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O conceito de Estado

2ª Série – Sociologia – professor Aderivaldo


O Estado é um conjunto distinto de instituições que têm autoridade para fazer
regras que governam a sociedade. Ele tem, segundo Max Weber, “o
monopólio da violência legítima” dentro de terminado território. Assim, o
Estado inclui instituições como as forças armadas, o serviço – público – civil e a
burocracia estatal. Consequentemente, ele não é uma entidade única. Seria
muito mais um conjunto de instituições que descrevem o terreno e os
parâmetros para o conflito político entre os vários interesses sobre o uso dos
recursos e das políticas públicas. (Gordon Marshall).

É uma combinação de uma grande comunidade (nação) e uma forma (Estado)


territorial e política criando uma entidade político cultural, hoje a “unidade de
sobrevivência” mais difundida no mundo. (Giddens)
O Estado é, em sínteses, uma entidade compostas por diversas instituições de caráter
político, que comanda um tipo complexo de organização nacional.

A palavra Estado vem do latim “status”, verbo stare, que significa manter-se em pé,
sustentar-se. Na antiguidade clássica, em Roma, a palavra para designar o complexo
político administrativo que organizava a sociedade era “status rei pubblicae”, ou seja,
situação de coisa pública; na Grécia, a palavra usada era polis.

A palavra latina “status” passa a ser utilizada desde então para designar o conjunto
de instituições e pessoas que detinham o domínio sobre um território e seus
habitantes (BOBBIO).

O Estado Nacional surgiu na Europa Moderna, entre os séculos XV e XVIII. Naquele


contexto, a Europa era governada por Monarquias Absolutistas e constitucionais que
haviam absorvido diversas unidades políticas menores.
A formação dos Estados modernos a partir do século XVI
corresponde portanto a um processo de concentração de
poder, marcado pela expropriação dos antigos barões feudais
em favor do monarca absolutista. O Estado moderno cria um
aparato administrativo separado as sociedade e torna-se o
detentor do monopólio legítimo da força.

De modo geral pode-se dizer que os principais teóricos


políticos do século XVI e XVII – como Jean Bodin, Nicolau
Maquiavel e Thomas Hobbes – refletem sobre esse processo
de consolidação e estabilização da autoridade estatal. Não
obstante as diferenças conceituais17Prof. Dr. Wendel
Antunes Cintrae teóricas, há nesses autores um ideal
O absolutismo teve como principal característica a normativo de construção de uma ordem política estável e
concentração do poder político e administrativo no monarca,
destruindo as bases do poder local típicas do feudalismo duradoura e que estabeleça critérios claros para a
medieval. Luís XIV – monarca francês que ficou conhecido como
“Rei Sol” – é a expressão mais emblemática desse processo na obediência civil
Europa do século XVII.
O Estado segundo Nicolau Maquiavel

A obra de Maquiavel é reveladora da preocupação com a


consolidação de um Estado moderno na Itália. A experiência da
Itália no século XVI é de fragmentação do poder, de instabilidade
política e a submissão a potências estrangeiras.

É importante recordar que no século XVI não havia a “Itália”


propriamente dita, no sentido de um Estado nacional unificado,
que só se realizará séculos mais tarde, mais precisamente em
1870. A península itálica do tempo de Maquiavel estava divida
em uma série de pequenos principados e republicas: os Estados
papais, governados pela Igreja Católica na região de Roma; os
principados e repúblicas no norte, como Veneza, Florença e Milão; e
o Reino de Nápoles, ao sul.
As invasões de franceses, austríacos e espanhóis ao
território italiano – muitas vezes auxiliados e
apoiados pelos próprios governantes italianos contra
seus inimigos – eram constantes. Enquanto que os
vizinhos dos Italianos, notadamente a França e a
Espanha, já haviam realizado em grande medida seu
processo de centralização política e administrativa e
consolidaram seu domínio sobre o território, a
península itálica continuava dividida, política e
militarmente enfraquecida.

Nesse contexto, o projeto político que orienta a obra


de Maquiavel é precisamente a construção de um
Estado nacional italiano, a unificação do país sob a
mesma ordem política. O pensador florentino está
empenhado em criar um “ciência política” baseada
na “verdade efetiva” (verità effettuale) das coisas;
isto é, não em ideais utópicos, mas no conhecimento
da realidade, da experiência concreta dos homens.
Para Maquiavel o Estado não é um desdobramento natural das tendências políticas do
homem, tampouco é a instância da realização de ideais éticos, tal como propunha
Aristóteles. A conquista e manutenção do Estado depende da ação humana, das qualidades,
seja de um príncipe, no caso de uma monarquia, seja dos cidadãos em geral, no caso de uma
república.

O Estado é produto do artificio humano, para retomar um termo caro a Maquiavel, uma obra
da virtù, não um desdobramento da natureza. Por isso mesmo, Maquiavel tem clara
consciência de que uma das tarefas mais difíceis consiste na introdução de uma nova ordem
política, de um novo “Estado”. Um dos objetivos do livro O Príncipe é precisamente
demonstrar as resistências que todo criador de uma nova ordem política ou de um novo
Estado terá que enfrentar.
Maquiavel, que era apaixonado pelo estudo da história, busca encontrar exemplos de estadistas bem
sucedidos que sirvam como modelo para ação no presente. Essa perspectiva da história como mestra da
vida, de que o estudo do passado pode ser instrumentalizado para guiar nossa ação no presente é central na
elaboração do seu pensamento político. Ao estudar as causas dos êxitos e fracassos de estadistas do
passado e do presente, Maquiavel chega a uma conclusão que terá grande repercussão nos séculos
posteriores: a ação do estadista não pode ser julgada a partir de critérios morais absolutos de bem ou mal,
mas apenas por critérios exclusivamente políticos. Uma boa ação política é aquela que promove uma
consolidação do poder do Estado, e não a que realiza um fim moral externo à própria política.

Por exemplo, ainda que a mentira seja algo moralmente condenável, muitas vezes o estadista precisará
mentir – seja para inimigos seja para aliados – para manter ou consolidar seu poder. Vejam como Maquiavel
se refere a essa questão:
“(...) um Príncipe prudente não pode, nem deve, guardar a palavra dada, quando
isso se torna prejudicial ou quando deixam de existir as razões que o haviam
levado a prometer. Se os homens fossem todos bons, este preceito não seria bom,
mas como são maus e não mantêm sua palavra para contigo, não tens
também que cumprir a tua” (MAQUIAVEL, 2004, p. 84)
Isso quer dizer que a vida pública não está submetida aos mesmos critérios morais
da vida privada. Em outras palavras, Maquiavel sustenta a tese da emancipação
ética da política ou a amoralidade da política, pois para ele o poder político não
pode estar submetido ao poder espiritual da Igreja, nem aos juízos morais que
organizam a vida privada. Esse tema é fundamental para a compreensão do Estado
moderno, pois implica reconhecer que o Estado se constitui como uma instância
autônoma e segue uma dinâmica própria não redutível a outras esferas da vida
social. A razão de Estado tem precedência sobre as razões privadas.
Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de
que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar
uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens
pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo,
ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio
sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja
longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que confiou
inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de outros meios de defesa, está
perdido: as amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma,
são compradas, mas com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não se torna
possível utilizá-las. (MAQUIAVEL)
Ainda que Maquiavel em muitas passagens demonstre sua predileção pelo modelo republicano que garante formas de
participação do povo no poder político (MAQUIAVEL, 2007), ele enxerga a construção de um Estado, qualquer que seja ele,
como um bem em si, dando pouca atenção para a justificação para o exercício do poder político.

O pensador inglês Thomas Hobbes (1588-1679) que escreveu seu famoso livro O Leviatã tentará preencher essa lacuna,
empenhando-se em estabelecer os princípios que funda-mentam a obediência política ao Estado. Tal como Maquiavel,
Hobbes viveu em um momento de extrema instabilidade política e de guerras religiosas.

Para Hobbes, os homens precisavam de um Estado forte, pois a ausência de um poder superior resultava na guerra. O ser
humano, que é egoísta, se submetia a um poder maior, somente para que pudesse viver em paz e também ter condição de
prosperar.

Não por acaso, Hobbes chama o "Estado" de Leviatã, um dos nomes que o diabo recebe na Bíblia, com o propósito de
reforçar que é a natureza perversa do homem que o faz buscar a união com outros homens.
O Estado, por sua parte, terá o dever de evitar conflitos entre os seres humanos, velar pela segurança e preservar a
propriedade privada.
John Locke nasceu em 1632 e faleceu em 1702, na Inglaterra. Sua vida discorreu no mesmo período da
Revolução Inglesa que redefiniu o poder monárquico britânico.

Segundo Locke, o homem vivia num estado natural onde não havia organização política, nem social. Isso
restringia sua liberdade e impossibilitava o desenvolvimento de nenhuma ciência ou arte. O problema é que
não existia um juiz, um poder acima dos demais que pudesse fiscalizar se todos estão gozando dos direitos
naturais.

Então, para solucionar este vazio de poder, os homens vão concordar, livremente, em se constituir numa
sociedade política organizada. O homem poderá influir diretamente nas decisões políticas da sociedade civil
seja através do exercício da democracia direta ou delegando a outra pessoa seu poder de decisão. Este é o
caso da democracia representativa, na qual os cidadãos elegem seus representantes. Por sua parte, o
Estado tem como fim zelar pelos direitos dos homens tais quais a vida, a liberdade e a propriedade privada.
Jean-Jacques Rousseau nasceu na Suíça, em 1712 e faleceu na França, em 1778, onde passou a maior
parte de sua vida.

Ao contrário de Hobbes e Locke, Rousseau vai defender que o homem, no seu estado natural, vivia em
harmonia e se interessava pelos demais. Para Rousseau, a vida numa sociedade em vias de
industrialização não favoreceu os homens no seu aspecto moral. À medida que o desenvolvimento
técnico foi ganhando espaço, o ser humano se tornou egoísta e mesquinho, sem compaixão pelo seu
semelhante.

Por sua vez, a sociedade tornou-se corrupta e corrompia o ser humano com suas exigências para suprir
a vaidade e o aparentar daquela sociedade. Desta maneira, Rousseau relaciona o aparecimento da
propriedade privada com o surgimento das desigualdades sociais. Assim era preciso que surgisse o
Estado a fim de garantir as liberdades civis e evitar o caos trazido pela propriedade privada. As ideias de
Rousseau serão aproveitadas por vários participantes da Revolução Francesa e também,
posteriormente, ao longo de todo século XIX pelos teóricos do socialismo.
Max Weber afirmou que o Estado Moderno se definiu a partir de duas
características: a existência de um aparato burocrático administrativo, cuja
função é prestar serviços públicos; e o monopólio legítimo da força. Weber
defendia que o Estado era o único que poderia empregar a violência legalmente
para que pudesse exercer o controle da sociedade.

Em linhas gerais, podemos considerar que cabe ao Estado Moderno domínio da


força e da repressão, a proteção do território e do povo, o estabelecimento da lei
e a manutenção da infraestrutura da sociedade. Não podemos confundir Estado
com nação, já que nação é uma grande comunidade que compartilha identidade,
tradições sentimentos de pertencimento a um mesmo grupo.

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