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Artigo: O conceito de transferência no campo pedagógico

Janine Filloux

- Eixos investigativos:

 “Todo fenômeno ou processo pertence à ordem transferencial e está


inicialmente, por natureza, fora da consciência-sujeito.” (Valabrega, 1980,
p.108)

 As manifestações de transferência tendem a se organizar numa neurose


artificial, uma neurose de transferência que vem substituir a neurose clínica
(neurose infantil).

 Pela situação analítica, ocorre (a transferência) primeiro como um obstáculo,


resistência ao retorno do recalcado. É somente depois, quando constituída em
neurose de transferência, que ela passa a ser o instrumento do tratamento
analítico.

 “A situação de transferência é uma revivescência: ela reanima os desejos


incestuosos e a barreira do incesto, e lhes dá uma ocasião de se atualizarem
novamente na análise.” (Glover, 1958, p.80)

 Torna-se objeto de decifração, pois é graças a ela que se produz o


desrecalque das formações do inconsciente. (p.44 - respectivo artigo)

 Manejo da transferência: (p. 44 – respectivo artigo)

1. É preciso deixar a transferência instalar-se como obstáculo antes de investi-


la como instrumento do tratamento.
2. A transferência “não deve ser induzida, não deve ser favorecida.”

 A natureza dos laços que ligam o professor e seus alunos, o educador e a


criança, o formador e os sujeitos e os sujeitos em formação em termo de
transferência, fala-se dos fenômenos transferenciais. (p. 44 – respectivo artigo)

 Repetição na transferência das experiências do passado, das atitudes em


relação aos pais. (p. 44 - respectivo artigo)

 O que é essencialmente transferido é a realidade psíquica.

 “Não são repetições literais, mas equivalentes simbólicos do que é transferido”


(p. 44 – respectivo artigo)

 A ambivalência frente ao pai onisciente.


 Toda escolha ulterior da amizade e de amor se faz sobre o fundo de traços
mnésicos deixados por esses primeiros modelos. (p. 45 - respectivo artigo)

 Somente o quadro da cura permite o conhecimento real da transferência; fora


do quadro do tratamento “a natureza real da transferência permanece secreta”
(p. 80), e é nesse segredo mesmo que reside uma condição essencial de
socialização: a transferência, “fenômeno afetivo normal, governado pelo
mecanismo inconsciente de deslocamento, é destinado a promover a
adaptação social.” (p. 159)

 A esperança principal de uma profilaxia das neuroses por uma educação


esclarecida, de uma aliança fecunda portadora de um futuro radioso (Freud,
1913 p. 213), vem chocar-se contra obstáculos teóricos e técnicos.

 Eles sublinham o perigoso, para um pedagogo, de trabalhar com um material


psíquico inconsciente (1), e analisam a emergência de dificuldades e de
conflitos novos (2) que podem decorrer do abandono, sob o efeito da
psicanálise, de uma posição educativa tradicional (3). Todos sustentam, porém,
o interesse de uma formação analítica pessoal do educador para permitir-lhe
uma melhor escuta das crianças (4) e uma maior tolerância a seus problemas.

Observações:

1. A preocupação com “um material psíquico inconsciente” é válida, mas


redundante, visto que, esse material está inerente ao sujeito e se manifesta a
todo o momento dentro do ambiente escolar.

2. A partir do momento em que o pedagogo tem conhecimento da psicanálise


facilita a compreensão das manifestações egoicas das crianças. Facilitando a
mediação dos conflitos. No momento em que surgem novos conflitos devido a
uma intervenção no pedagogo, será porque essa intervenção não foi bem
executada. O pedagogo não deverá penetrar o inconsciente da criança e sim
receber suas manifestações, auxiliar a criança a lidar com os sentimentos e
sublimar através de propostas pedagógicas (arteterapia). Caso seja
necessário, deverá encaminhar para um profissional especializado.
Para esse cenário acontecer, será necessário uma reformulação de grades
horárias de ensino e da quantidade de conteúdo mínimo das disciplinas.

3. O dilema entre a educação tradicional e inclusiva, é um terma bastante


abordado no ambiente escolar e inclusive hoje temos mais um misto de
modelos de ensino e não apenas um regente. Porém, o ensino tradicional tem
uma ênfase maior. Justamente pela dificuldade que o professor encontra de
realizar suas atividades e promover a aprendizagem em um ambiente em que
os estudantes não recebam um direcionamento e não tenham uma figura de
autoridade. As metodologias ativas são uma excelente proposta para promover
a aprendizagem sem necessariamente podar, agredir ou limitar o sujeito. E
conseguem manter a figura do professor como norteadora e mediadora da
atividade proposta.
Referente à autoridade, ela é mais facilmente adquirida sem necessidade de
agressões morais e verbais, através da autoridade racional, como diz Fromm:

A autoridade racional baseia-se na igualdade da autoridade e do subordinado,


que só diferem quanto ao grau de conhecimento ou habilidade em determinado
setor.
A autoridade irracional por sua natureza, alicerça-se na desigualdade,
implicando diferença de valor. Nega a capacidade do homem para saber o que
é bom ou mau; quem enuncia as normas é sempre uma autoridade que
transcende o indivíduo.
A autoridade racional não só permite como requer constante exame e crítica
dos que a ela estão subordinados; ela é sempre temporária, e sua aceitação
depende de sua atuação. Pelo contrário, a fonte de autoridade irracional é
invariavelmente o poder sobre as pessoas. Esse poder pode ser físico ou
mental, pode ser real ou apenas relativo, em função da ansiedade do
desamparo da pessoa a ela subordinada.
(FROMM, Erich. Análise do Homem. 1947. p. 22)

4. Com o método tradicional de ensino, não sobra tempo hábil para a prática da
escuta. O currículo mínimo (BNCC) se encarrega de preencher todos os
horários do estudante no ambiente escolar, impossibilitando uma educação
mais humanizada.
Não é uma crítica a padronização de um currículo básico nas escolas, mas sim
as quantidades de conteúdos que muitas vezes as crianças não aprendem,
apenas decoram para passar nas avaliações.

 “o pedagogo pode ser tentado a induzir uma relação transferencial privilegiada


iniciando “conversas pessoais” (p. 55 – respectivo artigo)

Observação:

Através do olhar atento o professor é capaz de identificar preferências e


dificuldades do estudante, e a partir disso atuar. O professor deverá
demonstrar interesse pelo seu universo, favorecendo a criação do vínculo. É
importante que esse vínculo seja instaurado de forma sincera. Um erro muito
comum dos adultos é subestimar a criança, inventando discursos que são
facilmente perceptíveis, perdendo a confiança e prejudicando o vínculo.
Outro fator importante é o respeito e o lugar de fala da criança.
Com base na sinceridade, o professor é capaz de delimitar a relação, sendo
instrumento de mais um ensinamento: as relações possuem limites saudáveis.
Conseguimos estabelecer uma relação de transferência sem a necessidade de
conversas adicionais e pessoais, pois a criança irá estar na relação com o
professor sem defesas conscientes, visto que a relação será um lugar de livre
expressão.
Mesmo que a criança esteja inserida em um ambiente de muito afeto ou
negligência, o vínculo se instaura ou pela familiaridade ou pela falta.

 “Sua ação deve, portanto basear-se num método suave (“não severo”),
permissiva a ponto de apagar toda proibição (“tudo é permitido”), proibir sendo
inútil em razão mesmo da relação do sujeito em jogo.”

Observação:

Sem regras e limites é impossível a aprendizagem, porém essas regras não


precisam necessariamente serem passadas de forma opressiva. O adulto
subestima a capacidade de compreensão da criança. O desenvolvimento do
pensamento filosófico permite a criança aprofundar seus pensamentos sobre o
mundo em que está inserida, favorecendo a compreensão de regras sociais e a
motivação para aprender coisas novas.
As dificuldades não deixam de existir, cada criança possui seu próprio tempo
de compreensão e regulação, é necessário um olhar atento do professor e
intervenções direcionadas. O diálogo é fundamental, não para realização de
uma análise, mas para identificar suas principais insatisfações com as
propostas oferecidas e proporcionar uma melhor inclusão.
Uma estratégia que funciona é deixar disponível uma folha em branco e lápis
de cor para os estudantes com maior dificuldade de regulação, muitas vezes
após o desenho, a atenção e compreensão as atividades propostas voltam.

 O professor deve ajudar o aluno a controlar suas pulsões não as condenando.


(p. 64 – respectivo artigo)

 O papel escolar ajuda a criança a transpor para o plano social a dinâmica


própria ao meio familiar. (p. 65 – respectivo artigo)

 Mauco propõe “Educado esclarecido”.

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