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Música – Another Brick in the wall (Pink Floyd)

“Another Brick in the Wall” é o título de um conjunto de três canções baseadas no mesmo
tema, parte da rock ópera do Pink Floyd, “The Wall”, de 1979, subtituladas “Parte I”
(Memórias), “Parte II” (Educação) e “Parte III” (Drogas),

Cada uma das três partes tem uma similar, senão a mesma melodia e estrutura lírica (a letra
não é a mesma, com exceção do refrão “all in all”) e cada uma é mais barulhenta e enfurecida
do que a anterior, crescendo da tristeza da “Parte I” para a protestante “Parte II” para a furiosa
“Parte III”. Esta melodia é repetida em quase todas as músicas do álbum, apesar da forma
diferente cada vez.

THE WALL (Pink Floyd) E O SISTEMA EDUCACIONAL:

No século XX , poucos artistas foram tão emblemáticos e respeitados (num nível quase que de divindade)
quanto o Pink Floyd. O grupo criado em meados dos anos 60, no lisérgico underground britânico, foi
responsável pela produção de obras complexas, tanto rítmica e harmonicamente, quanto ao que diz respeito
às letras.

Alguns de seus álbuns tornaram-se referências tanto para o público do gênero quanto para acadêmicos e, é
claro, para a indústria fonográfica. Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Rick Wright, além do
primeiro guitarrista e vocalista, o cultuado e esquizofrênico Syd Barret, foram responsáveis inclusive pela
elevação das apresentações musicais ao nível de espetáculo, introduzindo as mais diversas intervenções
visuais. Destacaram-se nos anos 60 e reinaram nos anos 70 com os excelentes The Dark Side of the Moon,
Wish You Were Here e Animals, que os projetaram ao posto de referência absoluta da música que preza por
uma visão diferente da habitual, cheia de indagações existenciais e sociais. No fim dos anos 70, o Pink
Floyd encontrava-se num ponto controverso da carreira, em que eram estrelas da indústria fonográfica que
sempre questionaram. Nessa incômoda condição surge The Wall, álbum aclamado, sucesso de vendas e obra
sobre a qual nos debruçaremos para uma análise filosófica, buscando traçar paralelos entre as ideias ali
apresentadas e olhares de notáveis pensadores da nossa história.

Por detrás da muralha:

Novembro de 1979 trouxe o encerramento de um ciclo para o Pink Floyd. Ao lançarem, nessa data, o álbum
The Wall, os quatro músicos britânicos arrebataram público e crítica; mas, principalmente, terminaram um
processo exaustivo e estressante. Tendo seu esboço iniciado ainda na tour “in the flesh”, The Wall trouxe à
tona alguns problemas que já afetavam o grupo há algum tempo. Waters vinha se incomodando
profundamente com a relação com o público da banda e com os espetáculos em estádios lotados. Para ele, o
público já não mais absorvia o real sentido envolvido nas composições da banda. O desgaste entre os
músicos também passaria a ser insustentável a partir desse ponto. Roger Waters assumiu quase que
totalmente o controle da produção, redefinindo produtor, equipe e sendo o principal compositor do álbum.
The Wall acabou sendo o último álbum com Gilmour, Wright, Mason e Waters em sua formação. Rick
Wright, ainda durante as gravações, foi desligado da banda e passou a atuar apenas como músico contratado.
Esses e outros problemas não apenas eclodiram com essa superprodução, como também serviram de
combustível a ela.

“Another Brick In The Wall” e o Sistema Educacional – As relações e os traumas:

Os modos tradicionais de educação podem criar muros entre os mestres e seus aprendizes.
Another Brick In The Wall é mais uma das grandes músicas de sucesso da banda Pink Floyd. Sua letra é
vista como minimamente impactante, e causa aos ouvintes um estado de percepção mais esclarecedor sobre
as normas da vida, as normas da sociedade e suas regras, tanto educacionais quanto sociais. “Em suma, é
apenas mais um tijolo no muro.” “Em suma, você é apenas mais um tijolo no muro.” Essas duas frases
acompanham e levam à conclusão de um trecho em que se critica diretamente a maneira de ensino e se
afirma de forma ordenada que o professor deixe as crianças em paz. Pode-se dizer que não seria apenas o
professor um tijolo no muro, mas todos nós. Afinal, todos somos submissos ao mesmo sistema social; desde
crianças temos a nossa formação racional, lógica, cognitiva e emocional baseada para viver em meio ao
lugar onde nascemos e para nos comportarmos de forma considerada “válida” aos termos estabelecidos pela
educação. Muitos ao decorrer de suas idades irão se rebelar contra o sistema, mas na verdade todos nós já
fomos feitos nos moldes de tijolos dessa grande muralha social. Todos nós já fomos contaminados pelo
sistema. Assim como um muro tem seus dois lados, o ponto de vista sobre a música também pode ter dois
pontos de vistas entre mais de um muro. Foram debatidas diversas formas de analisarmos a mensagem
transmitida; mas, como em uma árvore em crescimento, os debates nos levaram para novos pontos de vista,
como se surgissem novos ramos na árvore.

Afinal, o professor é apenas um tijolo no muro? Todos nós também não o somos? O muro social é composto
por todos os que dentro da sociedade habitam; mas nós também não criamos muros particulares em nossas
vidas? Não nos protegemos por meio de muros? Os traumas de uma criança viram tijolos que darão forma
ao muro. Os modos tradicionais de educação podem criar muros entre os mestres e seus aprendizes. Esses
traumas também formam uma barreira que nos separa do resto das pessoas, mas que ao mesmo tempo nos
torna mais um “tijolo.” Os muros às vezes são criados para nos proteger, às vezes surgem para nos
prejudicar; às vezes os muros são tão fortemente formados desde a estruturação mental de uma criança para
se comportar no âmbito social, que acabam causando mais traumas e, consequentemente, criam-se novos
muros.

Ei, professores! Deixem as crianças em paz!!!

Quantas vezes, internamente já não gritamos para que os professores nos deixassem em paz?
O professor é a autoridade de uma sala de aula. Ele dá as ordens e o aluno precisa obedecer. Se o aluno não
seguir corretamente as normas estebelecidas pelo mestre, será punido. Essa é a estrutura educacional em
vigor, tanto em escolas públicas quanto privadas. E essa é a forma de educação pela qual a maioria de nós
passa ou passou, e contra a qual a maior parte de nós se rebelou. Provavelmente, a maior parte das pessoas
que em algum momento de suas vidas esteve dentro de uma sala de aula, ou mesmo entre os muros de uma
escola, quis se manifestar e demolir o muro. Literalmente. Quis (certamente) demolir o muro de concreto da
escola, e os diversos níveis de “muros” simbólicos que surgem nesse método de ensino tradicional e
repressor, no qual o professor fala e o estudante simplesmente escuta e abaixa a cabeça.

Quantos de nós já não nos sentimos revoltados quando estávamos na escola, na sala de aula? Quantas vezes
não sofremos ou sentimos uma grande discórdia pelo que nos era imposto? Quantas histórias lamentáveis
sobre opressão escolar nós não conhecemos? Quantas vezes, internamente, já não gritamos para que os
professores nos deixassem em paz?

E por que as coisas não mudam? Provavelmente porque é preciso uma verdadeira reforma na construção
interna e externa do ensino. Talvez devêssemos lutar para demolir os muros tradicionais, romper esse
paradigma que procura isolar professor e aluno, e destruir essa imagem de que seremos apenas mais um
simples tijolo numa edificação complexa de nossa sociedade.

Another Brick In The Wall” e o “Muro Social”

O muro existe e está sendo arquitetado. Como o homem deve lidar e se relacionar com essa situação?
Somos, cada um de nós, mais um tijolo que edifica uma barreira que nós próprios erguemos em torno de nós
mesmos. No conceito do álbum do Pink Floyd, o personagem central, Pink, tem cada um de seus traumas
transformado em tijolo. É certo que inicialmente muitos interpretam esse muro como algo inteiramente
negativo, que isola um indivíduo do restante da sociedade. Mas talvez haja um lado positivo nisso, pois a
construção de um muro também é necessária para que possamos nos abrigar dos males externos; portanto,
não podemos simplesmente ignorar o fator positivo que a barreira traz.

Provavelmente, o perigo deste muro encontra-se no fato de que alguns se isolam por completo dentro de
suas barreiras, e assim criam um mundo próprio, sem permitir que outras pessoas possam interagir com esse
novo espaço; e assim os construtores desse meio de proteção podem perder-se dentro de si mesmos. Se o
homem é um ser naturalmente social, então a completa separação com o mundo à sua volta ser-lhe-ia
prejudicial. Podemos, evidentemente, lançar agora um questionamento quase óbvio: a sociedade nos obriga
a ter a atitude de isolamento? Ou simplesmente nos isolamos porque nós decidimos fazê-lo? Até que ponto o
ambiente social nos induz a construir essa parede? Possivelmente trata-se de um pouco de cada coisa: a
sociedade influencia, mas os construtores do muro somos nós. O ambiente social nos influencia até o ponto
em que nós o permitimos. E é compreensível que o homem se defenda erguendo uma proteção em torno de
si. Conforme citado por Zygmunt Bauman: “Viver entre uma multidão de valores, normas e estilos de vida
em competição, sem uma garantia firme e confiável de estarmos certos é perigoso e cobra um alto preço
psicológico” (Modernidade Líquida).

Entretanto, questões de causas e finalidades sobre o muro talvez sejam menos relevantes do que o ponto
mais profundo ao qual, de fato, devemos atentar: o muro existe e está sendo arquitetado. Como o homem
deve lidar e se relacionar com essa situação? É fundamental sabermos construir essa parede que nos afasta
dos males e de certas ameaças que a sociedade oferece, mas também é fundamental que saibamos
desconstruir essa parede e demolir os tijolos cuja destruição julgamos necessária. Devemos, assim, mediar a
nossa posição dentro do universo e do lar que criamos para nós a partir da consciência de que esse muro é
uma realidade que se faz presente e viva em nosso cotidiano.

http://www.acervofilosofico.com/the-wall-pink-floyd-e-o-sistema-educacional
https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdefilmes/1005130

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