homens tais quais a vida, a liberdade e a propriedade privada.
Jean-Jacques Rousseau nasceu na Suíça, em 1712 e faleceu na França, em 1778, onde passou a maior
parte de sua vida.
Ao contrário de Hobbes e Locke, Rousseau vai defender que o homem, no seu estado natural, vivia em
harmonia e se interessava pelos demais. Para Rousseau, a vida numa sociedade em vias de
industrialização não favoreceu os homens no seu aspecto moral. À medida que o desenvolvimento
técnico foi ganhando espaço, o ser humano se tornou egoísta e mesquinho, sem compaixão pelo seu
semelhante.
Por sua vez, a sociedade tornou-se corrupta e corrompia o ser humano com suas exigências para suprir
a vaidade e o aparentar daquela sociedade. Desta maneira, Rousseau relaciona o aparecimento da
propriedade privada com o surgimento das desigualdades sociais. Assim era preciso que surgisse o
Estado a fim de garantir as liberdades civis e evitar o caos trazido pela propriedade privada. As ideias de
Rousseau serão aproveitadas por vários participantes da Revolução Francesa e também,
posteriormente, ao longo de todo século XIX pelos teóricos do socialismo.
Max Weber afirmou que o Estado Moderno se definiu a partir de duas
características: a existência de um aparato burocrático administrativo, cuja
função é prestar serviços públicos; e o monopólio legítimo da força. Weber
defendia que o Estado era o único que poderia empregar a violência legalmente
para que pudesse exercer o controle da sociedade.