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SAVATER, Fernando. A disciplina da liberdade. IN: SAVATER, Fernando. O valor do


educar. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

“O ensino sempre implica uma certa forma de coação, de luta entre vontades” (p 107)

“Não sede mais imperiosa do que a de tentar perpetuar nossa experiencia, nossa memória coletiva,
nossos hábitos e nossas destrezas transmitindo-as aos que provém aos que provém de nossa carne crescem
em nossa comunidade. (p. 109)

“A educação constitui algo parecido com uma obra de arte coletiva que dá forma a seres humanos
em vez de escrever em papel ou escupir em mármore. E, como qualquer obra de arte, há sempre muito mais
autoafirmação narcisística do que altruísmo” (p. 109).

“Manufatura de seres humanos” tendo por molde outros seres humanos.

“Todos os bons professores conhecem sua condição potencial de suicidas: imprescindíveis no


começo, seu objetivo é formar indivíduos capazes de prescindir de ajuda, de caminhar por si mesmos, de
esquecer ou desmentir quem os ensinou” (p. 111).

“Sem dúvida, um objetivo explícito do ensino, modernamente, é conseguir indivíduos


autenticamente livres. No entanto, como admitir sem receio ou escândalo que o caminho para ser livre a
autônomo passe por uma série de coações de instruções, por uma habituação diversas maneiras de
obediência?”. (p. 111)

“A liberdade não é ausência total de condicionamentos (quanto menores nós somos mais estamos
escravizados por aquilo sem o que não poderíamos sobreviver, mas a conquista de autonomia simbólica por
meio do aprendizado o que nos aclimata a inovações e escolhas dentro da comunidade (p. 112)

“Não se pode educar a criança sem a contrariar em maior ou menor medida. Para poder ilustrar é
preciso, antes, formar a sua vontade e isso sempre dói bastante” (p. 114)

“A autonomia, as virtudes sociais, a disciplina intelectual todos os elementos que não constituem o
‘ele mesmo’ do homem moderno ainda não se encontram no aluno, mas devem ser impostos como modelos
exteriores (...) Se o educador não oferecer o modelo racionalmente adequado, a criança não crescerá sem
modelos, mas se identificará com os que forem propostos pela televisão... (p. 115).

“Na criança não há uma essência acabada, mas virtualidades que podem ser orientadas para avançar
na plenitude pessoal” (p. 115).

“O que o neófito quer é que lhe entregamos o universo com todas as suas tarefas e aventuras, que
lhe ofereçam os mínimos detalhes do que já existe sem lhes pedir permissão nem obedecer à sua vontade,
que o enriqueçamos dando a chave do que o cerca e não que mergulhemos nele para pescar pérolas que de
todo modo virão À luz no tempo certo” (p. 116).

O autor é crítico à uma visão fantasiosa de que o aluno é uma árvore de criatividade que é mutilada
pela pedagogia. Essa, a propósito, é falsamente uma ideia atribuída à crítica rousseana da pedagogia.
(Rousseu não a fez desse modo). O que defendem é que deve-se deixar a criança expressar a sua criatividade
e a pedagogia deve seguir, de longe, o seu curso.

“Nada é tão provocativo como a sensatez”.

Lévi-Strauss – todas as crianças são criativas quanto às suas possibilidades, mas, não quanto à
capacidade efetiva de realiza-las. Fernando Savater retoma esse pressuposto de Lévi-Strauss e defende que a
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“multidão de dons psicofísicos que compõem o nosso equipamento genético não é maturada e
potencializada sem um adestramento adequado. O dilema segue presente: isso não é mutilar? Savater retoma
Lévi-Strauss:
“As funções mentais resultam de uma seleção que suprime todas as capacidades latentes. Enquanto
subsistema, elas nos navalham com toda razão , mas seria ingênuo não nos inclinamos diante da necessidade
inevitável de que todo aprendizado, inclusive o escolar, se traduza num empobrecimento” (Lévi-Strauss
apud Savater, p. 117).

“A melhor educação é a que potencializa o maior número de virtualidades e as faça coexistir


harmoniosamente”.

O professor só ensina e o aluno só aprende? Esse é um ponto a ser questionável do texto.

“O sujeito histórico jamais chega ao conhecimento [estando] à margem dos poderes sociais
vigentes, mas sempre no contexto resultante da sua interação que nunca é simples e, muito menos, neutro”
(p. 119).

Savater menciona Foucault e a maneira como a sociedade se tornou disciplinar.

“Os exercícios que se programa para o corpo e para a alma respondem a alaguns interesses
específicos em cada época são determinados pelos grupos dominantes e pela evolução defensiva da sua
própria forma de dominação” (p. 120).

Concepção dual de poder: por um lado o poder da disciplina é responsável final por qualquer
procedimento moderno de educação. Por outro lado, não se sabe se podemos manter o pensamento crítico.

O autor continua argumentando em favor de um processo educacional que leve os alunos a


adquirirem habilidades pertinentes pela escola (vai contra Bourdieu).

“O brincar e as coisas que derivam do brincar aprendemos sozinhos. À escola vamos para aprender
aquilo que nos é ensinado em outros lugares”. (p. 124)

“Um empenho trabalhoso e disciplinado, além de gratificante em si mesmo, pode ser requisito
indispensável para compreender, por dentro, a tarefa cultural que nos humaniza, que deve ser reafirmada
hoje com mais força do que nunca” (p. 114-115).

“O paradoxo de toda formação é que o eu responsável se forja a partir de escolhas induzidas pelas
quais o sujeito ainda não se responsabiliza” (p. 127).

“O aprendizado do autocontrole inicia-se com as ordens e indicações da mãe, que a criança


interioriza mais tarde numa estrutura psíquica dual que se torna ao mesmo tempo receptor e emissor” (p.
127).

“A autoridade dos adultos se propõe às crianças como uma colaboração necessária para elas e claro,
mas em certas ocasiões também deverá se impor”.

Partindo do diálogo com Hannah Arendt, Savater propõe o exercício da autoridade dos adultos não
deve ser visto como um exercício de abuso autoritário.
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