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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem ocorre por vários factores, que a psicologia de aprendizagem procura estudar e
explicar. As vezes o aluno não aprende por razoes simples, como, por exemplo, o facto de ter ficado
retido em casa por causa da chuva, ou o facto de os pais não darem muita importância a escola, e
assim por diante.

Portanto é importante que o professor estude as principais questões levantadas e analisadas


pela Psicologia Educacionais:
1. O que é aprendizagem?
2. Quais os factores que facilitam?
3. Como deve ser a inteiração entre professores e alunos para que a interacção seja mais
eficiente?
4. Como fazer com que os alunos estejam motivados para aprender e se interessem pela
matéria a ser estudada?
5. Como fazer tornar matéria e o seu ensino mais criativo e mais dinâmico e menos
monótonos?
6. Qual a importância da liberdade para a aprendizagem?
7. Porquê os alunos esquecem a maior parte do que estuda?

Segundo Piletti (25:1993) A todas estas questões e muitas outras a psicologia de aprendizagem
procura responder, porém é imperioso que se tenha sempre a mente o seguinte: cada situação é
diferente da outra, cada caso é um caso.

Conceitos
Aprendizagem é um processo experiencial e interior a pessoa, porque tem carácter pessoal e revela-
se nos seus efeitos, isto é, através de mudanças que se operam no comportamento exterior do
sujeito, comportamento observável. (estamos a confirmar o carácter pessoal da aprendizagem, mas
também a pôr em destaque um outro aspecto importante, o facto da aprendizagem não se ver em si
mesma, mas apenas nos seus efeitos ou seja nas modificações que ela opera no comportamento
exterior, observável, do sujeito). (TAVARES & ALARCÃO, 1990:86)

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“Aprendizagem é a progressiva mudança do comportamento que esta ligada, de um lado, a
sucessivas apresentações de uma situação e de outro, a repetidos esforços de indivíduos para
enfrenta-lo de maneira eficiente”. «McConnell»

“A aprendizagem é uma modificação na disposição ou na capacidade do homem, modificação essa


que pode ser anulada e que não pode ser atribuída ao processo de crescimento”. «Gagne»

Para Mwamwenda (2004) a aprendizagem é a primeira razão para a existência da Escola e meio
através do qual a socialização é efectuada.

Contudo, a aprendizagem é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há uma


modificação no comportamento, mediante a experiência ou a prática, que não podem ser atribuídas
à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo. Do ponto de vista funcional é a
modificação sistemática do comportamento em caso de repetição da mesma situação estimulante
ou na dependência da experiência anterior com dada situação.

Todas as definições de aprendizagem aqui apresentadas têm em comum:


1. Ser um processo;
2. Ter em conta a experiência;
3. Mudança de comportamento e atitudes.

Então porque aprendemos nós? Aprendemos porque precisamos ajustar o nosso comportamento ou
atitudes a um determinado meio sócio-cultural. Isto significa que há sempre um objectivo por trás
de cada processo de aprendizagem e quanto mais relevante para nós for o objectivo, mais
facilmente aprendemos, pois pretendemos a satisfazer uma necessidade.

Objecto da Psicologia de Aprendizagem


O objecto de estudo da psicologia de aprendizagem é o processo de aprendizagem, seus factores,
sua importância.

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Objectivos da psicologia de aprendizagem
 Compreender o comportamento humano, esta é uma condição necessária para
compreensão dos alunos);
 Compreender os vários aspectos do desenvolvimento e crescimento, assim como a sua
interligação;
 Motivar os alunos no sentido de aproveitar o que a escola lhes oferece para o seu
desenvolvimento integral;
 Motivar o professor a ser o modelo ou exemplo a ser imitado;
 Motivar o aluno a ter interesse pelo trabalho e fazer-lhe perceber que é o centro do processo
de Ensino-Aprendizagem. (PILETTI, 27:1993)

A aprendizagem como tarefa educativa tem por objectivo desenvolver no aprendiz/educando as


capacidades que lhe permitem ser capaz de estabelecer uma relação pessoal com o mundo que lhe
rodeia. Para tal deve-se dar ao aprendiz tarefas para ele realizar. Essas tarefas devem ser
programadas e os objectivos da aprendizagem devem estar bem definidos de modo a serem
observáveis e mensuráveis.

A aprendizagem segundo Bloom (1958), pode realizar-se em 3 domínios importantes; o cognitivo,


afectivo e o psico-motor.

1. Domínio psico-motor relaciona-se com o desenvolvimento e aplicação de capacidades


psico-motoras que se traduzem no saber-fazer.
2. Domínio cognitivo permite a aquisição do saber, em que o indivíduo desenvolve
capacidades e estratégias de conhecimento e a sua aplicação a novas situações.
3. Domínio afectivo- saber ser e estar, leva o indivíduo a descoberta dos sentidos das acções
e dos acontecimentos, ao desenvolvimento de atitudes e de interesses e aquisição de valores
e normais morais.

E aprendizagem torna-se de importância crucial, pelo menos nos primeiros 8 anos de vida da
criança, e como Freud, Piaget, Gisel e Wallon afirmam, a etapa pré-escolar é o estádio mais

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importante na educação da criança e de todos os restantes estádios dependerão da forma como o
estádio pré-escolar foi construído.

São elementos da aprendizagem:


 O aprendiz (ou seja o sujeito que aprende)
 As circunstâncias ou factores da aprendizagem ou seja, (como e quando, porque, onde, etc)
 O intermediário (ou seja aquele que vai ser orientador, geralmente o professor, o pai ou
modelo).
Estes elementos são importantes na aprendizagem e constitui aquilo que nos poderíamos chamar
de Processo de Aprendizagem, que implica sempre o elemento do ensino (PEA- processo de ensino
e aprendizagem).

De acordo com as proposições das teorias gestaltistas é um processo perceptivo, em que se dá uma
mudança na estrutura cognitiva. Para que haja a aprendizagem são necessárias determinadas
condições:
 Fatores Fisiológicos - maturação dos órgãos dos sentidos, do sistema nervoso central, dos
músculos, glândulas;
 Fatores Psicológicos - motivação adequada, autoconceito positivo, confiança em sua
capacidade de aprender, ausência de conflitos emocionais perturbadores;
 Experiências Anteriores - qualquer aprendizagem depende de informações, habilidades e
conceitos aprendidos anteriormente.

Características do Processo de Aprendizagem


 Processo dinâmico - A aprendizagem é um processo que depende de intensa atividade do
indivíduo em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social. A aprendizagem só
acontece através da atividade, tanto externa física, como também, de atividade interna do
indivíduo envolve a sua participação global.
 Processo contínuo - Todas as ações do indivíduo, desde o início da infância, já fazem parte
do processo de aprendizagem. O sugar o seio materno é o primeiro problema de
aprendizagem: terá que coordenar movimentos de sucção, deglutição e respiração. Os

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diferentes aspectos do processo primário de socialização na família, impõem, desde cedo,
a criança, numerosas e complexas adaptações a diferentes situações de aprendizagem. Na
idade escolar, na adolescência, na idade adulta e até em idade mais avançada, a
aprendizagem está sempre presente.
 Processo global - Todo comportamento humano é global; inclui sempre aspectos motores,
emocionais e mentais, como produtos da aprendizagem. O envolvimento para mudança de
comportamento, terá que exigir a participação global do indivíduo para uma busca
constante de equilibração nas situações problemáticas que lhe são apresentadas.
 Processo pessoal - A aprendizagem é um processo que acontece de forma singular e
individualizada, portanto é pessoal e intransferível, quer dizer ela não pode passar de um
indivíduo para outro e ninguém pode aprender que não seja por si mesmo.
 Processo gradativo - A aprendizagem sempre acontece através de situações cada vez mais
complexas. Em cada nova situação um maior número de elementos será envolvido. Cada
nova aprendizagem acresce novos elementos à experiência anterior, sem idas e vindas, mas
em uma série gradativa e ascendente.

A Personalidade do Professor e a Actividade de Aprendizagem


Segundo “Alport” a personalidade é a organização dinâmica dos sistemas psicofísicos que
determinam o seu comportamento e o seu pensamento característico.
Na sua investigação Alport chegou a 50 definições agrupadas em vários caracteres com destaque
para os caracteres biossocial, biofísico, todos eles com um aspecto em comum: que é de
fundamentar a personalidade em características ou qualidades do próprio individuo.

Assim a personalidade é definida em três aspectos a destacar: o temperamento, carácter e aptidão.


 Carácter – qualidades morais (algo gravado no objecto);
 Temperamento – material a partir da qual se forma a personalidade. Fenómenos de
natureza emocional do individuo na qual inclui as flutuações das disposições, sensibilidade
a estimulação.

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 Aptidões – é a tendência para considerar a personalidade na sua dimensão de performance
de realização. Assim os aspectos do rendimento da personalidade chama-se aptidões
morais, intelectuais e motoras.

Ainda há gente que entende o Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA) de forma estática e olha
para o professor como o detentor de todo o saber e o aluno como uma tábua rasa, onde o professor
despeja os conhecimentos que tem. Neste caso a aprendizagem é colocada em muitos
inconvenientes (timidez, passividades).
A relação do professor e aluno deve ser dinâmica para que haja uma aprendizagem activa onde o
aluno desempenha um papel criativo e em alguns casos em que o professor passa aprender do aluno.
O temperamento e o carácter do professor determinam em larga medida as reacções do aluno, a
forma como ele compreende o aluno, este deve ter consciência de que na compreensão podem ter
falhas.
Segundo Piletti (2003), o professor não é o senhor absoluto, dono da verdade e dono dos alunos,
que manipula ao seu belo prazer. Os alunos são pessoas humanas tanto quanto ele, o seu
desenvolvimento e sua liberdade de manifestação precisam ser respeitados pelo professor.

Enquanto pessoa humana adulta o professor costuma ser considerado um exemplo para os alunos.
Quase sempre sem ter consciência exacta disso, o professor transmite aos seus, alunos atitudes
positivas ou negativas no estabelecimento da sua relação, transmite seus preconceitos, suas crenças,
seus valores, etc. O aluno as vezes aprende muito mais com o que o professor faz ou deixa de fazer,
do que com aquilo que o professor diz. É importante que o professor tenha consciência de que além
de mero transmissor de conhecimentos, ele é mais um exemplo de adulto que os alunos em
desenvolvimento poderão vir a imitar.

Além dos aspectos relacionados com os vários papeis que o professor desempenha junto aos alunos
e as comunidades, convêm chamar atenção para a própria realização do professor. Para o sucesso
do trabalho educativo, é importante que o professor goste do que faz, acredite que esta alcançando
os resultados esperados e si sinta satisfeito e realizado.

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Um professor frustrado é um factor de frustração para os alunos. Sabe-se que uma atitude positiva
do professor em relação a matéria, aos alunos e ao seu próprio trabalho é de fundamental
importância para a eficiência da aprendizagem por parte dos alunos.

Na medida em que si sente realizado, o professor tem interesse em evoluir constantemente, em


procurar dedicar-se efectivamente ao seu trabalho. Quanto mais o professor se aperfeiçoa tanto
mais alcança sucesso em seu trabalho, e quanto mais se vê bem-sucedido, tanto mais procura
aperfeiçoar-se.
É evidente que a realização do professor, enquanto instrutor orientador e exemplo, enquanto
participante das actividades dos seus alunos e da comunidade depende também das condições
objectivas de trabalho.
Se o professor ganha pouco e seu dinheiro não da nem para comprar um livro ou ir a um teatro, se
é obrigado a trabalhar em várias escolas para sobreviver, si a escola não lhe fornece os recursos
necessários para seu trabalho educativo, dificilmente ele poderá contribuir para a realização dos
alunos. Nessas condições serão heróis, aqueles que conseguirem aperfeiçoar-se constantemente e
realizar-se. (PELETTI, 21:1993)

Importância da Psicologia de Aprendizagem para o Professor.


 Poder indicar as dificuldades que a criança enfrenta no PEA e procurar mecanismos para
que esta aprenda como as outras.
 O professor deve, na sua planificação procurar mecanismos de modo a compensar a parte
negativa, fazer um trabalho para mostrar as outras crianças que o que uma tem como
problema qualquer outra pode ter.
 Na planificação deve abordar os problemas que existem na sala de aula. Deve-se planificar
tomando em conta os problemas da criança.
 No caso de existência de indisciplina e inquietação, o professor deve adoptar estratégias no
sentido de colocar os alunos a realizarem sempre tarefas construtivas, que não os obriguem
a brincar durante as aulas.

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Teorias da aprendizagem
As teorias da aprendizagem se caracterizam como uma área bem específica dentro da psicologia
teórica na tentativa de fundamentar como surge a natureza essencial do processo de aprendizado
Serão apresentadas a seguir as principais teorias que procuram compreender e explicar o processo
de aprendizagem:

Watson e o behaviorismo
No início de nosso século, vários psicólogos preocupavam-se em fornecer à Psicologia foros de
ciência. Tal tentativa já havia sido feita pelos adeptos das ideias de Wundt, criador da Psicologia
Fisio1ógica; nos Estados Unidos, J.B. Watson insistia em que o corpo voltasse a centralizar os
estudos psicológicos e propunha que a Psicologia mudasse seu foco da consciência para o
comportamento. O objetivo de Watson era que a ciência psicológica se interessasse por indícios
publicamente verificáveis, ou seja, dados abertos à observação de outros, estudados por diversos
pesquisadores, que poderiam chegar a conclusões uniformes.

Watson foi iniciador da escola behaviorista. Ele considerava a pesquisa animal a única verdadeira,
pela sua possibilidade de verificação empírica. Propunha a abolição dos métodos introspectivos,
devido à sua falta de objetividade. Rejeitava o estudo da consciência e atacava veementemente a
análise da motivação em termos de instintos.

Na sua época, era frequente admitir que muitos comportamentos fossem inatos e constituíssem
instintos. Watson propôs a tese de que herdamos apenas estrutura física e alguns reflexos.
Três tipos de reação emocional são inatos: medo, cólera e amor; todas as outras reações
emocionais são aprendidas em associação com eles, através de condicionamento.

A influência de Watson foi tão grande, que a maioria das teorias que se seguiram foram
behavioristas e, portanto, preocupadas com os fatores puramente objetivos, baseando-se na
pesquisa com animais e preferindo a análise do tipo estímulo-resposta.

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O comportamentalismo é a teoria que diz que o comportamento se deve explicar através de
experiências observáveis e não por processos mentais. O comportamento é qualquer coisa que se
faça e possa ser observada directamente. Sendo os processos mentais os pensamentos, motivos e
sentimentos, estes não devem ser objecto de estudo pela psicologia, pois não são directamente
observáveis.
Tanto o condicionamento clássico, como o condicionamento operante, de que falaremos de seguida
adoptam a perspectiva comportamentalista para explicar a aprendizagem

O Condicionamento Clássico
As famosas experiências de Pavlov com cães são o exemplo paradigmático desta forma de
aprendizagem. Pavlov observou que os cães salivavam quando as glândulas salivares se punham
em contacto com a carne, o que classificou de reacção incondicionada. Posteriormente os cães
passaram também a salivar apenas por verem a carne. Esta reacção foi classificada de resposta
condicionada, que teria sido aprendida.
Pavlov pensou que tal aprendizagem era devida a uma associação de estímulos. Comprovou esta
hipótese com uma série de experiências em que tentou associar um Estímulo Neutro (ou seja, que
não provocava qualquer resposta), o som duma campainha, com um estímulo incondicionado
(carne, que provocava a resposta incondicionada da salivação). Após algumas associações, o som
da campainha tornou-se num estímulo condicionado, pois à sua presença, os cães reagiam com a
salivação, agora resposta condicionada.

Então, o condicionamento clássico (CC) é um tipo de aprendizagem em que um organismo aprende


a transferir uma resposta natural perante um estímulo, para outro estímulo inicialmente neutro, que
depois se converte em condicionado. Este processo dá-se através da associação entre os dois
estímulos (incondicionado e neutro).
Para que o CC se produza deve-se sempre apresentar primeiro o estímulo Neutro e alguns segundos
depois o Estímulo Incondicionado (o processo deve repetir-se várias vezes), para que possa haver
associação.

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Outro conceito do CC é o reforço, que significa o emparceiramento contínuo dos estímulos
condicionados e incondicionados, que ao não ser feita tende a fazer decrescer as respostas
condicionadas, podendo levá-las até à extinção, ou seja até desaparecerem. Contudo, algumas
vezes poder-se-á dar uma recuperação espontânea, que é a recuperação da resposta condicionada,
quando esta já se tinha extinguido por falta de associação dos estímulos.

A generalização consiste no aparecimento de respostas condicionadas perante estímulos


semelhantes, mas não iguais. A discriminação consiste na capacidade de discernir estímulos
semelhantes, produzindo a resposta apenas no estímulo correcto. Por exemplo, se o cão saliva ao
ouvir um som parecido ao da campainha original dizemos que generalizou a resposta. Se não saliva
na mesma situação é porque discrimina os sons.

Então, a generalização é uma resposta à similaridade dos estímulos e a discriminação é uma


resposta às diferenças entre eles.
Apesar das dificuldades aparentes na aplicação deste tipo de aprendizagem na sala de aula, tal é
possível. Aprendem-se fundamentalmente emoções, tanto positivas como negativas, através do
CC. É então possível fazer aos alunos associarem emoções positivas com a matéria ensinada,
gerando assim motivação para que o aluno aprenda. Por outro lado, também é possível causar mal-
estar entre os alunos na sala de aula que podem ser associadas com a matéria em causa e afastar
assim os alunos do seu estudo.

Qualquer estímulo, sejam pessoas, objectos ou actividades podem ser associados com estímulos
que provoquem respostas emocionais. Esse é o potencial do professor: o seu comportamento
afectivo, a maneira de organizar as aulas e os métodos e técnicas educacionais que utiliza nas aulas
podem gerar emoções de bem-estar ou mal-estar nos alunos que ficarão associadas às matérias
dadas e/ou ao próprio ensino em si.

Deve também ter-se em conta os conceitos de generalização e de discriminação abordados


anteriormente, no respeito às aplicações práticas do CC no ensino.

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A ter em conta que as sensações agradáveis são essenciais para a aprendizagem de experiências
agradáveis. Há um risco na aprendizagem por CC já que esta não é consciente e não há um controlo
sobre os estímulos. O professor é a principal figura que se deve preocupar em evitar os estímulos
desagradáveis e proporcionar os agradáveis.

Especificamente pode-se agir na prevenção (impedindo o desenvolver de reacções emocionais


negativas nas situações escolares) e na correcção, através do princípio da extinção (colocando o
aluno na situação-problema garantindo-lhe que não será negativo), da extinção gradual (semelhante
mas em pequenos passos de cada vez) ou através da contra aprendizagem (apresentando estímulos
positivos perante a situação problema por forma a que esta passe a estar associada a uma sensação
de bem-estar).
Convém garantir que passe o menor tempo possível nas operações de correcção, pois quanto mais
se instalar um receio, mais difícil é fazê-lo desaparecer.

O Condicionamento Operante
O condicionamento clássico é uma aprendizagem relativamente automática de respostas
emocionais perante estímulos. No entanto, o comportamentalismo abraça outras formas de
aprendizagem: o condicionamento operante é o processo de aprendizagem do comportamento que
implica acções deliberadas. Skinner e Thorndike produziram experiências com animais.

Thorndike formulou a lei do efeito que diz que “qualquer acção que produza um efeito satisfatório
será repetida”. Thorndike encerrou gatos em caixas-problemas que, quando acidentalmente
descobriam a forma de abrir as caixas, aprendiam e passavam a repetir o movimento da próxima
vez que fossem lá colocados.

Foi no entanto Skinner que desenvolveu o conceito. O condicionamento operante (CO) descreve a
relação entre o comportamento e as consequências. Uma resposta operante é aquela que se produz
sem a presença de um estímulo incondicionado, ou seja é um comportamento voluntário.

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Será então um processo através do qual aprendemos a dar respostas de forma a obter um benefício
ou a evitar algo desagradável. Consequentemente a frequência das respostas depende das suas
consequências.

O reforço é um evento que sucede um comportamento e o incrementa. Há várias formas de os


classificar: se são primários (diz respeito a necessidades básicas ou naturais – não aprendido) ou
secundários (aprendido, podendo ser material ou social); se são intrínsecos ou extrínsecos (diz
respeito ao reforço ser ou não ser inerente ao comportamento que o gerou); ou então se são positivos
ou negativos.

O reforço positivo será a apresentação de um estímulo positivo. O reforço negativo a supressão


de um estímulo aversivo. Se as consequências de um comportamento forem aversivas ou
desagradáveis para o sujeito, o comportamento tenderá a desaparecer. Ou seja, também se consegue
controlar o comportamento através de efeitos negativos. É o caso do castigo.
Existem dois tipos de castigos. O castigo por de Tipo I, consiste na apresentação de um estímulo
negativo depois de emitido o comportamento que se quer ver desaparecer. O castigo de Tipo II
implica a remoção de um estímulo agradável.
Ao contrário do reforço, que implica sempre incremento no comportamento, o castigo ensina a não
fazer algo, a suprimir uma resposta, nada mais.

Existem algumas questões acerca do emprego pedagógico dos reforços e castigos. O que torna algo
(evento, objecto, acontecimento ou actividade) um bom reforçador, só se poderá saber na prática,
nunca à partida. Dependerá da experiência do sujeito, podendo provir do próprio sujeito (auto-
reforço) ou do meio físico e social.

O reforço deve ser dado sempre depois do comportamento que se quer reforçar, nunca antes. Deve
também ser dado imediatamente, para diminuir o risco do reforço ser associado a outro
comportamento, entretanto ocorrido. Deve-se também informar o que é que é reforçado e o que
não é. Para além disso os reforçadores podem perder a sua eficácia, pelo que é conveniente alterar
periodicamente os mesmos. A omissão de recompensas produz efeitos de redução ou extinção dos

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comportamentos. Há que também saber variar a intensidade dos reforços consoante o sujeito está
a iniciar a aprendizagem (reforço contínuo) ou a manter um comportamento (intermitente).

Finalmente deve haver uma proporcionalidade razoável entre o reforço e o comportamento. Um


programa de reforço contínuo torna o comportamento fácil de adquirir, mas também fácil de
desaparecer. O reforço intermitente pode ser dado consoante o intervalo de tempo entre cada
reforço (que por sua vez podem ser de duração fixa ou variável) ou então consoante o número de
acções realizadas – programas de razão – que também podem fixos ou variáveis.

Quanto ao castigo, apesar de apresentar inconvenientes, há muitas ocasiões em que o educador não
os pode ignorar, para evitar males maiores, como por exemplo, quando se ultrapassa de forma clara
as normas assumidas por todos, se falta ao respeito à autoridade com actos inaceitáveis para a
maioria ou se danifica propriedade alheia ou pública intencionalmente.

No entanto o castigo deve ser imediato, não aprazado. Não deve ser fraco nem forte, mas sim
suficiente. Há que ser proporcional à falta em causa e ocorrer sempre que esta ocorra. Os critérios
devem ser claros para que o sujeito saiba claramente porquê está a ser castigado. Deve-se acabar
com o castigo assim que ele tenha o efeito desejado.
A generalização, a discriminação e a extinção são as semelhanças mais notórias entre o
condicionamento clássico e o condicionamento operante.

Implicações Pedagógicas dos Behavioristas


 Permite o exercício de repetição;
 Ensino individualizado do tipo programado;
 Demonstração de actividades a imitar sem serem acompanhadas de grandes explicações;
 Permite a memorização. (TAVARES E ALARCÃO, 97;1992).

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TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL

Poderíamos dizer que faz parte do senso comum a afirmação de que as pessoas, sobretudo as
crianças, aprendem observando e imitando os outros. Contudo, foi Albert Bandura que desenvolveu
numerosas experiências que fundamentaram a importância da aprendizagem por observação, isto
é, a aprendizagem que resulta da interacção e da imitação social.

De acordo com este psicólogo, muitos dos nossos comportamentos são aprendidos através da
observação e imitação de um modelo - modelação ou modelagem. É pela observação que posso
aprender a serrar uma tábua, a abrir uma caixa, a ligar uma máquina, a cozinhar, a pintar... Com
certeza que precisamos de prática para desenvolver estas aptidões, mas na base da sua aquisição
está a observação. De facto, grande parte da aprendizagem humana está baseada na observação: o
processo de socialização passa, como já estudaste, necessariamente pela observação, imitação e
identificação com os modelos sociais (pais, professores, amigos...

Este tipo de aprendizagem pode ser seguido de reforço directo: a criança, ao usar correctamente o
talher, é elogiada, isto é, foi reforçada por ter imitado um comportamento desejado. Mas, Bandura
chama a atenção para o facto de a imitação de um adulto poder ser estimulada se a criança observar
que ele é elogiado por se ter comportado de determinado modo - é o que o autor chama reforço
vicariante. A criança, se agir daquele modo, obterá aprovação semelhante.

São muitos os factores que influenciam a aprendizagem por observação. A proximidade e o peso
afectivo do modelo são dois desses factores. Por isso, os pais, professores, amigos são os modelos
mais comuns. Concretamente, é muito referido o professor como modelo de imitação: os temas que
prefere da disciplina que lecciona, os gostos e as preferências, as suas atitudes exercem grande
influência sobre os alunos.

Bandura defende ainda que o comportamento pode ser aprendido sem estar necessariamente
envolvido nele e esse comportamento não necessita de ser reforçado para ser sustentado. A maior
parte da formação do comportamento ocorre com base na observação do que os outros fazem e das

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consequenciais do seu comportamento. A aprendizagem por observação não é só importante
para o processo de ensino e aprendizagem, mas especialmente para sobrevivência.
(MWAMWENDA, 197.2005)

A selecção dos modelos parece relacionar-se com o sexo e a idade: é mais frequente a imitação de
modelos do mesmo sexo e de idades próximas. Também parece ser influenciada pelo estatuto dos
modelos escolhidos: são mais imitados os modelos que apresentam estatuto social mais elevado e
mais prestigiado. A atenção é também um factor que intervém neste tipo de aprendizagem: quanto
mais atento o observador estiver ao comportamento apresentado pelo modelo, mais eficaz será a
aquisição.

A aprendizagem por observação pode ser definida pela modificação do sistema de respostas de um
indivíduo, através da observação de uma sequência, como se o próprio observador estivesse
envolvido nessa sequência de acontecimentos.

Factores que facilitam a Aprendizagem Social


Os factores que influenciam a aprendizagem social são: atenção, a memória, as capacidades
motoras, o reforço, a identificação, o estatuto do modelo e a origem do modelo.

1. Atenção é um factor importante para aprendizagem social, durante a aula os alunos terão de
prestar atenção de forma adequada sobre o que o professor está a dizer e para compreender o que
está a ser ensinado.
2. Memoria – o aluno além de dar atenção deve processar a informação na memória a curto-prazo
e longo - prazo e armazenado, uma vez armazenado a informação na memória, o aluno não terá
problema em recuperar sempre que precisar.

3. Capacidade Motoras - trata-se de um acto que pode ser aplicado e praticado depois de ser
observado se o aluno é potencialmente capaz de aplicar e praticar.

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Para o aluno aprender a ler e escrever deve praticar e aplicar, exemplo se os alunos estão
aprendendo uma língua estrangeira, o professor deve demonstrar como a palavra se escreve e se
pronuncia e os alunos devem pronunciar varias vezes até obter o domínio da pronunciação.

4. Reforço – o reforço tem um papel importante na aprendizagem por observação. Porque se o


modelo é recompensado por um comportamento individual ou particular a oportunidade do
comportamento ser modelo é alta, por outro lado se o modelo é punido por um comportamento
particular, o observador também é punido.

5. Identificação - a identificação é um processo em que uma pessoa se identifica com o


comportamento, as atitudes, o sistema de valores e as crenças de outra pessoa. Essa pessoa pode
ser um parente, uma figura de autoridade ou um pai.

6. Estatuto do modelo – de acordo com a aprendizagem social pessoas com elevado estatuto e que
são capazes de recompensar e punir servem de bons modelos. Exemplo: os pais, professores.

7. Motivação – para que um comportamento seja motivado é importante que seja interessante ou
motivador para o observador. Exemplo: os estudantes podem recusar-se a envolver-se em
vandalismo, ter comportamentos rebeldes, copiar nos testes e exames porque esses
comportamentos levam a reprovação.

De acordo com esta teoria as pessoas desenvolvem qualidades de carácter, habilidades, hábitos e
aptidões através da observação de outras pessoas inseridas no seu meio.
 Vantagens da aprendizagem social: a emergência de ídolos devido a imitação dos
comportamentos aceitáveis.

 Desvantagens da aprendizagem social: a pessoa pode tomar como ídolo uma pessoa que
apresenta comportamentos negativos, isso pode desenvolver um comportamento, não aceite
na sociedade. Exemplo: consumo de drogas, fanatismo, prostituição.

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Implicações pedagógicas da aprendizagem social
De acordo com Mwamwenda, a Aprendizagem Social pode ocorrer de forma vicariante. Exemplo:
um professor pode ser de agrado ou não dos seus alunos com base no que o alunos anteriores tinham
dito sobre ele, de forma semelhante, o professor pode gostar ou não de um aluno pelo que o
professor anterior disse acerca dele, embora isto aconteça na vida real não pode ser encorajado.
Ambos professor e aluno devem ser mais objectivos na avaliação e não se apegar naquilo que
ouviram.

A Aprendizagem Social pode ser facilitada pelos alunos se trabalharem em pequenos grupos para
que aqueles que tiverem melhores resultados sirvam de modelo para os outros.
O aluno aprende mediante o ensinamento do professor, onde o professor é e deve comportar-se
como modelo para a sociedade.

TEORIA DA APRENDIZAGEM GESTALTISTA


Gestalt é uma palavra alemã que significa “forma, configuração, organização”. Nesta teoria a
aprendizagem ocorre principalmente por INSIGHT, uma espécie de compreensão repentina a que
chegamos depois de umas tentativas infrutíferas de busca de solução.

A teoria da forma ou configuração (insight) – defende que o conhecimento é intuitivo.


Kohler vê aprendizagem como um processo de conhecimento intuitivo onde o individuo tem como
que uma iluminação momentânea, fruto de sua intuição.

Aqui a resolução de problema surge como se tudo acontecesse de repente, fruto de uma espécie de
descoberta sendo estável e susceptível de ser transferida para outras situações mas ou menos
semelhantes, pois o individuo acaba compreendendo a relação entre os elementos da situação no
seu conjunto.

A experiência engloba a totalidade de comportamentos e não apenas respostas isoladas e


específicas.

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Cada individuo tem algum conhecimento e experiência, não é um vasilhame e percebe a situação
de aprendizagem de uma forma particular diferente dos seus colegas, por isso, o sucesso da
aprendizagem depende das suas experiências anteriores.

A pessoa selecciona e organiza estímulos de acordo com as suas próprias experiências e não as
responde isoladamente, mas percebendo a situação como um todo e reagindo aos seus elementos
mais significativos.

Exemplo: um macaco metido na gaiola cheio de forma e colocar um cacho de banana por cima da
gaiola, deixando dentro da jaula uma cana bem comprida e uma caixa. O macaco passou muito
tempo a olhar para cima, depois passou muito tempo a saltar e tentar pegar as bananas, após varias
tentativas, pegou na cana e tentou deitar as bananas para baixo sem sucesso, eis que de repente
pegou na cana, saltou para cima da caixa, levantou a cana e atirou as bananas ao chão. Ele teve
uma espécie de intuição ou conhecimento intuitivo em relação ao esquema da acção a utilizar.
Segundo Tavares e Alarcão, nesta experiência tiramos 3 aspectos:

1. A solução para o problema surge de repente e como uma espécie de intuição (insight).
E como o grito de eureka! Que frequentemente se exprime em expressões do tipo” oh,
já sei”, tantas vezes proferidas quando descobrimos que nos apercebemos da chave para
resolver uma determinada situação.

2. A solução parece estável e susceptível de ser transferida para outras situações mais ou
menos semelhantes.

3. A solução surge porque o sujeito compreendeu a relação entre os diferentes elementos


da situação e não como resultado de reacções isoladas a estímulos isolados. (TAVARES
E ALARCÃO, 1992:101)

ARSÉNIO TESOURA (PSICÓLOGO EDUCACIONAL) 18


TEORIA DE APRENDIZAGEM DE CAMPO
Como já dissemos, toma em consideração a mente, o espírito, a consciência, a pessoalidade e a
interiorização.

Segundo Tavares e Alarcão, esta teoria toma como base a ideia de que a estrutura é mais do que a
soma das suas partes. Lewin afirma que toda a actividade psicológica e por tanto aprendizagem,
que se realiza num campo de acção em que um conjunto de factores interferem e condicionam o
comportamento de uma pessoa numa determinada situação.

Exemplo: imaginemos que pedimos um médico e uma actriz para decorar versos em um
determinado tempo é muito natural que a actriz vai decorar mais versos em pouco tempo em
relação ao médico, porque ela tem as técnicas de memorização de actriz que já desenvolveu e o
médico não, porque não faz parte do seu campo profissional.

A aprendizagem realiza-se num campo de acção em que um conjunto de factores interfere e


condicionam o comportamento numa determinada situação. Portanto a aprendizagem baseia-se na
mudança da estrutura cognitiva do sujeito ou seja da forma como o indivíduo percebe, selecciona
e organiza os objectos, os acontecimentos e lhes atribui um significado.

Aqui o sujeito é um agente activo capaz de criar seu próprio mundo e de evoluir continuamente
com base na sua própria experiência. Assim temos: Experiências anteriores – aprendizagem –
fins a atingir. (TAVARES & ALARCÃO, 1992:100)

Deste modo a aprendizagem é tida como uma actividade funcional, exploradora, imaginativa e
criadora que assenta no processo selectivo de percepção e atribuição de significado aos objectos e
acontecimentos num dado contexto.

Se o sujeito não consegue descobrir o significado, a organização e a ordem existente numa


determinada situação não se realiza a aprendizagem e o fenómeno passa apenas pelo sujeito.
Exemplo: decorar sem perceber nada – repare que se enfatiza mais o lado intelectual.

ARSÉNIO TESOURA (PSICÓLOGO EDUCACIONAL) 19


De acordo com esta teoria são as forças do ambiente que levam o indivíduo a reagir a alguns
estímulos e não a outros, ou, que levam outros indivíduos diferentes a reagir de maneira diferente
ao mesmo estímulo.

A influência destas forças sobre um indivíduo depende em alto grau das próprias necessidades,
atitudes, sentimentos e experiência de um indivíduo, pois são estas condições internas que
constituem o Campo Psicológico de cada um.
O campo psicológico seria o ambiente incluindo as suas forças sociais, a maneira como é visto ou
percebido pelo indivíduo.

Esta teoria, na essência, procura explicar como a percepção e a aprendizagem depende do campo
psicológico da pessoa, isto é, dos seus sentimentos, atitudes e expectativas de forma como o
ambiente actua em relação as condições internas.

Implicações pedagógicas da aprendizagem de Campo


Neste processo de aprendizagem admite a ideia de que um determinado tópico pode ser ensinado
em diferentes níveis, de acordo com o nível de desenvolvimento psicológico da criança, pois deve
ter em conta a experiência anterior, as diferenças e as curiosidades da criança.

Estas duas teorias não enfatizam o estímulo e resposta, mais numa mudança na estrutura cognitiva
do sujeito ou na maneira de ele perceber, seleccionar e organizar os objectos e acontecimentos.

Nesta perspectiva o educando não é um ser passivo, puro receptor de estímulos, mas um agente
activo, capaz de criar o seu próprio mundo e de se encontrar em evolução contínua como resultado
da experiência que vai adquirindo. Deste modo a aprendizagem situa-se entre dois pólos: a
experiência anterior e o que o sujeito pretende atingir.
Estas teorias consideram que aprendizagem deve assentar-se em três condições: intuição,
finalidade, estrutura, uma vez que o sujeito define o fim que deseja atingir, apercebe-se de como
ira estruturar a sua aprendizagem de maneira a consegui-lo.

ARSÉNIO TESOURA (PSICÓLOGO EDUCACIONAL) 20


TEORIA DE APRENDIZAGEM COGNITIVA DE PIAGET E VIGOTSKY

Estas realçam o lado intelectual do individuo, as teorias cognitivas subdividem-se em:


1. Teoria da forma ou da configuração, também designadas por teoria de gestalt se baseia
no conhecimento intuitivo (insight) defendida por Werthrimer, Kohler, Kofka;
2. A teoria da estrutura de campo defendida por Piaget, Bruner, Lewin e Ausubel. Passemos
então a análise de cada uma dessas teorias;

É uma teoria que tem raízes no pensamento de Jean Piaget, o psicólogo defende que o
conhecimento é construído pala criança através da inteiração com ambiente, para o autor o
conhecimento não existe no exterior do individuo porque é resultado da inteiração das experiências
externas, quer sejam físicas com as estruturas internas. Através dessa inteiração surge a motivação
para aprender. Dai que a criança aprende mais quanto mais estimulante for o problema que pretende
resolver.

De acordo com Piaget a aprendizagem é um processo normal, harmónico e progressivo, de


exploração, descoberta e reorganização mental em busca de equilíbrio da personalidade e por isso
que o ensino deve estar de acordo com os interesses e a curiosidade da criança, deve ser
significativo para ele e não apenas um papaguear de palavras proferidas por outrem.

O ensino não deve ser muito difícil para não ser frustrante, nem demasiado fácil para não ser
maçador. Todos os materiais, as tarefas devem ser organizados de tal modo que acriança sinta uma
certa tensão e que a leva em busca da equilibração que mais tarde se traduz num desejo de aprender.
(ALARCÃO & TAVARES, 1992:102)

No processo de aprendizagens de Piaget, podem ser destacadas:


1. A adaptação é composta de dois sub-processos: Assimilação e Acomodação.
 Assimilação - Durante o processo de assimilação lidamos com a nossa experiência,
classificando os termos conhecidos, usando conceitos e estratégias existentes.

ARSÉNIO TESOURA (PSICÓLOGO EDUCACIONAL) 21


 Acomodação - é a criação de novas estratégias, combinação do antigo para lidar com
alguns desafios. Toda a situação de aprendizagem implica uma discordância entre um
esquema reaccional e a realidade - um objecto e uma situação quando isto acontece, se
estabelece Certo equilíbrio entre a assimilação que consiste na incorporação mais ou menos
deficiente da verdade e acomodação que é a modificação dos esquemas de reacção do
individuo ao interagir com o objecto.

Exemplo: bebes que levam as xícaras para a boca acabam acomodados e aprender a beber neles.
Além da capacidade de adaptar, os homens herdam uma tendência para combinar 2 ou mais
processos físicos ou psicológicos distintos em um sistema de bom funcionamento. Esta capacidade
chama-se organização.

Para Vigotsky o indivíduo não nasce com conhecimento e nem é cópia do meio ambiente. O
desenvolvimento do conhecimento é fruto de experiências do indivíduo. Para que uma informação
fosse assimilada devia fazer sentido e incidir pela Zona De Desenvolvimento Proximal, que é a
distância entre aquilo que a criança sabe fazer sozinha (desenvolvimento real) e o que é capaz de
fazer com ajuda de alguém mais experiente (Desenvolvimento potencial). Desta forma o que é zona
de desenvolvimento proximal hoje se torna nível de desenvolvimento real amanhã.

Implicações pedagógicas
O bom ensino deve se incidir na zona proximal, porque ensinar o que a criança já sabe é pouco
desafiador e ir além do que ela pode aprender é ineficaz. O ideal seria partir do que ela domina
para ampliar seu conhecimento.
Os professores devem proporcionar conceitos para os alunos através das teorias, dos conteúdos
proporcionais à sua capacidade para formar sujeitos autónomos.

TEORIA DE APRENDIZAGEM POR DESCOBERTA DE BRUNER


Bruner defensor da aprendizagem por descoberta, na sua teoria preconiza que os alunos devem
descobrir e pensar por eles próprios. Para Bruner a aprendizagem é um processo activo do sujeito
que aprende, organiza e guarda a informação concebida. A descoberta não significa descobrir o

ARSÉNIO TESOURA (PSICÓLOGO EDUCACIONAL) 22


conhecimento que é desconhecido, mas descobrir o conhecimento por ele mesmo. O aluno deve
descobrir novas informações de forma independente.

1. Exemplo: pode ser dada a criança a seguinte frase: o professor deu uma boa aula. Na base
desta frase e conhecimento a criança fará uma frase semelhante como descoberta: o
empresário comprou um carro novo. Ou ainda usar um certo objecto para as crianças
solicitar respostas em volta dele. Por exemplo perguntar a criança para que serve o martelo?
Pregar pregos porquê? Porque irão juntar tábuas. Para quê? Para pôr um edifício.

Para encorajar a descoberta Bruner propõe que os alunos analisem problemas, façam actividades
de pesquisa, exploração, análise de problemas e resultados, um ensino que tem como base a
aprendizagem activa.

TEORIA DE APRENDIZAGEM POR DESCOBERTA DE BRUNER

Esta teoria baseia-se na teoria cognitiva gestaltista, Para Bruner, o objectivo último do ensino é
promover compreensão de estrutura de uma matéria. Isto porque quando um aluno compreende a
estrutura de um assunto/ matéria vê-o como um todo relacionado. Dai a importância que tem na
aprendizagem a formação de conceitos globais, a construção de generalizações coerentes, a criação
de formas cognitivas.
A aprendizagem é conhecida como solução de problemas, pois só resolvemos problemas
quotidianos, os indivíduos se ajustam ao seu ambiente, factor essencial para o homem.

A escola é responsável pelo treinamento contínua das crianças. Para organizar, formar e verificar
exames (experiências, julgar juízos) e ter oportunidades de escolher por si próprio o problema e
então tentar por em acção as suas próprias decisões.
Para estes teóricos o ensino deve ser aproximado na medida do possível à vida prática dos alunos,
preparando-os para a vida, privilegiando a aprendizagem por descoberta de soluções adequadas de
cada problema, de acordo com as capacidades e as circunstâncias do momento.

ARSÉNIO TESOURA (PSICÓLOGO EDUCACIONAL) 23


Neste processo o professor deve usar uma linguagem aceitável nos trabalhos colectivos/ em grupo
ou individuais dos alunos.

Bruner defende que a aprendizagem é um processo activo do sujeito que aprende, organiza e guarda
a informação recebidas. O conhecimento adquire-se a partir de problemas que se levantam,
expectativas que se criam, hipóteses que se avançam e verificam, descoberta que se fazem, etc.

Pressupõe ainda o ensino pela descoberta, com actividades de pesquisa, observação e exploração,
análise de problemas e resultados, integração de n ovos dados em conceito anteriormente
adquiridos, estabelecimento de relações e conexões, etc. (ALARCÃO & TAVARES, 103: 1992)

Ele como Gisell, defendem o desenvolvimento em espiral, isto é, o ensino de um tema deve ser
feito em diferentes níveis com abordagem periódica e em círculos concêntricos cada vez mais
alargados e profundos.

Segundo Mwamwenda esta teoria assenta em quatro princípios:


1. A motivação – este princípio especifica as condições que predispõem um indivíduo para
aprendizagem, isto é, as variáveis críticas que ajudam a motivar a criança para aprendizagem.
2. A estrutura – este princípio defende que qualquer assunto ou tema ou corpo de conhecimento
pode ser organizada de uma forma óptima para poder ser transmitido e compreendido, e isto e
possível, se tivermos em conta o modo de apresentação, a representação motora, a
representação icónica, a representação simbólica, a economia de apresentação
3. A sequência – este princípio afirma que todo conhecimento obedece uma determinada
sequência segundo. Assim, o desenvolvimento intelectual ocorre de acordo com uma sequência
inata, movendo-se da representação motora para a icónica ate a simbólica.
4. Reforço – este princípio afirma que toda aprendizagem requer reforço que e crucial para o
sucesso. Este reforço pode ser feito através do “feedback”. Portanto, os resultados têm de ser
conhecido na altura exacta em que o aluno avalia o seu próprio desempenho.
(MWAMWENDA, 187:2005)

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TEORIA DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL
Ausubel se dedicou ao estudo da aprendizagem significativa, em que se opõe a aprendizagem
memorizada e mecânica. Ausubel discordava do pensamento generalizado de que o ensino
expositivo está associado a uma aprendizagem receptiva, memorizada ou mecânica enquanto o
ensino pela descoberta corresponde a uma aprendizagem dinâmica, significativa. (ALARCÃO &
TAVARES; 1992:104)

Ausubel identificou quatro tipos de aprendizagem, nomeadamente:


 Aprendizagem por recepção significativa ou compreendida em que o professor organiza a
matéria de forma lógica e ao apresenta-la ao aluno relaciona com os conhecimentos que estes
já possui. De modo que ele possa perceber o que está a aprender e integrar os novos
conhecimentos na estrutura cognitiva já existente.
 Aprendizagem por recepção mecânica ou memorizada em que o professor apresenta a
matéria de tal forma que o aluno só memoriza.
 Aprendizagem pela descoberta significativa ou compreendida em que o aluno descobre o
conhecimento por si próprio, chega a solução de um problema que se lhe opõe ou a qualquer
outro resultado assim como relaciona os conhecimentos que acaba de adquirir com os que já
possui.
 Aprendizagem pela descoberta mecânica ou memorizada em que apesar do aluno descobrir
por si só, o aluno apenas memoriza de forma mecânica e não consegue integrar na estrutura
cognitiva que já possui.

Na opinião de Ausubel o ensino expositivo é moroso e pouco económico, embora apresentem


vantagens, mais o ideal seria o ensino pela descoberta guiada onde o professor funciona como
organizador do Processo Ensino-Aprendizagem

O professor deve organizar a informação de forma lógica de modo que os objectivos que pressupõe
conhecimentos anteriores não sejam ensinados sem que estes conhecimentos não estejam
presentes.

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Implicações pedagógicas das teorias cognitivas
1. Motivar o aluno para a aprendizagem, relacionando-a com as suas necessidades
pessoais e objectivos da própria aprendizagem.
2. Reconhecer que a estrutura cognitiva do educando depende da sua visão do mundo e
das experiências que ele teve anteriormente.
3. Adequar o ensino ao nível do desenvolvimento dos alunos e ajuda-los a relacionar
conhecimentos e habilidades novos com conhecimentos e habilidades que tiverem.
4. Não pedir ao aluno que decore, sem compreender aquilo que ele tem possibilidade de
compreender antes de decorar.

As técnicas recomendadas para este ensino seriam: ensino pela descoberta, ensino pela descoberta
guiada, apresentação de sumários (organizadores avançados), questionários orientadores,
questionários de revisão, esquemas, objectivos, organização de detalhes, estudos de grupo, estudos
de casos.

Referências Bibliográficas

DE LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K. e DANTAS, H. Teorias Psicogenéticas em Discussão. 5ª


ed. São paulo, Summus Editorial, 1994.

MONERO, Paul. História de Educação. São Paulo: Nacional Editora, 6ª ed., 1983

MWAMWENDA, Tuntufye S. Psicologia Educacional: Uma Perspectiva Africana, Maputo, Texto


Editores, 2006, 478p.

MWAMWENDA, Tuntufye, Psicologia Educacional. Uma perspectiva africana. Textos Editores,


Maputo. 2004.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky, Aprendizado e Desenvolvimento. Um Processo Sócio-Histórico. São


Paulo, Editora Scipione, 1994.

PILETTI, Nelson. Psicologia educacional. s/e, São Paulo, Editora Ática, 2003.TAVARES, J. &
ALARCÃO, I. Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Coimbra, Coimbra Almedina,
1990.
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