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ANAIS DO 4º CONGRESSO

Ibero Latino Americano


sobre Segurança Contra Incêndio

Recife, 09 a 11 de outubro de 2017


www.ufpe.br/cilasci4/

ISBN 978-85-5707-674-7

9 788557 076747
Recife/PE, Brasil
4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Universidade Federal de Pernambuco


Associação Luso-Brasileira para a Segurança contra Incêndio

ANAIS DO 4° CONGRESSO IBERO LATINO


AMERICANO SOBRE SEGURANÇA CONTRA
INCÊNDIO

José Jéferson do Rêgo Silva


Tiago Ancelmo de Carvalho Pires
Dayse Cavalcanti de Lemos Duarte
João Paulo Correia Rodrigues

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Copyright © 2017 by Albrasci

Todos os direitos reservados aos Autores

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

Organizadores
Universidade Federal de Pernambuco
Associação Luso-Brasileira para a Segurança contra Incêndio

Editores
José Jéferson do Rêgo Silva
Tiago Ancelmo de Carvalho Pires
Dayse Cavalcanti de Lemos Duarte
João Paulo Correia Rodrigues

Diagramação
Maria Oliveira

Capa
Claudio Lemos

Revisão
Comissão Científica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha Catalográfica

Congresso Ibero Latino Americano sobre segurança contra incêndio


(4. : 2017: Recife, PE).
C749a Anais: IV congresso Ibero Latino Americano sobre segurança
contra incêndio). / Universidade Federal de Pernambuco;
Associação Luso-Brasileira para a Segurança contra Incêndio;
comissão organizadora: José Jéferson do Rêgo Silva ... [et al.]. –
Olinda: Livro Rápido, 2017.

664 p. : il.

Evento realizado pela Universidade Federal de Pernambuco


ISBN 978-85-5707-674-7

1. Segurança contra incêndio. 2. Incêndio. 3. Anais. 4.


Prevenção de incêndio. I. Silva, José Jéferson do Rêgo.
II. Título.

614.8 CDU (1999)


Fabiana Belo - CRB-4/1463

Livro Rápido Editora – Elógica


Coordenadora editorial: Maria Oliveira

Rua Dr. João Tavares de Moura, 57/99 Peixinhos


Olinda – PE CEP: 53230-290
Fone: (81) 2121.5307/ (81) 2121.13
livrorapido@webelogica.com
www.livrorapido.com

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

MENSAGEM DOS ORGANIZADORES

Sejam todos bem-vindos ao 4º Congresso Ibero-Latino-Americano em Segurança Contra Incêndios.


Àqueles que ainda não a conhecem, bem-vindos, também, à bela cidade de Recife, que hospeda, pela primeira vez, este
evento que é destinado a tratar de temas referentes à segurança contra incêndio, com uma visão de integração entre
os diversos atores envolvidos nesta área de conhecimento. Nestes três dias do Congresso, de 09 a 11 de outubro,
estaremos, juntamente com todos vocês, buscando soluções que contribuam para a sustentabilidade dos
empreendimentos, que é entendida não apenas sob a ótica da preservação do meio ambiente, mas também sob o
ponto de vista da preservação da vida, associando fatores econômicos, políticos, sociais e culturais numa abordagem
inclusiva e de longo prazo. Esperamos contribuir também para a divulgação do conhecimento, capaz de esclarecer a
sociedade no que diz respeito à segurança contra incêndio.
Somando esforços e boas intenções, e reunindo a academia a profissionais e representantes de organizações
públicas e privadas, que atuam ou tenham intenções de contribuir para a segurança contra incêndio, estaremos,
através de palestras e debates, e com uma abordagem multidisciplinar, oferecendo uma oportunidade para discutir a
segurança contra incêndio, que está na pauta da discussão nacional em consequência dos sérios acidentes
recentemente ocorridos, e promovendo uma maior integração entre pesquisadores e profissionais, facilitando a
transferência de conhecimento ao mercado.
Estes Congressos, apesar de recentes, estão se consolidando na divulgação do conhecimento
sobre segurança contra incêndio, em nível nacional e latino americano, ampliando as áreas temáticas específicas e
estimulando novos trabalhos, que no evento encontram espaço para serem discutidos. A cada nova edição evidencia-se
o maior interesse por essa área de conhecimento. Apesar do momento difícil por que passa o Brasil, o 4ºCILASCI
conseguiu receber mais de 70 trabalhos e esperamos contar com a presença de mais de 150 participantes. Um
agradecimento especial aos autores dos trabalhos, palestrantes e patrocinadores que apoiaram o nosso Evento.
A todos, um ótimo Congresso!

Coordenação do 4º CILASCI

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

O EVENTO CILASCI

O CILASCI visa fomentar a cultura da segurança contra incêndio promovendo a discussão qualificada para
superar os seus desafios e a busca da cooperação entre diferentes agentes (públicos e privados), que atuam na
perspectiva de um processo de produção de ambientes construídos mais seguros e sustentáveis. A proposta do CILASCI
é integrar e disciplinar os esforços daqueles responsáveis pela produção técnica e científica na área de Segurança
Contra Incêndio (SCI), e interagir com os responsáveis pela implantação de medidas de prevenção, proteção e combate
a incêndio.
Com áreas temáticas abrangentes o CILASCI aborda a SCI em praticamente todas as atividades humanas, da
habitação à indústria, nos empreendimentos urbanos e rurais, trazendo aos seus participantes as inovações tecnológicas.
Os profissionais das áreas associadas a SCI devem ter o conhecimento básico sobre prevenção de incêndios na hora
de projetar, construir, instalar, operar e restaurar os mais variados empreendimentos. Nesse contexto, o CILASCI se
propõe a oferecer uma especial oportunidade para a discussão da SCI, com enfoque nestas práticas mais eficientes e
sustentáveis, fortalecendo a relação entre universidade e sociedade, a fim de preparar melhor os futuros profissionais e
de orientar o mercado.

PÚBLICO ALVO

O CILASCI é direcionado a profissionais, técnicos e estudantes, das mais diversas especialidades, que
trabalham ou tenham interesse nas áreas relacionadas à segurança contra incêndio. Entre estes se destacam:
engenheiros, arquitetos, administradores, psicólogos, bombeiros militares e civis, entre tantos outros que lidam com as
questões de segurança contra incêndio. Conciliar arquitetura, engenharia, gestão dos riscos, segurança, os interesses
públicos e privados com a prevenção e o combate a incêndio é cada vez mais necessário. Estarão reunidos no evento
pesquisadores, docentes, profissionais e técnicos em geral, alunos de graduação e de pós-graduação, empresários,
representantes de órgãos públicos, de ONGs e de entidades tecnológicas que lidam com as questões ambientais, sociais,
econômicas, educacionais, políticas e culturais relacionadas com a segurança contra incêndio. A convergência de
profissionais das mais diversas áreas de conhecimento e atuação é inerente ao evento pela complexidade dos
fenômenos estudados, a sua natural interdisciplinaridade e a larga abrangência e gravidade das consequências das
ocorrências de incêndios.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

GRUPO DE TRABALHO E HISTÓRICO

Os Congressos Ibero-Latino-Americano em Segurança Contra Incêndios possuem um caráter bienal e são


promovidos pela Associação Luso-Brasileira para a Segurança Contra Incêndios - ALBRASCI (www.albrasci.org).
A Associação Luso-Brasileira para a Segurança Contra Incêndio foi fundada em 30 de dezembro de 2009,
motivada por especialistas portugueses e brasileiros interessados em criar uma plataforma para o desenvolvimento da
Segurança Contra Incêndios em ambos os países.
A ALBRASCI surgiu tendo como público alvo os profissionais, pesquisadores, professores, legisladores e
demais interessados na área da SCI de Portugal e Brasil, congregando-os em uma única associação. No entanto, sempre
esteve aberta a acolher profissionais de outros países, com interesses comuns. Espera-se que indivíduos e instituições
encontrem na ALBRASCI uma entidade que os auxilie em todas as vertentes da SCI e os una em torno duma causa
comum. São objetivos da ALBRASCI:

 Promover o estudo, a investigação a formação em segurança contra incêndios;


 Informar, assessorar e aconselhar os cidadãos, o Estado, as empresas e outras entidades em questões
relativas à segurança contra incêndios;
 Organizar e participar em conferências, encontros e colóquios;
 Editar publicações periódicas ou não periódicas sobre a segurança contra incêndios;
 Promover e dinamizar projetos de utilidade pública relativos à segurança contra incêndios;
 Participar em associações, cooperativas, sociedades ou outras pessoas jurídicas, desde que tal
participação se mostre conveniente para os fins da Associação;
 Subscrever protocolos e acordos com quaisquer entidades que se disponham a colaborar e assegurar os
fins da Associação.

A ALBRASCI já promoveu os seguintes eventos:


I CILASCI – Natal/RN (Brasil) - 2011.
II CILASCI – Coimbra (Portugal) - 2013.
III CILASCI – Porto Alegre/RS (Brasil) - 2015.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

MENSAGEM DA ALBRASCI

A segurança contra incêndio deveria ser prioridade em todos os países. Catástrofes como na Boate Kiss, em
Santa Maria - RS (2013), no edifício Grenfell Tower (2017), em Londres - Inglaterra, ou mesmo no incêndio florestal
ocorrido em Pedrógão Grande (2017), em Portugal, todos com dezenas de mortos, e ocorrências como dos depósitos
de combustível da Ultracargo (2015), em Santos, na Usina Nuclear de Fukushima (2011), no Japão, ou na fábrica
Advanced Semiconductor Engineering/ASE (2005), em Taiwan, são alguns exemplos de como a ocorrência dos
incêndios pode impactar vidas, patrimônios, comércio mundial, meio ambiente, ou até mesmo patrimônios históricos,
áreas ligadas ao sistema energético de uma nação e áreas sensíveis à Defesa Nacional.
A história sugere duas estratégias complementares e correlacionadas para se prevenir os incêndios. Uma seria
por meio do aumento do conhecimento e da compreensão, por parte da sociedade, dos riscos de um incêndio e o que
fazer para minimizar seus efeitos. A outra estratégia, precursora da primeira, seria desenvolver o conhecimento técnico
e científico na área de segurança contra incêndio.
A Associação Luso-Brasileira para a Segurança Contra Incêndio (ALBRASCI) busca desenvolver essas
estratégias, em especial por meio de seus objetivos de promover o estudo, a investigação e a formação em segurança
contra incêndios, assim como de informar, assessorar e aconselhar os cidadãos, o Estado, as empresas e outras
entidades em questões relativas à segurança contra incêndios. Além disso, por meio do Congresso Ibero-Latino-
Americano em Segurança Contra incêndio, agora em sua 4ª Edição, a ALBRASCI mantém seu esforço em educar e
promover a pesquisa em segurança contra incêndio.
Concitamos todas as pessoas, empresas e instituições interessadas em participar no desenvolvimento e na
construção do conhecimento na área de segurança contra incêndio no Brasil e em Portugal a se associarem à ALBRACI
(www.albrasci.org) e assim ajudarem a tornar nossos países mais seguros.

Presidência da ALBRACI.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

COMISSÃO ORGANIZADORA

Coordenação da Comissão Organizadora

José Jéferson do Rêgo Silva – Universidade Federal de Pernambuco – Brasil

Dayse Cavalcanti Duarte – Universidade Federal de Pernambuco – Brasil

Tiago Ancelmo de C. Pires – Universidade Federal de Pernambuco – Brasil

Comissão Organizadora

Alexandre Landesmann – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil

Ângelo Just – Universidade Estadual de Pernambuco – Brasil

Antônio Barbosa Nunes Filho – Universidade Federal de Pernambuco - Brasil

Cristiano Correa – Corpo de Bombeiros do Estado de Pernambuco – Brasil

Edna Moura Pinto – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil

Eduardo Estevam – Corpo de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul– Brasil

George Cajaty Braga – Corpo de Bombeiros do Distrito Federal – Brasil

Luis Miguel dos Santos Laim – Universidade de Coimbra – Portugal

Paula Maria W. Maciel R. Silva – Universidade Católica de Pernambuco – Brasil

Paulo de Araújo Regis – Universidade Federal de Pernambuco - Brasil

Poliana Dias de Moraes – Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil

Romilde Oliveira – Universidade Católica de Pernambuco – Brasil

Rosária Ono – Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo – Brasil

Ricardo Fakury – Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil

Walnório Graça Ferreira – Universidade Federal do Espírito Santo – Brasil

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

COMISSÃO CIENTÍFICA

Coordenação da Comissão Científica


João Paulo Correia Rodrigues – Universidade de Coimbra – Portugal (Coordenador)
Alexandre Landesmann – Univ. Federal do Rio de Janeiro – Brasil (Co-coordenador)
Geraldine Charreau – Inst. Nacional de Tecnologia Industrial – Argentina (Co-coordenador)

Comissão Científica
Aldina Maria Santiago – Universidade de Coimbra – Portugal
António Moura Correia – Instituto Politécnico de Coimbra – Portugal
Bernardo Tutikian – Universidade do Vale dos Sinos – Brasil
Carlos Pina dos Santos – Laboratório Nacional de Engenharia Civil – Portugal
Cristina Calmeiro dos Santos – Instituto Politécnico de Castelo Branco – Portugal
Dayse Cavalcanti Duarte – Universidade Federal de Pernambuco – Brasil
Edna Moura Pinto – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil
Francisco Carlos Rodrigues – Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil
João Godinho Viegas – Laboratório Nacional de Engenharia Civil - Portugal
Jorge Gil Saraiva – Laboratório Nacional de Engenharia Civil - Portugal
Jorge Munaiar Neto – Escola de Eng. de São Carlos da Universidade de São Paulo – Brasil
José Carlos Lopes Ribeiro – Universidade Federal de Viçosa - Brasil
José Carlos Miranda Góis – Universidade de Coimbra - Portugal
José Jéferson do Rêgo Silva – Universidade Federal de Pernambuco - Brasil
Larissa Kirchhof – Universidade Federal de Santa Maria – Brasil
Lino Forte Marques – Universidade de Coimbra – Portugal
Luís Mesquita – Instituto Politécnico de Bragança – Portugal
Luis Miguel dos Santos Laim – Universidade de Coimbra – Portugal
Manuel Romero Garcia – Universidade Politécnica de Valencia – Espanha
Nuno Filipe Borges Lopes – Universidade de Aveiro – Portugal
Paulo Piloto – Instituto Politécnico de Bragança - Portugal
Paulo Vila Real – Universidade de Aveiro – Portugal
Poliana Dias de Moraes – Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil
Ricardo Azoubel Silveira – Universidade Federal de Ouro Preto – Brasil
Ricardo Cruz Hernandez – Universidade Industrial de Santander – Colômbia
Ricardo Fakury – Universidade Federal de Minas Gerais - Brasil
Rodrigo Barreto Caldas – Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil
Rogério Antocheves – Universidade Federal de Santa Maria - Brasil
Rosária Ono – Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo – Brasil
Tiago Ancelmo de Carvalho Pires – Universidade Federal de Pernambuco – Brasil
Valdir Pignatta e Silva – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – Brasil

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SUMÁRIO

ESTRUTURAS E MATERIAIS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

ALVENARIA ESTRUTURAL SOB AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS:


COMPARAÇÃO DE DIFERENTES BLOCOS ATRAVÉS DE TERMOGRAFIA
INFRAVERMELHA ....................................................................................................... 13
ALVENARIAS DE VEDAÇÃO EM BLOCOS CERÂMICOS SUBMETIDOS A
ELEVADAS TEMPERATURAS – RESULTADOS PRELIMINARES ........................... 21
ALVENARIAS DE VEDAÇÃO EM BLOCOS VAZADOS DE CONCRETO SIMPLES
SUBMETIDAS A ELEVADAS TEMPERATURAS – RESULTADOS PRELIMINARES.
...................................................................................................................................... 33
ANÁLISE EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DAS PLACAS DE GESSO
ACARTONADO NA RESISTÊNCIA AO FOGO DE SISTEMAS DE VEDAÇÃO
VERTICAL .................................................................................................................... 43
ANÁLISE EXPERIMENTAL DA RESISTÊNCIA AO FOGO DE VIGAS DE CONCRETO
ARMADO AXIALMENTE RESTRINGIDAS .................................................................. 55
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE ELEMENTOS DE MADEIRA EM SITUAÇÃO DE
INCÊNDIO .................................................................................................................... 65
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE ENCURVADURA AO FOGO DE COLUNAS
TUBULARES DE AÇO INOXIDÁVEL COM RESTRIÇÃO À DILATAÇÃO TÉRMICA..
...................................................................................................................................... 75
ANÁLISE NUMÉRICA DE PILARES MISTOS CURTOS, ATRAVÉS DOS MÉTODOS
IMPLICIT E EXPLICIT .................................................................................................. 85
ANÁLISE NUMÉRICA DE PILARES DE AÇO FORMADOS A FRIO EM
TEMPERATURAS ELEVADAS COM RESTRIÇÃO À EXPANSÃO TÉRMICA ........... 99
ANÁLISE TERMOMECÂNICA DE ESTRUTURAS DE AÇO VIA CS-ASA ................ 107
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE VIGAS METÁLICA E MISTA DE AÇO E CONCRETO
PARCIALMENTE REVESTIDA EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO................................ 117
ANÁLISE NUMÉRICA DE PILARES MISTOS DE AÇO E CONCRETO
PARCIALMENTE REVESTIDOS SUBMETIDOS A GRADIENTES TÉRMICOS ...... 127
ANÁLISES TÉRMICAS DE VIGAS MISTAS DE MADEIRA E CONCRETO EM
SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ......................................................................................... 137
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DAS TINTAS ESMALTE, EMPREGADAS NO
ACABAMENTO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS, NA SEGURANÇA CONTRA
INCÊNDIO DAS EDIFICAÇÕES ................................................................................ 147

vii
AVALIAÇÃO DA REAÇÃO AO FOGO DE MANTAS DE POLITEREFTALATO DE
ETILENO (PET) RECICLADAS .................................................................................. 155
AVALIAÇÃO DE ESTABILIDADE ESTRUTURAL EM EDIFICAÇÃO INCENDIADA.
.................................................................................................................................... 163
AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA ESPESSURA DE ALVENARIA
NA SUA RESISTÊNCIA AO FOGO ........................................................................... 175
AVALIAÇÃO NUMÉRICA DA REGRA DA ALÍNEA A.2.5 DO ANEXO A DA IT-08/2011
DO CBPMESP APLICADA A PISOS MISTOS........................................................... 187
CAPACIDADE DE ARRANCAMENTO DE PARAFUSOS AUTOATARRAXANTES
PERPENDICULARES ÀS FIBRAS NO PINUS ELLIOTTII SOB AÇÃO DE
TEMPERATURAS DA PRÉ-PIRÓLISE ...................................................................... 197
COMPORTAMENTO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO DE PILARES TUBULARES
CIRCULARES PREENCHIDOS COM CONCRETO E PILARES DE DUPLO-TUBO
.................................................................................................................................... 207
COMPORTAMIENTO Y DISEÑO DE VIGAS COMPUESTAS DE ACERO Y
HORMIGÓN EN SITUACIÓN DE INCENDIO ............................................................ 217
CONFIABILIDADE DE PILARES DE MADEIRA EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ..... 227
DESEMPENHO DE PROGRAMA EXPERIMENTAL NA SIMULAÇÃO DE SITUAÇÃO
DE INCÊNDIO NA ANÁLISE DE PILARES EM AÇO ................................................ 237
DETERMINAÇÃO EXPEDITA DA TEMPERATURA CRÍTICA DE PERFIS I DE AÇO
EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO .................................................................................. 247
DETERMINAÇÃO NUMÉRICA DO GRADIENTE TÉRMICO EM ELEMENTOS
METÁLICOS: ÊNFASE AO TIPO DE ELEMENTO FINITO E À COMPARTIMENTAÇÃO
.................................................................................................................................... 259
ESTADO DA ARTE DO DESEMPENHO EM ALTAS TEMPERATURAS DE
ELEMENTOS DE CONCRETO REFORÇADOS COM FIBRAS DE CARBONO E COM
DIFERENTES TIPOS DE PROTEÇÕES PASSIVAS ................................................ 269
ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS RESIDUAIS DO CONCRETO DE
ALTA RESISTÊNCIA COM E SEM O USO DE FIBRA DE POLIPROPILENO
SUBMETIDO A ALTAS TEMPERATURAS ................................................................ 279
LAJES STEEL DECK EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO - UMA ABORDAGEM
NUMÉRICA ................................................................................................................. 289
MÉTODO SIMPLIFICADO PARA ANÁLISES TERMESTRUTURAIS DE PILARES
CURTOS DE CONCRETO ARMADO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ..................... 297
MODELAGEM DO DESEMPENHO AO FOGO DE PILARES TUBULARES EM AÇO
.................................................................................................................................... 307
PILARES DE AÇO FORMADOS A FRIO COM REVESTIMENTO CONTRA FOGO
................................................................................................................................... .315

viii
PROPRIEDADES FISICO-QUÍMICAS DE UM BETÃO DE ALTA RESISTÊNCIA
REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO E POLIPROPILENO QUANDO EXPOSTO A
ALTAS TEMPERATURAS .......................................................................................... 325
PUNÇÃO EM LAJES DE CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ................... 337
RESISTÊNCIA RESIDUAL DO CONCRETO EXECUTADO COM DIFERENTES TIPOS
DE AGREGADO GRAÚDO E EXPOSTO ÁS ALTAS TEMPERATURAS ................. 347
SOBRE A FLEXÃO COMPOSTA OBLÍQUA DE PILARES DE CONCRETO ARMADO
DE ALTA RESISTÊNCIA EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ......................................... 357

SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO

ACUIDADE E REPRESENTATIVIDADE NA SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DE


INCÊNDIO ................................................................................................................. 375
ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NAS
EDIFICAÇÕES ESCOLARES DE PERNAMBUCO ................................................... 385
ANÁLISE QUANTITATIVA DO RISCO DE INCÊNDIO EM TERMINAL DE
ARMAZENAMENTO DE COMBUSTÍVEL NO COMPLEXO PORTUÁRIO E
INDUSTRIAL DE SUAPE ........................................................................................... 395
ANÁLISIS TERMO-ESTRUCTURAL DE TANQUES DE COMBUSTIBLE ............... 407
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DOS GUARDA CORPOS CONTROLADORES DE
FLUXO NA EVACUAÇÃO DA BOATE KISS POR MEIO DE SIMULAÇÃO
COMPUTACIONAL .................................................................................................... 415
AVALIAÇÃO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO: MÉTODO ALTERNATIVO
APLICADO A EDIFICAÇÕES BRASILEIRAS ............................................................ 425
AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE SPRINKLER ........................................................... 441
COMBATE A INCÊNDIO: O TREINAMENTO INTENSIVO E A MELHORIA NO
CONSUMO DE AR EM EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA .......... 449
CONFLITOS ENTRE AS NORMAS BRASILEIRAS DE ACESSIBILIDADE E SAÍDAS
DE EMERGÊNCIA ...................................................................................................... 455
ENTENDENDO A LEGISLAÇÃO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NO CASO
DO PROJETO DE SAÍDAS DE EMERGÊNCIA PARA A CIDADE DE SÃO PAULO
.................................................................................................................................... 465
ESTATÍSTICAS DE INCÊNDIOS ESTRUTURAIS NO BRASIL: DO ‘ANUÁRIO’ AOS
DIAS ATUAIS ............................................................................................................. 475
ESTUDO SOBRE AS NORMAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO UTILIZADAS
PELOS CORPOS DE BOMBEIROS MILITARES DO BRASIL ................................. 481

ix
EVACUAÇÃO EMERGENCIAL DE LOCAIS OCUPADOS POR PESSOAS COM
DIFICULDADE DE MOBILIDADE EM CASO DE INCÊNDIO ................................... 491
FATORES QUE INFLUENCIAM A EFICIÊNCIA NO COMBATE AOS INCÊNDIOS
URBANOS ................................................................................................................. 499
FRAGILIDADE NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE: MAPEAMENTO,
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DOS INCÊNDIOS QUE OCASIONARAM MORTES
E FERIDOS ................................................................................................................ 509
INCÊNDIO NATURAL EM COMPARTIMENTO DE RESIDÊNCIA NA CIDADE DE
RECIFE: RESULTADOS PRELIMINARES DE UM ESTUDO EXPERIMENTAL ...... 523
INFLUÊNCIA DA DESENFUMAGEM NA EVACUAÇÃO DUM BLOCO OPERATÓRIO
DUM HOSPITAL ........................................................................................................ 531
INSTALAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLE DE FUMAÇA MECÂNICO EM
COMPARTIMENTOS TÉRREOS ............................................................................... 545
PLANO DE GESTÃO E PREVENÇÃO DE COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÕES
EM SUBESTAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA EM ALTA TENSÃO ........................ 555
RISCO DE INCÊNDIO NOS TERMINAIS DE ARMAZENAMENTO DE LÍQUIDO
COMBUSTÍVEL .......................................................................................................... 567
ROTAS DE FUGA E SAÍDA DE EMERGÊNCIA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
– PCD ........................................................................................................................ 579
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO: A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE UMA
ESCOLA DE ENSINO MÉDIO EM PAU DOS FERROS/RN ..................................... 589
SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DE UM INCÊNDIO NATURAL
COMPARTIMENTADO: VALIDAÇÃO COM UM ESTUDO EXPERIMENTAL ........... 597
SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO EM UMA UNIDADE HABITACIONAL ........................ 607
SIMULAÇÃO DE SISTEMA DE EXTRAÇÃO MECÂNICA DE FUMAÇA EM UM ÁTRIO
UTILIZANDO DIFERENTES PROGRAMAS COMPUTACIONAIS ........................... 615
SINALIZAÇÃO DE EMERGÊNCIA E PERCEPÇÃO VISUAL.................................... 623
TERRENOS COM EMANAÇÃO DE GÁS INFLAMÁVEL: RISCOS E SOLUÇÃO .... 631
TRAJES PARA COMBATE A INCÊNDIOS E O CONFORTO TÉRMICO: UM ESTUDO
COMPARATIVO ......................................................................................................... 637
UNIVERSIDADE CORPORATIVA: UM MODELO DE EXCELÊNCIA PARA O SISTEMA
DE ENSINO BOMBEIRO MILITAR ........................................................................... 645
VELOCIDADE DE CAMINHAMENTO DE CRIANÇAS EM ESCADAS E TRECHOS
PLANOS COLETADAS EM SIMULADOS DE ABANDONO ..................................... 655

x
Estruturas e Materiais em
Situação de Incêndio
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ALVENARIA ESTRUTURAL SOB AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS:


COMPARAÇÃO DE DIFERENTES BLOCOS ATRAVÉS DE TERMOGRAFIA
INFRAVERMELHA

Julia Menegon Lucas A. Reginato Alexandre Lorenzi


Engª. Civil Professor, MSc Professor, DSc
Universidade Federal do Rio Universidade Federal do Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Rio Grande do Sul Grande do Sul
Porto Alegre-RS, Brasil Porto Alegre-RS, Brasil Porto Alegre-RS, Brasil

Ângela Gaio Graeff* Luiz Carlos Pinto da Silva Filho


Professor, PhD Professor, PhD
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre-RS, Brasil Porto Alegre-RS, Brasil

Palavras-chave: Termografia, alvenaria estrutural, altas temperaturas, miniparedes.

1. INTRODUÇÃO

O sistema de construção em alvenaria avançou, primeiramente, pelo empilhamento de tijolos e


paredes, de forma que fosse desempenhada a aplicação de seus projetos. A maioria dos vãos
em alvenaria possuía a característica de serem relativamente pequenos e as edificações tinham
uma durabilidade muito curta. Com o desenvolvimento do sistema construtivo, agregou-se o arco
na estrutura, obtido por meio de arranjos das unidades, garantindo, assim, uma maior vida útil
para as construções. No decorrer do tempo o sistema foi se aperfeiçoando tendo como resultado
o desenvolvimento do sistema de alvenaria estrutural.

A alvenaria estrutural é conceituada por Villar [1] como sendo um sistema construtivo
racionalizado, onde os elementos de vedação também desempenham a função estrutural. Sua
composição se dá pela união de blocos (de cerâmica, concreto, ou sílico-calcáreos) com juntas
horizontais e verticais de argamassa de assentamento, e após executado pode ou não receber
aplicação de revestimentos. As características da argamassa exercem importância nos
resultados de resistência à compressão do conjunto, porém o bloco estrutural tem função
principal de resistência do sistema construtivo. Problemas estruturais podem ocorrer à uma
edificação, caso a alvenaria não possua capacidade de suporte [2].

Conforme Ramalho e Corrêa [3], a utilização da alvenaria estrutural parte de uma concepção que
é a de transformar a alvenaria, originalmente com função exclusiva de vedação, na própria
estrutura, evitando a necessidade execução de de pilares e vigas que dão suporte a uma
estrutura convencional.

*
Autor correspondente – Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (LEME). Av. Bento Gonçalves, 9500 – Prédio 43436 – Setor 4 – Porto

Alegre /RS. Tel.: +55 55 3308 9547. e-mail: angel.graeff@gmail.com

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Utiliza-se este sistema construtivo desde a antiguidade por quase todas as civilizações, sendo a
principal técnica construtiva executada até o início do século XX [1]. Porém, devido ao
desenvolvimento de pesquisas com a utilização de aço e concreto armado nas construções, a
alvenaria estrutural perdeu espaço, considerando que estes materiais permitiram a construção
de estruturas mais esbeltas, mais leves e tecnicamente melhor compreendidas. Diversas são as
tipologias de blocos disponíveis atualmente no mercado, podendo os mesmos variar em
dimensão, geometria, material, resistência à compressão, etc.

Entre as qualidades da alvenaria estrutural podemos citar a segurança, a proteção ao fogo,


redução do tempo de execução, a racionalização estrutural, isolamento térmico e acústico, a
subdivisão de espaços e a redução de camadas de revestimento. Tais qualidades fazem deste
método algo muito atrativo para o mercado consumidor [4]. Todavia as paredes das edificações
estão em risco constante de serem expostas a situações de incêndio e, nessas ocasiões,
possuem papel fundamental na proteção e segurança dos usuários e da edificação.

Sabe-se que o entendimento do funcionamento e comportamento das estruturas em situações


extremas é de suma importância para o aperfeiçoamento das normas e regulamentações que
norteiam, não só o trabalho dos responsáveis técnicos, como também de bombeiros e órgãos
fiscalizadores. Por isso, cada vez mais torna-se imprescindível a intensificação de estudos e
pesquisas acerca desse tema, para que, a partir de então, possamos projetar estruturas que se
mantenham íntegras e garantam a segurança de seus usuários.

Nesse sentido, visando compreender a diferença de propagação de calor na face não exposta
de paredes de alvenaria estrutural construídas com diferentes tipos de blocos ao serem expostas
a altas temperaturas foi desenvolvido o presente estudo.

De forma a possibilitar a realização desta análise, utilizou-se a Termografia Infravermelha (TI),


objetivando a detecção da faixa espectral infravermelha emitida pelas amostras. A TI é um
método de Ensaio Não Destrutivo (END) que, por meio de dispositivos de captação de imagens
térmicas, permite a análise de informações da distribuição de calor em superfícies sem
necessidade de contato com as mesmas. Essas características auxiliam na análise das
diferenças entre blocos cerâmicos frente à ação de altas temperaturas.

2. TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA

A TI está baseada no princípio de que anomalias embaixo da superfície em um material afetam


o fluxo de calor que passa por aquele material. Através dessas mudanças no fluxo de calor,
localizam-se diferenças na temperatura da superfície. Medindo essa temperatura em certas
condições de fluxo de calor, pode-se determinar a localização das anomalias.
Sistemas termógrafos infravermelhos são usados para medir a intensidade de calor emitida por
um material submetido a uma pulsação de calor. Uma área de defeito tem condutividade térmica
diferente e se revela como uma área resfriada ou com manchas quentes [5]. Através da sua
aplicação na alvenaria é possível mapear falhas que podem ocorrer nas alvenarias com a
consequente fuga de calor através desta falha.

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Medindo essa temperatura em certas condições de fluxo de calor, pode-se determinar a


localização das anomalias, todavia os resultados da termografia são apresentados em formas
de termogramas. Os termogramas são gerados pelos termógrafos infravermelhos, usados para
medir a intensidade de calor emitida por um material submetido a uma pulsação de calor. Uma
área de defeito tem condutividade térmica diferente e se revela como uma área resfriada ou com
manchas quentes [6]. A termografia é utilizada em estruturas de concreto para detectar defeitos,
que têm condutividade térmica mais baixa do que o concreto [7].

O monitoramento foi realizado com o auxílio de uma câmera termográfica FLIR T440. As
comparações foram feitas para períodos progressivos de tempo, a fim de visualizar a evolução
do aquecimento na face não exposta.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Segundo a NBR 5628 [8], ensaios de resistência ao fogo em paredes devem ser realizados em
amostras de tamanho representativo. Para realização deste estudo, no entanto, foram utilizadas
paredes de dimensões reduzidas (miniparedes) com 90 cm de altura por 80 cm de comprimento,
devido às restrições dos equipamentos disponíveis em laboratório.

A construção das amostras foi realizada por profissional qualificado, afim de manter o padrão de
qualidade necessário. A confecção das miniparedes e sua configuração final podem ser vistas
na Figura 1.

(a) (b)
Figura 1: Construção (a) e configuração final (b) das miniparedes ensaiadas.

As miniparedes ensaiadas foram construídas com dois tipos de unidades diferentes. O primeiro,
identificado como Bloco B1, é um bloco cerâmico com dimensões 14 x 19 x 29 cm (L x H x C) e
paredes vazadas, tendo uma resistência à compressão de 7MPa. O segundo bloco, chamado de
Bloco B2, também cerâmico, possui a mesma resistência à compressão do anterior, porém, sua
espessura é superior, medindo 19 x 19 x 29 cm (L x H x C). Suas paredes, assim como as do

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bloco B1, são dotadas de cavidades verticais. Ambas as unidades utilizadas no presente estudo
estão ilustradas na figura 2.

(a) (b)

Figura 2: Blocos utilizados para confecção das amostras. (a) Bloco B1. (b) Bloco B2.
(<http://www.pauluzzi.com.br/produtos.php>)

As amostras foram construídas utilizando uma argamassa industrializada de resistência à


compressão aos 28 dias em torno de 4 MPa, com juntas de espessura 10mm, e não foram
revestidas em nenhuma das suas faces. Após período de cura de cerca de 60 dias, as
miniparedes foram acopladas a um forno de resistências elétricas e submetidas a uma elevação
de temperatura similar à curva padrão descrita pela norma internacional ISO 834 [9] até atingir a
temperatura de aproximadamente 900ºC. Depois de atingida a temperatura necessária para a
realização do ensaio, manteve-se o aquecimento e o monitoramento das amostras durante o
período de 4 horas. Previamente à realização do ensaio, aplicou-se um carregamento vertical de
aproximadamente 90kN nas amostras, que foi mantido durante a exposição, a fim de simular as
ações de serviço às quais uma alvenaria com função estrutural seria submetida, conforme pode
ser visualizado na Figura 3.

Figura 3: Esquema de ensaio utilizado

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4. RESULTADOS

Durante o ensaio, foi realizado monitoramento contínuo da temperatura na face externa das
amostras. Para facilitar a comparação, no entanto, foram selecionadas imagens captadas em
determinados instantes do ensaio. Os resultados da TI nos tempos iniciais do ensaio estão
ilustrados na Tabela 1, para ambos os tipos de blocos. São apresentadas capturas no tempo
zero, aos 15 minutos e aos 45 minutos. As imagens representam o momento de aquecimento
das amostras.

Tabela 1: Termografia para os tempos de 0, 15 e 45 minutos.


0 min 15 min 45 min
Bolo 1
Bloco 2

Salienta-se que as regiões mais claras das imagens representam as zonas de maior temperatura
das amostras. É possível notar que as maiores temperaturas são observadas nas juntas
argamassadas da alvenaria.

Na Tabela 2 estão apresentados os resultados para os tempos finais do ensaio: 1, 2 e 4 horas.


Nesse período o forno e, consequentemente, o lado exposto das miniparedes já atingiram a
temperatura máxima do ensaio. Na face externa, o aumento de temperatura ocorre devido às
transmissões de calor ao longo da espessura da amostra.

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Tabela 2: Termografia para os tempos de 1, 2 e 4 horas.


1 hora 2 horas 4 horas
Bolo 1
Bloco 2

Analisando os resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2, pode-se observar que, na fase de


aquecimento das miniparedes, as amostras construídas com os dois tipos de blocos
apresentaram comportamentos distintos. A miniparede confeccionada com o bloco 1 apresentou
um aquecimento mais acentuado nos tempos iniciais (Tabela 1), se comparado ao Bloco 2,
indicando maior transmissão de calor entre as faces interna e externa da amostra. Tal
comportamento pode ser explicado pelo fato de que a alvenaria composta pelo bloco 2 possui
maior espessura, o que retardaria a passagem de calor para o meio externo.

Todavia, quando se analisa a temperatura das miniparedes na face não exposta após o tempo
de aquecimento (Tabela 2), observa-se que os dois tipos de blocos apresentaram
comportamento semelhantes em relação a elevação da temperatura na face não exposta da
miniparede. Isto pode ocorrer devido ao fato de que a partir de certo nível de temperatura, todo
o calor consegue ser irradiado.

5. CONCLUSÕES

De forma geral, o presente estudos reforça a idéia de que a utilização de TI é uma ferramenta
útil para a análise de alvenaria estrutural submetida a altas temperaturas. Seu emprego permite
obter indicações importantes para a caracterização das alvenarias quando.

Utilizando a TI como ferramenta de análise de blocos cerâmicos frente a ação de altas


temperaturas, constata-se que esta técnica auxilia na verificação do comportamento de sistemas
de alvenarias estruturais frente a ação de calor. Nesse estudo de caso, em que se analisou dois
tipos de blocos, pode-se concluir que o Bloco 1 apresentou um aquecimento mais acentuado nos
tempos iniciais, se compadrado ao Bloco 2, devido ao fato de possuir maior dimensão, originando

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uma alvenaria mais espessa. Entretanto, após a fase de aquecimento os dois tipos de blocos
apresentaram comportamentos semelhantes.

Desta forma conclui-se que existe uma diferença entre os sistemas construídos com blocos de
diferentes espessuras, principalmente na fase inicial do aquecimento da miniparedes, indicando
que paredes mais espessas podem proporcionar maior isolamento térmico para o ambiente.

6. REFERÊNCIAS

[1] VILLAR, F. H. R. Alternativas de sistemas construtivos para condomínios residenciais


horizontais - estudo de caso. São Carlos, 2005. 139 p. Dissertação (Mestrado em
Construção Civil), Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
[2] LIMA, A. N. Análise experimental da influência da resistência e espessura da argamassa
de assentamento no desempenho mecânico de prismas de blocos cerâmicos. 2010. 128f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil: Estruturas) – Universidade Federal de
Alagoas, Centro de Tecnologia. Maceió, 2010.
[3] RAMALHO, M. A. e CORRÊA, M. R. S. Projeto de edifícios de alvenaria estrutural. 1. ed.
São Paulo: Pini, 2003. 174 p.
[4] BARBOSA, C. S. Resistência e deformabilidade de blocos vazados de concreto e suas
correlações com as propriedades mecânicas do material constituinte. 2004. 162f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia das Estruturas) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.
[5] LORENZI, A; REGINATO, L.A; CAMPAGNOLO, J.L.; SILVA FILHO, L.C.P.; Viabilidade da
utilização de ensaios não destrutivos para inspeção de estruturas de concreto. In: 11°
Congresso Internacional sobre Patologia e Recuperação de Estruturas. São Leopoldo.
2016.
[6] BAUER, E. ; CASTRO, E. K.; OLIVEIRA FILHO, A. H.; PAVÓN, E.; Critérios para aplicação
da termografia de infravermelho passiva como técnica auxiliar ao diagnóstico de patologias
em fachadas de edifícios. In: 1° Encontro Luso-Basileiro de degradalção em estruturas de
concreto armado. Salvador. 2014.
[7] VAN LEEUWEN, J; NAHANT, M; PAEZ, S. Study of Pulsed Phase Thermography for the
Detection of Honeycombing Defects in Concrete Structures. e-Journal of Nondestructive
Testing, In: NDT&E of Composite Materials, 2011.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5628: componentes
construtivos estruturais - determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro, 2001ª
[9] INTERNATIONAL OGRANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 834: fire-resistance
tests - Elements of building construction. Genève, 1994.

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ALVENARIAS DE VEDAÇÃO EM BLOCOS CERÂMICOS SUBMETIDOS A


ELEVADAS TEMPERATURAS – RESULTADOS PRELIMINARES

Antônio Arthur C.M. Coelho J. J. Rêgo Silva


Mestrando Professor
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife-Pe, Brasil Recife-Pe, Brasil

Tiago A. C. Pires Arnaldo M. P. Carneiro


Professor Professor
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife-Pe, Brasil Recife-Pe, Brasil

Palavras-chave: Alvenarias de vedação, bloco cerâmico, incêndio, resistência ao fogo

1. INTRODUÇÃO

Dentre os avanços da construção civil, um dos assuntos que mais chama atenção, é o uso das
alvenarias. Por ser uma estrutura de uso corriqueira nos principais canteiros de obra do país,
as alvenarias tem como virtudes, seu poder de flexibilidade quanto a sua usabilidade. Diante
disso é de suma importância, que estudos voltados para analise dessa estrutura, sejam
intensificados e cada vez mais aprimorados. Surgiram ao longo do tempo, vários fatores, como
o efeito do clima, terremotos, mudanças de projetos ao longo da vida útil das edificações,
acidentes de percurso, entre outros que preocupavam a resistência das alvenarias. Há dúvidas
ainda no mercado da construção civil, em saber qual será o comportamento que as paredes de
vedação em blocos cerâmicos, quando submetidas a elevadas temperaturas. Diante disso há
pesquisas nesse sentido, que foram iniciadas há alguns anos, a fim de entender as possíveis
conseqüências que uma situação de incêndio pode vir à causa nessas paredes.

O objetivo geral deste trabalho visa estudar o comportamento das alvenarias de vedação,
executadas por blocos cerâmicos, fabricados e utilizados na região metropolitana do Recife,
confeccionadas com argamassas industrializadas (para assentamento e para o revestimento),
quando submetidas a altas temperaturas. O objetivo principal da pesquisa foi ensaiar seis mini-
paredes (1,50 x 1,50 m) para verificação da resistência ao fogo. Das seis paredes ensaiadas,
duas eram revestidas com 1,0 cm de reboco em ambas as faces, duas com revestimento em
reboco em apenas uma das faces e duas sem nenhum tipo de revestimento, cujo objetivo
principal era avaliar a influência da camada de 1,0 cm de reboco nas paredes, quando
submetida a elevadas temperaturas.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Alguns trabalhos encontram-se disponíveis na literatura sobre alvenarias submetidas a


elevadas temperaturas, em blocos cerâmicos e blocos de concreto, nos quais foi possível
observar os tipos de blocos ensaiados, dimensões das alvenarias, tipo de aquecimento e a
presença ou não de carregamento. Observa-se que de 1984 até meado de 2012, há estudos
relacionados sobre alvenarias submetidas a elevadas temperaturas.

RogowskiI[1], estudou paredes preenchidas com substratos, para servir de isolamento térmico
em paredes vedadas e não vedadas. As paredes eram em blocos de concreto, com dimensões
1,30m x 1,10m e 2,50m x 2,50m, e preenchidas com três tipos de substratos: placas de
polietileno expandida (EPS), enchimento granular de fibra ou cordão e espuma liquida de
poliuretano.

Saada [2] desenvolveu um estudo que visava comparar os resultados experimentais com os
modelos térmicos desenvolvido por ele, para avaliar o aquecimento das paredes quando
submetidas ao incêndio. Então nos seus experimentos, ele ensaiou paredes de (2,80 x 2,82),
com blocos de concreto (49 x 19,7 x 20 cm), submetidas a cargas de 13 ton/m, cujo
aquecimento do forno (3,0 x 3,0 x 1,4 m).

Nguyen [3] apresentou em suas pesquisas uma ferramenta computacional capaz de avaliar o
comportamento ao fogo das paredes de tijolos de argilas assentados em argamassas.Nos seus
experimentos foram ensaiados 4 (quatro) paredes: 2 (duas) com carregamento e 2 (duas) sem
carregamento.

No Brasil, Rosemann[4], estudou paredes com preenchimentos de areia, para resistir ao fogo
em alvenarias estruturais com blocos cerâmicos, através de métodos experimentais. Nos
experimentos foram realizados ensaios conforme a NBR 5628 [7], em 4 (quatros) parede
medindo 2,70 x 2,60m, com blocos de 14 x 19 x 29 com fck= 9 N/m², alterando a presença de
revestimento (reboco nas paredes) e preenchimento (de areia na parte interna dos tijolos).

Rigão[5] estudou sobre as paredes estruturais de blocos cerâmicos, quando submetidas a altas
temperaturas. Nos seus estudos ele ensaiou as resistências dos prismas (2 blocos) e de
pequenas paredes (0,90 x 1,0 m) quando submetidas a altas temperaturas

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Tabela 1: Resumo dos estudos em alvenarias submetidas a elevadas temperaturas.

Autor: ROGOWSKI (1984)


Estudo: Resistência ao fogo das paredes preenchidas com substrato
Carregamento: Não
Dimensão das paredes: 1,30 x 1,10 & 2,50 x 2,50 m
Tipo e dimensões do bloco Bloco de concreto - 22 x 22 x 19 cm
Autor: SAADA (2006)
Comparativo dos resultados experimentais com o modelo
Estudo:
térmico desenvolvido.
Carregamento: Sim - 13 ton/m
Dimensão das paredes: 2,80 x 2,82 m
Tipo e dimensões do bloco Bloco de concreto - 49 x 19,7 x 20 cm
Autor: NGUYEN (2010)
Desenvolver uma ferramenta computacional, capaz de avaliar
Estudo:
o comportamento ao fogo de paredes de tijolo cerâmico.
Carregamento: Sim- 130 KN/m &90 KN/m
3,00 x 3,00
Dimensão das paredes: 2,84 x 3,30
2,00 x 2,45
Bloco Cerâmico- 10 x 57 x 30 cm, 20 x 56 x 27,4 cm, 20 x 57 x
Tipo e dimensões do bloco
20 cm
Autor: ROSEMANN (2011)
Estudar a influência de paredes revestidas e não revestidas e
Estudo:
preenchidas e não preenchidas, quando submetida ao fogo.
Carregamento: Não
Dimensão das paredes: 2,70 x 2,60
Tipo e dimensões do bloco Bloco de Concreto- 14 x 19 x 29 cm
Autor: RIGÃO (2012)
Estudar sobre paredes estruturais de blocos cerâmicos
Estudo:
quando submetida a altas temperaturas.
Carregamento: Não
Dimensão das paredes: 0,90 x 1,10 m
Tipo e dimensões do bloco Bloco Cerâmico - 14 x 29 x 19 cm

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1- Materiais e equipamentos

3.1.1- Blocos cerâmicos de vedação

Segundoa NBR 15270-1 [6], existem vários tipos de blocos cerâmicos de vedação, porémo
bloco escolhido para ser utilizado nos experimentos, foi o bloco com furos na horizontal, cujas
dimensões são: 9,0 cm de largura, 9,0 cm de altura e 19,0 cm de comprimento. Esse bloco foi
escolhido, pois é o mais utilizado nos canteiros de obras da Região Metropolitana do Recife.

Para aceitação do lote de blocos cerâmicos de vedação, a norma [6], solicita alguns ensaios:
características geométricas, características físicas e características mecânicas. Porém, foram
feitos os ensaios de característica mecânica, ou seja, resistência a compressão individual dos
blocos. Foram ensaiados 13 blocos cerâmicos, cujo todos os resultados deram acima de 1,5
Mpa, conforme solicira a [6], sendo assim aprovado o lote, para execução das alvenarias.

3.1.2- Argamassas.

As argamassas utilizadas no assentamento das alvenarias e no revestimento (reboco) das


paredes foramindustrializas do mesmo fabricante, onde era composta de: cimento, cal
hidratada CHI, aditivos químicos, agregados minerais e areia. Eram misturado de 5,0 a 6,0L de
água para cada saco de 30kg e posteriormente as mesma eram utilizadas. As argamassas de
revestimento tinham em como características: Retenção de água >90% conforme NBR 13277 e
teor de ar incorporado > 8 e <18% conforme NBR13278. Além dessas características, segundo
o fabricante, a argamassa de revestimento apresentava uma resistência a compressão > 8,0
MPa e uma resistência de tração na flexão de 2,0 a 3,5 MPa.

3.1.3- Forno elétrico

O forno utilizado para ensaios das paredestem capacidade máxima de aproximadamente


1200ºC, composto por resistênciaselétricas em todas as paredes e na porta.O área livre para
aquecimento é de 1,0 x 1,0 m. A taxa de aquecimento é aplicada por meio de controlador
eletrônico de temperatura interligado com o forno.

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Figura 1: Forno e controlador utilizados no aquecimento das alvenarias

Na figura 1, pode-se observar o forno utilizado nos aquecimentos das paredes. Nos ensaios
das paredes, foi necessário vedar todo perímetro de junta do forno com a parede, com manta
de lã de vidro, para que houvesse um isolamento adequado.

3.2- Método

As seis paredes ensaiadas na pesquisa foramconstruídas em cima de um pórtico metálico, o


qual dava uma melhor estabilidade. As mesmas eram revestidas com argamassa
industrializadas e posteriormente deixadas em um tempo de cura de 28 dias.Para melhor
controle e organização as paredes foram numeradas de 1 a 6; sendo a 1 e a 4 revestidas nos
dois lados, a 2 e a 5 revestidas apenas em uma face e 3 e 6 sem revestimento. Após os 28
dias, as alvenarias eram ensaiadas uma a uma, cujo o procedimento de ensaio seguia a
seguinte seqüência:

1. Posicionava-se o forno elétrico em uma das faces das paredes;


2. Travava-se o fornojuntamente com a parede;
3. Locava-se os termopares externos na parede ensaiada, face oposta ao fogo;
4. Configurava-se a programação do forno para o aquecimento;
5. Iniciava-se o ensaio.

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Figura 2: Construção das alvenarias Figura 2: Locação dos termopares

Na figura 2, pode-se verificar a fase de construção das alvenarias, as quais eram estruturadas
nos pórticos metálicos. Na figura 3, observam-se os 5 pontos locados dos termopares na face
oposta ao fogo, divididos em áreas iguais, para as leituras de temperatura, conforme
recomenda [7].

Gráfico 1: Curva de aquecimento da par. 1 Gráfico 2: Curva de aquecimento da par.2

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Gráfico 3: Curva de aquecimento da par.3 Gráfico 4: Curva de aquecimento da par.4

Gráfico 5: Curva de aquecimento da par.5 Gráfico 6: Curva de aquecimento da par.6

Nos gráficos 1 ao 6, representa as leituras de medição das temperaturas internas do forno em


cada ensaio, através de 3 ou 4 termopares, alocados na face exposta ao fogo. Além das

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curvas de temperatura, também é representado a curva de aquecimento padrão ISO. Verifica-


se que em todos os ensaios, as leituras de termopares ficaram sempre abaixo da curva da ISO,
variando sempre a diferença entre as temperaturas requeridas e as temperaturas obtidas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram medidas as temperaturas da face oposta ao fogo, para calcular o tempo de resistência
ao fogo (TRF) de cada parede, além disso, calculou-se a taxa de aquecimento (°C/min), obtida
em cada parede,cujo o objetivo era verificar a influência de 1,0 cm do reboco.
Em todos os ensaios das paredes, houve um pré-aquecimento até 100ºC, o qual durava em
média 19 a 21 minutos. Nosgráficos 1 a 6, verificou-se que a diferença entre a curva de
aquecimento da ISO do forno, com relação a curva dos termopares obtidas, variou-se de 3%
há 19%, ou seja, as curvas obtidas foram próximas as curvas padrão da ISO, embora a
tolerância máxima recomendada por [7] é de 15% nos primeiros 10 minutos.

De todos os ensaios, foi verificado o processo de estanqueidadeno ensaio da parede 3, a qual


teve vazamento de gás e o chumaço de algodão foi queimado, paralisando com isso o ensaio.
Todos os outros ensaios foram finalizados, quando a média das temperaturas dos termopares
da face oposta obteve uma média de 140ºC.

Figura 5: Face da alvenaria exposta ao fogo. Figura 6: Face da alvenaria opsta ao fogo.

Na figura 5, verifica-se a face exposta ao fogo logo após a finalização de um dos ensaios.
Pode-se observar a região delimitada da ação do forno nas paredes, assim como pode-se
verificar as fissuras ocasionadas pelo fogo na camada de revestimento (reboco). Na figura 6,
mostra a face oposta ao fogo, podendo verificar as fissuras horizontais e verticais.

Em cada parede, mediu-se o tempo (min) em que a alvenaria resistia ao fogo conforme [7] e
conclui-se que as paredes com reboco nas duas faces obtiveram um tempo médio aproximado

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de 79 minutos, nas paredes com apenas uma face rebocada o tempo médio aproximado de 67
minutos e nas alvenarias sem reboco, o tempo médio foi de aproximadamente 52 minutos.

Gráfico 2: Tempo de resistência ao fogo em cada tipo de alvenaria.

Além das leituras internas, foram analisadas as leituras externas para que pudesse atender o
critério de parada aconselhado pela [7]. Na face oposta ao fogo, foram sempre utilizados cinco
termopares divididos igualmente na face das paredes. Diante das leituras dos termopares
foram calculadas as taxas de aquecimento e medido o tempo final de resistência das paredes.

Gráfico 3: Taxa de aquecimento x tipo de revestimento

No gráfico 8, verifica-se a taxa de aquecimento (°c/min), obtidas em cada tipo de revestimento,


teve uma média de 1,35ºc/min para alvenarias com reboco nas duas faces, 1,67 °c/min para
alvenarias com reboco em apenas uma face e 1,78 °c/min para alvenarias sem reboco. Com
isso, observa-se que a influência de 1,0 cm de reboco, aumenta a taxa de aquecimento de 19
para 24%, mostrando que o reboco tem uma influência significante no aquecimento do
ambiente.

Como era de se esperar, as paredes com revestimentos nos dois lados, apresentaram tempo
de resistência maior, até porque, tiveram taxas de aquecimento menor, gráfico 8. Enquanto que
as paredes sem revestimento obtiveram tempo menor, pois suas taxas de aquecimento foram
maiores. Conclui-se que a influência de 1,0 cm de reboco na alvenaria, contribui em
aproximadamente 15 minutos a mais na resistência das paredes contra o fogo, conforme
mostra no gráfico 7.

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5. CONCLUSÕES

Neste trabalho foram ensaiadas 6 mini-paredes reproduzindo as alvenarias de vedação


usualmente empregadas na Região Metropolitana do Recife (RMR), para verificação do seu
comportamento mecânico quando submetidas a altas temperaturas, representando situação de
incêndio. Tomou-se como referência para o procedimento dos ensaios [7]. Mesmo se as
dimensões dos corpos de prova não são as mesmas dimensões daqueles previstos nessa
norma é possível estimar o tempo de resistência ao fogo destas alvenarias. Os materiais e as
características de construção foram os mesmos adotados na RMR. O forno empregado
conseguiu reproduzir, com bastante precisão a curva-padrão de incêndio adotado na norma de
referência. De acordo com literatura consultada, ensaios deste tipoainda têm sido pouco
realizados com este tipo de alvenaria de vedação no Brasil.

Destaca-se que este artigo representa o início de um trabalho de pesquisa numa área ainda
carente de conhecimento, que merecedestaque pelo amplo uso destes materiais em elementos
de vedação e também, em alguns casos, foram empregados em alvenaria resistente
(compondo a estrutura portante da edificação). Vários outros resultados, também importantes
para o entendimento do comportamento termo-mecânico destas alvenarias, puderam ser
observados, como abertura de fissuras, diferentes distribuições de temperatura nas juntas de
argamassas e nos blocos, desprendimento e coloração dos rebocos, além das propriedades
mecânicas residuais dos blocos e argamassas. Alguns deles ainda estão sendo analisados e
deverão ser publicados posteriormente.

Apesar de ainda ser prematura uma generalização, os resultados obtidos neste trabalho
permitem estimar o quanto os blocos cerâmicos e argamassas de revestimento empregados,
em função de suas dimensões e espessuras, podem contribuir para a resistência ao fogo.
Estas informações são necessárias para o dimensionamento de alvenarias com bom
desempenho em situações de incêndio; são dados importantes para serem incorporados em
projetos futuros, assim como serem discutidos para possíveis revisões das normas vigentes.

6. REFERÊNCIAS

[1] RogowskiI, B. Fire Performance ofcombustibleInsulation in MasonryCavitywalls. Artigo


cientifico (FireSafetyJournal)-FireResearchStation, Melroseavenue, Borehamwood, herts ,
1985, 16 p.
[2] Saada, R.A. Resistance to fireofwallsconstitutedbyhollowblocks:
Experimentsandthermalmodeling. Artigo cientifico (Jornal ScinceDirect)-Universite´ de
Marne-La-Valle´, 200, 10 p.
[3] Nguyen, T.D. Etudeducomportementaufeudesma_conneries de briquesen terre-cuite
:approcheexp_erimentaleetmod_elisationdu risque d'_ecaillage. Tese (Doutorado em
Engenharia civil)- L’ universite paris-est, 2010, 154 p.
[4] Rosemann, F. Resistência ao fogo de paredes de alvenaria estrutural de blocos
cerâmicos pelo critério de isolamento térmico. Dissertação mestrado, Universidade
Federal de Santa Catarina, 2011, 160 p.

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[5] Rigão, A.O. Comportamento de pequenas paredes de alvenaria estrutural frente a altas
temperaturas. Dissertação mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, 2012, 142 p.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-1: Componentes
cerâmicos Parte 1- Blocos cerâmicos para alvenarias de vedação- terminologia e
requisitos-,2005, 11p.

[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 10636: Parede divisórias sem


função estrutural – Determinação da resistência ao fogo, 1989,7p.

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ALVENARIAS DE VEDAÇÃO EM BLOCOS VAZADOS DE CONCRETO


SIMPLES SUBMETIDAS A ELEVADAS TEMPERATURAS – RESULTADOS
PRELIMINARES

Iago de José Jeferson Tiago Ancelmo


Albuquerque Rêgo Silva C. Pires
Borges * Professor Professor
Mestrando Universidade Federal Universidade Federal
Universidade Federal de Pernambuco de Pernambuco
de Pernambuco Recife, Brasil Recife, Brasil
Recife, Brasil

Palavras-chave: Análise Experimental. Alvenaria. Blocos de Concreto. Resistência às Altas


Temperaturas.

1. INTRODUÇÃO

Tomando como base o quadro nacional vivenciado atualmente, é possível observar uma
carência nos conhecimentos e estudos associados às propriedades da alvenaria quando
submetidas às condições de temperaturas características de um processo de incêndio, seja esta
alvenaria estrutural ou de vedação, principalmente aquelas que têm como composição blocos de
concreto simples, uma vez que dos poucos estudos nacionais e internacionais feitos até então,
quase em toda totalidade, referem-se às alvenarias em blocos cerâmicos. Conhecimentos estes
com fundamental importância no desenvolvimento de correlações empíricas e teóricas que se

* Iago de Albuquerque Borges – Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua

Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 – Recife – PE – Brasil. Tel: +55 81 99783-8432. e-mail: iagoab10@gmail.com

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aproximem do comportamento real da estrutura. Isso permitiria uma maior confiabilidade de


projeto nesse tipo de material construtivo, garantindo um equilíbrio entre o fator econômico e a
segurança; e embasamentos técnicos que poderiam ser utilizados na elaboração de normas
técnicas mais específicas relativas ao desempenho e segurança estrutural de alvenarias em
blocos de concreto simples submetidas à situação de incêndio.

O trabalho tem como objetivo específico a realização de análise experimental de paredes


construídas com blocos vazados de concreto simples (com e sem revestimento por argamassas
cimentícias) submetidas à curva teórica de temperatura por tempo, correspondente a um
incêndio padrão estabelecida pela ISO 834-1, visando identificar a resistência às elevadas
temperaturas para os requisitos de estanqueidade aos gases e fumaça, isolamento térmico e
estabilidade estrutural, durante e após o desenvolvimento do ensaio térmico.

As pesquisas e consequentemente a disponibilidade de dados são muito escassos na literatura


quando o assunto tratado diz respeito à alvenaria em blocos vazados de concreto simples
submetidos à alta temperatura ou à situação de incêndio, porém algumas fontes de estudos
podem ser destacadas, servindo como base para o corrente trabalho.

Em 1962 H. L. Malhotra [1] ensaiou paredes de alvenaria de blocos de concreto maciços e


vazados, com e sem revestimento, submetidas ou não a carregamentos estruturais, quanto a
resistência ao fogo. Segundo Malhotra [1] valores de resistência ao fogo considerados até aquela
época não faziam distinção entre paredes carregadas ou não, e assim tendiam a ser
conservadores para paredes de menor exigência ou não estruturais. Por isso testes adicionais
ainda eram necessários para fornecer informações para diferentes tipos de paredes construídas
com esse tipo de bloco.

Em 1997 V. I. Nikolaev [2] fez uma análise numérica em elementos finitos de uma alvenaria
composta por três paredes (duas de blocos de concreto, sendo uma carregada e uma de material
isolante) visando determinar a resistência ao fogo quanto a transmissão de calor pelos
fenômenos térmicos de condução, convecção e radiação, sendo as curvas de gradiente de
temperatura obtidas a cada 30 minutos. Segundo Nikolaev [2] para os blocos de concreto
vazados analisados, após 150 minutos a partir do espalhamento das chamas, a profundidade
máxima atingida para a curva gradiente de temperatura equivalente a 500 °C foi
aproximadamente de 45% (75 mm a 80 mm) da espessura do bloco nas regiões em que existe
a cavidade de ar, e de 32% (55mm a 60 mm) da espessura do bloco nas regiões dos septos
transversais do bloco.

Já em 2014 a Associação Brasileira de Cimento Portland em parceria com a Universidade


Federal do Rio Grande do Sul [4] desenvolveu ensaios experimentais em três paredes formadas
por blocos de concreto simples (uma não revestida e composta por blocos com dimensões de
190 mm x 190 mm x 390 mm pertencentes à classe C de acordo com a NBR 6136 [5]; e outras
duas revestidas com 5 mm de gesso e compostas por blocos com dimensões 140 mm x 190 mm
x 390 mm pertencentes à classe C e A de acordo com a NBR 6136 [5]), todas submetidas a
elevadas temperaturas. No estudo as paredes obtiveram um bom desempenho quanto à
estanqueidade aos gases uma vez que no teste do chumaço de algodão, este não inflamou, às
caracterizando como estanque. Para o isolamento térmico, os resultados obtidos também foram

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satisfatórios uma vez que as paredes apresentaram resistências ao fogo superiores a 240
minutos. Com relação à estabilidade estrutural, as paredes mantiveram-se estáveis,
apresentando apenas fissuras superficiais e mudança de coloração na face interna ao forno e
não apresentando nenhuma modificação significativa na face externa.

2. MATERIAIS

2.1 Bloco Vazado de Concreto Simples e Argamassa de Assentamento e Revestimento

Os corpos de prova (paredes) utilizados na análise experimental foram produzidos com blocos
vazados industrializados de concreto simples com dois furos cujas dimensões nominais de altura,
comprimento e largura eram respectivamente 190 mm, 390 mm e 90 mm, com uma área buta da
seção transversal de 35100 mm², se enquadrando na classe C dos requisitos estabelecidos pela
NBR 6136 [5]. Os blocos apresentavam espessura dos septos inferiores e superiores
respectivamente 20 mm e 25 mm, o que consiste em uma área líquida nominal de 21000 mm²,
correspondente a aproximadamente 40% da área bruta. Após verificação estatística por
amostragem, o lote em que foram retirados os blocos de concreto foi classificado como aceito
quanto aos ensaios de caracterização dimensionais e de absorção de água com base nas
metodologias da NBR 12118 [7] e de acordo com os requisitos estabelecidos pela NBR 6136 [5].

Para assentamento e revestimento dos blocos de concreto foram utilizadas argamassas


cimentícias industrializadas com especificações técnicas para assentamento e revestimento.

2.2 Forno Elétrico e Medição

Para a realização do ensaio térmico foi utilizado um forno de resistência elétrica cuja abertura da
face em contato com a parede tem dimensões de 1 m x 1 m. Para programação e controle do
forno foi utilizado um controlador com capacidade para implementação da curva de aquecimento
x tempo prevista na ISO 834-1 [8] e reimplementada pelas NBR 10636 e NBR 5628 [6 e 9],
característica de um incêndio padrão.

Para obtenção dos dados de medição relacionados à temperatura e ao tempo foram utilizados
termopares do tipo K protegidos e lidos por um data logger do modelo quantum X HBM, através
de um software computacional (Catman).

3. MÉTODOS

O trabalho experimental consistiu na produção de cinco corpos de prova (paredes) com


dimensões de 1,50 m de altura; 1,50 m de largura e 0,09 m de espessura, ensaiados
termicamente. É importante destacar que tais corpos de prova não encontram-se com suas
dimensões de largura e altura em conformidade com o estabelecido pela NBR 10636 [6], de
modo que os resultados obtidos nos ensaios são considerados como indicativos de
comportamento, não podendo ser utilizados para classificação real das paredes de acordo com

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esta norma. Para auxiliar no levantamento e transporte das paredes até o local de ensaio foram
utilizados perfis metálicos articulados formando um pórtico de sustentação e apoio.

Com o objetivo de manter uma determinada confiabilidade nos resultados e para investigar os
diferentes comportamentos e desempenhos das alvenarias e do revestimento em argamassa
cimentícia, das cinco paredes produzidas, duas não possuíam revestimento algum, duas
possuíam revestimento de 2 cm apenas na face exposta aquecida e uma possuía revestimento
de 2 cm em cada face da alvenaria.

Antes da realização dos ensaios térmicos os corpos de prova passaram por um período de cura
ao ar de 28 dias em laboratório e no dia do ensaio esses foram devidamente aparelhados com
os instrumentos de medição. Para tanto, foram utilizados oito termopares: um no interior do forno
e na face interna da parede a ser ensaiada, a 66 cm de altura do limite inferior de aquecimento
do forno (termopar tipo K número 8 – com a funcionalidade de acompanhar a curva de
aquecimento no tempo do forno); cinco termopares foram distribuídos uniformemente na face
externa, em contato direto com a face dos blocos ou da argamassa de revestimento (termopar
fio do tipo K números 1, 2, 3, 4, 5 – visando monitorar a temperatura na face externa dos blocos
ou revestida); e dois posicionados em contato direto com as argamassas de assentamento
(termopar rígido do tipo k números 6 e 7 – visando monitorar as temperaturas na face externa da
argamassa de assentamento, para os casos sem revestimento nesta face). A região hachurada
delimitada nas figuras 1 e 2 compreende a zona de influência do forno na face não exposta ao
aquecimento.

Figura 2: Face não exposta Figura 2: Desenho esquemático da face não


exposta ao aquecimento – cotas em metros

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Durante o experimento térmico os dados referentes à temperatura foram medidos pelos


termopares e devidamente arquivados pelo software. Também foram verificados os limites
estabelecidos pela normatização nacional para enquadramento dos corpos de prova nas
classificações de isolamento térmico, estanqueidade e estabilidade estrutural.

Para permitir o isolamento térmico, evitar o fluxo de gases e fumaça e para manutenção da
pressão interna, o forno foi mantido em contato direto com a parede através de uma manta de
fibra cerâmica, por uma pequena pressão, apenas de vedação, durante a realização do
experimento como pode ser observado nas figuras 3 e 4.

Figura 3: Forno elétrico revestido Figura 4: Forno em contato com a parede


com manta de fibra cerâmica para ensaio térmico

Antes do início do ensaio térmico, o forno elétrico utilizado foi programado para acompanhar a
curva de tempo x temperatura estabelecida pela ISO 834-1 [8], fazendo-se o uso de sete pontos
(capacidade máxima do programador) pertencentes a esta curva.

3.1 Ensaio de Isolamento Térmico

Para aferição da capacidade de isolamento térmico das paredes foram observadas as


temperaturas internas e externas desenvolvidas durante o ensaio, em que esse requisito era
obedecido enquanto nenhuma das temperaturas na face externa atingisse um aumento superior
a 180°C ou a temperatura média aferida na face externa não atingisse um aumento superior a
140°C, devendo ser devidamente anotado o instante dessas ocorrências durante o ensaio, de
acordo com a NBR 10636 [6].

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3.2 Ensaio de Estanqueidade

A capacidade de estanqueidade do corpo de prova foi verificada através da aplicação de um


chumaço de algodão com dimensões de 100 mm x 100 mm de área superficial e 20 mm de
espessura. Este era colocado de 20 mm a 30 mm de distância de regiões de trincas ou outras
aberturas que permitissem a saída de gases, através de um bastidor metálico e por intervalos de
tempo entre 10 s e 20 s. A estanqueidade não era mais verificada no caso da ocorrência da
inflamação do chumaço, devendo ser observado e registrado o instante e a posição da primeira
inflamação, como indicado pela NBR 10636 [6].

3.3 Ensaio de Estabilidade

Para análise de estabilidade das paredes foram devidamente observadas e registradas eventuais
deformações, colapso ou sinais de instabilidade. A estabilidade também pode ser verificada
através da aplicação do teste de choque mecânico 3 minutos antes do término do ensaio térmico,
em que uma esfera de aço com massa entre 15 kg e 25 kg em movimento pendular se choca
com a face não exposta do corpo de prova em 3 pontos distintos de uma mesma horizontal,
correspondendo a uma energia de 20 J por impacto, de acordo com a NBR 10636 [6]. Porém em
laboratório, visando uma maior segurança das pessoas e dos equipamentos, o teste de choque
mecânico foi adaptado, sendo realizado após a finalização do ensaio térmico e a retirada dos
instrumentos de medição (termopares). O material da esfera utilizada também foi substituído pelo
concreto maciço, possuindo uma massa de 17,340 kg, sendo erguida e solta de uma altura de
90 cm, desenvolvendo um movimento pendular até se chocar com a parede a uma altura de 75
cm, transferindo para esta uma energia aproximada de 20 J. É importante destacar que durante
o ensaio de choque mecânico para verificação da estabilidade, as paredes não apresentavam
qualquer tipo de travamento lateral externo, estando estas apenas apoiadas e travadas no pórtico
metálico de suporte. A partir desta condição considerada é possível inferir que se os corpos de
prova estivessem travados em todas as suas faces, acarretaria em uma menor dissipação
energética e os danos causados pelo ensaio poderiam ter sido ainda maiores que os obtidos.

4. RESULDADOS E DISCUSSÕES

4.1 Forno

Após os ensaios térmicos e ajuste do forno elétrico, através da figura 5, foi possível constatar
que para os primeiros 10 minutos de ensaio as diferenças entre as áreas da curva de
aquecimento padrão e da curva de aquecimento real do forno foi de -18,1%, superior aos ±15%
indicado por norma [6]; e para os primeiros 30 minutos de ensaio esta diferença caiu para -8,4%,
inferior aos ±10% constantes em norma [6]. Com essas observações foi possível concluir que a
curva de temperatura no tempo desenvolvida pelo forno apresentou-se satisfatória com o que é
estabelecido por norma [6 e 9] após os primeiros 10 minutos de ensaio.

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Figura 5: Curva de Aquecimento do Forno x Curva de Aquecimento ISO 834-1

4.2 Corpos de Prova – Paredes de Alvenaria de Blocos de Concreto Simples

Nas ilustrações 6 a 8 é possível destacar algumas ocorrências características dos ensaios


realizados.

Figura 6: Exemplo de fissuras Figura 7: Ensaio de choque Figura 8: Exemplo de ruptura


na face não exposta após mecânico da face exposta após ensaio
ensaio térmico de choque mecânico

Na Figura 9 é possível constatar que a parede 2, sem revestimento, teve um menor tempo de
resistência às altas temperaturas, falhando após 80 minutos de ensaio térmico devido ao
aumento médio das temperaturas na face externa em 140°C, atingindo 170°C, com uma maior
taxa de aquecimento e dano por ruptura, dentre os corpos de prova. Foi possível destacar
também a ocorrência de um desaprumo pelo aparecimento de uma concavidade (flecha) na

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região aquecida, com abertura para a face externa, chegando a medir 2,2 cm no centro aquecido
do vão. Além da modificação na coloração do bloco e da argamassa de assentamento, que pode
ser atribuída aos processos de desidratação para as diferentes formas de água constituinte,
característica dos materiais cimentícios.

Figura 9: Temperaturas médias desenvolvidas na face não exposta ao aquecimento, para cada
parede, durante o ensaio térmico

Os resultados obtidos após o ensaio térmico para os diferentes corpos de prova podem ser
observados na Tabela 1 que segue, relativos à estanqueidade, ao isolamento térmico e à
estabilidade ao choque mecânico.

Tabela 1: Resultados dos Ensaios para as Diferentes Paredes


Alvenarias Blocos Concreto Simples (390 x 190 x 90 mm)
Revestida
Argamassa
Resultados Sem Revestida Argamassa Cimentícia 2 cm
Cimentícia 2
dos Ensaios Revestimento na Face Aquecida
cm nas Duas
Faces
Parede 2 Parede 3 Parede 4 Parede 5

Estanqueidade Estanque Estanque Estanque Estanque

Falha após 80 Falha após 207


Falha após 149 Não se
minutos - minutos -
minutos - aumento observou falha
Isolamento aumento médio aumento médio
médio da durante os 166
Térmico da temperatura da temperatura na
temperatura na face minutos de
na face externa face externa em
externa em 140°C ensaio
em 140°C 140°C

Estabilidade Não Estável Não Estável Não Estável Estável

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As paredes 3 e 4, com revestimento cimentício de4 2 cm apenas na face exposta aquecida,


tiveram um tempo de resistência às altas temperaturas intermediário no ensaio térmico: de 207
e 149 minutos respectivamente, falhando pelo aumento médio das temperaturas na face externa
em 140°C, atingindo respectivamente 164°C e 170°C, com perda da estabilidade devido a
ruptura da face não exposta após ensaio de choque mecânico. Foi possível destacar que a
parede 4 possuía cinco dos seus sete termopares externos, em contato com a face do bloco cuja
região transversal era vazada. Já a parede 3, apesar de ter sido construída de forma equivalente
à quarta, possuía cinco dos seus termopares externos em contato com a face do bloco cuja
região transversal era composta pelo septo do bloco, não possuindo vazios. Esse fator pode
gerar influência direta nos resultados das paredes 3 e 4, no qual a parede 3 obteve maior
capacidade de isolamento térmico. Em concordância, também foi observado para o trabalho de
Nikolaev [2], que para a mesma curva gradiente de temperatura se tinha profundidades diferentes
para as regiões vazadas e preenchidas (septos) dos blocos, sendo estas menos profundas que
as primeiras, e assim com maior capacidade isolante. Isso pode estar diretamente associado à
ocorrência das fissuras generalizadas da face aquecida, que permitem que os gases quentes
permeiem através destas e aumentem as temperaturas no interior vazado dos blocos, gerando
uma maior taxa de aquecimento através destas regiões. Tal fator pode ser utilizado como
acréscimo ao que se conclui nas classificações de norma, uma vez que não é previsto por estas.

Para a parede 5, com revestimento cimentício de 2 cm em ambas as faces, foi possível observar
que esta se portou de forma superior às paredes anteriores, apresentando a mais baixa dentre
as taxas de aquecimento da face não exposta, não chegando a falhar por isolamento térmico
durante o período de ensaio, e se comportando de forma estável, não apresentando rupturas
após o ensaio de choque mecânico. Tal comportamento pode ser ratificado quando se compara
as temperaturas médias da face não exposta no momento em que a parede 2 falha por
isolamento térmico (após 80 minutos de ensaio térmico), em que enquanto as paredes 2, 3 e 4
apesentavam nesse tempo respectivamente as temperaturas 170°C, 92°C e 111°C, a parede 5
apresentava apenas 63°C, mostrando-se com uma maior capacidade de isolamento térmico.
Deve-se destacar que devido a problemas técnicos, o período de ensaio térmico foi limitado a
um tempo de 166 minutos (tempo em que o forno elétrico conseguiu desenvolver uma curva de
aquecimento compatível com a estabelecida pelas NBR 10636 [6], ISO 834-1 [8] e NBR 5628
[9]).

6. CONCLUSÕES

Com os resultados obtidos, e com base na classificação proposta na NBR 10636 [6], mesmo que
as dimensões das paredes ensaiadas difiram daquelas propostas nesta norma, é possível
estimar a resistência às altas temperaturas das alvenarias em concreto simples, sem função
estrutural, através de uma análise comparativa com o estabelecido pela NBR 10636 [6],
podendo-se realizar correlações a partir das categorias e graus de resistência ao fogo, assim
como fazer algumas inferências com base nos resultados dos ensaios: 1) A parede 2 pelo fato
de ter se mantido estanque, por atender o critério de isolamento térmico por 80 minutos e pela
perda da sua estabilidade ao término do ensaio, pode ser comparada com uma alvenaria de
classificação PC 60 (Para-chamas por 60 minutos); 2) A parede 3 pelo fato de ter se mantido
estanque, por atender o critério de isolamento térmico por 207 minutos e pela perda da sua

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estabilidade ao término do ensaio, pode ser comparada com uma alvenaria de classificação PC
180 (Para-chamas por 180 minutos); 3) A parede 4 pelo fato de ter se mantido estanque, por
atender o critério de isolamento térmico por 149 minutos e pela perda da sua estabilidade ao
término do ensaio, pode ser comparada com uma alvenaria de classificação PC 120 (Para-
chamas por 120 minutos); 4) A parede 5 pelo fato de ter se mantido estanque, por atender o
critério de isolamento térmico por 166 minutos (tempo que foi possível transcorrer com o ensaio)
e pela manutenção da sua estabilidade ao término do ensaio, pode ser comparada com uma
alvenaria de classificação CF 120 (Corta-fogo por 120 minutos); 5) Identificou-se que para
paredes não revestidas, após ensaio térmico, a região que sofria ruptura após ensaio de choque
mecânico era a da face exposta ao aquecimento (mais fragilizada). Já para paredes revestidas
apenas na face exposta ao aquecimento, a região que sofria ruptura após o ensaio de choque
mecânico era a face não exposta ao aquecimento; 6) Verificou-se que para paredes não
revestidas, após ensaio térmico, as fissuras eram mais generalizadas e de menores dimensões
de abertura, já para as paredes revestidas apenas na face exposta ao aquecimento, as fissuras
eram mais concentradas, em menor quantidade, porém com maiores dimensões de abertura; 7)
Para as alvenarias sem revestimento ensaiadas termicamente foi possível observar que nestas
ocorre o surgimento de uma concavidade na região de influência do forno, com abertura para
face não exposta ao aquecimento direto, que acarretava em um desaprumo acentuado da parede
após o término deste ensaio (chegando a 2,2 cm no centro aquecido do vão para a parede 2).

7. REFERÊNCIAS

[1] MALHOTRA, H. L.. FIRE RESISTANCE OF CONCRETE BLOCK WALLS. Boreham Wood:
Department Of Scientific And Industrial Research And Fire Offices' Commitée Joint Fire
Research Organization, 1962. 9 p. F. R. Note No. 501.
[2] NIKOLAEV, V. I.. MODELING OF TEMPERATURE FIELD OF "BESSER" CONCRETE
BLOCKS UNDER STANDARD FIRE CONDITIONS. Journal Of Engineering Physics And
Thermophysics. Minsk, p. 330-339. abr. 1997.
[3] RIGÃO, A.O. COMPORTAMENTO DE PEQUENAS PAREDES DE ALVENARIA
ESTRUTURAL FRENTE A ALTAS TEMPERATURAS. 2012. 140 f. Dissertação (Mestrado)
- Curso de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria, 2012.
[4] CLÁUDIO OLIVEIRA SILVA (Brasil). Associação Brasileira de Cimento Portland. Manual de
Desempenho - Alvenaria de Blocos de Concreto: Guia para atendimento à Norma ABNT
15575. São Paulo: Editora Mandarim, 2014. 40 p.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6136: Blocos vazados de
concreto simples para alvenaria - Requisitos. 4 ed. Rio de Janeiro, 2014. 10 p.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10636: Paredes divisórias
sem função estrutural - Determinação da resistência ao fogo. 1 ed. 1989. 7 p.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12118: Blocos vazados de
concreto simples para alvenaria - Métodos de ensaio. 6 ed. Rio de Janeiro, 2013. 14 p.
[8] INTERNATIONAL STANDARD. ISO 834-1: Fire-resistance tests — Elements of building
construction — Part 1: General requirements. 1 ed. Switzerland, 1999. 25 p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5628: Componentes
construtivos estruturais - Determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro, 2001. 12 p.

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ANÁLISE EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DAS PLACAS DE GESSO


ACARTONADO NA RESISTÊNCIA AO FOGO DE SISTEMAS DE
VEDAÇÃO VERTICAL

Matheus G. Dilly* Gustavo L. Prager Augusto M. Gil


Acadêmico Eng. Civil Acadêmico Eng. Civil Eng. Civil, Mestrando
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil
Bernardo F. Tutikian Fabrício L. Bolina
Profº Dr. Eng Civil Prof. MSc. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos Itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil

Palavras-chave: Resistência ao fogo, segurança contra incêndio, desempenho, gesso


acartonado.

1. INTRODUÇÃO

A partir da crescente evolução do mercado da construção civil, verifica-se uma busca


acentuada por sistemas construtivos alternativos à tradicional alvenaria, com a finalidade de
agilizar o processo construtivo, minimizar os custos e minimizar o índice de geração de
resíduos nas obras habitacionais [1]. Muitas empresas passaram a adotar as divisórias com
placas de gesso acartonado como sistema de vedação vertical, devido ao potencial de
racionalização do sistema, além da rapidez e facilidade do processo de execução [2]. Em
países como os EUA, Austrália e Japão, o sistema já é utilizado em grande escala na
construção de residências [3], enquanto que no Brasil o seu uso vem crescendo de forma
gradativa desde meados dos anos 90 [4].

Para viabilizar o uso de um sistema de vedação vertical em obras residenciais, o mesmo deve
atender a requisitos mínimos de desempenho, sendo estes definidos pela NBR 15575 [5], além
de instruções técnicas dos corpos de bombeiros e de leis estaduais. Um dos requisitos da
referida norma é a resistência ao fogo dos sistemas construtivos que exercem a função de
compartimentação. Do ponto de vista da segurança contra incêndio, a compartimentação é
interpretada como a divisão da edificação em células estanques, delimitadas pelos sistemas
que exercem a função de compartimentação, onde o incêndio é localizado e suprimido [6].
Atendendo à essa condição, busca-se prevenir o colapso da estrutura, acarretando em um
tempo suficiente para a evacuação segura dos ocupantes e operações de combate ao
incêndio, além de minimizar os danos causados às edificações vizinhas.

Devido à inexistência de métodos de dimensionamento deste tipo de sistema em situação de

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, itt Performance, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Avenida Unisinos, 950, São Leopoldo.
93.022-000 – São Leopoldo - RS - Brasil. Cel.: +55 51 99994 3525 Tel.: +55 51 3590-8887 – Ramal: 3247. e-mail: mthsdilly@gmail.com

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incêndio que visem a otimização do mesmo, os sistemas utilizados devem ser submetidos à
ensaios laboratoriais para serem classificados quanto a sua resistência ao fogo. De acordo
com a NBR 10636 [7], o Tempo de Resistência ao Fogo (TRF) de paredes divisórias que não
exerçam função estrutural é determinado pelo cumprimento dos requisitos de estabilidade
estrutural, estanqueidade à passagem de gases quentes e fumaça e isolamento térmico,
aferidos na medida em que o sistema é submetido à uma elevação padronizada de
temperatura, conforme ISO 834-1 [8]. O sistema é classificado como corta fogo (CF) pelo
período de tempo em que os três requisitos são obedecidos.

Segundo [9], divisórias estruturadas com montantes metálicos (perfis formados a frio), cujo
fechamento é realizado com uma placa de gesso acartonado, são, de modo geral, classificadas
como CF30. De forma similar, a IT 08 [10] propõe uma classificação para paredes com uma
camada de gesso acartonado do tipo standard de CF30. Sabendo que esta classificação
somente garante a aplicação do sistema em uma escala limitada de edificações, busca-se
melhorar a classificação do mesmo ao multiplicar o número de camadas instaladas no sistema
ou optando por placas de espessura mais elevada [9]. Recorrer à uma dessas duas opções
pode, por vezes, inviabilizar economicamente sua aplicação.

Do exposto, o objetivo deste trabalho é analisar e comparar três paredes de divisórias leves,
estruturadas com montantes metálicos, com a mesma espessura e disposição de camadas,
variando a natureza da placa de gesso acartonado utilizada. Foram elaboradas duas amostras
com placas de gesso standard (comum) e uma amostra com placas de gesso denominadas
resistentes ao fogo, resultando em uma espessura total de 73,4mm. Todos os sistemas foram
estruturados com perfis metálicos formados a frio de mesma seção, recebendo tratamento de
mesmo tipo nas juntas. Posteriormente, os sistemas foram expostas a curva de aquecimento
padrão em edificações estabelecida pela 834-1 [8].

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

Para o programa experimental, foram elaboradas três amostras representativas do sistema em


análise, denominadas A1, A2 e A3, com a disposição de camadas demonstrada na Figura 1 e
os materiais descritos nos itens que se subscrevem.

Figura 1 – Disposição de camadas das amostras ensaiadas (sem escala)

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2.1 Materiais

2.1.1 Perfis de aço galvanizado

Para estruturação das amostras, foram utilizados guias e montantes de aço laminados a frio,
recebendo tratamento galvanizado por imersão a quente de cobertura de zinco Z275. A seção
dos perfis utilizados é do tipo UE (perfil série “U” enrijecido), com altura de 48mm, largura de
36,5mm e espessura de 0,6mm.

2.1.2 Placas de gesso acartonado

O fechamento das amostras foi realizado através de placas de gesso acartonado, com folhas
de largura igual a 120 cm, altura de 180 cm e espessura de 12,7mm. As placas eram
compostas por núcleo de gesso, envolto em papel cartão dobrado sobre as bordas, de modo a
proteger o núcleo. As extremidades das placas são quadradas, de corte e acabamento suave.
Foram utilizadas três tipologias de placas de gesso acartonado, sendo duas delas do tipo
standard e outra caracterizada como resistente ao fogo. As placas foram fabricadas a partir de
gipsita natural e a placa resistente ao fogo teve adição de 5% de vermiculita e 1% de fibra de
vidro na sua composição (em relação à massa).

2.1.3 Parafusos de fixação

Os parafusos utilizados para fixar as placas de gesso acartonado aos perfis metálicos são
compostos por cabeça escareada e fenda cruzada, sendo a ponta do tipo cônica. O diâmetro
do parafuso é de 3,5mm e o seu comprimento nominal é de 25mm.

2.2 Amostras

As amostras foram confeccionadas sobre pórticos metálicos móveis e possuíam dimensões de


3,15x3,00m. Os montantes metálicos, utilizados como estrutura das amostras, foram
espaçados a cada 60cm. Sobre as faces dos perfis metálicos verticais, foram parafusadas as
placas de gesso acartonado (folha simples) de forma desencontrada, de modo que um mesmo
perfil metálico não receba junção de placas em ambas faces. Os parafusos foram espaçados a
cada 200mm. A espessura total das amostras é de 73,4mm. A Tabela 1Erro! Fonte de
referência não encontrada. apresenta a composição de cada amostra.

Tabela 1 - Características das placas de gesso acartonado utilizadas em cada amostra


Informação Amostra A1 Amostra A2 Amostra A3
Denominação da placa Standard Standard RF (Resistente ao Fogo)
Espessura da placa (mm) 12,7 12,7 12,7
Densidade (kg/m²) 6,8 7,8 9,3
Vermiculita (5%) e
Adições Não se aplica Não se aplica
fibra de vidro (1%)

Tendo as placas devidamente fixadas, foi realizado o tratamento das juntas através do uso de
papel microperfurado e massa acrílica, sendo esta pré-misturada a base de vinil e aditivos.

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2.3 Equipamentos

O forno utilizado para o ensaio tem capacidade térmica de 1200°C e é aquecido através de
quatro queimadores laterais, alimentados por Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Os
queimadores estão programados para proporcionar um aumento de temperatura do interior do
forno de forma automática, seguindo a curva de aquecimento estabelecida pela ISO 834-1 [8].

Para realizar o registro das temperaturas da amostra, o forno é equipado com 14 termopares,
sendo 5 deles do tipo K, de diâmetro 1,5mm, localizados no interior do forno e os demais 9
termopares do tipo T, de diâmetro 0,7mm, localizados na parte externa do forno. De forma
auxiliar, foi utilizada uma trena a laser para averiguar a deformação horizontal no centro das
amostras.

2.4 Análise experimental

As amostras finalizadas foram acopladas ao forno vertical de ensaio, calibrado e normatizado.


No ensaio, buscou-se determinar o tempo de resistência ao fogo das amostras, conforme
requerido pela NBR 10636 [7]. O critério de estabilidade estrutural da amostra foi verificado
através da deformação desenvolvida pelo centro da amostra no decorrer do ensaio. Para
verificar a estanqueidade à gases quentes e fumaça das amostras foi utilizado um chumaço de
algodão, previamente seco em estufa a 100°C. No caso de fissuração da amostra, o chumaço
de algodão era aproximado durante 10 segundos, respeitando o afastamento de 1 a 3 cm. A
inflamação do chumaço de algodão caracterizou a perda de estanqueidade da amostra.

A verificação do isolamento térmico consistiu na análise das temperaturas obtidas por 5


termopares, enumerados 6 a 10, dispostos na face não exposta às elevadas temperaturas da
amostra. Como critério, a norma limita o acréscimo de temperatura de 180°C em um único
ponto de leitura ou de 140°C em relação à média aritmética obtida pelos 5 termopares. De
forma adicioal, foram instalados 4 termopares auxiliares, enumerados 11 a 14. A temperatura
da face exposta às chamas foi medida por 5 termopares localizados internamente ao forno, os
quais foram enumerados 1 a 5. A Figura 2 mostra a posição e numeração dos termopares da
face exposta e da face não exposta ao fogo.

(a) (b)
Figura 2 – Posição e numeração dos termopares (a) da face exposta e (b) não exposta ao fogo

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os ensaios das amostras A1, A2 e A3 tiveram duração de, respecitvamente, 37, 40 e 48


minutos. A Tabela 2 descreve algumas ocorrências constatadas durante os ensaios.

Tabela 2 – Ocorrências registradas durante os ensaios


Amostra A1 (placas standard de menor densidade)
0:00 min 1:30 min 19:50 min 26:00 min 29:00 min 37:00 min
Amostra começa Teste de
Início do Fissura Fissura vertical Teste
a expelir fumaça estanqueidade
ensaio de horizontal na no centro da estanqueidad
pela região realizado na
resistência ao região superior placa à esquerda e na fissura
superior fissura vertical
fogo da amostra da amostra horizontal
esquerda – Fim do ensaio
Amostra A2 (placas standard de maior densidade)
0:00 min 5:00 min 22:00 min 37:00 min 40:00 min 40:00 min
Fissura
Início do Amostra começa Aparecimento horizontal no Teste de
Teste de
ensaio de a expelir fumaça de fissuras nas centro da estanqueidade
estanqueidade
resistência ao pela região junções das placa à realizado – Fim
realizado
fogo superior placas direita da do ensaio
amostra
Amostra A3 (placas “resistentes ao fogo”)
0:00 min 3:30 min 28:00 min 30:00 min 42:00 min 48:00 min
Junta horizontal
Início do Amostra começa Aparecimento Teste de
apresenta Teste de
ensaio de a expelir fumaça de fissuras nas estanqueidade
abertura com estanqueidad
resistência ao pela região junções das realizado – Fim
liberação de e realizado
fogo superior placas do ensaio
fumaça

3.1 Isolamento térmico

A temperatura inicial e os limites de temperatura adotados para cada um dos ensaios


realizados são descritas na Tabela 3. A Figura 3,
Figura 4 e Figura 5 apresentam as curvas de temperatura obtidas pelos termopares das três
amostras ensaiadas.

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Tabela 3 - Dados de umidade relativa e temperatura utilizados para cada amostra


Informação Amostra A1 Amostra A2 Amostra A3
Umidade relativa (%) 75,0 96,0 90,0
Temperatura inicial de ensaio (°C) 21,5 23,0 23,9
Limite da temperatura média (obtida
161,5 163,0 163,9
pelos cinco termopares) (°C)
Limite da temperatura pontual (lida por
201,5 203,0 203,9
um único termopar) (°C)

Figura 3 - Temperaturas obtidas na face externa da amostra A1

Figura 4 - Temperaturas obtidas na face externa da amostra A2

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Figura 5 - Temperaturas obtidas na face externa da amostra A3

Analisando o gráfico de temperatura das amostras, verifica-se que os limites de temperatura


foram respeitados durante a realização dos ensaios. Salienta-se que, no ensaio da amostra A2,
o termopar 7 desprendeu-se da amostra, sendo desconsiderado no cálculo da temperatura
média. A Figura 6 apresenta a temperatura média obtida nas três amostras ensaiadas.

Figura 6 – Comparação da temperatura média obtida na face externa das três amostras

É possível observar que, em todas as amostras ensaiadas, há um acréscimo de temperatura


nos instantes iniciais de ensaio e, posteriormente, todas as amostras atingem um patamar de
estabilização de temperatura, entorno dos 80 °C. Esse comportamento apresenta relação com
os resultados obtidos por [11], que observou a ligação deste comportamento à troca de estado
físico da água contida na composição da amostra. Tal processo age como uma barreira para o
acréscimo da temperatura até que grande parte da água contida na composição seja
consumida. Após alguns instantes dentro deste patamar, todas as amostras apresentaram
novo acréscimo de temperatura de forma mais acelerada até o fim do ensaio.

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3.2 Estanqueidade à gases quentes e fumaça


Para facilitar a interpretação dos dados obtidos, as amostras foram divididas em quadrantes de
referência, numerados Q1 a Q9, conforme ilustrado na
Figura 7.

Figura 7 - Divisão dos quadrantes das amostras

a) Amostra A1

No ensaio da amostra A1, foi verificada a formação de fissura aos 19 minutos ao longo da junta
horizontal de duas placas localizadas no quadrante Q3. Após observar o prolongamento da
fissura aos quadrantes Q2 e Q1 e verificar o início da expulsão de fumaça através da mesma,
optou-se por realizar o primeiro teste de estanqueidade, aos 29 minutos, não sendo constatada
a inflamação do chumaço de algodão. Em seguida, foi verificado o aparecimento de uma
fissura vertical no centro da placa da direita (coincidindo com a posição de um dos montantes
metálicos), sobre o quadrante Q6, na qual foi realizado o segundo teste de estanqueidade, aos
37 minutos (Figura 8(a)). Neste teste verificou-se a perda de estanqueidade do sistema.

b) Amostra A2

No ensaio da amostra A2, as primeiras fissuras deflagradas originaram-se aos 22 minutos de


ensaio nas junções horizontais das placas de gesso acartonado localizadas, respectivamente,
em Q4-Q5 e Q5-Q6, não sendo verificado a perda de estanqueidade do sistema. Aos 31
minutos, as fissuras horizontais se prolongaram ao longo das junções verticais entre as placas,
localizadas nos quadrantes Q4 e Q5, mas sem perda de estanqueidade. Na sequência, quando
foram atingidos 37 minutos de ensaio, foi possível observar o alargamento da fissura horizontal
no limite entre os quadrantes Q5 e Q6, apresentando uma abertura expressiva. Foram
realizados 3 testes de estanqueidade em sequência nesta fissura, aos 37, 38 e 39 minutos de
ensaio, não sendo constatada a inflamação do algodão. Aos 40 minutos, verificou-se o
aparecimento de uma fissura localizada no limite dos quadrantes Q5 e Q6 (centro da placa à
direita da amostra), sendo realizado teste de estanqueidade (Figura 8(b)) sobre a mesma.
Neste teste, foi constatada a perda de estanqueidade do sistema.

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c) Amostra A3

As primeiras fissuras formadas neste sistema foram verificadas aos 28 minutos de ensaio nos
quadrantes Q4-Q5 e Q5-Q6 (junções horizontais entre placas de gesso acartonado). Na
sequência do ensaio, foi observado que as placas de gesso acartonado localizadas nos
quadrantes Q5 e Q6 apresentaram tonalidade escura nas proximidades da fissura originada
aos 28 minutos. Após transcorridos 41 minutos de ensaio, verificou-se que a placa de gesso
acartonado localizada nos quadrantes Q6 e Q9 apresentou uma curvatura mais elevada do que
a placa posicionada nos quadrantes Q3 e Q6, alargando a fissura presente entre elas (Figura
8(c)). Sendo assim, foram realizados 4 testes de estanqueidade em sucessão nesta fissura,
aos 41, 42, 44 e 48 minutos de ensaio, sendo verificado a inflamação do chumaço de algodão
aos 48 minutos de ensaio.

(a) (b) (c)


Figura 8 – (a) Teste de estanqueidade realizado na A1 aos 37 minutos, (b) teste de
estanqueidade realizado na A2 aos 40 minutos e (c) fissura que ocasionou o comprometimento
da estanqueidade da A3 aos 48 minutos de ensaio

3.3 Estabilidade estrutural

A deformação desenvolvida pelo centro das amostras ensaiadas é ilustrada na Figura 9. É


importante ressaltar que as leituras obtidas através da trena a laser foram realizados em
intervalos de 5 minutos em um único ponto das amostras, não sendo uma leitura representativa
da deformação de toda a superfície da mesma. As deformações lidas correspondem à
deformação da amostra no sentido do forno vertical.

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Figura 9 – Deformação obtida durante os ensaios

Observa-se que, nos primeiros instantes de ensaio, a amostra A1 apresentou um


comportamento distinto das demais, apresentando uma característica curva com sentido
oposto ao forno vertical. A partir dos 10 minutos, as amostras passaram a apresentar
comportamento similar. Depois de 25 minutos de ensaio, a amostra A3 passa a apresentar uma
deformação mais elevada do que as demais amostras ensaiadas. Instantes antes do final dos
ensaios, foi evidenciada a tendência das amostras a retroceder à sua posição inicial. A
deformação máxima lida na amostra A1 foi de 60mm, enquanto que nas amostras A2 e A3 foi
de 68mm e 77mm, respectivamente.

4. CONCLUSÕES

Os ensaios das amostras elaboradas com placas standard de maior e menor densidade
tiveram duração de 37 e 40 minutos, respectivamente, enquanto que o ensaio da amostra
montada com placas “resistentes ao fogo” teve duração de 48 minutos.

Assim sendo, conclui-se que em todos os ensaios, as amostras cumpriram com os requisitos
de isolamento térmico. Da mesma forma, foi verificado que todas as amostras cumpriram com
o requisito de estabilidade estrutural, apesar de terem sofrido deformações expressivas.
Entretanto, todas as amostras tiveram o seu requisito de estanqueidade comprometido. Através
dos resultados obtidos, foi possível observar que as placas standard apresentaram aberturas
que comprometeram a sua estanqueidade à gases quentes e fumaça em algum ponto central
das placas de gesso acartonado, o que diverge do resultado obtido no ensaio realizado com
placas “resistentes ao fogo”. Neste ensaio, a estanqueidade foi comprometida através de teste
realizado na junção horizontal entre duas placas de gesso acartonado. Estes resultados
evidenciam que o ponto fraco dos sistemas elaborados com placas standard é própria placa,
enquanto que nos sistemas de “placas resistentes ao fogo”, o ponto fraco é a junta entre placas
distintas. Analisando estes dados em conjunto com a deformação apresentada por cada
amostra, tem-se que a amostra com maior grau de deformação (A3) suportou o maior período
de ensaio sem apresentar fissuras que comprometessem a estanqueidade da amostra, sendo
de 28:00 minutos, enquanto que a amostra com menor deformação (A1) demonstrou estar
mais propícia a formar fissuras, manifestando as primeiras fissuras aos 19:50 minutos de
ensaio. Os sistemas ensaiados também demonstram que quanto maior for a densidade das
placas de gesso acartonado utilizadas, maior é a deformação manifestada pelo sistema.

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Portanto, conclui-se que o sistema montado com placas “resistentes ao fogo” (densidade = 9,3
kg/m²) apresentou um TRF 30% maior que o sistema com placas standard de menor densidade
(6,8 kg/m²) e um TRF 20% maior que o sistema elaborado com placas standard de maior
densidade (7,8 kg/m²), comprovando a eficácia da utilização de placas “resistentes ao fogo” no
lugar de placas standard em situações de incêndio. Ao comparar os resultados de ambas as
amostras montadas com placas standard, verificou-se que, com um incremento de 14% da
densidade das placas, foi possível melhorar o TRF do sistema em 8%. Por fim, conclui-se que
é possível melhorar o TRF de um sistema de vedação vertical composto por montantes
metálicos e placas de gesso acartonado alterando a composição das placas de gesso
acartonado, sendo o critério determinante neste tipo de avaliação, a estanqueidade do sistema.

5. REFERÊNCIAS

[1] Costa, A.T.; Nascimento, F.B.C. - Uso de Gesso Acartonado em Vedações Internas,
Cadernos de graduação: ciências exatas e tecnológicas, vol. 2, no. 3, 2015, p. 99-106.
[2] Taniguti, E.K.; Barros, M.M.B. - Vedação Vertical Interna de Chapas de Gesso
Acartonado: Método Construtivo, Boletim Técnico BT/PCC/248, Departamento de
Engenharia de Construção Civil, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000, 25 p.
[3] Veljkovic, M.; Johansson, B. – Light Steel Framing for Residential Buildings, Thin-walled
Structures, vol. 44, no. 12, 2007, p. 1272-1279.
[4] Sabbatini, F.H.; - O Processo de Produção das Vedações Leves de Gesso Acatonado, I
Seminário em Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios-Vedações Verticais, São
Paulo, 1998, p. 67-94.
[5] Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 15575: Edificações Habitacionais:
desempenho, Rio de Janeiro, 2013.
[6] Harmathy T. Z. – Design Approach to Fire Safety in Buildings, 1974, p. 82-87.
[7] Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 10636: paredes divisórias sem função
estrutural: determinação da resistência ao fogo: método de ensaio, Rio de Janeiro, 1989.
[8] International Organization for Standardization – ISO 834-1 Fire resistance tests - Elements
of building construction - Part 1: General requirements, Genebra, 2014.
[9] Taniguti, E.K – Método construtivo de vedação vertical interna de chapas de gesso
acartonado, Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
1999, 293 p.
[10] Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo – Instrução Técnica 08: Resistência ao fogo
dos elementos de construção, São Paulo, 2011.
[11] Weber B. - Heat transfer mechanisms and models for a gypsum board exposed to fire,
International journal of heat and mass transfer, vol. 55, no. 5, 2012, p. 1661-1678.

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ANÁLISE EXPERIMENTAL DA RESISTÊNCIA AO FOGO DE VIGAS DE


CONCRETO ARMADO AXIALMENTE RESTRINGIDAS

Gabriela B de M. L. de Albuquerque* João P. C. Rodrigues


Doutoranda Professor Doutor
Escola Politécnica da USP Universidade de Coimbra
São Paulo-SP, Brasil Coimbra, Portugal
Universidade de Coimbra
Coimbra, Portugal

Valdir P. Silva Augusto O. B. da Silva


Professor Doutor Sênior Pós Doutorando
Escola Politécnica da USP Universidade de Coimbra
São Paulo-SP, Brasil Coimbra, Portugal

Palavras-chave: incêndio, viga, concreto armado, restrição, análise experimental.

1. INTRODUÇÃO

As vigas de concreto armado tendem a sofrer deformações de origem térmica quando expostas
ao fogo. Essas deformações consistem na extensão longitudinal das peças, que resulta no
deslocamento dos seus respectivos apoios, se não forem fixos, e na flexão mais acentuada,
que ocorre de forma gradual para baixo, gerando rotação em seus apoios, se não forem
engastados [1]. Quando essas deformações forem restringidas pelas próprias condições de
apoio das vigas ou por condições de contorno, desenvolver-se-ão esforços adicionais. Nas
peças com restrições à expansão do comprimento ou axiais, escopo desta pesquisa, surgirão
forças de compressão de forma a rebater à tentativa de alongamento, que empurra os apoios
[2]. Alguns autores já comprovaram, por intermédio de estudos teóricos e analíticos, que a
introdução de restrições promove incrementos na resistência ao fogo das vigas [3, 4]. Porém,
com base em uma pesquisa de referências bibliográficas, verificou-se que poucos estudaram
esse fenômeno experimentalmente [5 - 9] uma vez que a maioria dos estudos experimentais
acerca do comportamento desses elementos teve base em resultados de testes realizados em
peças simplesmente apoiadas, ou seja, que não experimentavam quaisquer impedimentos a
tais deformações, por exemplo [10 - 12]. Além disso, as normas [13, 14] não discriminam as
relações entre níveis de restrição e aumentos de resistência ao fogo. Portanto, com vista a
agregar informações a essa lacuna do conhecimento científico, este artigo aborda a resposta
ao fogo de vigas com restrições à expansão do comprimento a partir dos resultados de alguns
dos ensaios que fizeram parte de uma campanha experimental, constituída no total por dezoito
ensaios, realizada no Laboratório de Ensaio de Materiais e Estruturas da Universidade de
Coimbra. O principal objetivo dessa pesquisa consistiu em relacionar taxas de restrição axial e

*
Autor correspondente – Edifício da Engenharia Civil, Escola Politécnica da USP, Cidade Universitária. Avenida Professor Almeida

Prado, travessa 2, n 271. 05508-900 – São Paulo - SP - Brasil. Tel.: +55 11 3091 5542. e-mail: gabriela.lins@usp.br.

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a resistência ao fogo, verificando o quão significativos podem ser esses acréscimos quando
uma viga é impedida de se expandir livremente.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Sistemas de ensaios

O programa experimental teve início com a análise de vigas simplesmente apoiadas à


temperatura ambiente, com o propósito de comparar os carregamentos de ruptura
determinados ao longo dos ensaios àqueles calculados conforme as prescrições da norma [15].
Portanto, foram ensaios de referência, importantes para certificar as forças que seriam
aplicadas nas vigas posteriormente, nos ensaios ao fogo. Para tais análises, o sistema era
composto pelos elementos ilustrados na Figura 1 (a): um corpo de prova posicionado sobre um
apoio móvel e um fixo e um macaco hidráulico para a aplicação de duas forças concentradas,
sendo que esse macaco estava suspenso por meio de um pórtico de reação e posicionado
sobre um conjunto de elementos metálicos, responsáveis pela distribuição da força até o corpo
de prova. O macaco hidráulico era do modelo RR 3014 da ENERPAC e foi controlado por uma
central servo-hidráulica W+B NSPA700/DIG2000. Os dois pontos de atuação das forças
dividiam os corpos de prova em três trechos de comprimentos iguais, de modo que
apresentassem flexão pura no trecho central. A segunda etapa do programa experimental foi
composta pelos ensaios ao fogo. O sistema das análises à temperatura ambiente foi adaptado
para o estudo de vigas simplesmente apoiadas em situação de incêndio por meio da utilização
de um forno horizontal modular elétrico, que era posicionado sobre o corpo de prova, conforme
ilustra a Figura 1 (b). Para os próximos ensaios, duas vigas de aço foram acopladas a esse
sistema para simular condições de contorno que restringissem as deformações axiais. Elas
foram posicionadas perpendicularmente ao corpo de prova, por meio de um conjunto de peças
acrescentes, vide Figura 2. Nesses ensaios, as vigas possuíam o esquema estático de uma
peça biapoiada, i.e., de um lado havia um apoio que permitia o alongamento, com um certo
nível de rigidez (proporcionado pela viga de restrição axial variável), e do outro lado um apoio
que impedia totalmente o alongamento da peça, o lado infinitamente rígido.

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Figura 1: Sistema para ensaios de vigas simplesmente apoiadas (a) à temperatura ambiente e
(b) ao fogo, com o forno posicionado sobre o corpo de prova.

Figura 2: Acrescentes e vigas metálicas para simulação de restrições a deformações axiais.

2.2 Corpos de prova e níveis de restrições e carregamentos

Vários edifícios hipotéticos de concreto armado foram previamente analisados, com o auxílio
do programa de computador Abaqus [16], com o propósito de determinar as dimensões,
armaduras e níveis de restrição axial a que determinadas vigas estariam submetidas como
componentes desses edifícios. A viga escolhida para representar os corpos de prova está
idicada na Figura 3. Os mesmos foram fabricados com concreto de classe de resistência
C25/30 e classe de fluidez S3, cimento Portland de calcário tipo II/A-L [17], agregados graúdos
de 16 milímetros de origem calcária e areia lavada da zona de Pombal, Coimbra, Portugal, com
quantidades especificadas na Tabela 1. O plastificante adotado foi o Master Pozzolith 7002 da
Basf. A produção dos corpos de prova foi dividida em três concretagens e, para amostras de
cada uma delas, aferiram-se as resistências à compressão do material em 7 e 28 dias de idade
e no primeiro e último dias nos quais foram realizados ensaios com tais vigas, conforme

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indicado na Tabela 2. Para as armaduras foram estipuladas barras de aço nervuradas com
classe de resistência B 500 [15]. Quanto aos níveis de restrição axial, duas rigidezes foram
estabelecidas: 11 e 15 kN/mm. Para todos os ensaios ao fogo, os corpos de prova foram
submetidos a um nível de carregamento representativo de, aproximadamente, 50 % do valor de
cálculo da resistência à flexão à temperatura ambiente. A solução encontrada para simular
vigas sob lajes nos ensaios à altas temperaturas consistiu na aplicação de um revestimento
contra fogo nas faces superiores dos corpos de prova. Após o estudo de vários materiais por
meio do programa de computador de análises térmicas e estuturais Super Tempcalc [18], a
melhor opção encontrada consistiu nas mantas de lã de silicato alcalino com espessura igual a
50 milímetros e com as seguintes propriedades físico-térmicas: massa específica 128 kg/m3;
calor específico 1172 J/kg °C; condutividades térmicas 0,10 (400 °C), 0,16 (600 °C), 0,23 (800
°C) e 0,31 W/m°C (1000 °C).

Figura 3: Dimensões e armaduras dos corpos de prova utilizados nos ensaios.

Tabela 1: Traço do concreto dos corpos de prova


Quantidade
Material
(kg/m3)
Cimento 170
Cinza volante 100
Brita 16 870
Areia grossa 670
Areia fina 330
Água 166
Plastificante 4,5

Tabela 2: Resistência à compressão média e umidade do concreto dos corpos de prova


Resistência à compressão média – fcm (MPa)
Umidade - U
Concretagem 7 28 Primeiro dia de Último dia de (%)
dias dias ensaio ensaio
221 dias 361 dias 271 dias
1 16,51 20,18
26,24 28,53 1,664
181 dias 322 dias 266 dias
2 22,16 28,61
29,81 31,27 1,654
124 dias 265 dias 216 dias
3 19,15 25,85
26,52 27,51 1,695

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2.3 Instrumentação

Os carregamentos aplicados aos corpos de prova tanto nos ensaios à temperatura ambiente
quanto ao fogo foram medidos por intermédio de uma célula de carga com 250 kN de
capacidade, enquanto as forças de restrição axiais, nos ensaios ao fogo, foram medidas por
meio de uma célula de carga com 500 kN de capacidade, ambas modelo F204 da Novatech.
Os deslocamentos verticias das vigas foram aferidos com transdutores de deslocamento tipo fio
modelo DP-1000E da TML, posicionados no piso inferior do Laboratório, abaixo daquele onde
os ensaios foram realizados. Tais deslocamentos foram analisados em três seções das vigas,
uma localizada no meio do vão e duas a 0,5 m de distância dos apoios (Figura 4). Nos ensaios
ao fogo, utilizaram-se transdutores de deslocamento tipo haste SDP-200D da TML (linear
variable displacement transducer - LVDT) para a monitorização do curso do macaco hidráulico.
Nos ensaios com restrição, esses equipamentos ainda foram posicionados no topo dos
acrescentes, para medirem os deslocamentos verticais das peças, e ao longo da viga de aço
de simulação de restrição axial, a fim de serem aferidos os deslocamentos horizontais da
mesma. A curva de aquecimento do forno, calibrada para seguir a curva de incêndio-padrão
ISO 834 [19], foi monitorizada por meio da utilização de termopares de haste tipo k. Os campos
térmicos das vigas foram aferidos a partir de fios termopares tipo k que foram introduzidos nas
mesmas três seções nas quais foram analisados os deslocamentos verticais (seções S 1 a S3
da Figura 4). Em cada uma delas, mediram-se as temperaturas na interface entre o concreto e
a manta, no núcleo do concreto e nas armaduras longitudinais superior e inferior (Figura 5).

2.4 Resumo do programa experimental e procedimentos de ensaio

O programa experimental foi composto por três ensaios à temperatura ambiente e três ensaios
ao fogo realizados em corpos de prova similares, cujas características foram previamente
apresentadas. Na Tabela 3, indica-se um resumo dos ensaios ao fogo. Os ensaios das vigas
simplesmente apoiadas à temperatura ambiente foram realizados com controle de
deslocamentos, a uma taxa de 0,001 mm/s. Os ensaios foram levados até a ruína total
(colapso real) dos corpos de prova para que o carregamento máximo e o modo de ruptura
esperados pudessem ser efetivamente comprovados. Enquanto isso, os ensaios à condição de
incêndio foram conduzidos da seguinte forma: antes de acionar o forno, aplicava-se lentamente
o carregamento igual a 50% da carga última de projeto e, durante todo o ensaio, mantinha-se o
mesmo. O ensaio era finalizado mediante os critérios de [20], que estabelecem valores
máximos de deslocamento vertical a meio vão do corpo de prova e velocidade desse
deslocamento com base na altura efetiva da seção e no vão da viga. Logo, quando as flechas
das vigas atingiam 85 mm e a velocidade de aumento dessas chegava aos 3,78 mm/min,
sendo essa velocidade monitorada após 100 mm de flecha os ensaios eram encerrados.

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Figura 5: Localização
Figura 4: Sistema de ensaios das vigas simplesmente apoiadas ao
dos termopares nas
fogo com o posicionamento dos transdutores de fio para medição dos
seções S1 a S3 dos
deslocamentos nas seções S1 a S3, nas quais também foram aferidas
ensaios ao fogo.
as temperaturas do corpo de prova.

Tabela 3: Programa dos ensaios ao fogo


Nomenclatura Restrição axial - ka Concretagem
do ensaio (kN/mm)
ka0 0 1
ka11 11 2
ka15 15 3

3. RESULTADOS

3.1 Ensaios à temperatura ambiente

Nos ensaios à temperatura ambiente, as vigas colapsaram por flexão e apresentaram ruptura
das armaduras longitudinais tracionadas. As forças máximas medidas nesses ensaios foram
muito próximas às esperadas (valores analíticos), com um desvio inferior a 3%. Logo, as três
vigas, concernentes a cada uma das concretagens, apresentaram comportamentos similares.

3.2 Ensaios ao fogo

3.2.1 Temperaturas

A Figura 6 mostra a evolução das temperaturas no forno dos ensaios realizados. As mesmas
apresentaram apenas um pequeno atraso nos primeiros minutos de ensaio, relativamente à
preconizada pela curva ISO 834 [19], devido ao fato do forno ser elétrico. Contudo, por volta
dos 30 min de cada ensaio, as temperaturas do forno apresentaram uma boa correlação às
temperaturas do incêndio-padrão. Uma vez que todos os ensaios de resistência ao fogo
apresentaram evoluções de temperatura dentro do forno semelhantes e, após 10 min, os
trechos com máximos desvios entre elas não foram superiores a, aproximadamente, 55 °C,
então é possível afirmar que os resultados desses são comparáveis.

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Figura 6: Evolução das temperaturas do forno em função do tempo.

Ao serem confrontadas as temperaturas aferidas nas vigas dos ensaios ka0, ka11 e ka15, de
forma isolada, verificou-se que as três seções (S1 a S3) apresentaram valores similares, no que
diz respeito aos quatro pontos monitorizados em cada uma dessas seções. Na Figura 7,
apresenta-se um gráfico que ilustra esse comportamento. Uma vez confrontadas as
temperaturas em cada um dos quatro pontos de uma mesma seção em vigas diferentes,
verificou-se que as curvas seguem a mesma tendência, contudo, os resultados não são muito
próximos. No gráfico da Figura 8, por exemplo, no qual se ilustra a evolução das temperaturas
na armadura inferior, é possível observar que, aos 50 min, as diferenças entre as curvas
chegaram a atingir valores de 95 °C para a seção S1, 105 °C para S2 e 75 °C para S3, sendo as
menores temperaturas, para as três seções, associadas ao ensaio ka15. Esses desvios podem
ser atribuídos aos seguintes fatores: diferenças entre as homogeneidades em cada concreto,
diferenças entre o estado de fissuração das vigas e migração do vapor, com o aumento da
temperatura, na viga de concreto. Assim, um termopar mais próximo de uma fissura, por
exemplo, pode ter aquecido mais que um termopar longe de uma fissura.

Figura 7: Evolução das temperaturas na Figura 8: Evolução das temperaturas na


armadura superior nas seções do ensaio ka0. armadura inferior nas seções indicadas.

3.2.2 Forças de restrição e flechas

A Figura 9 ilustra a evolução das forças de restrição axiais ao longo dos ensaios ka11 e ka15.
Os trechos finais das curvas, em linhas tracejadas e mais finas, consistem em linhas de
tendência que foram traçadas por meio de uma função polinomial de ordem 5 para delimitar o
instante em que a força de restrição axial retornava ao valor zero. Portanto, os trechos
anteriores a esses, em linhas mais espessas, representam os valores das forças que puderam
ser efetivamente medidos ao longo dos ensaios. Como previsto, o ensaio com menor nível de

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restrição apresentou um valor menor de força axial máxima. No ensaio ka11, a força atingiu 63
kN e no ensaio ka15 foi igual a 76 kN. No entanto, se o critério de falha dessas vigas fosse
assumido não em termos de deformações (flechas, conforme descrito no item 2.4), mas em
termos de resistência, ou seja, levando em conta o instante no qual a força axial retorna a zero,
é possível verificar que os diferentes níveis de restrição axial não exerceram influência na
resistência ao fogo das mesmas, uma vez que os dois ensaios conduziram a tempos iguais a,
aproximadamente, 110 min. Na Figura 10 se apresentam os deslocamentos verticais a meio
vão dos corpos de prova, em função do tempo. Os ensaios ka11 e ka15, conforme esperado,
apresentaram curvas com valores de deslocamentos menores do que a viga simplesmente
apoiada do ensaio ka0.

Figura 9: Evolução das forças de restrição axiais. Figura 10: Evolução das flechas das vigas.

3.2.3 Modos de ruptura e resistências ao fogo

No ensaio sem restrição axial (ka0) não houve ruptura aparente da armadura nem do concreto,
apenas se constatou a aparência “craquelada” da superfície da viga (Figuras 11 e 12). As
fissuras de flexão podem ser vistas na Figura 13. Nos dois ensaios com restrição axial (ka11 e
ka15) também não houve ruptura da armadura. A viga do ensaio ka11 apresentou uma
aparência “craquelada”, similar à do ensaio ka0, enquanto as fissuras de flexão não foram
siginificantes. Na Tabela 4, apresentam-se os valores de flecha e velocidade de flecha obtidos
ao final dos ensaios. ka11 e ka15 foram finalizados quando atingidos os valores de flecha e
velocidade iguais a 105 mm e 5,0 mm/min e 108,3 mm e 8,1 mm/min, respectivamente. Assim,
confirmou-se que a introdução de restrições axiais melhora a resposta ao fogo das peças, visto
que os ensaios ka11 e ka15 apresentaram, respectivamente, resistências ao fogo prolongadas
em 21 e 30 minutos em relação ao ensaio ka0. Em contrapartida, não foram verificados
acréscimos significativos de resistência ao serem aumentados os níveis de restrição axial, uma
vez que o ensaio ka15 adicionou apenas 9 min de resistência em comparação ao ensaio ka11.

Tabela 4: Valores obtidos ao final dos ensaios ao fogo


Nomenclatura Deslocamento Velocidade do Resistência
do ensaio vertical (mm) deslocamento vertical (mm/min) ao fogo (min)
ka0 112,9 10,3 78
ka11 105,0 5,0 99
ka15 108,3 8,1 108

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Figura 11: Aparência da viga Figura 12: Superfície Figura 13: Fissuras de flexão
após o ensaio ka0. “craquelada” da viga do na viga do ensaio ka0.
ensaio ka0.

4. CONCLUSÕES

A presente pesquisa apresentou o comportamento de três vigas de concreto armado em escala


real submetidas à situação de incêndio. As principais conclusões obtidas foram as seguintes:
- As vigas ensaiadas a altas temperaturas apresentaram campos térmicos similares em relação
às seções transversais que foram analisadas ao longo de seus respectivos vãos;
- Quando se compararam os campos térmicos das seções transversais das vigas submetidas a
diferentes esquemas estáticos, verificaram-se valores de temperaturas menos uniformes, com
diferenças que chegaram a atingir 105 °C;
- A introdução de restrições axiais promove um acréscimo, como esperado, na resistência ao
fogo das vigas, uma vez que ao ser comparado o teste sem restrição àquele com restrição
igual a 15 kN/mm, houve um aumento de 30 minutos na capacidade resistente da viga
restringida, de acordo com os critérios de falha estabelecidos em [20];
- Ao serem comparados os testes com restrições axiais de 11 e 15 kN/mm, verificou-se que
houve um acréscimo de apenas 9 minutos na resistência ao fogo da viga submetida a um nível
de restrição mais alto.

5. AGRADECIMENTOS

Agradece-se à Fundação Portuguesa para a Ciência e a Tecnologia (FCT), à Fundação de


Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo Paulo (FAPESP), a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Pesquisa
e Desenvolvimento Científico (CNPq).

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6. REFERÊNCIAS

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Fire Safety Journal, vol. 36, no. 8, 2001, p. 721-744.
[2] Gosselin G. C. - Structural fire protection: predictive methods, Building Science Insight -
Designing for Fire Safety: The Science and its Application to Building Codes, Ottawa,
1987.
[3] Issen, L. A. et al.. - Fire Tests of Concrete Members: An Improved Method for Estimating
Restraint Forces, Symposium on Fire Test Performance, Denver, 1969, p. 153-185.
[4] Gustaferro, A. H. - Design of reinforced and prestressed concrete structures for fire
resistance, International Association for Bridge and Structural Engineering - IABSE
Congress, Tokyo, 1976, p. 141-155.
[5] Lin, T. D. et al.. - Fire endurance of continuous reinforced concrete beams. Portland
Cement Association, Skokie, 1981, 23 p. (Research and Development Bulletin
RD072.01B).
[6] Dwaikat, M. B.; Kodur, V. K. R. - Response of restrained concrete beams under design fire
exposure, Journal of Structural Engineering, vol. 135, no. 11, 2009, p. 1408-1417.
[7] Jiangtao, Y. et al.. - Experimental study on the performance of RC continuous members in
bending after exposure to fire, Procedia Engineering, vol. 14, 2011, p. 821-829.
[8] Yu, J. T. et al.. - Flexural performance of fire damaged and rehabilitated two span
reinforced concrete slabs and beams, Structural Engineering and Mechanics, vol. 42, no.
5, 2012, p. 1-15.
[9] Kadhum, M. M. - Fire resistance of reinforced concrete rigid beams, Journal of Civil
Engineering and Construction Technology, vol. 5, no. 5, 2014, p. 35-48.
[10] El-Hawary, M. M. et al.. - Effect of fire on flexural behaviour of RC beams, Construction
and Building Materials, vol. 10, no. 2, 1996, p. 147-150.
[11] Shi, X. et al.. - Influence of concrete cover on fire resistance of reinforced concrete flexural
members, Journal of Structural Engineering, vol. 130, no. 8, 2004, p. 1225-1232.
[12] Setyowati, E. W. et al.. - Effect of concrete cover to the crack width of RC beam burned in
high temperature, Australian Journal of Basic and Applied Sciences, vol. 7, no. 11, 2013,
p. 109-115.
[13] European Committee for Standardization. - EN 1992-1-2: Eurocode 2: design of concrete
structures - part 1.2: general rules - structural fire design, CEN, Brussels, 2004, 97 p.
[14] ACI 216R-89. - Guide for determining the fire endurance of concrete elements, American
Concrete Institute, Detroit, 1989, 48 p. [Updated in 1994].
[15] European Committee for Standardization. - EN 1992-1-1: Eurocode 2: design of concrete
structures - part 1.1: general rules and rules for buildings, CEN, Brussels, 2004, 225 p.
[16] Abaqus. - Finite element analysis. Hibbert, Karlsson & Sorenson, 2006.
[17] European Committee for Standardization. - EN 197-1: Cement - part 1: composition,
specifications and conformity criteria for common cements. CEN, Brussels, 2000, 29 p.
[18] Fire Safety Design. - TCD 5.0 User’s manual. Fire Safety Design AB, Lund, 2007, 129p.
[19] International Organization for Standardization. - ISO 834-1: Fire-resistance tests: elements
of building construction - part 1: general requirements, Geneva, 1999, 25 p.
[20] European Committee for Standardization. - EN 1363-1: Fire resistance tests - part 1:
general requirements, CEN, Brussels, 1999. 49 p.

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ANÁLISE EXPERIMENTAL DE ELEMENTOS DE MADEIRA EM SITUAÇÃO


DE INCÊNDIO

Gisele C. A. Martins* Jorge Munaiar Neto Carlito Calil Jr.


Pós Doutoranda Professor Professor
Universidade de São Universidade de São Universidade de São
Paulo Paulo Paulo
São Paulo, Brasil. São Paulo, Brasil. São Paulo, Brasil.

Palavras-chave: Estruturas de Madeira, Paineis de Madeira, Análise Experimental, Incêndio


padrão.

1. INTRODUÇÃO

A segurança contra incêndio é um critério importante para a escolha do material estrutural. A


combustibilidade da madeira é uma das razões de muitas regulamentações de edificações e
normas restringirem a utilização da madeira como elemento estrutural.

O conhecimento do comportamento da estrutura e dos ocupantes de edificações durante a


exposição ao fogo é uma importante condição para o desenvolvimento de estrategias para
garantir a segurança contra incêndio.

O presente trabalho tem como objetivo analisar comparativamente dois tipos de revestimentos
utilizados para finalização de painéis de madeira com a finalidade de retardar as chamas no
elemento estrutural. Sendo assim, realizaram-se ensaios em um forno horizontal com
elementos estruturais em grande escala seguindo a curva de incêndio padrão ISO 834 [1].

*
Gisele Cristina Antunes Martins – Departamento de Engenharia das Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos. Rua Av. Trabalhador Sãocarlense, 400.
São Carlos / SP - Brasil. Tel.: +55 16 981421503. e-mail: giselemartins@usp.br

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2. METODOLOGIA

2.1 Amostras

A análise experimental foi realizada em um forno horizontal a gás com dimensões internas de 3
m x 1,5 m x 4,0 m instalado no departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São
Carlos (EESC/USP). O equipamento utilizado é o único forno em território nacional que
possibilta a realização de ensaios em elementos com dimensões estruturais e a aplicação
simultanea de um carregamento.

Os elementos estruturais utilizados nos ensaios são constituidos de dois painéis sobrepostos
com uma junta de 2 cm, ilustrado na Figura 1 (a). Os entrepisos foram montados com vigas de
madeira da espécie Pinus (densidade média em torno de 505 kg/m³), tratados com CCA e
seção de 45 mm por 190 mm, espaçados de 300 mm, sendo fechado com chapas de OSB,
espessura de 18 mm, e fixados com pregos de diâmetros de 25 mm e comprimento de 50 mm.

(a) (b)
Figura 1: Ensaios em grande escala: (a) Layout do piso; (b) Montagem do ensaio.

Os elementos foram preparados pela empresa Tecverde Engenharia LTDA para a


determinação da resistência ao fogo dos elementos estruturais utilizados como piso. A parte
inferior dos paineis é exposta ao fogo seguindo a curva de incêndio padrão ISO 834 [1] e
constitui parte da análise apresentada no desenvolvimento deste trabalho. Foram realizados
dois ensaios com aplicação de carregamento na face superior do elemento. Em cada ensaio foi
utilizada uma diferente composição para o sistema de revestimento na face inferior do
elemento, apresentado na Tabela 1. Na Figura 2 é mostrado como foi realizado a fixação das
placas de gesso na face exposta ao fogo, ou seja, na face inferior do elemento estrutural.

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Tabela 1: Identificação dos ensaios e composição do revestimento da face inferior.


Identificação do Teste Sistema de Revestimento (Parte inferior)
SG Placa de gesso padrão (duas camadas)
RF Placa de Gesso resistente ao fogo (duas camadas)

Figura 2: Preparação do revestimento na face exposta ao fogo com fixação de placas de


gesso.

2.2 Instrumentações dos elementos

Os elementos foram instrumentados com termopares do tipo K. Distribuiram-se oito termopares


entre as vigas que compõem a estrutura, posicionados no interior da seção transversal (V1, V2,
V3, V4, V5, V6, V7, V8), como ilustrado na Figura 3 (a) e (b). Outros quatro termopares foram
posicionados no interior da cavidade dos paineis entre as vigas de madeira e fixadas na placa
de gesso (G1, G2, G3, G4), como mostrado na Figura 3 (c), (d). Na face superior do elemento
foram distribuidos seis termopares (F1, F2, F3, F4, F5, F6), como ilustrado na Figura 3 (e).

(a) (b) (c) (d) (e)


Figura 3: (a) Distribuição dos termopares ao longo do painel; (b) Disposição dos termopares no
interior das vigas; (c) Distribuição dos termopares fixados no gesso; (d) Fixação dos
termopares nas placas; (e) Distribuição dos termopares na face superior.

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Para a aplicação do carregamento mantido constante durante o ensaio foi utilizado um


reservatório de água. A carga aplicada (2,25 kN/m²) foi definida considerando os esforços
estipulados em projeto em condições de temperatura ambiente determinado como prescrito
pela norma técnica brasileira [2].

3. RESULTADOS

Os ensaios foram realizados em temperaturas elevadas com uma amostra representativa do


elemento construtivo incluindo os tipos de juntas previstas, os sistemas de fixação, apoio e os
vínculos semelhantes às condições de uso. Depois de finalizado o ensaio, o forno foi desligado
e a estrutura de apoio do elemento removida para que as chamas remanescentes na parte
inferior do painel sejam extintas com jato de água, desta maneira encerrando o processo de
carbonização, como apresentado na Figura 4. Todo o procedimento foi realizado em
aproximadamente 5 minutos.

Figura 4: Finalização do ensaio com a remoção do painel e extinção de chamas.

O ensaio do elemento com revestimento utilizando placas de gesso do tipo padrão (SG) foi
encerrado após 49 minutos de exposição ao fogo e a temperatura máxima registrada no interior
do forno foi igual a 905 °C (média do registro dos nove termopares distribuídos no interior do
forno). Na Figura 5 é apresentada a evolução da temperatura nas cavidades do painel, por
meio dos termopares posicionados na face superior da segunda camada de gesso do tipo
padrão.

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Figura 5: Evolução da temperatura com utilização de revestimento padrão (SG)

A partir da Figura 5 pode se observar que as temperaturas registradas não ultrapassam a faixa
de 100ºC durante 30 minutos, ocorrendo um aumento da temperatura (em torno de 400ºC)
após o instante em que a primeira camada de gesso perdeu a integridade aos 40 minutos. Nos
últimos minutos de ensaio ocorreu a perda de integridade da segunda camada de gesso nos
pontos onde estavam localizados os termopares identificados como G1 e G2.

O ensaio do elemento com revestimento utilizando placas de gesso do tipo retardante ao fogo
(RF) foi encerrado após 73 minutos de exposição ao fogo e a temperatura máxima registrada
no interior do forno foi igual a 960 °C (média do registro dos nove termopares distribuídos no
interior do forno). Na Figura 6 é apresentada a evolução da temperatura nas cavidades do
painel, por meio dos termopares posicionados na face superior da segunda camada de gesso
do tipo retardante ao fogo.

A partir da Figura 6 pode se observar que as temperaturas registradas não ultrapassam a faixa
de 100ºC durante 45 minutos, ocorrendo um aumento gradual da temperatura (em torno de
400ºC) após o instante em que a primeira camada de gesso RF perdeu a integridade aos 62
minutos. A camada de gesso que revestia o painel no ponto G2 perdeu a integridade
completamente aos 62 minutos observando assim um aumento exponencial da temperatura
naquele ponto. No ponto G1 é observada a perda da integridade após 70 minutos de exposição
ao fogo. Nos demais pontos (G3 e G4) a temperatura máxima registrada ficou na faixa de 450
ºC, depois de finalizado o ensaio observou resquicios das placas de gesso fixadas nestes
pontos.

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Figura 6: Evolução da temperatura com utilização de revestimento resistente ao fogo (RF)

A Figura 7 apresenta a evolução temporal dos valores médios registrados pelos quatro
termopares de leitura nos pontos G1, G2, G3, G4 para cada caso, ou seja, para o elemento
com revestimento composto de placas de gesso padrão e para o caso de revestimento
composto de placas de gesso retardantes ao fogo (RF).

Observa-se pela Figura 7 a diferença no desempenho das placas como revestimento de


proteção térmica. O aumento da temperatura no interior das cavidades do painel revestido com
gesso retardante ao fogo (RF) ocorreu com 10 minutos de diferença em relação ao painel
revestido com placa de gesso padrão (SG), fato que propiciou um aumento em torno de 25
minutos na resistência ao fogo do elemento estrutural.

Figura 7: Valores médios da temperatura registrada na face superior nas cavidades.

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De acordo com [3] o elemento estrutural será satisfatório como isolante térmico se não sofrer
um aumento de temperatura, na face não exposta, acima da temperatura inicial, superior em
média a 140ºC e em qualquer ponto a 180ºC. Na Figura 8 é apresentada a evolução temporal
na face superior do elemento, face não exposta ao fogo, no qual foi utilizado placas de gesso
do tipo padrão. A máxima temperatura registrada foi de 91ºC no ponto F2 e a média registrada
na face não exposta não ultrapassou a temperatura de 75ºC.

Figura 8: Evolução temporal da temperatura na face superior (não exposta) para o ensaio

Para o elemento com revestimento composto de placas resistentes ao fogo é apresentada na


Figura 9 a evolução temporal na face superior (não exposta ao fogo). A máxima temperatura
registrada foi de 94ºC no ponto F1 e a média registrada na face não exposta não ultrapassou a
temperatura de 85ºC.

Portanto, ambos os elementos atenderam aos requisitos da [3] em relação ao isolamento


térmico. Entretanto, o elemento com placas resistentes ao fogo atingiu a temperatura de 75ºC
(valor médio) após 70 minutos de exposição ao fogo, enquanto no elemento com placas de
gesso padrão ocorreu depois de 50 minutos de exposição ao fogo.

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Figura 9: Evolução temporal da temperatura na face superior (não exposta) para o ensaio com
placas de gesso resistentes ao fogo.

Os demais requisitos para verificação do comportamento ao fogo de acordo com a [3] dizem
respeito à resistência mecânica e a estanqueidade. Em relação à estanqueidade devem ser
observados durante a execução do ensaio o aparecimento de fissuras ou outras aberturas que
provoquem a inflamação do chumaço de algodão. Em ambos os elementos não foram
observadas fissuras suficientes para permitir a passagem de chamas e gases quentes durante
os ensaios, sendo, portanto, atendido o requisito de estanqueidade seguindo as diretrizes da
norma.

Em relação à resistência mecânica o elemento foi carregado com carga distribuida e mantida
constante durante o ensaio, sendo realizado por meio de um reservatório confeccionado com
chapas de compensado plastificado nas bordas e revestido com lona plástica preenchido com
água (altura de 25 cm), como mostrado na Figura 10. A carga aplicada (2,55 kN/m²) sendo a
mesma nos dois ensaios e representa o peso do contrapiso, do piso cerâmico, e uma parcela
da sobrecarga. Seguindo as diretrizes da norma NBR 5628:2001 deve se verificar os
deslocamentos (flechas) e a ocorrência de ruína, entretanto devido ao esquema de montagem
do ensaio com a utilização de carregamento estática sendo a água, não foi possível realizar as
medições de deslocamentos verticais ao longo do ensaio. Entretanto, em ambos os ensaios
finalizou-se a exposição ao fogo antes do colapso do elemento a partir das análises de
aquecimento no interior do elemento e nas faces registrados por meio dos termopares, para
evitar danos aos equipamentos.

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Figura 10: Carregamento aplicado na amostra

4. CONCLUSÕES

No presente estudo foram realizados ensaios em elementos estruturais em grande escala


tendo como finalidade comparar o isolamento térmico de dois tipos de revestimentos utilizados
em paíneis de madeira confeccionados com o sistema estrutural Wood Frame. Realizou – se
duas séries de ensaios, sendo no primeiro ensaio o revestimento da face exposta ao fogo
preparado com duas camadas de gesso do tipo padrão (SG), e no segundo ensaio o
revestimento foi composto de duas camadas de gesso do tipo retardante ao fogo (RF).

Pela [4], para ocupação residencial classe P2 (altura de até 12 m), o tempo requerido de
resistência ao fogo (TRRF) é de 30 minutos. Com a utilização de placas de gesso padrão
atingiu-se o tempo de 49 minutos, enquanto que com placas de gesso retardantes ao fogo foi
alcançado o tempo de 73 minutos.

Ambos os paineis atenderam aos requsitos da [3] no que diz respeito aos requisitos de
resistencia mecância, estanqueidade e isolamento térmico. Entretanto, a utilização de placas
de gesso retardantes ao fogo aumenta o tempo de resistencia ao fogo dos elementos em 24
minutos quando comparado com a composição de placas de gesso do tipo padrão.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a empresa Tecverde Engenharia Ltda pelo material disponibilizado para
ensaios e o apoio para divulgação deste trabalho. Bem como, a agência de fomento CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico) pela bolsa concedida
(Projeto nº 434759/2016-3). E a FAPESP (Projetos nº 2006/06742-5, 2013/25401-8,
2013/07548-1) pelo financiamento para a aquisição do equipamento de ensaio.

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6. REFERÊNCIAS

[1] International organization for standardization. ISO 834-1: Fire resistance tests – Elements
of building construction – Part 1: General requirements. International organization for
standardization, Geneva. 1999
[2] ABNT NBR 7190. Projeto de Estruturas de Madeira. Rio de Janeiro. 1997.
[3] _____ (2001). NBR 5628: Componentes construtivos estruturais, determinação da
resistência ao fogo. Rio de Janeiro.
[4] _____ (2001). NBR 14432: Exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de
edificações – Procedimento. Rio de Janeiro.

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ANÁLISE EXPERIMENTAL DE ENCURVADURA AO FOGO DE COLUNAS


TUBULARES DE AÇO INOXIDÁVEL COM RESTRIÇÃO À DILATAÇÃO
TÉRMICA

João P. Rodrigues* Luís Laím


Professor Investigador Sénior
ISISE, Universidade de ISISE, Universidade de
Coimbra Coimbra
Portugal Portugal

Palavras-chave: aço inoxidável, coluna, fogo, análise experimental, restrição, instabilidade.

1. INTRODUÇÃO

O aço inoxidável tem sido cada vez mais utilizado nas construções, devido às grandes vantagens
que este apresenta aquando da sua utilização. Podem encontrar-se vários benefícios da
utilização do aço inoxidável sobre o aço convencional (aço carbono). Um desses benefícios ou
vantagens é que o aço inoxidável tem uma aparência favorável, ou seja é mais atrativo do que o
aço carbono, e o aço inoxidável tem maiores ductilidade e endurecimento. O aço carbono é
considerado como um material com comportamento elástico-perfeitamente plástico, enquanto o
aço inoxidável é um material com comportamento não-linear (cedência gradual) [1]. O aço
inoxidável apresenta ainda melhores características perante temperaturas elevadas que o aço
carbono [2], sobretudo a rigidez. A vantagem mais importante de todas é que o aço inoxidável
tem uma boa resistência à corrosão, o que pode levar a um bom tempo de vida
comparativamente com o aço carbono [1]. O aço inoxidável apesar de todas as características e
vantagens acima apresentadas é muito mais caro do que o aço carbono. Mas avaliando todas
as características e cuidados adicionais, que se devem ter em conta, aquando da utilização de
aço carbono, a opção por aço inoxidável, com o tempo pode revelar-se vantajosa.

A secção transversal é um fator muito preponderante na resistência ao fogo deste tipo de


elementos, pois as colunas com secção transversal retangular apresentaram um tempo de
colapso ligeiramente inferior às colunas com secção transversal quadrada [3]. Além disso, os

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade de Coimbra – Polo II. Rua Luís Reis Santos.
3030-788 Coimbra. PORTUGAL. Telef.: +351 239 797237 Fax: +351 239 797242. e-mail: jpaulocr@dec.uc.pt

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modos de instabilidade que se observaram geralmente nas colunas tubulares de aço inoxidável
são a encurvadura global, assim como, interação entre a encurvadura local e global [4].

Dada a escassez de estudos relacionados com esta área e a ausência de normas de


dimensionamento adequadas para o projeto de estruturas neste tipo de aço em situação de
incêndio, surgiu este trabalho de investigação experimental que teve como objetivo o estudo do
comportamento de colunas tubulares de aço inoxidável com restrição à dilatação térmica em
situação de incêndio. Nestes ensaios foram assim avaliados diferentes parâmetros,
nomeadamente, tipo de seção transversal (circular e quadrada) e níveis de carregamento inicial
(30 e 50% do valor de cálculo da carga de encurvadura à temperatura ambiente). Em todos os
ensaios foi monitorizada a carga aplicada, as forças de restrição, deslocamentos horizontais e
verticais e ainda temperaturas no forno e ao longo da coluna, a fim de determinar tempos e
temperaturas críticas das colunas assim como os respectivos modos de instabilidade.

2. ANÁLISE EXPERIMENTAL

2.1 Programa experimental


O programa experimental tem como objetivo avaliar o comportamento estrutural ao fogo de
colunas tubulares de aço inoxidável austenítico e observar a influência da variação da secção
transversal e do nível de carregamento inicial aplicado na coluna. Os ensaios foram assim
realizados no Laboratório de Ensaios de Materiais e Estruturas (LEME) da Universidade de
Coimbra (UC), em Portugal. Este programa englobou um total de quatro ensaios experimentais,
correspondendo a duas diferentes seções – circular e quadrada, com restrição à dilatação
térmica. No Quadro 1 é sumarizado o programa de ensaios experimentais realizado no âmbito
deste estudo. A designação CC-30LL refere-se a uma coluna tubular circular (CC) com um
carregamento inicail de 30% do valor de cálculo de resistência à encurvadura de um elemento à
compressão com condições de apoio semi-rígido. No Quadro 1 são ainda apresentados os
valores da carga inicial aplicada, P0, o nível de restrição axial imposta a cada coluna, αk,20ºC, e o
nível de restrição rotacional imposta a cada coluna, βk,20ºC. O nível de restrição axial imposto é
definido como o rácio entre a rigidez axial da estrutura circundante imposta à coluna (Ka,s) e a
rigidez axial da coluna (Ka,c) (Eqs. 1 a Eq. 2):
𝐾𝑎,𝑠
𝛼𝐾,20º𝐶 = (1)
𝐾𝑎,𝑐

Em que:
𝐴𝑐 𝐸𝑐
𝑘𝑎,𝑐 = (2)
𝐿𝑐

O nível de restrição rotacional imposto é definido como o rácio entre a rigidez rotacional da
estrutura circundante (Kr,s) e a soma da rigidez de flexão da coluna (Kr,c) e a rigidez rotacional da
estrutura circundante (Kr,s) (Eqs. 3 e 4):

𝑘𝑟,𝑠
𝛽𝑘,20º𝐶 = (3)
𝑘𝑟,𝑠 + 𝑘𝑟,𝑐

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Em que:
4𝐸𝑐 𝐼𝑐
𝑘𝑟,𝑐 = (4)
𝐿𝑐

2.2 Provetes de ensaio


As colunas em análise eram colunas tubulares de aço inoxidável austenítico de seção circular e
quadrada (fig. 1) com 3000mm de altura e em aço de classe estrutural 1.4401 (AISI 316), ou
seja, com módulo de Young, E, tensão de cedência, fy, e tensão última do aço, fu, igual a 200GPa,
220MPa e 530MPa, respetivamente, de acordo com a EN 1993-1.4:2004 [5]. As dimensões das
seções transversais foram de 150mm de lado para a coluna quadrada e 193,7mm de diâmetro
para a coluna circular e as respetivas espessuras da parede do tubo foram ambas iguais a 8mm,
como se pode visualizar quer na Figura 1 e no Quadro 1. Neste trabalho procurou-se estudar
seções transversais de colunas com o mesmo tipo e dimensão das mais comuns nos edifícios
de construção metálica em perfis de aço inoxidável em Portugal.

Quadro 1: Programa experimental

Maior Dimensão da t
αk,
βk, 20ºC 𝝀̅ Nb,Rd P0
Coluna 20ºC
seção transversal [mm] [mm] [-] [-] [kN] [kN]
[-]
CC-30LL 305
193,7 8,0 0,097 0,947 0,42 1017
CC-70LL 712
SC-30LL 287
150,0 8,0 0,099 0,959 0,47 957
SC-70LL 670

Figura 1: Esquema das seções transversais dos provetes de ensaio

2.3 Sistema experimental


O sistema experimental usado na realização destes ensaios experimentais foi concebido e
construído na Universidade de Coimbra, contemplando um sistema variável que permite simular
diferentes níveis de rigidez axial à dilatação térmica da coluna exposta a altas temperaturas por
meio de uma estrutura circundante tridimensional (fig. 2). A conceção de um sistema
tridimensional permitiu ter em consideração não só a rigidez axial, mas também a rigidez

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rotacional à dilatação térmica da coluna em caso de incêndio. Este pórtico de restrição


tridimensional (1) era assim composto por quatro colunas do tipo HEB 300 e quatro vigas, sendo
que estas últimas, estavam dispostas ortogonalmente duas a duas, quer no topo, quer na base,
e eram do tipo HEB 400 em aço de classe S355, perfuradas em zonas distintas nos banzos e
com enrijecedores entre estes. O facto destas vigas serem perfuradas nos banzos possibilitou
que a colocação das colunas do pórtico de restrição fosse variável e assim garantir diferentes
níveis de restrição à coluna em estudo.

As colunas em análise (2) foram sujeitas a uma carga de compressão constante, com o intuito
de simular o carregamento em serviço a que uma coluna se encontra sujeita quando parte
integrante da estrutura de um edifício. Esta carga de serviço foi aplicada por via da utilização de
um macaco hidráulico de 3 MN de capacidade (3) e controlada por uma célula de carga de
compressão de 2000 kN de capacidade máxima (4), colocada entre as vigas superiores do
pórtico de restrição e o macaco hidráulico, que por sua vez se encontra apoiado num pórtico
bidimensional de reação (5) constituído por duas colunas de seção HEB 500 e uma viga de
secção HEB 600. Por outro lado, a ação térmica foi aplicada por meio de um forno vertical
modular elétrico da marca TERMOLAB (6), constituindo uma câmara térmica de
1500x1500x2500 mm circundante à coluna em análise. Por último, um dispositivo foi ainda
especialmente concebido para medir as forças de restrição geradas durante os ensaios de
resistência ao fogo realizados neste tipo de colunas (7), como resultado da dilatação térmica a
que a coluna se encontra sujeita. Este dispositivo consistia num cilindro de aço, oco, ligado
rigidamente ao pórtico de restrição, dentro do qual existia um outro cilindro de aço maciço,
rigidamente ligado ao topo da coluna em análise. A superfície de contato entre ambos os cilindros
era totalmente revestida por Teflon (PTFE), para que fosse eliminado todo e qualquer atrito entre
ambos os elementos. As forças de restrição foram então medidas usando uma célula de carga
de capacidade 3 MN, localizada no interior do cilindro de aço oco, que era comprimida aquando
do efeito de dilatação térmica ocorrido na coluna, durante o ensaio de resistência ao fogo a que
esta se encontrava sujeita.

2.4 Procedimento de ensaio


Todos os ensaios foram efetuados em duas etapas. Primeiro, os provetes de ensaio foram
carregados à velocidade constante de 2,5 kN/s até atingir 30 ou 70% do valor de cálculo de
resistência à encurvadura de um elemento à compressão, Nb,Rd (Quadro 1), determinada
segundo as disposições presentes na EN 1993-1.1:2004 [6] e EN 1993-1.4:2004 [5]. De forma a
garantir que toda a carga fosse transferida para o elemento, os varões roscados que efetuavam
a ligação entre as colunas do pórtico de restrição e as respetivas vigas superiores eram
desapertados. Atingido o valor de carga pretendido, os deslocamentos verticais dos apoios das
vigas superiores do pórtico de restrição foram bloqueados e posteriormente foi ligado o forno
programado para reproduzir a curva normalizada de incêndio ISO 834 [7]. Durante toda a fase
de aquecimento a carga aplicada manteve-se constante. Por fim, o ensaio dava-se como
concluído quando a coluna deixava de suportar a carga inicialmente aplicada. Nestes ensaios
foram também medidos temperaturas no forno e em diversas seções do provete com termopares
de sonda e de cabo do tipo K (cromel-alumel). Além disso, foram ainda medidos deslocamentos
horizontais e verticais das colunas com defletómetros de êmbolo e transdutores de fio. A
aquisição dos dados foi feita com um Data Logger TDS 530 da TML.

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Figura 2: Vistas do sistema experimental para ensaios de resistência ao fogo de colunas: 1)


Pórtico de restrição; 2) Coluna em estudo; 3) Macaco hidráulico; 4) Célula de carga - controlo
da aplicação de carga; 5) Pórtico de reação; 6) Forno elétrico; 7) Dispositivo para medição das
forças de restrição

2.5 Resultados
Na Figura 3 apresenta-se a evolução da temperatura ao longo do desenvolvimento longitudinal
da coluna circular de aço inoxidável com 30% de nível de carregamento inicial (a), assim como
a evolução das temperaturas médias das colunas (circular, CC, e quadrada, SC) e das respetivas
temperaturas do forno em função do tempo de ensaio (b). Relativamente à evolução da
temperatura nas diferentes secções ao longo do comprimento da coluna (fig. 3a), verificou-se
que as secções S2, S3 e S4 (respetivamente a 900, 1500 e 2100mm de altura) apresentam uma
gama de temperaturas muito semelhantes (praticamente uniforme) e com maior amplitude,
diminuíndo gradualmente para as extremidades da coluna até temperaturas próximas da
ambiente. Esta variação térmica deveu-se ao facto de o forno aquecer diretamente as colunas
uma extensão de apenas 2.5m, encontrando-se aproximadamente a restante parte da coluna
isolada pelas paredes da base e do topo do forno. A Figura 3b também mostra a evolução das
temperaturas no forno de alguns ensaios de resistência ao fogo, a título de exemplo. Nesta figura

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verifica-se que as temperaturas no forno apresentaram apenas um pequeno atraso nos primeiros
minutos de ensaio relativamente às preconizadas pela curva ISO 834 [7], devido ao forno ser
eléctrico e à elevada inércia térmica presente na câmara do forno. Contudo, a partir dos 9 minutos
de ensaio as temperaturas do forno apresentam uma boa correlação com as temperaturas do
incêndio padrão. Além disso, uma vez que a evolução das temperaturas no forno foi semelhante
em todos os ensaios, é possível realizar uma comparação direta entre todos os resultados dos
vários ensaios. A análise da Figura 3b permite ainda constatar que as temperaturas das
diferentes colunas foram próximas, afastando-se ligeiramente entre os 10 e os 30 minutos com
uma diferença máxima de 72ºC aos 18 minutos. A taxa média de aquecimento das diferentes
colunas foi igual e de 22ºC/min, enquanto a taxa máxima de aquecimento foi de 34ºC/min para
a secção quadrada e de 43ºC/min para a secção circular, ambos aos 11,5 minutos de ensaio.

Figura 3: Evolução da temperatura ao longo da coluna (a) e da sua temperatura média em


função do tempo (b)

As forças de restrição axial geradas nas colunas são de seguida apresentadas em função do
tempo de ensaio (fig. 4a) e da respetiva temperatura média da coluna (fig. 4b). Os resultados
aqui expostos encontram-se sob forma unidimensional, como forças de restrição axial relativas,
uma vez que o valor da carga de dimensionamento aplicada é diferente para cada tipo de coluna,
o que permite efetuar uma comparação mais adequada entre os resultados obtidos para as
diferentes colunas. Na Figura 4 pode-se assim visualizar que as forças de restrição axial geradas
nos elementos em estudo aumentam durante os primeiros minutos de ensaio, até atingirem um
valor máximo, representativo do momento em que a degradação mecânica do aço (módulo de
elasticidade e tensão de cedência) compromete a estabilidade da coluna. Após este momento,
as forças de restrição iniciam uma fase descendente, até atingirem novamente o valor da carga
inicialmente aplicada ao elemento, momento este representativo do tempo crítico para cada um
dos elementos em estudo. O tempo crítico das colunas circulares foi de 23 minutos para 70% do
nível de carregamento inicial (CC-70LL) e 32 minutos para 30% (CC-30LL), correspondendo
respetivamente às temperaturas críticas de 669 e 734ºC, que por sua vez foram muito
semalhantes às das colunas quadradas. Ou seja, quando o nível de carregamento inicial
aumentou de 30 para 70% a temperatura crítica deste tipo de colunas reduziu apenas

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aproximadamente 10%, o que pode ter sido resultante da forte diminuição das forças de restrição
relativas em 45%. Por outro lado, este trabalho de investigação sugere que a temperatura crítica
deste tipo de colunas é muito superior ao de colunas tubulares em aço laminado a quente, como
se pode visualizar na Figura 5. Neste gráfico pode-se constatar que a temperatura crítica de
colunas tubulares circulares em aço laminado a quente com 30% de carregamento e esbeltezas
relativas iguais a 0,45 (CSCC-30LL-0.45RS) e 0,59 (CSCC-30LL-0.59RS) é apenas de 500ºC
[8], isto é, 30% menor que a temperatura crítica de colunas circulares em aço inoxidável com
esbelteza relativa igual a 0,42 (SSCC-30LL-0.42RS) e nas mesmas condições fronteiras (de
carregamento e de apoio). Esta discrepância deve-se essencialmente à capacidade residual
disponível pelas colunas para resistir às forças de restrição axial, que no caso das colunas em
aço inoxidável deve-se muito à grande diferença entre a tenção de cedência e a tensão última
do próprio aço.

Figura 4: Evolução das forças de restrição relativas das colunas em função do tempo (a) e da
temperatura média das mesmas (b)

Na Figura 6 apresenta-se a evolução da deformada horizontal final ao longo do desenvolvimento


longitudinal da coluna de aço inoxidável para as diferentes seções ensaiadas. Da análise desta
figura verifica-se que ambas as secções deformaram-se do mesmo modo e com uma amplitude
máxima de aproximadamente 90mm a 1700mm de altura. As deformadas são típicas de uma
coluna semi-rígida com dois pontos de inflexão, mas ligeiramente assimétricas em altura (sendo
mais notório na coluna de seção quadrada). Pela representação gráfica das deformadas finais
das colunas pode-se estimar que o coeficiente do comprimento efectivo deste tipo de colunas
sujeitas ao fogo nestas circunstâncias foi igual a 0,48 para a coluna circular e 0,37 para a coluna
quadrada, consequente da exposição da coluna a altas temperaturas ao longo de 2500mm em
altura e da utilização de apoios semi-rígidos.

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Figura 5: Evolução das forças de restrição relativas de colunas de aço com diferentes
composições químicas em função da temperatura média

Figura 6: Deformação horizontal final em altura na coluna circular e quadrangular para o nível
de carregamento de 70%

Na Figura 7 é ilustrado a título de exemplo os modos de instabilidade observados nos ensaios


em situação de incêndio de colunas tubulares de aço inoxidável com restrição à dilatação
térmica, especificamente os modos da coluna de secção quandrada e com 30% de nível de
carregamento (SC-30LL). Genericamente, verificou-se que o modo de instabilidade
predominante foi a encurvadura global por flexão em torno de um dos eixos principais de inércia
da coluna e também alguma interação com a encurvadura local a meia altura da coluna. Apesar
de só ser possivel observar a coluna após o ensaio devido ao posicionamento do forno (sem

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janelas) ao seu redor durante a realização do mesmo, os autores acreditam que a encurvadura
local surja apenas para deslocamentos horizontais significativos (maiores que h/10).

Figura 7: Configuração final da deformada global (a) e local (b) após ensaio da coluna de
secção quandrada e com 30% de nível de carregamento

3. CONCLUSÕES

Esta investigação experimental permitiu assim concluir fundamentalmente e como era de esperar
que este tipo de colunas apresenta uma resistência ao fogo maior que a de colunas em aço
convencional. A temperatura crítica de colunas em aço inoxidável pode ser quase 50% superior
à de colunas em aço laminado a quente para 30% de nível de carregamento inicial.
Consequentemente, a resistência ao fogo deste tipo de colunas é melhor que a dos perfis aço
carbono, podendo em certas circunstâncias normais apresentar resistências ao fogo de 30
minutos. Note-se que a taxa média de aquecimento das colunas tubulares em aço inoxidável foi
aproximadamente de 20ºC/min e a taxa máxima de 38ºC/min. Por fim, verificou-se que o modo
de instabilidade predominante foi a encurvadura global por flexão em torno de um dos eixos
principais de inércia da coluna, embora tenha também existido alguma interação com a
encurvadura local a meia altura da coluna.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam seus agradecimentos à União Europeia através do fundo de investigação


para o carvão e o aço (RFCS) no âmbito do projeto de investigação RFSRCT-2012-00025 e à
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) do Ministério da Ciência e do Ensino Superior
(MCES) de Portugal pela bolsa de pós-Doutoramento SFRH/BPD/94037/2013 atribuída ao
segundo autor.

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REFERÊNCIAS

[1] Gardner L. - The use of stainless steel in structures, Progress in Structural Engineering and
Material, vol. 7, no. 2, 2005, pp. 45-55.
[2] Gardner L. & Ng K.T. - Temperature development in structural stainless steel sections
exposed to fire, Fire Safety Journal, vol. 41, 2006, pp. 185-203.
[3] Tondini N., Rossi B. & Franssen J.M. - Experimental investigation on ferritic stainless steel
columns in fire, Fire Safety Journal, vol. 62, 2013, pp. 238-248.
[4] Fan S., Ding X., Sun W., Zhang L. & Liu M. – Experimental investigation on fire resistance
of stainless steel columns with square hollow sections, Thin-Walled Structures, vol. 98,
2016, pp. 196-211.
[5] EN 1993-1.4, Eurocode 3 - Design of steel structures. Part 1-4: General rules –
Supplementary Rules for Stainless Steels. Comité Européen de Normalisation, Brussels,
Belgium, 2004.
[6] EN 1993-1.1, Eurocode 3 - Design of steel structures. Part 1-1: General rules and rules for
buildings, CEN, Bruxelas, 2004.
[7] ISO 834-1: Fire resistance tests – elements of building construction, Part 1: general
requirements. Geneva, Switzerland: International Organization for Standardization
ISO 834; 1999.
[8] Pires TAC, Rodrigues JPC, Silva JJR. Fire resistance of concrete filled circular
hollow columns with restrained thermal elongation. Journal of Constructional Steel
Research 2012; 77: 82-94.

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ANÁLISE NUMÉRICA DE PILARES MISTOS CURTOS, ATRAVÉS DOS MÉTODOS


IMPLICIT E EXPLICIT

Fábio Masini Rodrigues* Armando Lopes Moreno Jr.


Mestrando Professor
Universidade Estadual de Campinas Universidade Estadual de Campinas
Campinas, Brasil Campinas, Brasil

Palavras-chave: pilar-incêndio-numérico-implicit-explicit

1. INTRODUÇÃO

Os pilares compostos por tubos de aço preenchidos com concreto estão, cada vez mais, sendo
utilizados nas construções de edifícios e uma preocupação do meio técnico e da sociedade em
geral, diz respeito à segurança das estruturas em situação de incêndio.

As normas técnicas apresentam métodos de dimensionamento de pilares em situação de


incêndio, por meio de tabelas ou processos analíticos simplificados. No entanto, nem todos os
tipos de pilares e situações encontradas na prática são cobertos pelas normas atuais e, para
esses casos, são indicados os métodos denominados de avançados.

Os métodos avançados são aqueles que se utilizam de procedimentos analíticos complexos ou


de modelos numéricos ou experimentais.

*
Autor correspondente –Rua Almirante Barroso no. 94 apto. 82 - Santos - SP - Brasil. Tel.: +5513 2202 1504- e-mail: fabiosecfmr@gmail.com.br

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O desenvolvimento de modelos numéricos pode ser uma alternativa interessante, considerando


sua maior abrangência em relação aos métodos analíticos e, normalmente, apresentando
menor custo, quando comparado com os modelos experimentais.

Vários softwares que utilizam o método dos elementos finitos, como por exemplo, ANSYS,
DIANA, DYNA, ABAQUS, entre outros, são capazes de resolver problemas que envolvem
análises térmicas e mecânicas. No presente trabalho, foram elaborados modelos de pilares
mistos com análise térmico-mecânica, por meio do software ABAQUS, considerando sua
abrangência para resolver diversos problemas de engenharia e com boa aceitação, tanto no
meio técnico, quanto no acadêmico.

O ABAQUS foi desenvolvido em linguagem computacional Python e é dividido em: pré


processador; processador (solver), com os dois métodos de análises, o standard ou static-
implicit, que basicamente resolve problemas estáticos, e o dynamic-explicit, que é utilizado para
resolver problemas dinâmicos; pós processador, para visualização dos resultados.

A estratégia para o desenvolvimento de modelos numéricos deve ser definida com o objetivo
de obter soluções com um nível de precisão adequado para o problema a ser resolvido, tendo
como um dos critérios a necessidade de computadores com maior poder de processamento,
quando os modelos e a análise se tornam mais complexos.

Nesse contexto, a realização de uma análise comparativa entre ambos os métodos, static-
implicit e dynamic-explicit, vem demonstrar a possibilidade de resolver modelos de pilares
mistos em situação de incêndio, pelo método dynamic-explicit, resultando em uma significativa
redução no tempo de processamento e com menor possibilidade de ocorrerem problemas de
convergência.

2. MATERIAL E MÉTODO

2.1 Visão geral do método static-implicit e dynamic-explicit

Os modelos de pilares mistos em situação de incêndio podem ser resolvidos por ambos os
métodos, static-implicit ou dynamic-explicit, apesar de o método static-implicit ser usualmente
utilizado para resolver problemas em que não há interdependência da resposta da análise com
o tempo, como: em problemas estáticos, em análise modal, entre outras. Já o método dynamic-
explicit é mais apropriado para resolver problemas com grandes deformações, com
interdependência com o tempo, como: problemas de impacto, de explosão e outros.

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2.2 Solução através da análise static-implicit

O método dos elementos finitos, processo numérico cujo objetivo é a resolução de equações
diferencias, teve seu início efetivo na segunda metade dos anos 50 e, no final dessa década,
foram definidos os conceitos para a discretização da geometria em malha de elementos finitos
e, ainda, a montagem e manipulação da matriz de rigidez, tais quais são utilizados atualmente.

O método implicit é caracterizado pela construção de uma matriz de rigidez para representar a
interação de movimento/deslocamento no interior da estrutura nodal da malha de elementos
finitos.

No processo de resolução do problema, a matriz é montada e invertida, sendo submetida a um


conjunto de forças nodais para produzir uma solução de deslocamentos nodais. Para
problemas não lineares, esses deslocamentos são testados, verificando se satisfazem as
equações de equilíbrio (F=0). Se as equações não forem satisfeitas, é aplicado um processo
iterativo para refinar a precisão da solução. Quando é obtida uma solução satisfatória, o
processo é dito convergente.

Na prática, a inversão da matriz de rigidez para resolver o sistema de equações (u = K-1 . F) é


altamente onerosa do ponto de vista computacional, sendo que para resolver problemas não
lineares e considerando a análise termico-mecânica, em cada passo de iteração, o sistema de
equações é linearizado e resolvido pelo método de Newton-Raphson [1].

2.3 Solução através da análise dynamic-explicit

O processo explicit foi desenvolvido inicialmente para problemas dinâmicos e não lineares, com
aplicação inicial em problemas de impacto, testes de lançamento de bombas e colisão de
veículos, entretanto, pode ser utilizado em outros tipos de problemas de engenharia [2].

O processo realiza o equilíbrio dinâmico (F=ma + cv + kx), aplicado independentemente em


cada ponto nodal do elemento finito. Dessa forma, são aplicadas forças em cada nó e a
aceleração é obtida, dividindo as forças pelas massas nodais. O processo é repetido
considerando um pequeno incremento no tempo e, integrando as acelerações nodais, são
obtidos as velocidades e os deslocamentos.

Para resolução dos problemas estruturais, o método utiliza uma abordagem de concentração
de massa para desassociar o sistema de equações, não sendo necessária a inversão de
qualquer matriz, o que traz um ganho computacional, além de reduzir problemas de
convergência, uma vez que nesse processo o um incremento de tempo é muito pequeno.

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O processo é baseado na regra de integração explicit para a matriz de massa do elemento e


para as equações de movimento, conforme Equação 1 [3].

1 1 1
(𝑖+ ) (𝑖− ) ∆𝑡 (𝑖+1)+∆𝑡 (𝑖)
𝑢(𝑖+1) = 𝑢(𝑖) + ∆𝑡 (𝑖+1) 𝑢̇ (𝑖+2) ,𝑢̇ 2 = 𝑢̇ 2 + 𝑢̈ (𝑖) (1)
2

No início do incremento, a aceleração pode ser definida conforme Equação 2.

𝑢̈ (𝑖) = 𝑀(−1) . ( 𝐹(𝑖) − 𝑄 (𝑖) ) (2)

Sendo: M, a matriz de massa; F, o vetor de força aplicado e Q, o vetor de força interno.

No método explicit a solução para o equilíbrio do deslocamento no tempo "t+t" é baseada no


uso das condições de equilíbrio no tempo "t". O esquema de integração não requer a
fatorização da matriz de rigidez, mas o incremento de tempo (t) deve ser menor que o valor
que o crítico (tcr). O incremento no tempo e o valor crítico podem ser definidos, quando não se
considera o amortecimento, conforme a Equação 3.

𝟐
∆𝒕 ≤ ∆𝒕𝒄𝒓 = (3)
𝝎𝒎𝒂𝒙

Todo o esquema de integração requer o uso de um passo de tempo (t) menor do que o passo
de tempo crítico (tcr), condicionando a uma solução estável. Se for usado um tempo maior do
que o tempo crítico, a integração se torna instável, levando a um tempo excessivo de
processamento e com respostas imprecisas. Dessa forma, o tempo de processamento
computacional é aproximadamente inversamente proporcional ao incremento no tempo [4]. O
processo matemático e a definição da formulação do processo explicit são indicados com
detalhes no manual do software ABAQUS [3]. O método incremental e iterativo, assim como o
critério de convergência é apresentado para a análise térmico-mecânica em Koric [1].

Outros fatores que podem alterar o tempo de processamento e a precisão da análise é a


quantidade de nós no interior do elemento finito, quantidade essa que determina como os
graus de liberdade (DOF) serão interpolados no domínio do elemento. No ABAQUS é possível
definir qual interpolação a ser utilizada, se de primeira ou de segunda ordem. A matriz de
rigidez e de massa de um elemento é determinada numericamente nos pontos de integração
no interior do elemento. O algoritmo numérico utilizado para integrar as variáveis que
influenciam o comportamento do elemento, pode ser definido por "integração total" ou por
"integração reduzida", sendo que, o ganho computacional ainda pode ser maior, quando se
utiliza a integração reduzida.

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2.4 Escolha entre as análises implicit-static e dynamic-explicit

O software ABAQUS tem a capacidade de realizar análises estáticas e dinâmicas com os


métodos implicit e explicit e também com a possibilidade de acoplar ambas as análises,
usufruindo as vantagens de cada uma delas. Na figura 1 segue gráfico ilustrativo do custo
computacional em função da quantidade de graus de liberdade, conforme os métodos explicit e
implicit.

A análise implicit é normalmente utilizada para resolver problemas estáticos ou quase estáticos,
porém em modelos que apresentam contatos entre superfícies, por exemplo, contato térmico e
mecânico entre o tubo de aço e o núcleo de concreto, há a possibilidade de surgirem
problemas de convergência, além do alto custo computacional. Nesse caso, o método
dynamic-explicit pode ser uma boa alternativa [3].
computacional

Implicit

Explicit
Custo

Tamanho do modelo
(quantidade de graus de liberdade)

Figura 1 - Método implicit vs. explicit

Outra vantagem do método explicit é que o mesmo necessita de uma menor quantidade de
memória RAM, resolvendo as análises em um tempo significativamente menor para problemas
de duas ou três dimensões e com mais de cem mil graus de liberdade [1]. Contudo, uma
desvantagem do método é que o equilíbrio estático só pode ser alcançado de forma
aproximada, outra desvantagem é a limitação no tempo a ser definido em cada análise.

Uma questão que deve ser considerada na escolha do método explicit é que sua resposta é
alterada conforme a viscosidade dos materiais e o fator de amortecimento. O modelo
matemático dos esquemas para o método implicit e explicit, para problemas de contato, pode
ser observado no trabalho desenvolvido por Schutte [5].

2.5 Propriedades e parâmetros definidos nos modelos numéricos

Para realizar uma análise comparativa entre os métodos dynamic-explicit e static-implicit, foram
escolhidos três pilares mistos curtos, conforme indicados na Tabela 1 e ilustrados na Figura 2.

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Tabela 1 - Exemplares de pilares, ensaiados numericamente

Amostras de pilares compostos por tubos de aço preenchidos com concreto


Referencia Seção L or D t fc fya l
transversal (mm) (mm) (MPa) (MPa) (mm)
PQ-140-5 Quadrada 140 5 30 350 500
PQ-200-5 Quadrada 200 5 30 350 500
PC-150-5 Circular 150 5 30 350 500

Sendo: L ou D, a dimensão externa do tubo de seção quadrado ou circular; t, a espessura do


tubo de aço; fc, a resistência do concreto à compressão; fya, a resistência ao escoamento do
aço do tubo; l, o comprimento do pilar.

L D
y y

l
x x

Figura 2 - Características dos pilares para análise térmico-mecânica

As simulações numéricas foram desenvolvidas considerando as recomendações descritas nas


referências pesquisadas e propriedades e parâmetros indicados no Eurocode 4 [6], como
segue:

a. O elemento finito com formulação capaz de resolver problemas de transferência de calor e


problemas de tensão-deformação. Um elemento hexaédrico com oito nós e um elemento
tetraédrico, foram escolhidos conforme melhor adaptação da malha às secções circulares e
quadradas. O elemento denominado de C3D8 foi definido para análise implicit, já os
elementos C3D8T e C3D8RT foram definidos para a análise com o método explicit.

b. Os pilares tridimensionais foram considerados engastados na base e, no topo, foi


posicionado um bloco rígido adiabático, sem peso específico e com vínculo externo com um
grau de liberdade na direção vertical. O bloco foi modelado para transferir adequadamente
a força axial ao pilar misto, permitindo os alongamentos térmicos diferenciais entre os dois
materiais e assemelhando o modelo aos ensaios experimentais.

c. Adotou-se como fator de radiação e de emissividade do fogo o valor de 1 e o fator da face


exposta do tubo de 0,7.

d. O coeficiente de convecção foi definido com o valor de 25 W/m2oC e a constante de Stefan-


Boltzmann de 5,67x10-8 Wm-2K-4.

e. Os modelos foram resolvidos através de uma análise transiente de transferência de calor.

f. A análise combinada térmico-mecânica considera a separação entre o tubo de aço e o


núcleo de concreto, devido à expansão térmica diferencial entre os dois materiais e as
propriedades elásticas distintas de cada material.

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O espaço nodal que surge na interface tubo-concreto se altera ao longo do tempo, durante
todo o aquecimento do elemento, e está interrelacionado com a força axial aplicada,
resultando em uma análise altamente não linear. O espaço na interface tubo-concreto
reduz a eficiência de transferência de calor por condução, sendo, esse efeito, semelhante à
consideração de uma resistência térmica à condução na interface tubo-concreto.

g. Para as simulações numéricas foi considerada a curva de incêndio-padrão ISO 834:  = 345
log (8 t +1) + 20°C [7].

h. A carga térmica foi aplicada ao em torno da seção transversal do pilar e ao longo de seu
comprimento, sendo que os gases no entorno do elemento são aquecidos conforme a curva
de incêndio padrão.

i. A temperatura inicial dos pilares foi definida com 20 oC, como condição inicial.

j. Não foram considerados critérios teóricos de falha, o esgotamento da capacidade resistente


da seção, foi assumida, conforme o critério da norma EN 1363-1 [8], ou seja, a falha é
caracterizada pelo encurtamento axial máximo de 1% do comprimento do pilar e pela taxa
de contração axial (velocidade) de 0.3% do comprimento do pilar por minuto.

k. O nível da força axial aplicada nos modelos foi de 30% da força normal resistente em
temperatura ambiente, Npl,rd = (Aa . fayk / a) + (Ac . fck / c) + (As . fsyk / s), com a = c = s =
1,0 e a=1.

l. A resistência do aço ao escoamento foi adotada com 350 MPa e a resistência do concreto à
compressão com 30 MPa.

m. O contato mecânico do tubo de aço em relação ao núcleo de concreto foi definido no


ABAQUS por meio de um contato normal (hard contact) e outro tangencial (penalty). Para o
contato tangencial, foi considerado o coeficiente de atrito com o valor constante de 0.3 [9].

n. Para definir o comportamento plástico do concreto foi considerando o modelo CDP


(concrete damaged plasticity), que segue o modelo de Drucker & Prager [10], estendido
pelo critério de escoamento de von Mises para incluir o efeito da pressão hidrostática na
resistência ao cisalhamento do material [11]. Os parâmetros exigidos pelo CDP são: ângulo
de dilatação, excentricidade, parâmetro de viscosidade, relação entre o limite de tensão à
compressão biaxial e uniaxial; razão entre a distância do eixo hidrostático ao meridiano de
tração e de compressão no plano deviatório. Os valores adotados seguem os valores
padrão do ABAQUS e indicações descritas nas referências bibliográficas [12], sendo
respectivamente: =35o; m=0,1; =0; bo/co= 1,16 e K=0,667.

o. Concreto definido com 3% de umidade e com agregado silicoso;

p. As propriedades térmicas e mecânicas do aço e do concreto foram definidas de acordo com


as diretrizes do Eurocode 4 [6], sendo essas: o limite superior da condutividade térmica do
concreto, a condutividade térmica do aço, o calor específico, o coeficiente de expansão
térmica, as relações constitutivas do aço e do concreto, o módulo de elasticidade e o
coeficiente de Poisson do aço e concreto.

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2.6 Análises numéricas no software ABAQUS

Para o desenvolvimento da análise dos pilares mistos em situação de incêndio, foram


elaborados modelos tridimensionais, conforme Figura 3, que levaram em consideração uma
análise conjunta (térmica e mecânica), incluindo o efeito de resistência térmica por condução
entre o tubo de aço e o núcleo de concreto e de acordo com a expansão dos materiais em altas
temperaturas.

Figura 3 - Modelos elaborados no software ABAQUS

A resistência térmica à condução na interface tubo-concreto foi definida através de uma função
linear, relacionando a eficiência do mecanismo de condução com a distância nodal entre as
superfícies, Equação 4. A função é introduzida no ABAQUS na forma tabular, no critério de
condução definido para a interface tubo-concreto.

𝑞 = 𝑘 (𝜃𝐴 − 𝜃𝐵 ) (4)

Sendo: q, o fluxo de calor por unidade de área nos pontos A e B entre superfícies; A e B, as
temperatura nos pontos A e B, um na superfície do tubo de aço e outro no núcleo de concreto e
K, o fator de eficiência na transferência de calor por condução.

Os valores tabulares definido no ABAQUS para considerar a resistência térmica entre a


superfície do tubo de aço e do núcleo de concreto devem ser ajustados através de modelos
experimentais, no presente trabalho, foi adotado valores cujas temperaturas se aproximassem
das temmperaturas descritas nos modelos indicados em Renaud [13], maiores detalhes quanto
ao critério para se considerar os efeitos da resistência térmica são descritos em Espinós [9]

Os modelos tridimensionais com análise conjunta foram desenvolvidos com o objetivo de obter
a resistência da seção transversal e verificar o comportamento do modelo, resolvido por meio
dos métodos static-implicit e dynamic-explicit, com integração total e reduzida.

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Para elaboração dos modelos, o primeiro passo foi definir um estágio da análise para aplicar a
força axial, posteriormente, o elemento começa a ser aquecido. Dessa forma, há uma
interrelação entre a análise térmica e mecânica. Para o desenvolvimento das análises foi
utilizado um microcomputador com processador Intel-I7 de 1,8 Mhz, 8 Gbytes de memória RAM
e um sistema operacional Microsoft Windows 7-64 bits.

2.7 Procedimento para elaboração dos modelos com o método explicit

Para a aplicação do método dynamic-explicit, a duração dos eventos (step) deve ter um
pequeno tempo especificado. Portanto, os tempos normalmente usuais para análise de
estruturas em situação de incêndio, entre 30 e 120 minutos, inviabilizam a utilização do
método.

Uma alternativa para o uso do método é definir uma escala fictícia do tempo, corrigindo na
mesma razão todas as variáveis em função do tempo, como: a condutividade térmica do aço e
concreto, o coeficiente de Stefan-Boltzmann e o coeficiente de convecção. A Figura 4
demonstra as escalas utilizadas na aplicação da carga térmica, escala real, para método
implicit e escala reduzida, para o método explicit.

ISO 834 (real scale) ISO 834 (reduced time scale)


1200 1200
1000 1000
Temperature ( 0C)

Temperature (oC)

800 800
600 600
400 400
200 200
0 0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08
Time (sec.) Time (sec.)

Figura 4 - Curva de incêndio padrão com a escala definida em cada método de análise

A análise pelo método explicit requer a definição de um ponto de referência com uma inércia
associada ao bloco rígido. Essa inércia deve ser tão pequena quanto possível, uma vez que o
bloco rígido tem por finalidade apenas auxiliar na aplicação da força axial. Quanto menor foro
valor da inércia associada ao bloco, menor será a interferência na resposta do modelo. A
validação do método explicit foi realizada comparando as respostas com o método implicit,
cujos parâmetros e procedimentos estão descritos em diversos trabalhos disponíveis como em
Espinós [9].

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3. RESULTADOS

Na Figura 5 são indicadas as temperaturas na seção transversal do pilar PQ-200-5 para 60


minutos de exposição ao fogo e, na Figura 6, são indicados os deslocamentos axiais
correspondentes a ambos os métodos de análise.

Figura 5 - Temperatura na seção transversal com método implicit (esquerda) e explicit (direita)

Figura 6 - Deslocamento axial do pilar com método implicit (esquerda) e explicit (direita)

Nas Tabelas 2 e 3 são apresentados os resultados das análises, considerando o método static-
implicit e dynamic-explicit, com integração reduzida e integração completa.

Tabela 2 - Resposta das análises implicit e explicit (temperaturas e deslocamentos)

Modelo implicito x modelo explicito


Temperatura (oC)
Deslocamento axial (m)
Tubo de aço Núcleo de concreto
Pilar Modelo
R30 R60 R30 R60 R30 R60
implicit 702.4000 899.7120 76.7594 367.0330 0.00132227 0.04635570
PQ-140-5 explicit 702.4920 904.3440 75.1437 383.5460 0.00115553 0.07351020
explicit-IT 702.2570 903.9530 71.3258 376.1230 0.00120842 0.06880070
implicit 688.4000 881.2000 32.7000 105.8000 0.000336578 0.00757614
PQ-200-5
explicit 688.4170 881.7980 31.1878 103.7810 0.00024711 0.00858165
implicit 713.9750 906.5390 72.4805 367.0970 0.00317629 0.0544842
PC-150-5
explicit 684.1410 900.5610 66.4102 370.9950 0.00261488 0.0315064

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Tabela 3 - Resposta com o método implicit e explicit (TRRF e tempo computacional)


Modelo implicito x modelo explicito
Tempo de Tempo
Pilar Modelo resistência ao processamento
fogo (TRRF) (min.)
implicit 36.70 138
PQ-140-5 explicit 38.60 12.62
explicit-IT 38.36 42.65
implicit 50.20 257
PQ-200-5
explicit 48.62 21.30
implicit 33.34 142
PC-150-5
explicit 33.95 8.74

A análise indicada como explicit-IT, refere-se à integração total.

Na Figura 7 foram indicadas as curvas tempo versus deslocamento para o pilar PC150-5,
considerando a alteração da inércia associada ao bloco rígido.

Deslocamento axial - PC150-5 (explicit-variação da inércia do bloco)


-0,003
Tempo (seg)
Deslocamento (m) e taxa de contração vertical x 100

-0,001 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000

0,001

0,003
(m/seg)

0,005
Deslocamento limite
0,007 Velocidade de deslocamento limite
Deslocamento-I=0.001
0,009 Velocidade deslocamento-I=0.001
Deslocamento-I=0.01
0,011 Velocidade deslocamento-I=0.01
Deslocamento-I=1000
0,013 Velocidade deslocamento-I=1000
Deslocamento-implicit
0,015 Velocidade deslocamento-implicit

Figura 7 - Tempo vs deslocamento conforme inércia associada ao bloco - PC150-5

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Conforme observado na Figura 8, o tempo de resistência ao fogo entre as duas análises, com o
métido staitc-explicit e dynamic-implicit, difere em no máximo 4,9%. A resposta do modelo
expicit com integração total tende a se aproximar da resposta com análise implicit e, a
diferença nas respostas considerando a integração total e reduzida foi de 0,12%.

Deslocamento axial - PQ140-5 (implicit vs explicit) Deslocamento axial - PQ200-5 (implicit vs explicit)
Tempo (seg.) -0,0030 Tempo (seg.)
-0,0030
Deslocamento (m) e taxa de contração vertical x 100 (m/seg)

Deslocamento (m) e taxa de contração vertical x 100 (m/seg)


-0,0010 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
-0,0010 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500
0,0010
0,0010
0,0030

0,0050 0,0030

0,0070
0,0050
0,0090 Deslocamento-implicit
0,0110 Deslocamento limite 0,0070
Velocidade-implicit Deslocamento-implicit
0,0130 0,0090
Velocidade limite Deslocamento limite
0,0150 Deslocamento-explicit Velocidade-implicit
velocidade-explicit 0,0110 Velocidade limite
0,0170
Deslocamento-explicit
0,0190 0,0130
velocidade-explicit
0,0210
0,0150

Figura 8 - Tempo vs. descolamento - método implicit e explicit

5. CONCLUSÃO

Os modelos desenvolvidos no software ABAQUS, através do método dynamic-explicit,


resultaram em uma boa aproximação. Houve um ganho de tempo computacional muito
expressivo, conforme Tabela 3, além de o método necessitar de menor espaço em disco para
armazenamento de dados.

Considerando o procedimento adotado e demonstrado neste artigo, observa-se, pelas


respostas dos modelos, que a aproximação do método dynamic-explicit com o método static-
implicit, depende da definição de uma inércia suficientemente pequena para o bloco rígido.

A definição de uma escala de tempo fictícia é uma alternativa que permite a aplicação do
método explicit para os modelos de pilares mistos em situação de incêndio. Quanto maior for a
redução do tempo dos eventos nas análises, menor será o tempo de processamento,
entretanto, para escalas de tempo muito reduzidas, o passo de iteração também diminui e,
portanto, há um limite para se ter o ganho na velocidade de processamento.

Conforme todo o observado, o método dynamic-explicit mostrou ser uma boa alternativa para
resolver os modelos de pilares mistos ou, ainda, outros elementos estruturais, em situação de
incêndio. No entanto, uma investigação mais completa deve ser conduzida a fim de verificar as
diferenças nas respostas entre as duas análises, definindo os limites de aplicação de cada um
dos métodos.

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6. AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer meu orientador, Dr. Armando Lopes Moreno Junior, pelo incentivo e
dedicação na orientação e a Universidade Católica de Santos, pelo suporte que tenho
recebido.

7. REFERÊNCIAS

[1] Koric, S et al - "Explicit Coupled Thermo-Mechanical Finite Element Model of Steel


Solidification". National Center for Supercomputing Applications - NCSA & Mechanical
Science and Engineering Department, University of Illinois, USA (2008).

[2] Yang, D. Y., et al - "Comparative investigation into implicit, explicit, and iterative
implicit/explicit schemes for the simulation of sheet-metal forming processes". Journal of
Materials Processing Techology 50 (1995) 39-53.

[3] Simulia, Dassault Systemes. ABAQUS/CAE USER´S GUIDE (2012).

[4] Duni, E et al - "Numerical Simulation of full Vehicle Dynamic Behavior Based on the
Interaction Between Abaqus/Standard and Explicit Code", FIAT Research Center
Orbassano, Torino Italy, ABAQUS User´s Conference (2003).

[5] Schutte, J. F. et al - "An implicit solver for contact problems" - University of Twente,
Institute of Mechanics, Processes and Control - Twente, Structural Dynamics and
Acousties group, Netherlands (2010).

[6] European Committee for Standardization (CEN). EUROCODE 4: “Design of composite


steel and concrete structures – Part 1.1: General Rules and rules for buildings” – pr EN
1994-1-1. Brussels, 2003.

[7] International Standard (1999). Fire-resistance tests – Elements of building construct:


General requirements. ISO 834-1:1999.

[8] European Committee for Standardization (CEN): “Fire resistance tests - Part 1: General
requerements” – pr EN 1363-1. Brussels, 1999.

[9] ESPINÓS CAPILLA, A., 2012. "Numerical analysis of the fire resistance of circular and
elliptical slender concrete filled tubular columns". Doctoral thesis. Universitat Politècnica
de València, Spain.

[10] Drucker, D. C., PRAGGER W., 1952. Soil mechanics and plastic analysis or limit design.
Quarterly of Applied Mathematics 10: 157-165.

[11] Chen, W. F., 1982. Plasticity in reinforced concrete. McGraw-Hill.

[12] Rodrigues, J. P., European Project FRISCC - "Finite Element Modeling of Innovative
Concrete-Filled Tubular Columns Under Room and Elevated Temperatures", (2012).

[13] RENAUD, C. et al, CTICN, 2004. Research Projetct 15Q. Report reference INSI – 04/75b
– CR/PB, France.

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ANÁLISE NUMÉRICA DE PILARES DE AÇO FORMADOS A FRIO EM


TEMPERATURAS ELEVADAS COM RESTRIÇÃO À EXPANSÃO TÉRMICA

Saulo Almeida* Luis Laim Jorge M. Neto João P. Rodrigues


Professor Pós doutorando Professor Professor
Universidade Estadual Universidade de Escola de Engenharia de Universidade de
de Campinas Coimbra São Carlos – EESC/USP Coimbra
Campinas, Brasil Portugal São Carlos, Brasil Portugal

Palavras-chave: Aço formado a frio, pilares, restrição axial, resistência ao fogo, análise
numérica.

1. INTRODUÇÃO

O programa em elementos finitos ANSYS [1] trata-se de uma ferramenta poderosa no que se
refere à modelagem numérica. Várias pesquisas já foram realizadas por meio do referido
programa e com êxito em seus resultados. Entretanto, concernente à modelagem numérica de
elementos de aço em situação de incêndio, poucas referências são encontradas. No que se
refere aos pilares de aço (perfis pesados e formados a frio), existem algumas referências onde
os autores realizaram simulações numérica utilizando o programa ANSYS. Por exemplo, nos
trabalhos [2], [3] e [4], foram investigados pilares de aço formados a frio considerando de forma
simplificada a restrição ao alongamento térmico. De modo geral, percebe-se que os resultados
numéricos apresentaram uma correlação boa para prescrever as forças máximas
desenvolvidas. Por outro lado, os referidos modelos apresentaram dificuldades para prescrever
de forma satisfatória as temperaturas críticas. Outrossim, percebe-se que é recorrente nos
modelos construídos via ANSYS, a dificuldade de convergência. Tendo em vista a
potencialidade do programa ANSYS e a existência (mesmo que em menor escala) de
pesquisadores que utilizam o programa ANSYS para realizarem suas simulações, no presente
trabalho buscou-se retomar a modelagem numérica de pilares de aço formados a frio em

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua Acadêmico
Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +55 81 2126 8219 Fax: +55 81 2126 7216. e-mail: tiago.poliveira@ufpe.br

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temperaturas elevadas considerando a restrição à dilatação térmica, de modo a tentar


compreender quais fatores têm causado os problemas de convergência dos modelos bem
como de concordância com resultados experimentais. Para tanto foram realizadas novas
modelagens numéricas via ANSYS bem como comparações com resultados experimentais.

2. ANÁLISE NUMÉRICA

No presente trabalho, o autor retomou os modelos construídos em [2] e [3]. Com base nos
resultados experimentais apresentados em [3] e [5] para perfis U enrijecidos de 150 mm de
altura de secção, 43 mm de banzo e 15 mm de enrijecedor com 1,5 mm e 2,5 mm de
espessura (Figura 1), testes adicionais foram realizados para avaliar a eficiência da estratégia
de modelagem numérica utilizada nos trabalhos [2] e [3]. Não obstante, foi implementada uma
modificação na forma de consideração da restrição axial, a qual está descrita no item 2.3.

(a) (b)
Figura 1: Seções transversais (dimensões em mm). (a) [2] e (b) [5]

As análises numéricas foram realizadas em três etapas sequenciais, a saber: análise elástica
de autovalor, análise térmica e análise termoestrutural (análise estática não linear). A análise
de autovalor foi realizada para obter os modos de falha representativos das imperfeições
geométricas a serem inseridas nas análises não lineares dos perfis. De acordo com a
calibração realizada em [5] os valores de amplitudes de imperfeições iniciais que melhor
representaram os resultados experimentais foram, L/1000 para imperfeição global, h/200 para
imperfeição local e t para imperfeição distorcional, onde L, h e t são respectivamente o
comprimento da barra, altura e espessura da seção das barras. A análise térmica foi realizada
com base nas curvas temperatura versus tempo registradas experimentalmente em [3] e [5]. A
variação da temperatura ao longo do comprimento foi negligenciada, portanto trata-se de
modelos com distribuição uniforme de temperatura ao longo do comprimento. Por fim, é
realizada a análise termoestrutural.

2.1 Elementos finitos

Os modelos foram construídos com elementos SHELL131 e SHELL181, para as análises


térmica e estrutural respectivamente. Para a modelagem da restrição ao alongamento térmico,
foram investigas duas estratégias utilizando os elementos LINK 10 e COMBIN 14, conforme
item 2.3. O LINK10 trata-se de um elemento de barra tridimensional com três graus de

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liberdade por nó, correspondentes às translações (UX, UY e UZ) e pode atuar apenas de uma
maneira, a saber, à tração ou à compressão. De acordo com a estratégia apresentada em [2], o
elemento finito foi utilizado atuando comprimido, em conformidade com a fase de extensão
térmica dos elementos estruturais e compressão da restrição ao alongamento térmico. O
COMBIN 14 é um elemento de mola tridimensional com três graus de liberdade por nó,
correspondentes às translações (UX, UY e UZ). Tendo em vista a possibilidade de os
problemas de convergência observados em alguns modelos em [3] estarem relacionados com
a estratégia de modelagem da restrição ao alongamento térmico, foi investigada aqui a
utilização do COMBIN 14 para tal fim. A malha adotada é composta por elementos de
aproximadamente 10 mm x 10 mm. Esses valor de tamanho dos elementos é proveniente de
estudos anteriores realizados pelo autor que se mostrou interessante do ponto de vista de
tempo computacional e qualidade dos resultados.

2.2 Propriedades do material

Os valores das propriedades mecânicas e dos fatores de redução de resistência ao


escoamento e módulo de elasticidade utilizados nos modelos numéricos são aqueles obtidos
no programa experimental em [5] para o aço S280GD+Z de dupla face galvanizada com 275
g/m2, onde se determinou a resistência ao escoamento e o modo de elasticidade à
temperatura ambiente de 306 GPa e 204 GPa respectivamente. A figura 2 mostra as curvas
tensão vs deformação inseridas nos modelos, calibradas por meio do modelo de RAMBERG-
OSGOOD em [5]. As propriedades térmicas (calor específico, condutividade e expansão)
utilizadas nos modelos numéricos também são aquelas apresentadas em [5].

Figura 2: Relações Tensão vs Deformação adotadas para o aço em função da temperatura.


Resultados experimentais de [5] ajustados pelo modelo de RAMBERG-OSGOOD

2.3 Condições de contorno

As figuras 3 e 4 mostram os esquemas dos modelos construídos via ANSYS. A figura 3 mostra
o modelo utilizado em [2] e [3] onde foi utilizado um elemento de barra (LINK 10) para

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representar a mola axial, cuja rigidez é diretamente proporcional à rigidez axial do pilar. A figura
4 mostra o novo modelo construído no presente trabalho onde foi utilizado um elemento de
mola para representar a restrição axial. Foram realizados testes para verificar a eficiência dos
dois modelos em representar os resultados experimentais de [3] e [5]. De acordo com a figura
5, as duas estratégias promovem os mesmos resultados, portanto ambas as estratégias de
modelagem da restrição axial podem ser utilizadas para fins de comparação com resultados
experimentais e numéricos. Tendo em vista a intenção de futuras comparações entre
resultados de modelagens via ANSYS e ABAQUS [6], optou-se no presente trabalho por utilizar
os modelos com restrição representada por elemento de mola.

É interessante destacar que os modelos construídos em [3] foram em elementos do tipo sólido.
No presente trabalho, foram construídos modelos com elementos do tipo Shell, tendo em vista
dentre outros aspectos, a possibilidade de os problemas de convergência enfrentados em [3]
estarem relacionados ao tipo de elemento finito utilizado.

Figura 3: Esquema geral da restrição axial ao Figura 4: Esquema geral da restrição axial ao
alongamento térmico: Restrição com elemento alongamento térmico: Restrição com
de barra link 10 elemento de mola combin 14.

Figura 5: Comparação - restrição axial com Link 10 vs. restrição axial com Combin 14

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3. RESULTADOS

Foram realizados vários testes, avaliando a influência dos seguintes fatores: (1) consideração
da imperfeição local, (2) amplitude da imperfeição local e (3) tipo de relação tensão vs.
deformação. Dentre os aspectos que mais influenciaram na correlação entre os resultados
numéricos e experimentais destacam-se a consideração da imperfeição local e a relação
tensão vs. deformação. Conforme figura 6, a consideração da imperfeição local, permitiu que o
modelo melhorasse a correlação entre as curvas força vs. temperatura experimental e
numérica. Conforme a figura 7, a utilização da relação tensão vs. deformação apresentada em
[5] permitiu que o modelo capturasse o ramo descendente das curvas força vs. temperatura.
Tendo em vista a melhora na correlação entre os resultados experimentais e numéricos com as
curvas tensão vs. deformação apresentadas em [5], fez-se uma avaliação dos modelos com o
uso das curvas da EN 1993-1-2:2005 [6] sem o ramo descendente. Nessa etapa percebeu-se
que a consideração ou não do ramo descendente tem influência na convergência dos modelos.
Quando se considera o ramo descendente da relação tensão vs deformação da EN 1993-1-
2:2005 [7] os modelos não convergem e apresentam uma rigidez bem maior que os resultados
experimentais. De acordo com a figura 8, a amplitude da imperfeição local apresentou
influência apenas na intensidade da força última dos modelos e não alterou a definição da
temperatura crítica.

Figura 6: Comparação: Modelo sem


Figura 7: Comparação σ vs. ε: EN 1993-1-
imperfeição local vs. modelo com imperfeição
2:2005 [7] vs. [5]
local

Figura 8: Comparação: Modelo sem imperfeição local vs. modelo com imperfeição local

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Os modelos numéricos construídos no ANSYS também foram aferidos pelos resultados


experimentais apresentados em [5]. Nessa etapa, também foram inseridas nos modelos tanto
as relações tensão vs. deformação de RAMBERG-OSGOOD calibradas com base nos
resultados experimentais de [5], bem como as propriedades térmicas medidas
experimentalmente no referido trabalho. Foram realizadas comparações entre os resultados
dos pilares com seção C rotulados e engastados, conforme figuras 9 e 10.

Figura 9: Força versus Temperatura para o Figura 10: Força versus Temperatura para o
pilar rotulado: comparação FEM vs pilar engastado: comparação FEM vs
Experimental [5] Experimental [5]

De acordo com as figuras 9 e 10, o modelo numérico construído via ANSYS conseguiu
representar os resultados experimentais para a força última e temperatura crítica com razoável
precisão. Todavia, alguns ajustes ainda são necessários para melhorar a concordância entre a
forma das curvas força versus temperatura entre os resultados experimentais e numéricos.
Outrossim, verifica-se que ainda há necessidade de contornar problemas de convergência em
alguns modelos. Entretanto, acredita-se que esses problemas de convergência estejam
relacionados a aspectos inerentes à técnica ou parâmetros adotados na solução numérica,
uma vez que os demais modelos, sejam eles rotulados ou engastados conseguiram convergir
até o último passo de carga. A figura 11 mostra a coparação entre os resultados numérico e
experimental para o caso de pilar engastado onde se alcançou a convergência.

Figura 11: Força versus Temperatura para o pilar engastado: comparação FEM-k = 35 kN/cm
vs Experimental [3]

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Para complementar a avaliação dos modelos construídos via ANSYS, no presente trabalho
também foram realizadas comparações entre os resultados obtidos via ANSYS e ABAQUS. As
análises numéricas dos pilares via ABAQUS seguiram as mesmas etapas sequencais descritas
no item 2. No que se refere à modelagem via ABAQUS, os pilares foram construídos seguindo
a estratégia estabelecida em [5], onde se utilizou elementos finitos do tipo shell (SR4) e
restrição ao alongamento térmico axial realizada com restrição do tipo Axial Spring disponíveis
no modo restraint do ABAQUS. A figura 12 mostra o esquema dos modelos construídos via
ABAQUS. Foram investigados elementos rotulados e elementos engastados.

De acordo com as figuras figuras 13 e 14 os resultados obtidos por meio de ambos os


softwares são idênticos, com melhor concordância entre os resultados numéricos e
experimentais para o modelo de pilares rotulados, conforme figura 13. Para o modelo de pilares
engastados as forças últimas apresentaram boa concordância e a temperatura crítica
apresentou diferença de 86 °C, conforme figura 14.

Figura 12: Modelo desenvolvido no ABAQUS para colunas com seção C com restrição ao
alongamento térmico

Figura 13: Força versus Temperatura para o Figura 14: Força versus Temperatura para o
pilar rotulado: FEM ANSYS vs FEM ABAQUS pilar engastado: FEM ANSYS vs FEM ABAQUS

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4. CONCLUSÕES

A estratégia de modelagem numérica via ANSYS se mostrou potencialmente adequada para a


investigação de pilares de aço formados a frio em temperaturas elevadas. Todavia, embora
tenha-se conseguido avanços nos modelos numéricos cosntruídos via ANSYS, mais
investigações se fazem necessárias para melhorar a concordância entre as formas das curvas
força versus temperatura experimentais e numéricas e consequentemente a definição da
temperatura crítica dos elementos.

5. AGRADECIMENTOS

Ao fabricante português de perfis de aço formados a frio PERFISA SA (www.perfisa.net), à


Fundação Portuguesa de Ciência e Tecnologia - FCT (www.fct.mctes.pt), ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo apoio à pesquisa.

6. REFERÊNCIAS

[1] Ansys Inc. Ansys Release 16.0 - Documentation.


[2] Dorr, J. B. Modelos numéricos de pilares de aço em situação de incêndio considerando a
influência da restrição axial. Dissertação de Mestrado, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, 2010, 210p.
[3] Almeida, S.J.C. Análise do comportamento a temperaturas elevadas de elementos de aço
formados a frio comprimidos considerando restrição ao alongamento térmico. Tese de
Doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo e
Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2012, 318 p.
[4] Araújo, M.S.D.A. Análise numérica sobre o comportamento ao fogo de pilares tubulares
em aço. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 2016, 120p.
[5] Craveiro, H. "Fire Resistance of Cold-Formed Steel Columns". Tese de Doutoramento,
Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra, 2016, 368p.
[6] Abaqus 6.14, Getting Started with Abaqus, Dassault Systemes Simulia Corp, USA
[7] European Committee for Standardization (2005). EN 1993-1-2:2005 Eurocode 3 - Design
of Steel Structures. Part 1-2: General rules – Structural Fire Design. Brussels.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ANÁLISE TERMOMECÂNICA DE ESTRUTURAS DE AÇO VIA CS-ASA

Rafael C. Barros* Dalilah Pires Ricardo A. M. Silveira


Universidade Federal de Universidade Federal de Universidade Federal de
Ouro Preto Ouro Preto Ouro Preto
Ouro Preto - MG, Brasil Ouro Preto - MG, Brasil Ouro Preto - MG, Brasil
Universidade Federal de
São João Del-Rei
Ouro Branco - MG, Brasil

Paulo A. S. Rocha Ígor J. M. Lemes Walnório G. Ferreira3


Universidade Federal de Universidade Federal de Universidade Federal do
Ouro Preto Ouro Preto Espírito Santo
Ouro Preto - MG, Brasil Ouro Preto - MG, Brasil Vitória - ES, Brasil

Palavras-chave: Análise Térmica, Análise Termomecânica, Incêndio, CS-ASA, MEF.

1. INTRODUÇÃO

O programa CS-ASA, Computational System for Advanced Structural Analysis [1], foi inicialmente
desenvolvido procurando incluir diversas fontes de não linearidade no âmbito das análises
estática e dinâmica de estruturas de aço. Mais recentemente, o sistema foi expandido por Lemes
[2] com o intuito de viabilizar a análise avançada de estruturas de concreto e mistas (aço e
concreto). Neste trabalho, o objetivo é apresentar as duas novas funcionalidades do programa
CS-ASA. O primeiro, denominado CS-ASA/FA (Fire analysis) [3], é capaz de determinar o campo
de temperatura na seção transversal dos elementos estruturais através da análise térmica via
MEF em regime permanente e transiente. O segundo módulo, CS-ASA/FSA (Fire Structural
Analysis) [4], foi desenvolvido com o intuito de realizar uma análise inelástica de segunda ordem
de estruturas sob elevadas temperaturas. Neste cenário, propõe-se então uma abordagem
baseada no Método da Compatibilidade de Deformações (MCD) [5-6] para a avaliação tanto da
capacidade resistente da seção transversal, quanto das rigidezes axial e à flexão de estruturas
de aço sob elevadas temperaturas [4]. A construção da relação momento-curvatura se torna
essencial para tal avaliação. Uma vez considerando a tangente à relação momento-curvatura,
as rigidezes dependem somente do módulo de elasticidade dos materiais, retirado das
respectivas relações constitutivas. Visa-se assim, o acoplamento dessa metodologia ao Método
da Rótula Plástica Refinado (MRPR), em que se avalia a plasticidade em termos nodais através
dos parâmetros generalizados de rigidez.

*
Rafael C. Barros – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PROPEC/Deciv/EM), Universidade Federal de Ouro Preto. Campus

Universitário s/n, Morro do Cruzeiro. 35400-000 – Ouro Preto - MG - Brasil. Tel.: +55 31 98718 3902. e-mail: rafaelcesario@hotmail.com

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2. ANÁLISE TÉRMICA

Admite-se neste trabalho que a distribuição de temperaturas ao longo de cada elemento


estrutural seja uniforme e igual àquela estimada para a seção transversal. A análise térmica é
então realizada exclusivamente no plano da seção transversal através de modelos numéricos de
transferência de calor que possibilitam a determinação da distribuição de temperaturas em
diferentes pontos da seção. É adotada uma estratégia de integração no tempo baseada no
Método das Diferenças Finitas (MDF). O módulo CS-ASA/FA conta ainda com dois
procedimentos de resolução do sistema: o incremental simples e o incremental-iterativo (Picard
ou Newton-Raphson). Vale destacar ainda que as propriedades térmica e mecânica do aço em
situação de incêndio são adotadas conforme prescrição normativa [7]. Maiores detalhes desse
módulo computacional estão em Pires et al. [3] e Barros [4].

3. ANÁLISE TERMOMECÂNICA

Para o estudo do comportamento inelástico de estruturas de aço em situação de incêndio, são


seguidos os fundamentos básicos propostos pelo MRPR acoplado ao MCD. Essas estratégias
numéricas foram adaptadas a partir do trabalho desenvolvido por Lemes [2], no intuito de
considerar os efeitos da degradação dos parâmetros de rigidez e resistência do material, bem
como a influência da deformação térmica na análise da seção transversal do elemento.

3.1 Formulação de elementos finitos via MRPR

O programa CS-ASA utiliza uma formulação baseada no Método da Rótula Plástica Refinado
para simular a plasticidade concentrada nos pontos nodais do elemento. Para tanto, assume-se
que:
 todos os elementos são inicialmente retos e prismáticos, e a seção transversal permanece
plana após a deformação;
 são desprezados os efeitos de instabilidade local;
 a estrutura é perfeitamente travada no eixo ortogonal (problema 2D);
 grandes deslocamentos e rotações de corpo rígido são permitidos; e
 as deformações originadas pelo cisalhamento são ignoradas.

Para a formulação adotada, no contexto da discretização do sistema estrutural via método dos
elementos finitos, considera-se o sistema corrotacional de referência, onde o elemento finito de
pórtico plano é delimitado pelos pontos nodais i e j (Fig. 1). Nessa mesma figura estão os esforços
internos atuantes no elemento, Mi, Mj e P, bem como os respectivos graus de liberdade θ i, θj e
δ.

M i , i M j , j

i j P, 
Figura 1: Elemento finito de viga-coluna

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A relação de equilíbrio do elemento finito mostrado na Fig. 1, na forma incremental, é dada por:

 P  k11 0 0    
  0  
 Mi    k22 k23   i  (1)
M   0 k33   
 j k32  j 

em que, ΔP, ΔMi e ΔMj são os incrementos de força axial e de momentos fletores e Δδ, Δθi e Δθj
são os incrementos de deformação axial e rotações nodais, respectivamente.

Os termos atinentes a flexão da matriz de rigidez dependem da formulação geometricamente


não linear. Adotou-se aqui a formulação proposta por Yang e Kuo [8]. Expressões são
desenvolvidas para avaliar esses termos da matriz de rigidez, considerando a variação do
módulo de elasticidade de forma linear ao longo do comprimento, que podem ser vistas em [4,6].

3.2 Método da compatibilidade de deformações

Ao submeter um elemento estrutural a esforços externos, este se deforma gerando forças


internas para equilibrar o sistema [6]. Essa deformação, a nível da seção transversal, é abordada
no MCD. Para a aplicação desse método, supõe-se que o campo de deformações é linear e a
seção permanece plana após a deformação (Fig. 2). Esse método busca acoplar a configuração
deformada da seção à relação constitutiva do material que a compõe. Deve-se então definir uma
forma de discretização capaz de capturar as deformações da forma mais eficiente possível.
Neste trabalho adotou-se uma divisão da área da seção transversal em fibras, assim como em
[4, 6].


Fibra i
th
LNP LNP
i th ,a
Ai

yi
0
Seção
Seção
Indeformada Deformada

Figura 2: Campo de deformações linear em torno do eixo x

O método iterativo de Newton-Raphson é utilizado, numa aplicação localizada a nível da seção


transversal, para a obtenção da relação momento-curvatura (M- ɸ). Para um valor fixo de esforço
axial, N, são dados incrementos no momento fletor solicitante até que o momento último
resistente seja atingido. A discretização da seção transversal em fibras tem como objetivo
descrever a distribuição de deformações, capturando a deformação axial (ε i) no centroide plástico
(CP) de cada fibra e então, através das relações constitutivas dos materiais, obter as respectivas
tensões (σi). Assim, a deformação axial na i-ésima fibra é dada por:

109
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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

i  0  ri  y i  th,a  th y i (2)

em que yi é a distância entre os centroides plásticos da fibra analisada e da seção transversal;


ε0 é a deformação axial no CP da seção; εri é a deformação devido às tensões residuais (quando
considerado); ɸ a respectiva curvatura; εth,a é a deformação térmica axial; e ɸth a curvatura
proveniente da deformação térmica. A deformação térmica é determinada conforme apresentado
em [4].

Em notação matricial, as variáveis ε0 e ɸ são componentes do vetor de deformações X.


Numericamente, pode-se dizer que o equilíbrio da seção é obtido quando a seguinte equação,
escrita na forma matricial, é satisfeita:

N  N 
F  X   fext  fint   ext    int   0 (3)
Mext  Mint 

em que o vetor de forças externas fext é dado pelo esforço axial, Next, e de momento fletor, Mext;
e os termos Nint e Mint são as componentes do vetor de forças internas, fint. Os esforços internos
são obtidos a partir da configuração deformada da seção transversal através de integrais
clássicas, dados por:

nfib ,a
Nint   adA  
i 1
ai Aai
Aa
nfib ,a
Mint   a ydA  
i 1
ai Aai y ai
(4)
Aa

sendo nfib,a o número de fibras no perfil metálico; Ai a área da fibra no perfil metálico; yai a posição
da fibra em relação à Linha Neutra Plástica (LNP).

Embora seja eficiente iniciar o processo com X = 0, a convergência só é atingida na primeira


iteração se os esforços externos forem nulos. Assim, para a iteração seguinte, k+1, o vetor de
deformações é calculado como [6]:

   
1
X k 1  X k  F ' X k F Xk (5)

na qual F ' é a matriz Jacobiana do problema não linear, isto é:

 Nint Nint 
  
 F   0 
F'     (6)
 x   Mint Mint 
 
 0  

Portanto, para um dado esforço axial, atinge-se o momento máximo da relação momento-
curvatura, o que configura a plastificação total da seção. Define-se então que esse par de

110
4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

esforços é um ponto da curva de interação normal-momento fletor (N-M). Vale ressaltar que as
curvas de interação N-M são obtidas de forma independente da análise estrutural, a fim de
acelerar a execução das simulações numéricas. Maiores detalhes sobre a construção das curvas
de interação N-M, considerando o sistema estrutural submetido à condição de incêndio, bem
como a solução do problema termoestrutural, podem ser observados em [4]. A Tabela 1 mostra
o algoritmo de solução do procedimento incremental-iterativo para estruturas sob elevadas
temperaturas.

4. ANÁLISE NUMÉRICA

Os exemplos em questão foram estudados inicialmente por Rubert e Schaumann [9], os quais
apresentaram uma série de ensaios de pórticos de aço submetidos a temperaturas elevadas.
Neste trabalho trata-se apenas das configurações denominadas EHR e EGR, ilustradas nas Fig.
3a e 6a. Todas as seções dos elementos dos referidos pórticos são do tipo IPE80 e o incêndio é
considerado atuando nas quatro faces de cada elemento estrutural. As condições de
carregamento, bem como as propriedades (física e geométrica) de cada um, são mostradas nas
Fig. 3a e 6a.

160

140
P (kN)
120 283,78
Carga aplicada (mm)

300

F1 = 112 kN F2 = 28 kN 100 início do 200


incêndio

80 F1 = 112 kN
100
8,59
60 u2 = 1,6107 mm
0
117 cm

w4 2 4 6 8 10
u2 E = 210 GPa 40 w4 = 5,2597 mm M (kNm)
-100
fy = 382 MPa
20 Deslocamento: u2
Deslocamento: w4 -200

124 cm 0
-300
0 5 10 15 20 25 30 35
Deslocamentos (mm)
a) b)
Figura 3: Pórtico EHR: a) Propriedades, carregamento e geometria; b) Trajetória de equilíbrio e
curva de interação N-M à temperatura ambiente

Analisando primeiramente o pórtico com a configuração EHR, a Fig. 3b apresenta a trajetória de


equilíbrio dessa estrutura à temperatura ambiente, destacando-se o ponto de início da análise
térmica. Adicionalmente, ainda na Fig. 3b observa-se uma significativa reserva de resistência da
estrutura em relação ao carregamento aplicado. As Figuras 4 e 5 mostram os resultados obtidos
das análises térmica e termomecânica realizadas pelos módulos CS-ASA/FA e CS-ASA/FSA da
estrutura EHR. Em relação a análise térmica (Fig. 4a) os resultados foram confrontados com
aqueles obtidos através do SAFIR [10], onde foram analisados 3 pontos ao longo da seção
transversal, sendo dois localizados nas mesas superior e inferior e o último na alma do perfil.

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Tabela 1: Algoritmo de solução não linear do problema termomecânico


Início da análise termomecânica
1. Análise Estática Não Linear (Temperatura Ambiente)
1a. Lê os dados gerais da estrutura e do tipo de análise
1b. Construção das curvas de interação e o vetor de cargas nodais de referência, Fr
2. Solução Incremental Tangente:  0 , U0 (ninc = 1, 2, 3,..., nmáx)
2a. Monta a matriz de rigidez tangente: K
2b. Resolve: Ur  K 1Fr
2c. Define  0 usando a estratégia de incremento de carga constante
2d. Determina: U0  0Ur
2e. Atualiza as variáveis na configuração t  t :
t t  t t 
  t   0 e U  t U  U
3. Processo Iterativo Newton-Raphson: k = 1, 2, 3,..., nmax
3a. Avalia o vetor de forças internas: t t  Fi k 1  t Fi  KU k 1
3b. Calcula o vetor de forças residuais: g k 1  t t   k 1
 Fr  
t t 
Fi
k 1

3c. Verifica a convergência: critério baseado em forças g k 1 


k 1
Fr  tol
Sim: Interrompa o processo iterativo e siga para o item 3j
3d. Se Newton-Raphson padrão, atualiza a matriz de rigidez tangente: K
3e. Determina o vetor de correção dos deslocamentos nodais: Uk  K1 k 1g k 1
3f. Atualiza o parâmetro de carga,  , e o vetor de deslocamentos nodais, U:
e Uk  U
k 1
Incremental:  k  
k 1
a)  Uk
 t t  t t 
b) Total:      e k t
Uk  t U  Uk
k

3g. Atualiza o Sistema de variáveis (coordenadas nodais e vetor de forças internas)


3h. Se k < nmax, retorna ao item 3
3i. Se k = nmax, reduz  0 à metade e reinicia o processo incremental, passo 2
3j. Se ninc < nmax, realiza um novo incremento de carga e retorna ao passo 2
4. Análise Estática Não Linear em Situação de Incêndio
4a. Lê os dados gerais da seção transversal dos elementos estruturais
5. Início do Incêndio: incremento de tempo: ninct = 1, 2, 3,…, nmax
5a. Calcula o campo de temperaturas: T =K ˆ 1 R
ˆ n n
n1
5b. Construção das curvas de interação e montagem da matriz de rigidez tangente: K
6. Processo Iterativo Newton-Raphson: k = 1, 2, 3,…, nmax
6a. Avalia o vetor de forças internas: t t  Fi k 1  KUk 1

6b. Calcula o vetor de forças residuais: g


k 1 t t 
Frconst  
t t   k 1

t t 
Fi
k 1
 Fep
6c. Determina o vetor de correção dos deslocamentos nodais: Uk  K  g 
1 k 1 k 1

t t  k
6d. Atualiza os deslocamentos totais: U  t U  Uk
6e. Verifica a convergência: critério baseado em deslocamentos: Uk Uk  tol
Sim: Interrompa o processo iterativo e siga para o item 6f
Não: retorna ao passo 6
6f. Se ninct < nmax, realiza um novo incremento de tempo e retorna ao item 5
Fim da Análise Termomecânica

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A Fig. 4b refere-se a construção da curva de interação esforço normal-momento fletor durante o


tempo de exposição ao incêndio, destacando-se o tempo crítico para o colapso da estrutura (6
min). As Figuras 5a e 5b fornecem os resultados da análise termomecânica encontrados através
do CS-ASA/FSA em comparação aos resultados experimentais [9] e numéricos [11], ressaltando-
se a boa aproximação em relação aos encontrados na literatura.

1000
Py Py 20
900 1
1 a 5 min
(2)
800 6 min
(1) e (3) tempo crítico
700 7 min
0,5
Temperatura (°C)

46
600
1
500 10 min
5
0
400 2 80

3,8 15 min
300
(mm)
200 5,2 3 -0,5
IPE80

100 SAFIR [10]


Presente trabalho
0
-1
0 15 30 45 60
Tempo (min) 0 0,5 1

a) M p M p 20
b)
Figura 4: a) Temperatura x tempo; b) Curva de interação N-M

Destacando-se agora o pórtico com a configuração EGR, na Fig. 6b é apresentada a trajetória


de equilíbrio da estrutura em função do carregamento aplicado, conforme ilustrado na Fig. 6a.
Quanto à análise termomecânica, os resultados obtidos por meio do CS-ASA/FSA foram
confrontados na Fig. 7 com aqueles da literatura [9, 11], onde se pode notar a boa concordância.
Cabe ainda salientar que a Fig. 4 também refere-se a configuração EGR, uma vez que essa
estrutura também é aquecida por todos os lados e possui a mesma seção transversal da
configuração EHR. As temperaturas críticas alcançadas neste trabalho para a configuração EGR
são apresentadas na Tabela 2 e também são comparadas à literatura. Essa tabela mostra que a
temperatura crítica obtida por meio do CS-ASA/FSA é ligeiramente mais conservadora que o
modelo experimental.

Tabela 2: Temperaturas de colapso do sistema estrutural (°C)


Rubert e Rigobello [11] Presente trabalho Erro*
Estrutura
Shaumann [9] (CS-ASA/FSA) (%)
Pórtico simples 515 491 507 1,55
Erro: Diferença relativa entre os resultados obtidos através do CS-ASA e os experimentais [9]

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40 40
Deslocamento u2 (mm)

Deslocamento w4 (mm)
35 35
30 30
25 25
20 Rubert e Schaumann (1986) 20 Rubert e Schaumann (1986)
15 Rigobello (2011) 15 Rigobello (2011)
10 Presente trabalho Presente trabalho
10
5 5
0 0
0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
Temperatura (ºC) Temperatura (ºC)
a) b)
Figura 5: a) Deslocamento u2 x temperatura; b) Deslocamento w4 x temperatura

140
Py P u3 u5
P/P y
130 (kN) (kN) (mm) (mm)
118,18 0,55 118,18 65,00 9,0065 5,6473
120
110
100
u5
90
Carga P (kN)

80 u3

70 65

65 kN 65 kN 60
2,5 kN 50
26,6094
16,4553

u3
u1 40
9,0065

E = 210 GPa 30
117 cm

Deslocamento: u3
fy = 382 MPa u5 20 Deslocamento: u5
(u3) - P/P y: 0,55
5,6473

10 (u5) - P/P y: 0,55


Py : 118,18 kN
0
122 cm 0 10 20 30 40 50 60 70
Deslocamentos horizontais u3 e u5 (mm)
a) b)
Figura 6: Pórtico EGR: a) Propriedades, carregamento e geometria; b) Trajetória de equilíbrio

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30 40
65 kN 65 kN
u1 Presente trabalho u3
2,5 kN
u3
35 Rigobello
u1
25 Rubert and Schaumann
u5
30
Deslocamento u (mm)

Deslocamento u (mm)
20
25 u5
15 20

15
10
10
5 Presente trabalho
5
Rigobello (2011)
Rubert e Schaumann (1986)
0 0
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
Temperatura (ºC) Temperatura (ºC)
Figura 7: Curvas Temperatura x deslocamento a) deslocamento u1 b) deslocamentos u3 e u5

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da análise dos resultados apresentados neste trabalho, bem como por aqueles já
mostrados em [3-4], conclui-se que os módulos computacionais desenvolvidos e implementados
podem ser usados, de forma satisfatória, na análise do comportamento de estruturas de aço em
situação de incêndio, inclusive quando comparado a modelos numéricos que trabalham com os
conceitos de plasticidade distribuída [11], para o caso da análise termomecânica. A estratégia
numérica adotada aqui, que considera o acoplamento do Método da Compatibilidade de
deformações (MCD) e o Método da Rótula Plástica Refinado (MRPR), o qual baseia-se nos
conceitos de plasticidade concentrada, foi capaz de capturar com precisão o comportamento
inelástico de sistemas estruturais em aço submetidos à elevadas temperaturas. Além disso, ela
proporcionou a obtenção do tempo e/ou temperatura de colapso do sistema estrutural próximos
dos encontrados na literatura. Adicionalmente, destaca-se ainda uma ligeira diferença entre os
resultados numéricos e experimentais para ambos exemplos. Tal diferença pode estar
relacionada a curva que descreve a temperatura dos gases adotada e a forma como foi
conduzido o ensaio experimental. Essa pesquisa está sendo estendida à análise de outros
pórticos metálicos com diferentes cenários de aplicação da carga térmica ao sistema. Além disso,
estudos estão sendo direcionados à análise de estruturas de concreto e mistas (aço-concreto)
em situação de incêndio.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES, CNPq, FAPEMIG, Fundação Gorceix e a UFOP (PROPEC e


PROPP) o apoio recebido para realização desta pesquisa.

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7. REFERÊNCIAS

[1] Silva, A.R.D.– Sistema Computacional para a Análise Avançada Estática e Dinâmica de
Estruturas Metálicas, Tese de Doutorado, Universidade Federal de Ouro Preto, 2009, 322p.
[2] Lemes, I.J.M. – Análise Avançada via MRPR de Estruturas Mistas de Aço e Concreto,
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, 2015, 101 p.
[3] Pires, D., Barros, R.C., Lemes, I.J.M., Silveira, R.A.M., Rocha, P.A.S. – Análise Térmica de
Seções Transversais via Método dos Elementos Finitos, XXXVI Ibero-Latin American
Congress on Computational Methods in Engineering, Rio de Janeiro, 2015.
[4] Barros, R.C. – Avaliação Numérica Avançada do Desempenho de Estruturas de Aço sob
Temperaturas Elevadas, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto,
2016, 134 p.
[5] Chiorean C.G. – A Computer Method for Nonlinear Inelastic Analysis of 3D Composite Steel-
Concrete Frames Structures, vol. 57, 2013, p. 125-152.
[6] Lemes, I.J.M., Silveira, R.A.M., Rocha, P.A.S. – Acoplamento MCD/MRPR para Análise de
Estruturas Metálicas, de Concreto e Mistas, XXXVI Ibero-Latin American Congress on
Computational Methods in Engineering, Rio de Janeiro, 2015.
[7] EN 1993-1-2 – Eurocode 3: Design of Steel Structures, Part 1.2: General Rules, Structural
Fire Design, 2005, 78 p.
[8] Yang, Y.B.; Kuo, S.B. - Theory & Analysis of Nonlinear Framed Structures. Prentice Hall,
1994, 569 p.
[9] Rubert A., Schaumann P. – Structural Steel and Plane Frame Assemblies Under Fire Action,
vol. 10, 1986, 173-184 p.
[10] Franssen J.-M. – SAFIR – A Thermal/Structural Program Modelling Structures Under Fire,
vol. 42, no. 3, 2005, 143-158 p.
[11] Rigobello, R. - Desenvolvimento e Aplicação de Código Computacional para análise de
Estruturas de Aço Aporticadas em Situação de Incêndio, Tese de Doutorado, Universidade
de São Paulo, 2011, 272 p.

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ANÁLISE EXPERIMENTAL DE VIGAS METÁLICA E MISTA DE AÇO E


CONCRETO PARCIALMENTE REVESTIDA EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Fotografia Fotografia Fotografia


Autor 1 Autor 2 Autor 3

30 mm 30 mm 30 mm
  
40 mm 40 mm 40 mm

Vanessa D. Felício Fábio M. Rocha Jorge Munaiar Neto


Mestranda Pós doutorando Professor
Universidade de São Universidade de São Universidade de São
Paulo Paulo Paulo
São Carlos, Brasil São Carlos, Brasil São Carlos, Brasil

Palavras-chave: Viga de aço; Viga mista de aço e concreto; Incêndio; Análise experimental.

1. INTRODUÇÃO

Com o crescente uso dos elementos mistos de aço e concreto, os benefícios estruturais
começaram a ser notados. Tal associação resulta na melhor utilização de ambos os materiais,
não somente no que se refere à capacidade resistente, mas também no ponto de vista
construtivo, funcional e estético, minimizando os inconvenientes intrínsecos de cada material
[1].

Além disso, o comportamento das estruturas em situação de incêndio tem sido assunto de
crescente interesse nos meios técnico e científico devido aos incidentes ocorridos ao longo dos
anos. O aumento de temperatura nas estruturas é um efeito bastante nocivo, pois esta penaliza
a rigidez e a resistência dos materiais, podendo levar, em questão de minutos, uma estrutura
ao colapso.

Tendo em vista o interesse no estudo das estruturas em situação de incêndio, atenta-se para o
fato de que muitos dos trabalhos encontrados na literatura apresentam, em sua grande maioria,
estudos essencialmente numéricos ou ensaios de elementos isolados submetidos ao incêndio-
padrão. Em [2], é levantada a necessidade de se abordar, em ensaios futuros, situações que
representem mais fielmente as reais condições que o elemento estrutural está submetido. No
caso dos elementos estruturais de interesse no trabalho, essas condições podem se referir a

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situações mais reais de incêndio, que poderão ser analisadas com um modelo numérico
adequadamente validado.

2. METODOLOGIA

As análises experimentais foram realizadas no Laboratório de Engenharia de Estruturas da


EESC/USP, utilizando um forno horizontal de grandes dimensões para o ensaio de elementos
estruturais em situação de incêndio. O forno possui dimensões internas de 3m x 4m x 1,5m,
com funcionamento a gás, como mostrado na Figura 1.

Figura 1: Forno horizontal à gás da EESC/USP

O ensaio de flexão a três pontos constava da viga na sua maior parte dentro do forno, em
condição estática simplesmente apoiada, considerando como condição de carregamento uma
força concentrada aplicada no meio do vão livre, em concordância com os ensaios realizados à
temperatura ambiente.

2.1 Características dos elementos

Foram ensaiadas duas vigas, uma metálica e uma mista de aço e concreto parcialmente
revestida. As vigas constam de perfis metálicos constituídos de seção transversal do tipo “I”,
sendo que as vigas mistas foram preenchidas com concreto e armaduras entre as mesas e a
alma.

As vigas possuíam 6000 mm de comprimento e 5100 mm de vão entre apoios. Em relação às


armaduras da viga mista, foram adotadas quatro barras longitudinais de diâmetro 6,3 mm junto
a estribos de um ramo e 5 mm de diâmetro que, por sua vez, foram soldados à alma do perfil
metálico, como apresentado na Figura 2. Os estribos têm 15 cm de espaçamento entre eles.

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Figura 2: Modelos utilizados com detalhamento da armadura

O perfil metálico foi escolhido de forma que representasse uma seção que poderia ser utilizada
em um edifício de múltiplos pavimentos, sendo então escolhido o perfil laminado W250X32,7, o
qual apresentou capacidade resistente suficiente para suportar as ações desse tipo de
edificação, conforme prescrições da ABNT NBR 8681:2003. Também foi importante, quando da
escolha do perfil, que este mesmo possuísse mesas com comprimento suficiente para
acomodar as barras de armaduras e os estribos, respeitando os cobrimentos e taxas mínimas
da ABNT NBR 6118:2014.

Foi utilizado concreto moldado no local, cuja concretagem foi realizada na posição horizontal
em duas etapas, uma para cada lado do perfil com sete (7) dias de diferença entre elas.

Para os dois casos de vigas considerados, metálica e mista parcialmente revestidas, calculou-
se as cargas máximas teóricas segundo a ABNT NBR 8800:2008 para as vigas metálicas e
mistas. Nos ensaios em temperatura elevada foi utilizado o fator de carga de 30% dessa carga
máxima teórica. Esses valores estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Carga máxima teórica de ruptura e fator de carga usado no ensaio de temperatura
elevada
Carga máxima teórica Fator de carga – 30%
(kN) (kN)
Viga Metálica 125,5 37,65
Viga Mista parcialmente revestida 160,8 48,24

2.2 Instrumentação

A instrumentação consistiu de termopares e transdutores de deslocamentos. Os termopares


foram posicionados em todo o perfil metálico, e no caso da viga mista, os termopares também
foram colocados no concreto e nas armaduras. Três seções (S1, S2 e S3) foram estabelecidas
para a instrumentação, como apresentado nas Figuras 3 e 4.

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Figura 3: Posição dos termopares nos perfis das vigas

Figura 4: Seções de análise das vigas

Em relação à medida dos deslocamentos, foram utilizados três (3) transdutores. Dois desses
transdutores foram posicionados acima do perfil metálico, sendo que os fios passaram por
aberturas na tampa do forno. O outro transdutor foi posicionado em uma das extremidades da
viga, para controle da rotação nos apoios. A posição dos transdutores pode melhor ser
analisada no esquema representado na Figura 5.

Figura 5: Posição dos transdutores no ensaio

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2.3 Concretagem

A concretagem foi realizada em duas etapas, com diferença de sete dias entre elas, como
mostrado na Figura 6. O cimento utilizado foi o CPV – ARI, devido à necessidade de se ensaiar
os elementos em pouco espaço de tempo.

Figura 6: Concretagem feita em laboratório

O traço em massa do concreto utilizado foi de 1 : 1,36 : 2,10 : 0,36 (proporções em massa de
cimento, areia, brita e água, respectivamente). Foi utilizado também um aditivo super
plastificante na proporção de 3% em massa, afim de diminuir a quantidade de água no
concreto.

3. ENSAIOS EM TEMPERATURA ELEVADA

Finalizada a preparação das vigas metálicas e mistas de aço e concreto, foram realizados dois
ensaios em temperatura elevada para a verificação do seu comportamento estrutural em
situação de incêndio, bem como verificar a influência do revestimento parcial de concreto no
perfil metálico. Os ensaios contemplaram a ação térmica em conjunto com o carregamento
mecânico, como mostrado na Figura 5, onde se pode verificar que o carregamento foi aplicado
apenas no meio do vão.

Após a aplicação do carregamento mecânico, com os valores apresentados na Tabela 1, o


forno foi ativado e realizou-se o aquecimento até o instante em que foi observado
deslocamento excessivo nos elementos. Durante os ensaios, com o decorrer do aquecimento e
a deterioração das propriedades mecânicas dos materiais, o carregamento era gradualmente
perdido, sendo necessário sempre compensar a força para que a mesma se mantivesse
constante no nível de carga estipulado.

O ensaio com a viga metálica foi finalizado após 7 minutos de aquecimento, quando se
observou deslocamento de 92 mm no meio do vão e rotação excessiva nos apoios, como
mostra a Figura 7.

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Figura 7: Rotação excessiva nos apoios

O ensaio apresentou uma taxa de deslocamento médio (razão entre o deslocamento total e o
tempo de ensaio) de 13 mm/min. Neste instante, já não era mais possível realizar a
compensação do carregamento perdido, devido à elevada taxa de deslocamento do elemento,
que já caracterizava a perda da sua capacidade resistente. Na Figura 8 são apresentados os
deslocamentos medidos no meio do vão, no apoio e a força aplicada durante todo ensaio em
função do tempo de ensaio e em função da temperatura média da seção central. Vale ressaltar
que no final do ensaio, o deslocamento continuava a crescer assintoticamente mesmo com o
gradual alívio do carregamento mecânico.

Figura 8: Comportamento termoestrutural da viga metálica em função do (a) tempo de ensaio e


(b) da temperatura média do perfil metálico na seção central.

Na Figura 9, são apresentadas as temperaturas medidas na seção S1, onde pode-se verificar
que a mesa inferior e a alma tiveram temperaturas parecidas durante todo o ensaio, enquanto
que a mesa superior, por ter a face superior protegida, apresentava temperaturas menores.
Vale ressaltar que apesar da mesa superior ter apenas 9,1 mm de espessura, foi observada
uma diferença significativa entre a leitura feita na sua face superior e inferior. Ao final do ensaio
a mesa inferior e a alma estavam à aproximadamente 550°C, enquanto que a mesa superior
ainda estava com temperaturas menores que 400°C, valor este no qual o aço começa a perder
suas propriedades estruturais.

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As demais seções instrumentadas apresentaram temperaturas semelhantes, sendo que a S1


foi escolhida para mostrar os resultados, pois nenhum ponto de leitura foi perdido durante o
ensaio.

Figura 9: Temperaturas medidas nas seções (a) S1 e (b) S2 no ensaio com a viga metálica
sem revestimento.

Neste primeiro ensaio com o elemento metálico, foi observado um grande nível de rotação dos
apoios, situação essa que pode ser crítica para o revestimento lateral do forno. Devido à este
motivo e por questões de segurança da equipe responsável pelo ensaio e dos equipamentos
utilizados, foi estipulado que o ensaio com o elemento misto decorreria até que fosse
observado um deslocamento de 50 mm no meio do vão.

O ensaio com o elemento misto contou com aproximadamente 30 minutos de aquecimento,


onde pode-se observar um comportamento muito mais dúctil do elemento, com uma taxa de
deslocamento médio de 1,7 mm/min, muito menor que a observada no ensaio com a viga
metálica, como pode ser visto na Figura 10. Tal comportamento se dá em função das diferentes
taxas de aquecimento que cada parte do perfil metálico estará submetida. A menor taxa de
deslocamento também favorece a aplicação do carregamento, pois se torna mais fácil mantê-lo
constante.

Figura 10: Comportamento termoestrutural da viga mista em função (a) do tempo e (b) da
temperatura média do perfil metálico na seção central.

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Na Figura 10b, pode-se verificar que o ensaio terminou quando o perfil apresentava
temperatura média de 270°C. Vale ressaltar que nesta mesma temperatura média o ensaio
com a viga puramente metálica apresentava um deslocamento de 17 mm. Como comentado
anteriormente, a diferença na taxa de deslocamento se dá pelas diferentes taxas de
aquecimento do perfil, como pode ser visto na Figura 11.

Também é importante salientar que aos 17 minutos um dos transdutores utilizados para a
medição do deslocamento vertical no meio do vão teve o seu cabo rompido, devido ao
desplacamento do concreto na região próxima ao ponto de medição. Este fato pode ser
observado pela descontinuidade na curva do deslocamento médio, que após os 17 minutos foi
calculado somente como a medida do transdutor restante.

Figura 11: Temperaturas medidas nas seções S1 e S2 no ensaio com a viga mista.

Pode-se verificar que a mesa inferior do perfil metálico (TX.4 e TX.5) apresentaram as maiores
temperaturas, enquanto que a alma do perfil e armaduras ficaram com temperaturas baixas e
próximas dos 200°C ao final do ensaio, ou seja, sem sofrer com a deterioração das
propriedades mecânicas. Já as medições de temperatura no concreto foram ligeiramente
inferiores às da alma e da mesa superior. Estes resultados comprovam o efeito benéfico do
revestimento de concreto no perfil metálico, protegendo os componentes internos que ainda
terão a sua capacidade resistente menos afetada, e por isso, consegue manter a capacidade
portante da viga por mais tempo.

Na Figura 12 são observadas as vigas após os ensaios, onde pode-se verificar que mesmo
após o resfriamento a viga metálica apresenta um deslocamento residual vertical no meio do
vão de 12,5 mm, enquanto que na viga mista ele é aproximadamente nulo. Não foram
observadas instabilidades locais no perfil após o ensaio.

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Figura 12: Vigas após os ensasios

Em relação ao concreto, pode-se notar que houve desplacamento (spalling) em regiões


isoladas ao longo da viga. Diferentemente do esperado, o desplacamento não foi acentuado,
mesmo tendo realizado o ensaio com apenas 30 dias após a concretagem, situação esta que
ainda apresenta grande teor de água no interior do concreto.

4. CONCLUSÕES

Os ensaios em vigas de aço e mistas de aço e concreto em escala real são ainda inovadores
no Brasil, sendo estes os primeiros a serem realizados. A partir dos resultados apresentados,
pode-se verificar o efeito benéfico do revestimento de concreto no perfil metálico, resultando
em um ganho expressivo na resistência ao fogo quando comparado aos elementos puramente
metálicos.

Em relação aos elementos puramente metálicos, conclui-se que realizar ensaios deste tipo com
um nível maior de carregamento não é indicado por diversos motivos. Primeiramente, sabe-se
que com um nível maior de carregamento o ensaio terá um tempo de duração menor,
resultando em ensaios de menos de 7 minutos. Também vale ressaltar que, devido ao
aquecimento de maneira uniforme do perfil, ao ultrapassar os 400°C a falha da viga se dará
com uma elevada taxa de deslocamento, como observado no ensaio, o que torna difícil manter
o carregamento sem uma central servo-controladora. Além disso, há o risco de que os
deslocamentos excessivos danifiquem os equipamentos (atuadores hidráulicos, transdutores) e
o revestimento lateral, colocando em risco o andamento do ensaio e a equipe responsável.

5. AGRADECIMENTOS

À FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, ao CNPq – Conselho


Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e ao Departamento de Engenharia de
Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos pelo apoio direcionado a presente
pesquisa.

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6. REFERÊNCIAS

[1] Paes, J. L. R. - Aportaciones al análisis del comportamiento estructural de sistemas de


forjados mixtos tipo “Slim floor”, Tese de Doutorado, Universidade Politécnica de
Catalunha, 2003, 365p.
[2] Kodur, V. K. R., Garlock, M. & Iwankiw, N. - Structures in Fire: State-ofthe-Art, Research,
Training Needs, Fire Technology, vol. 48, 2012, p. 825-839

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ANÁLISE NUMÉRICA DE PILARES MISTOS DE AÇO E CONCRETO


PARCIALMENTE REVESTIDOS SUBMETIDOS A GRADIENTES
TÉRMICOS

Fotografia
Autor 2

30 mm

40 mm

Fábio M. Rocha Jorge Munaiar Neto João P. C.


Pós Doutorando Professor Rodrigues
USP – São Carlos USP – São Carlos Professor Doutor
Brasil Brasil Universidade de
Coimbra
Coimbra, Portugal

Palavras-chave:. Análise Termoestrutural, Pilares mistos de aço e concreto, Gradiente térmico,


Incêndio.

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que os pilares mistos de aço e concreto têm sido cada vez mais utilizados em edifícios
de diversos pavimentos, devido à sua grande capacidade de carga, alta ductibilidade e o bom
comportamento frente às ações sísmicas e ao fogo [1]. De modo geral, os elementos mistos de
aço e concreto conseguem aproveitar as vantagens e diminuir as deficiências de cada material.
No caso do concreto, o mesmo irá servir como proteção contra o fogo para o perfil metálico e
evitará efeitos de instabilidade local dos elementos do perfil. Já o aço, pode reduzir os efeitos de
spalling e fissuração do concreto.

No caso dos pilares submetidos à situação de incêndio, nota-se que grande parte dos estudos
acerca do tema tratam apenas do pilar exposto ao fogo em todas as suas faces, sendo que, nos
casos em que o pilar está associado a uma parede ou em um canto do edifício, tal situação não
é mais verificada. A afirmação anterior também se reflete nos códigos normativos, como a ABNT
NBR 14323:2013 [2] e o EUROCODE 4 Part 1-2 [3], apresentando métodos simplificados de
cálculo apenas para o caso de aquecimento uniforme para pilares metálicos e mistos. Entretanto,
o gradiente térmico na seção, que é causado pelo aquecimento não uniforme do perfil, leverá o
pilar a desenvolver deformações e tensões que não estão previstas, e que mudam
consideravelmente o comportamento do elemento em situação de incêndio.

Tendo em vista os aspectos mencionados anteriormente, este trabalho apresenta o


desenvolvimento de um modelo numérico de pilares mistos de aço e concreto inseridos em

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paredes. Os modelos foram validados a partir das análises experimentais apresentadas em [4] e
que serão descritas nas seções seguintes.

2. METODOLOGIA

O trabalho consistiu do desenvolvimento de modelos numéricos no pacote computacional


ABAQUS, buscando a sua validação com ensaios em pilares mistos de aço e concreto inseridos
em paredes em situação de incêndio. A seguir, é apresentada uma breve descrição dos
elementos e do ensaio realizado, bem como a estratégia numérica utilizada para os modelos.

2.1 Descrição da análise experimental apresentada em Rocha (2016) [4]

A análise experimental apresentada em [4] contemplou pilares metálicos e mistos de aço e


concreto, isolados ou inseridos em paredes. Na Figura 1a é apresentado o sistema de ensaio
utilizado para os ensaios com pilares inseridos em paredes. Os pilares eram compostos por perfis
HEA 220, concreto classe C30/37 e armaduras longitudinais e estribos com diâmetros de 20 e 8
mm, respectivamente, como mostra a Figura 1b. As paredes (Figura 1c) foram construídas fora
do sistema de ensaio, sobre um quadro metálico, e então transportadas para a sua posição
durante a montagem do ensaio.

(a) (b) (c)


Figura 1: (a) Esquema de ensaio; (b) Seção transversal dos pilares mistos; (c) Dimensões das
paredes. [4]

No total do programa experimental foram realizados 12 ensaios, contemplando pilares de aço e


mistos de aço e concreto, inseridos em paredes e isolados. No caso dos ensaios em pilares
mistos, que será o foco deste artigo e eestão apresentados na Tabela 1, foi considerado o pilar
de forma isolada e com paredes, sendo que neste último caso foram utilizadas paredes com
tijolos de 11 e 15 cm de espessura. Em relação ao posicionamento do perfil, foi adotada a posição
com a alma paralela ou ortogonal ao plano da parede. Todos os ensaios em temperatura elevada

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com elementos mistos foram carregados com 30% da sua capacidade de carga à temperatura
ambiente, que resultava na força de 783 kN.

Tabela 1: Nomenclatura dos ensaios em relação aos parâmetros considerados.


Referência Orientação da Alma Espessura do Tijolo
H220-CONC-ISO Sem Paredes
H220-CONC-PAR-T15 Paralela 15 cm
H220-CONC-ORT-T15 Ortogonal 15 cm
H220-CONC-PAR-T11 Paralela 11 cm
H220-CONC-ORT-T11 Ortogonal 11 cm

2.2 Descrição do modelo numérico

O modelo numérico foi construído considerando o sistema de ensaio de forma completa, ou seja,
representando o pilar, paredes e as vigas superiores do pórtico de restrição, como mostra a
Figura 2. Foram utilizados elementos finitos sólidos lineares com integração reduzida (C3D8R)
para representar o perfil metálico, o concreto de revestimento, as paredes e as vigas superiores
do sistema de restrição. As armaduras do concreto foram modeladas a partir de elementos de
barra inseridos (T3D2) nos elementos sólidos do concreto por meio da função embedded
reinforcements. Também foram utilizadas molas nas extremidades das vigas do sistema de
restrição, para a calibração da rigidez do sistema. Também foram desenvolvidos modelos sem
as molas, que resultam em um sistema de restrição com maior rigidez. Tais estratégias foram
utilizadas, pois não era conhecida a rigidez axial e rotacional do sistema de restrição.

Figura 2: Modelo termoestrutural desenvolvido no ABAQUS para pilares inseridos em paredes

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Em relação aos modelos de materiais, foram consideradas as curvas de tensão x deformação


do EUROCODE 4 Part 1.2 [3], tanto para o aço quanto para o concreto. Especificamente para o
aço, foi utilizado o critério de plastificação de von Mises, enquanto que no concreto utilizou-se o
modelo CONCRETE DAMAGED PLASTICITY, disponível no pacote computacional ABAQUS.
Em relação às propriedades relacionadas à análise térmica, como a condutividade e o calor
específico, também foram utilizados os valores presentes no EUROCODE 4 Part 1.2 [3].

No que diz respeito às condições de contorno, podemos dividi-las em dois grupos de acordo com
qual tipo de análise elas influenciam. Primeiramente, para a análise térmica, as condições de
contorno são relacionadas às características das superfícies que estarão em contato com o fogo
e como o calor será transferido para dentro da estrutura. Em relação à face exposta ao fogo,
foram utilizadas emissividades de 0,9 para o aço, 0,8 para o concreto e paredes e coeficiente de
convecção igual a 25 Wm²/°C, independentemente do material da superfície. Já para a face não
exposta ao fogo, foi considerado apenas o coeficiente de convecção igual a 9 W/m²°C. Não foi
considerado um coeficiente de condução na interface entre materiais diferentes, para a
penalização deste mecanismo de troca de calor.

A variação da temperatura na face exposta ao calor foi adotada em três porções ao longo da
altura do elemento, referentes a cada módulo do forno que, por sua vez, possuíam leituras de
temperatura independentes. Deste modo, as temperaturas incluídas no ABAQUS referentes à
temperatura interna do forno, dizem respeito exatamente às obtidas na análise experimental,
para que seja respeitada a real situação na qual o pilar estava submetido.

No âmbito das condições de contorno para o modelo estrutural, são incluídas as restrições aos
graus de liberdade nos pontos de interesse, bem como elementos de mola utilizados para o
ajuste da rigidez do sistema de restrição. O processamento de um modelo termoestrutural
sequencial no pacote computacional ABAQUS pode ser dividido em vários passos, chamados
de steps, que são executados em sequência e podem ter carregamentos ou condições de
contorno diferentes entre si. Dessa forma, ao fim do step anterior, mantêm-se o estado de
deformações e de tensões do modelo, podendo restringir ou liberar graus de liberdade para o
step seguinte.

Sendo assim, a análise foi desenvolvida em dois steps: um para o carregamento do pilar e outro
para o aquecimento. Na primeira etapa, são restringidos todos os graus de liberdade da base do
pilar (Figura 3a) e também os deslocamentos nas extremidades das vigas do sistema de restrição
(Figura 3b), forçando que o único movimento possível da estrutura de restrição durante a fase
de carregamento do pilar seja na direção vertical.

Um elemento de mola linear foi colocado em cada uma das extremidades das vigas do sistema
de restrição, tendo o seu nó superior com os deslocamentos acoplados aos da face inferior das
vigas, como mostra a Figura 3c. Além disso, os dois nós do elemento de mola foram restringidos
de forma a se mover apenas na direção vertical, como as vigas do sistema de restrição.

Na segunda etapa, referente ao aquecimento, é liberada a restrição nas faces externas das vigas
superiores (nas regiões mostradas na Figura 3b) e é restringido o deslocamento vertical da base

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dos elementos de mola, travando assim o sistema de restrição, que tem seu deslocamento
condicionado apenas à rigidez das molas e das vigas.

(a) (b) (c)


Figura 3: Condições de contorno aplicadas na primeira etapa da análise numérica (a) na base
do pilar, (b) nas vigas do sistema de restrição e (c) acoplamento das molas na face inferior das
vigas do sistema de restrição [4].

Apesar das vigas do sistema de restrição terem sido modeladas com as dimensões corretas dos
elementos que as compõem, a sua rigidez real não foi medida experimentalmente, sendo que
molas nas suas extremidades foram necessárias a fim de ajustar a rigidez do sistema, que havia
se mostrado muito elevada nos testes numéricos iniciais. Com as molas, que possuíam rigidez
axial de 107 N/m cada, o sistema final possuía rigidez axial de 23 kN/mm e rotacional de 14000
kN.m/rad. A escolha do valor 107 N/m² foi obtida por meio de diversos testes com os ensaios de
pilares sem paredes, a fim de escolher o que melhor representava a real rigidez do sistema.

Um modelo alternativo também foi avaliado numericamente, sendo que neste não foram
consideradas as molas nas extremidades das vigas do sistema de restrição. Desta forma, este
modelo alternativo apresentava rigidez axial e rotacional maiores, com os valores de 94 kN/mm
e 16000 kN.m/rad, respectivamente.

Por fim, as imperfeições geométricas iniciais foram incluídas no modelo como deslocamentos
obtidos em um modelo estrutural previamente processado, onde foi aplicado um deslocamento
imposto de 3 mm (L/1000) no meio do vão do pilar na mesma direção do gradiente térmico, ou
seja, perpendicular ao plano das paredes do lado aquecido. Vale ressaltar que outros valores de
imperfeição geométrica foram testados (L/500 e L/1500), porém não houve diferença significativa
nos resultados, uma vez que os deslocamentos desenvolvidos pelo encurvamento térmico são
muito maiores que as imperfeições usualmente observadas neste tipo de elemento.

3. RESULTADOS

3.1. Resultados da análise térmica

A validação dos resultados foi dividida em duas etapas, sendo a primeira referente a análise
térmica e a segunda à análise termoestrutural. Para a validação do modelo térmico, foram
comparadas as temperaturas obtidas numericamente com os resultados medidos durante os
ensaios apresentados em [4]. A comparação das temperaturas será apresentada neste trabalho

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por meio dos resultados dos ensaios H220-CONC-ISO, H220-CONC-PAR-T15 e H220-CONC-


ORT-T15, que consideram o pilar misto isolado e com as paredes com tijolos de 15 cm de
espessura. As seções transversais dos pilares e os pontos de medição de temperatura nos
ensaios são apresentados na Figura 4.

H220-CONC-ISO H220-CONC-PAR-T15 H220-CONC-ORT-T15

(a) (b) (c)


Figura 4: Pontos de leitura de temperatura para o ensaio (a) H220-CONC-PAR-T15 e (b) H220-
CONC-ORT-T15 [4].

Considerando primeiramento o pilar isolado, é apresentada na Figura 5 a variação de


temperatura para os pontos de leitura no perfil metálico e no revestimento de concreto, onde
pode-se verificar que há uma boa concordância entre os resultados numéricos e experimentais.
Vale ressaltar que, mesmo no caso do pilar isolado, há um gradiente térmico das mesas para o
interior do perfil. Entretanto, tal gradiente é simétrico do meio do perfil para as faces, uma vez
que o aquecimento ocorreu igualmente em todas as faces da seção.

Figura 5: Comparação do desenvolvimento das temperaturas numéricas e experimentais para o


ensaio H220-CONC-ISO na seção central para o (a) aço e (b) concreto.

Nas Figuras 6 e 7, são apresentadas as comparações entre os resultados numéricos e


experimentais para as temperaturas na seção média do pilar nos ensaios H220-CONC-PAR-T15
e H220-CONC-ORT-T15, respectivamente. Nestes gráficos é possível observar que houve uma

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boa concordância para quase todos os pontos de leitura, com exceção do ponto T3.1 (Figura
6b), referente à face do revestimento de concreto que está exposta ao fogo. Tal diferença pode
ser explicada pelo fato da ponta do termopar estar inserida a alguns centímetros para o interior
da face do concreto, e não na face como foi medido numericamente.

Figura 6: Comparação das temperaturas numéricas e experimentais no meio do pilar para o


ensaio H220-CONC-PAR-T15.

Já para a Figura 7, onde são comparadas as temperaturas para o ensaio H220-CONC-ORT-T15,


novamente a boa correlação entre os resultados numéricos e experimentais foi obtida. Uma
pequena diferença pode ser observada na comparação do termopar T3.4, que representa a
temperatura na alma da seção, pois não foi possível extrair a temperatura no mesmo ponto em
que o termopar estava instalado devido a malha de elementos finitos.

Figura 7: Comparação das temperaturas numéricas e experimentais no meio do pilar para o


ensaio H220-CONC-ORT-T15.

Uma informação importante a ser extraída da análise das temperaturas da seção, diz respeito à
relação entre a intensidade do gradiente térmico e a orientação do perfil metálico em relação a
parede. Pode-se verificar que, no caso da orientação paralela (Figura 6), a diferença de
temperatura entre os dois pontos extremos da mesa (TX.4 e TX.5, de acordo com a Figura 4) é
de aproximadamente 300°C aos 240 minutos de ensaio. Enquanto que, no caso da orientação
do perfil ortogonal às paredes (Figura 7), a diferença de temperatura entre as mesas (TX.1 e

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TX.5, de acordo com a Figura 4), também aos 240 minutos de incêndio, é de aproximadamente
880°C. Este mesmo comportamento foi verificado em [4] nos demais ensaios, com o gradiente
térmico sendo maior no caso do perfil ortogonal às paredes.

Em [4] também é concluído que o fato da seção apresentar um gradiente térmico mais baixo, irá
fazer com que o comportamento estrutural fique mais próximo daquele observado em ensaios
sem paredes. Sabe-se que no caso do ensaio de elementos isolados, a temperatura na seção
se torna mais uniforme, resultando em uma expansão majoritariamente axial do perfil, solicitando
principalmente a restrição axial e não a rotacional do sistema de restrição.

3.2. Resultados da análise termoestrutural

Para a validação do modelo termoestrutural, foram utilizados os resultados experimentais


referentes à variação da força normal e o deslocamento axial do pilar em função do tempo,
conforme é apresentado nas Figura 8 e 9.

Antes de analisar os resultados dos pilares inseridos em paredes, é importante ressaltar que a
rigidez das molas (107 N/m) foi definida a partir dos ensaios com os pilares isolados, ou seja, os
pilares sem paredes e que possuíam todas as faces em contato com o fogo. Para o caso dos
pilares mistos isolados, pode-se verificar na Figura 8 que houve uma boa concordância entre os
resultados numéricos e experimentais, tanto em função das forças axiais, quanto em função dos
deslocamento axiais médios. Lembra-se que a força axial se encontra apresentada na forma
relativa adimensional, que é obtido pela divisão da força axial medida pelo seu valor inicial, antes
do aquecimento.

(a) (b)
Figura 8: Comparação entre os resultados numéricos e experimentais para o ensaio H220-
CONC-ISO para a (a) força axial relativa e (b) deslocamento axial.

Na Figura 9 são apresentados apenas os resultados para os ensaios com os pilares mistos com
paredes de tijolos de 15 cm de espessura. Vale ressaltar também que os resultados
experimentais foram comparados para as duas abordagens de modelagem numérica, sendo
aquelas que consideravam ou não molas nas extremidades das vigas do sistema de restrição.

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O que se pode observar é que os resultados não apresentam uma uniformidade para todos casos
analisados. Analisando primeiro o desenvolvimento das forças nas Figuras 9a e b, conclui-se
que apesar do modelo com molas representar bem o comportamento dos pilares isolados, o
mesmo não ocorre para os pilares inseridos em paredes, independentemente da orientação do
perfil em relação às paredes.

Figura 9: Comparação entre os resultados numéricos e experimentais considerando as duas


abordagem numéricas para os ensaios com pilares mistos e paredes com tijolos de 15 cm de
espessura.

Já no caso do modelo sem molas, que possui rigidez axial do sistema de restrição 3,5 vezes
maior que o sistema com molas, pode-se verificar que a força axial no caso do perfil na posição
paralela às paredes (Figura 9a) foi muito maior que a curva experimental de referência.
Entretanto, no caso da orientação ortogonal (Figura 9b) a curva numérica apresentou o mesmo
comportamento e se manteve próxima dos resultados experimentais. O mesmo comportamento
foi observado para os ensaios com paredes de tijolos de 11 cm.

De modo geral, no caso dos pilares com a orientação paralela, os resultados do modelo com
molas foi o que mais se aproximou dos resultados experimentais. Esta situação está relacionada
ao fato de que o gradiente térmico nestes casos não é tão expressivo quanto no caso da
orientação ortogonal, desta forma o deslocamento do pilar ocorre de forma majoritariamente
axial, com pouca rotação, se aproximando mais do caso do pilar isolado, que foi aquele utilizado
para a calibração das molas.

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Analisando agora os resultados em função dos deslocamentos, ambos modelos apresentaram


comportamentos semelhantes, principalmente para o caso do pilar na orientação paralela às
paredes, com o modelo com molas apresentando resultado levemente mais próximo do medido
experimentalmente. Este resultado corrobora com a afirmação anterior de que o modelo com
molas é mais representativo para o caso da orientação paralela, ou aqueles nos quais o gradiente
térmico não é muito pronunciado.

Por fim, vale ressaltar que a diferença entre os resultados numéricos e experimentais para os
deslocamentos do caso do perfil na posição ortogonal pode também ser associado ao modo
como este deslocamento foi obtido. Nos ensaios, eram posicionados transdutores em chapas
metálicas de aproximadamente 10 cm soldadas às extremidades da chapa de topo do pilar, de
modo que o deslocamento lá apresentado é a média dos quatro transdutores, enquanto que o
deslocamento numérico foi obtido pela média dos deslocamentos dos cantos da chapa de topo
de pilar. Desta forma, as grandes rotações observadas no topo do pilar durante os ensaios
podem afetar tais resultados.

4. CONCLUSÕES

No trabalho em questão foi possível observar que o comportamento em situação de incêndio de


pilares inseridos em paredes difere bastante de quando o mesmo é aquecido de maneira
uniforme em todas as faces. Em relação à modelagem numérica, pode-se verificar que o modelo
térmico consegue representar bem os campos térmicos obtidos durante os ensaios. Entretanto,
o modelo termoestrutural com molas, calibradas por meio dos ensaios em elementos isolados,
foi mais representativo para os modelos nos quais a alma do perfil se encontrava paralela às
paredes, ou seja, aqueles que possuíam gradiente térmico menos expressivos.

5. AGRADECIMENTOS

Ao CNPq – Comissão Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, ao Departamento


de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, à FCT – Fundação de
Ciência e Tecnologia de Portugal e ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade de
Coimbra.

6. REFERÊNCIAS

[1] Mao, X.; Kodur, V. – Fire resistance of concrete encased steel columns under 3- and 4- side
standard heating, Journal of Constructional Steel Research. v. 67, 2011, p. 270-280.
[2] ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. - NBR 14323: projeto de estruturas de
aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios em situação de incêndio. ABNT,
2013, 66 p.
[3] EUROCODE. EN 1993-1-2 - Eurocode 3 - Design of Steel Structures. Part 1-2: General
rules – Structural Fire Design. European Committee for Standardization, 2005, 81 p.
[4] Rocha, F.M. - Pilares de aço e misto de aço e concreto inseridos em paredes em situação
de incêndio, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2016, 256 p.

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ANÁLISES TÉRMICAS DE VIGAS MISTAS DE MADEIRA E CONCRETO


EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Felipi P. D. Jorge Munaiar Neto


Fernandes Professor
Mestrando Universidade de São
Universidade de Paulo, Brasil
São Paulo, Brasil

Palavras-chave: vigas mistas, madeira, concreto, análise numérica, incêndio

1. INTRODUÇÃO

As vigas mistas de madeira e concreto são elementos estruturais formados pela união de vigas
de madeira com laje de concreto armado através de conectores de cisalhamento, tais como
pinos metálicos, cavilhas de madeira ou placas de cisalhamento. A disposição dos materiais
visa o melhor aproveitamento desse tipo de elemento misto em relação a sua eficiência quando
solicitado por esforços de flexão, no caso, o concreto submetido a esforços de compressão e a
madeira submetida a esforços de tração. Quando comparados ao emprego único da madeira,
tais elementos estruturais apresentam algumas vantagens, tais como: maior rigidez e melhor
desempenho acústico e térmico. Relativamente às estruturas de concreto armado, os
elementos mistos de madeira e concreto são mais leves e de execução mais rápida, além de
apresentar menor custo energético e redução da emissão de dióxido de carbono. Em relação
ao incêndio, as estruturas mistas apresentam boa resistência em temperaturas elevadas, tendo
desempenho comparável às estruturas de concreto. [1]

Apesar do bom desempenho em situação de incêndio, tais estruturas sofrem preconceito por
apresentarem a madeira como material constituinte. Ao ser submetida à temperatura elevada
os componentes químicos da madeira passam por um processo de combustão, ocorrendo a
liberação de gases e formação de carvão. A velocidade com que a madeira é carbonizada
pode ser medida de duas formas: através da taxa de queima, que tem como base a perda de

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massa (g/s), e por meio da taxa de carbonização, relacionada ao aumento da espessura


carbonizada (mm/min). Por fornecer diretamente a seção transversal residual, a taxa de
carbonização é a mais empregada na análise de elementos de madeira em situação de
incêndio. [2-3]

O desempenho termoestrutural das vigas mistas de madeira e concreto é influenciado


principalmente pelos conectores de cisalhamento e pela madeira [4]. A redução da seção
transversal resistente da madeira devido a sua carbonização é mais crítica que a redução de
suas propriedades com a elevação da temperatura no comportamento dos elementos mistos
de madeira e concreto em situação de incêndio, o que torna o conhecimento da taxa de
carbonização essencial para o seu dimensionamento em temperaturas elevadas [5].

De modo geral, a análise do comportamento de estruturas em temperaturas elevadas pode ser


realizada em contextos experimental, numérico ou ambos em conjunto. Análises experimentais
conseguem representar apenas situações específicas, e necessita de recursos financeiros
consideráveis. Em contrapartida, a modelagem numérica consiste de procedimento mais
econômico, que permite realizar diferentes análises com variação de parâmetros de interesse
para a avaliação de situações distintas.

Desta forma, propõe-se neste trabalho estabelecer estratégia de modelagem numérica


utilizando, como ferramenta, o programa computacional ABAQUS, para análise térmica de
seções transversais de vigas mistas de madeira e concreto submetidas a temperaturas
elevadas. Pretende-se avaliar a evolução da carbonização da madeira com o tempo de
exposição à temperatura elevada, e de que modo essa taxa interferirá na condução de calor
para a outras regiões da seção transversal do elemento estrutural.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Modelo numérico

O método dos elementos finitos consiste de importante técnica para a resolução de equações
diferenciais que governam problemas de engenharia, tal como a transferência de calor. Com o
auxílio do programa computacional ABAQUS foi desenvolvido um modelo numérico
bidimensional em elementos finitos para a determinação do perfil de temperatura em uma
seção transversal mista de madeira e concreto.

O elemento modelado é composto de uma laje de concreto com 5 cm de altura e 30 cm de


largura, uma viga de madeira com 5x15 cm² e conexão entre esses materiais feita por um pino
de aço de 10 cm com diâmetro de 12,5 mm, como esquematizado na Figura 1.

Os componentes da seção transversal foram modelados a partir do elemento DC2D4 existente


na biblioteca do ABAQUS, adotando-se uma malha quadrada de 2x2 mm², conferindo 300
elementos finitos para o conector de cisalhamento, 1620 elementos finitos para a viga e 3630
elementos finitos para laje, totalizando 5550 elementos finitos na seção transversal.

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Figura 1: Seção Transversal de elemento misto em madeira e concreto

Na análise foi considerada a exposição à temperatura elevada durante 60 minutos através da


curva de incêndio-padrão da ISO 834 [6] (equação 1) na face inferior da laje e nas faces
laterais e inferior da viga. Para levar em consideração a troca de calor por convecção entre os
gases do ambiente em chamas e a estrutura foi adotado um coeficiente de troca de calor por
convecção igual a 25 W/(m².K), enquanto a troca de calor por radiação foi levada em conta
considerando-se emissividade igual a 0,8 e constante de Stefan Boltzmann igual a 5,67x10-8
W/(m².K4). Na parte superior da viga foi adotada temperatura ambiente constante de 20ºC e um
coeficiente de troca de calor por convecção de 9 W/(m².K), que considera também a troca de
calor por radiação [7]. As condições de contorno referentes às temperaturas atuantes nas
superfícies do elemento estrutural são apresentadas na Figura 1.

θg = θ0 + 345.log(8.t+1) (1)

Na equação 1, θg é a temperatura dos gases (ºC) no instante t (min) e θ 0 é a temperatura dos


gases no início do aquecimento (usualmente 20ºC).

2.2 Propriedades térmicas dos materiais

As propriedades térmicas dos materiais podem variar com a mudança de temperatura. Neste
trabalho são adotadas as variações estabelecidas pelas normas brasileiras para o concreto e o
aço, a ABNT NBR 15200 [8] e a ABNT NBR 14323 [9], respectivamente. Na norma brasileira de
madeira vigente, a ABNT NBR 7190 [10], não há considerações sobre o material em incêndio,
razão pela qual são usadas as propriedades térmicas da madeira modeladas por Regobello
[11] para o Eucalipitus citriodora.

A densidade do aço é considerada constante com a elevação da temperatura, valendo 7850


kg/m³. As razões entre a densidade em temperatura elevada e à temperatura ambiente para a
madeira e o concreto são apresentadas na Figura 2, tendo sido considerada a densidade à
temperatura ambiente para a madeira igual a 1.050 kg/m³, enquanto para o concreto se usou

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2.400 kg/m³. As variações do calor específico e da condutividade térmica para a madeira, o


concreto e o aço são apresentadas nas Figura 3 e 4, respectivamente.

Figura 2 – Razão da densidade do concreto e da madeira

(a) (b)
Figura 3 – Calor específico em função da temperatura (a) madeira e concreto (b) aço

(a) (b)
Figura 4 – Condutividade térmica em função da temperatura (a) madeira e concreto (b) aço

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2.3 Validação do modelo

O modelo numérico implementado no ABAQUS é validado a partir da comparação dos


resultados fornecidos por meio deste com os dados experimentais e numéricos (obtidos por
meio do programa computacional ANSYS) apresentados em [12] e [13]. Na Figura 5 é feita a
comparação entre resultados de temperaturas em função do tempo obtidas pelo ABAQUS
(linhas contínuas), obtidos por meio do ANSYS (linhas tracejadas) e obtidos experimentalmente
(linhas pontilhadas) para os pontos 1 a 4, indicados na Figura 1. É possível observar boa
correlação entre as temperaturas fornecidas pelo ABAQUS com as indicadas em [12-13],
demonstrando assim que o modelo numérico implementado é aplicável às análises térmicas
bidimensionais.

Figura 5 – Curvas da temperatura em função do tempo

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 6 apresenta a evolução do perfil de temperatura da seção transversal estudada para


10, 20, 30 e 60 minutos de exposição à temperatura elevada. Adotando a indicação do
Eurocode 5 parte 1.2 [14], em que a isoterma de 300 °C indica a frente de carbonização da
madeira, é possível observar a evolução da carbonização com o tempo. Para 10 minutos de
exposição houve a carbonização de aproximadamente 8 mm em cada lateral da viga, enquanto
a camada carbonizada na parte inferior resulta igual a 10 mm. Para 20 minutos de exposição
esses mesmos valores aumentam para 14 mm nas laterais e 37 mm na região inferior. Com 30

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minutos de exposição ao calor praticamente toda a madeira encontra-se carbonizada, restando


apenas a área referente ao pino metálico com temperatura inferior a 300°C. Nos 60 minutos a
madeira encontra-se com temperaturas superiores aos 400ºC, indicando sua total degradação.
É importante observar também o arredondamento que ocorre nas quinas inferiores da viga de
madeira em decorrência do maior fluxo de calor nessa região, proveniente tanto da lateral
quanto da parte inferior da viga. Deve-se destacar que a medida da camada carbonizada
lateral foi feita a 9 cm da superfície inferior da viga, enquanto a medida da espessura
carbonizada na parte inferior da viga foi feita no ponto médio da largura da seção.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 6 – Perfil de temperatura da seção transversal para (a) 10 minutos (b) 20 minutos (c) 30
minutos e (d) 60 minutos de exposição à temperatura elevada

Nota-se também pela Figura 6 o gradiente térmico existente na laje de concreto. Para 10
minutos de exposição, a temperatura na superfície superior resulta 29,61°C enquanto na parte
inferior resulta 479°C. Para 20 minutos de exposição, esses mesmos valores aumentam para
83,77°C e 672°C, respectivamente. Para 30 minutos de exposição, a temperatura mínima
resulta 154,3°C, enquanto a temperatura máxima resulta 767°C. Aos 60 minutos de exposição
ao fogo, esses valores resultam, respectivamente, 335,1°C e 906,8°C. O gradiente térmico
existente ao longo da altura do concreto é formado por faixas de espessura praticamente
constantes ao longo da largura da laje, sendo que essas faixas são mais espessas na parte
superior (mais fria) do que não região inferior (mais quente).

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Com os dados da camada carbonizada, considerando-se a isoterma de 300°C, e o tempo de


exposição ao calor tem-se a evolução da taxa de carbonização com o tempo na Figura 7. Nota-
se que a taxa de carbonização lateral é maior nos primeiros 12 minutos, atingindo 0,83
mm/min, sendo decrescente até 30 minutos, quando praticamente toda seção transversal de
madeira resulta carbonizada. A taxa de carbonização inferior é crescente até 24 minutos,
apresentando valor máximo de 3,46 mm/min, e sendo sempre superior ou igual aos valores da
taxa de carbonização lateral. A maior taxa de carbonização inferior está ligada a pequena
largura da seção transversal que faz com que o efeito de arredondamento dos cantos seja mais
evidente, avançando para a região central da viga, e aumentando a temperatura nesta região.

Figura 7 – Evolução da taxa de carbonização da madeira com o tempo

A Figura 8 apresenta a evolução da temperatura no centro do conector de cisalhamento com o


tempo de exposição ao calor. Até 10 minutos de exposição à temperatura elevada a sua
temperatura é relativamente baixa, atingindo aproximadamente 50°C (como pode ser
observado também na Figura 6). Após 10 minutos de exposição, a temperatura no centro do
parafuso se eleva rapidamente. Isto pode estar ligado à carbonização da madeira. A madeira é
um material isolante e, portanto, serve como proteção térmica para o pino metálico. No entanto,
ao sofrer carbonização a condutividade térmica do carvão é maior (como pode ser observado
no gráfico da Figura 4) facilitando a condução de calor para a região mais interna onde
encontra-se o pino metálico. Assim, para tempos de exposição à temperatura elevada de 20,
30 e 60 minutos o parafuso alcança temperaturas superiores a 100, 200 e 400ºC,
respectivamente.

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Figura 8 – Evolução da temperatura no centro do conector de cisalhamento com o tempo de


exposição à temperatura elevada

4. CONCLUSÃO

A aplicação de modelo numérico, por meio do programa computacional ABAQUS, se mostra


como boa alternativa para a análise térmica bidimensional de estruturas mistas de madeira e
concreto. Através do modelo elaborado foi possível constatar que a taxa de carbonização
lateral é menor que a taxa de carbonização inferior, tendo este comportamento sido
influenciado pela pequena largura da seção transversal, que fez com que o fluxo de calor
inferior e lateral na região mais inferior da viga atuassem em conjunto.

Além disso, deve-se destacar o papel que a madeira desempenha como protetor térmico do
conector de cisalhamento. Antes da carbonização da madeira a temperatura no pino metálico
era relativamente baixa, aumentando rapidamente quando a frente de carbonização atingiu a
região interior do elemento.

Relativamente a laje de concreto, foi constatado um gradiente térmico ao longo de sua altura,
apresentado faixas de temperaturas constantes em sua largura, sendo essas faixas menos
espessas na parte inferior da viga e mais grossas na região superior.

Ressalta-se que este estudo é relativo a primeira parte de uma pesquisa sendo desenvolvida
no Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, em que se pretende
conhecer o comportamento termoestrutural de vigas mistas de madeira e concreto em situação
de incêndio.

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5. AGRADECIMENTOS

Ao CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e ao Departamento


de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos ao suporte dado na
realização da pesquisa.

6. REFERÊNCIAS

[1] Yeoh, D. et al – “State of the Art on Timber-Concrete Composite Structures: Literature


Review”, Journal of Structural Engineering, vol. 137, 2011, 11 p.
[2] Martins, G.C.A. – “Análise numérica e experimental de vigas de madeira laminada
colada em situação de incêndio”, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo,
2016, 177p.
[3] Pinto, E.M. – “Determinação de um modelo de taxa de carbonização transversal a grã
para o eucalyptus citriodora e E. grandis”, Tese de Doutorado, Universidade de São
Paulo, 2005, 119p.

[4] Frangi, A. et al – “Fire Design of Timber-Concrete Composite Slabs with Screwed


Connections”, Journal of Structural Engineering, vol. 136, 2010, 10 p.
[5] O’Neill, J. et al – “Design of timber-concrete composite floors for fire resistance”,
Journal of Structural Fire Engineering, vol. 2, 2011, 12 p.
[6] International Standard, “Fire-resistance tests – Elements of building construction – Part
1 : General requirements”, ISO 834, 1999, 30p.
[7] European Standard – “Eurocode 1: Actions on Structures – Part 1-2: General Actions –
Actions on Structures Exposed to Fire”, EN 1991-1-2, 2002, 59 p.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “Projeto de estruturas de
concreto em situação de incêndio”, ABNT NBR 15200, 2012, 54 p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “Projeto de estruturas de aço e
de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios em situação de incêndio”, ABNT
NBR 14323, 2013, 74 p.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “Projeto de Estruturas de
Madeira”, ABNT NBR 7190, 1997, 20 p.
[11] Regobello, R. - “Análise numérica de seções transversais de elementos estruturais de
aço e mistos de aço e concreto em situação de incêndio”, Dissertação de Mestrado,
Universidade de São Paulo, 2007, 254 p.
[12] Molina, J.C. et al – “Avaliação numérico-experimental de um elemento misto de
madeira e concreto em situação de incêndio”, XIV EBRAMEM – Encontro Brasileiro em
Madeiras e em Estruturas de Madeira, Natal, 2014, 11p.
[13] Molina, J.C.; Calil Junior, C. – “Numerical Simulation of the Temperature Field in a
Timber-Concrete Composite Cross Section in Fire”, Journal of Civil Engineering and
Architecture Research, vol. 2, 2015, 11p.
[14] European Standard – “Eurocode 5: Design of Timber Structures – Part 1.2: General –
Structural Fire Design”, EN 1995-1-2, 2004, 69p.

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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DAS TINTAS ESMALTE,


EMPREGADAS NO ACABAMENTO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS, NA
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO DAS EDIFICAÇÕES

Guilherme G. Hennemann Henrique D. Eugenio Matheus K. Carrer


Acad. Eng. Civil Eng. Civil Acad. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil

Fabrício L. Bolina Bernardo F. Tutikian Eduardo E. C. Rodrigues


Prof. MSc. Eng. Civil Prof. Dr. Eng. Civil Dr. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos CBMRS
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil Porto Alegre, Brasil

Palavras-chave: Segurança contra incêndio. Reação ao fogo. Tintas. Ignitabilidade. Single


Burning Item.

1. INTRODUÇÃO

Após a tragédia em Santa Maria, normas, decretos, instruções técnicas e leis foram aprovadas,
complementadas ou revisadas em todo o território brasileiro, como a Lei Complementar nº
14.376 de 2013 do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil [1]. Paralelamente a este infortúnio,
a norma de desempenho, a ABNT NBR 15575: 2013 [2], entrou em vigor, estabelecendo a
obrigatoriedade das edificações e seus sistemas atenderem a requisitos mínimos de
desempenho, entre eles a segurança contra incêndio [3]. Como consequência, o mercado
precisou se adequar para atender a esses novos requisitos de segurança [4].

Entre os requisitos mínimos está o controle de materiais de acabamento e revestimento


(CMAR) empregados nas edificações, visando mitigar o crescimento e a propagação do
incêndio em um cômodo, além da geração de fumaça [5]. As tintas são materiais de
acabamento empregadas no revestimento de paredes e sistemas estruturais [6]. No entanto,
surge a necessidade de investigação desse material para determinar sua influência em um
incêndio, vista a falta de estudos comprabatórios na área [7].

Diante das novas necessidades e exigências projetuais emergidas após o sinistro da Boate
Kiss, em 2013, e pelos novos requisitos de desempenho da NBR 15575 [2], o objetivo deste
artigo é avaliar a reação ao fogo das tintas esmaltes, empregadas como acabamento e
revestimento dos sistemas de paredes das edificações. Para cumprir com esse objetivo,
definiu-se 2 sistemas de pinturas, uma com tinta à base de água e outra com tinta à base de
solvente, ambas aplicadas em um fundo preparador a base de solvente, simulando as
condições reais de aplicação em obra. Para efeitos comparativos, uma amostra sem qualquer
aplicação de tinta foi submetida aos mesmos ensaios.

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2. A SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E OS MATERIAIS DE ACABAMENTO E


REVESTIMENTO

De acordo com a IT02 [8], a magnitude de um incêndio está diretamente relacionada às


características específicas de cada material, tais como a sua capacidade de sofrer ignição, de
sustentar uma combustão e de propagar chamas superficialmente, além da quantidade e
desenvolvimento de calor e fumaça liberados na combustão, e o desprendimento de partículas
inflamáveis. Ou seja, a reação ao fogo, que abrange o comportamento do material no período
de pré-flashover de uma curva de incêndio real, em que suas características de queima serão
determinantes para o tempo disponível para evacuação [9] e para a magnitude dos incêndios.

Devido à inexistência de normas práticas de projeto desses materiais, busca-se avaliar as


características através de ensaios laboratoriais, submetendo-os a condições semelhantes às
que ocorrem no período de pré-flashover, permitindo o controle das características de reação
ao fogo e possibilitando a seleção desses com base no seu desempenho [10]. No Brasil, essa
avaliação é realizada através da ABNT NBR 15575-4 [2] e da IT10 do Corpo de Bombeiro de
São Paulo [11], que determinam a classificação dos materiais e seu campo de aplicação. A
classificação visa controlar os riscos de crescimento e propagação do fogo no ambiente de
origem [12].

O Estado do Rio Grande do Sul estabeleceu, através da Lei Complementar Nº 14.376 [1], que
o CMAR é obrigatório e será fiscalizado pelo Corpo de Bombeiros. Entre esses materiais estão
as tintas, utlizadas com o propósito de decoração, acabamento e proteção dos substratos em
que se encontram aplicados [13]. Dentre os setores que utilizam tinta destaca-se o imobiliário,
representando 79% do mercado consumidor [6]. No entanto, não se têm dados a respeito do
comportamento de tintas ao fogo nas condições empregadas em obra [7].

3. MÉTODO

3.1. Amostras

Segundo ABRAFATI [14], um substrato pode ser definido como toda ou qualquer superfície na
qual pode ser aplicado um sistema de pintura. A NBR 15575-4 [2] e a IT10 [11] preveem que o
substrato utilizado nos experimentos dessa natureza deve ser composto por materiais
incombustíveis, de modo a não interferir nos resultados. Com base nisso, foram utilizadas
placas cimentícias de 8mm de espessura como substrato para pintura e placas cimentícias de
12mm como suporte.

Foram definidas duas tintas esmalte para avaliação, uma à base de água e uma à base
solvente, ambas aplicadas com 3 demãos. Aplicou-se uma demão do fundo branco fosco
preparador antes da pintura, com o objetivo de nivelar o substrato e aglutinar as partículas
soltas existentes na superfície. A aplicação das tintas foi realizada de acordo com as
especificações prescritas na ABNT NBR 13245 [15], que determina as condições ideais para a
execução de pinturas em edificações não industriais, em conjunto com as orientações

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especificadas pelo fabricante. A Figura 1 apresenta um resumo das principais características


dos materiais analisados.

Figura 1 – Especificação dos materiais utilizados

3.2. Ensaios

A IT10 [11] sugere dois métodos de classificação para revestimentos de parede: um com base
no ensaio de painel radiante e outro com base no ensaio de SBI. O método definido pela EN
13823:2010 – Single Burning Item foi escolhido para a realização dos ensaios. Em conjunto, foi
realizado o ensaio de ignitabilidade conforme a ISO 11925-2:2010. O ensaio prescrito pela ISO
1182:2010 não foi realizado pela incapacidade de montagem da amostra praticada neste
ensaio, sendo o material considerado combustível, por conservadorismo.

Primeiramente foi realizado o ensaio de ignitabilidade nas placas cimentícias pintadas.


Posteriormente, realizou-se o ensaio de SBI em placas cimentícias sem pintura e com pintura,
a fim de determinar a influência do substrato no ensaio.

3.2.1 Ensaio de ignitabilidade

O ensaio de ignitabilidade é realizado de acordo com o procedimento descrito na ISO 11925-


2:2010 – Reaction to fire tests – Ignitability of products subjected to direct impingement of flame
[16]. O teste foi realizado em 10 amostras de 90mm x 150mm, com espessura representativa
do material e consiste na aplicação de uma ponta de chama padrão na borda e na superfície
da amostra durante 30s. A chama foi apagada e avaliou-se a amostra por mais 30s, totalizando
60s de ensaio. Durante o ensaio foram avaliadas a ocorrência de ignição, isto é, a capacidade
de o material sustentar chamas por mais de 3s; a propagação vertical de chamas, ou seja, o
tempo necessário para a chama atingir a marca dos 150mm acima do ponto de aplicação; e a
liberação de partículas inflamáveis, através da inflamação do papel filtro colocado abaixo da
amostra. A Figura 2 apresenta o equipamento de ensaio (a) e o ensaio sendo realizado (b).

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(a) (b)
Figura 2 – Equipamento empregado no ensaio de ignitabilidade

3.2.2 Ensaio de SBI

O ensaio de SBI é realizado de acordo com o procedimento descrito na EN 13823:2010 –


Reaction to fire tests for building products – Building products excluding floorings exposed to
the thermal attack by a Single Burning Item [17]. O teste foi realizado em 3 amostras
constituídas por duas partes cada, uma asa maior de 1000mm x 1500mm e uma asa menor de
500mm x 1500mm, posicionadas perpendicularmente entre si, de modo a simular o canto de
uma edificação. Na junção entre as duas partes localiza-se um queimador que produz uma
chama padrão. A Figura 3 apresenta o equipamento.

(a) (b)
Figura 3 – Visão geral do equipamento empregado na realização do ensaio de SBI

O ambiente de ensaio possui um duto de exaustão equipado com sensores para medir a
temperatura, fração de mols de O2 e CO2, atenuação de luz e o fluxo de pressão diferencial
induzida. Esses dados foram utilizados para determinar o índice da taxa de desenvolvimento
de calor (FIGRA), liberação total de calor do corpo de prova nos primeiros 600s de exposição
às chamas (THR600s), taxa de desenvolvimento de fumaça (SMOGRA), a produção total de
fumaça do corpo de prova nos primeiros 600s de exposição às chamas (TSP600s), além da
propagação lateral da chama (LFS) e das partículas flamejantes que caem da amostra, ambas
analisadas visualmente.

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4. RESULTADOS

4.1. Ensaio de ignitabiliadade

As amostras de tinta não sofreram ignição, não apresentaram liberação de partículas


inflamáveis e não propagaram chamas. Notou-se, durante o ensaio, o surgimento de bolhas na
película das duas tintas, o que não comprometeu seu comportamento. A tinta à base de água
mostrou um desempenho superior ao da tinta à base de solvente. A primeira teve uma
propagação superficial média de 18mm, enquanto que a segunda teve uma propagação
superficial média de 38mm. A Figura 4 apresenta os sistemas após o ensaio de ignitabilidade.

(a) Base solvente (b) Base água


Figura 4 – Amostras após o ensaio de ignitabilidade

4.2. Ensaio de SBI

Nesta análise, notou-se que os dois tipos de tinta mostraram desempenho superior em relação
ao substrato sem pintura. Isso fica evidenciado pela queda da produção total de calor (THR),
pela diminuição da taxa de calor gerado por segundo (HRRav) e a inexistência do índice de
desenvolvimento de calor (FIGRA) em algumas amostras. No entanto, notou-se que a tinta à
base de solvente apresentou um decréscimo de desempenho na produção total de fumaça
(TSP), porém pouco significativo. A tabela 1 mostra o desempenho das tintas em relação ao
substrato.

Tabela 1 – Desempenho das tintas


Substrato Tintas
Placa cimentícia Base água Base solvente
FIGRA 9,38 W/s 6,42 W/s 0,0 W/s
SMOGRA 0,0 m²/s² 0,0 m²/s² 0,0 m²/s²
THR 600s 1,39 MJ 0,97 MJ 0,55 MJ
TSP 600s 24,24 m² 22,62 m² 24,29 m²

Comparando as duas tintas é possível notar um melhor desempenho na tinta a base solvente,
visto seus índices de produção de calor, no entanto, nota-se uma tendência de produzir mais

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fumaça do que a tinta a base água, o que não é interessante em caso de incêndio. Em relação
à propagação lateral de chamas, a tinta a base água continuou demonstrando um desempenho
superior em relação a tinta a base solvente. Enquanto a primeira propagou chamas na asa
maior por 18,6cm, a segunda teve propagação de 19cm, ou seja, uma diferença ínfima. No
entanto, ambas tintas não apresentaram propagação lateral de chamas (LSF) estipulada pela
norma. A Figura 5 apresenta as amostras de SBI após o ensaio.

(a) Placa cimentícia (b) Base solvente (c) Base água


Figura 5 – Amostras de SBI após o ensaio

4.3 Classificação

Baseado nos ensaios de ignitabilidade e SBI, a tinta a base de água e a tinta a base de
solvente receberam classificação II-A de acordo com a ABNT NBR 15575-4 [2] e IT10 [11].
Portanto, apresentaram desempenho satisfatório frente a reação ao fogo.

5. CONCLUSÕES

As tintas esmalte, tanto à base de água como à base de solvente, foram classificadas como II-
A. Admitindo-se que a NBR 15575-4 [2] fosse considerada como referencial técnico, as tintas
poderiam ser empregadas em locais internos de uma habitação (incluindo a cozinha, sala e
dormitórios), locais de uso comum das edificações e em escadas, caso fossem consideradas
segundo a IT10 [11], não haveriam restrições para a aplicação destes tipos de tintas, podendo
empregá-las como revestimentos e acabamentos internos, e superfícies externas, de
condomínios residenciais, habitações unifamiliares, multifamiliares e coletivas, dentre outros
locais.

Na análise do conjunto dos resultados do ensaio de SBI, e comparando com os resultados do


mesmo substrato avaliando sem qualquer tinta, nota-se que durante o desenvolvimento de um
incêndio, as tintas ensaiadas melhoram, de modo geral, o desempenho do substrato, não
contribuindo para o desenvolvimento das chamas ou a ocorrência do flashover, dado que a
quantidade de calor liberado diminui e a diferença na liberação de fumaça foi ínfima. A
segurança dos usuários em um cômodo em situação de incêndio não é afetada, portanto, pelo
tipo de tinta empregada no acabamento das paredes e demais sistemas, quer a base de água
ou a base de solvente.

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6. REFERÊNCIAS

[1] ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Assembleia legislativa. Lei Complementar nº


14.376, de 26 de Dezembro de 2013.
[2] ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-15575-4 – Edificações
habitacionais — Desempenho Parte 4: Sistemas de vedações verticais internas e externa.
Rio de Janeiro, 2013
[3] GEYGER, R. Atraso no Incêndio. Revista Emergência, Novo Hamburgo, edição 11, p.22-
28, nov. 2013.
[4] MENEGAZZO, A. P. Conheça o capítulo da norma de desempenho que traz requisites
para pisos em edificações habitacionais. Téchne, São Paulo, n. 198, set. 2013.
[5] CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO PARANÁ. NPT Nº10 – Controle de materiais de
acabamento e de revestimento. Paraná, 2014b.
[6] DONADIO, P. A. Manual Básico Sobre Tintas. Águia Química. Jan. 2011.
[7] SANTOS, C. P. Comportamento dos materiais na legislação de SCIE e possíveis
evoluções na perspectiva do LNEC. Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil,
2014.
[8] CORPO DE BOMBEIROS MILITARES DO ESTADO DE SÃO PAULO. IT Nº 02 -
Conceitos básicos de segurança contra incêndio. São Paulo, 2015.
[9] GOUVEIA, Antônio Maria Claret de; ETRUSCO, Paula. Tempo de escape em edificações:
os desafios do modelamento de incêndio no Brasil. REM: Revista Escola de Minas, v. 55,
n. 4, p. 257-261, 2002.
[10] MITIDIERI, M. L. O Comportamento: dos materiais e componentes construtivos diante de
fogo – reação ao fogo. São Paulo, 2008.
[11] CORPO DE BOMBEIROS MILITARES DO ESTADO DE SÃO PAULO. IT Nº 10 - Controle
de Materiais de Acabamento e Revestimento. São Paulo, 2015.
[12] SEITO, A.I. et al. A segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008
[13] ANGHINETTI, I. C. B. Tintas, suas propriedades e aplicações imobiliárias. Monografia.
Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, jan. 2012.
[14] ABRAFATI, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas. Glossário. 2013.
[15] ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-13245 Tintas para construção
civil - Execução de pinturas em edificações não industrias - Preparação de superfície. Rio
de Janeiro, 2011.
[16] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 11925-2: Reaction to
fire tests - Ignitability of building products subjected to direct impingement of flame - Part 2:
single-flame source test. Brussels, 2010.
[17] A EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. BS EN 13823: Reaction to fire
tests for building products – Building products excluding floorings exposed to the thermal
attack by a single burning item. Brussels, 2010.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

AVALIAÇÃO DA REAÇÃO AO FOGO DE MANTAS DE


POLITEREFTALATO DE ETILENO (PET) RECICLADAS

Augusto M. Gil Guilherme G. Hennemann Matheus G. Dilly


Eng. Civil, Mestrando Acad. Eng. Civil Acad. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil

Fabrício L. Bolina Bernardo F. Tutikian


Prof. MSc. Eng. Civil Prof. Dr. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil

Palavras-chave: Reação ao fogo. PET. Resíduos. Isolamento acústico.

1. INTRODUÇÃO

O uso de sistemas construtivos leves do tipo drywall tem apresentado um elevado crescimento
nos últimos anos no Brasil. A Associação Brasileira do Drywall apresenta informações relativas
ao consumo histórico anual de chapas de gesso acartonado, onde é possível verificar que este
consumo duplicou entre os anos de 2008 e 2013. Comparando-se ao consumo de outros
países, estes valores podem ser considerados baixos, como por exemplo os Estados Unidos,
que apresenta um consumo 40 vezes maior [1].

Apesar das diversas vantagens proporcionadas pelo emprego deste tipo de sistema, como o
processo de produção mais rápido, verifica-se como possível desvantagem o seu desempenho
acústico [2]. Com a entrada em vigor da norma brasileira de desempenho das edificações
habitacionais, NBR 15575 [3], no ano de 2013, o drywall tem ganhado ainda mais espaço no
mercado da construção civil. A norma estabelece critérios de desempenho para este tipo de
sistema, permitindo comprovar a sua qualidade.

Com o objetivo de melhorar o desempenho acústico de sistemas leves, tem-se adotado como
alternativa o uso de materiais absorventes no preenchimento do espaço vazio entre as chapas
delgadas de fechamento [4]. Os materiais mais comumente aplicados neste tipo de solução
consistem em lãs minerais (de rocha ou de vidro), que apesar de solucionarem as questões
acústicas, apresentam impactos negativos ao meio ambiente, seja na etapa de sua produção,
seja na sua disposição final [5]. Como alternativa para estes problemas destaca-se o uso de
mantas produzidas pela reciclagem do polímero termoplástico de politereftalato de etileno
(PET), que pode ser produzido variando características de densidade e espessura, melhorando
o desempenho acústico dos sistemas construtivos e menor impacto ambiental.

Neste contexto, existe ainda uma preocupação relacionada com a segurança contra incêndios
na aplicação deste tipo de material, visto que este tipo de material pode apresentar

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características de reação ao fogo indesejadas. Casos como o incêndio da Boate Kiss, em 2013
na cidade de Santa Maria/RS, enaltecem a necessidade de controle destes materiais, de modo
que estes não venham a contribuir para a inflamação generalizada e a propagação de um
incêndio.

Sendo assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a reação ao fogo de mantas produzidas
pela reciclagem de PET para emprego como absorventes acústicos em sistemas construtivos.
Considerando o caráter inovador deste material e sua composição polimérica, foram adotados
três ensaios para classificação da reação ao fogo dos materiais: não combustibilidade,
ignitabilidade e SBI (Single Burning Item).

2. METODOLOGIA

2.1 Caracterização das amostras

As amostras consistem em mantas compostas por lã de PET, utilizadas para o isolamento


térmico e acústico em edificações. O material é fornecido em placas com espessura de 50 mm,
sendo cortadas de acordo com as dimensões de cada ensaio. Para efeito comparativo, foram
avaliadas placas de mesma espessura, porém com densidades diferentes: 0,35kg/m² e
1,50kg/m².

2.2 Método de classificação

Em alguns estados do Brasil, a classificação da reação ao fogo dos sistemas construtivos é


realizada de acordo com requisitos estabelecidos pela IT nº 10 [6]. Neste estudo, para
classificação da reação ao fogo foram utilizados os resultados de três ensaios: ensaio de não-
combustibilidade (ISO 1182), ensaio de ignitabilidade (ISO 11925-2) e ensaio de SBI (EN
13823). Materiais considerados incombustíveis pelo ensaio ISO 1182 dispensam a realização
de outros ensaios. Para os materiais combustíveis, verifica-se a velocidade de propagação
superficial de chamas através do ensaio de ignitabilidade e os índices de liberação de calor e
fumaça pelo ensaio de SBI.

2.2.1 Ensaio de não-combustibilidade

A análise da combustibilidade do material é realizada seguindo os procedimentos da norma


ISO 1182:2010 – Reaction to fire tests for products – Non-combustibility test [7]. O corpo de
prova (cilíndrico) da amostra, de diâmetro 45mm e altura 50mm, é inserido no forno, cuja
temperatura se mantém constante em 750°C durante todo o ensaio. Termopares monitoram a
temperatura no interior do forno, na superfície e no centro da amostra. A Figura 1 apresenta
uma imagem do equipamento empregado na realização do ensaio.

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(a) (b)
Figura 1 – Equipamento empregado no ensaio de não-combustibilidade

A norma estabelece que os ensaios devem ser conduzidos por no mínimo 30 min e no máximo
60min, dependendo de quando for atingido o equilíbrio de temperatura. No decorrer do ensaio
três critérios são avaliados: a liberação de calor, o flamejamento e a perda de massa do
material. A liberação de calor é verificada pela variação de temperatura no interior do forno,
que está relacionada com a energia liberada pelo material durante o processo de combustão. A
perda de massa é verificada pelos resultados obtidos na pesagem do material antes e após a
exposição ao calor, enquanto que o flamejamento é verificado visualmente no decorrer do
ensaio, onde é registrada a presença de chamas com duração maior do que 5 segundos. Para
que o material seja considerado incombustível, o resultado obtido no ensaio de 5 amostras do
mesmo material não deve apresentar um acréscimo de temperatura no interior do forno maior
do que 30°C, perda de massa maior do que 50% e presença de chamas com duração maior do
que 10 segundos.

2.2.2 Ensaio de ignitabilidade

A análise da ignitabilidade do material foi feita segundo a norma ISO 11925-2:2010 – Reaction
to fire tests – Ignitability of products subjected to direct impingementof flame [8]. O teste
consiste na determinação das características de ignitabilidade da amostra quando exposta à
chama de um queimador padrão na borda inferior e na superfície da amostra pelo período de
30 segundos. A chama é apagada e a amostra analisada por mais 30s, sendo a duração total
do ensaio 60s. Avalia-se a ignição da amostra, o tempo necessário para a chama alcançar
150mm de altura e a liberação de partículas inflamáveis.

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Figura 2 – Equipamento empregado no ensaio de ignitabilidade

2.2.3 Ensaio de SBI

Os ensaios são realizados seguindo os procedimentos prescritos pela EN 13823:2010 –


Reaction to fire tests for building products – Building products excluding floorings exposed to
the thermal attack by a Single Burning Item [9]. O exemplar ensaiado consiste em duas partes
posicionadas perpendicularmente uma a outra, de modo a simular o canto de uma edificação.
Na junção entre as duas partes localiza-se um queimador que produz uma chama padrão
através da combustão de gás propano difuso em uma caixa triangular com areia e ignição de
30,7kW (+/- 2,0kW), conforme apresentado na Figura 3.

(a) (b)
Figura 3 – Visão geral do equipamento empregado na realização do ensaio de SBI

O ambiente de ensaio possui um duto de exaustão equipado com sensores para medir a
temperatura, fração de mols de O2 e CO2, atenuação de luz e o fluxo de pressão diferencial.
Essas quantidades são registradas instantaneamente e utilizadas para calcular os índices de
produção de calor e fumaça, e da propagação lateral da chama (LFS). Os índices se referem a
produção total de calor (FIGRA) e de fumaça (SMOGRA) durante a sua exposição e a
produção de calor nos primeiros 5 minutos de ensaio (THR600s) e de fumaça nos primeiros 5
minutos de ensaio (TSP600s).

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3. RESULTADOS

Os materiais avaliados foram considerados combustíveis nas duas composições avaliadas,


devido as suas características poliméricas. Sendo assim, procedeu-se a realização dos ensaios
de ignitabilidade e SBI utilizando-se uma placa cimentícia com 12 mm de espessura como
substrato, fixadas com pregos metálicos, conforme prescrições da IT nº 10 [6].

Os resultados dos ensaios de ignitabilidade são apresentados na Tabela 1. Na Figura 4 (a) e


(b) é possível observar uma das amostras utilizadas antes e após a realização do ensaio com a
manta de densidade 0,35 kg/m².

Tabela 1 – Resumo dos resultados obtidos nos ensaios de ignitabilidade


Ignitabilidade
Densidade Ignição FS Gotejamento
(S/N) (s) (S/N)
0,35 kg/m² Não - Não
1,5 kg/m² Não - Não
FS: tempo necessário para atingir a altura de 150mm

(a) (b)
Figura 4 – Amostras de densidade 0,35 kg/m² (a) antes e (b) após o ensaio de ignitabilidade

Verificou-se através do ensaio de ignitabilidade que na exposição do material a uma ponta de


chama, não foi verificada a sua ignição, nem a propagação superficial de chamas ou liberação
de partículas inflamadas em nenhuma das composições analisadas. Para classificação do
material, procedeu-se a avaliação através do ensaio de SBI, empregando-se uma placa
cimentícia com espessura de 12 mm como substrato, cujos resultados são apresentados na
Tabela 2. A Figura 5 apresenta o aspecto da amostra antes e após o ensaio de SBI da manta
com densidade de 1,5 kg/m².

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Tabela 2 – Resumo dos resultados obtidos nos ensaios de SBI


SBI
Densidade FIGRA LFS THR600 SMOGRA TSP600
(W/S) (S/N) (MJ) (m²/s²) (m²)
Limiar não
0,35 kg/m² 12,7 Não 1,2 21,6
alcançado
1,50 kg/m² 96,2 Não 4,5 11,7 65,4
FIGRA: índice da taxa de desenvolvimento de calor
LFS: propagação lateral da chama
THR600: liberação total de calor do corpo de prova nos primeiros 600s de
exposição às chamas
SMOGRA: taxa de desenvolvimento de fumaça, correspondendo ao máximo
do quociente de produção de fumaça do corpo de prova e o tempo de sua
ocorrência
TSP600: produção total de fumaça do corpo de prova nos primeiros 600s de
exposição às chamas

(a) (b)
Figura 5 – Amostras de densidade 1,5 kg/m² (a) antes e (b) após o ensaio de SBI

Verificou-se durante os ensaios realizados o derretimento do material no ponto de aplicação de


chama, com liberação de resíduo proveniente da queima do material. No entanto, as amostras
não apresentaram liberação de partículas inflamáveis e não apresentaram propagação lateral
de chamas.

Através dos ensaios de SBI verificou-se que os dois materiais analisados apresentaram baixa
liberação de calor e fumaça, ficando dentro dos limites da classe II-A, ou seja, a melhor
classificação para materiais combustíveis. Apesar de não ter influenciado na classificação do
sistema, verifica-se que a densidade do material apresentou grande influência sobre os
resultados obtidos no ensaio de SBI, tanto para os índices de liberação de calor como para os

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índices de liberação de fumaça. Para ambos os índices as mantas com maior densidade
apresentaram um pior comportamento, sendo a liberação calor (FIGRA e THR600s) os índices
que atingiram maiores proporções. Isso pode ser explicado pela maior quantidade de material
combustível no ponto de combustão quando ocorre um aumento da densidade do material.

4. CONCLUSÃO

Verifica-se que a classificação obtida permite o emprego do sistema em uma elevada gama de
aplicações e que, apesar de este ser considerado combustível, apresentou bom
comportamento no que se refere à densidade ótima da fumaça liberada e da propagação de
chamas. Verificou-se a influência da densidade de mantas recicladas de PET, onde a maior
densidade do material conduz a maiores índices de liberação de calor de fumaça, apesar de
não alterar a sua classificação. Conclui-se, portanto, a importância da avaliação das
propriedades de reação ao fogo dos materiais com diferentes propriedades, principalmente no
que se refere a densidade, por ser um dos fatores mais influentes nas propriedades de
isolamento térmico e acústico para este tipo de material.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio técnico e financeiro do Instituto Tecnológico em Desempenho e


Construção Civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – itt Performance/Unisinos.

6. REFERÊNCIAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DRYWALL. Números do segmento. Disponível em:


<http://www.drywall.org.br/index.php/6/numeros-do-segmento>. Acesso em: 10/02/2017.
[2] MATSUMOTO, T; UCHIDA,M; SUGAYA,H; TACHIBANA,H. Development of multiple
drywall with high insulation performance. Applied Acoustics, v. 67, p. 595–608, 2006.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações
Habitacionais – Desempenho. Parte 1 – Requisitos Gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
[4] LABRES, H. S.; KLIPPEL FILHO, S.; OLIVEIRA, M. F. Estudo comparativo do
isolamento sonoro de sistemas de vedações verticais leves com utilização de
mantas de lã de PET de diferentes composições. XXVII Encontro da SOBRAC.
Brasília, 2017.
[5] Ecycle. Fibra de vidro: matéria-prima de muitos itens pode expor riscos no processo de
produção. Disponível em: <http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35-
atitude/958-fibra-de-vidro-materia-prima-de-muitos-materiais-pode-expor-riscos-no-
processo-de-producao.html>. Acesso em: 10/02/2017.
[6] SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Polícia
Militar. Corpo de bombeiros. Instrução técnica n. 10/2011: controle dos materiais de
acabamento e revestimento. São Paulo: 2011. 10 f.
[7] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 1182: Reaction to fire
tests for products - Non-combustibility test. Brussels, 2010.

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[8] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 11925-2: Reaction to


fire tests - Ignitability of building products subjected to direct impingement of flame - Part 2:
single-flame source test. Brussels, 2010.
[9] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. BS EN 13823: Reaction to fire
tests for building products – Building products excluding floorings exposed to the thermal
attack by a single burning item. Brussels, 2010.

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AVALIAÇÃO DE ESTABILIDADE ESTRUTURAL EM EDIFICAÇÃO


INCENDIADA

Marcelo L. Silva Aila L. Melo Romilde de A. Oliveira


Capitão BM Graduanda Professor
Corpo de Bombeiros Universidade Católica Universidade Católica
Militar de Pernambuco de Pernambuco de Pernambuco
Recife, Brasil Recife, Brasil Recife, Brasil

Palavras-chave: Incêndio em edificações; resistência ao fogo; Recuperação de edificações


incendiadas.

1. INTRODUÇÃO

O risco de ocorrência de incêndio existe em todas as edificações e o seu desencadeamento


ameaça à vida e à destruição do patrimônio presente no ambiente. Dependendo da duração e
da carga-incêndio presente no local, a estrutura pode ter sua estabilidade afetada,
necessitando assim de uma avaliação de especialista para verificar as condições de uso da
edificação afetada.

Incêndio em edificações residenciais em Recife e Região Metropolitana têm fatores que


chamam atenção pela frequência, a ocorrência de vitimas fatais e o registro de danos
provocados, conforme estatistica de incêndios atendidos pelo Corpo de Bombeiros Militar de
Pernambuco – CBMPE do triênio 2011 a 2013[1]. Informações como carga-incêndio dessas
edificações atendidas, tempo de resposta para atendimento dessas ocorrências auxiliam na
determinação do tempo requerido de resistência ao fogo desses tipos de edificações.

Um experimento simulando um incêndio com as características de mobília e demais materiais


combustíveis tipicamente presente em edificações residenciais, ensaiados pelo tempo
equivalente ao tempo médio de atendimento a incêndios na região, foi realizado por uma
equipe de pesquida da UFPE e do CBMPE, especificamente em uma edificação localizada no
bairro do Curado no município de Jaboatão dos Guararapes-PE (Figura 1) [2].

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Figura 1: Casa de treinamento de incêndio do CBMPE localizada no bairro do Curado no


município de Jaboatão dos Guararapes-PE.

A citada edificação é utilizada para treinamento de combate a incêndio dos bombeiros há 15


anos. Esta pesquisa visa avaliar a estabilidade da edificação citada para realização desse
experimento e dar continuidade aos treinamentos de combate a incêndios.

2. MÉTODO DE TRABALHO

Para alcançar esse objetivo foram planejadas inspeções visuais, levantamento em desenho
técnico da edificação, registros fotográficos antes/após a reforma e ao fim do experimento. Foi
empregado um pacômetro, equipamento detector de barras de aço criado para localizar as
barras no interior de elementos estruturais de concreto armado, sem destruição, obtendo ainda
a distância da face até a barra e a sua bitola (Figura 2).

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Figura 2: Equipamento Profoscope da marca Proceq utilizado para detectar barras de aço em
estruturas de concreto armado.

3. RESULTADOS

Na inspeção visual foi verificada que se trata de uma edificação de dois pavimentos em formato
prismático, revestida externamente com argamassa de cimento e areia, pintada. Apresenta
esquadrias em chapa de aço. Contém laje de vigotas de concreto premoldado e blocos
cerâmicos, sendo as lajes de coberta e do pavimento superior armadas com malhas de aço,
com piso cimentado.

Internamente a edificação tem dois cômodos no térreo, uma escada e um vão único no
pavimento superior. As paredes são de alvenaria de blocos cerâmicos de oito furos,
assentadas com argamassa de cimento e areia. A maioria das paredes são chapiscadas
(Figura 3) e algumas têm emboço. O teto tem as vigotas e blocos da laje aparentes, mas
chapiscados.

Em consequência dos treinamentos de combate a incêndio, as paredes e os tetos estão pretas


devido à fuligem do fogo empregado. Alguns blocos cerâmicos das lajes (Figura 4) e paredes
com o septo da face voltada para o interior da edificação estavam danificados (Figura 5)
conforme fenômeno descrito por Silva, et al, [3], possivelmente pelo arrancamento abrupto do
revestimento em situação de alta temperatura alcançada no incêndio e o choque térmico
proporcionado pelo jato d’água utilizado no combate ao incêndio [4]. Foram observados sinais
de danos nas paredes e nos tetos onde normalmente são colocados próximos os materiais a

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serem queimados durante as instruções. Alguns danos podem ter sido obtidos por dano físico
em contado com os equipamentos utilizados nas instruções.

Figura 3: Parede de alvenaria de blocos cerâmicos chapiscada.

Foi observado uma viga chata no meio do vão de um cômodo do pavimento térreo, onde
estava com parte da barra da armadura londitudinal exposta, mas sem maiores danos.
Tambem foi observado uma parte de armadura exposta na viga sobre a escada. As patologias
observadas podem ter sido provocadas por um desplacamento explosivo, por insuficiente
cobrimento ou dano mecânico acidental.

Embora se tenha verificado a presença das vigas de concreto armado citadas não foi possível
confirmar a presença de pilares de concreto armado, e vigas no perimetro da edificação. Dessa
forma, para que seja descartada que essa edificação seria de alvenaria resistente foi utilizado o
detector de barras Profoscope (Figura 6). Esse equipamento induz uma corrente elétrica na
barra no interior do concreto provocando um campo eletromagnético de retorno, que deforma
molas no interior do equipamento e cuja deflexão é medida e obtida à distância e bitola da
armadura do elemento avaliado. Ao empregar esse equipamento foi possível identificar vigas
no perimetro da edificação e 10 pilares.

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Figura 4: Blocos das lajes danificados.

Figura 5: Blocos das paredes danificados

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Figura 6: Inspeção com equipamento Profoscope detector de barras

Os pilares tem seção de 10cm x 30cm e são armados por quatro armaduras longitudinais de
12,5 mm e com estribros espaçados de 20cm.
As vigas também têm seção de 10 cm x 30 cm, barras longitudinais de 12,5 mm e estribos de 6
mm espaçados a cada 20 cm.

O ensaio realizado foi em um cômodo do pavimento térreo decorado com movéis e materiais
presentes em quartos típicos, esses objetos foram encontrados em diversos registros de
incêndios ocorridos na Região Metropolitana de Recife. Tinha uma cama e um beliche, ambos
de madeira, com colchão e lençol. Dois criados mudos de madeira, sendo um revestido com
tinta entumescente anti-chama, e sobbre eles dois ventiladores. Ainda tinha um guarda roupas
três portas com diversas roupas no seu interior.

As paredes foram reformadas de forma a preenchar os blocos danificados e revestir cada


parede com um revestimento caracteristico, sendo uma parede emasssado com argamassa

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de cimento e areia, duas chapiscadas e uma revestida com pasta de gesso. O teto foi mantido
da mesma forma.

O serviço foi realizado foi finalizado com 30 dias antes do ensaio com fogo. A edificação foi
equipada com diversos termopares tipo K, localizados a diversas alturas na parte interna e
eterna da edificação. O ensaio foi registrado tambem com imagens de camaera termica. Tais
equipamentos auxiliaram a equipe responsável a administrar o ensaio.

O fogo foi iniciado durante o dia, a única janela estava aberta e única porta do recinto estava
fechada. A ignição foi iniciada com um gel combustivel usado em fogareis portatéis, no chão
em contato com o lençol da cama de baixo do beliche, e durou em torno de 50 minutos, sendo
que aos 30 minutos com o decaimento da atividade do incêndio foi aberta a porta, oxigenando
o ambiente e retomando o crescimento do incêndio. O ensaio foi encerrado com o combate a
incêndio por equiple treinada do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, que promoveu
jatos de neblina e sólido no ambiente para o seu resfriamento, e em seguida em todas as faces
do ambiente interno incendiado, por fim foi atacado os focos remanescentes e extinto o
incêndio.

Figura 7: Movéis e materiais presentes em quartos típicos em residências simples na Região


Metropolitana do Recife.

As verificações após o ensaio

Após quatro dias foi realizada nova inspeção com a finaidade de observar os efeitos do
incêndio em especial sobre a estrutura e as paredes.

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Figura 8: De A a D - Danos Provocados nas paredes pelo incêndio ao fim do ensaio .

A parede mais afetada foi a parede chapiscada que contém a janela. Na região mais próxima
ao foco inicial do incêndio houve os seguintes efeitos:
- Desplacamento de boa parte do chapisco deixando os blocos expostos, com uma extensão,
sendo o maior desplacamento com 38 cm na maior extensão (Figura 8a,b);
- Desplacamento parcial do reboco;
- Pipocamento de alguns blocos, deixando buracos de 3 cm de extensão (Figura 8c);
- Dano ao bloco devido ao desplacamento do chapisco.

A parede mais próxima ao foco do incêndio estava revestida de gesso e resistiu bem ao fogo,
foi observado:
- Um descascamento superficial do revestimento, e

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- Uma pequena fissura de 5 cm de extensão.

As outras duas paredes internas não tiveram maiores danos e estavam mais afastadas do foco
inicial do incendio, havia outra cama e um guarda-roupas que queimaram parcialmente,
diferente do beliche que ficava no lado oposto dessas paredes que foi totalmente comsumido.

A Laje do Local incendiado não teve mais danos do que aqueles já observados anteriormente.
A região onde havia danos nos blocos de atividades anteriores foram revestidas com gesso
que apenas descascou uma camada superficial.O lado externo da edificação não apresentu
danos, embora a temperatura externa da parede.

No lado externo da edificação não foram observados danos, foram medidos nos termopares
localizados nessa região uma termperatura máxima de 50 ºC na parede revestida internamente
só com chapisco, e de 36 ºC na parede revestida internamente, o que demonstra um
isolamento térmico suficiente para não provocar incêndio no ambiente dividido por este tipo de
parede. Na parede interna onde ficava a porta no lado não exposto à incêndio foi registrado um
pico de temperatura de até 800ºC no momento em que a porta foi aberta durante o ensaio, o
que demonstra a importância do isolamento daquele ambiente produzida pela porta
conjuntamente com a parede.

4. CONCLUSÕES

Após ser constatado que a edificação foi construída com estrutura em concreto armado, pode-
se concluir que os danos observados nas paredes não indicam maiores riscos por se tratar de
uma parede de vedação devendo ser reconstituídos os buracos danificacos com argamassa de
cimento, cal e areia, no traço 1:1:6, por exemplo. As vigotas das lajes se encontram íntegras e
sem fissuras ou outros sinais de degradação que indiquem dano estrutural. Os blocos
cerâmicos danificados na laje não representam risco à estabilidade estrutural da laje por não
ter participação na função estrutural da laje, devendo ser reconstituídos de forma análoga ao
que foi sugerido para os blocos das paredes. As armaduras expostas das vigas chatas citadas
se encontram íntegras sem sinais de corrosão e devem ter seu cobrimento recomposto com
adesivo estrutural à base epóxi.
Devido aos diversos fatores observados concluímos que até o presente a edificação apresenta
estabilidade estrutural podendo continuar a desempenhar as suas funções nos treinamentos.
Para trabalhos futuros sugerimos o ensaio com prova de carga sobre a laje visando observar
se as deformações observadas com a carga de serviço são compatíveis com o tipo de
ocupação planejado.

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REFERÊNCIAS

[1] Corrêa, C.; Rêgo Silva, J. J.; Pires, T. A.; Braga, G. C. B. Mapeamento de Incêndios em
Edificações: Um estudo de caso na cidade do Recife. Revista de Engenharia Civil IMED,
vol. 2, nº. 3, 2016, p. 15-34.
[2] Corrêa, C.; Rêgo Silva, J. J.; Pires, T.; Silva, J. J. R.; Braga, G. C.; Tabaczenski, R. –
Incêndio natural em compartimento de residência na cidade de Recife: Um estudo
experimental. In 4º CILASCI, Congresso Ibero-Latino- Americano sobre Segurança Contra
Incêndios, Recife 2017.
[3] Silva, M. L; Corrêa, C.; Oliveira, R. A. Risco de Colapso em Caso de Incêndios de
Alvenaria Resistente do tipo “Prédio Caixão”. Revista Flammae, vol. 1, nº.2, 2015, p.28-
54.
[4] Silva, M. L; Colapso em caso de incêndio em edifícios de alvenaria resistente.
Dissertação. Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2016.

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AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA ESPESSURA DE


ALVENARIA NA SUA RESISTÊNCIA AO FOGO

Gustavo L. Prager* Matheus G. Dilly Bernardo Fonseca Tutikian


Acad. Eng. Civil Acad. Eng. Civil Profº Dr. Eng Civil
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil
Augusto M. Gil Fabrício L. Bolina
Eng. Civil, Mestrando Prof. MSc. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil

Palavras-chave: Segurança contra incêndio. Resistência ao fogo. Alvenaria estrutural.

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, houve um crescimento urbano demasiado no Brasil, acarretando no


surgimento de um conjunto de novos métodos e materiais construtivos que visam suprir o
déficit habitacional decorrente deste crescimento. Dentre a esta tendência foram lançadas no
mercado as alvenarias estruturais [1]. Ao projetar uma edificação, os profissionais envolvidos
devem aplicar o conhecimento científico de engenharia prezando o desempenho da edificação
no que tange à sua segurança contra incêndio [2], o que, até início dos anos 70, era de
incumbência do corpo de bombeiros [3]. Levando em consideração este fato e a ocorrência de
diversas tragédias marcantes, tornou-se necessária a reformulação das normas nacionais de
segurança contra incêndio e instruções técnicas do corpo de bombeiros. A partir daí, o
mercado e os profissionais passaram a atentar-se às novas técnicas construtivas, exigindo
parâmetros mínimos de desempenho para estes sistemas de acordo com a NBR 15575 [4]
para garantir a sua aplicação na construção civil.

Em termos de regulamentação técnica, são estabelecidas as condições a serem atendidas


pelos elementos estruturais e de vedação de acordo com a altura e a ocupação da edificação,
através do Tempo Requerido de Resistência ao Fogo (TRRF), pela NBR 14432 [5]. O TRRF,
em essência, é um tempo em que não pode ocorrer colapso de uma edificação em situação de
incêndio, período no qual, deve-se proporcionar a saída dos ocupantes com condições de
segurança, assim como proporcionar ao corpo de bombeiros as condições mínimas para o
combate do incêndio.

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, itt Performance, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Avenida Unisinos, 950, São Leopoldo.
93.022-000 – São Leopoldo - RS - Brasil. Cel.: +55 51 99887 3651 Tel.: +55 51 3590-8887 – Ramal: 3247. e-mail: gprager@unisinos.br

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Segundo Buchanan [6], na ocorrência de um incêndio em uma edificação, algumas paredes


têm a função de limitar a propagação do fogo aos cômodos vizinhos, limitando a propagação
do fogo para outros compartimentos, enquanto que os sistemas estruturais tem a função de
garantir a estabilidade da edificação. No caso de alvenarias estruturais, esses elementos
devem cumprir com as duas funções, o que enaltece a sua importância para segurança dos
usuários. Segundo Rigão [7], uma das poucas legislações que apresentam diretrizes para o
uso de materiais de vedação no quesito de resistência ao fogo é a Instrução Técnica N° 08 [8],
derivada de ensaios laboratoriais em escala real. A IT 08 [8] engloba sucintamente diretrizes
para a construção de alvenaria de vedação, porém não possui nenhuma instrução para as
alvenarias estruturais, direcionando ao EUROCODE 6 [9], devido a insuficiência de informação
técnica no projeto destas.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho da influência da espessura de alvenarias na


resistência ao fogo de paredes com função estrutural. Foram avaliadas duas paredes,
constituídas por blocos cerâmicos e argamassa estabilizada de 36 horas. O Sistema 1 é
composto por blocos de dimensões 14x19x29cm e o Sistema 2 com dimensões 19x19x29cm.
Ambos receberam revestimento de argamassa com espessura de 1cm na face exposta ao fogo
e 2cm na face externa, esta não exposta ao fogo.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Com a vigência da NBR 15575 [4], aliou-se a necessidade de projetar e executar edificações
com enfoque no cumprimento de critérios mínimos no ramo da construção civil [10]. Com estas
exigências, passou a haver necessidade da certificação dos sistemas já existentes, assim
como os inovadores, para que seu uso fosse viabilizado. Porém, atualmente encontra-se
dificuldade do que tange o dimensionamento de segurança contra incêndio de alvenarias,
devido a inexistência de normas regulamentadoras, talvez justificadas pela heterogeneidade da
matéria-prima. Esta questão esclarece a majoração do risco de incêndio nos edifícios
brasileiros, que englobam fatores da utilização de materiais combustíveis sem análise de seu
comportamento, além do maior consumo de energia nas construções [11].

As alvenarias possuem um vasto uso no território nacional, sendo comumente aplicada na sua
função de vedação vertical, separando um ou mais locais do restante da edificação. Essa
função, por decorrência, acaba sucedendo o isolamento entre ambientes e rotas de fuga, ou
seja, exercendo a compartimentação. Evitando, desta forma, que incêndios concentrados
expandam-se em grandes extensões, impedindo a propagação do fogo, calor e gases quentes
[12]. Esta atribuição pode ser exercida apenas se o sistema possuir a classificação mínima
para cumprir a função corta-fogo, representado pelos critérios de estabilidade estrutural,
estanqueidade e isolamento térmico, por sua vez conseguindo satisfazer a função de
compartimentação horizontal [13]. Estes requisitos exigidos são baseados nos princípios de
segurança à proteção da vida humana e bens materiais [14].

Nguyen e Meftah [15] acrescentam que o desempenho da maioria das paredes de alvenaria
pode ser concebido por meio de ensaios laboratoriais ou por métodos empíricos, ocasionando
um aumento no conservadorismo dos resultados. Estes ensaios demonstram que o isolamento

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térmico é o requisito determinante no desempenho das alvenarias, explicado pelas extremas


diferenças de temperatura dos ambientes adjacentes em uma situação de incêndio, tornando
inevitável a transferência de calor para o lado menos aquecido. Os fatores que influenciam na
transferência de calor de uma parede são espessura, densidade, calor específico e
condutibilidade do material. De acordo com Beall [16], estas questões são essenciais para a
resistência do isolamento térmico das alvenarias. Este isolamento, proporcionado pela camada
de revestimento exposta às altas temperaturas, fica restrito ao tempo que esta camada
desempenha a capacidade de manter-se aderida à parede no ensaio de resistência ao fogo ou
no caso de incêndio [17]. Um dos fatores determinantes perante esta questão é a diferença do
módulo de elasticidade dos materiais que constituem a alvenaria. Sabendo que a alvenaria é
constituída por camadas sobrepostas de materiais distintos, verifica-se uma diferença na
dilatação térmica dos materiais, ocasionando em deformações diferenciais entre as camadas,
que, por sua vez, ocasionam nas fissuras, deslocamentos das camadas, desplacamentos ou
lascamento dos revestimentos.

Segundo Nguyen e Meftah [15], o fenômeno de desplacamento é normalmente conhecido e


estudado em estruturas de concreto, mas também é recorrente nas alvenarias. O estudo deste
fenômeno em paredes de alvenaria expostas à elevadas temperaturas torna-se essencial, pois
este comportamento elucida à desintegração das partes das alvenarias, o que pode vir a
comprometer o desempenho das mesmas. Outro fator de relevância é o arqueamento da
alvenaria em direção ao fogo, que é uma manifestação decorrente do gradiente de
temperaturas formado ao longo da espessura da parede. Estes dois fenômenos auxiliam no
desprendimento do revestimento e, consequentemente, facilitam a incidência das altas
temperaturas diretamente na parte interna dos blocos, causando as deformações excessivas
mais rapidamente e reduzindo a área resistente do sistema. Ingham [18] é cauteloso sobre
eventual ruína das paredes estruturais no seu processo de resfriamento com água em situação
de sinistro (frequente nos combates de incêndio), pois os materiais aquecidos encontram-se
dilatados em relação a temperatura ambiente e, ao resfriar, sofrem solicitações internas devido
ao choque térmico, o que pode levar a fissurações, podendo influenciar no colapso da parede.

Os materiais cerâmicos por vantagens de possuírem desempenho satisfatório ao fogo, devido


a sua propriedade incombustível [19], agregada a baixa condutividade térmica do material,
proporciona que estes sistemas tenham capacidade de apresentar uma boa resistência ao fogo
[18]. Infelizmente, por meio de sinistros históricos e ensaios laboratoriais, acrescenta [20] que
estes materiais possuem uma boa resistência quando submetido às altas temperaturas. Ainda
os blocos cerâmicos, em seu processo de fabricação, ocorrem a queima desta matéria, a qual
é gerado uma conexão forte entre os poros, garantindo a diminuição das poro-pressões
durante um cenário de incêndio, agregando a estabilidade estrutural dos blocos [21]. Sabendo
que a condutividade térmica do tijolo cerâmico é dependente da densidade da alvenaria (Figura
1), quanto maior for a sua densidade, mais elevado serão os valores para a condutividade
térmica dos sistemas.Este fato se explica pela menor quantidade de vazios, quando o material
é mais denso.

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Figura 1 - Variação da condutividade térmica (W/m°C) para alvenarias com valores distintos de
massa específica

Normas internacionais compõe especificações para auxiliar no projeto de alvenarias, a exemplo


da norma australiana, que elucida diretrizes, sendo elas através de adequação dos elementos
por meio de parâmetro tabelado de dimensionamento ou por meio de embasamento de
resultados de ensaios laboratoriais com dados fornecidos pelo fabricante do elemento. De
acordo com Anicer [22], o sistema de vedação vertical mais empregado na construção civil no
país são as alvenarias, compostos com elementos cerâmicos, sendo fomentado pela excelente
qualidade da argila encontrada em determinadas regiões, a exemplo do Rio Grande do Sul.

Então para suprir estas lacunas do sistema normativo brasileiro, no que tange
dimensionamento de alvenarias em situação de incêndio, por meio de métodos experimentais,
se atenta este trabalho, visando contribuir para o conhecimento dos sistemas construtivos de
alvenaria estrutural, consistindo em duas análises, verificando influência da espessura dos
blocos cerâmicos frente a altas temperaturas.

3. MÉTODO

Com a finalidade de desempenhar o estudo e contribuir para a segurança contra incêndio, a


análise foi realizada em alvenarias constituídas por blocos cerâmicos e argamassa estabilizada
de 36 horas. O sistema 1 (Figura 2.a) foi composto por blocos de dimensões 14x19x29 e o
sistema 2 (Figura 2.b) com dimensões 19x19x29, sendo em ambos realizados revestimentos
de argamassa de 1 cm na face exposta ao fogo e 2 cm na face externa, esta não exposta ao
fogo, com o propósito de simular a situação usual em obras de construção civil.

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Figura 2 – Geometria dos blocos ensaiados

Os ensaios foram realizados obedecendo as prescrições estabelecidas pela NBR 5628 [23],
realizando verificações no que tange a resistência estrutural, estanqueidade e isolamento
térmico, assim como ensaiados em escala real, com dimensões 3,15x3,00m, por meio de um
forno vertical normatizado, instrumentado de acordo com a Figura 3 e calibrado no Laboratório
de Segurança Contra Incêndio do itt Performance/Unisinos. As amostras foram submetidas
pelo forno à uma curva-padrão de aquecimento, respeitando os limites máximos e mínimos de
temperatura de aquecimento de acordo com a ISO 834 [24].

Figura 3 - Disposição (a) interna e (b) externa dos termopares no forno

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os ensaios de resistência ao fogo foram realizados em dias diferentes, porém com condições
iniciais de ensaio bastante semelhantes, sendo o sistema 1 ensaiado com temperatura inicial
de 23,2°C e o sistema 2 com temperatura inicial de 22°C. Durante os ensaios foram realizados
registros das ocorrências manifestadas pelas amostras (Figura 4).

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Figura 4 - Registros realizados durante os ensaios (comentar o mesmo comportamento)

No que tange a análise estrutural, os sistemas 1 e 2 obtiveram um desvio de curvatura


acentuado logo no início do ensaio (Figura 5), com crescimento gradativo até os respectivos
deslocamentos máximos de 31 mm aos 170 minutos e 23 mm aos 140 minutos. Porém, o
Sistema 1, em meio a este crescimento, obteve uma diminuição do deslocamento por um
determinado período, voltando a aumentar logo após. Este ocorrido pode ter sido causado pelo
desplacamento do revestimento, visto que, quando assimilado a curva de temperatura da face
exposta o fogo, obteve-se uma queda nos instantes iniciais.

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Figura 5 – Registros dos deslocamentos dos sistemas

Segundo Nguyen [15], os deslocamentos iniciais possuem este comportamento devido ao


rápido aumento de temperatura da face exposta, que as curvas padrões de ensaio possuem. O
autor ainda salienta que na sequência, as paredes tendem a regressar o deslocamento obtido
nas fases iniciais, devido ao equilíbrio da dilatação térmica ao longo da seção da parede. Este
equilíbrio pode ser acentuado pelo desplacamento do revestimento.

O isolamento térmico, foi determinante para a classificação dos sistemas. Enquanto no Sistema
1, após os 207 minutos, ocorreu a extrapolação da temperatura média, no Sistema 2 não
ocorreu a extrapolação dos limites normativos. Quanto a temperatura da face exposta ao fogo,
ambas obtiveram comportamento semelhantes, em exceção ao comportamento da temperatura
da amostra 1, a qual observa-se uma perda de temperatura interna aos exatos 28 minutos de
ensaio (Figura 6).

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Figura 6 – Registros dos deslocamentos dos sistemas

Além dos critérios de classificação, foi observado que a média da temperatura nas faces
externas se igualaram em períodos distintos, sendo eles de 240 minutos para o Sistema 1 e
290 minutos para o Sistema 2 (Figura 7).

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Figura 7 – Registro das temperaturas da face externa das amostras ensaiadas

As manifestações notadas durante os ensaios quanto a estanqueidade dos sistemas foram


semelhantes, com desenvolvimento de fissuras praticamente idênticas. Esas fissuras não
comprometeram o requisito analisado.
Em relação a estanqueidade , verificou-se o surgimento da primeira fissura na amostra 1 aos 3
minutos de ensaio, sendo sucedida por outras de menor magnitude, enquanto que a amostra 2
apresentou a sua primeira fissura aos 4 minutos de ensaio. Procedeu-se à realização do teste
de estanqueidade quando as amostras apresentaram liberação excessiva de fumaça e
elevados gradientes térmicos, porém em nenhum caso houve a inflamação do chumaço de
algodão, caracterizando a amostra como estanque. As duas paredes não produziram, durante
o incêndio, aberturas capazes de propagar gases quentes para o cômodo adjacente.

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5. CONCLUSÕES

Concluiu-se que a espessura foi decisiva perante o desempenho do sistema quanto ao


isolamento térmico, visto que em uma situação de incêndio, com extremas diferenças de
temperatura dos ambientes adjacentes, torna-se inevitável a transferência de calor para o lado
menos aquecido. Portanto, o sistema de alvenaria tem a característica de tornar essa transição
mais lenta possível, através da baixa condutividade térmica dos materiais que a constitui,
verificando que com o aumento da espessura do bloco em 36% o requisito de isolamento
térmico aumentou cerca de 16%. O desplacamento do revestimento ocorrido no Sistema 1,
possivelmente ocorrido no início do ensaio, de acordo com a perda de temperatura interna e
um retrocesso do deslocamento no mesmo instante, diminuiu a capacidade isolante da
alvenaria.

6. REFERÊNCIAS

[1] ALMEIDA, C. A. de. Construções em Alvenaria Estrutural de Blocos Cerâmicos: Um Breve


Panorama do Empreendimento: Aspectos do Mercado, Importância do Planejamento e
Ações para Prevenir Falhas Freqüentes. In: SANCHEZ FILHO, E. S. Alvenaria Estrutural:
Novas Tendências Técnicas e de Mercado. Rio de Janeiro: Editora Interciência Ltda,
2002. p. 83-89.
[2] RASBACH, D. J. et al. - Evaluation of Fire Safety - Chichester etc: Wiley, 2004, 496 p.
[3] SEITO, A. I. et al. - A segurança contra incêndio no Brasil - São Paulo: Projeto Editora,
2008. 496 p.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações
habitacionais — Desempenho Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais
internas e externas. Rio de Janeiro, 2013.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14432: Exigências de
resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações – Procedimento. Rio de
Janeiro, 2000.
[6] BUCHANAN, A.; Munukutla, V. R. Fire Resistance of Load-Bearing Reinforced Concrete
Walls. Fire Safety Science 3, Borehamwood. 1991. p. 771-780.
[7] RIGÃO, A.O. (2012). Comportamento de pequenas paredes de alvenaria estrutural frente
a altas temperaturas. Dissertação (Mestrado) em Engenharia Civil. Universidade Federal
de Santa Maria, Santa Maria, RS, 140p.
[8] CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO: Instrução Técnica nº 08 -
Segurança estrutural nas edificações / Resistência ao fogo dos elementos de construção.
Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. São Paulo. 2004.
[9] EN1996-1-2:2005, Eurocode 6: design ofmasonry structures — part 1-2: general —
structural fire design
[10] METHA, P. K.; Monteiro, P. J. M. Concreto: microestrutura, propriedades e materiais. 3.
ed. São Paulo: IBRACON, 2014.
[11] Seito, A I. et al. A segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto, 2008. 496p.
[12] MARCATTI, J.; COELHO FILHO, H. S.; BERQUÓ FILHO, J. E. Compartimentação e
afastamento entre edificações. In: SEITO, A. I. et al (Coord.). A segurança contra incêndio
no Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008.

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[13] ONO, R. Parâmetros para garantia da qualidade do projeto de segurança contra incêndio
em edifícios altos. Ambiente Construído. Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 97-113, 2007.
[14] MITIDIERI, M. L. O comportamento dos materiais e componentes construtivos diante do
fogo - reação ao fogo. In: SEITO, A. I. et al. (Coord.). A segurança contra incêndio no
Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008. p. 55-75.
[15] NGUYEN, T, MEFTAH, F., Behavior of clay hollow - brick masonry walls during fire. Part1:
experimental analysis, Fire Safety Journal. 52, 2012.
[16] BEALL, C. Masonry Design and Detailing: for architects, engineers and contractors. 4º ed.,
McGraw-Hill, 1997, 613p.
[17] OLIVEIRA, J. A. C. Contribuição ao estudo do comportamento mecânico dos sistemas de
revestimento à base de argamassa modificados com polímeros de base látex. Brasília,
1999. Dissertação (Mestrado em Estruturas e Construção Civil) – Programa de pós-
graduação em Estrutura e Construção Civil, Universidade de Brasília.
[18] INGHAM, Jeremy P. Application of petrographic examination techniques to the
assessment of fire-damaged concrete and masonry structures. Materials characterization,
v. 60, n. 7, p. 700-709, 2009.
[19] ROMAN, H. R. Características físicas e mecânicas que devem apresentar os tijolos e
blocos cerâmicos para alvenaria de vedação e estrutural. In: Simpósio de desempenho de
materiais e componentes de construção civil, 3., 1991, Florianópolis. Anais...
Florianópolis: UFSC. 1991. P. 101-108.
[20] RUSSO, S.; SCIARRETTA, F. Experimental and theoretical investigation on masonry after
high temperature exposure. Experimental mechanics, v. 52, n. 4, p. 341-359, 2012.
[21] NGUYEN, T. et al. The behaviour of masonry walls subjected to fire: Modelling and
parametrical studies in the case of hollow burnt-clay bricks. Fire Safety Journal, v. 44, n. 4,
p. 629-641, 2009.
[22] ANICER, ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA CERÂMICA – ANICER. Disponível
em: <http://www.anicer.com.br>. Acesso em: 26 setembro. 2015.
[23] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5628: Componentes
construtivos estruturais - Determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro, 2001.
[24] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO). ISO 834: fire
resistance tests – Elements of building construction. Geneva, 1999.

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AVALIAÇÃO NUMÉRICA DA REGRA DA ALÍNEA A.2.5 DO ANEXO A


DA IT-08/2011 DO CBPMESP APLICADA A PISOS MISTOS

Antonio M. Claret* Augusto C. da Silva Luciana G.


Professor Titular, DSc. Bezerra Castanheira
Universidade Federal de Professor, DSc. Profª. Assistente, MSc.
Ouro Preto - REDEMAT Centro de Educação Universidade Federal de
Ouro Preto - MG, Brasil Tecnológica de MG Ouro Preto - REDEMAT
Belo Horizonte - MG, Brasil Ouro Preto - MG, Brasil

Paola M. G. Dias J. G. Araújo-Silva


Profª., Arq., Mestranda Eng., MSc., Doutorando
Instituto Federal de Minas Gerais – REDEMAT/ Universidade Federal de Ouro
REDEMAT/UFOP Preto
Ouro Preto - MG, Brasil Ouro Preto - MG, Brasil

Elaine Martilles Hélder Luís Fransozo


Engª. Produção, Mestranda Professor, Doutorando
REDEMAT/UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
Ouro Preto - MG, Brasil Ouro Preto - MG, Brasil

Palavras-chave: Pisos mistos; proteção passiva; efeito membrana; análise estrutural em


incêndio; IT-08/11 do CBPMESP

RESUMO. Esse trabalho descreve uma investigação sobre a regra de atenuação dos requisitos
de proteção passiva dada na IT-08/11 do Corpo de Bombeiros de São Paulo, comparada à
dispensa da proteção passiva de vigas secundárias em pisos mistos aço-concreto conforme a
prática comum no Reino Unido. A metodologia empregada consistiu de análises de dois pisos
mistos reais pelo método de elementos finitos - MEF feitas com o programa VULCAN. As
conclusões indicam que o atendimento dos critérios de estabilidade em incêndio, com base na
deformação máxima dos pisos, pode ser obtido por ambas as regras de atenuação da proteção
passiva, sugerindo que, pela economicidade, a dispensa da proteção das vigas secundárias
pode ser feita mediante análise pelo MEF em cada caso. Verificou-se que essa dispensa torna
os pisos mais dúcteis com tendência a apresentar menores deformações no final do tempo
requerido de resistência ao fogo - TRRF que os pisos protegidos segundo a alínea A.2.5 do
Anexo A da IT-08/11.

*
Autor correspondente: Antonio Maria Claret de Gouveia, UFOP, Campus Universitário, Escola de Minas, DECAT, Ouro Preto, MG, CEP:

35400-000. Email: amclaretgouveia@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO

A análise de pisos mistos aço-concreto em situação de incêndio comumente é feita pelo


Método de Elementos Finitos — MEF implementado em programas como VULCAN, ANSYS,
SAFIR e ABAQUS. A análise de subestruturas é mais frequente, tanto por ser de modelamento
mais simples quanto por serem os incêndios reais, via de regra, compartimentados, solicitando
apenas parte da estrutura [1].

O Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo — CBPMESP redigiu um


conjunto de instruções técnicas que se aplicam ao projeto da segurança contra incêndio de
edificações naquele estado. Trata-se de um considerável acervo técnico em segurança contra
incêndio que vem sendo continuamente aperfeiçoado e, por essa razão, tem grande valor em
nosso País. Nesse conjunto, a Instrução Técnica N° 08/2011 — IT-08/11 [2] requer tempos de
resistência ao fogo — TRRF de estruturas em situação de incêndio no Anexo A, visando a
evitar-se o colapso estrutural. Esses TRRFs, se a estrutura não os tem no seu estado natural
para o modelo de incêndio adotado na análise, podem ser alcançados com o emprego de
proteção passiva.

O emprego de proteção passiva, reconhecido como necessidade para a segurança estrutural


em incêndio, pode significar considerável acréscimo de custo da estrutura de uma edificação.
O Anexo A da IT-08/11 [2] descreve algumas situações em que esta exigência pode ser
dispensada ou atenuada em função de parâmetros de risco da edificação como a grandeza da
carga de incêndio, a área do compartimento e a sua altura.

Uma das situações de atenuação do TRRF está descrita na alínea A.2.5 e chama a atenção
por introduzir diferentes requisitos para uma mesma estrutura, hiperestática e monolítica,
submetida a um mesmo modelo de incêndio. Assim se enuncia esta regra:

A.2.5 O TRRF das vigas secundárias, conforme item 5.17 desta IT, das
edificações com até 80 m de altura, não necessita ser maior que: a. 60
minutos para as edificações de classes P1 a P4 (Tabela A); b. 90 minutos
para as edificações de classe P5 (Tabela A).

O referido item 5.17 é a definição corrente de vigas secundárias. Outros documentos


normativos como a NBR 14432:2001 [3] possuem regras semelhantes. Na Europa,
especialmente no Reino Unido, a partir do ano 2002, uma regra de atenuação se tornou muito
utilizada: dispensa-se a proteção passiva das vigas secundárias, desde que a análise do piso
misto pelo MEF demonstre que o colapso estrutural não é atingido. Esta regra é implícita na
norma BS EN 1991-1-2:2002 [4] no ponto em que aborda os procedimentos de projeto.

Este trabalho visa a discutir o real significado em termos de segurança estrutural em incêndio
de ambas as regras de atenuação, a brasileira e a inglesa. É evidente que a regra brasileira de
reduzir o TRRF para vigas secundárias está a um passo da dispensa total da exigência de

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proteção passiva nas vigas secundárias como permite a regra inglesa, porque logicamente
alguma proteção passiva é, em princípio, melhor que nenhuma. Mas, é preciso observar que a
atenuação brasileira é incondicional, enquanto a dispensa inglesa é condicionada ao resultado
analítico da subestrutura pelo MEF [1] . Por outro lado, o acréscimo de custo de uma proteção
eventualmente desnecessária deve ser considerado.

O fato de ser o piso misto uma estrutura monolítica exige uma reflexão em torno do significado
físico da exigência de tempos de resistência ao fogo diferentes para seus elementos. Para
ilustrar, se as vigas secundárias têm uma resistência ao fogo de 60 minutos em um piso que
será exposto a 90 minutos do ensaio-padrão, elas provavelmente apresentarão colapso
estrutural antes do fim do TRRF=90 min. Pergunta-se: não se considera em colapso o piso
monolítico em que um ou mais de seus elementos está em colapso? Se se admite que o
colapso de uma viga secundária significa o colapso do piso, seu tempo de resistência ao fogo -
TRF será o de seu elemento de menor resistência e, nesse caso, TRF=60min < TRRF=90min.
Se, ao contrário, se admite que o piso não está em colapso em face do colapso de uma ou
mais vigas secundárias, então a proteção das secundárias poderia ser completamente
dispensada. É necessário investigar se haveria uma situação intermediária e se ela seria
aceitável.

Como se observa, o conceito de colapso estrutural em incêndio está no centro dessa


discussão. Nesse trabalho, análises de uma estrutura real pelo VULCAN† sugerem que a regra
da alínea A.2.5 do Anexo A da IT-08/11 [2] pode ser inócua.

2. COLAPSO ESTRUTURAL EM INCÊNDIO

Um módulo típico de piso misto aço-concreto é formado por quatro pilares aos quais se ligam
quatro vigas principais, de duas a cinco vigas secundárias e de uma laje de concreto com
forma de aço. Dependendo da área do compartimento, sua estrutura pode ser formada por dois
ou mais módulos. O conceito de colapso estrutural em incêndio não é diretamente enunciado
nas normas IT-08/11 [2], na NBR 14432:2001 [3] e nem na NBR 14323:2013 [5]. Porém,
dessas normas se conclui que o colapso em incêndio decorre da perda de estabilidade e ou da
perda da capacidade resistente dos elementos estruturais sob a ação dos esforços solicitantes
da estrutura. Embora não explícito, trata-se de fenômenos localizados, porque, nesses textos
normativos, o incêndio é suposto compartimentado.

A verificação da estrutura em incêndio visa a evitar o colapso da estrutura que se deve


entender, na maioria dos casos, por coerência com os objetivos das normas citadas, como
evitar a ocorrência de deformações excessivas. A norma BS 476 Part 20 [6] utiliza os seguintes
critérios de controle da deformação excessiva em ensaios de vigas em fornos, Figura 1:

(a) vigas se consideram em colapso estrutural, quando apresentam deslocamento vertical do


nó de referência que mais se deforma igual ou superior ao vigésimo do vão menor;

†Programa do MEF para análise de pisos mistos aço-concreto em incêndio. Marca registrada de Vulcan
Solutions Ltd., Hathersage, Sheffield, England.

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(b) pilares e barras de contraventamento se consideram em colapso estrutural, quando, após a


expansão térmica, retornam ao seu comprimento inicial.
São critérios meramente convencionais e, quando foram propostos em 1936, visavam a evitar
possíveis danos aos equipamentos de medição no ensaio-padrão em forno. Nas análises de
pisos mistos pelo MEF em incêndios compartimentados, esses critérios podem ser aplicados
para vigas, lajes e pilares. No caso específico das lajes, propõe-se a atenuação do limite de
deslocamento do nó que mais se desloca de L/20 para L/15, sendo L o menor vão do painel, a
não ser em situações em que grandes deformações dos pisos possam interferir mesmo a
baixas temperaturas com as vias de escape. Essa extensão da grandeza do deslocamento do
nó de referência encontra sua razão na grandeza da deformação do painel devida ao gradiente
térmico na altura da laje, conforme faz Bailey [7, equação 5], desprezível quando comparada à
deformação do painel causada pelo carregamento mecânico.

Figura 1 - Critério de colapso numérico para elementos estruturais fletidos (a)


e para elementos estruturais tracionados ou comprimidos (b).

3. METODOLOGIA E ESTRUTURAS ANALISADAS

São utilizados dois módulos de piso misto aço-concreto, A e B, extraídos de estruturas reais,
para analisar o efeito da proteção das vigas secundárias nos limites propostos pela alínea
A.2.5 da IT-08/11 e compará-los à dispensa de proteção, conforme a prática inglesa que tem
por base a norma BS EN 1992-1-2:2002 [4]. Nesses pisos, os pilares serão considerados
protegidos para experimentarem uma temperatura máxima de 550°C ao final do TRRF.

Admite-se um TRRF de 90 minutos. As vigas secundárias se consideram em duas situações:


VSP — vigas secundárias protegidas nas quais se admite um histórico de temperaturas bilinear
com a temperatura crescente de 20°C a 550°C nos primeiros 60min de exposição ao incêndio e
de 550°C a 1006°C nos últimos 30 minutos do TRRF; VSS — vigas secundárias sem proteção
nas quais se admite o histórico de temperaturas da norma NBR 5628:2001 [8], porque os
perfis, em geral, têm grande fator de massividade. Nas seções transversais, a distribuição de

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temperaturas se admite com fatores 0,8 na mesa superior e 1,0 a meia altura da alma e na
mesa inferior. Nas lajes, o perfil de temperaturas é 0,2 na superfície superior variando
linearmente até 1,0 na face inferior em contato com as chamas.
O piso A será analisado pelo VULCAN para cargas em situação de incêndio iguais à carga
permanente superposta de 20%, 40% e 60% da carga acidental. Nesse caso, o piso foi
dimensionado para uma edificação "real" e as cargas que solicitam o piso foram fornecidas
pelo calculista. Não foram utilizadas as combinações de ações do item 6.3.1 da NBR 14323:
2003 [5], porque a estrutura de onde se extraiu o piso A foi calculada seguindo a versão
anterior dessa norma.

Com o objetivo de investigar uma metodologia mais geral para a determinação da carga sobre
o piso, decidiu-se propor, nesse trabalho, a adoção da carga que levaria o piso à flecha
máxima igual ao vigésimo do vão, aqui denominada de "carga de colapso em incêndio", 𝑞𝑐𝑖 ,
supondo que a estrutura tenha os pilares e todas as vigas principais protegidas para aquirir a
temperatura de 550°C ao final do TRRF e que a laje de concreto não tenha proteção. As
cargas uniformemente distribuídas aplicadas sobre o piso B serão consideradas como frações
desta carga de referência.

Para determinar as frações da carga a serem aplicadas sobre os pisos, adotam-se as seguintes
hipóteses que resultam da observação prática:

(a) a carga permanente que solicita o piso à temperatura ambiente e em incêndio é da ordem
de 0,2 da carga de colapso em incêndio, conforme definida anteriormente: 𝑔 = 0,2𝑞𝑐𝑖 ;

(b) a carga acidental que solicita o piso à temperatura ambiente, 𝑝20 , é da ordem de 0,4 da
carga de colapso em incêndio: 𝑝20 = 0,4𝑞𝑐𝑖 .

Desse modo, as combinações de carga para análise em incêndio, adotadas nesse trabalho
(20%, 40% e 60% da carga acidental mais a carga permanente), resultarão em razões de
carga para a carga de colapso em incêndio, aqui definida como referência, iguais a:

(a) [0.2𝑞𝑐𝑖 + 0.2 (0.4𝑞𝑐𝑖 )]/𝑞𝑐𝑖 = 0.28

(b) [0.2𝑞𝑐𝑖 + 0.4 (0.4𝑞𝑐𝑖 )]/𝑞𝑐𝑖 = 0.36

(c) [0.2𝑞𝑐𝑖 + 0.6 (0.4𝑞𝑐𝑖 )]/𝑞𝑐𝑖 = 0.44

4. RESULTADOS

4.1 Piso A - 8,5m x 9,60m com 4 vigas secundárias

O piso misto analisado tem 9,60 m de largura por 8,5 m de profundidade. Os perfis utilizados
são indicados na Figura 2. As quatro vigas secundárias são espaçadas de 1,92 m. O aço
estrutural tem fy = 345 MPa e o concreto tem fck=30 MPa. A laje piso tem altura total de 140 mm
e usa uma forma steel deck de 0,8 mm de espessura. A armadura de fissuração é formada por

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uma malha Q138 de aço CA60B. Empregam-se 3,33 conectores por metro com diâmetro igual
a 19 mm e fu=350 MPa adotando-se a hipótese de interação parcial.

Figura 2 - Piso A renderizado no VULCAN.

A carga permanente total sobre o piso é 2,95 kN/m2. A carga acidental é tomada igual a 6
kN/m2. As combinações de cargas adotadas resultam em cargas uniformes sobre o piso iguais
a 6,55 kN/m2, 5,35 kN/m2 e 4,15 kN/m2 correspondentes respectivamente às combinações de
60%, 40% e 20% da carga acidental acrescidas da carga permanente. Como os pilares e as
vigas de borda do painel se supõem protegidos, não se aplicam as reações dos painéis
vizinhos sobre essas vigas. De fato, a sua contribuição na deformação do piso seria muito
pequena, se não desprezível para a situação de incêndio. O colapso estrutural à flexão em
incêndio se caracteriza pela flecha máxima de 8500mm/20 = 425 mm no nó central do painel. A
Figura 3 mostra o histórico de deslocamentos do nó central do painel ao longo do TRRF. Como
se observa, as hipóteses VSP (vigas secundárias protegidas) e VSS (vigas secundárias sem
proteção) garantem a estabilidade do painel. Observa-se que o piso na hipótese VSS revela-se
mais dúctil com tendência a resultar em TRF maior. Esse fato merece maior investigação.

4.2 Piso B - 7,4m x 7,8m com 2 vigas secundárias

O piso tem 7,8 m de largura por 7,4 m de profundidade. Os perfis utilizados são indicados na
Figura 4. As duas vigas secundárias são espaçadas de 2,6 m. O aço estrutural tem fy = 345
MPa e o concreto tem fck=30 MPa. A laje piso tem altura total de 140 mm e usa uma forma
steel deck de 0,8 mm de espessura. A armadura de fissuração é formada por uma malha Q159

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de aço CA60B. Empregam-se 3,33 conectores por metro com diâmetro igual a 19 mm e fu=350
MPa adotando-se a hipótese de interação parcial.

Figura 3 - Históricos de deslocamentos do nó central do piso A para os carregamentos da


carga permanente acrescida de (a) 20% (b) 40% e (c) 60% da carga acidental .

A flecha limite pela norma BS 476 Part 20 é 7400mm/20 = 370 mm no nó central do painel,
admitindo-se também o limite atenuado de 7400mm/15=493 mm. A carga de colapso em
incêndio foi determinada pela análise no VULCAN igual a 14,5 kN/m 2 correspondente a um
deslocamento ao final do TRRF de 370,2 mm. Nesse caso, aplicam-se cargas que
correspondem a 28%, 36% e 44% (vide seção 3) da carga de colapso em incêndio,
respectivamente iguais a 4,06 kN/m2, 5,22 kN/m2 e 6,38 kN/m2. A Figura 5 mostra os históricos
de deslocamentos obtidos no TRRF de 90 minutos, considerando as duas hipóteses VSP e
VSS descritas na seção 3.

Observa-se que o piso B apresenta a resistência ao fogo exigida, atendendo o critério da flecha
limite igual a L/15, em todas as hipóteses de carga. O critério mais restritivo L/20 não é
atendido por VSP e nem por VSS nas hipóteses de carga mais elevadas 0,36q ci e 0,44qci. Na
hipótese de carga de 0,28qci, o TRF da edificação é de 75min na proteção tipo VSS e de 87min
na proteção do tipo VSP.

6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

As análises de pisos mistos realizadas pelo VULCAN permitem avaliar a atenuação do requisito
de resistência ao fogo segundo a IT-08/11 [2] do CBPMESP, comparando-a com a dispensa da
proteção passiva de vigas secundárias que tem por base a norma BS EN 1992-1-2:2002 [4].

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Figura 4 - Piso B renderizado no VULCAN

Figura 5 - Históricos de deslocamentos do nó central do piso B para os carregamentos de (a)


28%, (b) 36% e (c) 44% da carga de colapso em incêndio.

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Nesse trabalho, a análise do piso A, extraído de uma estrutura real, permite concluir que a
dispensa de proteção passiva nas vigas secundárias é inteiramente viável em todas as três
hipóteses de combinação de cargas em incêndio consideradas nessa pesquisa.

Como os pisos extraídos de estruturas reais têm como viés importante os critérios próprios de
cada calculista, propôs-se uma metodologia de determinação de uma "carga de colapso em
incêndio" que corresponde à carga capaz de levar o piso à deflexão máxima igual a L/20 no
final do TRRF. Esta carga é determinada por análises tentativas no VULCAN. A partir de
relações hipotéticas da carga permanente e da carga acidental à temperatura ambiente para a
carga de colapso em incêndio, determinaram-se três hipóteses de carga iguais a 0,28qci,
0,36qci e 0,44qci sendo qci a carga de colapso em incêndio conforme a definição desse trabalho.
Essas cargas são naturalmente mais elevadas que as combinações propostas pelo item 6.3.1
da NBR 14323:2013 [5]. O piso B, que também é extraído de uma estrutura real, analisado sob
essas três combinações de carga, resultou no cumprimento do critério L/15 nos três casos.

As duas situações analisadas indicam que, de fato, a dispensa da proteção nas vigas
secundárias é equivalente ao critério do item A.2.5 da IT-08/11 [2]. Entretanto, esses resultados
também mostram que a dispensa de proteção passiva das vigas secundárias resulta em um
comportamento mais dúctil do piso comparado ao que se observa quando as vigas secundárias
têm proteção atenuada para 60min. Há indicações de que, para TRRF > 90, nas situações em
que as secundárias devam ter 60min de resistência ao fogo, se obtenha menor TRF do piso
que quando se dispensa completamente as secundárias do requisito de proteção passiva. Para
demonstrar isto, fez-se a análise do Piso A com carga correspondente à segunda combinação
adotada, utilizando um TRRF de 120min e supondo os dois casos VSP e VSS descritos antes.
A Figura 6 mostra o histórico de deslocamentos obtidos. Como se observa, a hipótese de vigas
secundárias sem proteção resulta em deslocamentos menores que a hipótese de vigas
protegidas com 60min no caso de TRRF=120 min nesse piso. Mas, ambas resultam no
atendimento do critério de estabilidade do painel para os limites de L/15 (567 mm) e L/20 (425
mm). O efeito benéfico da ductilidade do painel em incêndio merece maior investigação futura.

Figura 6 - Histórico de deslocamentos do centro do piso B com TRRF=120min

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5. REFERÊNCIAS

[1] CLARET DE GOUVEIA, A. M. Introdução à Engenharia de Incêndio. 1ª ed. Belo


Horizonte: 3i Editora, 2017. 229p.
[2] CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Instrução Técnica N° 08 - Resistência ao fogo dos elementos de construção. São Paulo,
2011.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14432:2001 - Exigências de
resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações. NBR 14432. Rio de Janeiro,
2001.
[4] BRITISH STANDARDS INSTITUTION. BS EN 1991-1-2:2002 - Eurocode 1. Actions on
structures . General actions. Actions on structures exposed to fire. London, 2002.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14323:2013 - Projeto de
estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios em situação de
incêndio. Rio de Janeiro, 2013.
[6] BRITISH STANDARDS INSTITUTION. BS 476-20:1987 - Fire tests on building materials
and structures. Method for determination of the fire resistance of elements of construction
(general principles). London, 1987.
[7] COLIN BAILEY. Structural fire design of unprotected steel beams supporting composite
floor slabs. II International Conference on Steel Construction – II CICOM – November,
2002 – São Paulo, SP, Brazil.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5628:2001 - Componentes
construtivos estruturais - Determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro, 2001.

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CAPACIDADE DE ARRANCAMENTO DE PARAFUSOS


AUTOATARRAXANTES PERPENDICULARES ÀS FIBRAS NO PINUS
ELLIOTTII SOB AÇÃO DE TEMPERATURAS DA PRÉ-PIRÓLISE

Carolina Coelho da Poliana Dias de Paulo Henrique


Rosa* Moraes Garcia
Aluna Pós-Graduação Professora Aluno Graduação
Universidade Federal Universidade Federal Universidade Federal
de Santa Catarina de Santa Catarina de Santa Catarina
Florianópolis, Brasil Florianópolis, Brasil Florianópolis, Brasil

Palavras-chave: Altas temperaturas, madeira de reflorestamento, parafuso autoatarraxante.

1. INTRODUÇÃO

A capacidade de arrancamento de parafusos com rosca é um parâmetro importante na


resistência de ligações em madeira, principalmente quando se utilizam parafusos do modelo
autoatarraxante. A resistência do parâmetro é promovida pelo contato entre a rosca do
parafuso e a madeira na qual ele está inserido.

No Brasil, para se projetar estruturas de madeiras ligadas com parafusos autoatarraxantes é


necessário consultar normas internacionais, visto que a norma brasileira NBR 7190 [1] não faz
menção ao uso de parafusos autoatarraxantes, tanto em situação normal quanto em casos
especiais, como as temperaturas elevadas. Adicionalmente, poucas pesquisas foram
realizadas sobre a influência da temperatura na capacidade de arrancamento de parafusos [2-
4].

*
Autor correspondente - Departamento de Engenharia Civil– GIEM - Universidade Federal de Santa Catarina. Rua João Pio Duarte Silva, s/n - Córrego
Grande - Florianópolis-SC Brasil - Caixa Postal 476 CEP: 88040900. E-mail: carolinacrosa@gmail.com

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Na madeira, a pirólise tem o seu início em temperaturas próximas de 200 ºC [5]. Até essa
temperatura, ocorrem fenômenos como a liberação de vapores de água e gases, que podem
afetar as propriedades mecânicas desse material.

A madeira é um material que apresenta anisotropia e, por isso, podem existir diferenças nas
propriedades mecânicas da madeira de acordo com a direção da solicitação [6]. Porém, em
algumas pesquisas, foi verificado que não há diferença significativa na capacidade de
arrancamento de parafusos, quando se consideram as faces tangencial e radial [7-9].
Entretanto, é necessário prudência quanto à generalização dessa informação para todas as
espécies de madeira.

O objetivo desse artigo é avaliar a influência de temperatura da pré-pirólise na capacidade de


arrancamento do parafuso autoatarraxante em corpos de prova da espécie Pinus elliottii, bem
como verificar a influência das direções anatômicas radial e tangencial nesse parâmetro.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais

Neste trabalho, a espécie de madeira utilizada foi a de Pinus elliottii, proveniente de florestas
plantadas do estado de Santa Catarina e extraídas de lotes homogêneos, conforme
especificado pela norma brasileira NBR 7190: 1997 [1]. Os parafusos autoatarraxantes usados
para a confecção dos corpos de prova apresentavam 7 mm de diâmetro e 100 mm de
comprimento e possuiam rosca ao longo de todo o comprimento. O momento de plastificação
característico do parafuso, fornecido pelo fabricante, era de 14 N.m.

2.2 Amostras e corpos de prova

Para esta pesquisa foram usadas duas amostras: uma para a avaliação da influência da
direção anatômica da madeira e outra para a avaliação da temperatura na capacidade de
arrancamento dos parafusos autoatarraxantes. Elas são apresentadas a seguir.

2.2.1 Influência das direções anatômicas

A amostra para avaliação da influência das direções anatômicas na resistência ao


arrancamento é apresentada na Tabela 1. Ela foi separada em 2 grupos de 10 corpos de prova
cada, com massas específicas estatisticamente homogêneas , o que foi verificado pelo teste de
ANOVA [10]. O teor de umidade desses corpos de prova era de aproximadamente 14%.

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Tabela 1: Amostra para avaliação da influência das direções anatômicas da madeira.


Direção Corpos de prova Massa específica (kg/m3) Desvio padrão
Radial 10 418,70 6,25
Tangencial 10 420,12 3,83

2.2.2 Influência da temperatura

A amostra para a avaliação da influência da temperatura na capacidade de arrancamento foi


separada em 3 grupos de 10 corpos de prova cada, com massas específicas estatisticamente
homogêneas, o que foi verificado pelo teste de ANOVA [10] (Tabela 2). O teor de umidade da
amostra era de aproximadamente12%.

Tabela 2: Amostra para avaliação da influência da temperatura.


Temperatura (C) Corpos de prova Massa específica (kg/m3) Desvio padrão
20 10 410,43 22,31
180 10 411,97 21,49
200 10 413,67 21,84

2.2.3 Corpos de prova

As duas amostras, para avaliação da anatômia e da temperatura na capacidade de


arrancamento, possuiam corpos de prova com as mesmas dimensões. Eles apresentavam
largura de 70 mm, altura de 105 mm e comprimento de 140 mm. As medidas foram definidas a
partir do diâmetro do parafuso (d) e da profundidade de penetração do parafuso (lp), conforme
a norma NF EN 1382:1999 [11]. Segundo ela, o corpo de prova deve ter largura de [(5 d) + (5
d)], altura de [lp + (5 d)] e comprimento de [(10 d) + (10 d)]. A aplicação do parafuso foi a 90
em relação às fibras e com a profundidade de penetração de 70 mm (Figura 1).

Figura 1: Corpo de prova (dimensões em mm).

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2.3 Ensaios de capacidade de arrancamento

Os ensaios de arrancamento foram realizados em duas etapas. A primeira etapa consistiu nos
ensaios para a avaliação da influência das direções anatômicas nas capacidades de
arrancamento com os parafusos aplicados nas direções radial e tangencial, enquanto que; a
segunda etapa consistiu nos ensaios para a avaliação da influência da temperatura na
capacidade de arrancamento. Eles foram realizados em 90  30 s, conforme especificado na
norma NF EN 1382:1999 [11], sendo e a velocidade de deslocamento da travessa igual a 2
mm/min. Os testes foram considerados finalizados quando ocorria a redução no valor da carga
devido à ruptura.

2.3.1 Ensaios para a avalição da influência das direções anatômicas

Os ensaios para avaliar a influência das direções anatômicas foram realizados em uma
máquina universal Kratos com uma célula de carga de 200 kN (Figura 2) à temperatura
ambiente de 20 ºC e umidade relativa do ar de 65%.

Figura 2: Aparatos de ensaio: a) máquina universal de ensaios; b) sistema de aquisição de


dados, e; c) corpo de prova fixado ao equipamento, com o auxílio dos suportes.

2.3.2 Ensaios para a avaliação da influência da temperatura

Os ensaios para avaliar a influência da temperatura foram realizados no interior de uma câmara
térmica acoplada a uma máquina universal Kratos, com uma célula de carga de 200 kN. As
temperaturas dos ensaios foram 20 C (temperatura de referência), 180 e 200 C. Os corpos de
prova foram, inicialmente, pré-aquecidos em um forno elétrico, por 240 min e, levados à
câmara térmica aquecida na mesma temperatura do forno elétrico, para a realização do ensaio
mecânico.

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2.4 Análise estatística

Nesta pesquisa foram usados os testes estatísticos Anderson-Darling, Bartlett, ANOVA e teste t
de Student, todos com 5% de significância [10]. O teste Anderson-Darling foi usado para
verificar a normalidade dos grupos, das massas específicas e das capacidades de
arrancamento, de todas as amostras. O teste de Bartlett foi usado para verificar a
homogeneidade das variâncias entre os grupos, das nassas específicas e das capacidades de
arrancamento, de cada amostra. O teste ANOVA foi usado para verificar a igualdade das
massas específicas e das capacidade de arrancamento médias de cada grupo, Quando a
hipótese de igualdade das variâncias das capacidades de arrancamento era rejeitada, a
hipótese de igualdade das médias era verificada por meio do teste t de Student.

2.5 Teor de umidade

Após a finalização de cada ensaio, o teor de umidade de cada corpo de prova foi determinado,
seguindo os mesmos procedimentos especificados na NBR 7190: 1997 [1]. Os parafusos foram
retirados e os corpos de prova pesados em balança de precisão, para a obtenção da massa
antes da secagem. Uma estufa, regulada na temperatura de 103  2 C, foi utilizada para a
secagem dos corpos de prova. O processo foi finalizado quando, em duas pesagens
consecutivas, obteve-se diferença menor ou igual a 0,5%, determinando, portanto, a chamada
massa seca. Os teores de umidade foram calculados a partir da equação 1.

m2  m1
U .100, (1)
m1

sendo:
U : teor de umidade (%);
m1: massa antes da secagem (g);
m2: massa seca (g);

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção são apresentados os resultados das capacidades de arrancamento dos parafusos
autoatarraxantes nas direções tangencial e radial, dos teores de umidade dos corpos de prova
do ensaios de influência da temperatura, no instante de realização dos ensaios, e das
capacidades de arrancamento dos parafusos autoatarraxantes sob ação das temperaturas.

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3.1 Capacidades de arrancamento dos parafusos autoatarraxantes nas direções


tangencial e radial

Os resultados dos ensaios para a determinação da capacidade de arrancamento do parafuso


autoatarraxante nas direções radial e tangencial são apresentados na Figura 2. A hipótese de
igualdade das médias foi aceita, por meio do teste t. Compreende-se que a aplicação do
parafuso autoatarraxante, tanto na direção tangencial quanto na direção radial, não interfere na
capacidade de arrancamento do parafuso autoatarraxante, devido às médias das capacidades
de arrancamento nas direções tangencial (FaxT) e radial (FaxR) serem consideradas
estatisticamente iguais. O resultado obtido corrobora com as conclusões de Hansen, Celebi e
Kilic e Branco et al. [7-9], que afirmam não existir diferença na capacidade de arrancamento do
parafuso, quando se consideram as faces tangencial e radial.

Figura 2: Capacidades de arrancamento radial (FaxR) e tangencial (FaxT).

3.2 Teores de umidade dos corpos de prova do ensaio da influência da temperatura

Os dois grupos da amostra usados nos ensaios de avaliação da influência da temperatura na


capacidade de arrancamento, aquecidos a 180 e 200 ºC, apresentaram teores de umidade de

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0%, após os 240 min de aquecimento. Este resultado era esperado e confirmado pela literatura
[12,13].

De acordo com Bodig e Jayne [14], os efeitos da temperatura e da umidade na madeira não
são facilmente separáveis. Segundo estes autores, em geral, a resistência mecânica tende a
aumentar com a redução da umidade até o teor de umidade de 5%, devido o surgimento de
micro falhas nas células durante a secagem da madeira.

3.3 Capacidade de arrancamento do parafuso autoatarraxantes sob ação de


temperaturas da pré-pirólise

Os valores médios das capacidades de arrancamento do parafuso autoatarraxante sob ação


das temperaturas, assim como, os desvios padrão, são apresentados na Tabela 3. Os
resultados obtidos mostram que as temperaturas elevadas afetam negativamente a capacidade
de arrancamento do parafuso, causando a redução dessa propriedade.
As médias das capacidades de arrancamento sob as temperaturas elevadas apresentaram
diferenças estatisticamente s, em relação àquela obtida à temperatura ambiente. Na última
coluna da Tabela 3, o resultado da comparação de médias pelo teste de ANOVA é
apresentado. As letras diferentes, indicam diferenças estatísticas entre as respectivas médias.
A capacidade de arrancamento obtida a 180 ºC apresentou redução média de 44% em relação
àquela obtida à temperatura ambiente, enquanto que a obtida a 220 ºC apresentou redução de
47%.

Tabela 3: Capacidades de arrancamento sob ação da temperatura.


Temperatura (C) Capacidade de arrancamento (N) Desvio Padrão Análise estatística
20 7836 759 a
180 4390 640 b
200 4116 318 b

Na Figura 3 são apresentados os gráficos de capacidade de arrancamento  deslocamento, um


para cada temperatura de ensaio. Para a temperatura de 20 C, o comportamento do corpo de
prova 2, para a temperatura de 180 C, o comportamento do corpo de prova 5 e para a
temperatura de 200 C, o comportamento do corpo de prova 1.

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Figura 3: Capacidades de arrancamento para a temperatura de 20 C (corpo de prova 2), d


e180 C (corpo de prova 5) de 200 C (corpo de prova 1).

Na literatura, foram encontrados resultados sobre a influência da temperatura na capacidade


de arrancamento de parafusos autoatarraxantes. Frangi et al. [4] propõem reduções nas
resistência ao arrancamento de 75% para a temperatura de 180 C e 80% para a temperatura
de 200 C, após ensaios de tração e cisalhamento em lajes mistas de concreto-madeira,
usando a espécie spruce, que apresentava densidade entre 380 e 400 kg/m3.

A capacidade de arrancamento do parafuso autoatarraxante está associada à resistência ao


cisalhamento da madeira. Segundo Manríquez [13], a 180 ºC, a redução da resistência ao
cisalhamento paralelo às fibras de madeiras da espécie Pinus taeda, com massa específica de
440 kg/m3, é de 53%, enquanto que, a 200 ºC, é de 64%. Para madeira da espécie Eucalyptus
saligna, com massa específica de 775 kg/m 3, 180 C, a redução de 58% e, a 200 ºC, é 71%.
Para madeira da espécie Schizolobium amazonicum, com massa específica de 388 kg/m 3,
redução de 34% para 180 C e 47% para 200 C.

Os resultados obtidos mostram a necessidade de cuidados especiais na elaboração de


projetos de ligações em estruturas de madeira, visto que, a redução da capacidade de
arrancamento foi de quase 50%. O resultado é significativo para uma ligação, por ser,
normalmente, este o componente de maior fragilidade em uma estrutura. Os resultados
corroboram com a proposta de Genhri [2], que sugere um kmod ,para a temperatura, com o
mesmo decréscimo da resistência ao cisalhamento paralelo, presente na norma EN 1995 1-2:
2004 [15].

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4. CONCLUSÃO

Nesta pesquisa, foi avaliada a influência de dois fatores nas capacidades de arrancamento dos
parafusos autoatarraxantes em corpos de prova de Pinus elliottii. O primeiro fator foi em
relação as direções anatômicas radial e tangencial e o segundo foi sobre a temperatura de pré-
pirolise. A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que:

• a aplicação do parafuso na direção radial ou na tangencial gera resultados


equivalentes;
• como esperado, os teores de umidade reduzem para zero, nas temperaturas de 180 e
200 C;
• as capacidades de arrancamento sob as temperaturas da pré-pirólise, de 180 e 200
C, apresentam diferenças estatisticamente significativas, com significância de 5%, em
relação à temperatura ambiente (20 C);
• o valor médio da capacidade de arrancamento do parafuso reduziu em relação à
temperatura ambiente em 44% e 47% para as temperaturas de 180 e 200C,
respectivamente, indicando a necessidade de se considerar esse efeito no
dimensionamento de ligações com parafusos autoatarraxantes.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) pela bolsa Novo Prodoutoral do primeiro autor e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas de Produtividade em Pesquisa
e de Iniciação Científica do segundo e do terceiro autor, respectivamente.

6. REFERÊNCIAS

[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira.
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 1997.
[2] Gehri, E. Light trusses with screwed joints. In: Proceedings of the International RILEM
Symposium, Stuttgart, Germany, p. 143-152, 2001.
[3] Pirnbacher, G.; Schickhofer, G. Load bearing and optimization potential of self-tapping
wood screws. In: World Conference on Timber Engineering (WCTE), 2010.
[4] Frangi, A.; Knobloch, M.; Fontana, M. Fire design of timber-concrete composite slabs with
screwed connections. Journal of Structural Engineering, p. 219-228, 2010.
[5] Buchanan, A. Structural design for fire safety. Wiley, 2001.
[6] Wainright, S. et. al. Mechanical design in organisms, Princeton University Press,
Princeton, New Jersey, 1982.
[7] Hansen, K. Mechanical properties of self-tapping screws and nails in wood. Canadian
Journal of Civil Engineering, Canada, p. 725-733, 2002.

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[8] Celebi, G. Kilic, M. Nail and screw withdrawal strength of laminated veneer lumber made
up hardwood and softwood layers. Construction and Building Materials. Elsevier, 2007.
[9] Branco, J.; Sousa, H.; Lourenço, P. Experimental analysis of Marine pine and Iroko single
shear dowel-type connections. Construction and Building Materials. Elsevier, 2016.
[10] Montgomery, D.; Runger, G. Applied statistics and probability for engineers. 3ª edição.
New York, Wiley, 2003.
[11] European Standard Eurocode. NF EN 1382: Timber structures – Test methods -
Withdrawal capacity of timber fasteners. Brussels, Belgium, AFNOR, 1999.
[12] Moraes, P. Influence de la Temperature sur les Assemblages Bois. These pour l’obtention
du titre de docteur de l’Université Henri Poincaré, Nancy 1. Nancy, France, 2003.
[13] Manríquez, M. Coeficiente de modificação das propriedades mecânicas da madeira
devidos à temperatura. Tese de doutorado. Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 2012,
259 p.
[14] Bodig, J.; Jayne, B. Mechanics of wood and wood composites. Krieger Publishing. Nova
York, 1993. 712 p.
[15] European Standard. Eurocode 5: Design of timber structures. Part 1-2: General rules-
Structural fire design. European Committee for standardization, Brussels, Belgium, 2004.

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COMPORTAMENTO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO DE PILARES


TUBULARES CIRCULARES PREENCHIDOS COM CONCRETO E PILARES
DE DUPLO-TUBO

Aline Lopes João P. Rodrigues Ricardo Hallal Tiago Pires


Camargo* Professor Fakury Professor
Doutoranda Universidade de Professor Universidade Federal
Universidade Federal Coimbra Universidade Federal de Pernambuco
de Minas Gerais, Brasil Portugal de Minas Gerais, Brasil Recife, Brasil

Palavras-chave: pilar, tubular, misto, restrição axial, incêndio.

1. INTRODUÇÃO

A utilização de pilares mistos formados por perfis tubulares de aço preenchidos com concreto
vem crescendo muito recentemente. Isso se deve a diversas vantagens que eles apresentam,
entre elas, a dispensa de fôrmas e o alcance de uma maior força axial resistente, o que
possibilita o uso de seções transversais menores, aumentando o espaço livre na edificação e
reduzindo as despesas de manutenção. Nesse tipo de pilar, cada material funciona de forma
otimizada, enquanto o tubo de aço tem excelentes propriedades estruturais e proporciona
confinamento ideal para o concreto, o núcleo de concreto aumenta a capacidade resistente do
pilar e impede a flambagem local na seção de aço. Observa-se também uma maior resistência
ao fogo sem o uso de sistemas de proteção externa, proporcionando uma condição estetica
mais limpa e agradável. Por conseguinte, um pilar, formado por um perfil de aço tubular

*
Autor correspondente – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais. Avenida
Antônio Carlos, 6625, EE, Bloco 1 - 4o andar, sala 4215, Pampulha. CEP 31270-901 - Belo Horizonte - MG - Brasil. Tel.: +55 31 99278 1486 - email:

alinecamargo@dees.ufmg.br

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preenchido com concreto, quando bem concebido conduz a uma boa solução econômica,
construtiva e arquitetônica.

Existem várias pesquisas sobre o comportamento de pilares mistos formados por perfis
tubulares de aço preenchidos com concreto em situação de incêndio, entre as quais se
destacam os ensaios realizados pelo Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá (NRCC) em
conjunto com o Instituto Americano de Ferro e Aço (AISI) [1], que investigaram a influência do
tipo e das dimensões da seção transversal, da espessura da parede do tubo de aço, da
resistência do concreto, do tipo de agregado e do nível de carregamento. Destacam-se
também os ensaios realizados por Han et al. (2003) [2] com pilares protegidos e sem proteção
externa, os quais tinham como parâmetros as dimensões de seção transversal, a espessura da
parede de aço e a excentricidade. E ainda os ensaios apresentados por Romero et al. (2011)
[3], relacionados a pilares esbeltos com variação no nível de carregamento e no tipo de
concreto de preenchimento. Além dos ensaios podem ser destacadas as pesquisas numéricas,
como as apresentadas por Hong e Varma (2009) [4] e Espinos et al. (2010) [5]. Merece
relevância o trabalho de Pires et al. (2012) [6], no qual se apresenta um estudo experimental e
numérico onde foram considerados os efeitos da restrição ao alongamento térmico. A restrição
é causada pela estrutura circundante do edifício e desempenha um papel fundamental na
estabilidade do pilar em caso de incêndio, uma vez que induz diferentes formas de interação
entre o pilar aquecido e a estrutura adjacente fria. O aumento da rigidez da estrutura
circundante ao pilar sujeito ao incêndio aumenta, não só a restrição axial, mas também a de
rotação, resultando que a primeira reduz o tempo crítico e também a temperatura crítica dos
pilares e a segunda aumenta [7,8].

Em geral, as principais conclusões desses estudos são que o nível de carregamento, as


dimensões da seção transversal, o comprimento de flambagem, a esbeltez e o tipo de concreto
de preenchimento do pilar têm uma influência significativa em sua resistência ao fogo. Outros
parâmetros, como a resistência do concreto e do aço, o tipo de agregados e a excentricidade
do carregamento, têm influência moderada. Por outro lado, a porcentagem de armadura, a
espessura do tubo de aço e a posição das barras de reforço em relação à superfície interna do
tubo de aço apresentam pouca influência na sua resistência ao fogo [6].

A influência da rigidez da estrutura circundante sobre o comportamento de pilares mistos de


seção tubular de aço preenchidos com concreto em situação de incêndio foi estudada por
Pires (2013) [9]. Um conjunto de 40 ensaios de resistência ao fogo foi realizado no Laboratório
de Materiais e Estruturas da Universidade de Coimbra, em Portugal. Os parâmetros
considerados nos ensaios incluíram esbeltez, diâmetro da seção transversal, nível de
carregamento, rigidez da estrutura envolvente, porcentagem de armadura e grau de
preenchimento de concreto dentro do tubo de aço. Recentemente, um novo conjunto de
ensaios, ainda em fase de análise, ocorreu no mesmo laboratório. Novas configurações para a
seção transversal foram ensaiadas, entre elas os pilares mistos de duplo-tubo preenchidos com
concreto.

Nesse sentido, este trabalho apresenta um estudo experimental comparativo sobre a


resistência ao fogo de pilares mistos com seção tubular de aço preenchidos com concreto
simples e armado, apresentados em Pires (2013), e pilares mistos de duplo-tubo preenchidos

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com concreto, ensaiados recentemente. Os pilares mistos de duplo-tubo são compostos por
dois tubos de aço, um externo e outro interno, tendo este último aproximadamente a metade do
diâmetro do tubo externo, ambos preenchidos com concreto [10]. Sendo assim, o núcleo de
concreto e o tubo interno, por ficarem com temperaturas mais baixas sob incêndio, podem
manter sua capacidade resistente.

2. ENSAIOS DE RESISTÊNCIA AO FOGO

2.1 Sistema experimental

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais e Estruturas de Ensaios da


Universidade de Coimbra, Portugal, que dispõe de um sistema de ensaios capaz de simular o
comportamento de um pilar com alongamento térmico restringido em situação de incêndio
(Fig. 1a). O sistema de ensaios, além de outras partes, consiste em um pórtico de restrição
tridimensional com rigidez variável. O pórtico tem a função de simular a rigidez da estrutura
circundante ao pilar em situação de incêndio. O uso de uma armação tridimensional permite
observar não só a rigidez axial, mas também a rotacional, tal como ocorre em estruturas reais.
Ele consiste em quatro pilares e quatro vigas, duas superiores e duas inferiores, dispostas
ortogonalmente para simular os eixos de rigidez axial e rotacional da estrutura envolvente. Os
pilares do pórtico de restrição podem mudar de posição e com isso modificar os valores da
rigidez do entorno da estrutura do pilar a ser ensaiado.

As vigas do pórtico são formadas por perfis HEB300, de aço tipo S355. As ligações entre os
elementos estruturais foram realizadas com quatro parafusos M24, classe 8.8, exceto as
ligações entre os pilares e vigas superiores, onde foram usadas hastes de aço rosqueadas
M27, classe 8.8. Diferentes posições dos furos nas mesas das vigas do pórtico permitem a
montagem dos pilares em várias posições, resultando em valores diversos de rigidez da
estrutura envolvente (Fig.1b). Durante os ensaios, aplicou-se uma carga de compressão axial
constante para simular a carga de serviço. Para isso, foi utilizado um macaco hidráulico com
capacidade total de 3 MN que era controlado por uma célula de carga, colocada entre a viga
superior do pórtico de restrição tridimensional e a cabeça do pistão. O macaco hidráulico foi
fixado num pórtico de reação bidimensional composto por dois pilares HEB500 e uma viga
HEB600, fabricados com aço S355, equipados com parafusos M24 classe 8.8. O quadro de
reação também tem um sistema de segurança para evitar danos à instalação experimental no
caso de colapso repentino do pilar.

A ação térmica foi aplicada por um forno elétrico modular composto por dois módulos de
1,5 m x 1,5 m x 1,0 m e um módulo de 1,5 m x 1,5 m x 0,5 m, colocados um sobre o outro,
formando assim uma câmara de 2,5 m de altura em torno do pilar.

Um dispositivo especial foi construído para medir as forças de restrição geradas nos pilares
durante os enasios de resistência ao fogo (Fig.1c). Ele é constituído por um cilindro oco e rígido
de aço de alta resistência, rigidamente ligado às vigas superiores do pórtico de restrição
tridimensional, no qual foi inserido um cilindro de aço maciço, rigidamente ligado no topo do

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pilar a ser ensaiado. A superfície lateral do cilindro maciço é revestida por Teflon (PTFE)
alinhado para evitar o atrito com o cilindro oco externo. As forças de restrição foram medidas
por uma célula de carga de 3MN, colocada dentro do cilindro de aço oco, que foi comprimido
pelo cilindro de aço maciço devido ao alongamento térmico do pilar durante o ensaio de
resistência ao fogo. Mais detalhes sobre a configuração dos ensaios podem ser encontrados
nas referências [6-9].

K1=13kN/mm K2=128kN/mm
b)

c)
Figura 1: a) Forno; b) variação da rigidez na estrutura circundante; c) equipamento para medir
as forças de restrição.

2.2 Corpos de Prova

Entre os pilares ensaiados, seis pilares com três diferentes seções transversais foram
comparados, dois preenchidos com concreto simples, dois preenchidos com concreto armado e
dois pilares de duplo-tubo peenchidos com concreto (Fig. 2). Todos os pilares ensaiados
possuíam seção tubular de aço S355, com diâmetro externo de 219,1 mm e espessura de
parede de 6 mm para os pilares preenchidos com concreto simples e concreto armado e 8 mm
para os pilares de duplo-tubo. Nestes últimos, o tubo interno possuia diâmetro de 101,6 mm e
espessura de parede de 6 mm. Todos os pilares tinham 3 m de altura, mas apenas 2,5 m da
altura eram expostos diretamente ao aquecimento do forno.

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Os pilares mistos preenchidos com concreto simples e com concreto armado (Fig.2 a e b),
foram preenchidos com concreto classe C25/30, com resistência à compressão aos 28 dias de
33,2 MPa. Os pilares preenchidos com concreto armado foram reforçados com 6 barras de aço
A500, com 12mm de diâmetro. A distância do eixo central da barra longitudinal à superfície
interna da parede do tubo era de 30 mm. Foram utilizados estribos com 6 mm de diâmetro
espaçados de 200 mm. Os pilares de duplo-tudo foram preenchidos com concreto usinado
Betão Liz C30/37. S3XC2(P)D16.C10,4. Porém a resistência almejada C30/37 não foi
alcançada, e o concreto atingiu uma resistência média à compressão aos 28 dias de apenas
28,5 MPa.

a) b) c)
Figura 2: Seções: a) Pilar misto preenchido com concreto simples, b) pilar misto preenchido
com concreto armado c) pilar misto de duplo-tubo.

2.2 Plano de Ensaios

Os valores do carregamento aplicado aos pilares foram 30% do valor da força resistente de
cálculo à temperatura ambiente (Nb,Rd) calculado de acordo com EN1994-1-1 [11]. O nível de
carregamento em pilares mistos de seção tubular de aço preenchidos com concreto, em
estruturas reais geralmente está entre 30% e 50% do valor de projeto de sua força resistente
em temperatura ambiente, considerando o fogo como uma ação acidental como especificado
nas normas [12]. Nos ensaios, foram utilizados dois valores de rigidez da estrutura circundante,
correspondendo a rigidez axial de 13kN / mm e rigidez de rotação de 4091 e 1992kN m / rad
nas direções X1 e X2, respectivamente (rigidez 1) e 128kN / mm de rigidez axial e 5079 e 2536
kN m / rad de rigidez rotacional nas direções X1 e X2, respectivamente, (rigidez 2). Os pilares
P1 a P4 fazem parte do estudo realizado previamente por Pires (2013). Os pilares P5 e P6
fazem parte de um estudo em andamento na Universidade de Coimbra (UC) e Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).

A curva de aquecimento adotada foi a ISO 834 [13].

A Tabela 1 apresenta os parâmetros das colunas ensaiadas.

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Tabela 1: Plano de ensaio


Rigidez Carga
Pilar Dext text Dint tint Armadura fck,28 axial aplicada Nb,rd
(mm) (mm) (mm) (mm) (MPa) (kN/mm) (kN) (%)
P1* 219,1 6 - - 33,2 13 583 30
P2* 219,1 6 - - 33,2 128 583 30
P3* 219,1 6 - - 6ᶲ12mm 33,2 13 633 30
P4* 219,1 6 - - 6ᶲ12mm 33,2 128 633 30
P5** 219,1 8 101,6 6 28,5 13 732 30
P6** 219,1 8 101,6 6 28,5 128 732 30
*Pilares ensaiados por Pires (2013);
**Pilares ensaidos recentemente (estudo em andamento).

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 Temperaturas

A temperatura média no forno foi semelhante em todos os ensaios. Comparando a evolução


dessa temperatura com a curva de fogo ISO834 (Figs. 3-5), observa-se um pequeno atraso nos
primeiros 8 min do ensaio devido à inércia térmica do forno. Esse fenômeno é comum em
fornos elétricos.

Comparando a evolução da temperatura na seção S3, correspondente à seção transversal na


altura média do pilar, pode se observar que, em todos os ensaios, a temperatura no tubo de
aço externo (T1) aumentou muito mais rapidamente do que no concreto e tende a atingir as
temperaturas do forno (Figs. 3-5). Em todos os ensaios pode se observar também que a
temperatura no concreto no centro do pilar (T4), atingiu no máximo 200 oC, no ponto de
colapso, o que significa que o concreto manteve suas propriedades até esse ponto.

Nos pilares com concreto armado, P3 e P4, a temperatura nas armaduras (T5), não chegou a
atingir 400oC, portanto, o aço manteve a sua resistência mesmo após 40 minutos de ensaio
(Fig. 4). Para os pilares de duplo-tubo, as temperaturas no tubo interno (T3), se mantiveram
próximas aos 100oC, preservando assim todas as propriedades do aço, mesmo com 30 ou 40
minutos de ensaio (Fig.5).

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1000 1000
900 900
800 800

Temperature (°C)
Temperature (°C)

700 700
600 600
500 ISO834 500 ISO834

Failure
400 400

Failure
Furnace Furnace
300 300
200 S3T1 200 S3T1
100 S3T2 100 S3T2
0 0 S3T3
S3T3
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30 S3T4
S3T4
Time (min) S3T5 Time (min) S3T5

P1 P2
Figura 3 - Distribuição das temperaturas na seção média dos pilares P1 e P2

1000
900
800
Temperature (°C)
700
600

Failure
500 ISO834
400 Furnace
300
200 S3T1
100 S3T2
0 S3T3
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 S3T4
Time (min) S3T5

P3 P4
Figura 4 - Distribuição das temperaturas na seção média dos pilares P3 e P4

1000 1000
900 900
800 800
Temperature (°C)
Temperature (°C)

700 700
600 600
Failure

500 500
400 400
ISO834
Failure

300 ISO834 300


200 Furnace 200 Furnace
100 100 S3T1
S3T1
0 0
S3T2 S3T2
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
S3T3 S3T3
Time (min) Time (min)
S3T4 S3T4

P5 P6
Figura 5 - Distribuição das temperaturas na seção média dos pilares P5 e P6

3.2 Forças de Restrição

As forças de restrição em função do tempo são representadas na Fig. 6 de forma adimensional,


dividindo o valor absoluto pela carga inicial aplicada (P/P0). Essas forças de restrição relativas
aumentam até um máximo e depois diminuem até voltarem à carga inicial aplicada devido à
degradação das propriedades mecânicas dos materiais (aço e concreto). Foram observados
valores mais elevados para as forças de restrição relativa em pilares de mesma seção
transversal e carregamento quando submetidos a uma maior rigidez da estrutura envolvente

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(Fig. 6-b). Enquanto para os pilares submetidos a uma rigidez mais baixa (P1, P3 e P5), as
forças de restrição ficam em torno de 20%, para os pilares submetidos à ridez mais elevada
(P2, P4 e P6) elas chegam a 80% da carga inicial aplicada.

O comportamento dos pilares tubulares mistos preenchidos com concreto armado (P3 e P4) foi
muito semelhante ao comportamento dos pilares mistos de duplo-tubo (P5 e P6),
principalmente quando submetidos a valores mais baixos de rigidez (Fig. 6-a). Já para os
pilares tubulares preenchidos com concreto simples observa-se uma queda mais acentuada
das forças de restrição após atingirem seus valores máximos.

1,80 1,80

1,60 1,60
1,40 1,40
P/P 0

P/P 0
1,20 P1 1,20 P2
1,00 P3 1,00 P4
0,80 P5 P6
0,80
0,60 0,60
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60
Tempo (min) Tempo (min)

a) b)
Figura 6 - Forças de restrição para rigidez da estrutura circundante de13 kN/mm (a) e
128 kN/mm (b).

3.3 Deformações axiais

As deformações axiais dos pilares em função do tempo são apresentadas na figura 7. Elas se
desenvolveram de forma muito semelhante às forças de restrição. Os resultados indicam que a
rigidez da estrutura circundante influencia o desenvolvimento das deformações axiais. Em
geral, um aumento nesse parâmetro significa uma redução nas deformações (Pires, 2013).

15,0 15,0
Deformação axial (mm)

Deformação axial (mm)

10,0 10,0
5,0 5,0
0,0 P1 0,0 P2
-5,0 P3 -5,0 P4
-10,0 P5 P6
-10,0
-15,0 -15,0
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60
Tempo (min) Tempo (min)

a) b)
Figura 7 - Deformações axiais para rigidez da estrutura circundante de13 kN/mm (a) e
128 kN/mm (b).

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Os pilares com duplo-tubo (P5 e P6) apresentaram deformações menores comparadas aos
outros pilares, cerca de metade da deformação registrada para os pilares preenchidos com
concreto simples (P1 e P2) e concreto armado (P3 e P4). Assim como ocorreu com as forças
de restrição, os pilares preenchidos com concreto simple (P1 e P2) se contraíram mais
abruptamente após atingirem o alongamento máximo.

3.4 Tempo Crítico

Os ensaios realizados não foram ensaios padrão de resistência ao fogo, portanto foi mais
apropriado usar o conceito do tempo crítico em vez da resistência do fogo [14]. Tempo crítico
está aqui definido como o instante em que as forças de restrição retornam ao valor da carga
inicial aplicada, após terem atingido um valor máximo devido ao alongamento térmico
restringido do pilar e, em seguida, diminuindo devido à degradação das propriedades
mecânicas do aço e do concreto à medida que a temperatura aumenta (Pires, 2013).

Os tempos críticos obtidos nestes ensaios são apresentados na Tabela 2. Os resultados


mostram que a alteração da rigidez da estrutura circundante normalmente leva a uma pequena
redução no tempo crítico, exceto no caso do pilar tubular misto preenchido com concreto
armado. Os pilares mistos de duplo tubo (P5 e P6) apresentaram um tempo crítico inferior aos
pilares mistos preenchidos com concreto armado (P3 e P4). Não representado assim um ganho
em relação aos mesmos. No entanto, se comparados aos pilares mistos preenchidos com
concreto simples (P1 e P2), os pilares de duplo-tubo apresentaram um tempo crítico cerca de
30% superior.

Tabela 2: Tempo crítico


Pilar Rigidez axial Tempo Crítico
(kN/mm) (min)
P1 13 27
P2 128 21
P3 13 43
P4 128 46
P5 13 38
P6 128 27

4. CONCLUSÕES

A partir dos resultados, pode se concluir que os pilares tubulares mistos preenchidos com
concreto armado e os pilares mistos de duplo-tubo têm um comportamento muito semelhante
em termos de tempos críticos (resistência ao fogo), e ambos apresentam um ganho substancial
em relação aos pilares mistos preenchidos com concreto simples, no mínimo 30%. Além disso,
uma maior rigidez da estrutura envolvente leva a maiores forças de restrição, redução das
deformações axiais dos pilares e também a tempos críticos mais baixos, porém essa diferença
não é significativa.

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5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Research Fund for Coal and Steel (RFCS), da União Europeia, pelo
suporte através do Projeto de Pesquisa FRISCC (RFSR-CT-2012-00025).

6. REFERÊNCIAS

[1] Kodur V. K. R. (1999) "Performance-based fire resistance design of concrete-filled steel


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Constructional Steel Research, 77, 82-94 pp.
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steel columns with restrained thermal elongation." Journal of Constructional Steel
Research, Vol. 67, 593-601 pp.
[8] Correia, A. J. P. M. and Rodrigues, J. P. C.(2012). "Fire resistance of steel columns with
restrained thermal elongation." Fire Safety Journal, Vol. 50, 1-11 pp.
[9] Pires, T. A., (2013). Fire Resistance of Concrete Filled Steel Circular Hollow Columns With
Restrained Thermal Elongation. PhD thesis, Dept. of Civil Engineering, Faculty of
Sciences and Technology of the University of Coimbra, 2013, 207 pp.
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and rules for buildings. CEN - European Committee for Standardization; 2004.
[12] Kodur, V. K. R. and Fike, Rustin (2009). "Response of Concrete-Filled HSS Columns in
Real Fires." Engineering Journal, Fourth Quarter, 243-256 pp.
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exposed to fire. CEN - European Committee for Standardization; 2002.
[14] EN 1994–1–2. Design of composite steel and concrete structures. Part 1-2: general rules –
structural fire design. CEN - European Committee for Standardization; 2005

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COMPORTAMIENTO Y DISEÑO DE VIGAS COMPUESTAS DE ACERO Y


HORMIGÓN EN SITUACIÓN DE INCENDIO

Yisel Larrúa Pardo* Rafael Larrúa Valdir Pignatta


Profesora Quevedo Silva*
Universidad de Profesor Profesor
Camagüey, Cuba Universidad de Universidad de Sao
Camagüey, Cuba Paulo, Brasil

Palabras claves: vigas compuestas, conexiones, incendio, modelación, diseño estructural.

1. INTRODUCCIÓN

Conocer el comportamiento térmico de las vigas compuestas de acero y hormigón a elevadas


temperaturas, es complicado debido a los diferentes materiales que las componen. El estudio
de las conexiones en situación de incendio es fundamental pues la rigidez, la resistencia y la
ductilidad de las mismas se modifican bajo la acción de las altas temperaturas e influyen
sensiblemente en el comportamiento a flexión de las estructuras compuestas, lo cual es un
fenómeno no estudiado con el alcance integral y la profundidad que exige la extensa gama de
situaciones de proyecto que se presentan en la práctica constructiva internacional [1, 2].

Los métodos simplificados disponibles en la literatura técnica internacional para el diseño de


las vigas compuestas en situación de incendio no siempre son prácticos, racionales y válidos
para cualquier situación de diseño. Además, requieren datos térmicos que implican laboriosos
cálculos por métodos simplificados de obtención de las temperaturas, los cuales no siempre
resultan económicos; o datos térmicos precisos determinados por programas especializados
que no siempre están disponibles en el medio técnico.

Por tanto, el objetivo central del presente trabajo es evaluar el comportamiento termo-
estructural de las vigas compuestas de acero y hormigón con losa maciza en situación de
incendio y proponer o perfeccionar métodos de diseño simplificados para las conexiones y las

*
Autor para la correspondencia. Av. Prof. Almeida Prado – TRAV. 2, 83 – 05508-900 – São Paulo – SP – BRASIL. TEL.: 55 11 3091-5246 /

5607 – FAX: 55 11 3091 5181. valpigs@usp.br

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verificaciones a momento flector y a cortante vertical, a partir de temperaturas determinadas


por métodos avanzados.

2. ANTECEDENTES

A partir de la revisión del estado del conocimiento en el ámbito se aprecian como principales
regularidades y tendencias las siguientes:

- Las investigaciones experimentales de conexiones en situación de incendio desarrolladas


hasta el presente [3, 4, 5, 6] cuentan con la limitación de no abarcar todas las situaciones
de diseño declaradas en los alcances del EN 1994-1-2: 2005 [7], especialmente en lo
referido a la relación entre la altura y el diámetro del conector tipo perno, y la
consideración del revestimiento térmico en la evolución de las temperaturas.

- No se reportan ensayos experimentales ni expresiones de diseño en situación de incendio


de conexiones tipo canal, de amplio uso en la práctica constructiva, por lo que es factible
evaluar su comportamiento a elevadas temperaturas, con base en lo desarrollado para la
conexión tipo perno, a modo de un primer acercamiento que permita orientar futuras
experimentaciones.

- La ausencia en la literatura técnica internacional de métodos simplificados directos para la


verificación de las resistencias a momento flector y a cortante vertical de vigas
compuestas en situación de incendio, conduce a la necesidad de desarrollar métodos
gráficos alternativos para dichas verificaciones, a partir de la determinación de
temperaturas por métodos avanzados.

3. MODELACIÓN TÉRMICA DEL ENSAYO PUSH-OUT Y DE LA SECCIÓN TRANSVERSAL


DE VIGAS COMPUESTAS DE ACERO Y HORMIGÓN

Para realizar el análisis térmico se utiliza el módulo térmico Super Tempcalc [8] del programa
Temperature Calculation and Design (TCD) desarrollado por FSD (Fire Safety Design, Suecia).

La geometría del espécimen push-out de Kruppa y Zhao [3] ofrece la base para realizar la
modelación térmica bidimensional del ensayo push-out de conexiones tipo perno para un
dominio coincidente con la sección transversal en el plano medio de los conectores. Se incluye
cuando procede el revestimiento contra incendio mediante la solución tipo contorno.

La modelación de la geometría de la conexión tipo canal, se realizó en el plano de la sección


transversal que pasa por el alma de la canal. Como el enfoque de modelación bidimensional
adoptado, no permite la inclusión de las alas del conector canal, se realizó un estudio previo,
por medio de modelos bidimensionales en un plano perpendicular a la sección transversal. Se
demostró que la influencia de las alas en la evolución de las temperaturas no es significativa
con un 95 % de confianza.

En la modelación de la geometría de la sección transversal de la viga compuesta de acero y


hormigón fueron analizados modelos compuestos por perfiles laminados de sección I y losa

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maciza de hormigón armado. El tipo y los espesores de revestimiento contra incendio


considerados coinciden con los adoptados para la modelación del ensayo push-out.
La figura 1 muestra ejemplos de la geometría de los modelos realizados.

Figura 1: Modelación de la geometría.

Los parámetros físicos y térmicos de los materiales fueron asumidos según las
recomendaciones del EN 1994-1-2: 2005 [7]. En el acero, la conductividad térmica y el calor
específico se consideraron como propiedades dependientes de la temperatura y para la
densidad se estableció un valor de independiente de la temperatura igual a 7850 kg/m 3 según
lo recomendado por el propio código. La conductividad térmica del hormigón de peso normal,
de acuerdo con el EN 1994-1-2: 2005 [7], es también una propiedad dependiente de la
temperatura y debe determinarse entre el límite superior y el límite inferior definidos en ese
código [7, 9, 10].

Se consideró apropiado evaluar la sensibilidad de las temperaturas al uso de uno u otro límite,
dado que la sección transversal de los especímenes push-out no coincide exactamente con las
utilizadas por Schleich [10] en la definición del límite superior. Por otra parte, el calor específico
del hormigón de peso normal fue incluido como una propiedad dependiente de la temperatura,
en tanto la densidad se toma como un valor independiente de la temperatura en el intervalo
entre 2300-2400 kg/m3.

En cuanto a la definición de las acciones térmicas, en la superficie expuesta, los flujos de calor
por convección y radiación proceden de los gases calientes del ambiente en llamas cuyo
calentamiento fue modelado por medio de la curva ISO 834 [11]. En la concepción de la
modelación desarrollada, se asume el valor del coeficiente de convección (c) igual a 25
W/(m2.K) y la emisividad resultante (r) igual a 0,7, según lo definido en el EN 1991-1-2: 2002
[12] y el EN 1994-1-2: 2005 [7] para la curva de fuego estándar ISO 834 [11].

4. CONEXIONES

Se realiza el análisis de los resultados de la modelación térmica del ensayo push-out a


elevadas temperaturas de las conexiones tipo perno y tipo canal, en estructuras compuestas de
hormigón y acero con tipología de viga y losa maciza para vigas metálicas sin revestimiento
contra incendio (SR), y vigas metálicas con revestimiento contra incendio (CR). El objetivo del
estudio es proponer porcientos de temperaturas para la determinación de los factores de
reducción de la resistencia de los materiales en situación de incendio, evaluar el impacto que

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tiene en la resistencia de las conexiones usar métodos simplificados de obtención de


temperatura en la sección de acero y proponer métodos gráficos alternativos para el diseño a
elevadas temperaturas de ambas conexiones.

El estudio de la influencia en la evolución de las temperaturas de las propiedades térmicas del


hormigón, las características geométricas de los conectores, el espesor y las propiedades
térmicas del revestimiento, a partir resultados de la modelación térmica bidimensional del
ensayo push-out en situación de incendio, permitió proponer los porcientos a utilizar para
determinar las temperaturas en la conexiones, dependientes de los factores de mayor impacto.

4.1 Conexión tipo perno

Los valores porcentuales propuestos para determinar la temperatura en el hormigón, basados


en la relación de la temperatura promedio en el hormigón entre la temperatura promedio del ala
del perfil (θc/θf), están asociados al nivel de determinación de la temperatura del hormigón a un
cuarto de la altura del conector, que resulta a su vez, dependiente de la altura del conector.

Para vigas sin revestimiento las relaciones de temperatura propuestas se corresponden con el
intervalo de tiempo de exposición al fuego 0-30 minutos, debido a que, el rango de trabajo en
situación de incendio de las mismas no excede ese entorno. Para vigas con revestimiento las
relaciones de temperatura se determinaron en los rangos de 0-30, 0-60, 0-90 y 0-120 minutos.
A los efectos de simplificar los resultados, se realizó un análisis de sensibilidad del impacto de
los resultados en la resistencia de la conexión que condujo a la propuesta final de relaciones de
temperatura. Se adoptan los valores correspondientes al rango de 0-120 minutos, resultado
que queda del lado de la seguridad respecto a los rangos menores de exposición al fuego.

Los porcientos propuestos para determinar la temperatura en la conexión tipo perno se


muestran en la tabla 1. Puede observarse que los porcientos para determinar la temperatura en
el hormigón varían en función de la altura del conector. Esto ratifica que el porciento propuesto
por el EN 1994-1-2: 2005 [7], igual a 40 %, para determinar la temperatura en el hormigón no
es válido para todas las situaciones de diseño dentro del alcance del código. Puede apreciarse
además, que los porcientos propuestos para determinar las temperaturas en el hormigón y el
conector para vigas con revestimiento contra incendio, son mayores que los propuestos para
vigas sin revestimiento. Lo anterior se manifiesta en mayor medida en los porcientos para
determinar la temperatura en el hormigón, que son considerablemente mayores al 40 %
adoptado por el EN 1994-1-2: 2005 [7] y a los porcientos propuestos en el presente trabajo
para vigas sin revestimiento.

4.1.2 Validación respecto a resultados experimentales

Para validar los resultados alcanzados se utilizó el mismo planteamiento del método de cálculo
simplificado del EN 1994-1-2: 2005 [7], pero se determinaron los factores de reducción de la
resistencia de los materiales (kc,θ y ku,θ), a partir de temperaturas en el hormigón y el acero de la
conexión, calculados por los porcientos de temperaturas propuestos en la tabla 1. Los valores
de la resistencia de la conexión en situación de incendio obtenidos (Pfi,Rd) se comparan con
resultados experimentales y se demuestra que existe un buen ajuste entre los resultados del

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método propuesto, especialmente de la rama que caracteriza al fallo del conector, con los
resultados experimentales considerados (ver figura 2).

Tabla 1: Porcientos θv/θf y θc/θf para determinar la temperatura en los componentes de la


conexión tipo perno.
Vigas sin revestimiento Vigas con revestimiento contra incendio
contra incendio
Altura Para Para Para Para determinar la temperatura en
del determinar la determinar la determinar la el hormigón θc/θf (%)
conector temperatura temperatura en temperatura Espesor Espesor Espesor
(mm) en el conector el hormigón en el conector de 10 mm de 25 mm de 40 mm
θv/θf (%) θc/θf (%) θv/θf (%)
50 60 80 85 90
60 55 80 85 90
75 50 75 80 85
75 85
90 45 75 80 85
100 45 70 75 85
125 40 70 75 80

Figura 2: Comparación entre el método propuesto y resultados experimentales.

Los valores del diámetro del conector (d), de la resistencia característica a tracción del acero
(fu) y de la resistencia a compresión del hormigón (f´ c), mostrados en la figura 2, se
corresponden con los valores de la experimentación analizada. Cuando se modela con las
condiciones experimentales de Kruppa y Zhao [3], los porcientos obtenidos son aproximados a
los derivados del experimento y adoptados por el EN 1994-1-2: 2005 [7], lo que valida los
criterios seguidos en la modelación térmica.

4.1.3 Impacto de los resultados en la determinación de la resistencia de las conexiones tipo


perno a elevadas temperaturas

En la figura 3 se muestran ejemplos que ilustran las diferencias en la predicción de la


resistencia cuando se utilizan los porcientos establecidos en el EN 1994-1-2: 2005 [7] y cuando
se utilizan los porcientos propuestos en el presente trabajo, tanto para vigas sin revestimiento
contra incendio (figura 3 a) como para vigas con revestimiento (figura 3 b), para una altura del
conector (hsc) igual a 100 mm, diámetro del conector igual a 19 mm, f´ c igual a 20 MPa y fu igual

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a 415 MPa. La diferencia en la predicción de la resistencia de la conexión es significativa y


llega a ser de un 15 %. Lo anterior es muestra de que en algunas situaciones de diseño dentro
del alcance del código EN 1994-1-2: 2005 [7] puede ser sobreestimada la resistencia de la
conexión.

(a) (b)
Figura 3: Predicción de la resistencia a elevadas temperaturas. (a) Vigas sin revestimiento, (b)
Vigas revestidas con espesor de 25 mm.

4.1 Método gráfico alternativo para determinar la resistencia de la conexión tipo perno
en situación de incendio

Para la confección del método gráfico simplificado se parte de los diseños de experimentos
realizados para vigas sin revestimiento contra incendio y para vigas revestidas. Para vigas sin
revestimiento los factores evaluados son: altura del conector, el diámetro del conector, la
resistencia del acero del conector y la resistencia a compresión del hormigón. Para vigas con
revestimiento se incluyen además la conductividad y el espesor del material de revestimiento
contra incendio.

Para todas las variantes analizadas se determina la relación (Pfi,Rd/PRd) y se agrupan las
combinaciones que ofrecen resultados similares (Tabla 2), de manera que, una vez conocida la
resistencia a temperatura ambiente de la conexión (P Rd), solamente es necesario multiplicar
este valor por la relación obtenida en el gráfico para conocer su resistencia a elevadas
temperaturas (Pfi,Rd). En la figura 4 se puede observar el gráfico para determinar la resistencia
de la conexión tipo perno a elevadas temperaturas en vigas compuestas sin revestimiento
contra incendio.

Tabla 2: Características de los grupos para vigas compuestas sin revestimiento contra incendio.
Grupo d (mm) fu (MPa) f’c (MPa) hsc(mm)
1 16, 19, 22 415 30 y 40 100
16, 19, 22 500 40 100
16 415 40 50
2 16 500 40, 30 y 20 50
16 415 30 y 20 50
3 16, 19, 22 500 30 100
4 16, 19, 22 415 y 500 20 100

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Figura 4: Gráfico para determinar la resistencia de la conexión tipo perno a elevadas


temperaturas en vigas compuestas sin revestimiento contra incendio.

4.2 Vigas compuestas de acero y hormigón con conexión tipo canal

El análisis térmico del ensayo push-out a elevadas temperaturas de la conexión tipo canal,
tiene como referencia los criterios relativos a la conexión tipo perno. Se fundamentan las
relaciones que permiten obtener las temperaturas en la conexión, en un conjunto de
situaciones de diseño representativas de la práctica constructiva internacional y con validez
tanto para vigas sin revestimiento contra incendio como para vigas revestidas.

La tabla 2 muestra los resultados de las relaciones definitivas propuestas para determinar la
temperatura en la conexión tipo canal, expresadas en porcentajes.

Tabla 2: Porcientos para determinar la temperatura en la conexión tipo canal en vigas sin
revestimiento contra incendio.
Vigas sin revestimiento Vigas con revestimiento
Altura del Para Altura del Ancho del Para determinar la temperatura
conector determinar la conector conector en el hormigón θc/θf (%)
(mm) temperatura en (mm) (mm) Espesor Espesor Espesor
el hormigón de 10 de 25 de 40
θc/θf (%) mm mm mm
76,2 55 76,2 50 50 70 80
101,6 50 100 100 75 80
127 45 150 150 80 85
101,6 y 50 65 70 75
127 100 70 75 80
150 75 80 85

En el conector canal los porcientos obtenidos son mayores y en vigas con revestimiento
dependen, además, del ancho del conector. Esto se debe a que el ancho del conector canal
provoca que se manifieste en mayor medida el efecto sumidero (los conectores absorben calor
y provocan la reducción de la temperatura promedio del ala del perfil) por lo que las
temperaturas en el hormigón son más cercanas a las del ala del perfil. Por último, se
confecciona el método gráfico alternativo para el diseño de conexiones tipo canal en situación

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de incendio con los mismos criterios y procedimientos considerados referentes al método


gráfico alternativo para el diseño de la conexión tipo perno.

Los métodos (simplificado y gráfico alternativo) propuestos para el diseño de la conexión tipo
canal a elevadas temperaturas, permiten hacer valoraciones preliminares del comportamiento
termo-estructural de la conexión tipo canal, a ser consideradas en futuros programas
experimentales.

5. SECCIONES TRANVERSALES DE VIGAS COMPUESTAS.

Se propone un método gráfico alternativo para el diseño de vigas compuestas de acero y


hormigón a elevadas temperaturas, que asegura las verificaciones a momento flector y a
cortante vertical, y permite determinar directamente y con facilidad el TRF de una viga dada y
tiene además implícito, las determinaciones de temperaturas por métodos avanzados.

Para la elaboración del método gráfico, se parte de modelaciones térmicas de la sección


transversal de vigas, con o sin revestimiento contra incendio, por medio del programa Super
Tempcalc [8], y se complementa con el diseño estructural realizado por medio del programa
SCBEAM, herramienta computacional desarrollada en el trabajo. En el caso de las secciones
con vigas revestidas se utilizaron datos combinados de origen numérico (Super Tempcalc +
SCBEAM) y los provenientes de predicciones con inteligencia artificial (IA), con vistas a facilitar
el proceso de la investigación.

Como paso preliminar a la selección de los parámetros a considerar en el método gráfico


alternativo se evalúa la influencia de un conjunto de factores en la degradación de la
resistencia a momento flector y a cortante vertical. La geometría de la losa de hormigón
armado, la resistencia de los materiales (acero y hormigón) y el grado de interacción, no
influyen significativamente en la degradación del momento flector y del cortante vertical, lo que
conduce a notables simplificaciones en el planteamiento del método gráfico. Estos gráficos se
presentan en [13].

5.1 Procedimientos para la elaboración del método gráfico alternativo para el diseño de
vigas sin revestimiento contra incendio

A los efectos de obtener los gráficos o ayudas de diseño del método gráfico alternativo se
siguieron los siguientes pasos:

a) Se adoptaron niveles que garantizan resultados en favor de la seguridad (ho = 0,10 m, be =


2,0 m, f´c = 50 MPa, fy = 250 MPa (para las determinaciones de μ) y f y = 350 MPa (para las
determinaciones de ʋ). Se adopta el criterio de diseño de interacción completa.

b) Bajo los criterios del ítem anterior y para una selección de 32 perfiles W, se realizó el
análisis térmico de las secciones transversales por medio del programa Super Tempcalc.

c) A partir de la salida de resultados en formato Microsoft Excel del Super Tempcalc, se


realizó el análisis estructural de las secciones analizadas, por medio del programa de

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cómputo SCBEAM, con criterios de seguridad válidos para Cuba y Brasil. Se


determinaron entonces, los valores del momento y cortante resistente de cálculo a
temperatura ambiente (MRd; VRd) y en situación de incendio (MRd,fi; VRd,fi) y los parámetros
μ (MRd, fi / MRd) y ʋ (VRd, fi / VRd), para TRF entre 0 a 40 minutos.

d) Se representaron gráficamente los resultados del ítem anterior y se puso de manifiesto la


cercanía entre varias de la curvas μ en función del TRF y ʋ en función del TRF. Se
valoraron por separado los grupos de curvas próximas y fueron tomados los menores
valores de μ o ʋ para cada tiempo de exposición al fuego, en favor de la seguridad,
generándose curvas válidas para un grupo dado de perfiles.

5.2 Método gráfico alternativo para el diseño de vigas con revestimiento contra incendio

En vigas con revestimientos contra incendio la información que es necesaria generar para la
obtención de los gráficos, debe considerar las 9 combinaciones antes citadas para los 32
perfiles seleccionados, lo que implica la realización de 288 modelos térmicos. Debido a esto, en
el caso de las secciones con vigas revestidas es conveniente utilizar datos combinados de
origen numérico (Super Tempcalc + SCBEAM) y los provenientes de predicciones con
inteligencia artificial (IA), con vistas a facilitar el proceso de la investigación.

Se parte de realizar un estudio en vigas sin revestimiento contra incendio, en las que se
conocen todas las respuestas, con el objetivo de seleccionar la combinación de técnicas de
inteligencia artificial con mejores resultados en la predicción y determinar hasta qué punto
puede disminuirse el conjunto de entrenamiento sin afectar la efectividad de la predicción. Los
resultados del estudio realizado en vigas sin revestimiento se tomaron en cuenta en el proceso
para la construcción de los gráficos de μ y ʋ en función del TRF en vigas con revestimiento
contra incendio.

6. CONCLUSIONES

Los métodos gráficos desarrollados para el diseño de las conexiones tipo perno y tipo canal en
situación de incendio, constituyen una alternativa que permite obtener de forma directa y rápida
la resistencia a elevadas temperaturas de las conexiones, para un TRF dado, en función de su
resistencia a temperatura ambiente, y tienen como valor adicional la determinación de las
temperaturas por métodos avanzados.

Los resultados de la modelación térmica bidimensional de vigas compuestas de acero y


hormigón en situación de incendio, complementados con determinaciones estructurales por
medio de la herramienta computacional SCBEAM, permitieron determinar la influencia de
diferentes parámetros en la degradación de las resistencias a momento flector y a cortante
vertical, y desarrollar un método gráfico alternativo, basado en datos combinados de
modelación termo-estructural y de predicciones por medio de técnicas de inteligencia artificial,
para determinar directamente y con facilidad el TRF de una viga dada.

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7. AGRADECIMENTOS

Los autores desean agradecer a CAPES (Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de


nível superior), a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) y a
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por el apoyo
brindado para el desarrollo de la investigación.

8. REFERENCIAS

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Leonardo da Vinci Pilot Project CZ/02/B/F/PP-134007. Luxemburgo, vol.1-2, 2005.
[11] International Organization for Standardization (1990). ISO 834: Fire-Resistance Tests.
Elements of building construction, Part 1.1: General requirements for fire resistance
testing. Geneva: International Organization for Standardization. (Revision of edition ISO
834:1975).
[12] European Committee for Standardization. Eurocode 1 (EN 1991-1-2): Actions on
structures - part 1.2: General actions - Actions on structures exposed to fire. Brussels:
CEN, 2002.
[13] Pardo, Y. L. Comportamiento termo-estructural y diseño de vigas compuestas de acero y
hormigón en situación de incêndio. Tesis presentada en opción al grado científico de
Doctor en Ciencias Técnicas. Universidad Central “Marta Abreu” de Las Villas. Santa
Clara, Cuba. 2016.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

CONFIABILIDADE DE PILARES DE MADEIRA EM SITUAÇÃO DE


INCÊNDIO

Auro Cândido Poliana Dias de


Marcolan Júnior* Moraes
Doutorando Professora
Universidade Federal Universidade Federal
de Santa Catarina de Santa Catarina
Florianópolis, Brasil Florianópolis, Brasil

Palavras-chave: Confiabilidade estrutural, pilares, madeira, incêndio.

1. INTRODUÇÃO

Existem métodos simplificados e avançados para a determinação da resistência de elementos


estruturais de madeira em situação de incêndio. Nos métodos simplificados, a avaliação é feita
a partir da seção transversal, residual a qual é determinada a partir da taxa de carbonização da
madeira e da redução das propriedades mecânicas material. Nos métodos avançados, a
avaliação é feita pelo método dos elementos finitos.

Estima-se a segurança de elementos estruturais em situações normais e de incêndio por meio


de métodos de avaliação de risco que usam equações de estado limite. A segurança dos
elementos estruturais dada pelas normas atuais é garantida por coeficientes de segurança, que
são calibrados por meio da aplicação da confiabilidade estrutural, permitindo que o usuário final
possa trabalhar com problemas semi-probabilísticos, mas ainda assim manter níveis de
confiabilidade aceitáveis [1].

O objetivo desta pesquisa é avaliar a influência da relação base e altura (b/h) nos critérios de
falha das equações de estado limite para um pilar de madeira em situação de incêndio e definir
as variáveis aleatórias de maior influência na análise de confiabilidade desse elemento
__________________________
Autor correspondente – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Catarina. Rua Jjoão Pio
Duarte, s/n, Córrego Grande. Caixa Postal: 476 CEP: 88040900 – Florianópolis - RS - Brasil. Tel.: +55 48 3721 9370. e-mail: auro.marcolan@yahoo.com.br

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estrutural. Para isso, são apresentadas equações de estado limite, deduzidas a partir do
método simplificado da seção reduzida, e considerando-se a compressão, a flexo-compressão
e a estabilidade, conforme os critérios da norma NBR 7190:1997 [2]. Adicionalmente, será
realizado um estudo de caso de pilar submetido a carregamento vertical concentrado e lateral
uniformemente distribuído, baseadas na norma e no método da seção reduzida.

2. PILARES DE MADEIRA EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Os pilares de madeira em situação de incêndio apresentam redução de seção transversal


devida à carbonização da madeira. Essa redução pode ser determinada facilmente pelo
método da seção reduzida [3]. Ele permite determinar a espessura da camada carbonizada de
madeira. Para um pilar com quatro faces expostas ao incêndio e desprezando-se os
arredondamentos das arestas (Figura 1), as dimensões da seção residual em função do tempo
de exposição ao incêndio (t) são calculadas pelas equações (1a) e (1b).

B  b  (2  tcarb  t ) (1a)
H  h  (2  tcarb  t ) (1b)

onde tcarb é a taxa de carbonização e t é o tempo de exposição ao incêndio.

Figura 1: Carbonização da seção transversal (adaptado) [4]

2.1 Confiabilidade Estrutural – Método de confiabilidade de primeira ordem (FORM)

A confiabilidade estrutural tem como objetivo quantificar e avaliar a segurança de estruturas a


partir da teoria da probabilidade, por meio do cálculo de probabilidades de falha relacionadas
ao sistema estrutural. Para isto, requisitos básicos dos sistemas estruturais podem ser
definidos na forma de equações de estado limite, a fim de quantificar a probabilidade de falha
destes requisitos [1]. Utilizando o método de confiabilidade de primeira ordem (FORM),
problemas de confiabilidade são resolvidos de maneira aproximada, pela linearização da
equação de estado limite. Tal aproximação é construída sobre o chamado ponto de projeto,
definido como sendo o ponto sobre a equação de estado limite em que é obtida a menor
distância entre a origem e a equação de estado limite. A menor distância é usualmente
representada por β e denominada índice de confiabilidade.

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A probabilidade de falha dos sistemas estruturais pode ser calculada utilizando-se a função de
distribuição acumulada normal padrão, Φ(.), e inserindo nela o índice de confiabilidade β [5-6].
Assim a probabilidade aproximada pode ser definida como:

Pf  (  ) (2)

2.2 Variáveis aleatórias de um pilar em situação de incêndio

As variáveis aleatórias em um pilar em situação de incêndio são: ações permanentes (G),


ações variáveis (Q), ação da pressão dinâmica do vento (w), resistência paralela às fibras da
madeira (fco), módulo de elasticidade paralelo às fibras (Eco) e a taxa de carbonização da
madeira (tcarb). Elas serão consideradas na obtenção das equações de estado limite usadas
para avaliação da confiabilidade estrutural.

2.3 Equações de estado limite

De acordo com a NBR 7190 [2], para o dimensionamento de um pilar de madeira, em


temperatura ambiente, submetido a carregamento transversal e axial centrado são
considerados critérios de resistência à compressão, à flexo-compressão e de estabilidade.
Estes critérios foram usados para a dedução de quatro equações de estado limite, as quais
foram usadas na análise de confiabilidade. As equações foram adaptadas para o
dimensionamento de pilares em situação de incêndio por meio do método da seção reduzida
[3]. O estado limite de compressão é representado pela Equação 3, o estado limite de flexo-
compressão é dado pela Equação 4. O estado limite de estabilidade é representado por três
equações: para pilar curto (Equação 4), medianamente esbelto (Equação 5) e esbelto
(Equação 9).

A equações de estado limite desenvolvidas para a compressão do pilar tem como base a seção
7.3.2 da NBR 7190:1997 [2], resultando Equação 3, em que fco é a resistência paralela às fibras
da madeira:

G  Q 
g1  fco  (3)
BH

Para a flexo-compressão levou-se em consideração a seção 7.3.5 da NBR 7190:1997 [2].


Considerando o carregamento lateral somente na direção com a maior inércia, chega-se a
Equação 4:

2
 GQ  3   w  .L2
g2  1     2
(4)
 B  H  fco  4  B  H  f co

A estabilidade é avaliada na seção 7.5 da NBR 7190:1997 [2] e estabelece a divisão da análise
em três casos, conforme o índice de esbeltez da peça. Para um indíce de esbeltez com valor

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inferior a 40, considera-se a compressão de peças curtas, neste caso avalia-se somente a
flexo-compressão da peça, utilizando a Equação 4. Para um índice de esbeltez de 40 < λ ≤ 80
considera-se a compressão de peças medianamente esbeltas, conforme a Equação 5.

 FE 
 G  Q  .e1.  
g3  1  
 GQ   FE   G  Q   (5)

 B  H  fco  f co  Wc

em que e1 é a exentricidade de primeira ordem(Equação 6). Wc é o módulo de inércia. A


exentricidade inicial ei (para a direção em que está sendo aplicada a carga lateral Equação 7),
pra a outra direção ei é igual ao valor míniimo h/30. FE é a carga crítica e é dada pela Equação
8, nesta equação I é o momento de inércia da seção transversal da peça relativo ao plano de
flexão em que está se verificando.

L
e1  ei  (6)
300

ei 
 w L2
(7)
8  G  Q 

2 EI
FE = (8)
L2

Para um índice de esbeltez λ > 80, mas inferior a um limite de 140, considera-se a compressão
de peças esbeltas, conforme a Equação 9. e1,ef é a exentricidade suplementar de primeira
ordem, e é dada na Equação 10.
 FE 
 G  Q  .e1,ef .  
g4  1  
 GQ   FE   G  Q   (9)

 B  H  fc 0  fc 0  Wc

 L  L     G   1  2   Q    
e1,ef   ei    exp    1  (10)


300  300 
  
 E 
F  G   1 2     
    Q 

3. ESTUDO DE CASO

As análises de confiabilidade estrutural foram realizadas com o método de confiabiliade de


primeira ordem (FORM) utilizando o software Rt (Risk Tools) desenvolvido por Mahsuli [7]. Os
resultados das análises são probabilidades de falha dos elementos em função do tempo de
exposição ao incêndio para os diferentes critérios de dimensionamento. Diferentes relações de

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base e altura (b/h) de pilares foram avaliadas. Também foi realizada uma análise de
sensibilidade dos parâmetros, indicando as variáveis aleatórias que mais influenciam na
análise de confiabilidade.

3.1 Sistema estrutural do pilar em madeira

Os pilares biapoiados analisados possuem seção retangular com base (b), altura (h) e
comprimento (L). Eles foram submetidos a carregamento vertical centrado e carregamento
lateral uniformemente distribuído, onde G são ações permanentes, Q são ações variáveis e w é
a ação da pressão dinâmica do vento (Figura 2).

Foram analisados 5 pilares, com comprimento (L) de 5 m. Foi considerada a área de 0,4 m² de
seção transversal para os pilares, diferindo entre eles a relação de base e altura (b/h). Foram
consideradas as relações 1.0, 0.8, 0.6, 0.4 e 0.2, resultando nas seções transversais 20 cm ×
20 cm, 18 cm × 22 cm, 16 cm × 25 cm, 13 cm × 31 cm e 9 cm × 45 cm.

Figura 2: Esquema estrutural do pilar

O intervalo de tempo de exposição ao incêndio utilizado é de 0 min até 200 min, avaliado a
cada 1 min. A taxa de carbonização da madeira é considerada linear e reduz a seção sem
provocar arredondamento dos cantos, em virtude da simplificação da formulação. É
considerada a exposição ao incêndio nas quatro faces da seção transversal. Foi levado em
consideração o índice de esbeltez da seção residual em cada tempo de exposição.

3.2 Valores das variáveis aleatórias

As variáveis aleatórias das propriedades mecânicas da madeira, da taxa de carbonização e


das ações foram obtidas de Cheung et al. [4]. A madeira considerada é da espécie Eucalipto
Citriodora com umidade de 12%. As ações permanentes e varíaveis foram transformadas de
uniformente distribuidas para concentradas levando em consideração um comprimento de
influência de 5 m, utilizando o mesmo coeficiente de variação que Cheung et al. [4]. A pressão
dinâmica do vento foi calculada levando em consideração a velocidade característica do vento
(Vk) de 45 m/s e utilizando a equação segundo a NBR 6123:1988 [8]:

w  0,631  Vk 2 (4)

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resultando em w = 1,277 kN/m². Utilizando um comprimento de influência de 5 m, obtém-se o


valor de w = 6,388 kN/m. O valor do coeficiente de variação para a velocidade característica do
vento foi obtido do JCSS: Probabilistic Model Code [9]. Detalhes a respeito das variáveis
aleatórias estão resumidos na Tabela 1.

Tabela 1: Variáveis aleatórias utilizadas.


Distribuição Desvio Coeficiente
Nome das variáveis Média
Símbolos Unidades de Padrão de
básicas (μ)
Probabilidades (σ) Variação
Ação Permanente G kN Normal 50,0 10,0 0,2
Ação Variável Q kN Gumbel 125,0 31,25 0,25
Pressão dinâmica de
w kN/m Lognormal 6,388 1,277 0,2
vento
Taxa de carbonização tcarb mm/min Lognormal 0,6 0,1 0,166
Módulo de
Elasticidade paralelo Eco kN/cm² Lognormal 2067,0 254,0 0,122
às fibras
Resistência paralela
fco kN/cm² Lognormal 6,2 0,64 0,10
às fibras

Para ϕ foi adotado o valor de 0.8, vindo da Tabela 15 da NBR 7190:1997 [2], para a classe de
carregamento permanente ou de longa duração, com a classe de umidade (1) e (2). Para ψ1 e
ψ2 foram utilizados os valores de 0.3 e 0.2, respectivamente, provenientes da Tabela 2 da NBR
7190:1997 [2], que dizem respeito aos fatores de combinação para locais que não há a
predominância de pesos e equipamentos fixos, nem de elavadas concentrações de pessoas.

3.3 Compressão

Na Figura 3, são apresentadas as probabilidades de falha e índices de confiabilidade para os


pilares analisados da equação de estado limite g1 (Equação 3). Nota-se que, apesar dos pilares
possuirem a mesma área, aquele com a maior relação b/h obteve maiores índices de
confiabilidade para tempos de exposição ao incêndio maiores, resultando em uma menor
probabilidade de falha para os tempos iniciais. Para a seção com dimensões de 9 cm × 45 cm,
a menor relação b/h, a seção transversal é totalmente carbonizada ao término de 76 min. É
importante resaltar que, nos tempos iniciais, para valores de índices de confiabilidade elevados
(maiores que 5) não foi possível a convergência do algoritmo de confiabilidade, pois para
valores no extremo inferior da distribuição normal padrão, a probabilidade de falha é
praticamente nula, não afetando a análise.

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Figura 3: Equação de estado limite g1 compressão, Probabilidade de Falha (a) e Índice de


Confiabilidade (b).

3.4 Flexo-compressão

Na Figura 4, são apresentados os resultados para a equação de estado limite g2 para flexo-
compressão.

Figura 4: Equação de estado limite g2 flexo-compressão, Probabilidade de Falha (a) e Índice de


Confiabilidade (b).

Nota-se que, ao contrário da situação anterior, para compressão, a seção com a maior relação
b/h foi a que atingiu os menores valores de índice de confiabilidade. Isto pelo fato de que uma
maior altura de seção é mais efetiva para resistir à carga lateral aplicada na direção de maior
inércia. Mas, como se pode notar, na seção com a menor relação (b/h = 0.2), embora a altura
seja maior não houve aumento do desempenho, pois com a diminuição da base a seção é
consumida mais rapidamente.

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3.5 Estabilidade

Para a estabilidade dos pilares foram analisadas as seções nas duas direções principais de
inércia. Na Figura 5, são apresentados os índices de confiabilidade para a estabilidade na
direção com a maior inércia, enquanto na Figura 6 são apresentados os índices de
confiabilidade na direção de menor inércia.

Figura 5: Estabilidade na direção com a maior inércia, Probabilidade de Falha (a) e Índice de
Confiabilidade (b).

Figura 6: Estabilidade na direção com a menor inércia, Probabilidade de Falha (a) e Índice de
Confiabilidade (b).

Na Figura 5, observa-se que as seções com menores relações b/h foram as que apresentaram
os maiores valores de índice de confiabilidade, resultado similar ao obtido para a equação de
estado limite de flexo-compressão. Neste caso os valores de índice de confiabilidade são
menores que no caso de flexo-compressão. Na Figura 6, observa-se que a seção com a maior
relação b/h apresenta valores maiores de índice de confiabilidade. Ressalta-se que as seções
com menor relação b/h atingem a esbeltez limite igual a 140 nos primeiros tempos de

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exposição, desta maneira essas seções falham na temperatura ambiente e não são
apresentadas nos gráficos.

3.6 Avaliação de sensibilidade das variáveis aleatórias na confiabilidade do pilar

Na Figura 7, são apresentadas as análises de sensibilidade das situações limites para o pilar
com seção transversal 20 cm × 20 cm. Para a compressão, Figura 7 (a), observa-se que, nos
tempos iniciais, as variáveis mais importantes são a ação variável (Q) e a resistência da
madeira à compressão paralela (fco) Para a flexo-compressão, Figura 7 (b), inicialmente, a ação
do vento w é a variável mais importante. Para a estabilidade na direção com a maior inércia,
Figura 7 (c), as variáveis de ação variável (Q) e do vento (w) são as mais importantes nos
primeiros tempos e para a estabilidade na direção com a menor inércia, Figura 7 (d), é a
variável da ação variável (Q). Para todos os casos apresentados, ao longo do tempo de
exposição ao incêndio, a taxa de carbonização (tcarb) se torna a variável mais importante.

Figura 7: Análise de sensibilidade, compressão (a), flexo-compressão (b), estabilidade na


direção de maior inércia (c), estabilidade na direção de menor inércia (d).

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4. CONCLUSÕES

Neste artigo foi realizada a análise de confiabilidade estrutural pelo método FORM de pilares
de madeira em situação de incêndio, utilizando as equações de estados limites de compressão,
flexo-compressão e estabilidade lateral, juntamente com o método da seção reduzida. Os
resultados obtidos permitem concluir que:
- para o critério de compressão, a relação b/h da seção transversal é importante na
confiabilidade estrutural, já que a degradação da seção pelo incêndio diminui a área efetiva
resistente de forma diferente entre as relações b/h.
- para a flexo-compressão, a seção transversal com carregamento na direção de maior inércia
e menor relação b/h tende a resitir mais, mas existe um limite em que a degradação da menor
direção passa a ter grande influência na análise, pois ela é consuumida mais rapidamente.
- no critério de estabilidade a avaliação das duas direções de aplicação na seção transversal
tem influência significativa na análise.

A análise de sensibilidade das variáveis aleatórias indicou que, nos tempos iniciais de incêndio,
as ações variáveis (Q) e a ação do vento (w) são as variáveis que têm maior influência na
análise de confiabilidade. A medida que o tempo de exposição ao incêndio aumenta, a taxa de
carbonização (tcarb) torna-se a variável mais importante em todos os casos.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pelo finacinamento desta pesquisa.

6. REFERÊNCIAS

[1] Beck, A. T. – Curso de confiabilidade estrutural. Universidade de São Paulo, 2014, 243 p.
[2] Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira,
Rio de Janeiro, 1997, 107 p.
[3] Buchanan A. B. – Structural Design for Fire Safety, University of Canterbury, New Zeland,
2002, 406 p.
[4] Cheung A. B.; Pinto E. M. & Calil C. Jr.– Confiabilidade estrutural de vigas de madeira
submetidas à flexão em condições normais e em situação de incêndio, Madeira
Arquitetura e Engenharia, vol. 12, no. 29, 2011, p. 1- 12.
[5] Ditlevse, O.; Madsen, H. O. – Structural Reliability Methods, Department of Mechaninal
Engineering, Technical University of Denmark, Copenhagen, 2007.
[6] Melchers R. E. – Structural Reliability Analysis and Prediction, Wiley, New York, 1999, 466
p.
[7] Mahsuli M.; Haukaas T. – Computer program for multimodel reliability and optimization
analysis, ASCE Journal of Computing in Civil Engineering, vol. 27, no. 1, 2013, p. 87- 98.
[8] Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6123: Forças devidas ao vento em
edificações, Rio de Janeiro, 1988, 66 p.
[9] Joint Committee on Structural Safety, JCSS: Probabilistic Model Code, Copenhagen,
Denmark, 2015, 198 p.

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DESEMPENHO DE PROGRAMA EXPERIMENTAL NA SIMULAÇÃO DE


SITUAÇÃO DE INCÊNDIO NA ANÁLISE DE PILARES EM AÇO

Leonardo Medeiros da Costa* José Jéferson do Rêgo Silva


Professor Professor
Universidade Estadual da Paraíba Universidade Federal de Pernambuco
Araruna, Brasil Recife, Brasil

Palavras-chave: forno elétrico; curva-padrão; incêndio; pilares de aço.

1. RESUMO

A utilização de perfis formados a frio na indústria da construção civil no Brasil, e no mundo, é


impulsionada pela leveza e menor custo na fabricação e montagem desses elementos, além de
apresentar uma relação inércia/peso maior que os perfis laminados e soldados, favorecendo-os
devido à rapidez, versatilidade e economia exigidos pelo mercado.

O uso de elementos mais esbeltos com segurança estrutural demanda o bom entendimento sobre
o seu comportamento tanto em temperatura ambiente, quanto em situação de incêndio. É, por
isso, a análise experimental em escala real é imprescindível para validar hipóteses e métodos de
cálculo.

Neste cenário, o programa experimental proposto avaliou o desempenho térmico de um forno


elétrico na representação da ISO834; analisou o comportamento de pilares de aço com perfis
formados a frio quando submetidos a um pré-carregamento mecânico e posteriormente a um
carregamento térmico (simulação de incêndio); e estudou a influência do nível de carregamento na
resistência dos pilares submetidos à compressão centrada.
___________________

1
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, Centro de Ciências, Tecnologia e Saúde, Universidade Estadual da Paraíba. Av. Coronel Pedro Targino,
58.233-000 - Araruna - PB - Brasil. Tel.: +55 83 3373 1040. e-mail: leonardom.costa@yahoo.com.br

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2. INTRODUÇÃO

2.1 Forno Elétrico

A construção de um sistema que possa simular uma situação com aplicação de carga mecânica e
térmica simultaneamente é um grande passo para o desenvolvimento e avanço de programas
experimentais mais próximos de situações reais e modelos analíticos. Para o estudo proposto, foi
desenvolvido um projeto de um forno elétrico vertical com dimensões que atendessem à situação
de ensaio supracitada e que fosse capaz de simular uma taxa de aquecimento próxima à curva-
padrão da ISO 834 representada na equação 1.

𝜃𝑔 = 𝜃0 + 345. log(8𝑡 + 1) (1)

Durante um incêndio fatores como carga de incêndio, grau de ventilação e características do


compartimento influenciam no seu comportamento. Porém, nas inúmeras possibilidades de
evolução de um incêndio há um comportamento comum que pode ser dividido em estágios.

Os estágios de um incêndio podem ser definidos pelos seguintes pontos: a fase de ignição ou
início do “pré-flashover”, “flashover” ou instante de inflamação generalizada e temperatura máxima.
Os instantes correspondentes ao “flashover” e à temperatura máxima variam de incêndio para
incêndio, bem como as respectivas temperaturas [3]. A figura 1 apresenta a curva temperatura-
tempo de um incêndio real e a curva-padrão recomendada pela ISO 834.

Figura 1: Curva temperatura-tempo incêndio-padrão e incêndio real. Adaptado [3]

A NBR5628:2001 [1], sobre a precisão no controle de temperatura dos fornos prescreve as


tolerâncias apresentadas na tabela 1.

Tabela 1: Tolerâncias na precisão do controle de temperatura


Tempo (min) Diferença aceitável (%)
Para t ≤ 10 15
10 < t ≤ 30 10
t > 30 5

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A temperatura máxima do forno aproxima-se de 1200ºC, logo, a liga a ser utilizada para confecção
das resistências elétricas precisa atender a este pico, bem como, apresentar propriedades que
proporcionem a confecção de resistências em espirais a fim de viabilizar maior carga superficial.
Devido à alta taxa de aquecimento nos primeiros minutos, assim como, as altas temperaturas
alcançadas pelo forno, foi necessário fazer a devida isolação das paredes do mesmo a fim de
evitar fuga de calor o que acarretaria na perda de eficiência.

As características do forno elétrico e as especificações dos materiais utilizados para sua


construção são apresentadas na tabela 2. A figura 2 traz a imagem do forno pronto.

Tabela 2: Características e materiais do forno elétrico


Item Descrição
Dimensões externas: 1500x1500x1500mm
Dimensões internas: 1000x1000x1000mm
Manta cerâmica com capacidade de isolamento de 1400ºC e
Isolamento térmico:
densidade de 128kg/m³ e placas refratárias
Liga Kanthal, capacidade até 1400ºC - Resistividade de 1,45
Resistência elétrica:
ohm.mm².m-1 e densidade = 7,10 g/cm³
Quadro industrial composto por: tomada industrial de sobrepor
200A IP67 3P+T 380V; quadro para fixação da tomada industrial de
Alimentação elétrica: sobrepor 200A; plugue 200A IP67 3P+T 380V; cabo de cobre
flexível 70mm² com isolamento XLPE 90º 0,6/1kV e disjuntor
tripolar 200A 10KA;
Potência do forno: P = 93,37 kVA

Figura 2: Forno elétrico

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2.1 Pilares em aço com perfis formados a frio

Um perfil estrutural em aço formado a frio, como define a ABNT NBR14762:2010 [2], é aquele
perfil obtido por dobramento, em prensa dobradeira, de tiras cortadas de chapas ou bobinas; ou
por conformação contínua em conjunto de matrizes rotativas, a partir de bobinas laminadas a frio
ou a quente, revestidas ou não, sendo ambas as operações realizadas com o aço em temperatura
ambiente.

Os perfis escolhidos para confeccionar os pilares tubulares foram os perfis de seção U enrijecidos,
que soldados longitudinalmente formam a seção do tipo “Caixa” cujas características das amostras
estão dispostas nos itens abaixo:

 Aço ASTM A36;


 4 pilares com 2m de comprimento, com seção transversal composta por 2 perfis U
enrijecidos;
 8 termopares serão utilizados em cada ensaio, sendo 6 no pilar (3 distribuídos ao longo do
pilar e 3 distribuídos na seção transversal do meio) e 1 distante a 10cm do pilar (medir
temperatura dos Gases) e 1 para temperatura do Forno, distante 10cm das resistências
elétricas de 1 módulo do Forno), ver figura 3(a);
 2 transdutores de deslocamento LVDT’s com curso de 50mm no topo para medição do
deslocamentos axiais do pilar bi rotulado, ver figura 3(b).

(a) (b)

Figura 3: (a) Distribuição dos termopares ao longo do comprimento e da seção transversal na


metade do pilar e (b) Esquema do pilar a ser ensaiado no forno. [4]

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3. METODOLOGIA

As variáveis escolhidas para desenvolvimento e avaliação são: nível de carregamento e tempo de


resistência ao fogo. Os ensaios que contemplam os parâmetros supracitados são analisados a
partir das características descritas nos itens abaixo:

 Curva-padrão: o aquecimento das amostras será realizado segundo as prescrições da norma


ISO 834-1 (1999);
 A carga térmica será aplicada no comprimento de 1m, comprimento útil do forno, sendo
aplicada na região central do pilar;
 Nível de carregamento: os níveis de carregamento, impostos às colunas, são de 40% e 80%
de sua resistência última à compressão axial para temperatura ambiente;
 Dilatação térmica livre.

A tabela 2, apresentada abaixo, resume a série de ensaios realizados, bem como, a identificação
das amostras.

Tabela 2: Série de ensaios


Identificação Quantidade Taxa de carregamento Situação de ensaio
PI40-L0X 2 40% Dilatação livre
PI80-L0X 2 80% Dilatação livre

A situação de ensaio com dilatação térmica livre, conforme citado, foram representadas através do
sistema de aplicação de carga composto pelo cilindro hidráulico (dupla ação), conjunto motor-
bomba e válvulas de vazão e pressão. Neste sentido, o princípio do sistema pode ser resumido:

Dilatação livre: a amostra é submetida ao carregamento desejado, nesta etapa, o conjunto motor-
bomba é configurado para que o circuito seja mantido acionado e trabalhando a uma pressão
constante, ou seja, o pilar quando aquecido e tender a dilatar o pistão do cilindro recua, de tal
modo, o pilar não sofre acréscimo de carga, mantendo-se constante o carregamento inicial durante
todo o ensaio até que a temperatura seja suficiente para que o aço comece a perder propriedades
mecânicas e consequentemente capacidade resistente, estágio configurado pela perda de carga
culminando na ruptura da peça. A ruptura da amostra é caracterizada quando o avanço do cilindro
for máximo.

4. RESULTADOS

4.1 Forno elétrico

O forno, como apresentado, foi testado inúmeras vezes a fim de se observar o melhor
desempenho e de reproduzir sua melhor curva; neste aspecto, a literatura destaca que fornos
elétricos não conseguem reproduzir fielmente a curva-padrão devido à alta taxa de aquecimento
nos primeiros minutos, o que pôde ser observado nos testes. Visando minimizar essa diferença, o
forno foi pré-aquecido a uma temperatura constante e aproximada a 100ºC. Essa situação de pré-

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aquecimento no forno, configura o seu startup, ponto análogo ao flashover acontecido num
incêndio natural.
A figura 4 ilustra o comportamento típico do aquecimento do forno durante uma série de ensaios
realizados, percebe-se uma oscilação na temperatura medida devido a sensibilidade dos
termopares à programação do controlador com taxas de aquecimento diferentes que visam
suavizar a curva.

Figura 4: Curva Temperatura-Tempo [4]

Na figura 4 apresenta-se também a linha de tendência logarítmica temperatura-tempo do forno,


cuja correlação é 0,95. É destacável, ainda, as temperaturas em três pontos (baixo, meio e tipo) na
coluna ensaiada, onde se observa que a oscilação da temperatura na coluna metálica é menos
sensível e que as temperaturas são praticamente as mesmas, ou seja, apresentando uma
distribuição uniforme no forno.

O desempenho do forno é apresentado na figura 5 através da linha de tendência logarítmica para 8


ensaios realizados, dentre eles, 4 testes realizados na análise dos pilares com dilatação axial e
rotacional livres. Analisando as curvas desenvolvidas pelo forno durante a série de ensaios, foi
possível observar que em nenhum momento, mesmo nos primeiros minutos de aquecimento, a
curva do forno foi superior ou inferior a 100ºC, como recomenda a norma brasileira [1].

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Figura 5: Curva-típica do forno elétrico [4]

É razoável perceber que as curvas logarítmicas do forno apresentaram um desempenho muito


próximo ou superior à curva-padrão prescrita.

Retoma-se, ainda, a discussão sobre o pré-aquecimento aplicado ao forno com o objetivo de


reproduzir uma curva mais aproximada à curva-padrão adotada no presente trabalho. As curvas do
forno, como observado na figura 4, têm o seu acionamento a partir de uma temperatura próxima
aos 100ºC, enquanto a curva ISO 834 foi considerada com temperatura ambiente de 30ºC, dentro
do forno, quando fechado e no início do ensaio. Nesta configuração, a temperatura do forno se
igualou à curva-padrão entre 350 e 400ºC, ou seja, entre 1 e 2 minutos, em todos os ensaios.

O desempenho do forno elétrico, pois, tornou-se satisfatório por cumprir as recomendações


apresentadas na tabela 1. Analisando as curvas produzidas por fornos utilizados em trabalhos
realizados na literatura [5], [6], [7] e [8], é possível observar a dificuldade dos fornos elétricos
representarem a curva padrão e contemplarem a recomendação proposta na norma brasileira [1].

4.2 Pilares de aço com perfis formados a frio

A série de ensaios desenvolvida no programa experimental, como exposto no tópico anterior, foi
desenvolvida analisando os resultados obtidos em 4 pilares com as mesmas características
geométricas e mecânicas. A figura 6 plota os gráficos carga-temperatura ao longo do tempo para a
série sem restrição à dilatação térmica axial.

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25 800
700 Carga PI40-L01
20

Temperatura (ºC)
600 Carga PI40-L02
500
Carga (t)

15 Carga PI80-L01
400
10 Carga PI80-L02
300
200 Temperatura PI40-L01
5
100 Temperatura PI40-L02
0 0 Temperatura PI80-L01
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Temperatura PI80-L02
Tempo (min)

Figura 6: Carga-Temperatura-Tempo para série com dilatação livre

As figuras 7 (a) e (b) ilustram os pilares e seu modo de ruptura após a realização do experimento.

(a) (b)
Figura 6: Ruptura dos pilares após ensaios

É possível, após exposição dos resultados apresentarmos na tabela 3, um resumo dos parâmetros
tempo, temperatura e carga máxima ruptura, bem como, o incremento de carga imposto às
amostras através taxa de restrição.

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Tabela 3: Resultados obtidos para série de ensaios


Amostra Tempo Temperatura Pi Pmáx Restrição (Pmáx/Pi)
- min ºC tf tf -
PI40-L01 8,75 600 11,00 11,00 1,00

PI40-L02 8,60 670 11,00 11,00 1,00

PI80-L01 5,50 500 21,00 21,00 1,00

PI80-L02* 4,00 450 21,00 21,00 1,00

Notas: Pi = Carga inicial | Pmáx=Carga máxima | * Resultado com ressalva

É pertinente ressaltar que durante o ensaio da amostra PI80-L02 houve um fator externo contribuiu
para redução da capacidade dos pilares. Fica, pois, registrado o episódio a fim de justificar a
variação no resultado.

Considerando a condição livre à dilatação, ou seja, variando apenas o nível de carregamento


pode-se verificar que o nível aplicado de carga em um pilar influenciou no seu tempo de resistência
ao fogo e temperatura, 45,21% e 25,19% a menos, respectivamente.

5. CONCLUSÕES

É pertinente destacar, neste ponto, que a curva-padrão é uma referência, ou seja, não implica
necessariamente que ensaios experimentais a reproduzam fielmente para validação de um teste,
haja visto que a mesma não representa um incêndio real, mas sim, representa uma disposição
adotada para fins de comparação e dimensionamento de estruturas. No entanto, é pertinente que
para fins de comparação entre os resultados e compreensão sobre o comportamento estrutural
dos elementos sob altas temperaturas, que o desempenho dos fornos sigam um padrão.
Da análise proposta neste trabalho, pode-se concluir que:

 O desempenho de um forno elétrico muito dificilmente consegue representar perfeitamente a


curva-padrão prevista na ISO834 devido sua função logarítmica que exige grandes taxas de
aquecimento nos primeiros minutos;
 O forno construído apresentou taxa de aquecimento de 250ºC/min, desempenho que o
habilita a atingir a curva-padrão próximo 2 minutos a partir da temperatura ambiente;
 O pré-aquecimento não apresentou, aparentemente, nenhuma influência nos resultados, fato
minimizado pela baixa taxa de aquecimento nesta etapa;
 Os pilares com maior nível de carregamento resistiram menos tempo se comparados às
amostras com as mesmas condições.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5628: Componentes construtivos


estruturais – Determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro, 1980. Revisão 2001.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14762: Dimensionamento de


estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio. Rio de Janeiro, 2010.

[3] COSTA, C.N.; SILVA, V.P. - Revisão Histórica das Curvas Padronizadas de Incêndio.
Inovações Tecnológicas e Sustentabilidade, NUTAU’2016.

[4] COSTA, L. M - Análise experimental de pilares em aço com perfis formados a frio submetidos a
altas temperaturas com dilatação axial livre e restringida. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal de Pernambuco, 2013, 190 p.

[5] GOMIDE, Kleber Aparecido. Colunas esbeltas de pequeno diâmetro mistas de aço preenchidas
com concreto em situação de incêndio. Dissertação (mestrado). Campinas: Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP, 2008.

[6] ARAUJO, CIRO. J.R.V. Estudo experimental do efeito do fogo em pilares mistos curtos de aço
e concreto. Campinas, 2008. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP 2008.

[7] SANT’ANNA, Matheus Sarcedo. Pilares mistos esbeltos em aço preechidos com concreto, de
seção quadrada, em situação de incêndio. Dissertação (mestrado) - Campinas: Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP, 2009.

[8] PIRES, T.A.C. Pilares circulares em aço preenchidos com concreto sujeitos a incêndio. 1º
CILASCI – Congresso Ibero-Latino Americano de Segurança Contra Incêndio. Natal,
Brasil/2011.

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DETERMINAÇÃO EXPEDITA DA TEMPERATURA CRÍTICA DE PERFIS I


DE AÇO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Artur R. Melão Valdir Pignatta Silva*


Mestre Professor
USP - São Paulo - Brasil USP – São Paulo - Brasil

Palavras-chave: Incêndio, Estruturas de aço, Temperatura crítica, Pilar, Viga.

1 INTRODUÇÃO

Os projetos estruturais, da mesma forma que os de arquitetura e instalações, devem ser


verificados para a situação de incêndio. No caso dos elementos de estruturas de aço, sujeitos à
temperatura uniforme em seu volume, há uma temperatura que os leva ao colapso. É a
chamada temperatura crítica. O objetivo deste trabalho é apresentar uma ferramenta expedita
para a determinação da temperatura crítica de pilares e vigas com seção transversal em forma
de “I” para os tipos de aço mais usados correntemente, com base nas normas brasileiras [1] e
[2]. Esses gráficos foram elaborados a partir da planilha eletrônica AcoInc, desenvolvida pelos
autores.
Silva (2004) [3] construiu curvas que permitem determinar a temperatura crítica de pilares.
Essas curvas foram construídas com base em normas brasileiras de versões anteriores.
Velarde (2009) [4] atualizou o mesmo estudo, considerando o projeto de revisão das normas
brasileiras. Atualmente, ambas as normas já possuem revisões publicadas, [1] e [2]. O presente
trabalho atualiza e amplia esses estudos, por exemplo, incluindo a temperatura crítica de vigas
de aço sujeitas à instabilidade lateral com torção.
Em [5], [6], [7], [8], [9], [10], [11], [12] e [13] não se encontrou nada que se assemelhe aos
resultados aqui apresentados cuja finalidade é agilizar o dimensionamento de estruturas de aço
em situação de incêndio.

*Autorcorrespondente – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Av. Luciano Gualberto, trav3, n380 Edifício
da Engenharia Civil - Cidade Universitária - 05508-010. São Paulo Brasil. valpigss@usp.br

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2 MÉTODO
2.1 Considerações Gerais

Neste trabalho, considerou-se que o colapso é atingido quando o esforço resistente de cálculo
se iguala ao esforço solicitante de cálculo, ambos para a situação de incêndio, ou seja, quando
o elemento estrutural alcançou o Estado-Limite Último, conforme definido em norma.
Portanto, a temperatura crítica de uma barra, seja pilar ou viga, pode ser determinada ao se
igualar os esforços solicitantes em situação de incêndio (N fi,Sd para pilares e Mfi,Sd para vigas)
aos resistentes (Nfi,Rd e Mfi,Rd) na mesma situação. A norma brasileira [2] fornece o formulário
para a determinação dos esforços resistentes de cálculo em situação de incêndio, enquanto a
[1] fornece os equivalentes à temperatura ambiente. As normas [3] e a [2] indicam a maneira de
se determinar a ação de cálculo na situação excepcional do incêndio e, por consequência, os
esforços solicitantes de cálculo em incêndio.

2.2 Procedimento adotado


2.2.1 Barras comprimidas

Para perfis I duplamente simétricos, na ausência de instabilidade local e à temperatura


ambiente, conforme [1], vale a Equação 1.
 A fy (1)
N Rd 
1,1

Na Equação 1, NRd é o valor de cálculo da força normal resistente à compressão, A é área da


seção transversal do perfil, fy é a resistência ao escoamento do aço,  é fator redutor da
capacidade resistente da barra comprimida, função da imperfeição inicial, não linearidade
geométrica e do material [14], determinado conforme Equação 2.
2
para λ 0  1,5  χ  0,658λ 0
(2)
0,877
para λ 0  1,5  χ 
λ 02
Na Equação 2, λo é a esbeltez reduzida da barra comprimida, que no caso geral é determinada
conforme Equação 3.
A  fy (3)
λ0 
Ne
Na Equação 3, Ne é a menor força crítica entre as calculadas para flambagens por flexão,
torção e flexotorção. Entretanto, considerando apenas o caso de instabilidade por flexão, que é
o que se verifica nos perfis duplamente simétricos com seção transversal em forma de “I”, ou
seja, Ne = (π2 E I)/L2, a Equação 3 transforma-se na Equação (4).
λ (4)
λ0 
π2 E
fy
Na Equação 4,  é a esbeltez do perfil, E é o módulo de elasticidade do aço e fy é a resistência
ao escoamento do aço.
Para perfis I duplamente simétricos e na ausência de instabilidade local, segundo a [2], em
situação de incêndio vale a Equação 5.

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N fi,Rd  χ fi k y,θ A f y (5)

Na Equação 5, Nfi,Rd é o valor de cálculo da força normal resistente à compressão em situação


de incêndio, kyθ é o o fator de redução da resistência ao escoamento (f y) do aço em função da
temperatura, conforme Figura 1 e Tabela 1. fi é fator redutor da capacidade resistente da barra
comprimida em situação de incêndio, determinado conforme Equação 6.
1 (6)
χ fi 
0,fi  0, fi  λ 0, fi
2 2

0,fi 
Na Equação 6:   0,5 1  α λ  λ 2 , α  0,022 E
0,fi 0,fi  fy
, λo,fi é o índice de esbeltez reduzido

em situação de incêndio determinado conforme Equação 7 e E é o módulo de elasticidade do


aço, valendo 20 000 kN/cm2.
k y
λ 0fi   0 (7)
k E
Na Equação 7, ky,θ e kEθ são, respectivamente, os fatores de redução da resistência ao
escoamento (fy) e do módulo de elasticidade (E) do aço a altas temperaturas, determinados
conforme Tabela 1 ou Figura 1. Das Equações 1 e 5, tem-se a Equação 8.

Nfi,Rd fi k y , (8)


1,1
N Rd 
No instante do colapso, conforme definido no item 2.1, N fi,Rd = Nfi,Sd, em que Nfi,Sd é o valor de
cálculo da força normal de compressão em situação de incêndio determinada por meio da
norma [2]. Assim, tem-se a Equação 9.

Nfi,sd fi k y , (9)


1,1
N Rd 

Tabela 1 – Fatores de
redução
a ky, = kE, = 1
(C) fy, / fy E / E 0,9
20 1,000 1,000 0,8
fatores de redução

100 1,000 1,000 0,7


0,6
200 1,000 0,900 0,5
300 1,000 0,800 0,4
ky,θ

400 1,000 0,700 0,3 kE,θ

500 0,780 0,600 0,2


0,1
600 0,470 0,310
0
700 0,230 0,130 0 500 1000
800 0,110 0,090
temperatura (oC)
900 0,060 0,0675 Figura
1000 0,040 0,0450 1 – Variação dos fatores de redução com a temperatura θ
1100 0,020 0,0225
1200 0,000 0,000

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Observa-se que nas equações anteriores, há uma relação entre θ, , λo e o material. No


instante do colapso, θ = θcr. Quanto ao material, foram escolhidos quatro aços, cujas
resistencias ao escoamento são: fy = 25 kN/cm2, fy = 30 kN/cm2, fy = 34,5 kN/cm2 e fy = 35
kN/cm2. Os dois primeiros e o último mais usados em perfis soldados e o terceiro, adequado
aos perfis laminados empregados no Brasil. Em vista da óbvia dificuldade de obtenção de θcr
manualmente, os autores elaboraram um programa de computador, o qual foi inserido no
AcoInc, planilha desenvolvida pelos autores [15]. Com esse programa, construíram-se as
curvas do item 3. NRd e λo já são conhecidos, decorrentes do dimensionamento à temperatura
ambiente. Daí, pelo método gráfico proposto, se calcula a θcr do pilar.

2.2.2 Barras sob flexão

Diferente da força normal de compressão, o momento fletor resistente à temperatura ambiente


não é tratado pela [1] por meio de uma curva  x λo e sim MRk x λb conforme Equação 10, na
qual por simplificação e a favor da segurança, adotou-se Cb igual a 1, sendo Cb o fator de
modificação para diagrama de momento fletor não uniforme, conforme [1].
M Rk  M p , para b ≤ p
    p  , para p < b ≤ r
M Rk  M p  (M p  M r )  (10)
  r   p 
M Rk  M e  M p , para b > r

Na Equação 10, MRk é o valor característico do momento resistente da viga, Mp é o valor


característico do momento de plastificação da seção da viga e igual a Z x fy, em que Zx é o
módulo resistente plástico em relação ao eixo x, de maior inércia, Mr é o momento fletor limite
entre o regime elástico linear e o elastoplástico e igual a 0,7 fy W x em que W x é o módulo
resistente elástico em relação ao eixo x, de maior inércia, Me é o momento crítico de
flambagem elástica fornecido pela [1], b é a esbeltez associada ao b, que é a distância entre
𝐸
travamentos laterais, λp é a esbeltez que determina o final do regime plástico e igual a 1,76√
𝑓𝑦
e λr é a esbeltez limite entre o regime elástico linear do elastoplástico e pode ser encontrado
em tabelas, por exemplo em [16]. Dessa forma, os autores fizeram uma alteração de variáveis
para chegar à relação FLT x λo,FLT adimensional, conforme as Equações 11 e 12.
MRk (11)
χFLT =
Mp

𝑀𝑝
𝜆0,𝐹𝐿𝑇 = √ (12)
𝑀𝑒
Empregando-se as Equações 10 a 12 tem-se a Equação 13.
𝑀𝑝
Para 𝜆0,𝐹𝐿𝑇  √ , χFLT = 1
𝑀 𝑒,𝑝
0,7 Wx 𝜆0,𝐹𝐿𝑇 −𝜆0,𝐹𝐿𝑇,𝑝
Para 0,FLT,p < o,FLT ≤ 0,FLT,r , χFLT = 1 − (1 − ) (13)
Zx 𝜆0,𝐹𝐿𝑇,𝑟 − 𝜆0,𝐹𝐿𝑇,𝑝
𝑍𝑥 1
Para λo,FLT  λo,FLT,r = √ , χFLT =
0,7 𝑊𝑥 λ2o,FLT

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𝑀𝑝 𝑀𝑝 𝑍𝑥
Na Equação 13: 𝜆0,𝐹𝐿𝑇,𝑝 = √ , 𝜆0,𝐹𝐿𝑇,𝑟 = √ =√ , Me,p é o momento crítico de
𝑀𝑒,𝑝 𝑀𝑟 0,7 𝑊𝑥

flambagem elástica para o comprimento limite de plastificação, ou seja, λ p ry, em que ry é o raio
de inércia em torno do eixo de menor inércia, y.
Para a série de perfis laminados fabricados pela Siderúrgica Gerdau, foi calculado o valor
𝑀𝑝
de√ . A favor da segurança, neste trabalho serão usados os valores indicados na Tabela 2.
𝑀 𝑒,𝑝

Para perfis I duplamente simétricos e na ausência de instabilidade local, segundo a ABNT NBR
14323:2013, em situação de incêndio vale a Equação 14.

Mfi,Rd = κ χFLT,fi Zx fy ky, (14)

Na Equação 14: Mfi,Rd é o valor de cálculo momento fletor resistente em situação de incêndio;
FLT, fi tem o mesmo formato de fi (Equação 6) mas alterando o valor de λo,fi (Equação 7)
conforme Equação 15 e  é um fator de correção que leva em conta o efeito benéfico de uma
eventual distribuição de temperatura não uniforme ao longo da altura da seção transversal e
vale entre 1,0 e 1,4 conforme [2].
𝑘𝑦,𝜃 𝑀𝑝 (15)
λo,FLT,fi = √
𝑘𝑦,𝜃
√𝑀
𝑒

𝑀𝑝
Tabela 2 – Valores de √
𝑀𝑒,𝑝

𝑀𝑝
fy (kN/cm2) √
𝑀𝑒,𝑝
Valor adotado
25 0,48
30 0,52
34,5 0,56
35 0,56

Da mesma forma que foi feito para força normal, criou-se uma relação adimensional,
conforme Equação 16, em que MRd é o valor de cálculo momento fletor resistente à
temperatura ambiente.

𝑀𝑓𝑖,𝑅𝑑 κ k y,θ χFLT,fi (16)


𝜇= = 1,1
𝑀𝑅𝑑 𝜒𝐹𝐿𝑇

Tal qual para pilares, os autores empregaram o AcoInc para construir as curvas do item 3. MRd
já é conhecido, decorrente do dimensionamento à temperatura ambiente. M fi,Sd é igual a Mfi,Rd.
Portanto, conhece-se , pela Equação 16. λo é determinado pela Equação 12. Daí, pelo
método gráfico proposto, se calcula a θcr da viga.
Para os gráficos, usou-se κ = 1, mas, para outros valores de κ, eles também podem ser usados
com a seguinte estratégia: a partir da cr determinada com os gráficos, encontra-se o valor de
ky,=cr, em seguida calcula-se a nova cr, aproximadamente, a partir de ky, = ky, = cr/κ.

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2.3 Programa empregado

Os autores desenvolveram uma pasta de trabalho, AcoInc, que contém nove planilhas
eletrônicas (Figura 2), desenvolvido em Excel, que incluem várias utilidades para o estudo de
perfis I em situação de incêndio [15]. Entre elas, a determinação dos esforços resistentes em
situação de incêndio e à temperatura ambiente.

Figura 2 – Planilhas da pasta de trabalho do AcoInc.

Para a criação das planilhas, adotaram-se recursos em Macro, que utilizam linguagem de
programação Visual Basic for Applications (VBA) associada ao programa de computador Excel,
tornando as planilhas mais ágeis. Com uma programação específica, tornaram-se práticas as
execuções de comandos repetitivos que dependem de vários parâmetros para fins de se obter
tabelas e gráficos de forma automática. Para facilitar o cálculo em situações, por exemplo,
onde o procedimento de cálculo dependa de mais de um fator, foram utilizados os recursos do
Visual Basic associado ao Microsoft Excel para criação de funções denominadas pelo
programa de “fórmulas”. A grande vantagem é de se manter fórmulas que contenham várias
condicionais (funções se()) mais compactas no Excel e permitir a visualização das rotinas de
cálculo e, portanto, evitar erros e facilitar alterações. Entre as planilhas mencionadas, a última é
aquela que determina a temperatura crítica de vigas e pilares “I” (Figura 3). Tal planilha constrói
gráficos que permitem, a partir de alguns dados, a determinação gráfica expedita da
temperatura crítica com base no método simplificado da [2].

Figura 1 – Planilha para gerar ábacos de temperatura crítica.


Na Figura 3: E é o módulo de elasticidade do aço, à temperatura ambiente, fy é a resistência ao
escoamento do aço à temperatura ambiente, λo é parâmetro auxiliar utilizado na formulação de
cálculo dos esforços resistentes, Z e W são os módulos resistentes plástico e elástico,
respectivamente, η e μ são níveis de carregamento a serem explicados mais adiante.

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Para fins de temperatura crítica, o AcoInc funciona da seguinte forma: 1) arbitram-se valores de
λo e ; 2) arbitra-se um valor de ; 3) varia-se  até encontrar , nesse instante tem-se um
ponto no gráfico; 4) altera-se λo e depois .

3 RESULTADOS E COMENTARIOS

Com os dados de entrada: tipo de elemento (viga ou pilar), o tipo de aço (f yk), relação entre os
módulos resistentes plástico (Z) e elástico (W) e faixa de variação de  (Equação 17) ou de 
(Equação 18), o programa contrói a curva que permitirá determinar a temperatura crítica a partir
do índice de esbeltez reduzido λ0 ou λo,FLT, à temperatura ambiente.

Mfi,Sd
μ= (17)
MRd

Nfi,Sd
η= (18)
NRd

O AcoInc calcula para cada perfil os valores de N Rd, MRd, Nfi,Rd e Mfi,Rd. Adotando um nível de
carregamento  ou , é possível encontrar, em função de λo ou λo,FLT, uma temperatura de
forma a igualar Nfi,Sd a Nfi,Rd ou Mfi,Sd a Mfi,Rd. Essa temperatura é a temperatura crítica e pode
ser obtida por meio dos gráficos das Figuras 4 a 11. Na construção dos gráficos das Figuras 8
a 11, por simplificação e a favor da segurança, adotou-se Cb igual a 1 e Z/W igual a 1,1. Deve-
se ressaltar que os gráficos apresentados são válidos para perfis que não apresentam
instabilidade local da alma e da mesa. Além disso, os índices de esbeltez reduzidos em
incêndio são aumentados em cerca 15%, o que faz com que perfis que estejam com valores de
esbeltez local próximos do limite à temperatura ambiente passem a estar sujeitos à
instabilidade local em situação de incêndio. Nos casos da ocorrência de instabilidade local
tanto à temperatura ambiente quanto em incêndio, as curvas apresentadas podem ser
empregadas para pré-dimensionamento.

Figura 4-Temperat. crítica,pilares,fy=250 MPa Figura 5- Temperat.crítica,pilares,fy=300 MPa

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Figura 6-Temperat. crítica,pilares,fy=345 MPa Figura 7- Temperat.crítica,pilares,fy=350 MPa

Figura 8-Temperat. crítica,vigas,fy=250 MPa Figura 9- Temperat.crítica,vigas,fy=300 MPa

Figura 10-Temperat. crítica,vigas,fy=345 MPa Figura 11- Temperat.crítica,vigas,fy=350 MPa

Nas Figuras 8 a 11, apresentaram-se gráficos adequados a vigas sem travamento lateral. No
caso de vigas não mistas, continuamente travadas lateralmente por meio de lajes, a resolução
se simplifica pela ausência da instabilidade lateral com torção e tem-se o gráfico mostrado na
Figura 12, válida para qualquer viga I sem instabilidade lateral e local.

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Figura 12 - Temperatura crítica de vigas não mistas sob lajes

Para a construção da Figura 12, foi considerado, também, que a temperatura média é reduzida
em função da presença da laje, conforme procedimento recomendado em [2], ou seja, o
momento fletor resistente de cálculo considerando o gradiente térmico ao longo da altura da
viga vale 1,4 vezes o momento fletor resistente de cálculo calculado para a temperatura
uniforme. Na Figura 12, também não foi levada em conta eventual instabilidade local de mesa
ou alma. Na Figura 12, nota-se que entre 600 °C e 700 °C a relação é linear e se pode deduzir
a Equação 19.
M
cr = 270 (2,94 - fi,Sd) (19)
MRd

4 CONCLUSÕES

Os autores deste artigo desenvolveram o programa AcoInc, que inclui várias utilidades para o
estudo de perfis I em situação de incêndio. Uma delas é a determinação da temperatura crítica
de vigas e pilares.
Foram apresentados neste trabalho, gráficos que permitem determinar de forma expedita a
temperatura crítica de vigas e pilares, não sujeitos a instabilidades locais, em função do índice
de esbeltez reduzido à temperatura ambiente e do nível de carregamento do elemento em
situação de incêndio.
Não foi encontrado na literatura pesquisada nada que se assemelhe ao aqui apresentado.
O valor da temperatura crítica igual a 550 °C, bastante empregado na prática, pode ser muito
diferente, a depender da situação estrutural.
O dimensionamento em situação de incêndio, em que se compara a temperatura crítica à
temperatura atuante nos perfis, base dos métodos normatizados, simplifica-se muito caso se
empreguem os gráficos aqui apresentados. Entretanto, cabe ressaltar que podem ser menos
econômicos se comparados a resultados de análises de subconjuntos estruturais (por exemplo:
vigas mistas sob lajes mistas ou pilares junto a paredes) que levam a campos de temperatura
não uniformes. Porém, demandariam análises computacionais ou experimentais complexas.
Ainda assim, as temperaturas críticas encontradas por intermédio dos gráficos podem servir
como pré-dimensionamento.

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Para trabalhos futuros, mantendo o objetivo de criar ferramentas simples para uso do meio
técnico não especializado em incêndio, pretende-se estudar estruturas mais complexas e
incluir os efeitos das instabilidaded locais.

5 AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,
ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à CAPES -
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível.

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6 REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800: Projeto de estruturas
de aço e de estruturas mistas de aço e
[2] ______. NBR 14323: Dimensionamento de estruturas de aço de edifícios em situação
de incêndio. Rio de Janeiro, 2013.
[3] SILVA, V.P. Estruturas de aço em situação de incêndio. Zigurate Editora, São Paulo,
2001. Reedição: 2004.
[4] VELARDE, J.S.S.; SILVA, V. P. Sobre o dimensionamento de pilares de aço em
situação de incêndio. Revista Sul-Americana de Engenharia Estrutural, v. 6, n. 2 e 3.
Passo Fundo. 2009.
[5] GARLOCK, M.; KODUR, V. (editores) Anais do 9th International Conference on
Structures in Fire SiF’16. 1145p. Princeton. 2016.
[6] WANG, Y.; BURGESS, I.; WALD, F. GILLIE, M. Performance-Based Fire Engineering of
Structures. Span Press. 367p. USA. 2013.
[7] VILA REAL, P. ; FRANSSEN, J.M. Fire Design of Steel Structures. European Convention
for Constructional Steelwork.Wiley. 428p. 2010.
[8] FRANSSEN, J.M.; ZAHARIA, R. KODUR, V. Designing steel structures for fire safety.
162p. CRC Press. USA. 2009.
[9] PARKINSON, D.; KODUR, V. Performance-Based of Structural Steel for Fire
Conditions. Amer Society of Civil Engineers. 124p. USA. 2008.
[10] FRANSSEN, J.M.; ZAHARIA, R. Design of Steel Structures subject to Fire. Université
de Liège. 184 p. Liège, 2005.
[11] SKOWRONSKI, W. Fire Safety of Metal Structures. Theory and Design Criteria. Polish
Scientific Publishers. 219p.Varsóvia. 2004.
[12] VILA REAL, P. Incêndio em Estruturas Metálicas. Cálculo Estrutural. Orion. 356p.
Portugal. 2003.
[13] WANG, Y.C. Steel and Composite Structures Behaviour and Design for Fire Safety.
Spon Press. 332p. New York. 2002.
[14] SILVA, V. P. Sobre a instabilidade de barras comprimidas. Revista da Estrutura
de Aço, v.5, p. 79-98, 2016.
[15] MELÃO. A. R. Sobre perfis I de aço em situação de incêndio paramétrico. Dissertação
de mestrado em engenharia civil. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. 2016.
[16] SILVA, V. P. Estruturas metálicas e de madeira. Dimensionamento de estruturas de aço.
Notas de aula. São Paulo. 2012.

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DETERMINAÇÃO NUMÉRICA DO GRADIENTE TÉRMICO EM


ELEMENTOS METÁLICOS: ÊNFASE AO TIPO DE ELEMENTO FINITO E À
COMPARTIMENTAÇÃO

Fotografia Fotografia Fotografia


Autor 1 Autor 2 Autor 3

30 mm 30 mm 30 mm
  
40 mm 40 mm 40 mm

Yagho de Souza Simões Fabio Martin Rocha Jorge Munaiar Neto


Mestrando Pós Doutorando Professor
USP – São Carlos USP – São Carlos USP – São Carlos
Brasil Brasil Brasil

Palavras-chave: Análise Térmica, Pilares metálicos, Gradiente térmico, Incêndio

1. INTRODUÇÃO

O aço é um dos materiais mais empregados no desenvolvimento de estruturas. Quando se


encontra inserido em um ambiente em chamas, os elementos estruturais metálicos se aquecem
rapidamente, em razão da elevada condutividade térmica e por serem formados por perfis
cujas partes possuem espessuras reduzidas. Tal situação resulta na diminuição acelerada de
suas propriedades mecânicas, rigidez e resistência, caracterizando o mau comportamento
desse material em situação de incêndio. No contexto dessa pesquisa, serão realizados estudos
em face do comportamento térmico de pilares de aço sujeitos à ação do fogo.

Devido às consequências geradas pela ação do fogo nas construções, que põe em risco a vida
das pessoas e a integridade das estruturas, houve a necessidade de inserir a presente
temática no meio científico. Hoje, as estruturas de aço em situação de incêndio já são
contempladas por documentos normativos, com destaques para as normas brasileira ABNT
NBR 14323 [1] e europeia EUROCODE 3 Parte 1-2 [2].

O dimensionamento de pilares nesse contexto, com base nas normas anteriormente citadas, é
realizado a partir do emprego de métodos simplificados, os quais consideram, basicamente, os
elementos estruturais isolados com aquecimento em suas quatro faces por meio da curva de
__________________________
*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia de Estruturas, Universidade de São Paulo. Av. Trabalhador Sãocarlense, 400, Centro.

13.566-590 – São Carlos - SP - Brasil. Tel.: +55 75 991646624. e-mail: yaghosimoes@usp.br

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Incêndio-padrão ISO:834 [3], assumindo a temperatura uniforme na seção transversal.


Entretanto, a grande maioria dos pilares que compõem as construções civis está inserida em
elementos de compartimentação (paredes), ocasionando assim alterações em seu
comportamento em relação às situações de não compartimentação, ou seja, isolados.

De acordo com a norma ABNT NBR 14432 [4], a compartimentação é uma medida de proteção
passiva que impede ou minimiza a propagação do fogo para fora dos seus limites. As paredes,
por exemplo, são consideradas elementos de compartimentação que auxiliam no combate ao
fogo por impedir o aquecimento uniforme do pilar. Com relação aos pilares inseridos em
paredes, deve-se considerar a formação de gradiente térmico na seção transversal como
consequência direta de apenas parte do pilar se encontra aquecido. Esse aquecimento
diferencial é responsável por aumentar as tensões e deformações no elemento estrutural, em
função da ocorrência do fenômeno do encurvamento térmico.

O fenômeno em questão é caracterizado, inicialmente, pelo encurvamento do pilar para o lado


exposto ao fogo devido a sua dilatação térmica. Como possui interação com a estrutura a sua
volta, essa mesma impõe restrições tanto axiais quanto rotacionais ao elemento. Diante disso,
um momento fletor contrário à ação térmica é gerado nas extremidades. Com o avanço da
temperatura e a degradação das propriedades mecânicas dos materiais, o centroide efetivo da
seção transversal migra para o lado mais frio, gerando excentricidade com relação à carga
aplicada, promovendo um momento fletor oposto ao originado pela ação térmica. A depender
da severidade do fogo, a direção do encurvamento pode ser alterada para o lado mais frio,
conforme mostrado na Figura 1a.

a) b)

Figura 1: (a) Deformada do pilar inserido em parede [5] e (b) Sistema completo dos ensaios
experimentais [6].

Em virtude das normas atuais apresentarem simplificações no tratamento dos pilares em


situação de incêndio, as pesquisas científicas sobre a temática são cada vez maiores. Estudos
na área de modelagem numérica têm se mostrado viável, com resultados bastante
satisfatórios, uma vez que esses métodos avançados de cálculo consideram questões que são
simplificadas nas normas atuais. Em consequência disso, há uma análise mais próxima da

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situação real, deixando assim de considerar apenas a temperatura crítica como grandeza em
projetos estruturais.

Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo realizar análises numéricas em
contexto puramente térmico de pilares de aço inseridos em paredes em situação de incêndio,
com aquecimento em apena uma face, por meio do uso de elemento do tipo casca. Para
validação do modelo, os resultados serão comparados com os valores numéricos e
experimentais descritos em Rocha [6], no qual foram empregados elementos do tipo sólido. Em
caráter complementar, estuda-se o gradiente térmico originado nos pilares pelo uso de
elementos de compartimentação. Destaca-se que, no âmbito da modelagem numérica, a
definição de um modelo termoestrutural consistente depende da determinação de um campo
térmico também consistente.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL DE REFERÊNCIA

Os modelos numéricos térmicos a serem desenvolvidos nessa pesquisa serão validados a


partir dos ensaios experimentais descritos em Rocha [6]. O programa experimental contou com
12 ensaios, sendo quatro com pilares isolados e oito considerando a interação de pilares com
paredes. Todos os protótipos foram ensaiados no Laboratório de Ensaio de Estruturas e
Materiais da Universidade de Coimbra, em Portugal. Os parâmetros definidos para o
experimento foram: esbeltez dos pilares, espessura da parede, posição do perfil em relação às
paredes, influência do concreto atuando em conjunto com os perfis de aço, fator de carga e
rigidez da estrutura circundante.

No tocante aos procedimentos de ensaio, os pilares foram inseridos em um sistema de


restrição tridimensional que impõe certo impedimento à deformação térmica, tanto em contexto
de translação como de rotação das extremidades. Em linhas gerais, os pilares foram
inicialmente carregados com uma parcela da sua força última sem qualquer influência da
estrutura de restrição a sua volta. Em seguida, ajustou-se o sistema de restrição para que
pudesse ser iniciado o processo de aquecimento através de um forno vertical modular elétrico,
conforme ilustra a Figura 1b, a qual mostra o sistema completo dos ensaios realizados.

O aquecimento foi imposto por meio do referido forno elétrico, no qual seus módulos foram
posicionados uns sobre os outros formando uma estrutura com 1,5 m x 1,5 m x 2,5 m. Assim, o
pilar que possuía 3,0 m de comprimento, considerando as chapas de topo, foi aquecido em
apenas 2,5 m. O término do ensaio deu-se quando as forças axiais, após atingido seu valor de
pico, voltaram para o valor medido no início do ensaio.

3. METODOLOGIA

Trata-se de estudo qualitativo e exploratório sobre o comportamento térmico de pilares de aço


inseridos em paredes e expostos à ação do fogo. Para o desenvolvimento dos modelos foi
utilizado o programa ABAQUS que utiliza em sua formulação o Método dos Elementos Finitos.

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3.1 Definição do campo de estudo

Dos doze pilares ensaiados em Rocha [6], dois foram objeto de estudo na presente pesquisa.
As características dos elementos a serem modelados, bem como as nomenclaturas a serem
utilizadas para sua representação, estão descritas na Tabela 1. A referência H220-ORT-T15
indica que o pilar, enquanto perfil metálico, possui alma ortogonal à superfície da parede. Por
sua vez, para o H220-PAR-T15 a alma se encontra paralela à alvenaria.

Tabela 1: Pilares escolhidos para a realização da modelagem numérica [6 adaptado]


Perfil Orientação Espessura
Nº Referência
HEA da alma do bloco
1 H220-ORT-T15 220 Ortogonal 15 cm
2 H220-PAR-T15 220 Paralela 15 cm

A Figura 2 traz uma representação esquemática da seção transversal dos pilares utilizados no
estudo. Nela estão indicadas as posições dos termopares nos ensaios experimentais,
apresentados pela terminologia TX.Y, em que X indica a seção do pilar que está se estudando
e Y a numeração do ponto de medição. Cita-se ainda que as temperaturas foram mensuradas
em cinco seções, em conformidade com a Figura 2c. Apesar disso, a apresentação dos
resultados e a validação dos modelos se faz tendo como referência a seção 3 (central).

Figura 2: Seção transversal dos pilares do campo de estudo (a) H220-ORT-T15; (b) H220-PAR-
T15; (c) Representação das seções em que foram medidas as temperaturas [6].

3.2 Elementos finitos utilizados

O ABAQUS, em seu guia para usuários, traz uma gama de elementos finitos que podem ser
utilizados para o desenvolvimento de modelos numéricos. Como proposta dessa pesquisa
foram empregados para representação dos perfis de aço elementos de casca DS4, que
apresenta como característica principal quatro nós na linha média de sua espessura, e
elementos sólidos DC3D8, composto por 8 nós, para reprodução das paredes.

3.3 Condições de contorno e propriedade dos materiais

A realização de análises térmicas com o uso do ABAQUS se baseia no princípio de


conservação de energia. Para o desenvolvimento dos modelos foi adotada a análise do tipo

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transiente, em que a distribuição de temperatura no elemento, assim como as propriedades


térmicas dos materiais, variam com o tempo.

As condições de contorno necessárias para realizar análises térmicas se referem aos


mecanismos de transferência de calor. Para consideração da convecção e radiação, acionam-
se os comandos “Surface film condition” e “Surface radiation”, respectivamente, do código
computacional. A aplicação desses fenômenos ocorre a partir da criação de uma superfície no
elemento estrutural e da inserção das grandezas “coeficiente de convecção” (𝛼𝑐 ), para o
primeiro mecanismo, e “emissividade resultante” (  ) da superfície, para o segundo. A
utilização da condução acontece com a inserção da densidade, condutividade térmica e calor
específico do material no modelo. As curvas de aquecimento empregadas nas faces expostas
em cada um dos três modelos foram aquelas obtidas nos três módulos do forno utilizado nos
ensaios experimentais, uma vez que a evolução da temperatura média do forno se distanciou
da curva de incêndio-padrão da ISO 834 [3].

As propriedades do aço utilizadas nas modelagens térmicas estão descritas nas normatizações
brasileira e europeia, no caso, ABNT NBR 14323 [1] e EUCORODE 3 Parte 1-2 [2]. Com
relação as paredes, não há código normativo que trate da alvenaria em situação de incêndio,
ou mesmo do comportamento de suas propriedades com o aumento da temperatura. Poe esta
razão, adotaram-se todas as propriedades independentes da temperatura, com valores 840
J/KgºC para o calor específico, 1600 Kg/m³ para a densidade e 0,7 para a condutividade
térmica, do mesmo modo como utilizado em Rocha [6].

4 CARACTERISTICAS GERAIS DOS MODELOS

Os dois modelos foram construídos de forma simplificada em comparação àqueles fornecidos


em Rocha [6], pois apenas o elemento estrutural e as paredes foram reproduzidos, como pode
ser visto na Figura 3, resultando assim em forte redução no tempo de processamento.

a) b)

Figura 3: Geometria dos modelos numéricos apresentados em: (a) Rocha [6] (b) Proposta
neste trabalho

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Além disso, cita-se que as paredes foram representadas através de um sólido maciço com uma
simplificação da sua largura. Adotou-se 0,5 m para cada lado do pilar, pois esse valor
corresponde, aproximadamente, a dimensão que estava sendo aquecida pelo forno. A união
entre elementos com materiais diferentes ocorreu com o emprego do comando tie constraint,
responsável por unir os graus de liberdade da superfície de contato.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Eficiência dos elementos finitos empregados

A verificação da eficiência dos elementos finitos foi realizada a partir da comparação entre os
resultados dos modelos numéricos térmicos desenvolvidos em Rocha [6], que empregou
elementos sólidos para representar o perfil de aço, com os resultados da presente pesquisa,
em que se utilizou elementos de casca para reproduzir os mesmos modelos numéricos. Para
que pudesse ser feita essa comparação, foi necessário usar os mesmos parâmetros e
simplificações do estudo de referência.

Diante disso, para a face exposta dos pilares foram empregadas emissividades no valor de 0,9
para a superfície de aço, 0,8 para aquela correspondente à parede, com coeficiente de
convecção igual a 25 Wm²/ ºC. Para a face não exposta, no caso de pilares inseridos em
alvenaria, considerou-se a perda de calor pelo fenômeno da convecção, com coeficiente de
convecção igual a 9 Wm²/ ºC e pelo fenômeno da radiação, com emissividade de 0,8 para a
superfície de todos os materiais.

As Figuras 4 e 5 mostram a comparação entre as curvas fornecidas pela modelagem numérica


com aquelas obtidas no ensaio experimental. Apenas o comportamento dos termopares mais
relevantes estão sendo apresentados nos gráficos das figuras 4 e 5, com vistas a uma melhor
visualização das curvas apresentadas nos mesmos. Os resultados para os demais pontos de
medição de temperatura apresentaram comportamentos similares.

Figura 4: Comparação entre resultados térmicos de elementos dos tipos casca e sólido para o
pilar H220-ORT-T15

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Figura 5: Comparação entre resultados térmicos de elementos dos tipos casca e sólido para o
pilar H220-PAR-T15

Com relação à eficiência dos elementos finitos empregados, pode-se afirmar que elementos de
casca podem ser empregados para representar pilares de aço, uma vez que as curvas
oriundas dos modelos numéricos resultam próximas daquelas obtidas nos ensaios
experimentais. De forma complementar, ao comparar as duas estratégias de modelagem,
observa-se que aqueles que empregaram elementos de casca representaram melhor os
ensaios experimentais para a maioria das situações, principalmente no caso em que a alma do
perfil metálico está em contato direto com fogo (Figura 5).

5.2 Validação dos modelos numéricos

Após a constatação da eficiência em se utilizar elementos finitos do tipo casca para representar
o pilar de aço, foram também realizadas análises de sensibilidade com relação aos parâmetros
de transferência de calor. Essa técnica foi empregada porque, ao utilizar aqueles valores
definidos em Rocha [6] citados anteriormente, ainda houve certo distanciamento entre as
curvas experimentais e numéricas para alguns termopares.

A partir da análise de sensibilidade dos parâmetros, uma gama de valores foi testada, inclusive
aqueles fornecidos pelas normas atuais. Assim, na presente pesquisa são adotados: para a
face exposta ao ambiente aquecido: 𝛼𝑐 = 25 W.m²/ ºC e para a superfície do aço e das
paredes,  = 0,8 e  =0,7, respectivamente; e para a face não exposta: 𝛼𝑐 = 4W.m²/ ºC e 
=0,6 e  =0,7 para a superfície do aço e das paredes, nessa ordem.

As Figuras 6 e 7 trazem os resultados térmicos para os modelos propostos dos pilares


inseridos em paredes, por meio dos quais é possível observar uma melhor consistência dos
modelos, uma vez que o uso dos novos parâmetros possibilitou melhora nos resultados,
principalmente para o pilar com a alma paralela à superfície da parede (Figura 7). Os
termopares não indicados apresentaram algum problema durante os experimentos.

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Figura 6: Validação do modelo numérico do pilar H220-ORT-T15

Figura 7: Validação do modelo numérico do pilar H220-PAR-T15

Utilizando os parâmetros definidos em Rocha [6], a diferença de temperatura entre o ensaio


experimental e a curva numérica para o termopar T3.3, por exemplo, aos 120 min, com relação
ao pilar H220-PAR-T15, resultou igual a 47,5 ºC. Por sua vez, utilizando os novos parâmetros,
essa mesma diferença reduziu para 23,8 ºC, indicando melhores resultados.

5.3 Estudo dos efeitos da compartimentação

Pilares inseridos em elementos de compartimentação, quando aquecidos, sofrem aquecimento


diferencial que traz como consequência direta a formação de gradiente térmico na seção
transversal, surgindo o fenômeno do encurvamento térmico. Diante disso, realiza-se nessa
seção um estudo do gradiente térmico nos pilares H220-ORT-T15 e o H220-PAR-T15 de forma
a avaliar em qual pilar o efeito aquecimento diferencial é mais pronunciado em função do modo

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como o mesmo é aquecido. Para tanto, se faz necessário que as curvas de aquecimento dos
gases dos dois elementos estruturais sejam iguais ou próximas, uma vez que as características
destas curvas influenciam diretamente no gradiente térmico. Como indicado na Figura 8, as
curvas de aquecimento são praticamente coincidentes, de forma que o estudo em questão
pôde ser realizado.

Figura 8: Curva de aquecimento dos gases para os pilares inseridos em paredes

Foram desenvolvidos gráficos apresentando os resultados da evolução da diferença de


temperatura entre pontos extremos expostos e não expostos do perfil em função do tempo.
Para o pilar H220-ORT-T15, que apresenta um gradiente térmico ao longo da alma, a diferença
de temperatura foi mensurada entre os termopares T3.1 e T3.6. Já para o pilar H220-PAR-T15,
a diferença de temperatura foi medida entre os pontos extremos das mesas, como pode ser
visto na Figura 9 a e b.

a) c)

b)

Figura 9: Indicação dos pontos utilizados para cálculo do gradiente térmico para o pilar na
orientação: (a) ortogonal e (b) paralela e c) gradiente térmico absoluto em função do tempo

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A Figura 9c traz a curva do valor absoluto do gradiente térmico em função do tempo para os
dois pilares referenciados anteriormente. Observa-se que o pilar H220-ORT-T15 apresenta um
gradiente térmico mais pronunciado que o H220-PAR-T15. Para o tempo de 120 min, comum
às duas curvas, a variação de temperatura alcança aproximadamente 800 ºC para o primeiro,
enquanto que para o segundo, é próximo aos 400 ºC. O resultado foi o esperado, uma vez que
o pilar com a alma paralela a superfície das paredes apresenta uma maior área aquecida e,
portanto, a seção transversal se aquece mais rápido, diminuindo o gradiente térmico formado.

6. CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos, pode-se afirmar que o uso de elementos finitos do tipo casca
para representar o perfil metálico, ao invés de elementos sólidos, se mostrou mais eficiente
levando à aproximação das curvas do modelo numérico àquelas oriundas dos ensaios
experimentais, principalmente para os modelos em que a alma do perfil se encontra em contato
direto com o fogo. Além disso, com relação ao gradiente térmico originado pela inserção de
paredes no pilar, observou-se que, quando ele se dá ao longo da alma, sua severidade é maior
se comparado ao que ocorre ao longo da mesa. Tal informação é importante, pois irá interferir
fortemente no tempo de resistência ao fogo do elemento, devido as tensões e deformações
gerados por esse aquecimento diferencial.

7. AGRADECIMENTOS

Ao Departamento de Engenhara de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, da


Universidade de São Paulo, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) pelo importante apoio à presente pesquisa.

8. REFERÊNCIAS

[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 14323: projeto de estruturas de aço e de
estruturas mistas aço e concreto de edifícios em situação de incêndio. ABNT, 2013, 66 p.
[2] European Committee for Standardization. EN 1993-1-2 - Eurocode 3 - Design of Steel
Structures. Part 1-2: General rules – Structural Fire Design. Eurocode, 2005, 81 p.
[3] International Organization for Standard - ISO 834-11 Fire-resistance tests - Elements of
building construct - Part 1: General requirements, ISO, 2014, 53 p.
[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 14432: Exigências de resistência ao fogo
de elementos construtivos de edificações - procedimento. ABNT, 2000, 15 p.
[5] Correia, A.J.P.M.; Rodrigues, J.P.C.; Real, P.V. - Thermal bowing on steel columns
embedded on walls under fire conditions, Fire Safety Journal, v. 67, 2014, p. 53-69.
[6] Rocha, F.M. - Pilares de aço e misto de aço e concreto inseridos em paredes em situação
de incêndio, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2016, 256 p.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ESTADO DA ARTE DO DESEMPENHO EM ALTAS TEMPERATURAS DE


ELEMENTOS DE CONCRETO REFORÇADOS COM FIBRAS DE
CARBONO E COM DIFERENTES TIPOS DE PROTEÇÕES PASSIVAS

Ciro J. R. V. Araujo* Carla Neves Costa Armando L. Moreno


Pesquisador Professora Professor
Instituto de Pesquisas Universidade Estadual Universidade Estadual
Tecnológicas do de Campinas de Campinas
Estado de SP Campinas, Brasil Campinas, Brasil
São Paulo, Brasil

Um dos fatores que reduzem a capacidade resistente das estruturas de concreto armado
reforçadas com PRFC (Polímeros Reforçados com Fibra de Carbono) é a ação do calor. A
temperatura elevada altera as condições preestabelecidas à temperatura ambiente para o
dimensionamento da seção reforçada do elemento estrutural. Tais condições estão associadas
à redução da capacidade resistente do adesivo, usualmente o epóxi, de transferir os esforços
entre o laminado e o concreto por ação térmica. O epóxi apresenta uma significativa redução
da resistência e do módulo de elasticidade quando é aquecido à temperatura de transição
vítrea, aproximadamente aos 60º C, facilmente ultrapassada durante a situação de incêndio.
Uma alternativa para melhorar o desempenho estrutural é utilizar revestimentos como proteção
passiva de estruturas de concreto reforçadas com PRFC, mas são necessários estudos sob os
aspectos de ensaios experimentais e de dimensionamento. Este trabalho discorre sobre o
desempenho em altas temperaturas de elementos estruturais reforçados com PRFC e
revestidos protegidos com diferentes tipos de proteções passivas observado em diversos
estudos registrados na literatura técnica científica até o presente.

Palavras-chave: reforço estrutural; altas temperaturas; resistência ao fogo; fibras de carbono.

*
Autor correspondente – Seção de Engenharia de Estruturas, Centro Tecnológico de Obras do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
Avenida Professor Almeida Prado, 532, Cidade Universitária. 05508-901 – São Paulo - SP - Brasil. Tel.: +55 11 3767 4171. e-mail: ciroaraujo@ipt.br

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1. INTRODUÇÃO

A necessidade de trabalhos de recuperação e reforço de estruturas está ligada a problemas


decorrentes de falhas de projeto e execução, degradação das estruturas por falta de
manutenção, alteração do tipo de utilização da prevista em projeto, regeneração da capacidade
portante diminuída em virtude de acidentes, tais como choques de veículos, incêndios, etc.

Uma técnica que vem sendo utilizada desde os anos 2000 em muitos países europeus,
Estados Unidos e Japão como reforço estrutural é a aplicação de materiais compósitos como
os polímeros reforçados do PRFC (Polímero Reforçados com Fibra de Carbono) nos elementos
de concreto armado.

O PRFC é um compósito formado por dois ou mais materiais diferentes que, quando solicitados
em conjunto, apresentam capacidades resistentes superiores aos mesmos materiais
trabalhando isoladamente. Trata-se de uma técnica muito promissora, que possibilita a
reabilitação das estruturas bem como o aumento da capacidade resistente do elemento
reforçado.

Em altas temperaturas, o refoço perde sua capacidade de transferir os esforços entre o


laminado e o concreto devido à redução da resistência e do módulo de elasticidade do adesivo
epóxi, sobretudo à temperatura aproximada de 60 ºC, chamada de “temperatura de transição
vítrea”, quando as transformações físicoquímicas levam à perda efetiva da capacidade
resistente. Essa hipersensibilidade a temperaturas abaixo dos 100 ºC demove a segurança
estrutural de elementos de concreto reforçados na situação de incêndio.

Segundo ACI Committee 440.2R-08[1], a capacidade resistente do reforço em situação de


incêndio deve ser desprezada, ignorando-se por completo a contribuição da resistência do
PRFC nas verificações dos ELS (Estados Limites de Serviço). O desempenho estrutural desse
tipo de reforço poderá ser considerado em situação de incêndio se, e somente se, a
temperatura do sistema de reforço for inferior à temperatura de transição vítrea dos materiais
constituintes do reforço – o compósito e a resina de fixação ao concreto – demonstrado por
métodos científicos de verificação.

Os revestimentos usados como proteção passiva de estruturas podem impedir que a


temperatura no PRFC se eleve por um maior período de tempo, para assegurar a estabilidade
estrutural em situação de incêndio.

Neste trabalho são apresentados alguns estudos realizados sobre o comportamento em altas
temperaturas de estruturas de concreto reforçadas com PRFC com proteção passiva.

2. O QUE É O PRFC?

O PRFC é um tipo de material compósito constituído por polímeros reforçados com fibras de
carbono, i.e., materiais multifásicos (mínimo duas fases) produzidos artificialmente com uma
combinação desejável de propriedades das fases constituintes. Geralmente, uma fase (a

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matriz) é contínua e menos rígida e envolve completamente a outra, a dispersa, que é


descontínua e mais rígida denominada “fibra”. A Figura 1 mostra alguns tipos de materiais
compósitos produzidos com polímeros reforçados com fibras.

Figura 1: Tipos de materiais compósitos produzidos com polímeros reforçados com fibras.
Fonte: adaptado de [2]

A fibra geralmente possui forma de filamentos de pequeno diâmetro. A matriz possui


comportamento dúctil envolvendo completamente a fibra, permitindo a transferência de tensões
entre as fibras interlaminares [3].

As fibras devem possuir elevada resistência e módulo de elasticidade por terem a função de
suportar as solicitações mecânicas dos compósitos. Dias, citado por Vieira [4], descreve outras
características: a baixa densidade e comportamento frágil, ou seja, comportamento elástico
sem patamar de escoamento.

As matrizes possuem as funções básicas: transferir os esforços para as fibras; manter as fibras
unidas em conjunto; proteger as fibras das agressões ambientais e de danos mecânicos e deve
ser quimicamente, termicamente e mecanicamente compatível com as fibras.

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O arranjo e orientação das fibras, a concentração e sua distribuição têm influência significativa
sobre a resistência e sobre outras propriedades dos compósitos reforçados com fibras. A
melhor combinação geral das propriedades dos compósitos é obtida quando a distribuição das
fibras é uniforme [5].

A Figura 2 mostra o comportamento tensão x deformação de um compósito com as fibras


contínuas e alinhadas. No estágio 1 a fibra e a matriz apresentam comportamento elástico,
apresentando uma curva linear. No estágio 2 a matriz escoa e se deforma plasticamente,
enquanto que as fibras continuam a se deformar elasticamente, uma vez que o limite de
resistência à tração da fibra é significativamente maior que o limite de escoamento da matriz.
Dessa forma, está qualificada a fibra com comportamento totalmente frágil e, a matriz,
razoavelmente dúctil. A ruptura do compósito se dará a uma deformação Ɛf, correspondendo à
máxima deformação das fibras [5].

Figura 2: Tipos de materiais produzidos com polímeros reforçados com fibras [5].

3 EFEITO DAS ALTAS TEMPERATURAS NAS ESTRUTURAS REFORÇADAS COM PRFC

O trabalho em conjunto dos materiais compósitos aderidos à superfície dos elementos de


concreto armado proporcionam um aumento da capacidade resistente estrutural. A técnica com
a aplicação de laminados, colados na superfície externa do elemento pela técnica External
Bonded Reinforcement (EBR), ou inseridos no cobrimento de concreto pela técnica Near
Surface Mounted (NSM), são opções muito eficazes no aumento da capacidade resistente do
elemento estrutural [6].

Em situações de incêndio o refoço pode perder a sua capacidade de transferir os esforços


entre o laminado e o concreto devido à redução da resistência e do módulo de elasticidade do
adesivo epóxi sob temperaturas elevadas. Alterações significativas das propriedades dos
materiais ocorrem quando o PRFC é aquecido à temperatura de transição vítrea “Tg”
compreendida entre 60 °C e 82 °C [1], conforme o tipo e a natureza dos materiais
componentes. A temperatura de transição vítrea pode ser determinada por meio de ensaios de
acordo com ASTM D4065 e pode ser fornecida pelo fabricante.

A consideração do reforço em situação de incêndio somente poderá ser utilizada quando for

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comprovada que a temperatura do sistema de reforço seja inferior à temperatura de transição


vítrea dos materiais constituintes, seja a resina do compósito PRFC ou a resina do adesivo;
geralmente, a temperatura do adesivo é a mais condicionante. Além disso, o elemento
estrutural, sem a consideração do sistema de reforço, deve possuir capacidade suficiente para
resistir a todas as cargas de serviço aplicáveis durante um incêndio [1].

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE PESQUISAS DE DESEMPENHO DE PROTEÇÃO


PASSIVA EM ELEMENTOS DE CONCRETO REFORÇADOS COM PRFC

Lima [7] estudou o comportamento de corpos de prova prismáticos de concreto com dimensões
de 4 cm x 4 cm x 16 cm, não armados e reforçados com tecido de fibra de carbono. Os corpos
de prova foram submetidos a elevadas temperaturas, para avaliação paramétrica de
temperaturas e de tempos de exposição, número de camadas de reforço, formas de ruptura
desses corpos de prova e influência de proteções passivas, sendo elas de argamassa de
revestimento e gesso.

O estudo envolveu a análise de proteção passiva aplicada no entorno dos corpos de prova
reforçados com tecido fibra de carbono colado com epoxi em uma das faces dos prismas,
sendo realizada uma combinação de variáveis do estudo, resultando num total de 228
elementos. As variáveis de seu estudo foram:
 Prisma sem a aplicação de reforço;
 Prisma com aplicação de uma cama de reforço de tecido de PRFC;
 Exposição a patamares de tempertura: ambiente, 80 ºC, 160 ºC e 240 ºC;
 Tempos de exposição em minutos: 0; 30; 60 e 120;
 Sem aplicação de proteção passiva;
 Com aplicação de proteção passiva constituída de argamassa de revestimento e
gesso.

A Figura 3 mostra a colagem dos tecidos de fibra de carbono nos prismas e as Figuras 4 e 5
mostram os prismas envolvidos com proteção passiva de argamassa e de gesso, com
espessura de cobrimento de 1,5 cm.

Figura 3: Colagem dos tecidos de fibra de Figura 4: Modelo de prisma protegido com
carbono nos prismas [7]. argamassa de revestimento [7].

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Figura 5: Modelo de prisma protegido com


gesso [7].

A avaliação do comportamento dos prismas consistiu em expor esses elementos reforçados a


diferentes patamares de temperaturas por determinados períodos de tempo e após o
resfriamento por completo dos modelos, submetê-los a ensaios de flexão até a ruptura,
conforme mostrado nas Figuras 6 e 7.

Figura 6: Esquema de aplicação de carga [7]. Figura 7: Aplicação de carga ao modelo [7].

Os ensaios mostraram o aumento da capacidade resistente dos elementos estruturais


reforçados com tecido de fibra de carbono à temperatura ambiente, e a redução do
desempenho em altas temperaturas, devido à volatização do adesivo epóxi [7].

Os elementos protegidos com proteção passiva, para os revestimentos de argamassa ou de


gesso apresentaram melhor desempenho estrutural, porém, insuficiente para a segurança
estrutural esperada. A proteção passiva contribuiu para retardar a elevação da temperatura no
interior do concreto e, por conseguinte, a degradação do elemento compósito; contudo, Lima
[7] percebeu que a espessura de cobrimento do revestimento contra fogo utilizado nos seus
estudos não foi suficiente para proteger o reforço.

Oliveira [3] desenvolveu um estudo experimental para dois tipos de sistemas de proteção
térmica: pintura intumescente e argamassa projetada aplicada sobre o reforço de corpos de
prova de concreto reforçados com tecido de fibra de carbono e expostos a temperaturas

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elevadas. O estudo teve o objetivo de aferir a temperatura crítica em que o sistema perda a
eficiência, a resistência residual após a exposição ao fogo e a eficiência dos dois sistemas de
proteção passiva (Figuras 8 a 10).

Figura 8: Amostras reforçadas Figura 9: Corpos de Figura 10: Corpos de prova


[3]. prova protegidos com protegidos com argamassa
tinta intumescente [3]. projetada [3].

Os resultados mostraram que a 350 ºC, o compósito não oferece mais confinamento ao
sistema, deixando de contribuir na capacidade resistente do elemento estrutural nos corpos de
prova sem nenhuma proteção externa. Essa temperatura corresponde a 1 min de exposição ao
incêndio-padrão [8], indicando a necessidade de utilização de um sistema de proteção passiva
para esses elementos reforçados terem resistência ao fogo.

Oliveira [3] verificou que pinturas intumescentes oferece uma proteção ineficiente, pois quando
a tinta inicia o processo de proteção do elemento por meio de expansão volumétrica, o tecido
da fibra de carbono já se desprendeu do concreto, anulando a função de reforço estrutural. Já
nas amostras protegidas com argamassa projetada, a eficiência da proteção foi melhor,
comparada à tinta intumescente, porém, os tempos de resistência ao fogo ainda são muito
inferiores ao TRRF (Tempo Requerido de Resistência ao Fogo) estabelecido pelas normas
técnicas para os elementos estruturais [9], [11].

Silva [10] também investigou o desempenho do material de proteção passiva na resistência de


vigas de concreto armado reforçadas com PRFC submetidas às altas temperaturas sob
carregamento de 70% da carga de cálculo de projeto para temperatura ambiente. Os objetivos
do estudo foram: estudar o comportamento de vigas reforçadas com PRFC pelas técnicas de
reforço EBR (Externally Bonded Reinforcement) e NSM (Near Surface Mounted); avaliar a
influência da temperatura sobre o adesivo de colagem do refoço do tipo de epóxi e a base
cimentícea; avaliar o desempenho do sistema de proteção passiva com uso de placas de
silicato de cálcio, de espessuras de proteção de 25 mm e 50 mm, fixadas na região central e
nas extremidades das vigas reforçadas com PRFC (Figura 11).

As vigas reforçadas sem proteção passiva resistiram a tempos de 2 min para reforços pela
técnica EBR, e 17 min para reforços pela técnica NSM (Figura 12). Esses tempos de
resistência ao fogo são bem inferiores àqueles requeridos por normas [9]. O TRRF mínimo é de

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30 minutos [9], [10], [11]. Para a proteção passiva com placas de silicato de cálcio, os
resultados indicaram tempo de resistência ao fogo foram maiores, sobretudo para reforços pela
técnica NSM (Figura 12). Para o sistema de proteção passiva com placas de silicado de cálcio,
os elementos com reforços colados com adesivo epóxi apresentaram maior tempo de
resistência ao fogo do que com adesivo à base cimentícia [10].

Figura 11: Geometria do sistema de proteção e posicionamento nas


vigas [10].

Figura 12: TRF (tempo de resistência ao fogo) dos sistemas de proteção passiva.
Fonte: [10] adaptado.

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A Tabela 1 mostra um resumo dos trabalhos realizados por [3], [7] e [10].

Tabela 1: Resumo dos trabalhos realizados por [3], [7] e [10].


Temperatura
Tipo de Reforço Tempo de
Elemento e tipo (ºC) e/ou taxa Proteção
Autor e de adesivo de exposição Resultados
de ensaio de Passiva
colagem (min)
aquecimento

a)Temperatura até 180º - Eficiência do


reforço manteve-se uniforme
b) Temperatura de 240ºC - Redução
de 30% da capacidade portante
Ensaios à Flexão c) Temperatura de 410º - Perda
de Corpos de Elevação de completa da eficiência do reforço com
Tecido de fibra de
prova Prismáticos temperatura com a volatização do epoxi
carbono colado Gesso
de 4cmx 4cm x taxa de 8ºC/min
Lima [7] com Epoxi na 0, 30, 60 e 120 Argamassa de
16cmcom Temperaturas de
superfície do revestimento
carregados até a estudo:
elemento Obs: As proteções passivas
ruptura após 80, 160 e 240
contribuíram para retardar a elevação
esfriados
da temperatura no interior do concreto
e a degradação do elemento
compósito, porém, insuficientes para
garantir a segurança estrutural

a) A pintura intumescente não


Elevação de garantiu proteção ao sistema de
Compressão de temperatura reforço.
corpos de prova Tecido de fibra de conforme a Variável - b) A argamassa projetada preservou
Pintura
Cilíndriocps de carbono colado ISO834 conforme eram por completo o sistema de reforço até
Oliveira intumescente
15cm x 30cm com Epoxi na Temperaturas de atingida as uma temperatura de 500ºC.
[3] Argamassa
até a ruptura, à superfície do estudo: temperaturas c) Para temperatura de 700ºC o
Projetada
quente e após elemento 300, 350, 400, de estudo sistema de proteção já não teve mais
esfriados 500, 600, 700, efeito, desprotejendo o material
800 e 1050 compósito.

a) As vigas reforçadas sem proteção


passiva resistiram a tempos de 2 min
Laminados de para reforços pela técnica EBR, e 17
Flexão em vigas polímero reforçado min para reforços pela técnica NSM.
Variável -
com dimensões de com fibras de b) A técnica NSM apresentou
conforme a Placas de
10 x 12 x 150 (cm) carbono, colados Elevação de melhores resultados em relação à
capacidade silicato de
Silva Com carregamento pela Técnica EBR temperatura tecnica EBR para as vigas com e
resistente do cálcio dispostas
[10] constante de 70% com epoxi e pela conforme a ISO sem proteção passiva.
elemento em diferentes
da carga de projeto Técnica NSM com 834 c) As vigas protegidas e com os
reforçado e posições
em temperatura epoxi e com reforços colados com adesivo epóxi
protegido
ambiente resina a base apresentaram maior tempo de
cimentícia resistência ao fogo em relação aos
colados com resida a à base
cimentícia.

4. CONCLUSÕES

Os refoços de PRFC utilizados nas estruturas de concreto perdem a função estrutural na


medida em que a temperatura se eleva, sobretudo quando aquecidos à chamada “temperatura
de transição vítrea” dos materiais constituintes. Dessa forma, para situações de incêndio, não
deve ser considerada a contribuição do reforço na capacidade resistente da estrutura.

A utilização de proteção passiva nos elementos estruturais reforçados permite prolongar o

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tempo de exposição às altas temperaturas; entretanto, há muito a ser investigado nesta linha
de pesquisa para ampliar o conhecimento sobre os materiais e tipos de proteção mais
adequados a serem aplicados nas estruturas reforçadas com polímeros de fibras de carbono.

5. REFERÊNCIAS

[1] American Concrete Institute. ACI Committee 440.2R-08: Guide for the design and
construction of externally bonded FRP systems for strengthening concrete structures.
Farmington Hills: ACI, 2008. 76 p.
[2] Fédération INTERNATIONALE [du] BÉTON. FRP in RC Structures. Lausanne:
International Federation, 2007 (Bulletin. FIB; 40). 160 p.
[3] Oliveira, C. R. Sistemas de Proteção Para Concreto Reforçado com CFRP em Situação de
Incêndio. Tese (Doutorado), Universidade Estadual de Campinas, 2012, xxvi, 286 p.
[4] Vieira, A. C. C. Influência da pré-fendilhação do betão no reforço à flexão de vigas de
betão armado com laminados de CRFP inseridos. Dissertação (Mestrado). Universidade
do Minho (Portugal), Set. 2013. 101 p.
[5] Callister, W. D.; Rethwisch, D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 9ª
Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. 912 p.
[6] Carvalho, T. S. Reforço à flexão de vigas de betão armado com compósitos de CFRP. 185
f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de
Lisboa. Lisboa, Set. 2010. 185 p.
[7] Lima, R. C. A. Investigação dos efeitos de temperaturas elevadas em reforços estruturais
com tecidos de fibra de carbono. Dissertação (Mestrado) – Universidade Fedreal do Rio
Grande so Sul. Porto Alegre, 2001. 125 p.
[8] International Organization for Standardization. ISO 834: fire-resistance tests: elements of
building construction: part 1.1: general requirements for fire resistance testing. Geneva,
1990. 25 p. Revision of first edition (ISO 834:1975).
[9] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14432: Exigências de Resistencia ao
Fogo de Elementos Construtivos de Edificações – Procedimento. Rio de Janeiro, 2001. 14
p.
[10] Silva, J. D. P. Comportamento ao fogo de vigas de betão armado reforçadas à flexão com
laminados de fibras de carbono (CFRP). Dissertação (Mestrado), Instituto Superior
Técnico. Lisboa, 2013. xxiii, 165 p.
[11] SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Polícia
Militar. Corpo de Bombeiros. Instrução Técnica n. 08/2011: Resistência ao fogo dos
elementos de construção. São Paulo, 2011. 11 p.

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ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS RESIDUAIS DO CONCRETO


DE ALTA RESISTÊNCIA COM E SEM O USO DE FIBRA DE
POLIPROPILENO SUBMETIDO A ALTAS TEMPERATURAS

Héllykan Monteiro* José J. Rêgo Silva Tiago A. C. Pires


Mestranda Professor, PhD Professor, PhD
Universidade Federal de Universidade Federal de Universidade Federal de
Pernambuco Pernambuco Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Tibério Andrade Mayara Modesto


Professor Mestranda
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: Concreto; Resistência; Spalling; Polipropileno; Incêndio;

1. INTRODUÇÃO

Quando utilizados nas construções, os elementos estruturais de concreto devem ser projetados
para atender tanto aos requisitos de solicitações mecânicas quanto aos de resistência ao fogo.
Um dos fatores determinantes do comportamento de um elemento estrutural de concreto frente
à ação do fogo é a sua capacidade de isolar o calor (impedindo que ele atinja a armadura) e de
suportar a subsequente ação da água e do resfriamento mantendo suas propriedades
mecânicas.

Quando exposto ao fogo, o concreto que ainda apresenta um teor de umidade, o qual se
transforma em vapor, acaba resultando um aumento de pressão nos poros o que pode levar a
ruptura do concreto [1]. Como os concretos de alta resistência apresentam maior sensibilidade
quando expostos ao fogo, em relação ao concreto convencional, devido a sua baixa
porosidade, essa ruptura, em geral, é explosiva, podendo expor a armadura. Ou seja, em uma
situação de incêndio com um concreto de alta resistência haveria a perda considerável das
suas propriedades mecânicas (resistência à compressão e módulo de elasticidade), com
ocorrência de spalling.

Diante da fragilidade do concreto de alta resistência ao efeito spalling, quando exposto ao fogo,
foram realizados alguns estudos sobre a adição de fibras de polipropileno para proteção contra
o fogo, embora ainda escassos na literatura. Em uma situação de incêndio, as fibras de
polipropileno sublimarão em torno de 170 ºC, criando uma rede de microcanais no interior do
concreto, que servirão como condutores para a liberação do vapor de água para o exterior do
concreto [2]. No que diz respeito à quantidade de fibra a ser adicionada à mistura, foi

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua
Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil.. e-mail: hellykan@hotmail.com

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observado que de 1 a 3 Kg/m³ de fibra de polipropileno é o necessário para ter um efeito


mitigador contra o desprendimento do concreto. Porém, quanto maior o teor de fibras menor a
trabalhabilidade do concreto [3]. Em relação à conectividade entre os poros, tem-se que quanto
maior o número de fibras, maior a chance de ligação entre os poros. Neste sentindo, as fibras
de menor diâmetro são mais eficientes, já que podem atingir um maior número de fibras por
unidade de volume com a mesma quantidade de fibra por volume [4].

O objetivo desde trabalho é analisar a capacidade de suporte de uma estrutura de concreto


após ser submetida a uma situação de incêndio, analisando sua resistência à compressão
residual, a ocorrência ou não de spalling, assim como a interferência da umidade e a geometria
do corpo-de-prova, avaliando também a eficiência das fibras de polipropileno no combate ao
spalling.

2. METODOLOGIA

Os métodos de ensaio para concreto de alta resistência com uso de fibra de polipropileno (PP)
submetido a elevadas temperaturas não é normatizado. Visto isto, alguns artigos e teses
serviram de inspiração para o desenvolvimento da pesquisa [5, 6,7,8,9].

Neste estudo foram utilizados dois tipos de concretos. Um concreto produzido anteriormente
(fabricado em agosto de 2015), com estimativa de resistência de 75MPa (Traço I), este
moldado em diferentes geometrias e sem o uso de fibra de polipropileno. E um segundo traço
foi desenvolvido, com estimativa de resistência de 100MPa, com a introdução da fibra de
polipropileno em metade dos corpos-de-prova fabricados (Traço II - sem fibra e Traço III – com
fibra). Para a avaliação da resistência à compressão todos os concretos foram ensaiados em
temperatura ambiente para a avaliação da resistência a compressão residual, os mesmo foram
submetidos às temperaturas de 400, 600 e 800ºC, analisando também a ocorrência de spalling.
Também foram adotados diferentes tipos de resfriamentos, sendo eles resfriamento lento e
brusco, além da verificação de resistência com os corpos-de-prova ainda quentes. Inicialmente
foram feitos testes com a mesma taxa de aquecimento, de 10ºC/min, para todos os concretos,
porém, o Traço II não suportou a taxa de aquecimento, havendo a ocorrência de spalling
explosivo em todas as amostras ensaiadas. Para que houvesse material para a analise de
resistência à compressão residual, optou-se em diminuir a taxa de aquecimento para os
ensaios de aquecimento realizados com este traço, foram realizados novos testes com
variadas taxas de aquecimento, no entanto a única taxa em que não houve explosão do
material foi à taxa de 1ºC/min, sendo mantida para todas as temperaturas ensaiadas no Traço
II.

Os resultados encontrados foram comparados com resultados contidos na literatura


internacional e nacional. Estes dados serão utilizados para validar o uso das fibras de
polipropileno no combate ao spalling em concretos de alta resistência com valores em torno de
100 MPa, além de verificar a influência da forma geométrica do corpo-de-prova para ocorrência
de spalling e de resistência residual.

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2.1 Proporções da Mistura

A proporção da mistura de Traço II e Traço III encontram-se ilustrados na Tabela 1. Os


materiais utilizados na pesquisa foram, cimento CP V Ari, areia fina, brita granítica de diâmetro
máximo de 12,5 mm, o aditivo superplastificante foi o MC-Powerflow 3100, sílica ativa e a fibra
de polipropileno, do tipo monofilamentos de polipropileno de 12 mm de comprimento e 34 μm
de diâmetro para concreto.

Todos os materiais foram inseridos na betoneira, seguindo a ordem: primeiro o agregado


graúdo, o cimento, a sílica ativa, uma parte da água e o agregado miúdo, em seguida foi
adicionado uma parte do aditivo e as fibras (para o concreto com adição de fibra de PP), por
fim foi inserido e o restante da água e do aditivo. Os materiais foram misturados por cerca de
15-17 min., tempo necessário para que o concreto apresentasse trabalhabilidade adequada,
visto o baixo valor da relação a/c. Um ensaio de abatimento foi realizado para determinar a
trabalhabilidade do concreto recém-misturado, onde verificou-se características de concreto
autoadensável, medindo então o espalhamento, que foi superior a 800 mm para o concreto
sem fibra e de 750 mm para o concreto com adição de fibra de PP, com isto, não houve
necessidade de aumentar a quantidade de água ou aditivo para a mistura com a presença das
fibras. A série, com 100 corpos-de-prova foi moldada em formas cilíndricas de (10x20) cm,
sendo 50 CP’s sem fibra e 50 CP’s com fibras de polipropileno. Sendo desmoldados após 24h
e curados em câmara úmida. As amostras foram retiradas da cura aos 28 dias, onde foram
submetidas aos ensaios do forno. A cura e os ensaios posteriores foram realizados no
Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia Civil da UFPE.

Tabela 1: Proporção da mistura dos concretos sem e com fibra de PP (unid.Kg/m3)

Concreto Cimento Sílica Areia Brita Água Aditivo - Fibra -


Superplatificante PP
Traço II 752 65 272 372 165 14,7 -
Traço III 752 65 272 372 165 14,7 1,5

2.3 Análises da influência da geometria e umidade

Para esta parte da pesquisa foi utilizado o Traço I, o qual havia sido moldado anteriormente,
sendo composto de 120 corpos-de-prova, destes, 48 CP’s cilíndricos (10x20), 36 CP’s
cilíndricos (15x30) e 36 CP’s cúbicos (15x15x15), moldados no final de 2015. Devido ao tempo
de moldagem e a forma que estavam armazenados, observou-se que os corpos-de-prova
estavam totalmente secos, para esta comprovação, foi realizado o ensaio de teor de umidade
em uma amostra destes CP’s, constatando a observação anterior. Para que fosse possível a
análise da influência da umidade, os mesmos foram inseridos em água durante 90 dias.
Posteriormente, os CP’s de diferentes geometrias foram ensaiados a três diferentes
temperaturas (400°C, 600°C e 800ºC com taxa de aquecimento máxima de 10°C/min) para a

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observação de ocorrência de spalling, variando também o modo de resfriamento, para a


observação da resistência à compressão residual, como está descrito nos tópicos a seguir.

2.4 Ensaios de aquecimento

Os ensaios de aquecimento foram realizados em um forno elétrico trifásico com resistências de


aço Kanthal A, fabricado pela Linn Elektro Therm, com potencia e tensão de 18KW e 380 V,
respectivamente. As temperaturas ensaiadas foram 400, 600 e 800ºC, com taxa de
aquecimento de 10ºC/min para o Traço I e Traço III e de 1ºC/min para o Traço II. O término do
ensaio se deu quando o núcleo do corpo-de-prova atingiu a temperatura desejada, valor obtido
com auxilio de um termopar inserido no interior de um dos CP’s. Então a porta do forno foi
aberta para o início dos diferentes tipos de resfriamentos, onde três corpos-de-prova foram
imersos em água e três foram arrefecidas até à temperatura ambiente no interior do forno,
sendo respectivamente os resfriamentos brusco e lento, ambos os resfriamentos duraram 24h.
Além de três corpos-de-prova que foram ensaiados ainda quentes. Após 24h de resfriamentos
as demais amostras foram ensaiadas para avaliação da resistência residual, através do ensaio
de resistência à compressão. Todas as alterações de superfície (cor e fissuração) das
amostras após a exposição à temperatura foram observadas e avaliadas.

2.5 Ensaios de Resistência à compressão

O ensaio de compressão foi realizado em uma prensa hidráulica de capacidade 300 KN,
modelo 5590-HLV Series, da fabricante Instron. O ensaio de resistência à compressão seguiu
os procedimentos da ABNT NBR 5739:2007.

4. RESULTADOS E DISCUSÕES

4.1 Resistência à Compressão Residual

De acordo com a Figura 1, tem-se que os valores de resistência à compressão dos Traços II e
III. Podendo ser observado que as fibras de polipropileno não interferiram significativamente na
resistência à compressão do concreto.

110
105
Resistência (MPa)

100
95
90
85
80
75
70
4 7 14 28
Tempo (dias)
Sem fibra-PP Com fibra-PP
Figura 1: Valores das resistências à compressão dos Traços II e III.

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A Figura 2 mostra os valores de resistência em temperatura ambiente do Traço I para as


diferentes geometrias.

90
85
Resistência (MPa)

80
75 10x20
70
65 15x30
60 15x15x15
55
50
Temperatura
1 ambiente

Figura 2: Resistências das diferentes geometrias do Traço I em temperatura ambiente.

De acordo com Araújo [10], sabe-se que, ao reduzir a altura do corpo de prova, ocorre um
aumento da resistência à compressão. Esse aumento de resistência decorre do impedimento à
deformação transversal, causado pelas placas de aço da máquina de ensaio, o que está
coerente com os resultados de resistência à temperatura ambiente, realizados nos CP’s com
diferentes geometrias, onde se observa a maior resistência no CP cilíndrico (10x20) cm.
Quanto aos CP’s cúbicos, Hamassaki e Santos [11] discorrem que as resistências em cubos
são maiores do que as obtidas em cilindros (h/d=2). Uma das justificativas seria a maior
influência do atrito das placas da prensa no cubo por causa da menor relação h/d que é cerca
de 0,9 (considerando-se a aresta como a altura h e o diâmetro equivalente à superfície de um
lado do cubo). Quanto menor a relação h/d, maior será o valor de resistência à compressão. No
entanto, os valores obtidos na pesquisa não seguem essa conclusão; uma das causas
prováveis para esta diferença pode talvez ser justificada na moldagem do concreto, uma vez
que, as formas utilizadas eram de madeira, isso pode ter causado a perda de água de
hidratação do cimento não havendo água suficiente para realizar todas as reações químicas
necessárias. Esta conclusão ainda carece de maior estudo.

A Tabela 2 mostra os valores médios de resistências à compressão residual das diferentes


temperaturas e geometrias do Traço I, nos diferentes tipos de resfriamentos.

Tabela 2: Valores de resistência à compressão residual Traço I

Temperatura Cilindro (10x20)cm Cilindro (15x30)cm Cúbico (15x15x15)cm


(ºC) MPa MPa MPa
Quente Lento Brusco Quente Lento Brusco Quente Lento Brusco
400 68,62 53,24 35,02 68,02 56,96 50,65 71,15 75,22 66,37
600 24,49 25,56 12,47 34,46 26,48 24,16 60,88 55,14 48,42
800 8,99 12,88 5,17 26,17 23,56 19,11 34,49 43,26 27,26

Na Tabela 3 estão dispostos os valores médios de resistência à compressão residual do Traço


II e III. Observa-se que a resistência à compressão residual diminui com o aumento da

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temperatura e com o aumento do tempo de exposição, independentemente da presença de


fibras PP.

Tabela 3: Valores de resistência à compressão residual do concreto sem e com fibra com
diferentes tipos de resfriamento

Temperatura (ºC) Traço II Traço III


Quente Lento Brusco Quente Lento Brusco
400 99,5 99,6 83,0 112,8 99,2 88,2
600 67,7 55,8 51,5 49,8 47,2 45,2
800 38,3 38,0 18,7 44,4 37,6 35,9

Para o Traço I, as Figuras 3, 4 e 5 mostram os valores médios encontrados após os ensaios de


aquecimento, os quais foram expostos à taxa de 10ºC/min. As Figuras 6, 7 e 8 comparam a
resistência à compressão residual dos Traços II e III. Analisando os gráficos, ver-se que a
deterioração do concreto se dá com o aumento da temperatura de exposição,
independentemente da presença da fibra de PP, perdendo suas propriedades mecânicas em
temperaturas superiores à 400ºC. Comparando com os tipos de resfriamento, tem-se que o
resfriamento brusco é mais danoso a estrutura, diminuindo significativamente a capacidade de
suporte da peça.

Nenhum spalling ocorreu nas amostras do Traço III durante os ensaios no forno. Isto valida o
uso da fibra de PP, por melhorar acentuadamente a resistência contra o efeito spalling. Como
dito anteriormente, a taxa de aquecimento para o Traço II teve que ser alterada de 10 para
1ºC/min, pois foi observado spalling’s explosivos nas amostras sem fibras de PP em diferentes
temperaturas. Em particular, na temperatura de 400ºC, o que explica Hansen (1996) apud
Hertz [12], indicando que o spalling geralmente ocorre perto do ponto crítico de vapor de
374ºC. Pois além deste ponto um poro não pode conter líquido e vapor, ao mesmo tempo, o
que aumenta drasticamente a pressão.

Deve-se levar em consideração que o tempo de exposição do Traço II foi superior, devido à
baixa taxa de aquecimento. Outra explicação para os valores ligeiramente superiores do Traço
III é comentada por Xiao e Falkner [13], onde sugere que as principais razões podem ser
explicadas pelo derretimento das fibras de PP sob altas temperaturas e formar novos canais
para libertar as pressões induzidas termicamente e, por conseguinte, evitar a perda excessiva
de resistência à compressão.

Os resultados apontam para uma boa convergência com resultados experimentais feitos pelos
demais pesquisadores da área, onde se tem uma queda de resistência do concreto após sua
exposição ao fogo, decaindo cada vez mais de acordo com o valor e tempo de exposição a
cada temperatura adotada. Xiao e Konig [14] afirmam que a resistência à compressão do
concreto começa a diminuir drasticamente quando a temperatura ultrapassa os 400ºC, com
cerca de 80% de perda da resistência quando chega à temperatura de 800ºC. Neste estudo
podem-se observar as mesmas características, de acordo com o aumento da temperatura,
onde a perda de resistência começa a ser eminente a partir dos 400ºC chegando a apenas
16% de sua capacidade de suporte aos 800ºC, para o concreto de referência, o mesmo foi

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exposto as piores condições de ensaios, sendo submetido aos 800 ºC com uma taxa de
aquecimento de 1ºC/min. O que elevou consideravelmente seu tempo de permanência no forno
em relação ao concreto com fibra de PP.

100 100
CP - (10x20) cm CP - (15x30) cm

Resistência (Mpa)
Resistência (MPa)

80 80
60 60
40 40

20 20

0 0
28 400 600 800 28 400 600 800
Temperatura ºC Temperatura ºC
Temp. ambiente Quente
Temp.ambiente quente Brusco Lento

100
CP - (15x15x15) cm
Resistência (MPa)

80
60
40
20
0
28 400 600 800
Temperatura ºC
Temp. ambiente Quente Brusco Lento

Figuras 3, 4 e 5: Respectivas resistências à compressão dos CP’s (10x20)cm, (15x30)cm e


(15x15x15)cm, em diferentes Temperaturas e com os diferentes tipos de resfriamentos.

Chan et al. [15] comentam que a perda intensa de resistência à compressão ocorreu
principalmente dentro do intervalo de 400-800°C. Isto pode ser considerado como uma
característica comum para o concreto de alta resistência e para o concreto comum, desde que
o cimento utilizado seja o Portland, porque neste caso, a pasta de cimento, que é a principal
fonte de resistência do concreto, é obrigada a passar por desidratação do gel C-S-H e perder a
sua capacidade de cimentação.

A coloração do concreto pode ser atribuída à mudança na textura e composição, expansão e


destruição dos minerais durante um incêndio [16]. Devido ao baixo ponto de fusão das fibras de
PP, a mesma não interfere na cor do concreto após a exposição, já que derrete à 170ºC.

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150 150
Quente Lento

100 100

50 50

0 0
4001 600
2 800
3 4001 2
600 8003
Com fibra-PP Sem fibra-PP Com fibra-PP Sem fibra-PP

150
Brusco

100

50

0
400
1 600
2 800
3
Com fibra-PP Sem fibra-PP

Figuras 7, 8 e 9: Comparação da resistência residual dos Traços II e III, com o CP quente


e após os resfriamentos, lento e brusco, respectivamente.

Quanto ao tipo de resfriamento, ainda pouco explorado na literatura, nota-se que o comumente
utilizado no combate ao incêndio gera danos significativos à estrutura, podendo-se observar a
diminuição de resistência quanto ao resfriamento brusco, em relação ao resfriamento lento e a
capacidade de suporte da estrutura ainda quente, para os três traços utilizados na pesquisa.
Que confirma o que Husem [17] constatou em sua pesquisa, onde observou que tanto o
concreto comum como o de alto-desempenho quando exposto a altas temperaturas, a
resistência à flexão e à compressão diminui com o aumento da temperatura. Essa redução é
maior nas amostras arrefecida em água, em comparação as amostras resfriadas ao ar.

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5. CONCLUSÕES

Pelos resultados já apresentados e pela análise da revisão bibliográfica, algumas conclusões


podem ser inferidas:

1. O uso das fibras de polipropileno em combate ao spalling, na proporção de 1,5 Kg/m³


apresentou ótimos resultados, mantendo a mesma quantidade de materiais do
concreto de referência e atendendo ao seu propósito principal, não havendo a
ocorrência de spalling, conservando a estrutura do concreto.
2. Para o Traço I, mesmo sem a utilização de fibra em sua constituição e com uma taxa
de aquecimento varando de 6°C/min a 10ºC/min, houve apenas uma ocorrência de
spalling durante os ensaios, para o corpo-de-prova (15x30)cm, já o Traço II
apresentou spalling em todos os ensaios com taxas de aquecimento superiores a
1ºC/min, ressaltando que são traços diferentes, uma das explicações para o ocorrido
seria a importância da água adsorvida, em relação à água de constituição.

3. Quanto ao desenvolvimento da resistência à compressão nos primeiros 28 dias, as


fibras de polipropileno não interferiram de forma significativa, mantendo a evolução da
resistência na mesma proporção que o concreto de referência apresentou.

4. Os ensaios de resistência à compressão realizados com os CP’s do Traço I em


temperatura ambiente mostraram uma diferença significante em relação à forma
geométrica, confirmando o encontrado na literatura, onde o CP com menor dimensão
apresentou a maior resistência à compressão.

5. Na resistência à compressão residual, o concreto começou a perder resistência a


partir dos 400ºC, chegando aos 800ºC com apenas 30% de sua capacidade de
suporte para todos os concretos, constatando que a maior causa da diminuição da
resistência é o aumento da temperatura e do tempo de exposição, para os três tipos
de concretos submetidos aos ensaios de aquecimento.

6. Quanto ao tipo de resfriamento, tem-se que o resfriamento brusco gera danos


significativos à capacidade de suporte da estrutura, chegando a apenas 5% da sua
resistência à compressão inicial em um dos ensaios com o CP antigo, exposto a
800ºC.

7. Por não apresentarem uma normatização, os estudos nessa área devem ser
aprofundados em pesquisas futuras, com o objetivo de padronizar os métodos de
ensaios em altas temperaturas.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer o apoio prestado pela Fundação de Amparo à Ciência e


Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), assim como a colaboração da Tecomat Engenharia,
SIKA e SuperMix, bem como à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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7. REFERÊNCIAS

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columns in fire. Composite Structures, Elsevier, pg 1263-1268, 2010.
[2] RODRIGUES, J.P.C.; LAÍM, L.; CORREIA, A.M. Behaviour of fiber reinforced concrete
columns in fire. Composite Structures Ed. 92, pg 1263–1268, 2010.
[3] HAN, C.G.; YANG, S.H.; HAN, M.C.; PEI, C.C. Spalling prevention of high strength
concrete with 60–100 MPa of the compressive strength corresponding to additio of
polypropylene fiber. Archit. Inst. Korea, Ed. 24, pg 91–98, 2008.
[4] HEO, Y.S.; SANJAYAN, J.G.; HAN, C.G.; HAN, M.C. Synergistic effect of combined fibers
for spalling protection of concrete in fire. Cement and Concrete Research Ed. 40, pg
1547–1554, 2010.
[5] FIGUEIREDO, Antônio Domingues de. Concreto Reforçado com Fibras. 248 p. Tese
(Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
[6] NINCE, A. A. Lascamento do concreto exposto a altas temperaturas. 336p. Tese
(Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. 2006.
[7] COSTA, C. N.; SILVA, V. P. Dimensionamento de pilares em situação de incêndio,
conforme a nova NBR 15200.2004 – uma análise crítica. Anais do 47º Congresso
Brasileiro do Concreto. Olinda, Pernambuco: IBRACON. 2005.
[8] TANESI J.; NINCE A. A. Concreto com fibras de polipropileno (CFP). Techne: revista de
tecnologia da construção, São Paulo, v. 10, n. 66, pg. 48-51, 2002.
[9] KAKOOEI, S.; AKIL, H.M.; JAMSHIDI, M.; ROUHI, J. The effects of polypropylene fibers
on the properties of reinforced concrete structures. Construction and Building Materials
Ed. 27, pg 73–77, 2012.
[10] Araújo, José Milton de. Estruturas de concreto: a resistência à compressão e critérios de
ruptura para o concreto. - Rio Grande: Dunas, 2001.
[11] HAMASSKI, L.T.; SANTOS, R.F.C. Corpos de Prova. Soluções inovadoras, Revista
Notícia da Construção. Pg. 48-49, 2013.
[12] HERTZ, K. D. Limits of spalling of fire-exposed concrete. Fire Safety Journal, Oxford, v.
38, p. 103-116, 2003.
[13] XIAO, J.; FALKNER, H. On residual strength of high-performance concrete with and
without polypropylene fibres at elevated temperatures. Fire Safety Journal Ed.41, pg: 115-
121, 2006.
[14] XIAO, J; KONIG, G. Study on concrete at high temperature in China— an overview. Fire
Saf J Ed. 39, pg: 89-103, 2004.
[15] CHAN,Y.N.; PENG, G.F.; ANSON, M. Residual strength and pore structure of high-
strength concrete and normal strength concrete after exposure to high temperatures. Cem
Concr Compos Ed:21, pg: 23–7, 1999.
[16] Ali F. Is high strength concrete more susceptible to explosive spalling than normal strength
concrete in fire. Fire Mater, pg:127–30, 2002.
[17] HUSEM, M. The effects of high temperature on compressive and flexural strengths of
ordinary and high-performance concrete. Fire Journal Ed. 41, pg 155-163, 2006.

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LAJES STEEL DECK EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO - UMA ABORDAGEM


NUMÉRICA

Paulo Sousa Tiago A. C. Pires*


Mestrando Professor, PhD
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

José J. Rêgo Silva Marina Santos


Professor, PhD Mestranda
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: resistência ao fogo; laje mista; steel deck; situação de incêndio; análise
numérica.

1. INTRODUÇÃO

As lajes mistas do tipo steel deck são muito usadas na construção civil, por apresentarem uma
série de vantagens, entre as quais se destaca o fato de a chapa de aço utilizada servir, ao
mesmo tempo, como forma e armação positiva, além de reduzir os custos com a montagem por
dispensar o uso de escoramento e proporcionar grande velocidade na instalação, como mostra
[1]. Contudo, a fina espessura da chapa (em média 1 mm) e a alta condutividade térmica do
material, aliadas à redução das propriedades mecânicas do aço sob altas temperaturas podem
comprometer o desempenho deste tipo de elemento em situação de incêndio, como mostrado
em [1].

Nesse sentido, analisar o comportamento dessa laje quando exposta a um incêndio é bastante
importante, e tem sido estudado ao longo dos anos. Do ponto de vista experimental, um dos
poucos trabalhos publicados foi o [2], que realizou análise puramente térmica de 2 painéis,
sujeitos a curva do incêndio-padrão, contida em [3], concluindo que houve perda de isolamento
térmico aos 80 minutos de ensaio e que aos 180 minutos o steel deck se separa do concreto,
ou seja, a laje perde totalmente a sua resistência.

Ainda no campo experimental, [4] desenvolveu análises termoestruturais, ou seja, com


carregamento mecânico e exposição ao fogo atuando em conjunto. Foram ensaiadas 7 lajes
idênticas, mas com três diferentes cargas aplicadas (12 kN, 44 kN e 72 kN) e duas curvas de
temperatura distintas, a curva 1, de apenas 40 minutos de aquecimento, e a curva 2, com 90
minutos de aquecimento. O comportamento dessas curvas é mostrado e comparado com a
curva do incêndio-padrão de [3] na figura 1. Dessa forma, o autor concluiu, por exemplo, que
os maiores deslocamentos transversais nas lajes ocorreram nas situações de aquecimento
mais rápido (curva 1) .

* Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade
Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +55 81 2126 8219 Fax: +55 81 2126 7216. e-mail: tacpires@yahoo.com.br

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Figura 1: Curva de aquecimento do forno [4].

A fim de desenvolver análises paramétricas, testando diferentes espessuras (0,9 mm e 1,2 mm)
para a forma de aço e diferentes regimes de aquecimento (as curvas 1 e 2 da figura 1), por
exemplo, [5] desenvolveu um modelo numérico no software Abaqus [6], e apresentou
conclusões significativas. Por exemplo, ao avaliar as curvas de deslocamentos em função do
tempo, para lajes idênticas exceto pela espessura da forma de aço, sujeitas ao mesmo
carregamento, verificou-se que os elementos com a forma mais fina tiveram deslocamentos
discretamente maiores. Contudo, fazendo a mesma análise variando apenas o fck dos
concretos das lajes (aumentando de 36 MPa para 50 MPa) mostrou que a curva de
deslocamentos praticamente não variou.

Assim, esses resultados de [5] foram usados para a calibração dos parâmetros do modelo de
[7], que desenvolveu uma nova análise numérica, utilizando o software Diana para o
processamento, em que os resultados foram comparados com a NBR 14323:2013 [8], com o
Eurocode 4 - Parte 1-2 [9]. Como critérios de parada do modelo numérico, foram usados os
critérios prescritos em [3], para indicar a falha como perda do isolamento térmico ou da
capacidade resistente mecânica, de acordo, respectivamente, com os itens 10.2.3 e 10.2.1,
ambos de [3]. Dessa maneira, as conclusões de um modo geral foram que o método
simplificado de [8] não é antieconômico, ou seja, que os valores de resistência calculados pelo
método normativo não são muito maiores do que aqueles verificados com a modelagem
numérica. Contudo, para obter uma boa convergência com os resultados experimentais foi
utilizado um material para simular a interface entre o aço e o concreto, e tanto os valores de
resistência térmica nessa interface como os valores de emissividade para o aço, foram
calibrados com os resultados experimentais em [4]. A partir dessa calibração, foram adotados
valores de emissividade do aço diferentes do proposto por [8].

Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo principal apresentar o desenvolvimento de
um modelo numérico no ABAQUS [6], para analisar o comportamento ao fogo de lajes steel
deck. Inicialmente, o modelo é validado por meio dos resultados experimentais apresentados
em [4], tanto térmicos quanto mecânicos.

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2. MODELO NUMÉRICO

Desenvolveu-se no ABAQUS [5] um modelo numérico tridimensional, não linear, em elementos


finitos. Utilizou-se elementos sólidos tridimensionais de ordem quadrática (20 nós) com
tamanho aproximado de 10mm (para o modelo térmico) e 50mm (para o modelo mecânico).

As propriedades mecânicas e térmicas dos materiais, aço e concreto, em função da


temperatura, seguiram o proposto pelas NBR14323:2013 [8] e Eurocode 4 [9]. São elas: calor
específico, coeficiente de expansão térmica, condutividade térmica, módulo de elasticidade,
tensão de escoamento e deformação plástica. Já a densidade, para ambos, foi considerada
constante. A emissividade do aço foi adotada como 0,7 e o coeficiente de troca de calor por
convecção igual a 25 W/ m² °C, também de acordo com as recomendações de [8] e [9].

Como a análise do painel completo demanda um elevado custo computacional e grande tempo
de processamento, segue-se a estratégia adotada em [5] de trabalhar apenas com meia
nervura, ou seja, uma parte do painel e, com uso de simetria (seguindo a estratégia adotada
por [7]), para representar o comportamento global.

Contudo, diferentemente do que fizeram [5] e [7], a interface entre a forma de aço steel-deck e
a superfície do concreto foi considerada como uma aderência perfeita (tie), que não é a
representação mais fiel a realidade, mas já apresentou boa proximidade com os resultados
experimentais, conforme será mostrado mais adiante.

Optou-se por uma análise sequencial, ou seja, térmica seguida da mecânica, ao invés da
análise acoplada, a fim de reduzir o tempo computacional. Esta opção considera o resultado
mecânico dependente da temperatura mas, desconsidera o contrário, este último mais fiel a
realidade. Esta opção foi utilizada por diversos autores como [10] apresentando resultados
satisfatórios. Assim, a análise térmica é processada inicialmente, e são obtidas as
temperaturas para cada instante de tempo, que são usadas como dados de entrada para a
análise mecânica.

O modelo ainda está em fase de desenvolvimento. Estratégias para otimização, como o uso de
elementos bidimensionais do tipo shell, assim como um contato para representar a interface
aço-concreto estão sendo testadas, e serão apresentadas em trabalhos futuros.

3. MODELO EXPERIMENTAL

A validação do modelo numérico foi feita através da comparação com os resultados


experimentais apresentados em [4]. As lajes testadas possuíam 1200 mm de largura, 6200 mm
de comprimento e altura de 145 mm, conforme detalhado nas figuras 2 e 3 abaixo. As lajes
estavam simplesmente apoiadas em quatro pontos, e somente um trecho de 3000 mm delas foi
aquecido, conforme as curvas mostradas na figura 1. O carregamento mecânico se deu por
meio de duas cargas distribuídas (q, mostradas na figura 3), e ao longo dos seis testes

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desenvolvidos por [4], variou-se a curva de aquecimento e a carga aplicada, conforme


mostrado na tabela 1.

Figura 2: Seção transversal das lajes ensaiadas por [4].

Figura 3: Seção longitudinal das lajes ensaiadas por [4].

Tabela 1: Resumo das informações das lajes ensaiadas por [4].

Laje Curva de Aquecimento Carga Mecânica q (kN/m²)

F1 Curva 1 83,5
F2 Curva 1 55,6
F3 Curva 1 21
F4 Curva 2 83,5
F5 Curva 2 55,6
F6 Curva 2 21

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4. RESULTADOS

A figura 4 abaixo mostra os pontos da seção transversal da laje onde foram analisadas as
temperaturas. Estes pontos coincidem com pontos de medição do experimento realizado por
[4], para fins de comparação entre os resultados numéricos e experimentais.

Figura 4: Locação dos termopares do ensaio realizado por [4].

A figura 5 mostra a evolução de temperatura em função do tempo para estes pontos. Em todos
os pontos de medição, as temperaturas ao final dos 90 minutos de aquecimento no modelo
numérico foram maiores do que aquelas medidas no modelo experimental.

Contudo, para os pontos T15 e T16, que correspondem, respectivamente, a superfície não-
exposta ao fogo da laje e a um ponto interno do concreto 40 mm abaixo desta superfície,
verifica-se uma boa correlação entre os resultados numéricos e experimentais, ao longo do
aquecimento a diferença entre as medições não ultrapassa os 15 oC.

Já para o ponto de medição T19, localizado na forma de aço, observa-se uma boa correlação
para os primeiros 10 minutos e uma divergência de 100°C a 200°C após este tempo, sendo as
temperaturas numéricas maiores do que a experimental. Esta mesma divergência foi relatada
por [7] quando simulou este experimento utilizando o software Diana. Diversas razões podem
justificar esta discrepância desde a instrumentação utilizada no experimento até a possibilidade
de resfriamento da forma de aço pela água evaporada do concreto conforme explicado por [7].

Os resultados aqui apresentados correspondem apenas a três pontos de medição dentre os


seis registrados para cada um dos seis experimentos realizados por [4]. Nestes demais casos,
os comportamentos das temperaturas foram semelhantes ao exposto na Figura 5.

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Figura 5: Temperaturas na seção transversal da laje steel deck, numérico x experimental.

A figura 6 mostra a evolução dos deslocamentos no meio do vão ao longo do tempo, para lajes
carregadas F1, F2 e F3 obtidas no experimento [4] e simuladas numericamente.

Figura 6: Deslocamentos no meio do vão para as lajes steel deck, num. x exp.

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Apesar da divergência observada na temperatura da forma de aço steel deck, verifica-se boa
correlação entre os deslocamentos experimentais e numéricos ao longo do tempo. A diferença
entre os deslocamentos numéricos e experimentais são maiores nos primeiros 10 minutos,
estabilizando-se após este tempo, em torno de 10%.

Para o caso F1, os deslocamentos do modelo numérico ultrapassam os experimentais com


pouco mais de 10 minutos, e acabam sendo maiores no final da análise. Já para os casos F2 e
F3, os valores experimentais desde o começo do carregamento até o final da análise se
mostraram maiores do que os valores numéricos.

Os casos mostrados F1, F2 e F3 correspondem às lajes que sofreram aquecimento pela curva
2, mas os casos de carregamento de lajes que foram aquecidas pela curva 1 apresentaram
resultados também bastante semelhantes.

Nestes experimentos não foram determinadas as resistências ao fogo das lajes, até porque as
mesmas não foram aquecidas segundo a curva do incêndio padrão ISO834 [3] nem os demais
requisitos desta norma. Dessa forma, não são apresentadas neste trabalho as resistências ao
fogo obtidas pelo modelo numérico para estas lajes.

4. CONCLUSÕES

Este artigo apresentou um modelo numérico tridimensional, não linear, em elementos finitos,
para a análise de lajes steel deck em situação de incêndio. A validação foi feita pela
comparação com resultados experimentais obtidos por [4]. Analisou-se parâmetros como
temperaturas na seção transversal e deslocamentos verticais no meio do vão. As seguintes
conclusões podem ser destacadas:

 Os resultados numéricos apresentaram boa correlação com os experimentais, tanto


temperaturas como deslocamentos;
 Para os pontos de medição na forma de aço, as temperaturas apresentaram certa
divergência após 10 minutos de aquecimento, semelhante ao registrado por [7];
 Esta divergência não influenciou significativamente os resultados mecânicos:
deslocamentos;
 Sendo assim, o modelo numérico mostrou-se viável para a análise de lajes steel deck
em situação de incêndio;
 O modelo encontra-se em desenvolvimento, e trabalhos futuros apresentarão
avanços, como na interação forma de aço maciço de concreto e o uso de elementos
shell para modelar a forma de aço;
 A alternativa interação aço concreto, modelada através do Tie, não provocou maiores
divergências nos resultados.

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5. REFERÊNCIAS

[1] Santos, M.M.L. – Considerações iniciais sobre o comportamento de lajes mistas "steel
deck" em situação de incêndio, Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal
de Pernambuco, 2016, 52 p.
[2] Abdel-Halim, M.A.H et al. - Fire resistance of composite floor slabs using a model fire test
facility, Engineering Structures, vol. 21, 1999, p. 176-182.
[3] INTERNATIONAL STANDARD.ISO 834 Fire-resistance tests – Elements of building
construction – Part 1: General requirements.1999.
[4] Guo, S.;Bailey, C.G. - Experimental behaviour of composite slabs during the heating and
cooling fire stages, Engineering Structures, vol. 33, 2011, p. 563-571.
[5] Guo, S. - Experimental and numerical study on restrained composite slab during heating
and cooling, Journal of Constructional Steel Research , vol.69, 2012, p. 95-105.
[6] Pawtucket, Rhode Island: Hibbit, Carlsson and Sorensson Inc. – “User´s manual: volumes
I-III", version 6.7. 2005
[7] Santos, D.B.R. – Modelagem numérica de lajes mistas de aço e concreto em situação de
incêndio, Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 2014, 243 p.
[8] ABNT NBR 14323 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto
de edifícios em situação de incêndio. 2013, 66p.
[9] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1994 -1 - 2:2005: Eurocode 4 -
Design of composite steel and concrete structures. Part 1-2: General rules - Structural Fire
Design.2005.
[10] Pires, T.A.C. - Fire resistance of composite columns made of concrete filled circular hollow
sections and restrained thermal elongation. 8th International Conference on Structures in Fire,
2014, p.745 - 752.

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MÉTODO SIMPLIFICADO PARA ANÁLISES TERMESTRUTURAIS DE


PILARES CURTOS DE CONCRETO ARMADO EM SITUAÇÃO DE
INCÊNDIO

Jorge Saul Valdir Pignatta


Suaznabar Silva*
Doutorando Professor
Universidade de São Universidade de São
Paulo Paulo
São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil

Palavras-chave: Incêndio, Flexão Composta, Concreto de Alta Resistência.

1. OBJETIVO

O objetivo deste artigo é gerar curvas do estado – limite último de pilares de concreto armado
em incêndio, combinando a formulação de Wickström [1] com o método da isoterma de 500 °C,
usando um código computacional de autoria própria, desenvolvido em MATLAB. Esse código
calcula, por meio de métodos numéricos, os esforços, deformações lineares específicas e
diagramas de interação, para pilares curtos de concreto armado em situação de incêndio.

2. INTRODUÇÃO

As análises numéricas termestruturais de pilares curtos de concreto armado em situação de


incêndio, normalmente são feitas em duas etapas. A primeira é a análise térmica para calcular
os campos de temperatura em função do tempo. A segunda etapa é a análise estrutural, que
se faz com base nos campos de temperatura calculados previamente.

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. Av. Prof. Almeida Prado,
83, Cidade Universitária. 05508-070 - São Paulo - SP - Brasil. Tel.: +55 11 3091-5542. e-mail: valpigss@usp.br

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Para os engenheiros civis é pouco comum ter programas que realizem análises térmicas, este
artigo apresenta como alternativa, o uso de uma formulação proposta por Wickström [1] para
substituir as análises térmicas.
Para realizar a análise estrutural dos pilares curtos de concreto armado em situação de
incêndio devem ser considerados vários aspectos, entre outros, o campo de temperaturas na
seção transversal e a não linearidade dos materiais. Para isso, uma das alternativas é usar o
método da Isoterma de 500 °C (ver item 5 deste texto), que demanda menos esforço
computacional.
Neste artigo serão apresentadas curvas envoltórias correspondentes ao estado – limite último
de pilares curtos de concreto armado submetidos à flexão composta oblíqua em situação de
incêndio. As análises térmicas foram realizadas com a formulação proposta por Wickström [1].
Para realizar as análises mecânicas, os autores usaram um código próprio desenvolvido no
programa Matlab que realiza uma discretização da seção transversal dos pilares e o cálculo
numérico das integrais de equilíbrio. As curvas foram representadas graficamente com o código
usando o método da isoterma de 500 °C.
Para validar os resultados deste artigo, foram comparados aos de outro artigo [2], em que, para
análise térmica, foi empregado o programa de computador Diana.

3. MATERIAIS

No código desenvolvido foram empregadas as recomendações do EN 1992-1-1:2004 [3] e a


ABNT NBR 6118:2014 [4] para os diagramas tensão-deformação à temperatura ambiente e as
recomendações do EN 1992-1-2:2004 [5] e a ABNT NBR 15200:2014 [6] para os diagramas
tensão-deformação em situação de incêndio.
A seguir é apresentado o diagrama tensão-deformação para concreto à temperatura ambiente
convencional.

Figura 1. Diagrama tensão-deformação do concreto comprimido à temperatura ambiente.

𝜀𝑐 𝑛
𝜎𝑐 = 𝛼𝑐𝑐 𝑓𝑐𝑘 [1 − (1 − ) ] 0 ≤ 𝜀𝑐 ≤ 𝜀𝑐2
𝜀𝑐2
(1)
𝜎𝑐 = 𝛼𝑐𝑐 𝑓𝑐𝑘 𝜀𝑐2 ≤ 𝜀𝑐 ≤ 𝜀𝑐𝑢

Nas Equações 1:

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𝜎𝑐 : Tensão do concreto.
𝜀𝑐 : Deformação do concreto.
𝑓𝑐𝑘: Resistencia característica do concreto.
𝛼𝑐𝑐 : Coeficiente de redução da resistência do concreto sob carregamento de longa duração.

A seguir é apresentado o diagrama tensão-deformação para o aço em situação de incêndio.

Figura 2. Diagrama tensão-deformação do aço em situação de incêndio.

𝜎𝑠,𝜃 = 𝜀𝑠,𝜃 ∙ 𝐸𝑠,𝜃 0 ≤ 𝜀𝑠,𝜃 ≤ 𝜀𝑝,𝜃

𝜎𝑠,𝜃
𝜀𝑝,𝜃 ≤ 𝜀𝑠,𝜃
𝑏 𝑐
= 𝑓𝑝,𝜃 − 𝑐 + √𝑎2 − (𝜀𝑦,𝜃 − 𝜀𝑝,𝜃 + ) ≤ 𝜀𝑦,𝜃
𝑎 𝐸𝑠,𝜃

(2)
𝜀𝑦,𝜃 ≤ 𝜀𝑠,𝜃
𝜎𝑠,𝜃 = 𝑓𝑦𝑘,𝜃 ≤ 𝜀𝑡,𝜃

(𝜀𝑠,𝜃 − 𝜀𝑡,𝜃 ) 𝜀𝑡,𝜃 ≤ 𝜀𝑠,𝜃


𝜎𝑠,𝜃 = 𝑓𝑦𝑘,𝜃 ∙ [1 − ] < 𝜀𝑢,𝜃
(𝜀𝑢,𝜃 − 𝜀𝑡,𝜃 )

𝜎𝑠,𝜃 = 0 𝜀𝑠,𝜃 ≥ 𝜀𝑢,𝜃

Nas Equações 2:

𝜎𝑠,𝜃 : Tensão do aço à temperatura Ɵ.


𝜀𝑠,𝜃 : Deformação linear específica do aço à temperatura Ɵ.

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4. EQUILÍBRIO NA SEÇÃO TRANSVERSAL

Para desenvolvimento do código computacional foram adotadas as seguintes hipóteses:

 Na seção transversal, são apenas consideradas as tensões normais, sendo


desconsideradas as tensões tangenciais e as deformações decorrentes delas.
 A seção permanece plana após a deformação térmica mais a mecânica.
 Existe aderência entre as armaduras e o concreto adjacente a elas, mesmo se a
armadura estiver fora da isoterma modificada.
 Não é considerado qualquer efeito de não linearidade geométrica relacionada à esbeltez
do pilar, a análise é feita unicamente na seção transversal.

Sob as hipóteses anteriores e para a região da seção de concreto interna à isoterma


modificada, considera-se que a seção transversal da Figura 4 está em equilíbrio, se é satisfeito
o sistema de Equações 3.

Figura 3. Seção transversal de pilar de concreto armado.

Na Figura 3:

CG: Centro geométrico da seção transversal.

𝑆 = ∬ 𝜎(𝜀)𝑍𝑑𝑥𝑑𝑦 (3)

No sistema de Equações 3 têm-se:


𝑁
𝑆 = [𝑀𝑥 ]
𝑀𝑦
1
𝑍 = [𝑦 ]
𝑥
Em que:

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𝑁 : Força normal solicitante.


𝑀𝑥 : Momento solicitante em torno do eixo x.
𝑀𝑦 : Momento solicitante em torno do eixo y.

No sistema de Equações 3, a parcela da esquerda representa as solicitações em situação de


incêndio e a da direita representa as tensões e forças resistentes (Figura 4).
Todos os esforços solicitantes e tensões atuantes citados neste artigo são para a situação de
incêndio. Por simplicidade, resolveu-se aliviar a notação, não incluindo o subíndice "θ". Os
valores dessas solicitações devem ser as determinadas, conforme ABNT NBR 15200:2014 [6].
Ressalta-se que neste artigo são calculadas as curvas de estado-limite ultimo para pilares
curtos de concreto armado em situação de incêndio, usando o método da isoterma de 500 °C.
As tensões e forças resistentes do concreto, no interior da isoterma de 500 ºC, são as
correspondentes à temperatura ambiente, com os coeficientes de ponderação unitários, e as
do aço são as correspondentes à temperatura atual (em situação de incêndio).

Figura 4. Equilíbrio na seção transversal para flexão composta reta, à temperatura ambiente.

Na Figura 4:

c: Deformação específica linear do concreto.


s: Deformação específica linear do aço.
fc: Tensão do concreto.
fs: Tensão do aço.
N: Força normal solicitante.
M: Momento fletor solicitante.

Para resolver o sistema de Equações 3, é realizada uma discretização da seção transversal.


Dessa maneira é possível resolver as integrais de maneira bastante precisa, inclusive quando
se tem seções transversais com geometria pouco comum.

301
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A seguir é a presentada a formulação de equilíbrio para a seção discretizada, que é análoga à


formulação já apresentada. Nessa formulação o subíndice “e” indica que está se referindo a um
elemento genérico “e”.
Realizada a discretização, um elemento da seção discretizada pode ser considerado em
equilíbrio se é satisfeito o sistema de Equações 4.

Figura 5. Seção transversal discretizada.

𝑁 = ∑𝑛𝑒𝑐 𝑛𝑒𝑠
𝑖=1 𝜎𝑐𝑖 (𝜀𝑐𝑖 )𝐴𝑐𝑖 + ∑𝑖=1 𝜎𝑠𝑖 (𝜀𝑠𝑖 )𝐴𝑠𝑖

Mx = ∑nec nes
i=1 σci (εci )yci A ci + ∑i=1 σsi (εsi )ysi A si (4)

𝑀𝑦 = ∑𝑛𝑒𝑐 𝑛𝑒𝑠
𝑖=1 𝜎𝑐𝑖 (𝜀𝑐𝑖 )𝑥𝑐𝑖 𝐴𝑐𝑖 + ∑𝑖=1 𝜎𝑠𝑖 (𝜀𝑠𝑖 )𝑥𝑠𝑖 𝐴𝑠𝑖

No sistema de Equações 4:

𝑁 : Força normal solicitante.


𝑀𝑥 : Momento solicitante em torno do eixo x.
𝑀𝑦 : Momento solicitante em torno do eixo y.
𝜎𝑐𝑖 : Tensão no elemento de concreto i.
𝜎𝑠𝑖 : Tensão no elemento de aço i.
𝜀𝑐𝑖 : Deformação linear especifica no elemento de concreto i.
𝜀𝑠𝑖 : Deformação linear especifica no elemento de aço i.
𝐴𝑐𝑖 : Área do elemento de concreto i.
𝐴𝑠𝑖 : Área do elemento de aço i.
𝑥𝑐𝑖 : Coordenada x do centro geométrico do elemento de concreto i.
𝑦𝑐𝑖 : Coordenada y do centro geométrico do elemento de concreto i.
𝑥𝑠𝑖 : Coordenada x do centro geométrico do elemento de aço i.
𝑦𝑠𝑖 : Coordenada y do centro geométrico do elemento de aço i.

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Note-se que a distribuição de tensões é considerada constante em cada elemento, portanto, é


necessária uma discretização adequada para obter uma boa distribuição de tensões na seção
transversal do pilar.

5. METODO DA ISOTERMA DE 500 °C

O método da isoterma de 500 °C é um método simplificado criado pelo pesquisador sueco Dr.
Yngve Anderberg [7]. Em 1978, Anderberg propôs o método da isoterma de 550 °C, mais tarde
o método foi modificado considerando-se como limite a isoterma de 500 °C.

Considerando uma seção transversal de concreto armado em situação de incêndio, com o


campo de temperaturas conhecido, o método da isoterma de 500 °C consiste em assumir que
o concreto com temperaturas maiores do que 500 °C é desconsiderado. Dessa maneira,
considera-se unicamente o concreto com temperaturas menores do que 500 °C, ou seja, a
região da seção transversal interior à isoterma de 500 °C. O concreto da região interior é
admitido com as propriedades originais à temperatura ambiente, inclusive os limites de
deformação específica. As armaduras são consideradas com as propriedades do aço à
temperatura atual (em situação de incêndio).

Na Figura 1, é apresentado um exemplo de seção transversal com a isoterma de 500 °C


marcada no campo de temperaturas e desconsiderando o concreto com temperatura maior do
que 500 °C.

Figura 6. Seção transversal com o campo de temperaturas, mostrando a isoterma de 500 °C.

6. FORMULAÇÃO DE WICSTRÖM

De acordo com WIckström [1] e Purkiss [7] a variação da temperatura, considerando fluxo de
calor biaxial, em estruturas de concreto de peso normal é dado pela equação (5).
∆𝜃𝑥𝑦 = (𝑛𝑤 (𝑛𝑥 + 𝑛𝑦 − 2𝑛𝑥 𝑛𝑦 ) + 𝑛𝑥 𝑛𝑦 )∆𝜃𝑓 (5)
Na equação 5:
𝑛𝑤 = 1 − 0,0616𝑡 −0,88
𝑛𝑥 = 0,18 ln 𝑢𝑥 − 0,81
𝑛𝑦 = 0,18 ln 𝑢𝑦 − 0,81
𝑢𝑥 = 𝑡⁄𝑥 2
𝑢𝑦 = 𝑡⁄𝑦 2

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𝑡: Tempo (h)
𝑥, 𝑦: Distancias do ponto avaliado à face externa, para cada direção (m).
∆𝜃𝑓 : Variação da temperatura do incêndio.

A formulação desenvolvida por Wickström [1] permite calcular a posição da isoterma de 500 °C
de maneira simples, sem o uso de programas para análise térmica.

7. RESULTADOS

Para as modelagens deste artigo foi usado concreto com f ck = 30 Mpa, aço com fy = 500 Mpa e
E = 210 GPa. Foi estudada uma seção transversal de 30 cm x 30 cm com 4 ϕ 16 mm (Figura 7)
com discretização em elementos quadrados de 1 cm x 1 cm.

Figura 7. Seção transversal 30 cm x 30 cm 4 ϕ 16 mm.

Na figura 8 são apresentadas as curvas do estado – limite ultimo N x M da seção analisada nos
tempos 30, 60 e 90 min, obtidas com o método de Wickstrom [1] e comparadas às curvas
obtidas em Suaznabar e Silva [2].

Figura 8. Curvas N x M.

Na figura 9 são apresentadas as curvas do estado – limite ultimo Mx x My da seção analisada


para nos tempos 30, 60 e 90 min, para o valor da força normal de compressão N = 500 kN

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obtidas com o método de Wickstrom [1] e comparadas às curvas obtidas em Suaznabar e Silva
[2].

Figura 9. Mx x My para N = 500 kN.

Na figura 10 são apresentadas as curvas do estado – limite ultimo Mx x My da seção analisada


para nos tempos 30, 60 e 90 min, para o valor da força normal de compressão N = 1.000 kN
obtidas com o método de Wickstrom [1] e comparadas às curvas obtidas em Suaznabar e Silva
[2].

Figura 10. Mx x My para N = 1000 kN.

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8. CONCLUSÕES

Neste artigo determinaram-se as curvas de estado-limite último de um pilar curto submetido à


flexão composta oblíqua, empregando o método da isoterma de 500 ºC e, para análise térmica,
um método analítico simplificado proposto por Wickstrom, que não demanda métodos
numéricos.
Os resultados foram comparados a resultados obtidos utilizando o programa Diana para a
determinação do campo de temperaturas, O método de Wickstrom conduz a resultados
favoráveis à segurança.
Se por um lado, o método analítico leva a resultados conservadores, por outro, dispensa o uso
de programas de análise térmica, raramente utilizados por engenheiros de estruturas.

9. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior, ao CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e à
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

10. REFERÊNCIAS

[1] WICKSTROM, U. Temperature calculation in fire safety engineering. Springer. 243p. 2016
[2] SUAZNABAR J. S.; SILVA V. P..Pilares Curtos de Concreto Armado Submetidos à Flexão
Composta Obliqua em Situação de Incêndio: Cálculo e Geração de Curvas do Estado-
Limite Ultimo pelo Método da Isoterma de 500°C. In: Congresso Brasileiro do Concreto
CBC2014, 56°. Natal. 2014.
[3] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARIZATION. EN 1992-1-1. Eurocode 2: Design of
concrete structures – part 1.2 General rules and rules for buildings. Brussels: CEN, 2004.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas
de concreto: Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[5] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARIZATION. EN 1992-1-2. Eurocode 2: Design of
concrete structures – part 1.2 General rules – structural fire design. Brussels: CEN, 2004.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15200: Projeto de estruturas
de concreto em situação de incêndio. Rio de Janeiro, 2012.
[7] PURKISS J. A. Fire Safety Engineering. Oxford, Elsevier, 2007.

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MODELAGEM DO DESEMPENHO AO FOGO DE PILARES TUBULARES


EM AÇO

Márcia Abreu* Tiago A. C. Pires


Professora Professor, PhD
Instituto de Educação Superior da Paraíba Universidade Federal de Pernambuco
Cabedelo - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

José J. Rêgo Silva Saulo Almeida


Professor, PhD Professor, PhD
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Estadual de Campinas
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: Resistência ao fogo, pilares aço, simulação numérica, situação de incêndio.

1. INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos aliados a fatores econômicos têm levado a uma tendência de se


projetar estruturas cada vez mais leves e esbeltas, sendo o aço uma ótima opção em material
de construção. Um parâmetro que deve ser considerado em elementos de aço é a sua elevada
condutividade térmica, que conduz ao rápido aquecimento da estrutura em situação de
incêndio, provocando alterações nas suas características físicas, e redução das propriedades
mecânicas. Devido à complexidade da influência dos parâmetros envolvidos na análise de
estruturas em situação de incêndio, muitas vezes a resistência ao fogo dos elementos
estruturais, como pilares, é determinada experimentalmente. No entanto, em geral, estes
ensaios são caros e difíceis de serem realizados. Este fato, muitas vezes, inviabiliza o estudo
de um número maior de amostras, não permitindo um melhor entendimento do problema.
Nesse sentido, abordagens numéricas, geralmente utilizando o Método dos Elementos Finitos
(MEF), são frequentemente utilizadas e são de extrema importância para o estudo de
estruturas em situação de incêndio, pois possibilitam a análise de um maior número de
cenários aos quais estas estruturas podem estar sujeitas.

Pires et al. [1] realizou uma série de 40 testes de resistência ao fogo de pilares tubulares em
aço avaliando diversos parâmetros, tais como o diâmetro da seção, o nível de carga e de
restrição ao alongamento térmico. Complementando esta pesquisa, os mesmos autores [2],
desenvolveram um modelo numérico, tridimensional, não linear, em elementos finitos com o
software ABAQUS [3]. A comparação das temperaturas, forças de restrição, deformações
axiais e resistências ao fogo obtidas experimentalmente demonstrou uma boa correlação entre
os resultados numéricos e experimentais mostrando que o modelo é capaz de simular o
comportamento ao fogo destes pilares em situação de incêndio.

*Prof, MSc. – Instituto de Educação Superior da Paraíba. Rodovia BR-230, Km 14, s/n, Forte de Cabedelo. 58.310-000- Cabedelo - PB. Tel.:

+5583 2100 3800 Fax: +5583 2100 3802. e-mail:marciasuzanna@hotmail.com

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Costa [4] e Rocha [5] apresentaram uma série de 8 testes de resistência ao fogo com pilares
em aço formados a frio. Novamente parâmetros importantes na determinação da resistência ao
fogo foram considerados. São eles: o nível de restrição ao alongamento térmico e o nível de
carga. A utilização do software ABAQUS [3] novamente se mostrou viável com o
aperfeiçoamento do modelo apresentado em [2], tendo estas comparações sido apresentadas
em [6 e 7].

Almeida [8] realizou análises experimentais em perfis de aço formados a frio a altas
temperaturas, comparando os resultados com os seus, obtidos através de análises numéricas
com modelos discretizados em elementos finitos da biblioteca do código ANSYS [9]. Neste
estudo o autor considerou parâmetros relevantes na determinação da resistência ao fogo dos
pilares. Como sejam a influência da restrição ao alongamento térmico e as condições de apoio.
Os resultados mostraram que as forças de restrições no pilar apresentadas nos ensaios foram
maiores nos elementos engastados do que nos rotulados, enquanto as temperaturas de ruptura
nos ensaios foram semelhantes em ambos os casos.

Este trabalho teve por objetivo, utilizando o software ANSYS [9] simular o comportamento de
pilares em aço em situação de incêndio. Assim pretendeu desenvolver-se uma abordagem
numérica alternativa para a análise de estruturas em situação de incêndio. Os resultados de
temperaturas, forças de restrição e resistência ao fogo obtidos numericamente foram
comparados com os resultados experimentais e numéricos obtidos nos trabalhos [1 – 2 e 4 - 7].

2. MODELO NUMÉRICO

O modelo numérico foi desenvolvido no software ANSYS [9], em elementos finitos


tridimensionais, de ordem quadrática, com 20 nós. Uma análise não linear foi utilizada para
serem considerados os efeitos de segunda ordem. O tamanho máximo dos elementos
adotados foi 30 mm. A Tabela 1 apresenta os tipos de elementos utilizados nesta análise. Para
comparação também são apresentados os elementos adotados no ABAQUS [3].

Tabela 1: Tipos dos elementos finitos utilizados nas análises


Análise Abaqus Ansys

SOLID70 / SOLID90
Térmica DC3D20
SURF152

Termo estrutural DC3D20R SOLID45 / SOLID95

Restrição axial CONECTORES LINK10

Nesta análise foram modelados dois tipos de perfis tubulares: os de seção circular, com
diâmetros de 168,3 mm e 219,1 mm, 3000 mm de comprimento e espessura de 6 mm; e os de
seção quadrada, com dimensões 30 mm, formados pela soldagem de dois perfis tipo U
enrijecidos, 2000 mm de comprimento e 6 mm de espessura. A Figura 1 ilustra um esquema
das dimensões destes pilares. Estas dimensões foram escolhidas devido à disponibilidade dos
resultados experimentais publicados por [1 e 4] que foram utilizados na comparação com os
resultados do modelo numérico.
.

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(a) (b)
Figura 1: Seção transversal e comprimento dos pilares modelados
(a) circulares e (b) quadrados

A análise numérica no ANSYS [9] deu-se em três etapas: a primeira consistiu numa análise de
autovalor para representar a imperfeição geométrica inicial global do pilar; a segunda foi uma
análise puramente térmica do problema, representando o aquecimento do pilar conforme a
curva do Incêndio Padrão ISO834 [10]; a terceira e última etapa consistiu na análise termo-
estrutural do pilar. Esta etapa 3 utilizou as temperaturas obtidas na etapa 2 (output) como dado
de entrada (input). Este tipo de análise sequencial foi empregue para se reduzir o tempo
computacional das análises numéricas conforme sugerido em [2]. No entanto, traz uma
simplificação: o problema mecânico é dependente do problema térmico, mas o contrário não.
No entanto, tal simplificação permite a obtenção de resultados com boa precisão.

Na análise térmica (etapa 2) o calor foi transferido para a face externa do pilar através de dois
mecanismos de transferência de calor: convecção e radiação. Para isto, no modelo foi utilizado
o elemento de superfície de contato SURF152. A transferência de calor da superfície externa
para o interior da seção deu-se por condução.

As propriedades térmicas do aço, ou seja,condutividade térmica, calor específico e dilatação


térmica, utilizadas na análise térmica seguiram as prescrições da NBR 14323 [11] e pelo
EUROCODE 3 – Parte 1-2 [12].

A interação dos pilares (submetidos ao incêndio) com a estrutura circundante (não aquecida)
foi simulada através de molas com restrição axial e rotacional. Inicialmente os pilares eram
submetidos a uma carga axial, representando sua carga de serviço. Os valores destas cargas
variavam entre 30% e 80% da carga de projeto Nrd [11]. Em seguida, a restrição das molas era
ativada e a carga térmica (curva do incêndio padrão [10]) era aplicada ao longo do
comprimento do pilar, exceto em seus extremos.

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A restrição axial no ANSYS [9] realizou-se pela utilização do elemento LINK10, sendo ele um
elemento uniaxial com dois nós que possibilita sua utilização atuando apenas com tração ou
compressão, sendo neste caso utilizada apenas a compressão.

A Tabela 2 apresenta as condições de análise empregadas nos pilares deste estudo.

Tabela 2: Condições de análise dos pilares em aço simulados


Carga Nível de Restrição Restrição Restrição
Diâm. Condições
Nomenclatura Seção Aplic. Carga axial ROTY ROTZ
(mm) de apoio
(kN) (%) (kN/mm) (kNm/rad) (kNm/rad)
P168-30-13 Circular 168.3 252 30 13 4091 1992 Engastado
P168-30-128 Circular 168.3 252 30 128 5079 2536 Engastado
P168-70-13 Circular 168.3 589 70 13 4091 1992 Engastado
P168-70-128 Circular 168.3 589 70 128 5079 2536 Engastado
P219-30-13 Circular 219.1 375 30 13 4091 1992 Engastado
P219-30-128 Circular 219.1 375 30 128 5079 2536 Engastado
P219-70-13 Circular 219.1 874 70 13 4091 1992 Engastado
P219-70-128 Circular 219.1 874 70 128 5079 2536 Engastado
PI40-L Quadrada - 110 40 75 0 0 Rotulado
PI80-L Quadrada - 220 80 75 0 0 Rotulado

3. RESULTADOS

De seguida, serão apresentados os resultados de temperaturas desenvolvidos, forças de


restrição P/P0 e resistência ao fogo, obtidos através dos modelos numéricos desenvolvidos no
ABAQUS [3] e ANSYS [9]. Comparações com os resultados experimentais obtidos por [1 e 4] e
numéricos desenvolvidos no ABAQUS [3] conforme orientações de [2 e 5] também são
apresentadas para validação do modelo.

3.1. Temperaturas desenvolvidas

As Figuras 2 e 3 mostram a evolução das temperaturas ao longo do tempo para os pilares em


aço de seção circular (219,1) mm e quadrada (100x100) mm. Adotou-se um ponto na seção
média dos pilares para compração. A curva do incêndio padrão ISO834 [10] também foi
representada. Apenas estes dois casos são apresentados por questão de espaço. Os demais
casos apresentaram comportamento similar.

Observa-se através dos gráficos que os resultados do ABAQUS [3] e ANSYS [9] apresentaram
boa correlação, entre si e com os resultados experimentais. Foram testados dois tipos de
elementos no ANSYS [9], o SOLID70 e o SOLID90, mas como seus resultados foram
semelhantes, apresentam-se apenas os resultados de um deles, no caso os do SOLID90.

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Temperatura (°C)

Tempo (min)
Figura 2: Temperaturas na seção média do pilar em aço com seção circular (219,1) mm.
Temperatura (°C)

Tempo (min)
Figura 3: Temperaturas na seção média do pilar em aço com seção quadrada (100x100) mm,
tipo caixão composto por “U” enrijecidos.

3.2. Forças de restrição

As Figuras 4 e 5 apresentam o comportamento típico das forças de restrição (P/P 0) durante o


ensaio de resistência ao fogo. Primeiramente, devido à restrição imposta pelas molas, as forças
de restrição aumentam até um valor máximo. Em seguida, devido à redução das propriedades
mecânicas do aço com o aumento da temperatura, estas reduzem até à falha, onde o pilar não
pode sustentar mais a carga de serviço.

A Figura 4, apresenta os resultados obtidos do pilar em aço, de seção circular, com diâmetro
de 168,3 mm, rigidez axial de 13 kN/mm e submetido a um nível de carregamento de 30%.

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P/P0

Tempo (min)
Figura 4: Forças de restrição (P/P0) para o pilar em aço, de seção circular, com diâmetro de
168,3 mm, rigidez axial de 13 kN/mm e nível de carga de 30%

Na Figura 5, são apresentados os resultados para o pilar em aço, de seção quadrada, com
dimensão (100x100) mm, rigidez axial 75 kN/mm e submetido a um nível de carga de 40%. Os
perfis em aço, de seção quadrada, não foram modelados no ABAQUS [3], pelo que os seus
resultados numéricos não são apresentados na Figura 5.
P/P0

Tempo (min)
Figura 5: Forças de restrição (P/P0) para o pilar em aço, de seção quadrada, com dimensão
(100x100) mm, rigidez axial de 75 kN/mm e nível de carga de 40%

Observa-se, na Figura 4, que as análises utilizando os elementos finitos SOLID45 e SOLID95,


para os perfis circulares, apresentaram resultados com plena concordância. O mesmo não foi
observado nos resultados numéricos para os perfis quadrados (Figura 5). Um dos possíveis
motivos pode estar relacionado com a irregularidade desta seção transversal, já que a seção
quadrada é formada pela soldadura de dois perfis tipo U enrijecidos, sendo o elemento
SOLID95 caracterizado por se adequar melhor a seções transversais irregulares,
diferentemente do SOLID45, que obtém melhores resultados para seções transversais
regulares.

As análises numéricas no ABAQUS [3], para os perfis circulares, obtiveram resultados


coerentes entre sim e com tempos críticos próximos aos resultados das análises experimentais.
Nas análises numéricas realizadas com o ANSYS [9] também se obtiveram resultados
coerentes entre si, mas não foi possível a obtenção do tempo crítico, pois as análises
abortavam antes destes, mais precisamente no ramo descendente da curva. Algumas
tentativas para solucionar o problema foram testadas, mas sem êxito. Não foi possível

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determinar o principal motivo de falha das análises, apenas que ocorria no instante em que a
curva se encontrava no seu ramo descendente.

3.3. Resistência ao fogo

A Tabela 3 apresenta uma comparação entre os valores do tempo crítico dos elementos
analisados, das simulações realizadas no ABAQUS [3] e no ANSYS [9], comparados com os
resultados experimentais. Os valores dos tempos críticos via ANSYS [9] foram obtidos por meio
de estimativa, pois como já foi dito anteriormente estes valores não puderam ser obtidos nas
análises, pois estas abortavam ao iniciar o ramo descendente das curvas.

Tabela 3: Tempos de críticos dos pilares em aço enformado a frio


Tempos de críticos dos pilares (min)
Elementos Ansys Experimental
P168-30-13 16,0 13,5
P168-30-128 12,7 12,2
P168-70-13 9,7 8,3
P168-70-128 11,0 10,0
P219-30-13 15,8 13,8
P219-30-128 14,3 13,3
P219-70-13 11,2 10,8
P219-70-128 11,6 14,2
PI40-R 6,0 5,5
PI80-R 2,9 3,0

4. CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou uma análise sobre o comportamento ao fogo de pilares tubulares em
aço através de modelos numéricos, tridimensionais, não lineares, desenvolvidos em elementos
finitos sólidos, com 20 nós, no software ANSYS [9]. Parâmetros como a forma e as dimensões
da seção transversal, o comprimento do pilar, o nível de carga e restrições ao alongamento
térmico foram considerados. Resultados de temperaturas, forças de restrição e resistência ao
fogo foram comparados com resultados experimentais [1 e 4] e numéricos [2, 6 e 7] disponíveis
na literatura.

Após a comparação destes valores, pode concluir-se o seguinte:

 O modelo desenvolvido no ANSYS [9] pode ser utilizado para simular o


comportamento de pilares de aço em situação de incêndio;

 O modelo ainda precisa ser melhor calibrado para representar a parte descendente
das forças de restrição, que é primordial para a definição das resistências ao fogo;

 O tempo crítico obtido numericamente foi similar ao determinado experimentalmente;

 A resistência ao fogo dos pilares em aço, em geral, é pequena (inferior a 30min),


sendo recomendado o uso de proteção passiva ou ativa no projeto de incêndio deste
tipo de estruturas.

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5. REFERÊNCIAS

[1] Pires, T. A.C.; Rodrigues, J. P. C.; Silva, J. J. R. .Fire resistance of concrete filled circular
hollow columns with restrained thermal elongation.Journal of Constructional Steel
Research, v. 77, p. 82-94, 2012.

[2] Pires, T. A. C.; Rodrigues, J. P. C.; Rêgo Silva, J. J. . Fire resistance of composite
columns made of concrete filled circular hollow sections and with restrained thermal
elongation. In: Structures in fire, 2014, Shangai. Proceedings of the 8th international
conference on structures in fire.Shangai: Tongji university press, 2014. v. II. p. 745-752.

[3] ABAQUS. User’s manual: volumes I-III version 6.12. Pawtucket, Rhode Island: Hibbit,
Carlsson and Sorensson Inc.:2005.

[4] Costa, L. M. (2013) - Análise experimental de pilares em aço formado a frio submetidos à
altas temperaturas com restrição à dilatação axial livre e restringida. Dissertação
(Mestrado) – Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco
– UFPE.

[5] Rocha, W. C.; Rêgo Silva, J. J. ; Pires, T. A. C.; Medeiros, L. C.. Fire Behavior of Cold
Formed Columns?Experimental Tests. In: International Fire Safety Symposium, 2015,
Coimbra, Portugal. Proceedings of International Fire Safety Symposium, 2015. v. 1. p. 71-
78. ~

[6] Rocha, W. C.; Pires, T. A. C.; Rêgo Silva, J. J. .Numerical Models of Cold Formed Steel
Columns made of Square Tubular Section Subject to Fire. In: IFireSS ?International Fire
Safety Symposium, 2015, Coimbra, Portugal.Proceedings of International Fire Safety
Symposium, 2015. v. 1. p. 9-18.

[7] Rocha, W. C.; Pires, T. A. C.; Rêgo Silva, J. J. ; Araujo, M. S. D. A.. Análise numérica de
pilares de aço submetidos à altas temperaturas com restrição ao alongamento. In: III
Congresso Ibero-Latino-Americano de Segurança contra Incêndio? CILASCI, 2015, Porto
Alegre, Brasil. Anais do III Congresso Ibero-Latino-Americano de Segurança contra
Incêndio ? CILASCI, 2015.

[8] Almeida, S.J.C. (2012). Análise do comportamento a temperaturas elevadas de elementos


de aço formados a frio comprimidos considerando restrição ao alongamento térmico. Tese
(Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo e
Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

[9] ANSYS INC (2009). Ansys Release 12.1 – Documentation.

[10] INTERNATIONAL STANDARDIZATION FOR ORGANIZATION – Fire resistance tests –


Elements of building construction. ISO 834. Genève. 1999.

[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14323: Dimensionamento


de estruturas de aço de edifícios em situação de incêndio – Procedimento. Rio de Janeiro,
2013.

[12] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. pr EN 1993-1-2:2005- Eurocode 3


- Design of Steel Structures. Part 1-2: General rules – StructuralFire Design. Brussels,
2005.

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PILARES DE AÇO FORMADOS A FRIO COM REVESTIMENTO CONTRA


FOGO

Marina M. L. Santos Tiago A. C. Pires* José J. Rêgo Silva


Mestranda Professor, PhD Professor, PhD
Universidade Federal de Universidade Federal de Universidade Federal de
Pernambuco Pernambuco Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: Pilar. Aço formado a frio. Revestimento contra fogo. Situação de Incêndio.
Resistência ao Fogo.

1. INTRODUÇÃO

O estudo sobre incêndio ganhou espaço nas pesquisas nacionais no final da década de 70 e já
é possível encontrar na literatura trabalhos sobre estruturas de chapa fina em situação de
incêndio. Estruturas de aço de chapa fina formadas a frio vêm ganhando um crescente espaço
no mercado nacional, pois são elementos estruturais de alta relação entre capacidade de carga
e peso próprio. Uma grande desvantagem deste tipo de estrutura é a redução das
propriedades mecânicas do aço [1] [2] com o aumento da temperatura em situação de
incêndio. Este fato se torna ainda mais relevante quando se trata de pilares, devido a sua
importância no projeto estrutural.

Uma das soluções mais comuns para aumentar a resistência ao fogo deste tipo de estrutura é
utilizar algum tipo de proteção através do revestimento com materiais isolantes. Apesar de
alguns trabalhos, como [3] [4], abordarem o tema ainda são escassos os estudos sobre o
mesmo. As normas Europeia [1] e Brasileira [2] que definem as orientações para o projeto de
estruturas de aço em situação de incêndio trazem um método simplificado para determinação
das temperaturas desenvolvidas no perfil com proteção em situação de incêndio, entretanto,
não definem as características térmicas dos materiais de proteção, recomendando normas de
ensaio para obtenção destas características, dificultando a determinação das espessuras para
projetos de estruturas de aço em situação de incêndio.

Um estudo experimental realizado por Costa [5] ensaiou 10 exemplares de pilares tubulares de
aço formados a frio do tipo caixão, com e sem restrição axial em situação de incêndio, sendo
aquecidos em um forno elétrico capaz de reproduzir a curva de incêndio-padrão [6]. Os pilares
foram carregados axialmente com 40 e 80% de sua capacidade resistente em situação
ambiente e os tempos de resistência ao fogo segundo critérios fornecidos por [6] e por [7]
variaram entre 9 e 3 min.

**Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua Acadêmico Héli o

Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +55 81 2126 8219 Fax: +55 81 2126 7216. e-mail:

tacpires@yahoo.com.br

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

O autor concluiu que a restrição axial à dilatação térmica e o aumento do nível de


carregamento reduzem o tempo de falha dos pilares, cujo máximo foi de 9 min, alcançado por
um pilar carregado com 40% da resistência à compressão e sem restrição à dilatação térmica.

A literatura [5] acima citada mostra que pilares de aço composto por chapas finas formadas a
frio possuem uma pequena resistência ao fogo (TRRF) [2], entretanto constata-se grande
escassez na literatura de trabalhos envolvendo revestimento contra fogo desse tipo de
estrutura.

Nesse âmbito, Silva [3] desenvolveu uma expressão analítica para cálculo da espessura do
material de proteção passiva e validou sua equação através de comparação com outras
equações encontradas na literatura, resultados experimentais e resultados obtidos
numericamente pelo programa SuperTempCalc, a equação foi inserida na ABNT NBR
14323:2013 [2]. A proteção térmica utilizada na validação foi a argamassa Blaze Shield II,
fornecida no Brasil pela Resfrasol/Isolateck. No seu desenvolvimento analítico o autor
considerou o que o calor passa do material de proteção passa para a peça protegida por
condução e afirma que os fenômenos de radiação e convecção não tem muita significância no
cálculo das temperaturas desenvolvidas no perfil de aço. Chegou-se à conclusão que a
equação era satisfatória para prever a temperatura dos elementos de aço protegido mas para
materiais de proteção com umidade os valores obtidos com sua expressão são conservadores.

Gerkeen [4] apresentou vários tipos de proteções passivas utilizadas no Brasil e fez um estudo
numérico comparativo entre o desempenho térmico das mesmas quando aplicadas com
espessuras de 10, 15 e 20 mm utilizando o programa Thersys, em elementos finitos
bidimensionais, para obtenção da temperatura desenvolvida em um perfil formado à frio tipo
caixa. As curvas utilizadas para o aquecimento do perfil foram a curva presente em [6] e uma
curva de incêndio natural extraída da simulação de incêndio feita pelo autor em um
apartamento popular, utilizando o programa Smartfire. Utilizando a curva [6] pela redução das
propriedades mecânicas do aço fornecidas pela ABNT NBR 14323:2013 [2] concluiu-se que,
com 10 mm de espessura a argamassa foi capaz de fornecer um TRRF de 30 min, já a placa
de gesso, para fornecer o mesmo TRRF, necessitou de 15mm de espessura.

Dessa forma, pretende-se contribuir com o entendimento do comportamento de pilares de aço


com revestimento contra fogo através dos seguintes objetivos:

 Desenvolver de um modelo computacional tridimensional em elementos finitos


(elementos sólidos), não linear, para análise do comportamento de pilares de aço
formado a frio com revestimento contra fogo materializado através de placas de
gesso, em situação de incêndio com o software ABAQUS [8];
 Validar o modelo através da comparação com os resultados experimentais obtidos por
Costa [5];
 Determinar a resistência ao fogo de pilares de aço com proteção passiva de placas de
gesso e argamassa projetada com espessuras de 10, 20, 30, 40 e 50 mm;
 Comparar os resultados numéricos obtidos com o método simplificado da ABNT NBR
14323:2013 [2].

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2. PILARES DE AÇO SEM REVESTIMENTO CONTRA FOGO

O software ABAQUS [8] permite que a modelagem numérica seja feita com elementos finitos
bidimensionais (tipo casca) ou tridimensionais (tipo sólido). O mesmo permite uma análise
termomecânica sequencial, da mesma forma que foi feito por Pires et al [7]. Esta estratégia
apresenta resultados muito semelhantes à analise acoplada com a vantagem de ter um menor
tempo de processamento. Primeiramente o problema térmico é resolvido. As temperaturas no
perfil de aço obtidas nesta etapa, são utilizadas na etapa subsequente onde o problema
mecânico é analisado. Ou seja, as temperaturas no perfil são saídas no modelo térmico e
entrada do modelo mecânico.

As propriedades térmicas do aço utilizadas para a simulação foram: coeficiente de dilatação


térmica, condutividade, calor específico e as propriedades mecânicas foram: densidade,
comportamento elástico e comportamento plástico seguindo as recomendações para aço
classe 4 [1]. A validação do modelo foi feita por comparação com os resultados experimentais
obtidos por Costa [5]. Todos os exemplares possuíam 2,0 m de comprimento e a mesma seção
transversal quadrada de 100x100x3x1.7 mm conforme Figura 1. Nesta figura também são
expostas as localizações dos termopares nas faces externas do perfil de aço.

Figura 1: Pilares ensaiados por Costa [5] e localização dos termopares.

Os pilares foram aquecidos, ao longo de 1,0 m, na sua região central, utilizando-se um forno
elétrico capaz de reproduzir a curva de incêndio-padrão [6]. Variou-se o carregamento dos
pilares utilizando 40 e 80% do valor característico de resistência à compressão do perfil em
situação ambiente (Nrd). Este valor calculado conforme a ABNT NBR 14762:2010 [9] é 280 kN.

A seguir, serão mostradas as comparações com os pilares que receberam uma carga de 110
kN (40% Nrd) e não tiveram a dilatação térmica restringida. A comparação térmica entre os

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resultados numéricos e experimentais pode ser observada na Figura 2 e a comparação


mecânica pode ser observada na Figura 3.

800
Temperatura (°C)

600

400
Numérico
200 Experimental

0
0 5 10
Tempo (min)

Figura 2: Evolução das temperaturas experimentais e numéricas na seção média do pilar

Figura 3: Deformações experimentais e numéricas no topo do pilar

As temperaturas numéricas e experimentais apresentaram boa correlação. Esta diferença não


foi superior a 100 °C, sendo a experimental maior que a numérica (
Figura 2). Comportamento semelhante foi relatado por Pires et al [7] em seus trabalhos. Para o
deslocamento axial, também foi verificada uma boa correlação entre os resultados numéricos e
experimentais.

A diferença máxima entre esses valores foi inferior a 1.0 mm, o que representa menos do que
0,05% do comprimento do pilar conforme pode ser observado na Figura 3. Conclusões
semelhantes podem ser observadas quando o pilar é submetido a uma carga de 220 kN (80%
Nrd). Por questão de espaço, será suprimido deste trabalho. De um modo geral, o modelo
numérico pode ser utilizado para prever o comportamento de pilares de aço formado a frio com
boa precisão.

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3. PILARES DE AÇO COM REVESTIMENTO CONTRA FOGO

Nesta seção, será feita uma análise do comportamento em situação de incêndio dos pilares de
aço formados a frio com revestimento contra fogo de placas de gesso e de argamassa
projetada. Estas soluções são comumente adotadas na proteção de estruturas sujeitas ao fogo.
Novamente, apenas a região central do pilar com comprimento de 1.0 m foi aquecida conforme
a curva de incêndio-padrão [6]. O material de proteção foi modelado em elementos finitos do
tipo sólido quadrático com 20 nós com dimensão máxima de 50 mm. Testes de resistência ao
fogo de pilares de aço com proteção passiva ainda estão em curso no laboratório do
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (DECIVIL/UFPE).
Dessa forma, neste artigo será apresentada uma comparação entre o modelo numérico e o
método simplificado da ABNT NBR 14323:2013 [2]. As comparações com resultados
experimentais serão apresentadas em trabalhos futuros.

As propriedades térmicas adotadas no modelo numérico para os materiais de proteção são


densidade, emissividade, condutividade, calor específico, sendo seus valores de
respectivamente: (i) Gesso: 800 kg/m³, 0,20 W/m°C, 1700 J/kg°C [3]; (ii) Argamassa: 240
kg/m³, 0,15 W/m°C, 2300 J/kg°C [4]. As espessuras das proteções analisadas foram 10, 20, 30,
40 e 50 mm, para ambos materiais. Este intervalo de valores contempla as espessuras
comercialmente utilizadas para proteção de estruturas.

Considerou-se que as propriedades térmicas da proteção se mantiveram constantes ao longo


do aquecimento, semelhante ao utilizado em [3] e [4]. Considerou-se que entre a proteção e o
perfil de aço não há perda de calor, mesma consideração feita por [2] e [3]. No modelo
numérico, o contato entre os elementos da proteção e o perfil foi considerado do tipo “TIE”,
simulando o contato perfeito, para que não houvesse perda de calor e a radiação e convecção
incidentes na proteção térmica fossem transferidas por condução para o aço. As Figuras 4 e 5
apresentam a comparação da evolução das temperaturas na parte central do pilar obtidas pelo
modelo numérico e pelo método simplificado [2].

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Figura 4: Evolução das temperaturas, na seção à meia altura, dos pilares de aço com
revestimento de placas de gesso.

Figura 5: Evolução das temperaturas, na seção à meia altura, dos pilares de aço com
revestimento de argamassa.

Observa-se que, para ambos os materiais, o desenvolvimento da temperatura no aço tende a


divergir com o aumento da espessura do material de proteção. A divergência se acentua para o
caso de 50 mm. Simplificações adotadas na dedução das equações do método simplificado
podem justificar esta divergência para maiores espessuras. Vide Figura 4 e Figura 5.

Esta observação preliminar, leva ao questionamento da precisão do método simplificado [2]


para espessuras maiores de revestimentos contra fogo. Ou então, o modelo numérico precisa
ser melhor calibrado para simular tais espessuras. Neste sentido, estão sendo conduzidos
experimentos no DECIVIL/UFPE para trazer maiores esclarecimentos sobre esta questão.

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As Figura 6 apresentam respectivamente o deslocamento axial dos pilares com revestimento


de gesso e argamassa para as diferentes espessuras analisadas no modelo numérico.

O modelo numérico não apresentou problemas de convergência para simular a parte


mecânica. A análise do resultado mecânico, obtida pelo modelo numérico, permite, facilmente,
a determinação da resistência ao fogo dos pilares através dos critérios de falha da ISO834 [6].
Ou seja, o pilar falha quando ao deslocamento axial atinge o valor de L/200 ou a taxa de
deslocamento axial atinge o valor de 3L/1000, onde L é o comprimento do pilar, em metros.

Observa-se que a resistência ao fogo tende a crescer consideravelmente com o aumento da


espessura do revestimento contra fogo, tanto para o gesso quanto para a argamassa. Os
valores de resistência ao fogo, assim como a razão deste aumento, estão apresentados na
Tabela 1. Conforme os resultados apresentados, a cada 10mm acrescido na espessura da
proteção, tem-se ganhos superiores a 30% na resistência ao fogo.

Tabela 1: Resistências ao fogo dos pilares de aço com revestimento contra fogo

Gesso Argamassa

Esp. de TRRF TRRF TRRF TRRF


proteção ABAQUS ABNT NBR ABAQUS ABNT NBR
(mm) (min) (min) (min) (min)
0 9 7 9 7
10 32 21 32 23
20 58 43 55 42
30 88 65 78 62
40 135 99 112 87
50 181 133 143 112

Figura 6: Deslocamento axial, obtida pelo modelo numérico, para o pilar de aço com diferentes
espessuras de revestimento de placas de gesso

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Figura 7: Deslocamento axial, obtida pelo modelo numérico, para o pilar de aço com diferentes
espessuras de revestimento de argamassa

Por fim, chama-se atenção para o fato do método simplificado [2] não possibilitar a
determinação da resistência ao fogo conforme a ISO 834 [6], pois se adequa apenas às
análises experimentais. O método normativo permite apenas a determinação da força axial
resistente (Nfi,rd). Nesse sentido, podemos determinar a falha do pilar quando esta se igualar ao
esforço solicitante (S = R). A
Figura 8 mostra a redução da força resistente (Nfi,rd) para o pilar de aço com diferentes
espessuras de revestimento de placas de gesso. O revestimento de argamassa apresentou
resultados semelhantes e o gráfico será suprimido por falta de espaço.

Figura 8: Força resistente (Nfi,rd) determinada segundo o método simplificado [2] para o pilar de
aço com diferentes espessuras de revestimento de placas de gesso

Como na primeira comparação, tanto a proteção com argamassa quanto a com placas de
gesso aumenta significativamente o tempo crítico de falha dos pilares. Embora os critérios de
falha empregados sejam diferentes, a resistência ao fogo, determinada pelo critério da ISO 834
[6] através das simulações numéricas, e o tempo crítico, determinado pelo critério da ABNT
NBR 14323:2013 [2] são comparados na Figura 9.

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Figura 9: Falha dos pilares de aço com revestimento, método simplificado vs modelo numérico

Observa-se que os diferentes critérios de falha podem induzir a divergências na determinação


do desempenho (falha) do pilar em situação de incêndio. Dentre os casos analisados, a
resistência ao fogo e o tempo crítico foram semelhantes, o método simplificado se mostrou
mais conservador, na Figura 09 todos os resultados encontram-se posicionados abaixo da
margem de 10%. Ressalta-se que tanto no modelo numérico quanto no método simplificado
não são considerados fenômenos que podem ocorrer quando o gesso e a argamassa são
expostos à altas temperaturas, como fissuração da placa de gesso ou descolamento da
argamassa.

4. CONCLUSÃO

Este artigo apresentou um modelo numérico, não linear, desenvolvido em elementos finitos
tridimensionais do tipo sólido, para a análise do comportamento em situação de incêndio de
pilares de aço com e sem revestimento contra fogo. Diferentes tipos de revestimentos
(argamassa projetada e placas de gesso), de espessuras (10, 20, 30, 40 e 50 mm) foram
analisados. Os resultados foram discutidos através da análise das temperaturas desenvolvidas,
das deformações axiais e da resistência ao fogo dos pilares analisados. As seguintes
conclusões podem ser destacadas:

 O modelo numérico é capaz de reproduzir o comportamento térmico e mecânico de


pilares de aço enformado a frio sem proteção com boa precisão;
 O modelo não apresentou problemas de convergência para simular os pilares de aço
com revestimento contra fogo (argamassa projetada ou placas de gesso);
 Para os pilares com proteção, à medida a espessura do revestimento aumenta, a
divergência entre as temperaturas obtidas pelo modelo numérico e pelo método
simplificado também aumenta [2];
 Tanto a proteção com argamassa projetada quanto a com placas de gesso
aumentaram consideravelmente o tempo de resistência ao fogo dos pilares. Nos
casos analisados, a cada 10 mm acrescido na espessura, aproximadamente, dobra-se
o tempo de resistência ao fogo;

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 O método simplificado [2] mostrou-se levemente conservador, em relação ao método


avançado, para espessuras maiores de revestimento, mantendo-se a favor da
segurança e perfeitamente adequados à prática de projeto.

Outras comparações, também com bases experimentais estão em curso para que uma maior
contribuição sobre o tema possa ser obtida.

5. REFERÊNCIAS.

[1] EN 1993-1-2. Design of Steel Structures – Part 1-2: General Rules – Structural fire design,
CEN, Brussels, 2005
[2] ABNT NBR 14323:2013 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e
concreto de edifícios em situação de incêndio. 2013, 66p.
[3] Silva, V.P. – “Determination of the steel fire protection material thickness by an
analytical process—a simple derivation” Engineering Structures 27 (2005) 2036–2043
[4] Gerkeen, A.L.R. - “Materiais De Proteção Térmica Para Sistemas Construtivos De Baixo
Custo Estruturados Em Aço”. 2007. 236p.
[5] Costa, L.M – Análise experimental de pilares emaço formado a frio submetidos a altas
temperaturas com restrição à dilatação axial livre e restringida. 2013, 190p
[6] INTERNATIONAL STANDARD.ISO 834 Fire-resistence tests – Elements of building
construction – Part 1: General requirements.1999.
[7] Pires, T.A.C. – “Fire resistence of composite columns made of concrete filled circular hollow
and with restrained thermal elongation”. Journal of Constructional Steel Research (2012) n°
77 82–94 13p
[8] Pawtucket, Rhode Island: Hibbit, Carlsson and Sorensson Inc. – User´s manual: volumes I-
III, version 6.7. 2005
[9] ABNT NBR 14762 - Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis
formados a frio. 2010, 93p.

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PROPRIEDADES FISICO-QUÍMICAS DE UM BETÃO DE ALTA


RESISTÊNCIA REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO E POLIPROPILENO
QUANDO EXPOSTO A ALTAS TEMPERATURAS

H. Caetano J. P. Rodrigues*
Doutorando Professor
ISISE, Departamento de Engenharia Civil ISISE, Departamento de Engenharia Civil
Universidade de Coimbra, Portugal Universidade de Coimbra, Portugal

G. Ferreira P. Pimienta
Professora Fire Expert
Universidade Estadual de Campinas, Brasil CSTB, França

Palavras-chave: elevadas temperaturas, fibras de aço e polipropileno, betão de elevada


resistência, análise térmica, propriedades físico-químicas.

1. INTRODUÇÃO

Quando uma estrutura de betão armado fica exposta a um incêndio, poderá sofrer ações
térmicas provocadas pela radiação ou mesmo pela atuação direta das chamas. Esta exposição
térmica, além de provocar um aumento de tensões no material, induz a transformações físico-
químicas que conduzem a alterações significativas na sua microestrutura e,
consequentemente, nas suas propriedades térmicas e mecânicas. Este facto ocorre devido ao
facto dos constituintes do betão (pasta e agregados) apresentarem uma composição química e
valores de expansão térmica diferentes entre si, que quando sujeito a altas temperaturas,
provocam danos irreversíveis no betão. Além disso, como o betão possui água na sua matriz
cimentícia aquando da hidratação do cimento, regista-se uma perda de massa inicial devido à
evaporação da água livre presente nos poros do betão e, posteriormente, à água que se
encontrava quimicamente ligada devido à hidratação do cimento [1].

A libertação de vapor de água resultante da evaporação da água livre e da desidratação dos


produtos de hidratação do cimento, é praticamente total para uma temperatura aproximada de
500ºC [2-4]. Antes disso, alguns constituintes cristalinos, presentes no betão endurecido,
sofrem alterações químicas como é o caso da etringite, que perde a sua estabilidade estrutural
a temperaturas perto dos 120 ºC [5]. Neste sentido, a realização deste trabalho de investigação
experimental teve como principal objetivo identificar as principais alterações físico-químicas que
ocorrem no betão quando exposto a altas temperaturas. Para isso, realizaram-se ensaios de
análise térmica, difração de Raios-X (DRX) e observação por microscópio eletrónico de
varrimento (MEV-EDS) em amostras de betão de alta resistência com fibras de polipropileno e
de aço. Estas amostras foram expostas a temperaturas de 200, 500, 800 e 1000 °C. Das cinco

*
*Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade de Coimbra – Polo II. Rua Luís Reis

Santos. 3030-788 Coimbra. PORTUGAL. Telef.: +351 239 797237 Fax: +351 239 797242. e-mail: jpaulocr@dec.uc.pt

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composições testadas, uma era constituída apenas por fibras de polipropileno (betão de
referência) e, nas outras quatro, fez-se variar o tipo de fibras de aço (designadas
comercialmente por fibras Dramix 3D e 5D) e a sua dosagem (45 ou 75 kg/m 3).

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Materiais

Na fabricação das diferentes composições de betão foram usados os seguintes materiais:


cimento Portland CEM I 42,5 R (CIM), superplastificante HE 200P (SP), agregado calcário com
dimensões de 12 a 18 mm (B1), dimensões de 5 a 12 mm (B2), dimensões de 2 a 5 mm (B3),
areia siliciosa (A), filer calcário (FC), fibras de polipropileno (PP), fibras de aço do tipo Dramix
3D (FA3D) e do tipo Dramix 5D (FA5D). As fibras de PP são comercialmente designadas como
Duro-Fibril e têm 31 µm de diâmetro e um comprimento de 6 mm. As fibras de aço do tipo
Dramix 3D (FA3D) possuem uma simples curvatura nas suas extremidades enquanto as fibras
Dramix 5D (FA5D) possuem dupla curvatura. As FA3D têm um comprimento (I) de 60 mm, um
diâmetro (d) de 0,90 mm, uma relação comprimento/diâmetro (I/d) de 65, uma tensão de
cedência de 1160 MPa e um módulo de elasticidade de 210 GPa. As FA5D possuem o mesmo
diâmetro e comprimento, mas a sua tensão de cedência é de 2300 MPa. Na Figura 1 é
possível observar os diferentes tipos de fibras usadas nas composições.

a) b) c) d)
Figura 1:. a) Fibras de aço 3D; b) Fibras de aço 5D; c) Fibras de polipropileno; d) Fibras
usadas.

2.2 Composições de betão

As amostras utilizadas neste estudo experimental foram obtidas através da fabricação de cinco
composições (tabela 1) distintas: CR, 3D_45, 3D_75, 5D_45 e 5D_75.

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Tabela 1: Composições de betão.

Valor por m³
Designação
CIM SP B1 B2 B3 A FC PP FA3D FA5D
das A/C
[kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg]
Composições
CR 400 8 543 290 373 479 200 2 0 0
3D_45 400 8 525 290 373 479 200 2 45 0
3D_75 400 8 513 290 373 479 200 2 75 0 0.36
5D_45 400 8 525 290 373 479 200 2 0 45
5D_75 400 8 513 290 373 479 200 2 0 75

A composição de referência (CR) possui apenas fibras de PP, as composições 3D_45 e 3D_75
além de conterem fibras de PP, foram introduzidas fibras de aço do tipo 3D na sua composição
com uma dosagem de 45 e 75 kg/m 3, respetivamente. As composições 5D_45 e 5D_75 além
de conterem fibras de PP, as fibras de aço do tipo 3D foram substituídas pelas do tipo 5D com
dosagens de 45 e 75 kg/m3, respetivamente. A dosagem de fibras de PP usada em todas as
composições de betão foi de 2 kg/m3, assim como a razão de água/cimento de 0,36. Na Tabela
1 é possível identificar os diferentes materiais e respetivas dosagens usadas na fabricação dos
diferentes tipos de betão.

Para cada composição de betão, foram realizados ensaios de compressão em provetes


cúbicos de 150 mm de aresta, determinando a resistência à compressão do betão, à
temperatura ambiente aos 7, 14 e 28 dias e aos 3 meses. A determinação da classe de
resistência do betão para cada composição (Tabela 2) foi obtida através da Norma Portuguesa
NP EN 206-1 (2007) [6] e obteve-se a seguinte classificação:

Tabela 2: Classes de resistência das composições de betão.


Composições fcm (MPa) fck (MPa) Classe de Resistência
CR 67 63 C50/60
3D_45 72 68 C55/67
3D_75 77 73 C55/67
5D_45 80 76 C60/75
5D_75 77 73 C55/67

2.3 Preparação de Provetes

Com base nas cinco composições definidas na Tabela 1 foram fabricadas 5 lajes, cada uma
delas representativa de cada composição e foram retirados e retificados vários carotes
cilíndricos com dimensões finais de 210 mm de altura com 70 mm de diâmetro. Após 180 dias

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de idade, estes carotes cilíndricos foram cortados e obtiveram-se provetes cilíndricos com 3
mm de espessura e 70 mm de diâmetro. (Figura 2.a)).

a) b)
Figura 2: a) Provete cilíndrico com 3 mm de espessura e 70 mm de diâmetro; b) Amostra de
betão impregnado em resina polimérica.

Por forma a estudar o efeito da temperatura, os provetes foram submetidos a diferentes


patamares de temperatura 20, 200, 500 e 800 ou 1000 °C. Numa primeira fase, os provetes
foram submetidos a uma taxa de aquecimento 1°C/minuto até atingir a temperatura pretendida
e, posteriormente, mantidos a uma temperatura constante durante 1 hora por forma a garantir a
uniformidade da temperatura em todo o provete [7]. Passada uma hora, o forno era desligado e
os provetes eram mantidos no interior do forno até que estes atingissem a temperatura
ambiente.

A preparação dos provetes utilizados nos ensaios de análise térmica (TGA-DTA) e difração por
Raios X (DRX) foram obtidos a partir os provetes cilíndricos de 3 mm de espessura e 70 mm de
diâmetro, que foram fragmentados em vários pedaços e triturados até serem reduzidos a um pó
que atravessasse um peneiro de 100 µm.

Os provetes utilizados na observação microscópica eletrónica por varrimento (MEV) também


foram obtidos através da fragmentação os provetes cilíndricos de 3 mm de espessura e 70 mm
de diâmetro, selecionaram-se as amostras que possuíam, simultaneamente, pasta de cimento
e agregados. As amostras selecionadas foram envolvidas em resina polimérica e sujeitas a um
desgaste e polimento até a superfície da amostra de betão ficar exposta.

A impregnação da amostra em resina polimérica permitiu garantir que as amostras de betão


que tinham sido anteriormente aquecidas até à temperatura pretendida, não se desintegrassem
no momento de se proceder ao polimento da superfície das amostras de betão (Figura 2b).
Antes das amostras de betão serem sujeitas à observação através do MEV, estas foram
revestidas por uma fina camada de ouro.

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2.3 Técnicas e Procedimentos de Ensaio

Os ensaios utilizados nesta investigação seguiram a seguinte sequência: termogravimetria,


DRX e MEV-EDS.

A termogravimetria (TG) é uma técnica de análise térmica que se destaca no momento de se


proceder à avaliação de alterações morfológicas e químicas dos compostos formados durante
a hidratação do cimento Portland. Neste ensaio, regista-se continuamente a variação de massa
de uma amostra colocada num cadinho numa atmosfera controlada, em função da temperatura
ou do tempo, ao aumentar a temperatura. A representação da massa em função do tempo
denomina-se termograma ou curva de decomposição térmica (DTG), cuja curva representa a
derivada da curva TG e proporciona informações sobre a velocidade da perda de massa em
função da temperatura ou do tempo. A análise termogravimétrica com a análise térmica
diferencial (DTA) são técnicas adequadas para o estudo de hidratação do betão. Nesta
investigação foram utilizadas amostras obtidas a partir da moagem do betão referência (RC),
utilizando-se o material em pó com uma granulometria abaixo de 10 microns. Para este ensaio
utilizou-se o equipamento Seteram (Setsys Evolution), cuja amostra foi exposta a uma
atmosfera controlada de argon (50 ml/min) e a uma taxa de aquecimento de 10 ºC/min até à
temperatura de 1000°C.

A difração de raios X (DRX) é uma técnica utilizada para a avaliação mineralógica do betão e
determinação da sua estrutura cristalina. Além disso, permite a identificação química qualitativa
e quantitativa das fases cristalinas encontradas no material, neste caso, após exposição aos
patamares de temperatura indicados. Para a realização deste tipo de ensaio, recorreu-se ao
equipamento Philips (difratómetro X’Pert), com recurso à radiação de cobalto (kα1= 1.78897 Å).
As leituras foram feitas numa gama de 2θ, num intervalo de 5° a 80°, a um passo de 0,025º e
um tempo de requisição de 1 segundo. A tensão e a corrente de filamento foram de 40 kV e 35
mA, respetivamente.

A morfologia das amostras de betão foram observadas através de um microscópio eletrónico


por varrimento (MEV) num equipamento FESEM ZEISS (MERLIN), alocado no IPN (Instituto
Pedro Nunes, Coimbra, Portugal). Além disso, foi realizada a espectroscopia de raios X por
dispersão de energia (EDS) para identificação e quantificação relativa dos elementos químicos
presentes nos compostos identificados nas imagens. As amostras foram analisadas antes e
após exposição as altas temperaturas.

3. RESULTADOS

Numa primeira fase, os resultados obtidos nos ensaios realizados nesta investigação foram
analisados isoladamente e só posteriormente foram analisados em conjunto, uma vez que a
informação obtida em cada técnica permite complementar-se entre si.

Os ensaios de analise térmica permitiram identificar as reações endotérmicas e os respetivos


intervalos de temperatura a que ocorreram e respetiva perda de massa com o aumento da
temperatura. Os resultados obtidos por Raio-X permitiram identificar as diferentes fases

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cristalinas presentes no betão após a ocorrência das reações endotérmicas. As observações


no microscópio eletrónico de varrimento (MEV-EDS) com EDS acoplado permitiram registar
fotograficamente, o aumento da fissuração no betão com o aumento da temperatura, bem
como a identificação dos principais compostos químicos resultantes da hidratação do cimento,
como por exemplo, o silicato de cálcio hidratado (C-S-H) e da portlandite (CaOH2).

3.1 Análise Termogravimétrica (TGA-DTA)

A Figura 3 representa, simultaneamente, a curva média de 3 ensaios de análise


termogravimétrica realizados à composição de referência e onde se podem identificar vários
eventos térmicos durante o aquecimento das amostras de betão desde da temperatura
ambiente até aos 1000 °C.

Verifica-se que entre os 25 e os 200 °C a perda de massa é de 2,20 % e que este pico
endotérmico pode ser atribuído à vaporização de água livre e decomposição inicial do silicato
de cálcio hidratado (C-S-H) [8,9]. Entre os 200 e os 400 °C a perda de massa é de 1,21%.
Segundo vários autores [10-12] a variação de massa entre os 200 e os 300 °C deve-se à
contínua desidratação do C-S-H, iniciada aos 200 °C. Outros autores [13,14] relatam que a
perda de massa entre os 200 e 400 °C deve-se também à perda de água adsorvida, presente
nos compostos que formam a matriz cimentícia, resultante da primeira fase de desidratação ou
descarbonatação deste material. Dollimore et al. [15] descrevem que a dissociação da
portlandite inicia a partir de 780 °C, provocando uma variação acentuada da massa nesta faixa
de temperatura (figura 3). Na sequência, ocorre a desagregação do CaCO3, próximo a
temperatura de 900 °C. A decomposição destes dois últimos compostos provoca drástica
deterioração da matriz cimentícia e dos agregados presentes.

Figura 3: Análise termogravimétrica em atmosfera de argon.

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Para temperaturas entre os 400 e 500 °C registou-se outro pico endortérmico e a perda de
massa registada na amostra de betão foi de 0,79% e foi provocada pela decomposição da
portlandite (hidróxido de cálcio - CaOH2) em cal (óxido de cálcio - CaO) [11-14,16]. Através de
cálculos estequiométricos, a quantidade de portlandite existente na amostra, foi de 1.60 %.
Apesar de não haver nenhuma perda de massa, aos 573 °C verifica-se outro pico endotérmico
e a existência deste pico diz respeito à transição de fase do quartzo α para β. Este fenómeno
traduz-se numa expansão de volume dos agregados siliciosos (areias graníticas), o que se
traduz num aumento da fissuração do betão quando se encontra a esta temperatura.

Entre os 600 e os 900 °C regista-se a maior perda de massa devido à descarbonatação dos
agregados no betão (calcite - CaCO3, em óxido de cálcio - CaO) [11]. Aos 850 °C, regista-se o
último pico endotérmico e deve-se à decomposição da dolomite. A quantidade de calcite
(carbonato de cálcio - CaCO3) estimada foi de 62%.

3.2 Difracção por Raio X (DRX)

Na Figura 4 estão representados os resultados obtidos nos ensaios de difração por raio-x das
amostras do betão de referência à temperatura ambiente e depois de terem sido sujeitas à
temperatura de 200, 500 e 1000 °C.

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P Portlandite
Q Quartzo
C Calcite
C´ Cristobalite
C* Óxido de Cálcio
L Larnite

Figura 4: Difratograma de Raio X da composição de referência a diferentes temperaturas.

Os resultados obtidos no difractograma à temperatura ambiente e da amostra aquecida a 200


ºC permitiu identificar a presença de diferentes fases cristalinas, tais como a portlandite, calcite
e o quartzo (presentes nos agregados siliciosos como é o caso das areias utilizadas na
composição do betão. Tendo em conta os constituintes do betão em estudo, as fases
cristalinas encontradas no difratograma correspondem às que costumam estar presentes nos
betões. Apesar do silicato de cálcio hidratado (C-S-H) ser um produto comum na hidratação do
cimento nos betões, esta possui uma estrutura amorfa, razão pela qual não é detetada no
difratograma. Além disso, as fases encontradas a 20 e 200 °C são as mesmas, pelo que é
possível concluir que até aos 200 °C não existe nenhuma alteração significativa na estrutura no
betão. Tal situação já não se verifica para a temperatura de 500 °C, uma vez que só se
consegue identificar o quartzo e a calcite. Através destes resultados comprova-se que a
portlandite (CaOH2) decompõe-se antes dos 500 °C, mais propriamente, entre os 400 e os
450°C, tal como referido por outros autores [11-14,16].

Para a temperatura de 1000 °C, os resultados revelaram a presença de várias fases cristalinas
como o quartzo, a cristobalite, óxido de cálcio e a larnite. A larnite surgiu a partir da

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decomposição do C-S-H e o óxido de cálcio é um resultado direto da descarbonatação da


portlandite (CaCO3). A cristobalite é um polimorfismo da sílica quando submetida a altas
temperaturas. Estes resultados estão em concordância com os resultados obtidos nos ensaios
de termogravimetria.

3.3 Microcópico Eletrónico de varrimento

Na Figura 5 são apresentadas algumas das imagens obtidas a partir da observação ao


microscópio eletrónico de varrimento de algumas amostras observadas quer à temperatura
ambiente (a) quer após terem sido expostas a altas temperaturas: b) 200 °C; c) 500 °C e d)
800°C. Nas imagens de MEV a) e b) é possível identificar claramente a portlandite (CaOH 2) e o
silicato de cálcio hidratado (C-S-H) e confirmar que entre a temperatura ambiente e os 200 ºC,
do ponto de vista microestrutural, não parece haver qualquer tipo de degradação do betão.

Na imagem c) da Figura 5, ressalta o facto de não se conseguir identificar a portlandite, algo


que pelos resultados obtidos da difração de Raio X, já seria expectável de se vir a verificar,
pois a portlandite decompõe-se entre os 400 e 500 ºC. Mais uma vez os resultados obtidos
entre os diferentes tipos de ensaios estão em concordância entre si. No que diz respeito à
imagem d) é possível confirmar a presença de cristais de óxido resultante principalmente da
descarbonatação dos agregados que se inicia perto dos 700 ºC e encontra praticamente
concluída aos 800 ºC.

a) b)

c) d)
Figura 5: Imagens retiradas da observação ao MEV com a identificação da portlandite (1),
silicato de cálcio hidratado (2) e do óxido de cálcio (3) do betão à temperatura ambiente a) e
após ter sido sujeito a altas temperaturas: b) 200°C; c) 500°C e d) 800°C.

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4. CONCLUSÕES

A realização deste trabalho experimental permitiu identificar os principais fenómenos físico-


químicos que ocorrem no betão quando exposto a altas temperaturas conclusões e as
respetivas alterações após exposição às altas temperaturas. A principais conclusões a reter
após a análise dos resultados deste estudo experimental são as seguintes:

- Para o intervalo de temperaturas entre os 20 e os 200 °C não se conseguem


identificar microscopicamente qualquer alteração significativa na estrutura no betão uma vez
que as fases cristalinas identificadas nos ensaios de DRX são as mesmas. No entanto, verifica-
se uma pequena perda de massa da amostra de betão verificada nos ensaios de TGA-DTA
devido à evaporação de água, e a existência de uma reação endotérmica devido ao facto de
ser neste intervalo de temperaturas que se dá inicio da decomposição silicato de cálcio
hidratado (C-S-H).

- Entre 200 e os 400 °C, o processo de desidratação do silicato de cálcio hidratado (C-
S-H) continua a processar-se de forma gradual e a perda de massa diminui ligeiramente, no
entanto, a não ser um aumento significativo da fissuração, não se verifica nenhuma reação
endotérmica no gráfico de termogravimetria, pelo que não se consegue identificar uma
alteração microestrutural significativa na morfologia do betão.

- Entre os 400 e os 700 °C, mais propriamente entre os 420 e 500 °C, constata-se a
existência de um pico endotérmico no TGA-DTA, acompanhado de uma redução de massa,
que se traduz na desidroxilação da portlandite (CaCO3) originando óxido de cálcio. A ausência
da fase cristalina da portlandite nos ensaios de DRX e a sua ausência nas observações no
MEV, comprovam a ocorrência desta transformação. Além desta constatação verifica-se que,
tal como verificado pelos outros investigadores referidos neste artigo, aos 573 °C também
ocorre a transição de fase α para β nos agregados de quartzo, traduzindo-se num aumento de
volume dos mesmos, aumento a fissuração no betão.

- Entre os 700 e os 900 °C, e apesar da perda de massa ir aumento à medida que se
aumenta a temperatura, é a partir dos 700 °C que se verifica a maior perda de massa e de
forma mais abruta, devendo-se essencialmente à descarbonatação dos agregados calcários
originando mais óxido de cálcio. Além disso, é nesta faixa de temperatura que se verifica outra
reação endotérmica e originam-se novas fases cristalinas como é o caso da cristobalite e da
larnite. A partir do momento em que ocorre a descarbonatação dos agregados calcários, a
resistência microestrutural do betão fica seriamente comprometida e a principal consequência
desta transformação, passa pela incapacidade do betão oferecer resistência mecânica às
forças a que esteja sujeita.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às empresas SECIL SA (www.secil.pt), BEKAERT (www.bekaert.com),


SIKA (http://prt.sika.com/) e à instituição CNPQ (http://cnpq.br/) pelo apoio prestado.

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REFERÊNCIAS

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PUNÇÃO EM LAJES DE CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Guilherme Basílio Valdir Pignatta


Vick Silva*
Doutorando Professor
Universidade de São Universidade de São
Paulo Paulo
São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil

Palavras-chave: punção, incêndio, concreto armado.

1. INTRODUÇÃO

O estudo do efeito do incêndio na capacidade resistente à punção das lajes é recente e tem
bibliografia escassa. Uma pesquisa pioneira sobre o tema foi realizada por Kordina [1]. Nesse
trabalho, o efeito do incêndio na capacidade resistente à punção foi estudado por meio de uma
análise experimental, na qual foram ensaiadas 14 lajes com um pilarete central. As lajes foram
posicionadas sobre um forno, cuja variação de temperatura seguiu a curva do
incêndio-padrão [2] e a aplicação do carregamento se deu pela tração de uma barra no centro
do pilarete e a respectiva reação em uma área circular sobre a laje.

Em quatro ensaios, a força foi mantida constante durante a simulação de incêndio, por 92, 120
ou 180 minutos e após esse período de tempo ela foi aumentada até a ocorrência de ruptura
por punção. Entretanto, em dois casos a capacidade do macaco foi atingida sem a ocorrência
de ruptura. Nos demais ensaios, a força foi aumentada gradativamente durante os primeiros 30
minutos de ensaio para simular os efeitos de acréscimo de força devido a restrições de
movimentação térmica nos pilares. Após esse tempo, a força foi mantida constante durante um
período de simulação de incêndio e, após esse intervalo de tempo, aumentou-se o

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. Av. Prof. Almeida Prado,
83, Cidade Universitária. 05508-070 - São Paulo - SP - Brasil. Tel.: +55 11 3091-5542. e-mail: valpigss@usp.br

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carregamento até a ocorrência da punção. No entanto, houve casos em que a ruptura ocorreu
antes do término do ensaio.

Os deslocamentos para as lajes de 20 cm de espessura tiveram sentido contrário ao


carregamento durante todo o ensaio, revelando que a deformação produzida pela variação
térmica, ou seja a causada pelas dilatação das camadas inferiores da laje, foi superior à
deformação mecânica. Já para as lajes de 15 cm de espessura foram observados
deslocamentos contrários ao carregamento durante os primeiros 30 minutos e, após esse
período, o sentido se inverteu.

Bamonte et al. [4] apresentam um modelo teórico para o cálculo da capacidade resistente à
punção de lajes em situação de incêndio (item 4 deste texto). Esse modelo é baseado na
Teoria da Fissura Crítica de Cisalhamento (TFCC), desenvolvida por Muttoni [5] (item 3 deste
texto), no qual o critério de ruptura é dado por uma equação dependente da máxima dimensão
dos agregados e da rotação da laje. A força última é dada pelo ponto no qual a curva força-
rotação do elemento cruza com a curva força última-rotação (critério de ruptura). A adaptação
desse método para a situação de incêndio leva em conta as deformações induzidas pela ação
térmica e pela perda de rigidez dos materiais. O modelo é utilizado para comparação aos
valores experimentais obtidos por Kordina [1].

Annerel et al. [6] fizeram uma análise experimental da capacidade resistente à punção de seis
lajes, sendo duas ensaiadas à temperatura ambiente e as demais submetidas ao incêndio-
padrão [2], com duração de 120 minutos. Foram utilizadas lajes sem armadura de cisalhamento
e lajes com 1, 2 ou 5 estribos em cada lado dos pilaretes. A configuração dos testes é similar à
utilizada por Kordina [1]. A medida de deslocamentos foi efetuada por meio de um sistema de
cabos e polias sobre as lajes. Essa solução apresentou problemas de leitura dos resultados,
devido à dilatação dos cabos pelos vapores quentes ou por surgir fissuras junto aos parafusos.
A utilização de estribos nos casos desse trabalho se mostrou ineficiente para a situação de
incêndio, pois a ocorrência de spalling os expôs diretamente ao calor.

Em 27 de novembro de 2004 ocorreu um colapso após um incêndio em uma garagem


subterrânea na cidade de Gretzenbach, Suíça. Foi observado que o colapso ocorreu devido à
punção na laje de cobertura. Houve erro de projeto e de execução, incluindo um aterro sobre a
cobertura com espessura maior que a considerada no projeto, porém a ruptura só ocorreu após
o incêndio, que reduziu a capacidade resistente à punção da laje [6]. Annerel et al. [7]
realizaram uma simulação termodinâmica desse incêndio. Para tanto, foi considerada a
geometria do edifício e um cenário de incêndio envolvendo seis carros, com base em um
acidente que ocorreu em 1º de outubro de 2007, em Roterdã, Países Baixos. As curvas de
evolução da temperatura dos gases em função do tempo apresentam comportamento bastante
distinto com relação à curva do incêndio-padrão [2], incluindo um ramo descendente. A laje foi
modelada por meio de elementos de casca com camadas, os pilares por meio de apoios fixos e
a interface entre a laje e as paredes adjacentes foi simulada por meio de apoios contínuos com
restrição ao deslocamento vertical apenas. Observou-se aumento significativo na força
concentrada nas lajes, devido à restrição à deformação dos pilares, mesmo em modelos que
consideram a queda do módulo de elasticidade em função da temperatura.

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Ghoreishi et al. [8] realizaram uma análise experimental em seis lajes, sendo três delas
ensaiadas à temperatura ambiente e as demais submetidas à simulação de incêndio. Nesse
teste o forno é montado sobre a laje e o carregamento é aplicado diretamente no pilarete por
meio do macaco. Previamente à realização dos experimentos, os fornos foram testados e a
temperatura interna atingiu valores próximos a 600 ºC. No entanto, durante a realização dos
testes com força, a temperatura máxima atingida foi de 319 ºC. Os autores atribuem essa
diferença à absorção de calor pelo concreto. Devido aos baixos valores de temperatura
atingidos, o uso do resultado dessa análise para tirar conclusões sobre punção em lajes em
situação de incêndio deve ser empregado com cautela.

2. COMBINAÇÃO DA FORMULAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014 COM O MÉTODO DA


ISOTERMA DE 500 ºC

Neste trabalho o efeito do incêndio na capacidade resistente de lajes de concreto é estudado


por meio da combinação da formulação da norma ABNT NBR 6118:2014 [9] com uma tentativa
do uso do método da isoterma de 500 ºC, apresentado no Eurocode 2 Part 1-2 [10], para a
situação em estudo. As lajes são simuladas em programa de computador de análise térmica,
aplicando-se o incêndio-padrão em sua face inferior para a obtenção das isotermas. Nessa
situação são consideradas as perdas de resistência para o aço.

As isotermas de 500 ºC foram obtidas por meio de análise térmica utilizando o programa de
computador Super Tempcalc [11]. A
Figura 1 apresenta as distribuições de temperatura em uma das lajes analisadas.

Figura 1: Distribuição de temperaturas e isoterma de 500 ºC obtidas a patrir de análise térmica

Observa-se que a isoterma de 500 ºC está na região interna dos pilares e das lajes. Dessa
maneira, as equações referentes à tensão solicintante e à capacidade resistente à punção
fornecidas pela norma brasileira ABNT NBR 6118:2014 [9] são modificadas pelos valores de

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altura útil reduzida para a situação de incêndio, tendo os valores marcados com asterisco
alterados para a nova situação, conforme apresentado nas equações (1), (2), (3) e (4):

𝐹𝑆𝑑
τSd = (1)
𝑢* 𝑑*
(2)
𝜏𝑅𝑑2 = 0,27𝛼𝑣 𝑓𝑐𝑘 𝑢*𝑑*
(3)
τRd1 = 0,13(1 + √20/𝑑*)(100 𝜌* 𝑓𝑐𝑘 )1/3

𝑑 (𝐴𝑠𝑤 𝑓*𝑦𝑤𝑑 𝑠𝑒𝑛𝛼) (4)


τRd1 = 0,10 (1 + √20/𝑑*)(100 𝜌* 𝑓𝑐𝑘 )1/3 + 1,5
𝑠𝑟 𝑢* 𝑑*

Nas equações (1) a (4) 𝜏𝑆𝑑 é a tensão de cisalhamento solicitante de cálculo, 𝐹𝑆𝑑 é a força ou
reação de punção solicitante de cálculo, u é o perímetro de contorno, d é a altura útil, 𝑓𝑐𝑘 é a
resistência do concreto à compressão característica, 𝑢* deve ser tomado como o
correspondente a cada perímetro crítico fornecido em [9], 𝛼𝑣 = 1 − 𝑓𝑐𝑘 /250, 𝜌 é a taxa de
armadura de flexão, 𝐴𝑠𝑤 é a área de armadura de punção, 𝑓𝑦𝑤𝑑 é a resistência ao escoamento
característica da armadura de punção, 𝛼 é o ângulo de inclinação entre o eixo da armadura de
punção e o plano da laje e 𝑠𝑟 é o espaçamento da armadura de punção.

As equações (1), (2), (3) e (4) são semelhantes às equações do Eurocode 2 Part 1-1 [10], com
a diferença que no caso da norma europeia as constantes numéricas das expressões (3) e (4)
podem assumir valores distintos para cada país.

Na equação (4) a resistência ao escoamento do aço tem o valor alterado, de acordo com a
temperatura, segundo a ABNT NBR 15200:2000 [12]. Combinando-se a equação (1) com as
equações (2), (3) e (4), isto é, igualando-se os valores solicitantes aos valores resistentes e
utilizando o coeficiente de ponderação 𝛾𝑐 = 1,4, para transformar os valores de cálculo da
norma para valores médios, obtém-se a capacidade resistente da laje à punção, conforme
equação (5).

0,27 𝛼𝑣 𝑓𝑐 𝑢* 𝑑*
0,182 (1 + √20/𝑑*)(100 𝜌* 𝑓𝑐𝑘 )1/3 𝑢* 𝑑* (5)
𝑉𝑅 ≤
𝑑 (𝐴𝑠𝑤 𝑓𝑦 𝑠𝑒𝑛𝛼)
(100 𝜌* 𝑓𝑐𝑘 )1/3 + 1,5
{[0,14 (1 + √20/𝑑*) 𝑠𝑟 𝑢* 𝑑*
] 𝑢* 𝑑*

Na equação (5), o valor de 𝑢* deve ser tomado como o correspondente a cada perímetro crítico
em questão.

Para o cálculo da resistência ao escoamento do aço da armadura de punção, utiliza-se a


temperatura no ponto P (Figura 2), correspondente à área efetiva de tração, conforme anexo D
do Eurocode 2, parte 2, adaptando-se para as lajes.

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Figura 2: Área defetiva de tração [10]

3. TEORIA DA FISSURA CRÍTICA DE CISALHAMENTO

A teoria da fissura crítica de cisalhamento (TFCC) [5] é um método semi-empírico que


considera a capacidade resistente de lajes à punção como função de sua rotação. A abertura
da fissura crítica de cisalhamento é considerada proporcional ao produto ψ d, em que ψ é a
rotação da laje e d é a altura útil (Figura 3).

Figura 3: Relação entre fissura crítica de cisalhamento e rotação da laje [5]

A rotação ψ da laje é considerada constante na região fora da fissura crítica, ou seja, nessa
região a laje apresenta movimento de corpo rígido. Levando em conta que a rugosidade da
fissura crítica e sua capacidade de transferência de esforços de cisalhamento podem ser
consideradas dividindo o produto ψ d por 𝑑𝑔0 + 𝑑𝑔 , em que dg0 é a dimensão de um agregado
de referência, adotado como 16 mm e dg é a dimensão máxima do agregado graúdo, o critério
de ruptura proposto é o indicado na equação (6).

𝑉𝑅 3/4
= 𝜓𝑑 (6)
𝑢 𝑑 √𝑓𝑐𝑘 1+15
𝑑𝑔0 +𝑑𝑔

Na equação (6) VR é a força cortante de ruptura, u é o perímetro crítico e fck é a resistência à


compressão característica do concreto em megapascal.

Caso seja conhecida a curva que descreve a rotação da laje em função da força aplicada, a
capacidade resistente da laje à punção é o ponto de interseção entre essa curva e a obtida
pela equação (6), conforme a Figura 4. Essa curva pode ser obtida por meio da utilização de

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métodos numéricos não lineares, como o método dos elementos finitos. Entretanto, Muttoni [5]
propõe uma relação analítica que descreve essa curva para o caso de lajes lisas
axissimétricas, i.e., lajes circulares com pilares circulares, dada pela equação (7).

3/2
𝑟𝑠 𝑓𝑦 𝑉𝑠
𝜓 = 1,5 ( ) (7)
𝑑 𝐸𝑠 𝑉𝑓𝑙𝑒𝑥

Na equação (7) rs é o raio da laje circular, fy é a resistência ao escoamento da armadura, Es é


o módulo de elasticidade da armadura, 𝑉𝑠 é a força cortante solicitante e Vflex é a força cortante
associada à capacidade resistente da laje à flexão.

Figura 4: Capacidade resistente à punção, segundo a TFCC [5]

4. TEORIA DA FISSURA CRÍTICA DE CISALHAMENTO ADAPTADA PARA SITUAÇÃO DE


INCÊNDIO

Para a utilização da TFCC para situação de incêndio [4], o deslocamento vertical da laje em
relação a um contorno de referência (wtot ) deve ser separado em duas parcelas, uma
correspondente ao deslocamento devido ao carregamento (wload ) e outra parcela
correspondente ao deslocamento provocado pela variação térmica (wth ), conforme a equação
(8).

(8)
wtot = wload + wth

A parcela do deslocamento devido ao carregamento, wload , é afetada pela perda de rigidez


dos elementos submetidos a altas temperaturas. Já a parcela do deslocamento devido à
variação térmica é causada pela dilatação das camadas inferiores da laje e consequente
curvatura ao longo da espessura.

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Para o cálculo desses deslocamentos, aproxima-se o deslocamento wload como uma função
linear na região além da fissura, ou seja, nessa região a rotação ψ é considerada constante e o
deslocamento wth é considerado como uma função de segundo grau, conforme apresentado
na Figura 5.

Uma relação momento-curvatura para lajes submetidas a incêndio na face inferior é


apresentada na Figura 6. Observa-se que mesmo para momento nulo, há deformação da laje.
Esse diagrama é utilizado para o cálculo do deslocamento wth . Da mesma maneira, um
diagrama momento-curvatura para a força aplicada pode ser construído para o cálculo do
deslocamento wload .

Figura 5: Deslocamentos da laje em situação de incêndio: a) deslocamento devido ao


carregamento b) deslocamento devido à variação térmica [4]

Figura 6: Diagrama momento-curvatura para lajes submetidas a incêndio na face inferior [4]

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De posse do deslocamento total wtot é possível construir a curva força aplicada-rotação em


situação de incêndio e determinar a força de ruptura, obtida pela TFCC.

5. RESULTADOS

A formulação apresentada da capacidade resistente de lajes à punção em situação de incêndio


apresentada neste trabalho é comparada ao trabalho de Kordina [1]. Nesse trabalho, as lajes
ensaiadas possuíam 2,5 m x 2,5 m de lado e 0,15 m ou 0,20 m de espessura, e o pilarete
central possuía 0,25 m x 0,25 m de lado e 0,40 m de altura. A área carregada era circular com
diâmetro de 2,20 m. Taxas de armadura longitudinal de 0,564% e 1,54% foram empregadas
para as lajes com espessura de 0,20 m e uma taxa de 1,75% foi empregada para as lajes com
espessura de 0,15 m. Três amostras apresentavam armadura de cisalhamento. A resistência à
compressão variou de 33 a 51 MPa à época dos ensaios. Foi aplicado um carregamento inicial,
correspondente a 70% da capacidade resistente à punção na laje (calculada conforme o
Eurocode 2, versão de 1992) antes da simulação de incêndio. Em quatro ensaios, essa força
foi mantida constante durante a simulação de incêndio, por 92, 120 ou 180 minutos. A média
do ângulo do cone de ruptura foi igual a 32º.

A Tabela 1 apresenta um resumo dos resultados da análise realizada neste trabalho. Para
aplicação da equação (5) se utilizou a correlação 𝑓𝑐𝑘 = 𝑓𝑐 − 8 𝑀𝑃𝑎 [13]. Os ensaios 1, 2 e 3
foram analisados também por Bamonte et al. [4] por meio da TFCC adaptada para a situação
de incêndio.

Número do teste 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Lado do pilar (m) 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
fc (MPa) 45 45 51 51 33 33 53 53 43 43
fck (MPa) 37 37 43 43 25 25 45 45 35 35
Taxa de armadura
(%) 0,56 0,56 1,54 1,54 1,54 1,54 0,56 1,54 0,56 0,56
(temperatura ambiente)
Taxa de armadura
(%) 0,70 0,70 1,60 1,54 1,86 1,86 0,58 1,81 0,68 0,56
(incêndio)
Altura útil (temperatura
(m) 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17
ambiente)
Altura útil (incêndio) (m) 0,13 0,13 0,16 0,17 0,14 0,14 0,16 0,14 0,14 0,17
Força de ruptura V R [1] (kN) 492 475 550 810 386 380 500 568 410 460
Força de ruptura V R [4] (kN) 380 475 600 - - - - - - -
Força de ruptura V R
(kN) 386 473 761 953 505 505 552 643 403 635
(este trabalho)
𝑉𝑅 (E r )
0,79 1,00 1,38 1,18 1,31 1,33 1,10 1,13 0,98 1,38
𝑉 1

Tabela 1: Resumo da análise

Pela análise térmica, realizada com o programa Super TempCalc [1], observou-se uma
distância entre a face exposta ao fogo e a isoterma de 500 ºC igual a 3,3 cm, 2,9 cm, 0,6 cm e
0,6 cm para os testes com duração de 120 min, 90 min, 29 min e 27 min, respectivamente. A

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resistência ao escoamento da armadura de punção no teste 2 sofre redução de 22%, passando


de 50 kN/cm² à temperatura ambiente para 39 kN/cm² na situação de incêndio à temperatura
de 500ºC.

Os lados dos pilares, iguais a 25 cm, sofreram redução devido à desconsideração das regiões
com temperatura superior a 500 ºC. Usando o método da isoterma de 500 ºC, obteve-se
18,2 cm para a largura dos pilares, desprezando-se a parte com temperatura superior a
500 ºC para os testes 1 e 2, 24,4 cm para os testes 3 e 7 e 20 cm para os testes 5, 6 e 9.
Observa-se também redução da altura útil, igual a 17 cm, passando para 13 cm nos testes 1 e
2, 16 cm nos testes 3 e 7 e 14 cm nos testes 5, 6 e 9. Em decorrência dessas reduções houve
redução dos perímetros críticos. Com essas novas medidas, calculou-se a força cortante
resistente por meio da equação (5).

A desconsideração das regiões com temperatura superior a 500 ºC nas lajes resultou em
redução da altura útil e do perímetro crítico, o que tem um efeito de redução da capacidade
resistente à punção. No entanto, como a área de aço não se altera, há um aumento na taxa de
armadura, que tem efeito de aumentar a capacidade resistente, conforme se observa na
equação (5). Estudos mais aprofundados devem ser realizados para avaliar a confiabilidade
dessa relação.

As lajes dos testes 1 e 2 são muito semelhantes, com a diferença que no teste 2 utilizou-se
armadura de punção. A consideração desta armadura resultou em aumento de 23% e 25% na
capacidade resisitente à punção, pelo método da isoterma de 500 ºC e pela aplicação da
TFCC, respectivamente. No ensaio de Kordina [1], entretanto, a armadura se mostrou
ineficiente, pois houve um spalling que a expôs diretamente ao calor.

Observa-se que os resultados da capacidade resistente à punção obtidos por Bamonte et al. [4]
para o teste 3 e por este trabalho para os ensaios 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 10 apresentaram valores
contra a segurança quando comparados com os valores obtidos experimentalmente [1]. A
média entre os valores calculados pelo método da isoterma de 500 ºC e os obtidos
experimentalmente é igual a 1,16 e o coeficiente de variação é de 17,6%.

6. CONCLUSÕES

A punção em lajes de concreto pode ser uma ruptura frágil e, eventualmente, levar ao colapso
progressivo. Apesar da relevância desse tipo de ruína, o estudo da punção em lajes em
situação de incêndio é recente e com literatura escassa. Este trabalho realizou uma análise da
punção em lajes em situação de incêndio combinando o procedimento recomendado por norma
brasileira para a verificação da punção à temperatura ambiente, adaptado para a situação de
incêndio, e o método da isoterma de 500 ºC, recomendado pela norma europeia para
verificação de vigas, lajes e pilares em situação de incêndio.

O procedimento adotado neste trabalho não se mostrou adequado quando comparado a


resultados experimentais obtidos da literatura pesquisada. Dos oito casos estudados, os
valores obtidos neste trabalho em três casos se mostraram muito distantes dos valores

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

experimentais, com diferenças superiores a 38% contra a segurança. Por este estudo, o
método da isoterma de 500 ºC não poderia ser empregado para punção. Entretanto, mais
pesquisas devem ser realizadas para avaliar a possibilidade de se aperfeiçoar esse método,
mais bem adaptando as equações da ABNT NBR 6118:2014 para a situação de incêndio.

7. REFERÊNCIAS

[1] Kordina, K. – Flat slabs under fire: redistribution of internal forces and punching tests.
Institut für Baustoffe, Massivbau und Brandschutz, Technische Universität Braunschweig,
CEN/TC 250/SC 2/PT 1-2 Doc N35, 1-12p.
[2] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO) – Fire-resistance
tests – elements of building construction – Part 1.1: General requirements for fire
resistance testing. ISO 834, 1990.
[3] Salem, H., Issa, H., Gheith, H. & Farahat, A. – Punching shear strength of reinforced
concrete flat slabs subjected to fire on their tension sides, HBRC Journal, 2012, p.36-46.
[4] Bamonte, P., Ruiz, M. F. & Muttoni, A. – Punching shear strength of R/C slabs subject to
fire, 7th International Conference on Structures in Fire, Zurich, 2012, p. 689-698.
[5] Muttoni, A. – Punching shear strength of reinforced concrete slabs without transverse
reinforcement, ACI Structural Journal, vol. 105-S42, 2008, p. 440-450.
[6] Annerel, E., Lu, L. & Taerwe, L. – Punching shear tests on flat concrete slabs exposed to
fire, Fire Safety Journal, 2013, p.83-95.
[7] Annerel, E., Taerwe, L., Merci, B., Jansen, D., Bamonte, P. & Felicetti, R. – Thermo-
mechanical analysis of an underground car park structure exposed to fire, Fire Safety
Journal, 2013, p.96-106.
[8] Ghoreishi, M., Bagchi, A. & Sultan, M. A. – Punching shear behavior of concrete flat slabs
in elevated temperature and fire, Advances in Structural Engineering, 2015, p.659-674.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) – NBR6118 Projeto de
estruturas de concreto: procedimento, 2014.
[10] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION (CEN) – Eurocode 2: Design of
concrete structures – Part 1-2: General rules – Structural Fire Design, 2004.
[11] FIRE SAFETY DESIGN (FSD) – TCD 5.0 User’s Manual, 2007.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) – NBR15200 Projeto de
estruturas de concreto em situação de incêndio, 2012.
[13] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON (FIB) – Model Code for Concrete
Structures 2010, 2010.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

RESISTÊNCIA RESIDUAL DO CONCRETO EXECUTADO COM


DIFERENTES TIPOS DE AGREGADO GRAÚDO E EXPOSTO ÁS ALTAS
TEMPERATURAS

Marcela B. S. Armando L. Moreno


Luciano Passos
Sollero* Jr.
Doutorando
Mestranda Professor
Universidade Estadual
Universidade Estadual Universidade Estadual
de Campinas
de Campinas de Campinas
Campinas, Brasil
Campinas, Brasil Campinas, Brasil

Guilherme R. Larissa A. A. Stefano R.


Ricardo Kakeshita
Bonanni Toome Perrotti
Mestrando
Aluno de Graduação Aluno de Graduação Aluno de Graduação
Universidade
Universidade Universidade Universidade
Estadual de
Estadual de Estadual de Estadual de
Campinas
Campinas Campinas Campinas
Campinas, Brasil
Campinas, Brasil Campinas, Brasil Campinas, Brasil r

Palavras-chave: Concreto, Incêndio, Fogo, Altas Temperaturas, Resistência Mecânica.

1. INSTRUÇÕES GERAIS

A norma ABNT NBR 15200:2012 [1] expõe que o projeto das estruturas em situação de
incêndio, tal como a necessária verificação de estruturas incendiadas antes de sua reutilização,
baseia-se na correlação entre o comportamento dos materiais em temperatura ambiente e
após a exposição as altas temperaturas. O comportamento dos elementos, por sua vez, é
afetado pelas propriedades dos materiais que os formam [2].

Sob exposição às altas temperaturas, as propriedades mecânicas do concreto deterioram-se


em decorrência das transformações físico-químicas sofridas pela pasta de cimento e pelos
agregados, assim como pela incompatibilidade térmica entre a pasta e os agregados, sendo
afetadas também por fatores como a temperatura máxima alcançada, a taxa de aquecimento, a
aplicação de carga e a geometria das amostras [2, 3].

*
Autor correspondente – Departamento de Estruturas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP. Rua Saturnino de Brito, 135,
Barão Geraldo, 13083-852, Campinas - SP - Brasil.. e-mail: marcela.barros.souza@gmail.com

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Entre esses fatores, destaca-se a importância do tipo de agregado no comportamento do


concreto, considerando-se que ele representa até 80% do compósito, que sua deformação e
sua condutividade governam grande parte de tais propriedades do concreto, que a estabilidade
térmica do agregado pode alterar profundamente o comportamento dos elementos em situação
de incêndio e que ele restringe a retração da pasta de cimento durante a ação do calor [3].

Em consonância, Cánovas [4] aponta que quanto maior o coeficiente de dilatação térmica do
agregado, maior o dano sofrido pelo material quando exposto às altas temperaturas, Britez [5]
destaca que a alteração do tipo de agregado torna possível que dois concretos com resistência
mecânica similar possuam comportamento distinto frente ao fogo e as principais normas
referentes ao tema apresentam tabelas e gráficos que relacionam o decréscimo das
propriedades mecânicas do concreto em função da temperatura de acordo com o tipo de
agregado e a classe ou grupo de resistência mecânica.

É notável, no entanto, que os dados apresentados pelas normas apresentam lacunas em


relação aos tipos de agregado utilizados - limitando-se aos leves, silicosos e carbonáticos ou
calcários -, às temperaturas estudadas para o concreto de alta resistência e à caracterização
dos regimes de ensaio e das amostras utilizadas para a obtenção dos resultados.

Observa-se ainda que as pesquisas desenvolvidas acerca das propriedades residuais do


concreto em situação de incêndio apresentam resultados frequentemente incompatíveis e
conflitantes entre si, frutos principalmente da falta de aplicação de padrões no que se refere ao
método e a caracterização do concreto.

Dessa forma, objetivando-se contribuir para a supressão dessas lacunas, foi desenvolvido um
amplo programa experimental baseado na determinação dos coeficientes de redução em
função da elevação da temperatura das propriedades mecânicas de concreto de resistência
normal (NSC) e alta (HSC) executado com granito, calcário e basalto. Foram utilizadas as
recomendações RILEM TC 200-HTC e RILEM TC 129-MHT – um padrão internacionalmente
reconhecido que propicia uma melhor separação dos efeitos próprios do material dos efeitos
estruturais durante o aquecimento das amostras [3].

O presente trabalho aborda o desempenho quanto à resistência à compressão das amostras


de NSC aquecidas às temperaturas de 200ºC, 400ºC, 600ºC e 800ºC.

Os resultados foram analisados e comparados com referências normativas e com dados de


concreto de alta resistência confeccionados com os mesmos tipos de agregados.

2.2 Resistência à compressão do concreto exposto às altas temperaturas

De forma geral, ao se projetar e avaliar a segurança de estruturas de concreto submetidas a


ações térmicas acidentais, como incêndios, ou de projeto, como no caso de usinas
siderúrgicas, faz-se necessário conhecer o comportamento do material em temperaturas que
variam ao menos de 20ºC a 750ºC, podendo ser necessário até mesmo valores superiores a
essa faixa [6]. Entre as propriedades mecânicas do concreto, as quais são afetadas por essa

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ação térmica e regem o comportamento do material, a resistência à compressão do concreto


desperta particular preocupação, dado que é diretamente relacionada à sua capacidade
portante.

A redução da resistência à compressão do concreto em função da temperatura é progressiva e


variável em função de diversos fatores, em diferentes graus. A Tabela 1 relaciona alguns
desses fatores e sua influência [7;8]:

Tabela 1: Influência de diversos fatores na redução da resistência à compressão do concreto


Baixa influência Influência Influência Alta influência
significativa variável
Tipo de cimento Relação Relação Aplicação de tensão
empregado cimento/agregado água/cimento durante aquecimento

Resistência à Resistência à Taxa de Tipo e dimensão


compressão original compressão original aquecimento máxima do agregado
(NSC) (HSC) graúdo

Forma de aplicação de
tensão

Pode-se destacar sobre os fatores apresentados na Tabela 1, com base em Schneider [7], que:

(a) A redução da resistência à compressão do concreto exposto às altas temperaturas é


menor para misturas mais pobres, no que se refere à relação cimento/agregado;

(b) A resistência à compressão do material é superior quando o ensaio é realizado com as


amostras aquecidas sob carga, em comparação com aquelas aquecidas sem carga e
ensaiadas antes ou após o resfriamento;

(c) A resistência à compressão biaxial é superior à resistência uniaxial;

(d) O efeito da taxa de aquecimento depende das dimensões da amostra.

Como exposto, os fatores apresentados exercem diferentes graus de influência na redução da


resistência à compressão do concreto exposto às altas temperaturas, os quais muitas vezes
são ignorados, a ponto de mesmo os mais significativos, como tipo e dimensão do agregado
graúdo e aplicação de tensão durante o aquecimento, não serem mencionados nos resultados
apresentados em pesquisas e normas como a ABNT NBR 15200:2012 e a EN 1992-1-2.
Considerando-se tal condição, é natural que os resultados obtidos por diversos trabalhos se
apresentem conflitantes. A Figura 1, resultante de uma compilação elaborada por Phan [9] para
concreto com massa específica seca normal, ilustra essa afirmação com base nos trabalhos de
diversos autores:

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Figura 1: Fator de redução fc,θ/ fcj para concretos ensaiados em diferentes condições –
adaptado [9].

A Figura 2 apresenta os fatores de redução da resistência à compressão da norma ABNT NBR


15200:2012 [1], os mesmos expostos na norma EN 1992-1-2 [10] (condição stressed [11]), e os
resultantes das pesquisas de Abrams, utilizados na norma ACI 216-1 [12] (condição
unestressed residual):

EN 1992-1-2:2004/ABNT NBR
1,0
15200:2010 - Calcário
0,8
EN 1992-1-2:2004/ABNT NBR
0,6
fc,θ/fcj

15200:2010 - Silicoso

0,4
Abrams - Silicoso
0,2

0,0 Abrams - Carbonático


0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Temperatura ( C)
Figura 2: Fator de redução fc,θ/ fcj para concretos de massa específica/resistência normal

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foram moldadas amostras cilíndricas de concreto de 10 x 30 cm (diâmetro x altura) variando-


se o tipo de agregado graúdo entre granito, calcário e basalto.

O concreto foi dosado nas proporções 1:2:3 (cimento Portland CPII-E-32, areia média, brita 1),
com relação água/cimento de 0,49.

Os corpos de prova foram moldados e preparados conforme as recomendações RILEM TC


200-HTC e RILEM TC 129-MHT, que também ditaram as dimensões das amostras e o regime
de aquecimento do concreto. Após a cura, as amostras foram divididas em grupos de acordo
com o patamar de temperatura a ser alcançado durante os ensaios, além de um grupo de
controle.

Superado o prazo de 90 dias para estabilização da umidade, as amostras foram aquecidas


sem carga em fornos elétricos técnicos próprios para esse uso com taxa de aquecimento e
resfriamento de 1ºC/min, mantidas durante 1 h na temperatura máxima atingida – 200ºC,
400ºC, 600ºC ou 800ºC – para eliminação dos gradientes térmicos internos e mantidas seladas
em filme plástico até a determinação de suas propriedades mecânicas residuais, evitando-se
sua reidratação.

3. RESULTADOS

A resistência à compressão média das amostras ensaiadas é apresentada na Tabela 2, assim


como o fator de redução da redução da resistência à compressão do concreto (fc,θ/ fcj).

Tabela 2: Resistência à compressão das amostras de NSC - unestressed residual


Concreto por tipo de agregado graúdo
Temperatura

Granito Basalto Calcário


(°C)

Resistência à Resistência à Resistência à


compressão fc,θ/ fcj compressão fc,θ/ fcj compressão fc,θ/ fcj
(MPa) (MPa) (MPa)

20 29,4±0,5 1,00 37,5±2,3 1,00 34,1±1,4 1,00

200 30,2±1,5 1,03 32,0±1,1 0,85 25,5±4,4 0,75

400 19,7±1,4 0,67 23,5±1,6 0,63 19,5±1,2 0,57

600 10,1±1,2 0,34 11,3±1,0 0,30 8,1±0,9 0,24

800 5,6±0,5 0,19 6,9±1,0 0,18 4,8±0,3 0,14

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4. DISCUSSÃO

A análise dos resultados obtidos permite verificar que os corpos de prova de concreto com
agregado granítico apresentaram desempenho superior ao concreto confeccionado com
basalto, o qual, por sua vez, apresenta desempenho superior em relação ao concreto
confeccionado com calcário. Tal comportamento está de acordo com as observações de
Khoury, que afirma que a estabilidade térmica dos agregados aumenta na seguinte ordem, da
menor para a maior: calcário, basalto, granito e gabro [2].

Os fatores de redução da redução da resistência à compressão do concreto (fc,θ/ fcj) obtidos


são comparados na Figura 3 com os valores de Abrams compilados por Phan [9] para concreto
de resistência entre 22,8 e 44,8 MPa, com massa específica normal e ensaiado em condições
unestressed residual, e os valores comuns às normas ABNT NBR 15200:2012 [1] e EN 1992-1-
2:2004 [10].

EN 1992-1-2:2004/ABNT
NBR 15200:2010 - Calcário
1,0
EN 1992-1-2:2004/ABNT
NBR 15200:2010 - Silicoso
0,8
Abrams - Silicoso
fc,θ/fcj

0,6
Abrams - Carbonático
0,4
NSC - Basalto
0,2

NSC - Granito
0,0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
NSC - Calcário
Temperatura ( C)
Figura 3: Comparação entre fc,θ/ fcj obtidos, os valores apresentados por Abrams e pelas
normas ABNT NBR 15200:2012 e EN 1992-1-2:2004.

A variação da redução da resistência à compressão das amostras das diferentes curvas


acentua-se em função da elevação da temperatura, atingindo 11% aos 200ºC, 15% aos 300ºC,
17% aos 400ºC e 32% aos 600ºC.

Os resultados dos ensaios e os valores de Abrams indicam que a resistência à compressão


residual do NSC ensaiado em condição unestressed residual é inferior à obtida em condição
stressed, ou seja, a aplicação dos valores normativos da ABNT NBR 15200:2012 e da EN
1992-1-2:2004 para tal situação vai contra a segurança.

Ao se comparar os valores obtidos com os de Abrams, observa-se que o desempenho do


concreto confeccionado com granito foi levemente superior no presente estudo quando
comparado à curva de concreto com agregado silicoso. O comportamento do concreto

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confeccionado com basalto, por sua vez, foi muito semelhante à curva de Abrams para
concreto com agregado silicoso.

O concreto confeccionado com calcário (agregado carbonático) comportou-se de forma


semelhante em ambos os estudos até cerca de 400ºC. Aos 600ºC, as amostras ensaiadas
apresentaram resistência cerca de 50% menor do que as avaliadas por Abrams. Aos 800ºC, os
resultados tornaram-se novamente próximos.

Na Figura 4 são expostos os resultados obtidos para NSC nesse estudo em comparação com
os valores apresentados por Sollero e Moreno Júnior [13] para HSC (condição unestressed
residual, amostras de referência e ensaiadas após aquecimento às temperaturas de 200ºC,
400º e 600ºC conforme RILEM TC 200-HTC e RILEM TC 129-MHT).

1,0
HSC - Basalto [13]

0,8 HSC - Granito [13]

0,6 HSC - Calcário [13]


fc,θ/fcj

0,4 NSC - Basalto

NSC - Granito
0,2

NSC - Calcário
0,0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Temperatura ( C)
Figura 4: Comparação entre fc,θ/ fcj obtidos, os valores apresentados por SOLLERO e
MORENO JR. e pela norma EN 1992-1-2:2004.

A norma EN 1992-1-2:2004 prevê que a redução da resistência à compressão para HSC é


mais marcante do que para NSC a partir de 500ºC [10] e Schneider afirma que traços mais
pobres em cimento tendem a ter menor redução da resistência à compressão em função da
temperatura [7]. Como demonstra a Figura 4, observou-se o efeito contrário ao ensaiar
amostras em condição unestressed residual: a redução proporcional da resistência à
compressão foi maior para os corpos de prova de NSC do que para os e HSC, o que também
foi verificado em estudos compilados por Phan [9].

5. CONCLUSÕES

É um fato que o tipo de agregado graúdo, o tipo de concreto e a clara caracterização das
amostras e do regime de ensaio exercem influência crucial na determinação da resistência
residual do concreto exposto às altas temperaturas. Ainda assim, observam-se lacunas nas

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normas e produções acadêmicas quanto a esses fatores. Dessa forma, foi desenvolvido um
programa experimental com o propósito de colaborar com a supressão das referidas lacunas,
cujas principais conclusões foram:

 A queda da resistência à compressão em função da temperatura foi mais acentuada


nas amostras de NSC do que nas de HSC;

 As amostras confeccionadas com basalto apresentaram desempenho superior ao


calcário e inferior ao granito;

 O coeficiente de redução da resistência à compressão médio (fc,θ/ fcj) do NSC variou


de 0,75 a 1,03 aos 200ºC, de 0,57 a 0,67 aos 400ºC, de 0,24 a 0,34 aos 600ºC e de
0,14 a 0,19 aos 800ºC em função do tipo de agregado graúdo;

 De forma geral, o coeficiente fc,θ/ fcj das amostras confeccionadas com os três tipos de
agregado apresentou-se inferior ao indicado nas normas ABNT NBR 15200:2012 e
EN 1992-1-2:2004 para NSC até os 600ºC e próximo ao valor indicado para concreto
com agregado silicoso aos 800ºC, enquanto o coeficiente das amostras de HSC
utilizadas como referência na análise é igual ou superior ao determinado pela norma
EN 1992-1-2:2004 até os 600ºC;

 O concreto executado com basalto apresentou redução da resistência à compressão


de 4 a 17% mais acentuada do que o concreto confeccionado com granito e de 9 a
30% menos acentuada do que o concreto executado com calcário;

 Entende-se que, no âmbito da pesquisa desenvolvida, os coeficientes de redução da


resistência à compressão normativos atuam contra à segurança quando aplicados à
NSC em condição unestressed residual, ensaiado de forma a melhorar a separação
entre o comportamento do material e dos elementos estruturais ou amostras, e a favor
da segurança quando aplicados à HSC, nas mesmas condições de ensaio.

Os resultados obtidos demonstram as diferenças no comportamento do concreto exposto às


altas temperaturas variando-se sua resistência inicial e o tipo de agregado graúdo. Destaca-se
o desempenho do agregado basáltico, de grande aplicação nas obras e pesquisas nacionais,
mas que carece de embasamento normativo em relação as suas propriedades no projeto e na
verificação de estruturas de concreto em situação de incêndio.

O programa experimental desenvolvido evidenciou, portanto, a necessidade de se ampliar os


dados fornecidos pela normatização vigente aos projetistas e a importância da adoção de
padronização clara e internacionalmente aceita para a realização de estudos sobre as
propriedades mecânicas residuais do concreto exposto às altas temperaturas, visando o
desenvolvimento contínuo do conhecimento técnico possuído sobre o tema, que proporciona
maior segurança e economia à sociedade.

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6. AGRADECIMENTOS

Agradece-se ao apoio recebido na forma de orientação e doações de materiais e serviços das


Pedreiras Basalto, da Pedreira São Jerônimo, da Pedreira Lafarge, da MCBauchemie Brasil e
da Concremat Engenharia e Tecnologia S.A.

Agradece-se ainda à equipe do Laboratório de Estruturas da FEC/UNICAMP, ao CNPq pelas


bolsas de Iniciação Científica concedidas para a realização da pesquisa e à FAPESP.

7. REFERÊNCIAS

[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas - Projeto de Estruturas de Concreto em


Situação de Incêndio, Rio de Janeiro, 2012, 54 p.
[2] Khoury, A. G. - Effect of Fire on Concrete and Concrete Structures, Progress in Structural
Engineering and Materials, Vol. 2, 2000, p. 429-447.
[3] Fédération Internationale du Béton - Fire Design of Concrete Structures - Materials,
Structures and Modeling - State-Of-Art Report, Bulletin d'Information 38, Lauseanne,
2007, 105 p.
[4] Cánovas, M. F. - Patologia e Terapia do Concreto Armado, 1ª Edição, São Paulo, PINI,
1988, pág. 173 – 201.
[5] Britez, C. A. - Avaliação de pilares de concreto armado colorido de alta resistência,
submetidos a elevadas temperaturas, Tese de Doutorado, Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, 2011, 252 p.
[6] RILEM - Recommendation of RILEM TC 200-HTC: mechanical concrete properties at high
temperatures—modelling and applications. Part 1: Introduction—General presentation
Materials and Structures n. 40, 2007, p. 841–853.
[7] Schneider, U. - Concrete at High Temperatures -- A General Review, Fire Safety Journal,
13, 1988, p. 55 – 68.
[8] Hertz, K.D. - Concrete Strength for Fire Safety Design. Magazine of Concrete Research,
57, No. 8, October, 2005, p. 445–453. 2005.
[9] Phan, L.T. – Fire Performance of High Strength Concrete: A Report of the State-of-the-Art,
NISTIR 5934, National Institute of Standards and Technology, Gaitherburg, 1996, p. 118.
[10] European Committee for Standardization (CEN) - EN 1992-1-2:2004. Eurocode 2: Design
of Concrete Structures – Part 1.2: General Rules – Structural Fire Design, CEN, Bruxelas,
2004, p.99.
[11] Souza, A.A.A; Moreno Júnior, A. L. - Avaliação do tipo de agregado e da reidratação do
concreto submetido à elevadas temperaturas, IBRACON Structures and Materials Journal,
V. 3, N.4, 2010, p.477-493.
[12] American Concrete Institute - ACI 216.1-97.Standard Method for Determining Fire
Resistance of Concrete and Masonry Construction Assemblies, Reported by ACI/TMS
Committee 216, 1997.
[13] Sollero, M.B.S.; Moreno Júnior, A. L. - Post-Fire Residual Mechanical Properties of High
Strength Concrete (HSC) Made with Basalt Aggregate, Structures in Fire - Proceedings of
the Ninth International Conference, Princeton University, Ed. Maria E. Moreyra Garlock,
Venkatesh K. R. Kodur, DEStech Publications, 2016, p. 301-308.

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SOBRE A FLEXÃO COMPOSTA OBLÍQUA DE PILARES DE CONCRETO


ARMADO DE ALTA RESISTÊNCIA EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Jorge Saul Valdir Pignatta


Suaznabar Silva*
Doutorando Professor
Universidade de São Universidade de São
Paulo Paulo
São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil

Palavras-chave: Incêndio, Flexão Composta, Concreto de Alta Resistência.

1. INTRODUÇÃO

Para determinar a segurança dos pilares de concreto armado de alta resistencia em situação
de incêndio devem ser considerados varios aspectos, entre outros, o campo de temperaturas
na seção transversal e a não linearidade dos materiais. A consideração desses aspectos em
uma análise numerica aumenta o nivel de dificuldade. Uma alternativa é definir os valores limite
para as deformações específicas lineares, ou seja, dominios de deformação, e aplicar esses
domínios à geração de curvas envoltórias de ruptura, também chamadas curvas de interação
de esforços. Essa interação de esforços (N – Mx – My) é função entre outros, das leis
constitutivas dos materiais, da geometria da seção transversal do pilar, do critério de ruptura
escolhido (Estado – Limite Último) e da temperatura, que por sua vez é função do tempo.
Porém, os dominios à temperatura ambiente são diferentes dos usados em situação de
incêndio. Esses últimos devem variar de acordo com a temperatura.
Como alternativa, pode ser usado o método da Isoterma de 500 °C, que demanda menos
esforço computacional, devido a que não considera o pivô móvel [1] nos domínios de
deformação.

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. Av. Prof. Almeida Prado,
83, Cidade Universitária. 05508-070 - São Paulo - SP - Brasil. Tel.: +55 11 3091-5542. e-mail: valpigss@usp.br

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Neste artigo serão apresentadas curvas envoltórias correspondentes ao estado – limite último
de pilares curtos de concreto armado de alta resistência submetidos à flexão composta obliqua
em situação de incêndio. As análises térmicas foram realizadas no programa comercial DIANA
FEA [2]. Para realizar as análises mecânicas, os autores usaram um código próprio
desenvolvido no programa MATLAB que realiza uma discretização da seção transversal dos
pilares e o cálculo numérico das integrais de equilíbrio. As curvas foram representadas
graficamente com o código usando o método da isoterma de 500 °C modificado e considerando
concreto de alta resistência. Serão feitas algumas considerações relacionadas às normas
brasileiras e europeias.

2. OBJETIVO

O objetivo deste artigo é plicar o método da isoterma de 500 °C levando em conta as hipótesis
desse método para pilares de concreto de alta resistência, usando um código computacional de
autoría própria, desenvolvido em MATLAB. Esse código calcula, por meio de métodos
numéricos, os esforços, deformações lineares específicas e diagramas de interação, para
pilares curtos de concreto armado de alta resistência em situação de incêndio.

3. ESTADO DA ARTE E CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES SOBRE OS PILARES DE


CONCRETO DE ALTA RESISTÊNCIA

As normas brasileiras ABNT 6118:2014 [3], ABNT NBR 15200:2012 [4] e ABNT NBR
8953:2015 [5] não são explicitas quanto à denominação do concreto de alta resistência, porém
elas recomendam um tratamento diferenciado nas propriedades dos concretos do grupo II de
resistência característica maior do que 50 MPa e menor ou igual do que 90 Mpa, que neste
artigo são chamados de concretos de alta resistência. Os concretos de menor resistência são
chamados concretos de resistência normal. Para os concretos de alta resistência, a norma
brasileira ABNT NBR 15200:2012 [4] indica que devem ser seguidas as recomendações da
norma europeia EN 1992-1-2:2004 [6] que por sua vez realiza algumas recomendações com
base na norma EN 1992-1-1:2004 [7].

Em estruturas de concreto de alta resistência há maior tendência de ocorrer fenômeno do


lascamento ou “spalling” do que em estruturas de concreto de resistência normal [8], [9]. Esse
fenômeno é crítico e pode ser devastador se não for mitigado. Durante o incêndio, a água do
concreto se evapora, então o volume de água e de vapor dentro do concreto aumenta. O
concreto de alta resistência tem pouca porosidade, ou seja, é pouco permeável, isso dificulta a
saída do vapor. Quando a taxa de geração de vapor aumenta, mas a taxa de saída dele não,
são geradas pressões que tracionam o concreto. A pequena resistência à tração do concreto,
que a 300 °C chega a cerca de 8 MPa [10], não suporta essas pressões e ocorre o “spalling”.

Se esse fenômeno não for controlado, os pilares de concreto armado de alta resistência
perdem muita capacidade resistente devido à diminuição da seção transversal durante o
incêndio. Em uma comparação do desempenho de pilares com concreto de alta resistência e
de resistência normal, por meio de ensaios com as mesmas condições, foi verificado que os
pilares de alta resistência, devido ao “spalling”, tiveram menor capacidade resistente [10].

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Para melhorar o desempenho Kodur e Phan [11] identificaram fatores relacionados ao


“spalling” para impedi-lo e os classificaram como: características do incêndio, características do
material e características estruturais. Ao nível do material, eles recomendam o uso de fibras de
polipropileno. Ao nível estrutural, eles recomendam diminuir o espaçamento da armadura
transversal, espaçamento de estribos equivalente a 75% do necessário para pilares de
concreto de resistência normal, e usar estribos com ganchos de extremidade dobrados a 135°
ao invés de 90°. Adicionalmente, Doherty et al [12] recomendam o uso de fibras de aço.
Durante o incêndio, as fibras de polipropileno se fundem deixando pequenos canais que
permitem a saída de vapor aliviando as tensões associadas a ele. Adicionalmente, as fibras de
aço melhoram a resistência à tração do concreto. Também, Park et al [13] indicam que
aumentar o cobrimento da armadura nos pilares melhora o desempenho deles.

Por outro lado, o EN 1992-1-2:2004 [6] permite o uso, entre outros, do método da isoterma de
500 °C, modificando a isoterma de acordo com o tipo de concreto, para calcular a capacidade
resistente de seções de concreto armado de alta resistência submetidas à flexão composta,
desde que seja controlado o “spalling”. Recomendações sobre esse controle são encontradas
em [6] e [8]. Neste artigo, assume-se que tais recomendações foram atendidas para minimizar
o fenômeno do “spalling”.

Foi realizada uma pesquisa abrangente procurando resultados numéricos ou experimentais de


pesquisas similares. Não foram encontrados resultados de pesquisas específicas sobre o
assunto aqui tratado. Os trabalhos mais próximos são os que foram citados anteriormente.

4. METODO DA ISOTERMA DE 500 °C EM CONCRETOS DE ALTA RESISTENCIA

O método da isoterma de 500 °C é um método simplificado criado pelo pesquisador sueco Dr.
Yngve Anderberg [14]. Em 1978, Anderberg propôs o método da isoterma de 550 °C, mais
tarde o método foi modificado considerando-se como limite a isoterma de 500 °C.

Considerando uma seção transversal de concreto armado em situação de incêndio, com o


campo de temperaturas conhecido, o método da isoterma de 500 °C consiste em assumir que
o concreto com temperaturas maiores do que 500 °C é desconsiderado. Dessa maneira,
considera-se unicamente o concreto com temperaturas menores do que 500 °C, ou seja, a
região da seção transversal interior à isoterma de 500 °C. O concreto da região interior é
admitido com as propriedades originais à temperatura ambiente, inclusive os limites de
deformação específica. As armaduras são consideradas com as propriedades do aço à
temperatura atual (em situação de incêndio).

Na Figura 1, é apresentado um exemplo de seção transversal com a isoterma de 500 °C


marcada no campo de temperaturas e desconsiderando o concreto com temperatura maior do
que 500 °C.

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Figura 1. Seção transversal com o campo de temperaturas, mostrando a isoterma de 500 °C.

Para concretos de alta resistência o valor da isoterma deve ser modificado, de acordo com as
recomendações do EN 1992-1-2:2004 [6]. Para concretos de resistência característica de 55
MPa a 60 MPa deve ser modificado por 460 °C e para os de 70 MPa a 80 MPa deve ser
modificado por 400 °C.

5. MATERIAIS

No código desenvolvido foram empregadas as recomendações do EN 1992-1-1:2004 [7] e a


ABNT NBR 6118:2014 [3] para os diagramas tensão-deformação à temperatura ambiente e as
recomendações do EN 1992-1-2:2004 [6] e a ABNT NBR 15200:2012 [4] para os diagramas
tensão-deformação em situação de incêndio.
Na Figura 2 é apresentado o diagrama tensão-deformação para concreto à temperatura
ambiente convencional, conforme Equações 1.

Figura 2. Diagrama tensão-deformação do concreto comprimido à temperatura ambiente.

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(1)

Nas Equações 1:

: Tensão do concreto.
: Deformação do concreto.
: Resistencia característica do concreto.
: Coeficiente de redução da resistência do concreto sob carregamento de longa duração.

Para o concreto de alta resistência, nas Equações 1:

Na Figura 3 é apresentado o diagrama tensão-deformação para o aço em situação de incêndio,


conforme Equações 2.

Figura 3. Diagrama tensão-deformação do aço em situação de incêndio.

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(2)

Nas Equações 2:

: Tensão do aço à temperatura Ɵ.


: Deformação linear específica do aço à temperatura Ɵ.

6. EQUILÍBRIO NA SEÇÃO TRANSVERSAL

Para desenvolvimento do código computacional foram adotadas as seguintes hipóteses:

 Na seção transversal, são apenas consideradas as tensões normais, sendo


desconsideradas as tensões tangenciais e as deformações decorrentes delas.
 A seção permanece plana após a deformação térmica mais a mecânica.
 Existe aderência entre as armaduras e o concreto adjacente a elas, mesmo se a
armadura estiver fora da isoterma modificada.
 Não é considerado qualquer efeito de não linearidade geométrica relacionada à esbeltez
do pilar, a análise é feita unicamente na seção transversal.

Sob as hipóteses anteriores e para a região da seção de concreto interna à isoterma


modificada, considera-se que a seção transversal da Figura 4 está em equilíbrio, se é satisfeito
o Sistema de Equações 3.

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Figura 4. Seção transversal de pilar de concreto armado.

Na Figura 4:

CG: Centro geométrico da seção transversal.

(3)

No sistema de Equações 3 têm-se:

Em que:

: Força normal solicitante.


: Momento solicitante em torno do eixo x.
: Momento solicitante em torno do eixo y.

No sistema de Equações 3, a parcela da esquerda representa as solicitações em situação de


incêndio e a da direita representa as tensões e forças resistentes (Figura 5).
Todos os esforços solicitantes e tensões atuantes citados neste artigo são para a situação de
incêndio. Por simplicidade, resolveu-se aliviar a notação, não incluindo o subíndice "θ". Os
valores dessas solicitações devem ser as determinadas, conforme ABNT NBR 15200:2012 [4].
Ressalta-se que neste artigo são calculadas as curvas de estado-limite ultimo para pilares
curtos de concreto armado em situação de incêndio, usando o método da isoterma de 500 °C
modificado, como foi explicado anteriormente, as tensões e forças resistentes do concreto são
as correspondentes à temperatura ambiente, com os coeficientes de ponderação unitários, e as
do aço são as correspondentes à temperatura atual (em situação de incêndio).

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Figura 5. Equilíbrio na seção transversal para flexão composta reta, à temperatura ambiente.

Na Figura 5:

c: Deformação específica linear do concreto.


s: Deformação específica linear do aço.
fc: Tensão do concreto.
fs: Tensão do aço.
N: Força normal solicitante.
M: Momento fletor solicitante.

Para resolver o sistema de Equações 3, é realizada uma discretização da seção transversal.


Dessa maneira é possível resolver as integrais de maneira bastante precisa, inclusive quando
se tem seções transversais com geometria pouco comum.
A seguir é a presentada a formulação de equilíbrio para a seção discretizada, que é análoga à
formulação já apresentada. Nessa formulação o subíndice “e” indica que está se referindo a um
elemento genérico “e”.
Realizada a discretização, um elemento da seção discretizada pode ser considerado em
equilíbrio se é satisfeito o sistema de Equações 4.

Figura 6. Seção transversal discretizada.

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(4)

No sistema de Equações 4:

: Força normal solicitante.


: Momento solicitante em torno do eixo x.
: Momento solicitante em torno do eixo y.
: Tensão no elemento de concreto i.
: Tensão no elemento de aço i.
: Deformação linear especifica no elemento de concreto i.
: Deformação linear especifica no elemento de aço i.
: Área do elemento de concreto i.
: Área do elemento de aço i.
: Coordenada x do centro geométrico do elemento de concreto i.
: Coordenada y do centro geométrico do elemento de concreto i.
: Coordenada x do centro geométrico do elemento de aço i.
: Coordenada y do centro geométrico do elemento de aço i.

Note-se que a distribuição de tensões é considerada constante em cada elemento, portanto, é


necessária uma discretização adequada para obter uma boa distribuição de tensões na seção
transversal do pilar.

7. RESULTADOS

Foram realizadas algumas análises no código desenvolvido em MATLAB para estruturas de


concreto armado de alta resistência em situação de incêndio considerando o método da
isoterma de 500 °C modificado.
Foram consideradas as seções transversais apresentadas nas Figuras 7.a e 7.b com as
características indicadas na Tabela 1.

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Figura 7.a. ST1: 30 cm x 30 cm 4 ϕ 16 mm. Figura 7.b. ST2: 50 cm x 50 cm 12 ϕ 16 mm.

Tabela 1 Características das seções transversais analisadas.


Concreto Armadura
Denominação Dimensões (cm)
fck (MPa) fy = 500 MPa φ(mm)
ST1_60 30 x 30 60 4 φ 16
ST1_70 30 x 30 70 4 φ 16
ST1_80 30 x 30 80 4 φ 16
ST2_60 50 x 50 60 12 φ 16
ST2_70 50 x 50 70 12 φ 16
ST2_80 50 x 50 80 12 φ 16

Foram realizadas as análises térmicas no programa DIANA FEA para 30 min, 60 min, 90 min e
120 min de exposição à curva-padrão ISO 834 [15], considerando exposição ao fogo nas
quatro faces. Os campos de temperatura obtidos com o programa DIANA FEA são
apresentados nas Figuras 8.a a 8.d e Figuras 9.a a 9.d.

Figura 8.a. Campo de temperaturas da ST1 Figura 8.b. Campo de temperaturas da ST1
para 30 min. para 60 min.

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Figura 8.c. Campo de temperaturas da ST1 Figura 8.d. Campo de temperaturas da ST1
para 90 min. para 120 min.

Figura 9.a. Campo de temperaturas da ST2 Figura 9.b. Campo de temperaturas da ST2
para 30 min. para 60 min.

Figura 9.c. Campo de temperaturas da ST2 Figura 9.d. Campo de temperaturas da ST2
para 90 min. para 120 min.

Posteriormente, esses resultados foram usados nas análises mecânicas no código


desenvolvido em MATLAB. Com base nos campos de temperatura, o código desconsidera o
concreto com temperaturas maiores do que a isoterma modificada, considerando apenas o
concreto no interior dela com as propriedades à temperatura ambiente. As armaduras,
independentemente da posição, foram consideradas à sua temperatura atual (em situação de
incêndio).
Da análise mecânica, obtiveram-se as curvas de interação de esforços para Flexão Composta
Reta (N – M) e Flexão Composta Obliqua (N – Mx – My).
A seguir, nas Figuras 10.a a 10.c e 11.a a 11.c são apresentadas as curvas de interação N - M
das seções transversais em estudo (Tabela 1) para os campos de temperatura mencionados
(Figuras 8.a a 8.d e 9.a a 9.d) considerando o método da isoterma de 500 °C modificado.

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Figura 10.a. Curvas N x Mx da ST1_60 Figura 11.a. Curvas N x Mx da ST2_60

Figura 10.b. Curvas N x Mx da ST1_70 Figura 11.b. Curvas N x Mx da ST2_70

Figura 10.c. Curvas N x Mx da ST1_80 Figura 11.c. Curvas N x Mx da ST2_80

Observa-se que quanto maior o tempo de exposição ao fogo, menor é a capacidade resistente
do pilar. Independentemente da resistência característica do concreto, as seções ST2
apresentam melhor desempenho que as seções ST1, isso decorre de que as seções ST2 são
mais robustas, o que dificulta o incremento da temperatura no seu interior ao longo do tempo.
A seguir, nas Figuras 12.a, 12.b, 13.a e 13.b são apresentadas as curvas de interação de
momentos Mx - My das seções transversais ST1_60 e ST1_70 para os campos de temperatura
de 30, 60, 90 e 120 min de exposição ao fogo ISO 834 [15], para as forças normais de
compressão de 1.000 kN e 2.000 kN.

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Figura 12.a. Curvas de interação Mx x My da Figura 13.a. Curvas de interação Mx x My da


ST1_60 para N=1.000 kN ST1_70 para N=1.000 kN

Figura 12.b. Curvas de interação Mx x My da Figura 13.b. Curvas de interação Mx x My da


ST1_60 para N=2.000 kN ST1_70 para N=2.000 kN

A seguir, nas Figuras 14.a, 14.b, 15.a e 15.b são apresentadas as curvas de interação de
momentos Mx - My das seções transversais ST2_60 e ST2_70 para os campos de temperatura
de 30, 60, 90 e 120 min de exposição ao fogo ISO 834 [15], para as forças normais de
compressão de 5.000 kN e 8.000 kN.

Figura 14.a. Curvas de interação Mx x My da Figura 15.a. Curvas de interação Mx x My da


ST2_60 para N=5.000 kN ST2_70 para N=5.000 kN

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Figura 14.b. Curvas de interação Mx x My da Figura 15.b. Curvas de interação Mx x My da


ST2_60 para N=8.000 kN ST2_70 para N=8.000 kN

Observa-se a diminuição da capacidade resistente do pilar com o aumento da temperatura e


com a força normal. A capacidade resistente é muito similar para os dois concretos (60 MPa e
70 MPa), isso é devido à penalização, por meio da diminuição da isoterma, ao aumento da
resistência do concreto.

8. CONCLUSÕES

Para realizar modelagens numéricas de pilares curtos de concreto armado em situação de


incêndio, o uso do método da isoterma de 500 °C modificado mostrou-se uma estratégia
adequada.
Observou-se que o aumento da resistência do concreto aumenta a capacidade resistente do
pilar, mas em situação de incêndio esse ganho de capacidade resistente não é tão importante
quanto é à temperatura ambiente, isso se deve a que, mesmo seguindo todas as
recomendações para minimizar o efeito do “spalling”, as normas penalizam os concretos de alta
resistência reduzindo ainda mais as graves consequências desse fenômeno sobre a
capacidade resistente dos pilares. Porém, ficou demonstrado que é possível dimensionar
pilares de concreto de alta resistência em situação de incêndio. Em contrapartida, observou-se
que aumentando as dimensões da seção transversal do pilar obtêm-se melhores resultados.
O código computacional desenvolvido para este artigo foi capaz de gerar curvas de interação
usando o método da isoterma de 500 °C modificado, combinado com um método que resolve
as integrais e sistemas de equações por meio da discretização da seção transversal.
Como esperado, os resultados comprovaram que quanto maior o tempo de exposição ao fogo
maior é a temperatura na seção transversal, portanto menor a capacidade resistente do pilar e
que quanto maior a força de compressão no pilar, menor é o tempo em que atinge o estado-
limite último.
Observou-se que o aumento da resistência do concreto aumenta a capacidade resistente do
pilar, mas em situação de incêndio esse ganho de capacidade resistente não é tão importante
quanto é à temperatura ambiente, isso se deve a que, mesmo seguindo todas as
recomendações para minimizar o efeito do “spalling”, as normas penalizam os concretos de alta
resistência reduzindo ainda mais as graves consequências desse fenômeno sobre a
capacidade resistente dos pilares. Porém, ficou demonstrado que é possível dimensionar
pilares de concreto de alta resistência em situação de incêndio. Em contrapartida, como foi
observado nas seções ST2, aumentando as dimensões da seção transversal do pilar obtém-se
melhores resultados.

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Finalmente, salienta-se que a matemática usada para estudar os fenômenos estudados


envolve sistemas de equações com integrais de equações não lineares. A resolução desses
sistemas de equações foi possível usando métodos aproximados com discretização da seção
transversal, considerados no meio acadêmico como métodos avançados.

9. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior, ao CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e à
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

10. REFERÊNCIAS

[1] SUAZNABAR J. S.; SILVA V. P.; PIERIN I. Estudo dos domínios de deformação em
seções transversais de concreto armado em situação de incêndio. Natal, Out. 2014.
[2] TNO DIANA BV – DIANA Finite Element Analysis. User’s Manual. Delft, 2016.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas
de concreto: Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15200: Projeto de estruturas
de concreto em situação de incêndio. Rio de Janeiro, 2012.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8953: Concreto para fins
estruturais - Classificação pela massa específica, por grupos de resistência e
consistência. Rio de Janeiro, 2015.
[6] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARIZATION. EN 1992-1-2. Eurocode 2: Design of
concrete structures – part 1.2 General rules – structural fire design. Brussels: CEN, 2004.
[7] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARIZATION. EN 1992-1-1. Eurocode 2: Design of
concrete structures – part 1.2 General rules and rules for buildings. Brussels: CEN, 2004.
[8] SILVA V. P. Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio Conforme ABNT
NBR 15200:2012. São Paulo, Blucher, 2012.
[9] Mehta p. k., MONTEIRO P. J. M. Concrete. Microstructure, Properties and Materials.
Berkeley, McGraw-Hill, 2006.
[10] KODUR V. K. R.; McGrath r. Fire Endurance of High Strength Concrete Columns. Fire
Technology v. 39, p. 73-87, Kluwer Academic Publishers 2003.
[11] KODUR V. K. R.; Phan l. Critical factors governing the fire performance of high strength
concrete systems. Fire Safety Journal v. 42, p. 482-488, Elsevier Jun. 2007.
[12] DOHERTY P.; ALI F.; NADJAI, A. Explosive spalling of concrete columns with steel and
polypropylene fibres subjected to severe fire. 6th International conference on structures in
fire. Michigan, 2010.
[13] PARK J. E.; SHIN Y. S.; KIM H. S. Various Factors Influencing on Thermal Behaviors of
High Strength Concrete (HSC) Columns under Fire. Procedia Engineering. v. 14, p. 427-
433, Elsevier, 2011.
[14] PURKISS J. A. Fire Safety Engineering. Oxford, Elsevier, 2007.
[15] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARIZATION ISSO 834-1:1999(E). Fire-
resistance tests – Elements of building construction – Part 1: General requirements.
Ginebra, 1999.

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Segurança Contra Incêndio
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ACUIDADE E REPRESENTATIVIDADE NA SIMULAÇÃO


COMPUTACIONAL DE INCÊNDIO

Leonardo Cunha* Edna Moura Pinto†


Arquiteto Professora
Universidade Federal Universidade Federal
Rural do Semi-árido do Rio Grande do
Mossoró/RN, Brasil. Norte
Natal/RN, Brasil.

Palavras-chave: Segurança contra incêndio em edificações - SCIE; Simulação computacional


de incêndio; Fire Dynamics Simulator - FDS.

1. RESUMO

A pesquisa da qual o presente artigo se origina abordou o desempenho de uma forma seletiva
de compartimentação horizontal, com vistas à promoção da segurança contra incêndio em
edificações - SCIE. Para tanto, utilizou-se as medidas de uma sala de aula de médio porte para
a elaboração de um modelo computacional, sobre o qual foram aplicadas diferentes
configurações de aberturas para a exaustão da fumaça em uma situação de incêndio, mas com
o confinamento do calor e das chamas no ambiente de origem. Durante o desenvolvimento da
pesquisa, caracterizada por um aprimoramento na operacionalização do software adotado,
percebeu-se resultados substancialmente distintos para diferentes níveis de aperfeiçoamento
do modelo e das condições de contorno. Os resultados revelaram que os dados obtidos nos
testes preliminares, realizados a partir de modelos e de condições de contorno simplificados,
apresentaram-se bastante animadores. Enquanto que os resultados obtidos com os modelos e
as condições de contorno aperfeiçoadas apresentavam apenas uma discreta melhoria na
exaustão da fumaça proporcionada pela compartimentação horizontal seletiva.

*
Leonardo Jorge Brasil de Freitas Cunha – Diretoria de Projetos e Obras, Superintendência de Infraestrutura, Universidade Federal Rural do Semiárido. Av.
Francisco Mota, 572, Costa e Silva. 59.625-900 - Mossoró - RN - Brasil. Tel.: +55 84 3317 8282. e-mail: leonardo@ufersa.edu.br

Edna Moura Pinto – Departamento de Arquitetura, Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Universitário Lagoa
Nova. 50.740-530. Caixa Postal 1524 - Natal - RN - Brasil. Tel/ Fax.: +55 84 3215 3776. e-mail: emourapinto@gmail.com

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2. INTRODUÇÃO

O incêndio é um dos mais graves incidentes que pode ocorrer em uma edificação, uma vez que
além dos danos materiais, também está fortemente associado à perda de vidas humanas [1]. A
segurança contra incêndio em edificações - SCIE é uma área de estudo relativamente nova no
Brasil. Na arquitetura, a SCIE pode ser associada ao conjunto de soluções projetuais voltadas
para a proteção dos ocupantes. Uma medida de proteção passiva determinante na SCIE, e de
total controle por parte do arquiteto, é a compartimentação da edificação em ‘células’ capazes
de confinar a ação do incêndio no ambiente de origem. Por restringir as chamas e seus
subprodutos no interior do ambiente de origem, a compartimentação contribui efetivamente
tanto para a evacuação segura dos ocupantes do restante da edificação, quanto nas operações
de combate ao fogo [2].

3 OBJETIVO

O objetivo da pesquisa que originou esse artigo foi sugerir e avaliar o potencial de uma forma
alternativa de compartimentação, que restringisse chamas e calor no ambiente de origem,
porém que fosse capaz de proporcionar a exaustão da fumaça. Para tanto, utilizou-se a
simulação computacional para estimar o desempenho de diferentes configurações de aberturas
dispostas na parede e no teto de um ambiente representativo de uma sala de aula.
Incidentalmente, durante as simulações dos testes preliminares, verificou-se que os resultados
variaram significativamente. Contudo, à medida que se aperfeiçoou o modelo e as condições
de contorno das simulações observou-se melhorias apenas sutis no tempo de escape e altura
da camada visível.

4. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS

A SCIE é ainda um tema embrionário nos grupos de pesquisa em arquitetura no Brasil. Os


primeiros estudos datam da década de 1970 e são esporadicamente retomados a partir de
estímulos resultantes de incidentes de grande visibilidade. O uso da simulação computacional
na área de SCIE é ainda mais recente, assim como a mudança de foco na formulação das
recomendações projetuais, que paulatinamente deixam de ser empíricas e prescritivas para ser
baseadas no desempenho. A soma desses fatores dificulta a consolidação de procedimentos
bem definidos para os estudos de SCIE, como pôde ser verificado no referencial bibliográfico
pesquisado durante a pesquisa.

4.1 Simulação computacional de incêndio

A simulação computacional de incêndio é uma vertente da Dinâmica Computacional de Fluidos


(CFD, na sigla em inglês), caracterizada por um fluxo fortemente induzido pela elevada
diferença de temperatura. O surgimento dos programas de CFD é atribuído à indústria
aeroespacial nas décadas de 1960 e 1970. Atualmente são utilizados em diversas áreas, como

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na indústria automobilística, naval, de manufaturados; astrofísica, meteorologia, oceanografia,


etc. A engenharia e arquitetura são campos mais recentes de aplicação dessas ferramentas.
A simulação computacional deve ser vista como uma ferramenta complementar aos ensaios
experimentais, pois permitem o estudo parametrizado a partir dos dados obtidos em um evento
pregresso de referência. O software adotado nas simulações foi o Fire Dynamics Simulator -
FDS v 6.1.2 e seu respectivo visualizador de resultados, o Smokeview - SMV, ambos
desenvolvido pelo National Institute of Standards and Technology - NIST. Optou-se pelo FDS-
SMV em função das indicações positivas na literatura sobre o tema, que destacam sua
vocação específica de modelagem de incêndios diante dos softwares generalistas de dinâmica
computacional de fluidos.

4.2 Modelo

O modelo, denominado por ‘caso-base’, representa uma sala de aula para 65 alunos e consiste
em um prisma de base retangular, medindo 7,10 x 11,90 x 3,80 m [largura x cumprimento x
altura] (Figura 1). Alocou-se as seguintes esquadrias: duas portas, medindo 0,90 x 2,10 m
[largura x altura] e com bandeirola de vidro fixo de 0,40 m de altura, nas extremidades da
parede voltada para o corredor, e quatros janelas, medindo 2,50 x 1,00 x 1,10 m [largura x
altura x peitoril], dispostas na parede voltada para o meio externo. O forro é de placas
termoacústicas removíveis, apoiadas sobre armação de alumínio. As paredes são de alvenaria
convencional, com tijolos cerâmicos de oito furos, rebocadas e pintadas em ambas às faces.
Piso e cobertura são de laje de concreto pré-moldado, tipo volterrana.

Figura 1: Representação da sala de aula que embasou a elaboração do caso-base.

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4.3 Variações do Caso Base

Durante a execução dos testes preliminares, denominou-se como caso-base – ‘CB’ o modelo
representativo da sala, com as janelas fechadas, a partir do qual foram considerados
dezessete casos hipotéticos de subdivisão do ambiente original, considerando as janelas
fechadas ou abertas. A primeira variação, doravante denominado ‘DIV’ representa a situação
mais comum, onde o caso-base é subdividido em duas salas por uma divisória posicionada
transversalmente no centro da sala. Esses dois casos serviram de referência comparativa para
a avaliação do desempenho da compartimentação horizontal seletiva, cujo objetivo é promover
a exaustão da fumaça, porém confinando chamas e calor no ambiente de origem do incêndio.
A compartimentação horizontal seletiva resulta da disposição de duas divisórias paralelas, com
aberturas posicionadas próximas ao forro, voltadas alternadamente para as salas oriundas da
subdivisão do ambiente original. O vão entre as divisórias paralelas é dividido ao meio, para
evitar que a fumaça gerada na sala incendiada invada a sala oposta. Por fim, foram concebidas
aberturas nas lajes para exaustão da fumaça (Figura 2).

Figura 2: Representação esquemática da compartimentação seletiva aplicada sobre o caso-


base

A altura da abertura na divisória (representado pela letra H na Figura 2) e a largura do vão na


laje (representado pela letra L na Figura 2) foram dimensionadas com base em duas medidas:
0,50 m e 1,00 m. A largura da abertura na divisória e o comprimento do vão na laje e de 3,00 m

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em todos os casos. Dessa maneira, os oito casos de compartimentação seletiva correspondem


às combinações possíveis entre as quatro alturas da abertura na divisória e as quatro larguras
do vão na laje. Em todos os casos, foram simuladas duas situações, considerando as
esquadrias do ambiente incendiado fechadas ou abertas (essa última identificada pela
terminação ‘_open’).

4.4 Condições de contorno e Malha

A simulação no FDS, assim como em outros programas de CFD, consiste em um ambiente


virtual, denominado domínio‡, composto pelos elementos participantes do fenômeno físico de
interesse. O domínio é subdividido em células justapostas, dentro das quais são calculadas as
equações da mecânica dos fluidos repetidas vezes. O conjunto destas células recebe o nome
de malha.
A caracterização das condições de contorno envolve: (a) a descrição das fases do incêndio:
ignição, crescimento, desenvolvimento e extinção; (b) o comportamento das chamas e de seus
subprodutos e (c) a iteração desses com as variáveis ambientais e com os sistemas de
proteção. Trata-se de um ponto crítico na simulação de incêndio, dada a grande quantidade de
variáveis envolvidas. É preciso, portanto, selecionar um conjunto reduzido e manipulável de
variáveis, dentre as possibilidades existentes. A ISO 16733:2006 recomenda que a
metodologia empregada na seleção das condições de contorno seja adaptada aos objetivos do
projeto de segurança contra incêndio: evacuação dos ocupantes, preservação do patrimônio ou
preservação da construção. Na tabela 1 resumem-se as configurações empregadas nas
simulações.

Tabela 1 – Configuração dos testes preliminares.


Composto
Domínio Qnt. gerador SOOT_YIELD Tempo
Caso HRR* (kW)
X;Y;Z (m) células de ** (s)
fumaça.
Poliuretano
Testes 12,2; 15,0;
259.200 500 padrão do 50% 60
preliminares 7,0
FDS
BS Poliuretano
Simulação 12,2; 8,4;
512.400 3974/2001 padrão do 5% 300
final 5,0
[3] FDS
(*) HRR = Taxa de liberação de calor/ (**) Composto gerador de fumaça.

‡ O domínio é normalmente um prisma de base retangular com dimensão suficiente para comportar o objeto de estudo e, se desejável, o seu
entorno imediato. Casos específicos podem suscitar domínios bidimensionais ou cilíndricos.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Testes preliminares

O teste sensibilidade consistiu em simulações prévias para verificar o comportamento do


software diante das características do modelo e das condições de contorno adotadas (Figura
3). Os resultados obtidos nesse teste serviram de guia para as simulações definitivas, pois é a
partir dele que são realizados os ajustes das variáveis descritas no arquivo de entrada de
dados, em busca da melhor relação: representatividade dos resultados x tempo de
processamento.
Ciente da possível imprecisão contida nos valores absolutos resultante das simulações, as
análises a seguir serão baseadas, principalmente, na comparação dos resultados, tomando os
casos ‘CB’ e ‘DIV’ como referência. A primeira comparação corresponde aos efeitos resultantes
da instalação de uma divisória simples, particionando o ambiente original em duas salas
menores.

Figura 3: Vista geral do modelo CB simplificado, utilizado nos testes preliminares.

Os benefícios proporcionados pela compartimentação seletiva nos modelos simplificados foram


o aumento da camada livre de fumaça, nos casos com porta e janela abertas, e o incremento
no tempo necessário para a camada de fumaça ocupar todo o ambiente, nos casos com as
esquadrias fechadas. A comparação utilizou os casos ‘DIV_open’ e ‘DIV’ como referência,
respectivamente. No caso simulados com as janelas e portas abertas, o incremento na altura
da camada visível variou de 17% à 50%, de acordo com a combinação de abertura existentes
na divisória e na laje (Figura 4). Constatou-se, também, que o aumento da abertura na laje
pode se tornar inócuo quando a capacidade de exaustão da abertura na divisória estiver
saturada.

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Figura 4: Gráfico do incremento na altura estimada da camada livre de fumaça, em relação ao


caso com divisória simples, obtidos com os modelos simplificados.

Os resultados mostraram que a compartimentação seletiva, da forma como foi proposta, não foi
capaz de promover sozinha a exaustão completa da fumaça gerada, uma vez que em todos os
casos nos quais as portas e janelas estavam fechadas, a camada de fumaça conseguiu atingir
o nível do piso. Entretanto, observa-se um incremento significativo no tempo necessário para a
fumaça ocupar todo o ambiente. Tomando o caso ‘DIV’ como referência, nota-se que esse
intervalo é até quatro vezes maior com a presença da compartimentação horizontal seletiva
(Figura 5).

Figura 5: Gráfico do incremento no tempo necessário para a fumaça ocupar todo o


compartimento, em relação ao caso com divisória simples, obtidos com os modelos
simplificados.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
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5.2 Simulação final

Instigado pelos bons resultados obtidos com os modelos simplificados, optou-se por
aperfeiçoá-los, objetivando aproximá-los do cenário real. Além de refinamentos na geometria
dos elementos previamente modelados, foram inseridos outros itens do mobiliário, tais como:
armário, datashow, suporte do datashow, computador sobre a mesa do professor, quadro-
negro afixado à parede e cortinas persianas em frente às janelas (Figura 6). Também foram
introduzidos aperfeiçoamentos no modelo, tais como:
a. O comando “BURN_AWAY” foi ativado para todos os materiais combustíveis, permitindo
que eles iniciassem o processo de pirólise ao atingir a temperatura de ignição;
b. Inclusão do comando “RAMP_Q” para gerar um crescimento paulatino da chama.
Adotaram-se os valores referentes ao “Crescimento médio de incêndio”, obtidos a partir
da equação, retirada da norma britânica BS 3974/2001 [3];
c. Inclusão do comando “DEVC_ID” que permite impor uma ação a determinado objeto em
função do comportamento de alguma variável. No caso específico, determinou-se que as
superfícies de vidro desaparecessem ao atingir 500 ºC [4], simulando o efeito de quebra;
d. Correção do valor atribuído ao parâmetro “SOOT_YELD”, que determina a fração do
composto convertida em fumaça durante a combustão, para 5% [5];
e. Temperatura inicial ajustada para 25 ºC, por meio do parâmetro “&MISC TMPA=25”.

Figura 6: Vista do caso-base aperfeiçoado – ‘CBplus’

Atentando para os casos simulados com as janelas abertas, percebeu-se apenas um discreto
incremento, entre 9% e 18%, na altura da camada visível naqueles providos de
compartimentação seletiva em relação ao caso de referência ‘DIVplus_open’ (Figura 7).
Contudo, considerando a margem de erro envolvida, pode-se afirmar que, além de insensível
às diferentes combinações de abertura na divisória e na laje, a exaustão promovida pelas
janelas torna desnecessária a utilização da compartimentação horizontal seletiva.

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Figura 7: Gráfico do incremento na altura da camada livre de fumaça, em relação ao caso com
divisória simples, obtidos com o modelo aperfeiçoado

Analisando apenas os resultados dos casos simulados com as janelas fechadas, percebe-se
que a compartimentação seletiva foi capaz de promover benefícios para os ocupantes durante
a evacuação, pois tornou a redução da camada livre de fumaça menos intensa, além de
estabilizá-la acima de 1,00 m de altura. Percebeu-se, contudo, pouca diferença entre os
resultados obtidos com diferentes combinações de aberturas na divisória e na laje, indicando a
inexistência de um coeficiente de proporcionalidade entre os vãos disponíveis para a exaustão
e o acréscimo na altura da camada livre de fumaça (Figura 8).

Figura 8: Gráfico do incremento no tempo necessário para a fumaça ocupar todo o


compartimento, em relação ao caso com divisória simples, obtidos com o modelo aperfeiçoado

5.3 Conclusão

Os resultados obtidos nos testes preliminares, baseado em modelos simplificados, foram


bastante animadores. A compartimentação seletiva revelava-se capaz de retardar o

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espessamento da camada de fumaça de modo a quadruplicar o tempo de escape. Assim,


diante de resultados tão promissores, acreditou-se que o aperfeiçoamento do modelo implicaria
em resultados ainda melhores do ponto de vista da SCIE. Porém, não foi o que ocorreu. O
aperfeiçoamento do modelo, que incluiu: crescimento paulatino da chama e correção da
quantidade de fumaça gerada, bem como melhorias na geometria dos objetos e nos
parâmetros térmicos das superfícies; implicou em melhorias apenas discretas de acordo com
os critérios de análise empregados. Constatou-se, portanto, a importância do senso crítico do
pesquisador diante de dados obtidos com o uso de simuladores de incêndio e a indissociável
necessidade de validação dos resultados por meio de ensaios laboratoriais.
A respeito da validade dos resultados, é pertinente esclarecer que pesa contra qualquer
simulação computacional a intrínseca relação entre os dados obtidos e as condições de
contorno adotadas pelo operador. Logo, a representatividade dos resultados carece, portanto,
da validação por meio de ensaios experimentais.

6. REFERÊNCIAS

[1] Rosa, A.F.F.N. – Segurança contra incêndio em discotecas. Dissertação de Mestrado,


Universidade do Porto, 2010.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR14432: Exigências de
resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações – Procedimentos, Rio de
Janeiro, 2001.
[3] BS 3974/2001: Application of fire safety engineering principles to the design of buildings –
Code of practice In: Seito, A.I. (coord.), et al.. A segurança contra incêndio no Brasil, São
Paulo, 2008. 496p. ISBN: 978-85-61295-00-4.
[4] GIACOMINI, Eliana. Material o vidro. Dissertação (Mestrado em Construções de Edifícios)
- Secção de Construções Civis, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Cidade
do Porto/ Portugal. 2004.
[5] ROBBINS, A.P.; WADE, C. A.. Soot Yield Values for Modeling Purposes: Residential
Occupancies, BRANZ Study Report 185. BRANZ Ltd, Porirua, Nova Zelândia, 2007.

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NAS


EDIFICAÇÕES ESCOLARES DE PERNAMBUCO

Jesce John da S.
Borges*
Analista Ministerial
Ministério Público de
Pernambuco
Recife, Brasil

Palavras-chave: SCI. Escola. Incêndio.

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das normas de segurança contra incêndios no Brasil está relacionado às


grandes tragédias provocadas pelo fogo, notadamente pelo impressionante número de vítimas,
associado ao relevante prejuízo causado às edificações. Depois das tragédias sofridas pelo
estado de São Paulo, com os incêndios dos edifícios Andraus, ocorrido em 1972, e Joelma, em
1974, eventos emblemáticos que representam um divisor de águas no plano da segurança
contra incêndio do Brasil, iniciou-se nos estados brasileiros um esforço no sentido do
estabelecimento de uma legislação específica no campo da segurança contra incêndio [1].

Infelizmente a legislação sobre Segurança Contra Incêndio no Brasil é movida à tragédia, pois
somente após grandes incêndios que causaram inúmeras perdas humanas e materiais é que o
assunto passa a ser discutido para que sejam tomadas às devidas providências. A Tabela 01
apresenta os principais incêndios ocorridos no Brasil.

*
Autor correspondente – Engenheiro Civil. Especialista em Engenharia de Instalações Prediais. Especialista em Engenharia de Segurança Contra Incêndio e
Pânico. MBA - Especialista em Gestão do Ministério Público. Mestre em Geotecnia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Doutorando em

Geotecnia na Universidade Federal de Pernambuco. Analista Ministerial do Ministério Público de Pernambuco. Membro da comissão de licitação da

Secretaria de Administração de Pernambuco. Rua São Miguel, 176, Afogados. 50.850-275 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +55 81 99935-7622. e-mail:

jescejohn@hotmail.com

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Tabela 1: Principais incêndios ocorridos no Brasil.


Ano Edificação Estado Consequências
1961 Gran Circus Norte-Americano RJ Mais de 500 mortos
1972 Edifício Andraus SP 16 mortos e 330 feridos
1974 Edifício Joelma SP Mais de 190 mortos
1976 Lojas Renner RS 21 mortos e mais de 50 feridos
1981 Edifício Grande Avenida SP 17 mortos e 53 feridos
1984 Vazamento em Cubatão SP 93 mortos
1986 Edifício Andorinha RJ 21 mortos e mais de 50 feridos
2000 Creche Uruguaiana RS 12 criandas mortas
2001 Show no Canecão Mineiro MG 07 mortos e mais de 300 feridos
2013 Boate Kiss RS 242 mortos e 680 feridos

Segundo o Instituto Sprinkler Brasil [2], o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de
mortes por incêndio. O cruzamento de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) com uma
pesquisa realizada pela Geneva Association é a base para a constatação. Trata-se de um dado
alarmante que esta relacionado com a fragilidade dos sistemas de proteção contra incêndio no
País e com a falta de políticas públicas para a sua prevenção, além de falhas na
regulamentação e na manutenção de equipamentos destinados ao combate ao fogo.

Há diversos históricos de incêndios em escolas no Brasil e no mundo. Além disso, a maioria


das escolas, em especial as públicas, está com suas construções bastante deterioradas e na
falta de itens básicos de segurança como extintores com carga dentro da validade, iluminação
de emergência, sinalização e saídas de emergência [3].

Neste contexto, o objetivo primordial deste trabalho é verificar em que situação se encontram
as condições de segurança contra incêndio das escolas estaduais e municipais do Estado de
Pernambuco. Para isso, foram verificados os dispositivos básicos de proteção contra incêndio
exigidos pelo Código de Segurança Contra Incêndio do Estado de Pernambuco - COSCIP PE.

Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico, a pesquisa


documental, realizada a partir do acesso aos pareceres técnicos das unidades educacionais do
Estado elaborados pelo Ministério Público de Pernambuco - MPPE.

2. DESENVOLVIMENTO

Nas décadas de 70 e 80 do século passado houve grandes incêndios em edifícios altos e lojas
de departamentos no Brasil, como edifícios Andraus - 31 andares (1972), Joelma - 25 andares
(1974), Conjunto Nacional (1978), Grande Avenida - 19 andares (1981) e torres da CESP - 21
e 25 andares (1987), em São Paulo; nas Lojas Americanas (1973) e Lojas Renner (1976), em
Porto Alegre, RS; no edifício Andorinha (1986), no Rio de Janeiro; no Edifício Visconde de
Itaboraí, onde funcionavam o Banco do Brasil e a Cacex, e no edifício do Ministério da
Habitação e Bem-Estar Social, ambos em 1988, em Brasília. Esses eventos demarcaram

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

sobremaneira um novo período com a preocupação com a segurança contra incêndios nas
edificações [4].

Recentemente o incêndio na Boate Kiss em Santa Maria/RS em 2013 causou grande clamor
social e a legislação sobre segurança contra incêndio no Brasil voltou a ser debatida.
Verificando a deficiência e a desatualização das normas de SCI nos estados brasileiros, a
criação de uma lei federal passou a ser uma solução viável para os problemas. As normas de
SCI que estão em vigor são leis estaduais, ou seja, cada estado elabora sua própria legislação
com base em normas locais ou estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) ou mesmo pela Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho.

A regulamentação da legislação de SCI de Pernambuco se deu através do Decreto nº. 19.644


de 13 de Março de 1997 que passou a ser denominado como Código de segurança contra
incêndio e pânico para o Estado de Pernambuco – COSCIP [5].

Para se determinar as medidas de proteção necessárias para uma edificação, ela deve ser
classificada segundo sua ocupação ou uso, altura da edificação, área construída, carga de
incêndio, capacidade de lotação e riscos especiais [4]. As edificações analisadas neste
trabalho são unidades escolares municipais e estaduais de Pernambuco.

Para Mendes [3], as escolas são habitações coletivas com características construtivas
específicas para crianças e adolescentes que, devido as suas limitações físicas, de experiência
e de conhecimento, estão mais vulneráveis e dependentes do auxílio de um adulto em
situações de emergência.

Considerando as estatísticas sobre ocorrências de incêndio no Brasil, temos como destaque as


estatísticas publicadas pelo Instituto Sprinklers Brasil - ISB que realizam um monitoramento
diário de notícias de ocorrências de incêndio em estabelecimentos no Brasil. Em 2015 foram
contabilizadas 1349 ocorrências de incêndio, uma média de 112 incêndios por mês.

Com base na estatística do ISB, os incêndios em escolas e universidades representam 9,19%


do total de incêndios no Brasil, Figura 1.

Figura 1: Ocorrências de incêndios estruturais noticiados em 2015 – por ocupação.


Fonte: Adaptado do Instituto Sprinklers Brasil.

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Segundo dados do Corpo de Bombeiros de Pernambuco, em 2015 ocorreu um aumento de


26,6% no número de incêndios no estado quando comparado aos dados de 2014, sendo
registrados 5.720 e 4.517 incêndios, respectivamente. Já o Instituto Sprinklers Brasil - ISB
constatou em suas pesquisas estatísticas que houve um aumento de 25,0% neste mesmo
período. A diminuição das chuvas e a baixa umidade do ar são apontadas como as causas
principais para o aumento das ocorrências de incêndio no estado.

Ainda segundo o levantamento do Instituto Sprinklers Brasil - ISB, desta vez considerando
ocorrências de incêndio por estado, Pernambuco ocupa a sétima posição na classificação geral
com 85 ocorrências de incêndio em 2015, Figura 2.

Figura 2: Número de incêndios estruturais noticiados na Internet em 2015 – por Estado.


Fonte: Instituto Sprinklers Brasil.

Percebe-se que Pernambuco apresenta números de incêndios estruturais que chegam


próximos aos do estado do Rio de Janeiro, sendo que este apresenta mais que o dobro de
edificações. Isto, somando a uma legislação que completou 19 anos de vigência sem
atualizações, deixa Pernambuco em situação preocupante, apesar de ser comum dentre os
estados a omissão legislativa às atualizações.

Serão apresentados os principais trechos do COSCIP referentes às edificações escolares que


são necessários para realizar a análise das escolares do Estado de Pernambuco. Também
serão apresentadas algumas definições e ilustrações com base nas instruções técnicas do
estado de São Paulo cuja legislação é utilizada como referência no Brasil.

As unidades educacionais são definidas no Artº 18 do COSCIP: As edificações Escolares são


aquelas destinadas ao ensino pedagógico, a formação, aperfeiçoamento, habilitação e
atualização de profissionais, a educação ou formação escolar em todos os graus, e, ainda,
aquelas destinadas a formação e modelação muscular e corporal [6].

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O Art. 7º do COSCIP determina a classificação das edificações em função da sua ocupação.


Sendo assim, apresenta 17 tipos de ocupações nomeadas de A a Q. As unidades
escolares são classificadas como Tipo K - Escolar. Já o Art.º 5 trata da classificação do risco:
Os riscos serão classificados pelas respectivas classes de ocupação, em conformidade com a
Tarifa de seguro-Incêndio do Brasil do IRB, para fins de dimensionamento dos sistemas de
segurança contra incêndio e pânico de que trata o presente código [5].

A classificação do risco de incêndio se dá por uma metodologia baseada no critério utilizado


pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), de acordo com uma tabela denominada Tarifa
Seguro Incêndio do Brasil (TSIB). Esta tabela apresenta uma lista de ocupações em que as
edificações recebem uma classe de ocupação que varia de 01 a 13, em ordem crescente de
risco de incêndio. De modo geral, os Corpos de Bombeiros estabeleceram três níveis de risco
de incêndio: Risco de classe "A" - classe de ocupação variando de 01 a 02; Risco de classe
"B" - classe de ocupação variando de 03 a 06 e Risco de classe "C" - classe de ocupação
variando de 07 a 13. As unidades escolares são classificadas como risco de classe A.

As escadas de emergência permitem que a população atinja os pavimentos inferiores, e


consequentemente as áreas de descarga de uma edificação, de forma a preservar sua
integridade física (Figura 3). No que se refere às rampas, as Edificações Escolares deverão
garantir que estas possuam largura mínima de 1,50 m e declividade máxima de 10% conforme
determina o Art.º 184 do COSCIP. Quanto ao sistema de iluminação de emergência (Figura 4),
será obrigatório sempre que a lotação prevista seja superior a 100 (cem) pessoas ou de área
construída superior a 1.500 m², assim como também será exigido para as escadas Tipos II, III e
IV.

Figura 3: Exemplo de escada com largura Figura 4: Iluminação de emergência: luz de


apropriada para saída das pessoas. aclaramento.
Fonte: São Paulo [6]. Fonte: São Paulo [6].

A saída de emergência pode ser definida como um caminho contínuo, devidamente protegido e
sinalizado, proporcionado por portas, corredores, “halls”, escadas e rampas, que deverá ser
percorrido pelo usuário em caso de emergência, de qualquer ponto da edificação até atingir a
via pública ou espaço aberto, com garantia de integridade física, Figura 5.

Para salvaguardar a vida humana em caso de incêndio é necessário que as edificações sejam
dotadas de meios adequados de fuga, que permitam aos ocupantes se deslocarem com
segurança para um local livre da ação do fogo, calor e fumaça, a partir de qualquer ponto da
edificação, independentemente do local de origem do incêndio [6].

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Figura 5: Exemplo de corredor desobstruído e sinalizado e sinalização de saída de emergência


apropriada. Fonte: São Paulo [6].

Segundo o Art. 181 do COSCIP, o número de saídas de emergência será dimensionado pela
seguinte fórmula:

P
N (1)
C(d)
onde:

N é o número de Unidades de Passagem, P é número de pessoas do pavimento de maior


população e C(d) é a capacidade do respectivo dispositivo.

A sinalização de emergência utilizada para informar e guiar os ocupantes do


edifício relativamente a questões associadas aos incêndios assume dois objetivos: reduzir a
probabilidade de ocorrência de incêndio e indicar as ações apropriadas em caso de incêndio
[6].

De acordo com o COSCIP [5], o sistema de sinalização pode ser feito através de sinal luminoso
com fonte alimentadora própria ou fosforescente (Figura 6). De maneira geral, os sistemas
devem conter a palavra SAÍDA e uma seta indicando o sentido do caminhamento.

Os extintores de incêndio são equipamentos de segurança que possuem a finalidade de


extinguir ou controlar princípios de incêndios, Figura 7. Segundo Pernambuco [5], a instalação
de extintores de incêndios é obrigatória em todas edificações (exceto Residenciais Privativas
Unifamiliares), independentemente da existência de qualquer outro sistema de segurança.
Como as unidades são classificadas como risco de classe A, a área máxima de proteção de
uma Unidade Extintora será de 500,0 m², devendo os extintores serem dispostos de maneira
tal que possam ser alcançados de qualquer ponto da área protegida sem que haja necessidade
de ser percorrida pelo operador uma distância superior a 20 m.

Figura 6: Sinalização com efeito Figura 7: Extintores de incêndio.


fotoluminescente. Fonte: São Paulo [6].
Fonte: São Paulo [7].

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

O sistema de proteção por hidrantes ou mangotinhos são sistemas hidráulicos acionados sob
comando, capazes de aplicar jatos de água sobre o foco de incêndio, promovendo o
resfriamento [1], Figura 8. Segundo o Art.º 105 do COSCIP, a exigência do sistema para
edificações escolares são: altura superior a 14,0 m e superior a 4 pavimentos.

O sistema de proteção por chuveiros automáticos – sprinklers (Figura 9), é o conjunto formado
por canalizações, válvulas, reservatórios d’água, chaves de fluxo, bicos dos chuveiros, e,
quando for o caso, sistema de bombas, destinado à proteção contra incêndio e pânico. O
quadro de exigência do Art.º 132 não apresenta expressamente o Tipo de ocupação K -
Escolar, porém pode-se considerar a condição de exigência para acima de 6,0 m de altura ou
acima de 2 pavimentos.

Figura 8: Sistema de hidrantes. Figura 9: Sistema de hidrantes.


Fonte: São Paulo [6]. Fonte: São Paulo [6].

O sistema de detecção e alarme de incêndio é um conjunto de elementos básicos: central de


alarme e detecção, detectores, acionadores manuais, sinalizadores, módulos de entrada e
saída (Figura 10).

Figura 10: Sistema de detecção e alarme de incêndio: detector de incêndio, acionador manual,
sirene e central de alarme. Fonte: São Paulo [6].

A central de Gás Liquefeito de Petróleo - GLP somente será exigida em escolas com área
construída superior a 750 m², conforme o Art.º 184. Quanto aos dispositivos de descargas
atmosféricas descritos no Art.º 247, serão exigidos para edificações com altura superior a 20,0
m ou com área de coberta superior a 1.500,0 m².

De maneira geral, para o perfil das edificações escolares estaduais e municipais que foram
analisadas, as exigências de proteção contra incêndio são: extintores de incêndio, sinalização,
saída de emergência e iluminação de emergência.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Foram analisadas 120 unidades escolares no período de 2013 a 2016, sendo 27 estaduais
e 93 municipais. O resultado apresenta uma situação bastante preocupante para a segurança
contra incêndio nas escolas do Estado de Pernambuco, pois os itens básicos de segurança
não são atendidos em sua grande maioria, Tabela 2.

Constatou-se que 70,83% das unidades escolares não apresentam nenhum tipo de medida de
proteção contra incêndio. Os 29,17% restantes apresentaram apenas extintores de incêndio e
somente 05 escolas apresentaram iluminação de emergência. Porém, grande parte desses
equipamentos estava com deficiências (extintores com carga fora de validade,
despressurizados, obstruídos ou instalados de forma irregular e iluminação de emergência sem
funcionamento).

Além disso, todas as edificações analisadas não possuíam Atestado de Regularidade - AR


emitido pelo Corpo de Bombeiros de Pernambuco - CBMPE, ou seja, todas as unidades
escolares estão funcionando de forma irregular oferecendo riscos aos alunos e crianças que
frequentam diariamente o estabelecimento educacional.

Foi constatada a ausência tanto de sinalizações quanto de saída de emergência em todas as


edificações escolares. Os corredores das escolas encontram-se sem nenhuma sinalização de
saída e não foi identificado em nenhuma unidade educacional um local destinado à saída de
emergência com sua devida sinalização e com portas abrindo no sentido da rota de fuga. Pelo
contrário, muitas escolas apresentavam portões fechados com cadeados e sem funcionários
próximos ao portão para permitir a abertura em caso de uma emergência.

Tabela 2: Quadro resumo sobre as condições de segurança contra incêndio nas edificações
escolares do Estado de Pernambuco.
Exigência Extintores de Sinalização Iluminação de Saída de
Incêndio Emergência emergência
Atende 35* 0 5** 0
Não
85 120 115 120
atende
* Grande parte dos extintores constatados estavam com prazo de recarga vencido, despressurizados,
obstruídos ou instalados de forma irregular (altura superior a 1,60 m).
** Apenas 02 em funcionamento.

Históricos de princípios de incêndios também foram verificados em cinco escolas analisadas,


Figura 11. Estes fatos poderiam ter desencadeado um incêndio de maiores proporções caso
estivesse próximo de materiais combustíveis comuns em escolas como papéis, plásticos,
madeiras e outros. Somando-se a falta de equipamentos de proteção contra incêndio com as
péssimas instalações elétricas das escolas, gera-se um situação de risco propicia à ocorrência
de incêndios nessas edificações, sendo motivo para reflexão e ações por parte do governo.

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Figura 11: Princípios de incêndios ocorridos em escolas de Pernambuco.

Além disso, várias escolas apresentam centrais de Gás Liquefeito de Petróleo - GLP que não
atendem as exigências da NBR 13523/2008. São considerados riscos especiais e devem ter
proteção contra incêndio específica de acordo com capacidade de armazenamento da central.
Além de não atender às exigências da norma quanto ao projeto e à execução, as escolas não
apresentam unidades extintoras para suas centrais, ficando totalmente desprotegidas para o
caso de acidentes.

Ignorar a legislação vigente, não implantar os sistemas básicos de proteção contra incêndio e
acreditar que nunca ocorrerá um sinistro continuam sendo atitudes que exemplificam a
displicência no tratamento do tema de segurança contra incêndio no Brasil. A situação das
edificações escolares de Pernambuco comprova esse fato pois, apesar de estarem presentes
todos os indícios de vulnerabilidade, as pessoas preferem contar com a sorte ou talvez sejam
ignorantes quanto ao tema de modo que não consigam identificar os riscos a que estão
expostos.

Melhorar as estruturas físicas das escolas, providenciar os dispositivos básicos de segurança


contra incêndios, projetar novas escolas atendendo às normas de segurança (proteção passiva
e ativa) e realizar uma fiscalização rigorosa pelo Corpo de Bombeiros com apoio de outros
órgãos são providências que proporcionariam o desenvolvimento da segurança contra incêndio
nas edificações escolares do Estado de Pernambuco.

Cabe lembrar que o pânico ocasionado pela ocorrência de emergências é motivo para
tumultuar a saída da edificação, resultando em pessoas pisoteadas, feridas e até mortas.
Estas não são consequência direta da situação de emergência, mas sim do tumulto e
pânico gerados. Esse cenário pode ter gravidade potencializada se houver a presença de
crianças e adolescentes.

3. CONCLUSÕES

Conclui-se que a segurança contra incêndio nas edificações escolares do Estado de


Pernambuco é extremamente deficiente. Nenhuma unidade escolar atende por completo todas
as exigências do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado de Pernambuco -
COSCIP, o que justifica a ausência de Atestado de Regularidade emitido pelo Corpo de
Bombeiros.

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Verificou-se que 70,83% das unidades escolares analisadas não apresentam nenhum
dispositivo de proteção contra incêndio, ou seja, professores, alunos e funcionários estão
totalmente desprotegidos frente a uma situação de incêndio e pânico. Os 29,17% restantes
apresentaram apenas extintores de incêndio e somente 05 escolas apresentaram iluminação
de emergência, porém grande parte destes equipamentos estavam com deficiências (extintores
com carga fora de validade, despressurizados, obstruídos ou instalados de forma irregular e
iluminação de emergência sem funcionamento).

Nenhuma das edificações escolares analisadas apresentou sinalizações indicando as rotas de


fuga ou locais destinados à saída de emergência com sua devida identificação e com portas
abrindo no sentido da rota de fuga. Além disso, muitas escolas apresentaram portões fechados
com cadeados e sem funcionários próximos ao portão para permitir a abertura em caso de uma
emergência. Cabe ressaltar que, em uma situação de pânico, as sinalizações e as saídas de
emergência são dispositivos essenciais para permitir a evacuação rápida e segura das
pessoas, cuja eficácia seria potencializada por um plano de abandono escolar.

Este fato representa um dado alarmante que demonstra a fragilidade da segurança contra
incêndio em ambientes escolares. Lembrando que o Brasil ocupa a terceira posição no ranking
mundial de mortes por incêndios segundo o Instituto Sprinkler Brasil. Portanto, espera-se que
esse dado futuramente não reforce ou justifique a posição em que o país se encontra.

Diante das várias irregularidades apresentadas, é evidente a necessidade de reflexão e ação


sobre o assunto. Implantar Políticas Públicas para a prevenção, estabelecer uma fiscalização
rigorosa pelo Corpo de Bombeiros com apoio de outros órgãos, exigir um plano de abandono
escolar e atualizar a legislação são meios para alcançar um bom nível de segurança contra
incêndio para todas as pessoas que frequentam as edificações escolares de Pernambuco.

4. REFERÊNCIAS

[1] Aquino, L.M. – Aplicação das normas de segurança contra incêndio no Estado do Rio
Grande do Norte: Uma proposta de atualização. Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2015.
[2] Instituto Sprinklers Brasil – Brasil é o 3º país com o maior número de mortes por incêndio
(Newsletter nº5). São Paulo, 2015.
[3] Mendes, C. M. R. A. – Percepção de Risco de Incêndio em escolas municipais em Campo
Magro/PR. Dissertação de Mestrado. Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Curitiba, 2014.
[4] Brentano, T. – Instalações Hidraúlicas de Combate a Incêndio nas Edificações. Porto
Alegre: Edição do autor, 2016. ISBN 978-85-907537-3-5.
[5] Pernambuco. – Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico para o Estado de
Pernambuco – COSCIP. Recife, 1997.
[6] São Paulo. Instrução Técnica nº 02 – Conceitos básicos de segurança contra incêndio.
São Paulo, 2015.
[7] São Paulo. Instrução Técnica nº 20 – Sinalização de emergência. São Paulo, 2015.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ANÁLISE QUANTITATIVA DO RISCO DE INCÊNDIO EM TERMINAL DE


ARMAZENAMENTO DE COMBUSTÍVEL NO COMPLEXO PORTUÁRIO E
INDUSTRIAL DE SUAPE

Rafael A. B. Costa Dayse C. L. Duarte


Graduando Professor
Universidade Federal Universidade Federal
de Pernambuco de Pernambuco
Recife, Brasil Recife, Brasil

Palavras-chave: Incêndio de poça, Tanque atmosférico, Efeito dominó, Análise quantitativa de


risco.

1. INTRODUÇÃO

Acidentes em terminais de armazenamento são potencialmente catastróficos, em razão do


grande volume de material inflamável ou tóxico armazenado, em geral, da ordem de dezenas
ou centenas de vezes o volume contido nas plantas de processamento. Além disso, a
disposição do layout nesses terminais propicia a ocorrência de escalamento dos acidentes,
fenômeno conhecido como efeito dominó: um estudo envolvendo a análise de 41 acidentes em
terminais de armazenamento revelou a ocorrência de efeito dominó em 46% dos casos
estudados [1].

Segundo análises históricas realizadas, os acidentes mais frequentes em terminais de


armazenamento são incêndios e explosões, que correspondem a 85% dos eventos. Além
disso, dentre os tanques atmosféricos, os tanques de teto flutuante são os mais propensos a
acidentes devido à sua estrutura e forma de operação [2][3]. Por isso, é de extrema importância
um armazenamento seguro de substâncias perigosas nesses reservatórios e, portanto, um
gerenciamento adequado dos riscos associados com as operações a manutenção da
integridade das pessoas e dos entornos. Essas decisões são vitais para a integridade das
pessoas e instalações e, por sua vez, só podem ser tomadas com base em um conhecimento
profundo do processo e dos riscos associados: para gerenciar o risco é preciso, em primeiro
lugar, conhecê-lo. Isso implica entender o que é e como se comporta qualitativa (o que pode
acontecer) e quantitativamente (as probabilidades de ocorrência e a severidade das

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

consequências). Só assim um gerenciamento eficaz — capaz de antever as consequências e


orientar a atuação no sistema, a inserção de barreiras de proteção e a elaboração dos planos
de emergência — pode ser realizado

Nesse sentido, o presente trabalho visa levantar os cenários de acidentes possíveis em um


terminal de estocagem de material combustível constituído por tanques de teto flutuante e
analisar comparativamente o risco individual e social às pessoas nas proximidades.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Risco

O risco está em todo lugar: existe enquanto houver fontes de perigo e se apresenta várias
formas. Nesse sentido, duas observações podem ser feitas. A primeira: o risco não pode ser
inteiramente eliminado devido à sua natureza, mas pode ser reduzido, transferido ou mitigado
[4]. A segunda: o risco é um assunto de abrangência universal, se fazendo presente no
ambiente dos acidentes industriais, dos desastres naturais, das mudanças climáticas ou
mesmo no mundo dos negócios.

2.1.1 Definição de risco

Para que o risco, enquanto realidade objetiva, possa ser gerenciado é necessário que ele
esteja estritamente definido [5]. Não existe, no entanto, no contexto na indústria de
processamento, uma única fonte autoritativa de nomenclaturas e definições relativas ao risco
[6]. Porém, existem na literatura especializada algumas definições bastante úteis no sentido de
desenvolver uma compreensão adequada do risco [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14].

De uma forma geral, podem ser observadas na literatura duas abordagens de conceituação do
risco: através da dimensão qualitativa ou da dimensão quantitativa. A primeira abordagem se
faz presente quando os autores buscam obter compreensões mais profundas, do ponto de
vista semântico, da ideia do risco. Para tanto, baseiam-se em uma melhor compreensão dos
conceitos subjacentes, como “perigo” e “incerteza”, e das suas inter-relações na construção do
conceito de risco. A segunda abordagem se apresenta no momento que os autores
transcendem a compreensão subjetiva do risco e buscam quantificá-lo objetivamente,
possibilitando comparar situações distintas e avaliar a grandeza assumida por ele.

É possível perceber na literatura a recorrência de alguns termos que auxiliam a demarcar os


limites do risco. Dessa forma, permitem uma conceituação que é ao mesmo tempo mais
carregada de significado e menos propensa a ambiguidades. Esses termos que compõem o
risco subjetivamente são: “fonte de perigo”, “incerteza” em relação ao futuro, “eventos
indesejados” e variações da expressão, “frequência” ou “probabilidade” de ocorrência de
eventos indesejados e termos que expressam consequências negativas ocasionadas pelo
evento indesejado: “dano”, “lesão”, “perda”, “saúde prejudicada” [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11]
[12] [13] [14].

396
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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

2.1.2 Quantificação do risco

Na literatura podem ser encontradas basicamente três classes de medidas de risco. São elas:
as medidas de risco individual, social e os índices de risco [7]. Para efeito de simplificação,
apenas as duas primeiras serão consideradas aqui.

Risco individual é definido pela literatura como “risco para um indivíduo na localidade do
perigo” [7] [15] [9]. Ou, como [16] colocam, “a frequência de um indivíduo morrer devido a
eventos de perda de contenção [de substâncias tóxicas ou inflamáveis]”. O risco individual
é calculado através da equação 1.

IR S,M, ,i,d   IRS, M, ,i,d (1)


S M  i

IRS,M, ,i,d  f s  PM  P  Pi  Pd (2)

onde é a frequência de um determinado evento de perda de contenção, é a probabilidade


de ocorrência de uma determinada classe meteorológica, é a probabilidade condicional dada
a classe meteorológica de uma determinada direção do vento, é a probabilidade condicional
de ocorrer ignição, dados e ,e é a probabilidade condicional de fatalidade.

2.2 Acidentes em tanques de teto flutuante

Os tanques de armazenamento são classificados usualmente em tanques de teto fixo ou


flutuante [17]. Os tanques de teto fixo têm o teto diretamente ligado à parte superior do
costado. São os tanques de menor custo de construção, mas, ao mesmo tempo, com maiores
perdas por evaporação. Os tetos dos tanques de teto flutuante, por sua vez, flutuam sobre o
líquido armazenado, deslocando-se verticalmente ao longo do costado. Por essa razão, os
estes tipos de tanques têm menores perdas evaporativas, mas custos de construção e
manutenção mais expressivos. Podem ser de três tipos: simples, duplo ou de pontão. Os tipos
simples e duplo são constituídos, respectivamente, por um e dois lençóis de chapas. O teto de
pontão é dotado de flutuadores, atuando de forma semelhante ao de teto duplo. Há ainda, na
literatura, menções sobre a existência de tanques de teto móvel e de teto com diafragma, no
entanto, as aplicações são bem menores do que os tanques de teto fixo e flutuante [18].

2.2.1 Perdas de contenção

Incêndio, explosão e dispersão tóxica são decorrência do desenvolvimento de cenários de


falha de contenção de fluidos que não puderam ser controlados a tempo. O escoamento
dessas substâncias se dá através de aberturas que vão desde orifícios de tamanho limitado até
aberturas que comprometem uma grande fração do recipiente, é o caso da ruptura de vaso ou
equipamento. No caso de tanques de teto flutuante, a literatura identifica, de uma forma geral,
a ocorrência dos seguintes cenários:

397
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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

a) Emissões fugitivas (teto);


b) Derramamento de líquido no teto;
c) Afundamento do teto;
d) Ruptura parcial de tubulação;
e) Ruptura total de tubulação;
f) Falha em equipamentos e dispositivos conectados à tubulação;
g) Furo ou trinca em tanque;
h) Falha catastrófica do tanque

Diferentes cenários de acidentes podem se desenvolver a depender das propriedades do


material, das condições de armazenamento e das condições do vazamento. Dos cenários
apresentados acima, os três primeiros ocorrem devido a falhas nas estruturas e dispositivos
presentes no teto flutuante, enquanto os demais ocorrem diretamente no costado do tanque,
nas tubulações ou em dispositivos próximos. Segundo o projeto LASTFIRE [19] conduzido por
16 empresas do ramo petroquímico e considerado o trabalho mais compreensivo sobre
incêndio em tanques de teto flutuante, os acidentes em tanques podem ser classificados em:

a) Explosão no pontão: ocorre quando o vapor confinado próximo aos pontões ou sob o
teto sofre ignição. O confinamento gera sobrepressão e, consequentemente,
explosão. Apesar de explosões não serem muito frequentes em tanques de teto
flutuante essa possibilidade existe e deve ser considerada;
b) Incêndio no anel de selagem: este tipo de incêndio ocorre quando o selo, localizado
entre o costado e o teto, perde a sua integridade e os vapores liberados sofrem
ignição, ocasionando um flash fire. Quando o flash fire é extinto, o selo continua a
queimar.;
c) Incêndio de poça local na superfície do tanque: ocorre quando o material combustível
é vazado para o teto do tanque, mas não há perda de flutuação. O vazamento pode
ocorrer por erros operacionais, falhas de equipamentos ou, ainda, pela ocorrência de
raios, que também atuam como fonte de ignição. É difícil prevenir que esse modo de
incêndio escale e atinja toda a superfície do tanque;
d) Incêndio de poça em toda a superfície: estabelecido quando toda a superfície do
tanque está engolfada pelas chamas, pode ocorrer diretamente, nos casos em que o
teto afunda expondo inteiramente a superfície do tanque, ou decorrer de escalamento
de incêndios menores. Em geral, as causas de perda de flutuação e afundamento do
teto estão relacionadas ao acúmulo de água da chuva no teto, acúmulo de gás sob o
teto ou a dano aos pontões de flutuação. São de difícil extinção, especialmente para
tanques com diâmetro maior que 40m;
e) Incêndio de poça no dique: é qualquer tipo de incêndio que ocorre fora da estrutura do
tanque e dentro da área de contenção. Esse modo de incêndio pode variar desde um
pequeno derramamento até um incêndio em toda a área do dique. Se o incêndio
engolfar uma estrutura de tanque o conteúdo pode sofrer ignição devido ao calor de
radiação e os cenários supracitados podem ocorrer.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Figura 1. Representação dos acidentes em tanques atmosféricos de teto flutuante

2.2.2 Evolução dos cenários de perda de contenção

Para uma melhor compreensão – abordagem qualitativa – do desenvolvimento dos acidentes,


foram elaboradas árvores dos eventos para quatro cenários: três cenários referentes a perdas
de contenção envolvendo diretamente o teto flutuante e dispositivos relacionados e um cenário
de perda de contenção dentro do dique, que representa o agrupamento de todos os cenários
de vazamento que envolveriam o acúmulo de material combustível ou inflamável dentro do
dique de contenção. As referidas árvores podem ser vistas abaixo:

Figura 2. Árvore dos eventos representando a evolução de eventos de vazamento no teto


flutuante

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Figura 3. Árvore dos eventos representando a evolução de eventos de vazamento no dique

Os demais eventos considerados ocasionam vazamentos nas proximidades da base do


tanque, ao invés de vazamentos através do teto, de modo que podem ser agrupados, de forma
simplificada, em um única árvore dos eventos.

2.2.3 Modelagem de incêndio de poça

Existem dois tipos de modelos semi-empíricos utilizados para estimação da transferência de


calor à distância: os modelos point source, que consideram que a fonte de toda a radiação é
um ponto, e os modelos surface emitter, que assumem que o calor é irradiado de uma
superfície sólida visível, geralmente um cilindro ou cone [12] .

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

I  SEP  Fview  (3)

onde, é intensidade da energia térmica , é o Surface Emitter Power, a radiação


térmica emitida pela chama , é o fator de forma, é a transmissividade
atmosférica.

É importante notar que o é afetado pela presença de fuligem, uma vez que esta absorve
parte do calor irradiado [20]. A seguinte equação pode ser utilizada:

SEPact  SEPmax (1  s)  SEPsoot  s (4)

onde, é, a radiação térmica efetivamente emitida pela chama , é a


radiação térmica máxima emitida pela chama , é a radiação térmica emitida
pela fuligem , é a fração da superfície coberta pela fuligem.

O cálculo de , por sua vez, é dado por:

Fs  m'  H c
SEPmax  (5)
1  4( L )
D

onde, é a fração da energia de combustão transferida para a chama, é a taxa de queima


, é o calor de combustão , é a altura da chama , o diâmetro da
poça .

3. METODOLOGIA

O trabalho foi dividido nas seguintes partes: (i) levantamento dos cenários de acidentes,
realizado com base em revisão bibliográfica e na elaboração das árvores dos eventos
apresentadas anteriormente; (ii) seleção dos cenários de estudo, baseado na análise histórica
e na etapa de levantamento dos cenários; (iii) coleta de dados meteorológicos e de frequência
de ocorrência dos acidentes; (iv) modelagem do incêndio de poça e análise de vulnerabilidade;
(v) cálculo e integração do risco.

Assim, foram escolhidos dois cenários de incêndio de poça: o incêndio de tanque no teto do
tanque e um incêndio no dique.

3.1. Condições meteorológicas

Os dados sobre as condições meteorológicas, especialmente a distribuição do vento


(velocidade e direção), foram obtidos através de uma análise dos dados da Estação
Meteorológica de Recife, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia – INMET
(2017). Foram selecionados os dados referentes ao período entre fevereiro de 2016 e janeiro

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de 2017, com base nos quais foram calculadas as frequências com que o vento assumia as
direções escolhidas. Dessa mesma análise outros dados, como velocidade do vento (média e
máxima), pressão manométrica, temperatura e umidade relativa, foram obtidos. Como pode-se
observar nos gráficos abaixo, 73% do tempo o vento sopra nas direções ESE, SE e SSE,
dirigindo-se no sentido do mar ou do terreno descampado; durante o restante do tempo o vento
sopra em direções onde há pouco congestionamento.

Tabela 1 – Distribuição do vento na cidade de Recife

Direção do Velocidade Média


j Ângulo Frequência
Vento (m/s)
1 N 0.0 1% 0.66
2 NNE 22.5 1% 1.54
3 NE 45.0 2% 1.58
4 ENE 67.5 2% 1.77
5 E 90.0 5% 1.95
6 ESE 112.5 24% 2.11
7 SE 135.0 28% 2.19
8 SSE 157.5 11% 1.75
9 S 180.0 4% 0.97
10 SSW 202.5 3% 0.75
11 SW 225.0 3% 0.58
12 SWW 247.5 4% 0.51
13 W 270.0 5% 0.53
14 WNW 292.5 5% 0.54
15 NW 315.0 2% 0.47
16 NNW 337.5 1% 0.44

3.2 Frequência de ocorrência dos eventos

A coleta das informações para a quantificação das frequências teve como base análises
históricas obtidas em livros, artigos e relatórios de organizações e órgãos competentes
internacionais. Em caso de conflito entre os valores indicados, os valores mais conservativos
foram considerados. As tabelas contendo as informações sobre as frequências dos acidentes
podem ser observadas abaixo:

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Tabela 2 – Frequências de acidentes definidas pelo projeto LASTFIRE (1997) [21]


Tanque de Teto Flutuante
Tipo de Incêndio
(por tanque ano)

Incêndio no anel de selagem 1,6 x 10-3


Incêndio na superfície do teto 1,2 x 10-4
Pequeno incêndio no dique 9,0 x 10-6
Grande incêndio no dique (toda a área) 6,0 x 10-6

4. RESULTADOS

4.1 Risco Individual

Tabela 3 – Níveis de dano para o incêndio de poça no teto do tanque

Distância do
Nível de Dano Definição Valor Limite Dano (m)
Dano Pequeno Efeitos reversíveis/ não severos 3 kW/m2 29 < x < 51
Dano Médio Dor para pessoas desabrigadas; 5 kW/m2 --
queimaduras de 2º graus improváveis
Dano Severo Alta letalidade 12.5 kW/m2 --

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Tabela 4 – Níveis de dano para o incêndio de poça no chão

Distância
Nível de Dano Definição Valor Limite do Dano
(m)
Sem dano Sem dano 1kW/m2 160
Dano Pequeno Efeitos reversíveis/ não severos 3 kW/m2 106
Dano Médio Dor para pessoas desabrigadas; 5 kW/m2 81
queimaduras de 2º graus improváveis
Possibilidade de escalamento 8 kW/m2 70
Dano Severo Alta letalidade 12.5 kW/m2 56

5. CONCLUSÕES

Este artigo apresenta uma aplicação de MATLAB para quantificar e apresentar os riscos
individual e social para um parque de tanques em SUAPE. O foco deste trabalho é
compreender melhor o que é e como se quantifica o risco, no contexto da indústria de
processamento, e avaliar os conceitos através de um estudo de caso de um incêndio de poça
em tanques de armazenamento de material combustível e os possíveis danos causados às
pessoas e aos tanques adjacentes. Este objetivo foi atingido através de revisão bibliográfica e
da análise dos resultados do risco individual e social. Dentre as diversas reflexões ocorridas no
decurso deste trabalho, as seguintes devem ser especialmente mencionadas:

a) Os incêndios são cenários bastante críticos para terminais de armazenagem e


abastecimento tanto do ponto de vista da integridade das pessoas quanto das
estruturas;

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

b) Apesar de a frequência de ocorrência de incêndios de poça de teto flutuante ser maior


do que os grandes incêndios nos diques, as consequências do último são mais
graves, de forma que o risco total para o incêndio de poça no dique é da ordem de
milhares de vezes maior;
c) O incêndio de poça na superfície do tanque, para o cenário considerado, oferece
poucos danos às pessoas. No entanto, apresenta intensidade térmica 50% acima do
valor de threshold do efeito dominó. De forma que, ainda que o dano às pessoas é
mínimo, o escalamento para os tanques próximos é algo possível e crítico;

6. REFERÊNCIAS

[1] G. Reniers and T. Brijs, “Major accident management in the process industry: An expert
tool called CESMA for intelligent allocation of prevention investments,” Process Saf.
Environ. Prot., vol. 92, no. 6, pp. 779–788, Nov. 2014.
[2] J. Chang and C.-C. Lin, “Study of storage tank accidents,” J. Loss Prev. Process Ind., no.
19, pp. 51–59, 2006.
[3] G. Duarte, “Análise Histórica de Incêndios em Tanques Atmosféricos,” Universidade
Federal de Pernambuco, 2016.
[4] S. Kaplan and B. J. Garrick, “On The Quantitative Definition of Risk,” Risk Anal., vol. 1, no.
1, pp. 11–27, 1981.
[5] J. Casal, Evaluation of the Effects and Consequences of Major Accidents in Industrial
Plants, vol. 8. Oxford: Elsevier, 2008.
[6] AIChE, Guidelines for Chemical Process Quantitative Risk Analysis, 2nd ed. New York:
CCPS, 2000.
[7] M. D. Christou, “Introduction to risk concepts,” in Risk Assessment and Management in the
Context of the Seveso II Directive, 1a ed., C. Kirchsteiger, Ed. Amsterdã: Elsevier Science,
1998, pp. 109–128.
[8] Institution of Chemical Engineers, “Nomenclature for hazard and risk assessment in the
process industries.” 1985.
[9] J. S. Arendt and D. K. Lorenzo, Evaluating Process Safety in the Chemical Industry. New
York: Aerican Institute of Chemical Engineers, 2000.
[10] D. A. Crowl and J. F. Louvar, Chemical Process Safety: Fundaments and Applications.
New Jersey: Prentice Hall, 2002.
[11] M. Tweeddale, Managing Risk and Reliability of Process Plants. Elsevier, 2003.
[12] M. J. Assael and K. E. Kakosimos, Fires, Explosions and Toxic Gas Dispersions. New
Jersey: CRC Press, 2010.
[13] S. Mannan, Lees’ Loss Prevention in the Process Industries, vol. 1. Elsevier, 2005.
[14] SRA, “SRA Glossary,” 2015. [Online]. Available:
http://www.sra.org/sites/default/files/pdf/SRA-glossary-approved22june2015-x.pdf.
[Accessed: 03-Aug-2016].
[15] American Institute of Chemical Engineers, Guidelines for Chemical Process Quantitative
Risk Analysis, 2nd ed. New York: CCPS, 2000.
[16] P. Uijt de Haag and B. Ale, “Calculation and presentation of results,” in Purple Book -
Guidelines for quantitative risk assessment, 1a ed., TNO, Ed. The Hague: Committee for
the Prevention of Disasters, 1999, p. 237.
[17] Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 7821: Tanques soldados para
armazenamento de petróleo e derivados. Rio de Janeiro: ABNT, 1983.
[18] L. F. F. L. Alves, “Tanques de armazenamento em concreto protendido para petróleo,
derivados e biocombustíveis,” Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

[19] I. Shaluf and S. Abdullah, “Floating roof storage tank boilover,” J. Loss Prev. Process Ind.,
no. 24, pp. 1–7, 2011.
[20] C. J. H. van den Bosch and N. J. Duijm, “Outflow and Spray Release,” in Yellow Book -
Methods for the Calculation of Physical Effects due to releases of hazardous materials
(Liquids and Gases), 3a ed., TNO, Ed. The Hague: CPR 14E, 2005, pp. 1–179.
[21] OGP, “Storage incident frequencies,” 2010. [Online]. Available:
http://www.ogp.org.uk/pubs/434-03.pdf. [Accessed: 31-Oct-2016].

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4th CILASCI – Ibero-Latin American Congress on Fire Safety
Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

ANÁLISIS TERMO-ESTRUCTURAL DE TANQUES DE COMBUSTIBLE

Susana N. Espinosa* Rossana C. Jaca Luis A. Godoy


Profesor Profesor Profesor
Universidad Nacional del Universidad Nacional Universidad Nacional
Comahue del Comahue de Córdoba
Neuquén, Argentina Neuquén, Argentina Córdoba, Argentina

Palabras claves: tanques de almacenamiento de combustible, fuego, perfil de temperatura,


deformaciones, batería de tanques

1. INTRODUCCIÓN

La distribución de temperatura estacionaria en tanques adyacentes a un tanque bajo fuego ha


sido estudiada en trabajos previos [1-4] analizando aspectos diversos como posición de la
llama, acción del viento, distancias de separación entre tanques y volúmenes variables de
combustible almacenado. En todos los casos se consideró que los fluidos en el interior del
tanque se mantienen a temperatura constante igual a la temperatura ambiente. Lo anterior es
una aproximación razonable para gases (aire o mezcla aire-vapor), pero no para líquidos,
debido a su mayor capacidad de almacenar energía. Sin embargo, no estamos interesados en
la variación temporal de la temperatura en el seno del fluido, la que por cierto aumentará
lentamente, sino en la naturaleza no estacionaria del líquido adyacente a la pared lateral
directamente enfrentada a la radiación de la llama, la que afectará el perfil de temperatura
calculado sobre la cáscara.

*
Autor correspondiente – Departamento de Mecánica, Facultad de Ingeniería, Universidad Nacional del Comahue. Buenos Aires 1400. 8300 - Neuquén .
Argentina. Tel.: +54 299 4490300 (488). e-mail: susana.espinosa@fain.uncoma.edu.ar

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4th CILASCI – Ibero-Latin American Congress on Fire Safety
Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

De este modo, se busca determinar un perfil térmico más realista, que es utilizado
posteriormente para aproximar las consecuencias térmicas sobre la estructura de acero
mediante un análisis secuencial mecánico.

2. MODELADO

El incendio accidental de un tanque dentro de una batería de tanques de combustible es


analizado utilizando un escenario simple formado por dos tanques idénticos separados un
diámetro entre sí. Uno corresponde al tanque fuente donde se origina el fuego principal, y otro
es el tanque objetivo, sobre el que incide la radiación. La determinación de dicha radiación
constituye uno de los parámetros relevantes de la simulación y requiere representar en forma
realista la geometría y radiación emitida por la llama mediante modelos rigurosos de
transferencia de calor. La magnitud de la radiación incidente sobre un tanque adyacente
depende principalmente del tipo y propiedades del combustible que se está quemando, de la
geometría y distancias de separación de los tanques fuente y objetivo, y de la velocidad del
viento que modifica la inclinación de la llama. Los resultados varían considerablemente de
acuerdo a la posición de la llama primaria, la que normalmente se origina en la superficie
superior del tanque fuente y puede extenderse posteriormente a todo el tanque, radiando calor
desde su base. Previamente se tuvieron en cuenta ambos casos para determinar los perfiles de
temperatura sobre el tanque objetivo [4]. Sin embargo, en el presente trabajo asumimos que la
llama está actuando desde el nivel del suelo, a efectos de considerar la situación térmica más
desfavorable. Se supone que la llama se produce por combustión de gasolina. Para mayores
detalles sobre parámetros geométricos de la llama y temperaturas máximas alcanzadas en
cada caso, remitirse a la referencia [4].

El tanque estudiado presenta un diámetro (D) de 11.44m, la altura de la envolvente cilíndrica


(H) es de 11.44m y presenta un techo cónico de altura (h) de valor 1 m, resultando una altura
total del tanque de valor 12.44m. El espesor de la cáscara cilíndrica (t) es de 0.0064m (1/4”),
diseñado en base a la norma API 650 [5] y el techo presenta el mismo espesor. El material
constitutivo del tanque es acero A36 con un módulo de elasticidad (E) variable con la
temperatura y un coeficiente de Poisson (ν) constante de 0.3. Como condición de apoyo se
consideran apoyos fijos, con restricción de desplazamientos.

La Figura 1 muestra ambos tanques y la característica de la llama. La combustión de


hidrocarburos produce una llama con dos zonas diferenciadas, una inferior en la base del fuego
con llama clara y otra en la parte superior de llama oscura con humo denso y llamas. El modelo
usado para caracterizar la llama se denomina modelo bicapa, en el que la llama es
representada como un cilindro sólido, vertical en ausencia de viento, diferenciando dos capas
que representan la llama clara inferior donde la combustión es más eficiente y la llama oscura
superior de menor potencia emisiva por la presencia de humo. El cilindro que representa la
llama tiene el mismo diámetro que el tanque fuente y la altura de la misma se calcula en
función de parámetros empíricos asociados a la velocidad de combustión del combustible, del
diámetro de la llama y la velocidad del viento, entre otros [4]. En la figura se indican las
temperaturas medias efectivas para cada zona de la llama (3).

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Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

Llama
Oscura
L=17.5m
T= 662°C
tanque
objetivo

tanque
fuente H=11.44
H=13.52 Llama
m
Clara
T= 933°C
D=11.44
m
Figura 1. Características del tanque bajo fuego y del tanque objetivo.

El modelo completo fue implementado en ABAQUS-Simulia [6], considerando ausencia de


viento (la llama se extiende verticalmente) y analizando la radiación incidente sobre un tanque
vecino de diámetro igual a su altura y techo cónico, conteniendo gasolina líquida hasta la mitad
de su altura.

La simulación computacional se hizo en dos etapas: la primera implementando un modelo de


transferencia de calor estándar para resolver la transferencia de calor en la estructura
combinado con un modelo de fluido-dinámica computacional (CFD) para determinar la
transferencia de calor por convección natural en el combustible líquido, y la segunda mediante
un análisis estructural estático sometido a las temperaturas resultantes de la etapa previa. Los
coeficientes de transferencia de calor entre la superficie y el aire externo e interno fueron
estimados por métodos empíricos de convección natural obtenidos de literatura [7].

Se usó el programa para propósitos generales Abaqus-Simulia con técnicas de co-simulación


mediante un análisis de transferencia de calor conjugado (conjugate heat transfer) que acopla
Abaqus/Standard y Abaqus/CFD y permite determinar simultáneamente los efectos térmicos
sobre la estructura de acero y en el combustible líquido. El modelo térmico se desarrolló
utilizando Abaqus/Standard con elementos de transferencia de calor triangulares y cuadráticos,
de seis y ocho nodos (identificados en Abaqus como DS6 y DS8), respectivamente. El modelo
fluidodinámico se desarrolló en Abaqus/CFD con elementos lineales de cuatro nodos para el
fluido (identificados en Abaqus como FC3D4). En la segunda etapa se utilizó un análisis
secuencial acoplado para determinar el efecto térmico sobre la estructura, introduciendo la
distribución de temperatura hallada en la etapa previa como un campo predefinido. Se
emplearon elementos de cáscara triangulares y cuadráticos, de seis y ocho nodos
(identificados en Abaqus como S8R y STRI65).

Para representar el aporte de rigidez que provee la estructura interna de vigas y columnas de
soporte del techo cónico [8], se compararon los desplazamientos considerando espesores
crecientes del techo respecto al espesor de la envolvente cilíndrica.

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4th CILASCI – Ibero-Latin American Congress on Fire Safety
Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

Comenzamos estudiando el comportamiento térmico de un tanque objetivo que contiene líquido


hasta la mitad de su altura. La resistencia a la transferencia de calor por conducción a través
del acero es despreciable frente a las resistencias convectivas, a uno y otro lado de la
superficie, de modo que en lo que sigue, no haremos distinción entre nodos externos o internos
a la cáscara.

El modelo Abaqus-CFD implementado para el combustible líquido resuelve el campo de flujo


laminar y la transferencia de calor hacia el fluido. El campo de presiones es el resultado del
gradiente de densidades producido por efecto térmico. El campo de velocidades queda definido
por la relación de fuerzas de empuje y fuerzas viscosas. En la Figura 2 se muestra el campo de
presiones y de velocidades en el fluido cuando el calor radiado por la llama incide sobre el
lateral ubicado a la izquierda de la página, aumentando la temperatura local. Los vectores de
velocidad de la Figura 2 b se inclinan en dirección al gradiente de presiones (Fig. 2 a). Cuando
el fluido se pone en contacto con la superficie caliente del tanque, las fuerzas de empuje
superan a las fuerzas viscosas haciendo que el líquido caliente ascienda por el lateral izquierdo
(como indican las flechas rojas y verdes en la Figura 2 b) mientras que porciones de líquido frío
descienden por el derecho, produciendo el movimiento circular del fluido y la mezcla de
corrientes internas características de la convección natural, uniformando las temperaturas en el
seno del fluido. Sin embargo, la temperatura media del fluido aumentará constantemente a
menos que se extinga la llama.

a b
Figura 2. Campo de presiones (a) y campo de velocidades (b) en el fluido inducido por
convección natural.

La Figura 3 muestra los perfiles de temperatura no estacionarios para cuatro nodos ubicados
sobre la superficie del tanque directamente enfrentada a la llama. Los nodos indicados como A,
B y C se encuentran sobre la superficie seca del tanque, y el nodo D, sobre la superficie en
contacto con el combustible líquido. Se observa que las temperaturas en los nodos A, B y C
aumentan rápidamente, llegando a valores estacionarios del orden de 400°C en poco más de
una hora. Por el contrario, el nodo D aumenta su temperatura más lentamente, manteniéndose
siempre por debajo de las temperaturas encontradas en la superficie seca superior. El
combustible líquido actúa por lo tanto, como refrigerante de la pared mojada del tanque, como

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4th CILASCI – Ibero-Latin American Congress on Fire Safety
Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

consecuencia de la gran capacidad calorífica de los líquidos en general frente a la de los gases
que en este caso se encuentran por encima del nivel de combustible.

Debido a la naturaleza multicomponente de la gasolina, su temperatura aumenta en forma


continua hasta 60-70°C, dependiendo de su composición. Por encima de esta temperatura
comienza la evaporación de los componentes livianos de la gasolina y se produce una
destilación fraccionada del combustible con períodos de tiempo donde la temperatura aumenta
y otros donde permanece constante por el cambio de fase, alterando la distribución de
temperatura sobre la superficie mojada del tanque (nodo D) y modificando el nivel de
combustible líquido almacenado. Este complejo comportamiento no ha sido considerado en el
modelo, razón por la cual el perfil de temperatura correspondiente al nodo D se ha graficado
sólo hasta aproximadamente 80°C.

La posibilidad de escalado de un incendio a toda la batería de tanques depende de un sin


número de potenciales eventos simultáneos o aislados; la formación de vapores en el espacio
de aire entre el nivel de líquido y el techo, es una de ellas. Si la velocidad de generación de
vapores es superior a la de evacuación a través de las válvulas de alivio, podría producirse una
explosión por aumento de la presión interna. Por otro lado, si se formara una mezcla aire-
combustible dentro de los rangos de inflamabilidad de la gasolina, podría generarse una nueva
llama por contacto con las paredes superiores del tanque a alta temperatura [2], (como la que
indican los nodos A, B y C de la Figura 3), o con cualquier otra fuente de ignición (por ej. una
chispa generada por estática).

Figura 3. Perfil térmico transitorio para cuatro nodos ubicados sobre la coordenada vertical.

Adicionalmente, la deformación térmica del acero conlleva un riesgo potencial por colapso de la
estructura del tanque y derrame del combustible.

En este trabajo se determinaron las tensiones y deformaciones ocasionadas por efecto térmico
en tanques de acero con niveles variables de combustible almacenado. Para el cálculo se
aplicó un procedimiento secuencial, introduciendo en el modelo el perfil de temperatura
obtenido en el paso previo como un campo predefinido. La Figura 4 muestra la distribución de

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4th CILASCI – Ibero-Latin American Congress on Fire Safety
Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

temperatura y deformaciones estacionarias para un tanque lleno de combustible hasta la mitad


de su altura. En este caso el espesor del techo es igual al de la cáscara (t=tc).

a b
Figura 4. Distribución de temperaturas [°C] (a), y deformaciones [m] (b), para un tanque
conteniendo combustible hasta la mitad de su altura y t=tc. Vista frontal.

De acuerdo a la Figura 4 a, mientras la superficie inferior en contacto con el líquido interno se


encuentra a temperaturas inferiores a 100°C, la superficie superior en contacto con los gases
internos presenta temperaturas máximas del orden de 400°C. Consecuentemente, las mayores
deformaciones estructurales se verifican en la zona de máxima temperatura, como se aprecia
en la Figura 4 b.

La vista lateral (Figuras 5 a) permite apreciar mejor el cambio brusco de desplazamientos entre
las superficies seca y mojada, y la elevación, respeto del techo, del lateral superior a alta
temperatura. El desplazamiento entre la cáscara y el techo podría eventualmente producir una
separación entre estos, permitiendo el ingreso de cenizas incandescentes al interior del tanque
y dando lugar a un nuevo incendio [2].

a b
Figura 5. Comparación de deformaciones estructurales para diferentes espesores del techo
cónico. (a) Vista lateral, (b) Desplazamientos para t=tc () y t= 3 tc ()

412
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La Figura 5 b compara las deformaciones provocadas sobre la coordenada vertical enfrentada


a la llama para dos espesores diferentes del techo. Se observa que los desplazamientos
relativos en el techo respecto a la cáscara se reducen de 4 a 5 veces para espesores del techo
t = 3 tc.

Por otra parte, la marcada diferencia de desplazamientos que se produce en la superficie a la


altura del nivel de combustible almacenado, podría producir el colapso de la estructura y la fuga
de combustible, extendiendo el fuego a tanques vecinos. De acuerdo a la Figura 5, para el caso
de estudio considerado en este trabajo, las situaciones descriptas y los riesgos de provocar un
evento en cadena se minimizan si los tiempos de actuación sobre la llama están por debajo de
2000 s.

4. CONCLUSIONES

Se realizó un estudio detallado de efectos térmicos y estructurales de tanques adyacentes a un


tanque bajo fuego, conteniendo gasolina líquida en su interior. Un riguroso modelo
computacional fue implementado en Abaqus combinando modelos CFD y modelos de
transferencia de calor con técnicas de co-simulación para considerar la interacción fluido-
estructura. Un modelo secuencial implementado posteriormente permite simular la respuesta
estructural para un tanque sometido a los perfiles térmicos estimados previamente.

Los resultados de la simulación muestran patrones de máximas temperaturas estacionarias en


nodos sobre la superficie seca y temperaturas crecientes en el tiempo en nodos sobre la
superficie mojada. Consecuentemente, la máxima deformación estructural ocurre en el lateral
superior a alta temperatura. La evaporación de los componentes más volátiles de la gasolina
líquida por contacto con la superficie de acero caliente podría eventualmente formar una
mezcla inflamable o explosiva dentro del tanque vecino a la llama principal. Adicionalmente, la
deformación de las paredes del tanque respecto al techo, aumenta la posibilidad de formación
de una llama secundaria y el consiguiente escalado a toda la planta. Para evitarlo, el tiempo de
extinción de la llama primaria es determinante.

5. REFERENCIAS

[1] Liu, Y. – Thermal buckling of metal oil tanks subject to an adjacent fire, Phd Thesis, The
University of Edinburgh, 2011, 344 p.
[2] Mansour, K.A. – Fires in large atmospheric storage tanks and their effect on adjacent
tanks. Phd Thesis. Loughborough University, 2012, 383 p.
[3] Da Silva Santos F., Landesmann, A. – Thermal performance-based analysis of minimum
safe distances between fuel storage tanks exposed to fire. Fire Safety Journal, vol.69,
2014, p. 57-68.
[4] Espinosa, S.N., Jaca, R. C. – Transferencia de Calor entre Tanques de Combustible
expuestos a Fuego, MecánicaComputacional, vol. 34, 2016, p. 135-149.
[5] API 650. Welded steel tanks for oil storage. American Petroleum Institute, 2010.
[6] Abaqus. Simulia. Unified FEA. Dassault Systems. Warwick, Rhode Island. USA, 2006.

413
4th CILASCI – Ibero-Latin American Congress on Fire Safety
Recife, Pernambuco, Brazil, 9 - 11 October, 2017

[7] Incropera, F.P. and DeWitt, D.P., Fundamentals of Heat and Mass Transfer. New York,
John Wiley & Sons, 2002.
[8] Burgos C. A., J. C. Batista-Abreu, Calabró H. D., Jaca R. C., Godoy L. A. – Buckling
estimates for oil storage tanks: Effect of simplified modeling of the roof and wind girder,
Thin Walled Structures, no. 91, 2015, p. 29-37.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DOS GUARDA CORPOS


CONTROLADORES DE FLUXO NA EVACUAÇÃO DA BOATE KISS POR
MEIO DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Guilherme G. Hennemann Augusto M. Gil Fabrício L. Bolina


Acad. Eng. Civil Eng. Civil, Mestrando Prof. MSc. Eng. Civil
itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos itt Performance/Unisinos
São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil São Leopoldo, Brasil

Eduardo E. C. Rodrigues Bernardo F. Tutikian George C. B. Braga


Dr. Eng. Civil Prof. Dr. Eng. Civil Dr. Física
CBMRS itt Performance/Unisinos CBMDF
Porto Alegre, Brasil São Leopoldo, Brasil Brasília, Brasil

Palavras-chave: Incêndio. Evacuação. Simulação computacional. Boate Kiss.

1. INTRODUÇÃO

Até o início dos anos 70, a segurança contra incêndio nas edificações no Brasil não era tratada
com a necessária relevância, não existindo, por exemplo, uma norma que abordasse as saídas
de emergência [1]. A verticalização das edificações ocorreu, então, sem a preocupação de
como as pessoas poderiam abandoná-las em caso de emergência. Os incêndios nos edifícios
Andraus e Joelma marcaram a mudança de paradigma, que culminou em diversas normas
atualmente em vigor, como a ABNT NBR 9077 – Saídas de emergência [2].

Incêndios em locais de reunião de público, como casas noturnas, geram risco iminente à vida
das pessoas. Casos históricos ratificam essa informação, como o caso da Republica Crômañon
em Buenos Aires, na Argentina, em 30 de dezembro de 2004 e, mais recentemente, em
Oakland, na Califórnia, em 2 de dezembro de 2016, reforçam as estatísticas e números de
vidas que se perdem devido a possíveis negligências no projeto de segurança contra incêndio.
Esses fatos enaltecem a importância de se projetar e construir edificações seguras, além de
operá-las da mesma forma. A segurança contra incêndio emergiu novamente após o incêndio
ocorrido na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, Estado do Rio Grande do Sul, o qual vitimou
fatalmente 242 pessoas.

O abandono seguro das edificações está entre os objetivos requeridos em um projeto de


segurança contra incêndio, caracterizando-se como aspecto fundamental do projeto [3]. A
ABNT NBR 9077:2001 [2], assim como a Instrução Técnica Nº 11 do Corpo de Bombeiros de
São Paulo [4], apresentam condições mínimas de segurança para a medida de proteção
passiva denominada saídas de emergência. Ambos regulamentos apresentam cálculo de
ocupação máxima, distâncias máximas a serem percorridas e larguras mínimas a serem
utilizadas.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

De forma alternativa às prescrições normativas, as análises computacionais podem ser


utilizadas para validar de forma otimizada a eficiência dos projetos de saídas de emergência,
segundo uma concepção arquitetônica definida. Apesar da dificuldade de prever o
comportamento das pessoas em situação de incêndio e, por consequência, validar a eficiência
das saídas de emergência [5], o emprego de softwares de simulação de abandono tem se
tornado frequente por proporcionarem maior proximidade da realidade [6].

Este trabalho objetiva avaliar a influência dos guarda corpos ordenadores de fluxo na
evacuação da boate Kiss, utilizando ferramentas computacionais. Diversos especialistas
manifestaram sua opinião sobre a influência destas barreiras, como no relatório técnico
elaborado pelo CREA-RS, como um fator de aumento considerável do tempo de abandono dos
ocupantes daquela casa noturna. Dada a importância das saídas de emergência para este tipo
de ocupação, bem como a necessidade de constante aprimoramento do tema para a melhoria
da segurança dos usuários, foram realizadas 4 simulações com duas ocupações diferentes,
com e sem a presença dos guarda corpos.

2. EVACUAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES

A reação ao fogo dos materiais empregados nas edificações se caracteriza como um dos
principais responsáveis pelo crescimento do fogo, pela propagação das chamas e pelo
desenvolvimento da fumaça e de gases tóxicos, contribuindo para a geração de pânico e
mortes [1]. Em um incêndio, a velocidade da fumaça pode atingir 2 m/s, contra a velocidade de
caminhamento das pessoas em um ambiente com aglomeração de público de 1 m/s a 2 m/s
[1], sendo o controle dos materiais de revestimento um dos fatores de maior influência sobre a
composição do tempo disponível para escape [7].

A saída de emergência está entre as medidas de proteção contra incêndio, visando níveis
adequados de segurança [8], caracterizando-se como aspecto fundamental no projeto [3]. Para
que o projeto seja eficaz, é necessário entender o comportamento humano em uma situação
de emergência, que geralmente tem uma reação lenta [9]. No entanto, a compreensão do
processo de evacuação não é uma tarefa simples, visto que se trata de um estudo
multidisciplinar [10].

Estudos de caso levaram à conclusão que a evacuação está dividida em dois períodos, o de
pré-evacuação e o de movimento [10]. O período de pré-evacuação abrange o tempo em que
ocorre a ignição até o instante em que uma pessoa ou um grupo começa a fuga, sendo dividido
em 3 subfases. Na primeira subfase ocorre o tempo de detecção do incêndio, na segunda
ocorre o tempo de alarme de incêndio e, na terceira, ocorre o tempo de pré movimento, isto é,
o tempo decorrente entre o alarme de incêndio e a decisão de evacuar [7].

No período de pré-movimento as pessoas tendem a buscar seus bens pessoais e alertar outras
pessoas. Decorrido este intervalo de tempo, o período de movimento começa e só é completo
quando o último indivíduo atinge um local seguro [5]. Diversos fatores são influentes no tempo
de evacuação como o comportamento das pessoas, a estruturação da edificação e a

416
4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

densidade de pessoas nos ambientes [10]. A Figura 1 demonstra as etapas do processo de


evacuação e a Equação 1 resulta o tempo total de escape.

Figura 1 – Etapas do processo de evacuação [10]

Onde:
; ; ;
;
Equação 1 – Tempo total de escape [7]

O escape em casas noturnas ocorre de forma mais lenta pelas condições ambientais
peculiares, como luzes fortes intermitentes e som alto, assim como condições de visibilidade e
percepção do sinistro limitados, o que se torna agravantes ao processo de abandono [1]. Além
disso, a evacuação desses locais é dificultada pela alta taxa de ocupação, possuindo potencial
elevado para ocorrência de vítimas.

3. METODOLOGIA

Foram realizadas 4 simulações computacionais de evacuação da boate Kiss. As duas primeiras


simularam a boate em sua capacidade máxima considerando o método de dimensionamento
exigido à época do sinistro segundo a norma ABNT NBR 9077:2001 (691 pessoas), com e
sem os guarda corpos metálicos. As duas últimas simularam a boate com superlotação (1061
pessoas), com e sem os guarda corpos metálicos, sendo o máximo que a simulação
conseguiu aportar dentro do ambiente. A Figura 2 a seguir apresenta esquematicamente as
simulações realizadas.

417
4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Figura 2 – Esquema das simulações

3.1. Boate Kiss

A boate Kiss foi modelada conforme dados encontrados em matérias jornalísticas e relatório
técnico do CREA-RS, o que pode ser o principal limitador do presente estudo [11]. A área do
local era de aproximadamente 640 m², sendo classificada segundo sua ocupação como local
de reunião de público, Divisão F-6 pela legislação em vigor no Estado do Rio Grande do Sul. O
cálculo de ocupação máxima da boate, considerando as áreas de acomodação do público e as
áreas de apoio, resultou em 691 pessoas, sendo necessárias 7 unidades de passagem. Estas
unidades estavam distribuídas em 2 portas justapostas para saída da casa noturna.

Os guarda corpos metálicos ordenadores de fluxo se comportaram como elementos de


obstrução para a desocupação da boate, pois reduziam significativamente o espaço disponível
para fuga [11]. Esses elementos foram representados nas simulações como barreiras sólidas.
Buscando um padrão, os ocupantes foram inseridos por densidade nos espaços da boate, sem
que houvesse sobreposição. A Figura 3 apresenta o modelo da boate.

Figura 3 – Boate Kiss modelada

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3.2. Simulação computacional

Utilizou-se o software Pathfinder, desenvolvido pela Thunderhead Engineering, no modo


“steering” para as simulações computacionais. Os perfis dos ocupantes foram baseados no
padrão do software e ajustados para que a simulação se aproximasse do real público presente,
assim como os parâmetros de escolha da saída. Os tempos de pré-evacuação foram definidos
seguindo uma distribuição uniforme entre os espaços da boate. Considerou-se que as pessoas
mais próximas ao incêndio tiveram tempos de pré-evacuação menores (10s), enquanto as
pessoas mais afastadas tiveram tempos de pré-evacuação maiores (50s). Estes valores foram
adotados a partir de vídeos disponíveis na internet do começo do incêndio e depoimento dos
sobreviventes.

É importante ressaltar que o software possui limitações, como ocupantes presos, isto é,
ocupantes saem de forma racional do ambiente, não ultrapassando barreiras físicas, como
ocorre na realidade [12]. Essa limitação deixa a evacuação mais lenta, gerando resultados
conservadores.

4. RESULTADOS

Com base nos modelos criados, o primeiro resultado que se obtém diretamente é o tempo total
de evacuação. A Tabela 1 a seguir apresenta os tempos de escape para as simulações
desenvolvidas.

Boate com 691 ocupantes Boate com 1061 ocupantes


Tempo de Com guarda Sem guarda Com guarda Sem guarda
evacuação (s) corpos corpos corpos corpos
392s 200s 553s 300s
Tabela 1 – Tempos totais de evacuação

Percebeu-se, então, a influência dos guarda corpos, reduzindo o tempo total de escape em
48,98% para a boate com 691 ocupantes e 45,75% para a boate com 1061 ocupantes. Isso
pode ter ocorrido pelo fato de se formar um acúmulo de pessoas para passar em pequenos
espaços entre guarda corpos, conforme mostra a Figura 4a, e por um dos guarda corpos estar
posicionado em frente a uma porta que dá acesso à saída de emergência da boate. A Figura
4b e 4c apresenta a densidade do uso da edificação após a fuga, evidenciando a
desproporcionalidade no uso das rotas de fuga com e sem guarda corpos. Isto confirmou
também, que a menor largura existente é a condicionante para estabelecer a capacidade de
passagem das pessoas e que a saída de emergência deve seguir um caminho com fluxo
contínuo, com a menor mudança de direcionamento possível.

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Figura 4a – Acúmulo de Figura 4b – Densidade do uso Figura 4c – Densidade do uso


pessoas e representação da edificação após fuga: 1061 da edificação após fuga: 1061
dos guarda corpos pessoas com guarda corpos pessoas sem guarda corpos

Relatos e matérias jornalísticas, bem como estudos do incêndio ocorrido na casa noturna The
Station Night Club [13], em 2003, nos Estados Unidos, indicam que a boate não apresentava
condições ambientais de sobrevivência em aproximadamente 90s, ocasionada pela rápida
propagação da fumaça. Segundo a simulação computacional, na melhor hipótese de
evacuação simulada, isto é, 691 pessoas sem os guarda corpos, o tempo total de escape está
estimado em 200s. Logo, provavelmente haveria vítimas, pois há uma diferença de 110s entre
a habitabilidade da boate e a evacuação da mesma, o que ratifica a importância da aplicação
correta dos materiais de revestimento para aumentar o tempo de abandono para os usuários. A
Figura 5 apresenta a densidade da edificação aos 90s de evacuação, mostrando a pior
condição para saída das pessoas, e a melhor hipótese simulada.

Figura 5a – Densidade da Figura 5b – Densidade da


edificação aos 90s: 1061 edificação aos 90s: 691 pessoas
pessoas com guarda corpos sem guarda corpos

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Analisando a Figura 6(a) e 6(b) é possível verificar uma tendência linear de evacuação nos dois
casos, isso ocorre por exisitir somente uma porta para saída da boate, passando todo o fluxo
pelo mesmo local. Na Figura 6(a), percebe-se que a partir dos 450s os ocupantes têm tempos
de evacuação maiores, pois há formação de uma fila entre os guarda corpos, equanto as
outras rotas ficam vazias, o que não ocorre na boate sem guarda corpos.

Figura 6a – Evacuação da boate: 1061 Figura 6b – Evacuação da boate: 1061


pessoas com guarda corpos pessoas sem guarda corpos

Realizando uma análise da evacuação da pista em que ocorreu o incêndio, se percebeu uma
redução de 100s na desocupação do local, quando comparadas 1061 pessoas com e sem
guarda corpos. Além disso, a Figura 7(a) mostra que alguns ocupantes passam novamente por
esta pista após os 350s (pico existente logo após este tempo), buscando o escape, devido ao
tempo de espera na fila formada entre os guarda corpos do salão central ser alta.

Figura 7a – Evacuação da pista 1: 1061 Figura 7b – Evacuação da pista 1: 1061


pessoas com guarda corpos pessoas sem guarda corpos

Analisando a simulação de 1061 pessoas com guarda corpos, verificou-se que a pista 2 teve o
maior tempo de escape. Esta era a pista de dança mais distante do incêndio e da saída de

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emergência, portanto possuia um tempo de pré-movimento maior. Além disso, os ocupantes


abandonam o prédio pelo salão central, uma rota de fuga com alta taxa ocupação, o que é
desfavorável. A Figura 8 apresenta os maiores tempos de evacuação da boate, representados
pela cor vermelho escuro. Este fato ilustra a necessidade de existir saídas de emergência em
fachadas opostas, como consta na atual Resolução Técnica nº 11 - 2016 do CBMRS [14],
proporcionando melhor condição de escape em menor tempo, e alternativas para as pessoas
que possuem tempo de pré-movimento maior em ambientes diversos ao do acesso principal.

Figura 8 – Representação dos maiores tempos de abandono: 1061 pessoas com guarda
corpos.

5. CONCLUSÕES

A simulação computacional de abandono de edificações é uma potente ferramenta para análise


e realização de projetos para saídas de emergência, no entanto, não contempla todos os
fatores e influências de um ambiente real, devendo ser interpretado com cautela e por
profissionais especializados em segurança contra incêndio.

As simulações mostraram uma redução de aproximadamente 50% no tempo total de


evacuação da boate sem os guarda corpos, como também ratificou que o dimensionamento
das saídas de emergência seguindo os preceitos normativos de larguras mínimas,
desobstrução das rotas de fuga em caminho com fluxo contínuo, e principalmente de lotação
máxima do estabelecimento, conferem um tempo razoável para a saída segura dos ocupantes,
neste caso 200 segundos, o qual pode não ter sido disponibilizado devido à aplicação de
revestimentos inadequados ao ambiente e atividade do estabelecimento.

Isto mostra que para a obtenção de eficiência no abandono incólume de todos os usuários, a
segurança contra incêndio nas edificações deve ser aplicada de forma sistêmica, com o
entendimento de que as medidas de proteção são complementares, e que somente
concatenadas é que fornecerão um bom nível de segurança e o tempo de abandono
adequado. Em outras palavras, as saídas de emergência terão mais efetividade se forem
previstas conjuntamente com o alarme de incêndio, o controle de fumaça, a aplicação de
materiais de revestimento com as classes requisitadas e os sprinklers.

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6. REFERÊNCIAS

[1] SEITO, Alexandre Itiu et al. A segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto
Editora, 2008.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). - NBR 9077: Saídas de
emergência em edifícios. Rio de Janeiro, 2001.
[3] KOBES, Margrethe et al. Exit choice,(pre-) movement time and (pre-) evacuation
behaviour in hotel fire evacuation—Behavioural analysis and validation of the use of
serious gaming in experimental research. Procedia Engineering, v. 3, p. 37-51, 2010.
[4] SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Polícia
Militar. Corpo de bombeiros. - Instrução técnica n. 11/2015: Saídas de emergência. São
Paulo, 2015.
[5] KULIGOWSKI, Erica. Predicting human behavior during fires. Fire Technology, v. 49, n. 1,
p. 101-120, 2013.
[6] THUNDERHEAD ENGINEERING. Verification and validation – Pathfinder. Manhattan,
2015.
[7] GOUVEIA, Antônio Maria Claret de; ETRUSCO, Paula. Tempo de escape em edificações:
os desafios do modelamento de incêndio no Brasil. REM: Revista Escola de Minas, v. 55,
n. 4, p. 257-261, 2002.
[8] BERTO, A. F. Medidas de proteção contra incêndio: aspectos fundamentais a serem
considerados no projeto arquitetônico dos edifícios. Dissertação de Mestrado. FAUUSP.
São Paulo, 1991
[9] MONCADA, Jaime A. Caos o pánico...Qué pasa durante el processo de evacuación em
um incendio? NFPA Journal latinoamericano, jun. 2005, p. 4
[10] SFPE, E. G. Human behavior in fire. SFPE Engineering Guide, 2003.
[11] CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL
(CREA-RS). Analise do sinistro na Boate Kiss. Porto Alegre, 2013.
[12] GUIGAY, Georges J; SNORRASSON, Davið S. Fire and crowd evacuation modelling in a
low ceiling sport arena. Fire and Evacuation Modeling Technical Conference (FEMTC)
2014. Gaithersburg, 2014.
[13] GROSSHANDLER, William Lytle et al. Report of the technical investigation of the station
nightclub fire. Gaithersburg, MD: National Institute of Standards and Technology, 2005.
[14] RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública.
Polícia Militar. Corpo de bombeiros. Resolução Técnica n. 11/2016: Saídas de
emergência. Porto Alegre, 2016.

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AVALIAÇÃO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO: MÉTODO


ALTERNATIVO APLICADO A EDIFICAÇÕES BRASILEIRAS

André l. C. Cristiano Corrêa Emilia R. Kohlman


Hahnemann Mestre em Gestão do Rabbani
Mestre e graduado em Des. Local Sustentável Professora Associada
Engenharia Civil Pela Major do Corpo de e Livre Docente da
Universidade de Bombeiros Militar de Universidade de
Pernambuco Pernambuco Pernambuco
Capitão do Corpo de Ph. D. Em Engenharia
Bombeiros Militar de Civil e Ambiental
Pernambuco

Palavras-chave: Segurança. Incêndio. Legislação. Métodos.

1 INTRODUÇÃO

Não obstante a preocupação com a preservação da vida e do patrimônio existente em uma


edificação, um outro fator tem se adicionado à busca pela segurança contra incêndio por parte
dos proprietários das construções: a obtenção dos Autos de Vistoria do Corpo de Bombeiros
(AVCB), exigidos em Pernambuco pela Lei 11.186, de 22 de dezembro de 1994. Além de
resguardar os síndicos de condomínios ou responsáveis legais pelos prédios de
responsabilidades civis ou criminais, caso as edificações sejam tomadas por incêndios e,
destes, decorrerem consequências desastrosas, esse documento tem se tornado primordial
para a concessão de seguros, participação em licitações, liberação de vistorias de habite-se
por parte dos municípios etc.

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Parte-se da constatação de que, em Pernambuco, segundo dados do Centro de Atividades


Técnicas da Região Metropolitana do Recife, órgão pertencente ao Corpo de Bombeiros Militar
Estadual que realiza fiscalizações dos sistemas de segurança contra incêndio, até novembro
de 2015, aproximadamente 3000 processos de solicitações encontram-se pendentes por
algum tipo de entrave. Os motivos para que isto ocorra são diversos: dificuldades financeiras
para adequação à legislação vigente, duração da obra para o cumprimento das exigências ou
impossibilidades estruturais para se respeitar o que é prescrito no Código de Segurança
Contra Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco (COSCIP-PE).

Ao observar que cada unidade federativa do Brasil possui uma legislação própria sobre o
assunto, isso sem mencionar as regulamentações internacionais, percebe-se que existem
várias formas de estabelecer critérios de segurança ou de atestar que determinada edificação
apresenta as condições mínimas de proporcionar segurança aos seus usuários e de
prevenção a ocorrências de incêndios. Neste artigo, serão abordados alguns desses métodos
e escolhido um para que seja comparado à metodologia de avaliação em Pernambuco.

No Brasil, os normativos e legislações que tratam da segurança contra incêndios são muito
recentes. A ausência de grandes incêndios que resultassem em consideráveis perdas, seja do
patrimônio ou do quantitativo de vidas ceifadas, nunca permitiu, pelo menos até o início da
década de 70, uma relevante discussão acerca do tema no país. Somente a partir da
ocorrência de sinistros mais vultosos, as autoridades e pesquisadores passaram a perceber a
importância da implementação de regras mais rigorosas para as construções no intuito de
torna-las mais seguras para os seus ocupantes [1]. Seguindo esta tendência, após o trágico
incêndio ocorrido no munícipio de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, resultando em 242
vítimas fatais, as discussões para implantação de um código de segurança contra incêndio
nacional, implementadas pelo então Secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando
Corrêa, que resolveu constituir Grupo de Trabalho, em 14 de junho de 2015, com o objetivo de
elaborar estudos e apresentar uma minuta de projeto de lei que trate da segurança contra
incêndio e pânico em todo o território nacional, ganharam força.

Tabela 1 – Registros de grandes incêndios no Brasil


Local Data Consequências
Gran Circus Norte-Americano 503 vítimas fatais e cerca de
15 de dezembro de 1961
(RJ) 1000 feridos
01 vítima fatal e destruição
Indústria Volkswagen (SP) 18 de dezembro de 1970
total da fábrica
Edifício Andraus (SP) 24 de fevereiro de 1972 16 vítimas fatais e 336 feridos
Edifício Joelma (SP) 1 de fevereiro de 1974 179 vítimas fatais e 320 feridos
Lojas Renner (RS) 1976 41 vítimas fatais e 60 feridos
Boate Kiss (RS) 27 de janeiro de 2013 242 vítimas fatais e 680 feridos

Tendo em vista essa prematuridade das legislações, não é difícil para os órgãos de
fiscalização dos sistemas de segurança contra incêndios, representados pelos corpos de
bombeiros estaduais, se depararem com os problemas encontrados nas edificações
construídas anteriormente a esses normativos. Até 1970, em Pernambuco, não existiam

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normativos que disciplinassem a área e as exigências impostas eram baseadas nos códigos
de obrados munícipios [2]. Os conceitos arquitetônicos aplicados na construção de escadas,
ventilação e exaustão de fumaças, saídas de emergências, além dos critérios de exigência de
sistemas de combate a incêndios, como hidrantes, detecção e alarme e chuveiros
automáticos, por exemplo, são bem diferentes do que é praticado hoje.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para [3], as exigências impostas pelos corpos de bombeiros às construções são em


decorrência das observações dos grandes incêndios que resultaram nos chamados códigos
prescritivos, normas que se utilizam de critérios como área construída, altura da edificação
(seja em metros ou número de pavimentos) e tipo de ocupação (comercial, escolar, industrial
etc) para receitar quais as medidas de segurança a serem adotadas pelas edificações.

Sabe-se que é reservada aos Estados-Membros a chamada competência legislativa “residual,


remanescente ou reservada”, segundo a qual caberia a tais entes inovar a ordem jurídica
através de expedição de atos normativos infraconstitucionais. Desta forma, preceitua a Carta
Magna que a segurança pública se constitui em “dever do Estado, direito e responsabilidade
de todos”, sendo “exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio”. Entre os órgãos elencados em seu art. 144, encontra-se no inciso V,
“as polícias militares e corpos de bombeiros militares” [4].

Como resultado deste dispositivo legal, percebe-se no Brasil uma miscelânea de códigos de
segurança contra incêndio. Muito embora alguns deles sejam semelhantes em seus critérios
(às vezes até cópias fiéis uns dos outros), ressaltando-se a relevância das normas do Corpo
de Bombeiros Militar de São Paulo e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
que servem como base para grande parte, cada estado possui um normativo próprio para
tratar do assunto.

Conclui-se, tendo em vista a diversidade de normativos existentes, que não existe uma única
forma de se estabelecer critérios de segurança para os prédios. Sendo assim, buscar
alternativas diferentes das exigidas nas leis estaduais brasileiras para atestar que determinada
edificação encontra-se em condições de proporcionar segurança para os seus ocupantes é um
caminho para destravar os processos de obtenção de AVCB nos órgãos de fiscalização do
Brasil.

Nessa toada, os chamados códigos baseados no desempenho são implantados em alguns


países (como a Austrália, Japão, Inglaterra, Nova Zelândia, Canadá, entre outros), segundo
[3]. Para [5], as avaliações baseadas no desempenho permitem uma maior flexibilidade na
elaboração do projeto, acarretando em soluções mais econômicas para resolver questões
mais específicas de segurança contra incêndio. Segundo ela, os projetos baseados no
desempenho combinam cálculos e o conhecimento técnico dos princípios que regem essa
área da engenharia.

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[3] afirma que os códigos baseados no desempenho permitem que objetivos sejam traçados e
que vários caminhos possam ser percorridos, a critério do profissional responsável pela
avaliação, contanto que a segurança seja atingida. A tabela 2 estabelece um resumo
comparativo entre os códigos prescritivos e os baseados no desempenho, conforme Tavares
[3]:

Tabela 2 – Vantagens e desvantagens de códigos prescritivos e dos baseados no


desempenho
Códigos prescritivos Códigos baseados no
desempenho
Estabelecimento de objetivos
de segurança claramente
definidos, ficando a critério dos
engenheiros a metodologia
para atingi-los; flexibilidade
Interpretação direta com o
para a introdução de soluções
estabelecido nas normas e códigos,
inovadoras, as quais venham a
Vantagens sem necessidade de engenheiros
atender aos critérios de
com uma qualificação mais
desempenho; harmonização
específica na área para atuação.
com normas e códigos
internacionais; possibilidade de
projetos mais seguros e com
custo menor; introdução de
novas tecnologias no mercado.
Falta de explicação para as
recomendações prescrita; estrutura
Necessidade de treinamento
complexa; impossibilidade de
para a transição entre a
promover projetos mais seguros e
mudança na aplicação entre os
Desvantagens com custos menores; pouco
códigos; dificuldades na
flexíveis quanto à inovação,
validação das metodologias
portanto, dispõem de uma única
usadas na quantificação.
maneira de assegurar a segurança
contra incêndios.

Diante da possibilidade e da observância de outros meios de verificação de riscos de incêndio,


alguns métodos de avaliação são estudados, praticados e difundidos em outros países. [6]
alerta que se gerou uma corrida ao interesse de se pesquisar e aplicar os métodos de
avaliação de risco de incêndio na alternativa de verificar como se dá o desempenho das
edificações frente às ocorrências de incêndios em detrimento do que prescrevem os
regulamentos de segurança, tornando-se alternativas ao simples uso dos códigos e normativos
da área.

Para [7] os procedimentos de avaliação de riscos são eminentemente estudos destinados ao


conhecimento de eventos que não são desejáveis, utilizando-se do método de quantificação
das probabilidades de determinado risco. [8] ressalta que a importância da avaliação de risco

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está na capacidade de identificar as situações que sejam determinantes para a percepção e


entendimento do risco e que não sejam claros ou óbvios.

Em Pernambuco, é legalmente permitido ao Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco


deliberar sobre casos específicos acatando soluções que viabilizem a segurança das
edificações quando determinados entraves foram apresentados, através de resoluções
técnicas emitidas pela corporação, por solicitação dos proprietários das edificações ou órgãos
interessados ou ex-officio [9], o que, apesar da necessidade de alguns deles, não é prática
comum.

[10] diz que o único parâmetro válido para determinar quais as medidas relativas à segurança
contra incêndio a serem aplicada é o conhecimento exato do grau de risco desse sinistro, seja
quantitativa ou qualitativamente. Ele também lista os objetivos da avaliação de risco de
incêndio, tendo em vista a real necessidade de avaliá-los, São eles:

- o risco de que o incêndio comece;


- o risco de propagação de incêndio;
- o impacto de um incêndio sobre determinada empresa;
- as conseqüências humanas e materiais para terceiros, no caso do fogo ultrapassar os limites
para outras propriedades;
- as consequências humanas dos próprios funcionários da empresa e seus visitantes.

A seguir, a tabela 3 apresenta alguns dos métodos de avaliação de riscos de incêndio que tem
sido utilizados na avaliação de riscos de incendio na literatura:

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Tabela 3 – Métodos de avaliação de riscos de incêndio


Método Descrição
Parte da análise do acontecimento de um evento
Análise da árvore de falhas indesejado (incêndio, por exemplo), buscando suas
causas e o encadeamento do desastre.
Ao contrário do método da análise de árvore de falhas,
Análise da árvore de eventos
este avalia as consequências danosas do evento.
Baseia-se em dois procedimentos: um para calcular a
Método FINE (Avaliação
intensidade relativa de cada risco e outro para mensurar
Matemática do Controle de
os custos econômicos decorrentes das ações preventivas
Riscos)
a esses riscos.
Esse modelo classifica os riscos de incêndio nas
edificações em três níveis: baixo, médio e alto. A
Método do risco intrínseco classificação é dada em função da carga incêndio existe
em função de sua ocupação principal medidas em
megacalorias por metro quadrado.
O método tenta estabelecer um grau de periculosidade
para os compartimentos existentes e apresentar um
Método de Edwin E. Smith modelo de um possível incêndio na edificação em estudo
levando em consideração fatores como: inflamabilidade,
calor e fumaça emitidos e velocidade na propagação de
chamas.
É o método mais abrangente para avaliar os rsicos de
incêndio. Amplamente utilizado para avaliar os riscos em
grandes áreas e instalações. Permite avaliar
Método de Gretener
quantitativamente os riscos de incêndio através de
ponderações de fatores levados em consideração quando
da ocorrência de incêndios.

[11] ressaltam que os métodos de avaliação de riscos de incêndio são importantes


instrumentos para verificação da segurança do patrimônio e da vida. Ele afirma que o método
mais difundido para tal é o Método de Gretener, elaborado pelo engenheiro suíço Max
Gretener, em 1965, adotado três anos depois pelo Corpo de Bombeiros da Suíça como
ferramenta para avaliar os meios de proteção contra incêndio nas edificações.

O procedimento desenvolvido por Gretener tem como objetivo a determinação de um fator


global de segurança através de cálculos matemáticos, onde alguns fatores recebem uma
determinada pontuação. As variáveis deste processo são as mais diversas e muitas delas
independem das características construtivas das edificações, o que pode representar redução
de custos de implementação e procedimentos não invasivos do ponto de vista estrutural. São
exemplos dessas variáveis: treinamento de brigadas de incêndio, qualidade do corpo de
bombeiros local, distância da edificação ao quartel mais próximo, existência de vigilância
constante na edificação, entre outros. Caso este fator global seja igual ou superior a 1,00, a
edificação pode ser considerada segura.

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Seguindo o que versa a Norma Brasileira 14432:00 - Exigências de resistência ao fogo de


elementos construtivos de edificações, que permite a aplicação do Método de Gretener desde
adequado à realidade brasileira, [11] propuseram algumas adaptações ao método original. Foi
utilizada uma forma analítica de cálculo, ao invés de valores tabulares, com o intuito de
eliminar algumas descontinuidades existentes na obtenção de determinados valores.

Este método vem sendo aplicado, ainda que parcialmente, nos corpos de bombeiros de São
Paulo e Minas Gerais, além de possuírem estudos comparativos para justificarem sua
implementação no estado de Santa Catarina [12]. No Paraná, a regulamentação que permite o
uso da avaliação proposta por Gretener foi decretada em julho de 2000, sendo alterada em
março do ano seguinte. Dos 24 itens verificados pelo código de segurança do corpo de
bombeiros paranaense, 10 são baseados no método em questão [13].

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para subsidiar os estudos do método e as alternativas de avaliação de riscos de incêndio,


foram escolhidas duas edificações na cidade de Recife como estudo de caso. Uma delas tem
sua construção datada do século XVIII, com ocupação definida como templos religiosos e
possui restrições para modificações estruturais haja vista ser tombada pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Igreja da Madre de Deus. O Edifício Santo
Antônio, um prédio com ocupação comercial, apesar de não apresentar restrições de
tombamento, foi construída também anteriormente à implantação do Decreto-Lei 19.644, de 13
de março de 1997, que instituiu o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico para o
estado de Pernambuco.

Foram coletados dados das edificações para utilização do método e também com o intuito de
enquadrá-las na legislação vigente (área construída, altura, quantidade de pavimentos entre
outros). Além disso, foram vistoriadas as condições de segurança contra incêndio no tocante à
presença de equipamentos preventivos como também alguns questionamentos aos
responsáveis pelos prédios foram feitos com a finalidade de verificar o nível de treinamento
dos seus ocupantes no que diz respeito ao preparo em caso de incêndio.

À medida que foram verificadas as inconformidades com a legislação vigente e a


impossibilidade das correções seja por já estarem construídas ou ainda por serem tombadas,
o método alternativo (Gretener) foi aplicado e, constatado também o insucesso na obtenção do
índice mínimo de satisfação, algumas mudanças (sem intervenções estruturais) foram
propostas como adequações no intuito de pontuar e, consequentemente, atingir o índice
mínimo de segurança.

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4 RESULTADOS

A igreja da Madre de Deus está classificada, em Pernambuco, com a ocupação de Templos


Religiosos. Como tal e de acordo com o COSCIP-PE, baseando-se em sua área construída,
altura e quantidade de pavimentos, apresenta o diagnóstico explicitado na tabela 4:

Tabela 04 - Diagnóstico de sistemas preventivos para Igreja da Madre de Deus segundo o


COSCIP-PE.
Ocupação Templos religiosos (Tipo “P”)
Classe de Risco A

Altura da edificação (em metros) 21,83

Área construída (em m2) 1.041,83


Número de pavimentos 3
Extintores de incêndio de pó químico seco e escada
Sistemas existentes
comum
Extintores de incêndio de pó químico seco, água e
dióxido de carbono, sistema de iluminação de
Sistemas exigidos emergência, sinalização de emergência, sistemas de
hidrantes, sistema de proteção contra descargas
atmosféricas e escadas protegidas e enclausuradas

Diante do diagnóstico apresentado, percebe-se que a igreja não se enquadra nos requisitos
mínimos exigidos pela legislação em voga no estado de Pernambuco. As exigências a serem
cumpridas para o fiel cumprimento das especificações demandariam grandes intervenções
estruturais (como a mudança no tipo de escada e a instalação de reservatório para o sistema
de hidrantes, além do próprio sistema). Com o intuito de diminuir ou eliminar a necessidade
dessas mudanças, sem que as regras de tombamento sejam feridas e ainda trazer benefícios
para as edificações circunvizinhas (como a previsão de hidrantes públicos nas proximidades,
por exemplo), analisou-se a edificação pelo método de avaliação de risco de incêndio de
Gretener.

As figuras 01, 02 e 03 ilustram alguns dos fatores que interferem na obtenção do fator global
de segurança elencados por Gretener.

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Figura 01 – Hidrante público mais próximo da Igreja da Madre de Deus


Fonte: Google Earth (2015) e CBMPE (2015).

Figura 02 - Aberturas para ventilação e exaustão de fumaça da Igreja da Madre de Deus.

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Figura 03 - Ausência de compartimentação vertical no interior da Igreja da Madre de Deus.

A - Sacadas e janelas no interior da igreja; B – Escada do tipo comum; C – Balcão dentro da


própria edificação.

Após a coleta de dados e ponderar os valores dos fatores avaliados pelo método, têm-se os
seguintes resultados apresentados na tabela 05:

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Tabela 05 - Diagnóstico para Igreja da Madre de Deus segundo o Método de Gretener.


Medida de proteção Itens avaliados Valor calculado
Medidas normais de Extintores, hidrantes, adução de água,
0,218
proteção treinamento da brigada de incêndio.
Modos de detecção, transmissão de
Medidas especiais de
alarme, qualidade do corpo de 1,2
proteção
bombeiros e exaustão de fumaça.
Tempo de resistência ao fogo das
Medidas construtivas de
estruturas de fachada, lajes e 1,79
proteção
divisórias.
Carga de incêndio, combustibilidade,
Risco de incêndio 1,44
enfumaçamento e toxicidade.
Área e altura do compartimento e
Mobilidade 1,216
serviço de ocupação da edificação
Fator global de segurança 0.41

Como a satisfação da segurança, de acordo com o método, é atingido quando o fator global
iguala ou supera 1,00, verifica-se também que a igreja da Madre de Deus não apresenta
índices favoráveis sugeridos por Gretener. Para atingi-los, algumas sugestões são propostas:

✓ Redimensionamento e recarga dos extintores de incêndio e correto dimensionamento;


✓ Treinamento de funcionários para situações de incêndio;
✓ Vigilância noturna com acesso ao telefone;
✓ Instalação de sistema de detecção Wi-Fi (sem intervenção estrutural);
✓ Instalação de extinção a gás;
✓ Redimensionamento da rede de hidrantes públicos (benefícios a outras edificações).

Caso sejam aplicadas as soluções acima (que não exigiriam modificações estruturais a
edificação tombada pelo IPHAN), o fator global de segurança atingirá o valor de 0,97. A rigor,
não satisfaz o mínimo exigido, apesar de muito próximo. Porém, a instalação de hidrantes
prediais, sem reservatórios e pressurizados por viaturas de combate a incêndio, o que traria
pequenas alterações estruturais, com instalações de tubulações aéreas, elevaria o índice a
2,11, ultrapassando o limiar satisfatório.

O edifício Santo Antônio é classificado no COSCIP-PE com a ocupação comercial. Aplicando-


se os mesmos critérios de enquadramento da edificação anterior, tem-se o diagnóstico de
acordo com o método do COSCIP-PE na tabela 06:

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Tabela 06 - Diagnóstico de sistemas preventivos para o Edifício Santo Antônio segundo o


COSCIP-PE.
Ocupação Comercial (Tipo “E”)
Classe de Risco B

Altura da edificação (em metros) Aprox.. 16 metros

Área construída (em m2) 5.056,58


Número de pavimentos 5
Extintores de incêndio de pó químico seco,
Sistemas existentes
hidrantes (sem condições) e escada comum
Extintores de incêndio de pó químico seco, água e
dióxido de carbono, sistema de iluminação de
emergência, sinalização de emergência, sistemas
Sistemas exigidos
de hidrantes (manuetnido), escadas
enclausuradas, sistema de detecção e alarme de
incêndio e chuveiros automáticos.

Fica evidente que o prédio comercial não se enquadra ao que exige o COSCIP-PE. As
exigências para a adequação também demandariam grandes mudanças estruturais. Acontece
que esta edificação não possui impedimentos dos órgãos de proteção do patrimônio histórico,
sendo os empecilhos para adequações apenas questões econômicas para o proprietário.
Somente uma delas, a transformação da escada aberta existente em escada enclausurada,
torna-se impossível devido à arquitetura da edificação.

Após a coleta de dados e ponderar os valores dos fatores avaliados pelo método, têm-se os
mostrados na tabela 07, a seguir:

Tabela 07 - Diagnóstico para o Edifício Santo Antônio segundo o Método de Gretener.


Medida de proteção Itens avaliados Valor calculado
Medidas normais de Extintores, hidrantes, adução de água,
0,363
proteção treinamento da brigada de incêndio.
Modos de detecção, transmissão de
Medidas especiais de
alarme, qualidade do corpo de 1,785
proteção
bombeiros e exaustão de fumaça.
Medidas construtivas de Tempo de resistência ao fogo das
1,576
proteção estruturas de fachada, lajes e divisórias.
Carga de incêndio, combustibilidade,
Risco de incêndio 1,49
enfumaçamento e toxicidade.
Área e altura do compartimento e
Mobilidade 0,933
serviço de ocupação da edificação
Fator global de segurança 0.95

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Como no caso anterior, o índice mínimo não foi satisfeito, apesar de estar muito próximo, o
que poderia ser aceitável. Porém, como a edificação também não se enquadra ao legislativo
estadual vigente, sugere-se algumas correções:

✓ Instalação de detectores interligados, conforme modelo estabelecido pelo COSCIP-


PE;
✓ Instalação de chuveiros automáticos.

Figura 04: Previsão de detecção automática e chuveiros automáticos nos pavimentos do


edifício Santo Antônio.

Com a instalação do modo de detecção automática, o fator global de segurança elevaria de


0,95 para 1,38. Combinado com a instalação de chuveiros automáticos, passaria para 2,77. A
instalação apenas dos chuveiros, sem a previsão do sistema de detecção, elevaria o fator para
2,00.

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5 CONCLUSÃO

Diante dos problemas que decorrem com o não cumprimento dos requisitos mínimos de
segurança por parte das edificações (impedimento para emissão de AVCB, falta de segurança
para as edificações, entre outros), surge a necessidade de serem vislumbrados novos
métodos de obtenção dos índices mínimos aceitáveis como alternativa para o funcionamento
dessas edificações obedecendo ainda a índices aceitáveis de segurança.

As legislações estaduais brasileiras possuem, com algumas exceções, parâmetros diferentes


de avaliações, o que se permite constatar que não existe apenas uma forma de assegurar que
um prédio é seguro ou não contra ocorrências de incêndio. No Brasil e em países da Europa,
alguns métodos são utilizados destacando-se o elaborado pelo engenheiro suíço Max
Gretener.

Escolhidos dois casos em Pernambuco, comprovou-se que a aplicação desse método pode
estabelecer a segurança nas edificações sem que grandes intervenções estruturais,
modificando-se e ajustando-se fatores que de fato são importantes em caso de incêndio.

Esses ajustes são importantes, haja vista que o potencial de uso de prédios que não se
enquadram nas legislações prescritivas em vigência não pode ser descartado, sob pena de
prejuízos à economia das cidades e do não aproveitamento dos imóveis para fins que tragam
desenvolvimento para a sociedade.

REFERÊNCIAS

[1] SEITO, A.I. et al. (Ed.). “A segurança contra incêndio no Brasil”. 2008. 484p.
[2] SILVA, Andreza Carla Procoro. “Gerenciamento de riscos de incêndios em espaços
urbanos históricos: uma avaliação com enfoque na percepção do usuário”. 2006. 207 pg.
[3] TAVARES, R. M., PROCORO, A. C., DAYSE, S. “Códigos prescritivos x códigos
baseados no desempenho: qual é a melhor opção para o contexto do brasil?” . 2002. 8p.
[4] BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988.
[5] ONO, Rosaria. “Parâmetros para garantia da qualidade do projeto de segurança contra
incêndio em edifícios altos”. 2007. 17p.
[6] BUKOWSKI, R.W. “An Overview of Fire Hazard and Fire Risk Assessment in Regulation”.
2006. 6p.
[7] WATTS, J.; HALL, J.R. “Introduction to Fire Risk Analysis”.2002. 7p.
[8] VENEZIA, A. P. P. G. “Avaliação de risco de incêndio para edificações hospitalares de
grande porte - uma proposta de método qualitativo para análise de projeto”. 2011. 384p.
[9] PERNAMBUCO. Decreto-Lei nº 19.644. Regulamenta o Código de Segurança Contra
Incêndio e Pânico (COSCIP-PE), de 13 de março de 1997.
[10] VALENTÍN, L.R.L. La Evaluación del Riesgo de Incendios. Espanha, 2009.
[11] SILVA, V. P. COELHO FILHO, H. S.. “Índice de segurança contra incêndio para
edificações”. 2007. 22p.

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[12] SOUZA, S. P. M., BACK, N. Risco de incêndio – Estudo comparativo entre o método de
Max Gretener e a NSCI/94 – CBM/SC. Universidade do Extremo Sul Catarinense.
Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Engenharia Civil), Santa Catarina,
2012.
[13] CARNEIRO, L. G., XAVIER, A. A. P. Adaptação do método de Gretener a legislação de
prevenção contra incêndios – proposta para o código do estado do Paraná. Revista de
Engenharia e Tecnologia, v. 3, n. 3, p. 11-23, Paraná, 2011.

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AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE SPRINKLER

Dayse C. Duarte* Luiz Henrique Lindalva S. Silva


Universidade Federal Araújo Universidade Federal
de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife, Brasil de Pernambuco Recife Brasil
Recife, Brasil

Resumo:

A prática da engenharia de incêndio, atualmente, no Brasil está baseada na legislação. Esta


postura foi apropriada no passado devido a limitação do conhecimento e da tecnologia.
Atualmente, há um maior número de especialistas em proteção contra incêndio; os
computadores e programas nos permitem simular cenários de incêndios com uma precisão
aceitável, sendo possível fazermos avaliações de segurança contra incêndio baseadas na
dinâmica do incêndio. Uma cultura de avaliação baseada nos códigos e normas poderá levar
ao colapso cultural das nossas organizações. Esta cultura baseada no código já foi substituída
em vários países, contudo no Brasil ainda prevalece a cultura dos desastres, ou seja,
recomendações prescritivas, onde os métodos de avaliação são fracamente vinculados as
boas práticas de engenharia.

Com a intenção de lança alguma luz no entendimento das variáveis que contribuem para o
sucesso ou fracasso do sistema de sprinkler, o objetivo do presente trabalho é propor um
método de avaliação para o sistema de chuveiro automático. Pois, em algumas situações a
implementação das boas práticas de engenharia não responde ao seguinte questionamento: O
quanto seguro é o suficientemente seguro?

Palavras chaves: Recomendações Prescritivas, Desempenho, Confiabilidade.

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1. INTRODUÇÃO

Uma termoelétrica ou uma refinaria representa um sistema com muitas partes, subsistemas,
que interagem entre si e com o mundo (cosmo) no seu entrono. Para entender como os
acidentes acontecem é necessário visualizar as interações entre os subsistemas. A existência
de muitos subsistemas não é problema para os engenheiros que projetam e operam o sistema,
se as interações são previsíveis e óbvias, i.e. desejáveis. Em outras palavras, enquanto
algumas interações são familiares outras não são visíveis ou não são compreendidas de
imediato. Os projetistas poderão antecipar algumas interações indesejáveis outras não.
Algumas dessas interações poderão resultar em uma sequência de eventos (i.e. falhas) que
poderá conduzir a um acidente. As interações não desejáveis poderão ser prevenidas, por
exemplo, um vazamento de gás e sua subsequente ignição poderão influenciar alguns
aspectos do projeto: a) localização das defesas ativas, b) localização dos detectores de gás, c)
tipos de sistemas de supressão, e d) os equipamentos para situações de emergências.

As interações não desejáveis e identificadas poderão se prevenidas ou mitigadas através das


barreiras de proteção do sistema. As barreiras de prevenção tem a função de prevenir a falha,
evitar que o acidente aconteça. Por outro lado, as barreiras de mitigação buscam mitigar as
consequências de um eventual acidente e provável efeito dominó. O sucesso das barreiras de
proteção depende da interação de ações combinadas realizadas através dos sistemas de
proteção redundantes do sistema e das proteções passivas ou ativas destinadas a mitigar o
impacto do acidente. As funções das barreiras de proteção são: 1) criar um entendimento sobre
as falhas; 2) dar uma indicação clara das falhas; 3) alterar ou interromper uma falha eminente;
4) de intertravamento; 5) reiniciar o sistema após uma situação anormal; 6) barreira física e 7)
de resgate e fuga. É objetivo do presente estudo propor um método de avaliação para o
sistema de sprinkler que é uma barreira ativa de mitigação. A estruturação do método proposto
foi baseada nos transformadores de potência refrigerados a óleo mineral, os quais poderão
estar no interior de uma hidroelétrica (i.e.uma edificação) ou no patio de uma subestação.

2. O SISTEMA DE CHUVEIRO AUTOMÁTICO

Segundo a NFPA 850 (item 7.8.6) [1] os transformadores, em que o líquido isolante é o óleo
mineral, que não atenderem as distâncias mínimas de separação ou não possuírem parede
corta-fogo devem ser protegidos por sistemas automáticos de água ou espuma. O sistema de
água deve ser projetado, instalado e mantido conforme recomenda a NFPA 15 [2].
O sistema automático de água (i.e. water spray systems) controla o incêndio no transformador
através do princípio da emulsificação da água com óleo. A emulsão é formada quando dois
líquidos imiscíveis são colocados em contato e há a tendência para que um dos líquidos torna-
se disperso no outro. A extinção do incêndio é alcançada aplicando-se água a certos líquidos
flamáveis, devido ao resfriamento da superfície do óleo e a eliminação dos vapores flamáveis,
ou seja, a superfície do óleo torna-se não flamável. Para a proteção do transformador este
deve ser completamente envolvido em finas gotículas de água, Figura 1.

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Figura 1. Sistema fixo de água para transformadores em um dique de contenção.

Há um consenso nas recomendações da FM Global Data Sheets 4-1N e 5-4 de 2010 [3,4],
IEEE 979-2012 [5] e NFPA 15 (Edição 2012)[2] para o projeto do sistema de water spray. Em
outras palavras, água deve ser aplicada a uma densidade não inferior a 10,2(L/min)/m 2 sobre
todo o transformador, exceto na sua parte inferior que deve ser 6,1(L/min)/m 2 . O suprimento de
água deve ser dimensionado para fornecer água durante 1 hora incluindo o fornecimento de
946L/min, para o combate manual através de mangueiras.
Se uma instalação possuir vários transformadores o sistema fixo de água deve ser projetado
para operação simultânea, i.e., para o transformador envolvido em chama e os adjacentes. Por
exemplo, em um bay com seis (6) transformadores, o sistema de water spray deve ser
dimensionado para a atuação de no mínimo três (3) transformadores.
A tubulação do sistema fixo de água não deve ser posicionada acima do transformador ou ficar
próxima às válvulas de alívio. Os dispersores de água não devem ser direcionados para as
buchas. A distância mínima entre os componentes do sistema water spray, tais como
tubulação, dispersores, etc. e o transformador é de 45,7cm, segundo a FM Global 5-4 [4].

3. EXPERIÊNCIA BRASILEIRA

No Brasil a proteção contra incêndio é baseada nas observâncias de recomendações nacionais


e internacionais (ou seja, recomendações prescritivas) que são implementadas durante o
projeto, construção e operação/manutenção do sistema. Porém, raramente são propostos
pelos profissionais de segurança treinados e habilitados aos envolvidos com o projeto do

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sistema ao longo do seu ciclo de vida: metas, objetivos e critérios de danos associados a
prevenção e mitigação dos incêndios.
Por exemplo, no setor elétrico brasileiro há inúmeras subestações no nosso sistema de
geração, transmissão e distribuição, as quais foram projetadas e construídas baseadas em
interpretações de código e normas (boas práticas de engenharia) o que nos permite
reconhecer que o desenvolvimento do incêndio no transformador será distinto para cada
subestação. No Brasil uma pesquisa realizada pelo CIGRE [6] revelou que as taxas de
explosão e incêndios associadas aos transformadores de potência refrigerados a óleo mineral
são 0,19%pa e 0,08%pa, respectivamente. Ou seja, primeiro o transformador irá explodir
depois queimar, porém a explosão só será seguida de incêndio se a temperatura do óleo for
maior do que a sua temperatura de auto-ignição. Apesar da NFPA 15 recomendar a instalação
do sistema de water-spray para os transformadores, este ficará inoperante após a explosão.

Por outro lado, a implementação de boas práticas de engenharia não é uma credencial que nos
permita assegurar que o projeto de nossas subestações é a prova de incêndio. Por exemplo,
um autotransformador de 150MVA protegido por um sistema de water spray foi envolvido em
chama como resultado de uma falha na bucha, apesar de estar protegido pelo sistema de
water spray, Figura 2. O sistema de water spray simplesmente não funcionou conforme
esperado quando o incêndio iniciou na bucha. Com resultado, o incêndio propagou-se. Além da
existência do sistema de water spray, projetado e instalado conforme as normas, há outras
incertezas que são relevantes para o controle ou extinção do incêndio, tais como: Água é o
agente extintor adequado para o controle do incêndio? O agente extintor fluirá no momento em
que o sensor de calor (sprinkler head) for ativado? Quando o sensor for acionado pelo incêndio
a água fluirá, se as válvulas destinadas a sua liberação estiverem abertas. Água fluirá na
quantidade necessária para o controle do incêndio?

t1 t2 Tempo

Figura 2. Propagação do incêndio no transformador.

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A impressão que prevalece entre os tomadores de decisão: o governo, o operador do sistema,


agências reguladoras e as concessionárias de energia elétrica é que a segurança contra
incêndios pode ser atingida através da aderência as recomendações prescritivas. Esta forma
de pensar e projetar é apropriada para um sistema imutável, contudo o entorno do
transformador é dinâmico. A segurança contra incêndio do transformador requer
recomendações baseadas no entendimento de como o transformador e o sistema, ao qual está
conectado, se comportaram quando ocorrer uma falha catastrófica. Este entendimento envolve
a sequência de eventos antes, durante e após o incêndio.

A pergunta a ser feita não é se o sistema de sprinkler irá atuar, mas quando? Para o período
de tempo 0-t1 temos absoluta certeza de que o sistema não irá atuar. Para o período
compreendido entre t1 e t2 há incertezas quanto a atuação do sistema. Porém, no período entre
t2 e t3 temos absoluta certeza de que o sistema irá atuar. A análise baseada no desempenho
não busca responder ao questionamento se o sistema de water spray foi instalado conforme as
boas práticas de engenharia. Ao contrário a pergunta a ser respondida é o sistema irá atuar
conforme esperado?

4. AVALIAÇÃO DO SISTEMA

O método de avaliação de qualquer sistema deve iniciar pelo entendimento do fenômeno físico
ao qual está associado. Por exemplo, a função principal do sistema de chuveiro automático é
controlar o incêndio. Logo, é imprescindível o entendimento da dinâmica do incêndio. A Figura
3 representa a energia liberada por um incêndio em função do tempo.

Figura 3. Curva de um incêndio qualquer.

No presente estudo a ignição é definida como a energia mínima necessária para iniciar o
processo de combustão. Sendo o incêndio uma reação exotérmica iniciada em um pacote de
combustível, a qual poderá se auto-extinguir se a energia perdida para o ambiente for maior do
que a energia produzida pela reação. Ao contrário, se após a ignição a energia produzida for
maior do que a dissipada ocorrerá o estabelecimento da chama. Se a chama está estabilizada
há a possibilidade do ambiente ser envolvido pela chama, ou seja atingir o flashover. Se

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desejamos proteger as pessoas e o patrimônio a temperatura dos gases aquecidos do teto não
devem atingir a temperatura de 600oC.

Em outras palavras, o incêndio é iniciado em um pacote de combustível, talvez um


transformador. Combustível é qualquer coisa que queima. Alguns combustíveis possuem uma
elevada temperatura de ignição e diferentes características de combustão, o ponto de fulgor do
óleo mineral é aproximadamente 150oC. Tais características afetam a velocidade de
propagação da chama. Tendo iniciado o processo de combustão, i.e. o incêndio, uma coluna
de gases quente e produtos de combustão é formada, sendo responsável pela ativação do
sistema de sprinkler. Vale ressaltar que, os obstáculos da arquitetura ou do layout podem
impedir que a coluna de gases quente atinja os sensores e impeçam a atuação dos mesmos.
Também os obstáculos podem impedir que a água atinja a chama.

Se o sistema de sprinkler está presente o sucesso em controlar ou extinguir o incêndio


depende do projeto, instalação e manutenção. O projeto é associado ao controle de qualidade
da manufatura de todos os componentes do sistema, tais como tubulação, bombas, sensores,
entre outros. A instalação está relacionada com o controle da montagem do sistema. O
sucesso do sistema depende de sua manutenção no tempo. Se a manutenção não é uma
prioridade da organização a sua probabilidade de sucesso em controlar o incêndio será
reduzida ao longo do tempo.

O acionamento dos chuveiros automáticos depende do calor que incide nos sensores, os quais
operam uma válvula automática de inundação possibilitando que água flua através dos
dispersores de água, Figura 1. A aplicação do agente expressa o sucesso ou falha de que a
água fluirá através dos componentes do sistema, sendo essencial ter pressão, tempo e fluxo
adequados para controlar o incêndio, Figura 4.

Figura 4. Avaliação do sistema de sprinkler.

A água fluirá através do sistema se as válvulas estiverem abertas quando o elemento sensor
atuar. O sucesso depende da cultura de segurança e da política de manutenção da
organização. Dado que a água irá atingir os dispersores de água, o sucesso em controlar um
incêndio de um determinado tamanho envolve o entendimento da interação entre o incêndio e

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a quantidade de água fornecida pelo sistema, ou seja do projeto do incêndio. Mas o que é o
projeto do incêndio?

Quando um engenheiro estrutural projeta uma viga, os esforços a que ela estará submetida
devem ser previstos. Da mesma forma as proteções contra incêndios devem estar em
conformidade com o tipo de incêndio mais provável de acontecer. Devem ser previstos a
quantidade de material que irá queimar e o tempo associado, tendo-se por finalidade ajudar os
técnicos a formarem uma opinião sobre as possíveis consequências e estabelecer o
embasamento necessário para o dimensionamento das barreiras de proteção, i.e., o
dimensionamento das proteções ativas e passivas dependem do projeto do incêndio.

As mudanças na edificação ou no processo poderão afetar o sistema de sprinkler de duas


maneiras. Primeiro, podem alterar drasticamente o projeto do incêndio. Segundo, uma
blindagem pode ser formada entre o sprinkler e o incêndio. Os obstáculos podem ser
identificados nas novas construções (tais como, paredes, dutos de refrigeração ou bandejas de
cabos de potência ou de comunicação, etc.), obstruções verticais e horizontais abaixo dos
sprinklers, tetos inclinados, colunas, vigas, entre outros. As influências dos obstáculos podem
variar enormemente. Em um extremo a sua influência pode ser mínima na distribuição da água.
No outro extremo podem contribuir para a falha do sistema. As recomendações do National
Fire Protection Association para novas edificações incorporam medidas para prevenir que
obstruções ocorram.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se o estabelecimento da chama é alcançado a água fluirá através dos dispersores de água se


todas as válvulas estiverem abertas quando o elemento sensor atuar e se não houver
obstruções, por exemplo detritos na tubulação. Dado que a água atinja o sprinkler o sucesso
em controlar um incêndio de tamanho x para uma área y depende da interação entre o sistema
de chuveiro automáticos e o projeto do incêndio.
O tamanho das gotículas é igualmente relevante, por que? As gotículas de água em contato
com o fogo formarão vapor de água que é a principal fonte de retirada de calor, ou seja,
controle do incêndio. Em ambientes pequenos a grande quantidade de vapor de água contribui
para criar uma barreira entre a chama e o oxigênio. As gotículas pequenas são mais eficientes
para a formação de vapor de água do que as gotículas maiores. Porém, as gotículas pequenas
não são apropriadas para ambientes grandes, em que o combustível produz uma rápida
liberação de calor e a pressão do incêndio afasta o vapor de água antes da expulsão do
oxigênio [7].

Os sistemas de sprinklers possuem uma capacidade limitada. Quanto muitos sprinklers são
ativados a quantidade de água e a sua pressão são reduzidas. Se a capacidade do sistema é
atingida e o incêndio não é controlado, a probabilidade de sucesso do sistema é reduzida. Para
um determinado tamanho de incêndio, o sucesso do sistema em controlar o incêndio depende
do sucesso da atuação do sensor, da aplicação do agente e da existência ou não de
obstruções. Concluíndo, o método de avaliação proposto está baseado nos seguites
questionamentos:

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1. Todos os sprinklers que protegem uma dada área irão atuar antes que o incêndio se
propague além da área protegida?
2. A água fluirá através dos sprinklers em quantidade, pressão e duração para controlar
o incêndio?
3. As obstruções existentes no sistema ou no seu entorno poderão impedir que a água
alcance a chama?

REFERENCES

[1] NFPA 850, Recommended Practice for Fire Protection for Electric Generating Plants
and High Voltage Direct Current Converter Station, 2010.
[2] NFPA 15, Standard for Water Spray Fixed Systems for Fire Protection, 2012
[3] FM Global, Property Loss Prevention Data Sheets 4-1N: Fixed Water Spray System
for Fire Protection, May de 2010.
[4] FM Global, Property Loss Prevention Data Sheets 5-4: Transformer, May de 2010.
[5] IEEE Std 979, Guide of Substation Fire Protection, 2012.
[6] Bastos, G., An Analysis of The Increase on Transformer Failure Rate Phenomena and
Measures Taken to Improve Transformers Reliability, In the proceedings of the
CIGRE Bienal in Paris (France), 2006.
[7] David R. Hague, Fire Protection Systems for Special Hazards, pgs. 22 e 23, National
Fire Protection Association, Quincy, Massachusetts, 2004.

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COMBATE A INCÊNDIO: O TREINAMENTO INTENSIVO E A MELHORIA


NO CONSUMO DE AR EM EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO
RESPIRATÓRIA

Cristiano Corrêa Aline Falcão Anderson Souto Castro


Corpo de Bombeiros Militar de Corpo de Bombeiros Corpo de Bombeiros Militar de
Pernambuco Militar de Pernambuco Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Tiago Ancelmo C. Pires José Jéferson Rêgo Silva


Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

George Cajaty Braga Bismark Alexandre Pereira da Silva


Corpo de Bombeiros Militar do DF Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco
Brasília - DF, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: Combate a Incêndio; Equipamento de Proteção Respiratória; Treinamento


para Combate a Incêndio.

1. INTRODUÇÃO

Estruturas mais resilientes e seguras, com a devida instalação e manutenção de medidas de


proteção passiva e ativa, são um enorme predicado na segurança contra incêndio [1]. Todavia
o aparelho de pronta resposta aos incêndios deve ser bem mensurado e adequado às
peculiaridades destes. No Brasil os Corpos de Bombeiros Militares possuem a atribuição de
prestar este serviço, de forma plural e irrestrita a toda população.

O aperfeiçoamento constante dos profissionais responsáveis pelo combate aos incêndios é


algo a ser perseguido em todas as partes do mundo, mantendo um treinamento continuado na
busca da eficácia requerida em momentos de sinistros.

Os trajes de combate a incêndio são suplementados por proteção respiratória, visto a atividade
ser realizada, quase sempre, em local tomado por fumaça ou na presença de gases tóxicos ou
desconhecidos. Esta proteção é, regra geral, fornecida através de um Equipamento de
Proteção Respiratória – EPR autônomo, que contem em um cilindro com ar respirável
comprimido, válvulas de redução de pressão, uma máscara panorâmica e corpo estrutural
anatômico, além de mangueiras e acessórios fundamentais ao seu uso.

Deste modo a permanência de um bombeiro em atuação em um local de incêndio está


diretamente relacionado com a capacidade deste equipamento. Em primeiro momento a
disponibilidade de ar respirável do EPR é fornecida pela capacidade do cilindro e sua pressão.
Em seguida esta quantidade de ar respirável é ponderada pelo fluxo de ar consumido pelo
bombeiro que usa o equipamento (1).

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Q=PxV T = Q / Cons. (1)


Onde: Q – Quantidade de ar respirável
P – Pressão nominal do cilindro
V – Volume interno do cilindro
T – Tempo total de trabalho
Cons. – Consumo médio relativo ao Esforço

Para a definição do índice de consumo médio, necessário para estimar o tempo das equipes
em intervenção, foram definidos três parâmetros na literatura [2][3] a partir do esforço que a
atividade executada sugere.

Naturalmente, uma inspeção em áreas contiguas ao foco principal de incêndio não exige tanta
capacidade respiratória quanto, por exemplo, transportar uma vítima desacordada, definindo-se
assim três padrões de consumo para esforços: leve, moderado e grande [2].

Estes parâmetros foram definidos, sobretudo, a partir de estudos na América do Norte e


Europa Ocidental, utilizando, quase sempre, uma amostragem de bombeiros em atividades as
quais simulassem os ditos níveis de esforços [2][3][4][5][6].

Contudo em 2015 [4] foi proposto um protocolo experimental para o cálculo do consumo do
EPR que observasse as características específicas de cada corporação de bombeiros, fazendo
aferições em esteiras ergométricas e com os profissionais trajando seu equipamento de
penetração nos incêndios e o próprio EPR, conforme se vê a seguir:
.

Figura 1: Fases do Protocolo Experimental para cálculo do consumo de ar com EPR [7].

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Neste artigo apresenta-se a comparação6 do resultado das aferições de consumo do EPR, a


partir do protocolo suscintamente referendado [7], de bombeiros que passaram por três
semanas de treinamento intensivo de técnicas de combate a incêndios urbanos, no bojo do
Estágio de Operações de Combate a Incêndio (EOCI), do Corpo de Bombeiros Militar de
Pernambuco - CBMPE, Brasil.

2. TREINAMENTO INTENSIVO

Os bombeiros como interventores de primeira resposta, devem está em constante treinamento.


Os Corpos de Bombeiros Militares tem em sua rotina a instrução continuada, como uma de
suas estratégias operacionais, em Pernambuco além da capacitação regular, outras em caráter
continuado buscam aperfeiçoar as ações dos bombeiros diretamente empenhados no combate
a incêndio em edificações, o EOCI é parte desta estratégia acontecendo regularmente desde
2014.

O treinamento conta com uma quantidade restrita de discentes (12 a 18) e se desenvolve no
âmbito da própria instituição, sobretudo com o uso do Centro de Instrução e suas várias
oficinas, no transcorres de três semanas em tempo integral, com uma única folga semanal.

3. MÉTODO E AFERIÇÕES

No primeiro dia letivo de instrução a última turma do EOCI de 2016 foi convidada a participar
do teste para aferição de consumo conforme o protocolo em uso no CBMPE [7]. Sendo
aferidos os resultados, não só de consumo mais também: frequência cardíaca, temperatura
antes e depois das etapas de teste, pesagem com e sem equipamento e pressão arterial, todos
como parâmetros de segurança para a execução dos testes. Foi ainda assinado por parte dos
discentes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual é sinteticamente
apresentado os objetivos e riscos da pesquisa, em consonância com as boas práticas de
pesquisa.

O protocolo consistia, após a equipagem completa do Bombeiro, em caminhar na esteira


ergométrica sem angulação e programada para 10 minutos a uma velocidade de 4 km/h
(simulando um esforço pequeno ou leve).

Após 20 minutos de repouso o mesmo profissional, igualmente trajado, faz uso da esteira pelo
período de 8 minutos a uma velocidade de 6 km/h, estimando um esforço mediano ou médio.

Finalmente e depois de nova sessão de descanso por 20 minutos, o Bombeiro subia a esteira
com a equipagem, para correr sobre ela, por 06 minutos, a uma velocidade de 8 km/h,
considerando um esforço grande.

Durante as três semanas seguintes os discentes, passaram por intensa carga de treinamento,
quase sempre trajando o equipamento de aproximação e muitas vezes o EPR. Posteriormente

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e no último dia antes do simulado de fechamento do estágio, os mesmos bombeiros passaram


pelo mesmo teste de aferição de consumo.

Figura 2 – Aferições realizadas com discentes do Estágio de Operações de Combate a


Incêndio - 2016.

3. RESULTADOS

Após três semanas de treinamento intensivo os bombeiros tiveram uma consistente melhoria
na valência relativa ao consumo do EPR, equipamento fundamental nas operações de
Combate a Incêndio. Esta assertiva baseia-se, sobretudo, pelos consumos médios (média
aritmética do consumo dos discentes), no início e no final do Estágio de Operações de
Combate a Incêndio, onde foram aferidos respectivamente 53,1 62,1 e 139,3 litros por minuto
no início do estágio, e 43,0 60,1 e 98,4 litros por minuto em seu final, para os consumos
relacionados a esforços leve, médio e grande.

Gráfico 1 – Consumo Médio Aferido dos Bombeiros Antes e Depois do Treinamento.

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Tal melhoria pode representar o aumento do tempo efetivo de um bombeiro em operação, que
suplantou 29% durante ações que exijam um esforço grande, melhorando a desempenho
individual e coletivo das equipes.

Esta melhoria na média é bastante relevante, contudo chama atenção alguns Bombeiros em
particular, como um dos cursistas que durante o teste de ingresso durante atividade leve
consumiu 72,0 litros a cada minuto em média, em um esforço moderado seu consumo médio
foi de 83,3 e em esforço grande foram consumidos 151,5 litros de ar a cada minuto. Neste caso
individual, as melhorias no consumo por grau de esforço foram respectivamente de: 45% (49,5
l/min), 32% (63,0 l/min) e 55% (97,5 l/min).

Gráfico 2 – Consumo Aferido Antes e Depois do Bombeiro que mais evoluiu no Treinamento.

5. CONCLUSÕES

Compreendendo que o experimento deve ser repetido, buscando uma cristalização dos
resultados, em cenários e com indivíduos distintos, vê-se em princípio, uma consequência
bastante positiva em favor do treinamento intensivo de combatentes de incêndio, com uma
melhoria considerável no consumo do ar do EPR e consequentemente uma capacidade
superior de permanência no local do sinistro.

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As hipóteses mais prováveis são a aclimatação e condicionamento desenvolvidos em um curto


espaço de tempo (neste caso três semanas), influenciando diretamente no rendimento
quantitativo das equipes. Fortalecendo o argumento do treinamento continuado, acompanhado
de intervalos anuais de treinamento intensivo.

5. REFERÊNCIAS

[1] Pignatta Silva, V. Segurança das Estruturas em Situação de Incêndio. Revista


FLAMMAE, v.1, n.1, 2015, 180-185.
[2] Grant, C.C. Respiratory Exposure Study for Fire Fighters and Other Emergency
Responders. Fire Technology, v.46, 2010, p.497-529.
[3] Holmér, I. ; Gavhed, D.. Classification of metabolic and respiratory demands in fire fighting
activity with extreme workloads. Applied Ergonomics, v.38, 2007, p.45-52.
[4] Gallagher, M. ; Robertson, R.; Goss, F.; Nagle, E.; Schafer, M.; Suyama, J. ; Hostler, D.
Development of a perceptual hyperthermia index to evaluate heat strain during treadmill
exercise.European Journal of Applied Physiology, v.112, 2012, p.2025-2034.
[5] Taylor, N.; Lewis, M.; Notley, S.; Peoples, G.. A fractionation of the physiological burden of
the personal protective equipment worn by firefighters European Journal of Applied
Physiology, v.112, 2012, p.2913-2921.
[6] Harvey, D.; Kraemer, J.; Sharratt, M.; Hughson, R. Respiratory gas exchange and
physiological demands during a fire fighter evaluation circuit in men and women.
European Journal of Applied Physiology, v.103, p.89-98, 2008.
[7] Corrêa, C., Castro, A. S., Falcão, A., Braga, G. C., Silva, J. J. R., Pires, T. A. C. Breathing
Protection Equipment Consumption: Contribution from an Experimental
Protocol. HOLOS, v.30, n. 6, 2015, p.170-177.

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CONFLITOS ENTRE AS NORMAS BRASILEIRAS DE ACESSIBILIDADE E


SAÍDAS DE EMERGÊNCIA

Fotografia Fotografia
Autor 2 30 mm
 Autor 3

30 mm
 40 mm
40 mm

Eriberto Carlos Edna Moura Pinto Monallisa Cristina


Mendes Silva* Professor Holanda
Doutorando Universidade Federal Graduanda de
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Engenharia Civil
do Rio Grande do Norte Natal, Brasil Universidade Federal
Natal, Brasil Rural do Semi Árido
Mossoró, Brasil

Palavras-chave: NBR 9077; NBR 9050; Saídas de emergência; Acessibilidade.

SUMÁRIO

Na elaboração dos projetos arquitetônicos as Normas Brasileiras (NBR) aparecem como fonte
de parâmetros técnicos. As questões de acessibilidade são tratadas na NBR 9050,
recentemente revisada em 2015. A sua observação é obrigatória por lei e ainda é exigido o
registro da responsabilidade de seu atendimento pelo conselho de classe dos arquitetos. A
NBR 9077 (2001) - Saídas de emergência, é incorporada ao projeto pela legislação estadual do
corpo de bombeiros. No entanto na aplicação dessas normas aparecem conflitos que
interferem na decisão das propostas do projeto arquitetônico e trazem inconsistências quanto
aos conceitos de acessibilidade e desenho universal. Este trabalho busca fazer uma verificação
desses conflitos e analisá-los para auxiliar o entendimento e as decisões do arquiteto. Na
conclusão temos que há conflitos em critérios importantes que, se não observados, implicarão
no não atendimento das normas. Nota-se a supremacia da NBR 9050 sobre a NBR 9077 na
determinação das dimensões das saídas de emergência para compor rotas de fugas
acessíveis a todos os tipos de edificações, consequência da imposição legal de se chegar o
mais próximo possível do desenho universal.

*
Autor correspondente – Centro de Tecnologia, Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Av. Senador Salgado Filho, 300 - Lagoa Nova, CEP 59078-970- Natal - RN - Brasil. Tel.: +55 84 3215 3776. e-mail: eriberto@ufersa.edu.br

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1. INTRODUÇÃO

O aumento e aperfeiçoamento da gama de legislação voltada para garantia da inclusão das


pessoas com deficiência no Brasil têm propiciado a esse público maior possibilidade de acesso
às edificações e, como consequência, a uma maior participação destes na sociedade. Advindo
da evolução da inclusão no país, temos a constatação do aumento da presença de pessoas
com necessidades especiais relacionadas à locomoção, visão, audição, cognição, entre outras,
nos diversos ambientes edificados. Desta forma aumenta a responsabilidade de projetistas em
pensar na segurança destas pessoas, sobretudo em eventos de emergência como incêndios.
Diante disto o estudo do espaço físico nos projetos, lay out, funcionalidade, perpassa pela
aplicação do Desenho Universal como a forma de atendimento ao máximo de pessoas com
necessidades especiais. O Desenho Universal tem a sua inserção na elaboração dos projetos
de edificações públicas ou privadas de uso coletivo expressamente definido em lei, tendo como
referência para tal a aplicação das normas de acessibilidade. As exigências na legislação se
estendem ao plano urbanístico e há no Estatuto da Pessoa com Deficiência [1] a indicação de
que instrumentos legais como: planos diretores, de mobilidade, códigos de obras municipais,
de posturas, legislação de prevenção contra incêndio e pânico, entre outros, observem as
orientações de acessibilidade. Especialmente quanto à observação da acessibilidade na
prevenção contra incêndio e pânico encontram-se conflitos decorrentes da evolução e
atualização da legislação voltada para a inclusão das pessoas com deficiência, frente a
diversos pontos dos normativos de segurança contra incêndio. As normas diretamente
relacionadas com os temas no Brasil são, respectivamente, a NBR 9050 - Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos [2], versão de 2015 e a NBR 9077 –
Saídas de emergência em edifícios [3], versão de 2001. As referidas normas fazem citações
uma à outra em trechos específicos. A NBR 9077 [3] faz observação das dimensões de
larguras previstas na norma de acessibilidade para aplicação em rotas de fugas de locais onde
ajam doentes e pessoas deficientes, inclusive com uso de cadeiras de rodas. Já a NBR 9050
[2] faz menção da norma de saída de emergência para aplicação nas rotas de fuga.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência [1], no entendimento de garantia da vida, saúde,


educação, habitação, lazer, cultura para pessoas com deficiência, cobra do Estado, da
sociedade e da família, a acessibilidade universal aos diversos tipos de edificações,
especificamente as de atendimento e uso coletivo, seja privado ou público. Este fato amplia a
aplicação da NBR 9050 frente à NBR 9077. Desta forma fica evidente a necessidade de
verificação dos parâmetros de acessibilidade definidos em norma para que, nos projetos dos
diversos tipos de edificações, sejam previstas as condições de fuga, emergência e socorro, em
condição de igualdade com os demais usuários sem deficiência.

Este trabalho se propõe a levantar os pontos onde há conflitos nas indicações de parâmetros
projetuais entre as duas normas em questão, e definir, de acordo com o entendimento legal, a
opção que deve ser escolhida para garantir o desenho universal e a segurança do usuário com
deficiência nas propostas do projeto arquitetônico, sobretudo na previsão de rotas de fugas
realmente acessíveis.

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2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

2.1 Materiais e métodos

O presente trabalho se desenvolve através de um levantamento dos conflitos existentes entre


as normas técnicas referentes às questões de acessibilidade e de saída de emergência,
especificamente, a NBR 9050 (2015), NBR 9077(2001). Para melhor entendimento e definição
da hierarquia dos requisitos foi necessária a observação da Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência, Estatuto da Pessoa com Deficiência [1], visto que, é proveniente
desta a imposição legal da observação nos projetos arquitetônicos das questões de
acessibilidade e inclusão sobre as de segurança contra incêndio. Outras normas, leis e
documentos relacionados aos temas são observados à medida que aparecem interação com
os requisitos das normas analisadas. Na leitura de revisão são identificados os pontos onde há
interferência de uma norma na outra e as divergências e conflitos nos parâmetros prescritos.
Com a identificação dos pontos de conflitos é montada um quadro onde estes pontos estão
dispostos para comparação. Após a apresentação do quadro é feita análise e definido o
parâmetro ou item prescritivo que atende as exigências legais e propiciarão ao projetista
atender a acessibilidade requerida com aplicação do desenho universal e ainda, segurança dos
usuários em situações de sinistros de incêndio e emergência.

2.2 Interação e obrigatoriedade legal de uso da NBR 9050 e NBR 9077

Para o desenvolvimento do trabalho e entendimento do tema foi feito levantamento dos


conceitos importantes à aplicação dos requisitos prescritos junto às normas e leis de
acessibilidade e segurança contra incêndio. No Estatuto da Pessoa com Deficiência [1] a
obrigação de propiciar as condições de acessibilidade de forma integral às pessoas com
deficiência fica explicitada. Já no seu primeiro artigo afirma a que se destina: assegurar e
promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais
por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Para se chegar às
condições de igualdade citadas na lei tem-se como caminho a aplicação do conceito de
Desenho Universal descrito como sendo a “concepção de produtos, ambientes, programas e
serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva”. Este conceito de desenho universal
também está presente na NBR 9050 [2] onde uma nota explicativa ressalta os pressupostos do
conceito: equiparação das possibilidades de uso, flexibilidade no uso, uso simples e intuitivo,
captação da informação, tolerância ao erro, mínimo esforço físico, dimensionamento de
espaços para acesso, uso e interação de todos os usuários. No caso do dimensionamento de
espaços para acesso fica clara a implicação com a NBR 9077.

Já a norma de saídas de emergência em edifícios, a NBR 9077 [3], tem como um dos seus
objetivos fixar as condições exigíveis que as edificações devem conter para que sua população
possa abandoná-las, em caso de incêndio, completamente protegida em sua integridade física.
Observou-se que não há distinção expressa de condições físicas ou intelectuais da população
das edificações. Nota-se que a inclusão de pessoas com deficiência definida em lei, sobretudo
pelo Estatuto da pessoa com Deficiência, sugere essas pessoas como parte da população de

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todos os tipos de edificações. Para as edificações definidas como de reunião de público ou de


uso coletivo, sejam públicas ou privadas, os parâmetros são bem definidos.

Outras leis relacionadas com a inclusão de pessoas com deficiências ou com necessidades
especiais definem a obrigatoriedade de garantir o acesso e por consequência a condição de
fuga segura nas edificações. São decretos como o Decreto 5.296 [4] que regulamenta as Leis
10.048, de 08 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que
especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida, e dá outras providências. Esse decreto, no seu artigo 23, diz que deverão
ser reservados assentos em quantidade de, no mínimo, 2% da lotação do estabelecimento
para pessoas em cadeiras de rodas em teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de
esporte, casas de espetáculos, salas de conferências e similares, sendo estes assentos
distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, próximos aos corredores,
devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e a obstrução das saídas,
em conformidade com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT – Associação Brasileira
de Normas Técnicas. Ainda para os mesmos locais citados o decreto obriga ainda, a
destinação de 2% dos assentos para acomodação de pessoas portadoras de deficiência visual
e de pessoas com mobilidade reduzida, incluindo obesos, em locais de boa recepção de
mensagens sonoras, seguindo ainda os mesmos critérios de sinalização das normas da ABNT.
No mesmo artigo, em seu inciso 4, informa a obrigatoriedade desses locais ter rotas acessíveis
e assim, da necessidade de aplicação das normas técnicas de acessibilidade.

No primeiro momento do estudo foi feito levantamento da interação explícita entre as normas.
As normas em foco fazem citação de uso uma da outra em alguns pontos específicos. Na NBR
9050, norma de acessibilidade, a NBR 9077 é citada como de observação em pontos como
dimensionamento das rotas de fugas, sinalização, largura das escadas, guarda corpo. Já na
NBR 9077, norma de saída de emergência, a NBR 9050 é citada para definição de uso de
rampa para locais onde existam cadeirantes, e no item de condições específicas de acessos
sem obstrução para o dimensionamento das larguras das rotas de fuga acessíveis.

Contudo a obrigação expressa da aplicação das normas se dá através de citações em


instrumentos legais com o Decreto 5.296 [4] e leis como o Estatuto da Pessoa com Deficiência
[1]. A NBR 9077- Saídas de emergência é indicada para o uso direto nas legislações estaduais
de Prevenção e combate a incêndio, ou ainda indiretamente quanto citada como base
referencial de Instruções Técnicas, Notas Técnicas e Código de prevenção e combate a
incêndio e pânico das corporações de bombeiros dos diversos Estados do Brasil. Em alguns
dos casos, onde a norma é utilizada como referencial para códigos e instruções técnicas,
alguns dos seus critérios sofreram modificação ou ajustes a condições específicas, como
também, frente a uma atualização técnica devido a sua última versão ser do ano de 2001.

Já a NBR 9050 tem a sua aplicação exigida nos projetos arquitetônicos através dos Artigos 55
e 56 do Estatuto da Pessoa com Deficiência [1]. O Artigo 55 diz: “A concepção e a implantação
de projetos que tratem do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclusive
de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de outros serviços, equipamentos e
instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana

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como na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo como referência as
normas de acessibilidade”. Já o artigo 56, além da determinação de atendimento da
acessibilidade, cobra das entidades de fiscalização profissional das atividades de Engenharia,
de Arquitetura e correlatas, a exigência de registro da anotação da responsabilidade
profissional declarada de atendimento às regras de acessibilidade previstas em legislação e em
normas técnicas pertinentes. Esta exigência está voltada para a construção, a reforma, a
ampliação ou a mudança de uso de edificações abertas ao público, de uso público ou privadas
de uso coletivo.

2.3 Comparações entre as normas e identificação dos pontos conflitantes

Através da comparação dos critérios que são propostos em cada norma para atendimento de
seus objetivos temos o aparecimento de divergências e conflitos que foram relacionados e
dispostos no Quadro 1.

Quadro 1: Pontos de conflitos entre a NBR 9050 e a NBR 9077


Item NBR 9050 NBR 9077

Área de refúgio Área de resgate: Área com Parte de um pavimento separada do


acesso direto para uma saída, restante por paredes corta-fogo e
destinada a manter em portas corta fogo, tendo acesso direto,
segurança pessoas com cada uma delas, a uma escada de
deficiência ou com mobilidade emergência. Obrigatório em
reduzida, enquanto aguardam edificações hospitalares e escolares
socorro em situação de sinistro. com grandes áreas. Não há indicação
Área reservada de 0,80x1,20 m. de área reservada para deficientes.

Largura de Largura mínima para A largura mínima de 1,10 m (duas


acessos e deslocamento de deficientes: unidades de passagem de 0,55 cm)
circulações em 1,50 m. Dimensão mínima para para ocupações em geral e 2,20 m
rotas de fuga cadeirante de 0,80 m. para Hospitais de atendimento a
humanos;

Largura de Mínimo de 80 cm. Mínimo de 80 cm, admitindo-se uma


Portas, rotas de redução em até 75 mm de cada lado
fuga (golas), reduzindo de 80 para 65 cm.

Barras antipânico Nas portas de corredores, Em salas com capacidade acima de


acessos, áreas de resgate, 200 pessoas e nas rotas de saída de
Escadas de emergência e Locais de reunião com capacidade
descargas integrantes de rotas acima de 200 pessoas, nas portas de
de fuga acessíveis. comunicação com os acessos,
escadas e descarga.

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Item NBR 9050 NBR 9077


Dimensionamento Devem ser atendidas as Devem atender a fórmula de Blondel:
da escada seguintes condições: 63 cm ≤ (2h + b) ≤ 64 cm.
0,63 m ≤ p + 2e ≤ 0,65 m.

Degrau de Espelhos (e): 0,16 m ≤ e ≤ 0,18 Altura (h): 0,16 m ≤ h ≤ 0,18 m, com
escada m; tolerância de 0,05 cm;
Pisos (p): 0,28 m ≤ p ≤ 0,32 m Largura b dimensionada pela fórmula
de Blondel: 63 cm ≤ (2h + b) ≤ 64 cm

Bocel ou quina de ≤ 1,5cm ≥ 1,5cm


degrau Não pode ser vazada

Corrimão - Ø entre 30 mm e 45 mm ou Ø entre 38 mm e 65 mm


diâmetro seção elíptica, desde que a
dimensão maior seja 45 mm e a
menor 30 mm

Corrimão - altura A 0,92 m e a 0,70 m do piso, Os corrimãos devem estar situados


medidos da face superior até o entre 80 cm e 92 cm acima do nível do
piso, sendo, em escadas, esta medida
ponto central do piso do degrau
tomada verticalmente
(no caso de escadas)
Devem prolongar-se
paralelamente ao patamar, pelo
menos por 0,30 m nas
extremidades, sem interferir
com áreas de circulação ou
prejudicar a vazão

Corrimão Quando se tratar de escadas ou Edificações em geral, escadas com


intermediário rampas com largura igual ou mais de 2,20 m de largura devem ter
corrimão intermediário, no máximo, a
superior a 2,40 m é necessário
cada 1,80 m. Os lanços determinados
a instalação de no mínimo um pelos corrimãos intermediários devem
corrimão intermediário, ter, no mínimo, 1,10 m de largura,
garantindo faixa de circulação ressalvado o caso de escadas em
com largura mínima de 1,20 m, ocupações dos tipos H-2 e H-3,
utilizadas por pessoas muito idosas e
deficientes físicos, que exijam máximo
apoio com ambas as mãos em
corrimãos, onde pode ser previsto, em
escadas largas, uma unidade de
passagem especial com 69 cm entre
corrimãos.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A comparação de requisitos de regulamentos que tratam de um mesmo tema é tratada em


diversos trabalhos onde se busca uma convergência e uniformidade nos conceitos, definições
e critérios que levem a uma menor discrepância entre as propostas técnicas. O
dimensionamento de rotas de fuga sem a observação da possível presença na população, de
pessoa com mobilidade reduzida, seja um cadeirante, um deficiente visual ou auditivo, implica
em dimensionamento insuficiente e redução do tempo de escape. Além da questão de largura
insuficiente há também a redução da velocidade de escape por conta da maior dificuldade de
ultrapassagem dessas pessoas com mobilidade reduzida. Para Ono [5], caso não aja largura
dos elementos de passagem que permitam a ultrapassagem, o fluxo sempre terá como limite a
pessoa mais lenta no trajeto. Outra divergência está relacionada à previsão de pessoas
portadoras de deficiência apenas em escolas especializadas e hospitais, como consta na NBR
9077 [3]. No entanto o Estatuto da Pessoa com Deficiência [1] garante acessibilidade a
edificações abertas ao público, seja de natureza privada ou pública, fato reafirmado na NBR
9050 [2]. Ainda, A NBR 9077, pela especificidade de prever que só as rotas de saída
destinadas ao uso de doentes e deficientes físicos devem permanecer livres de quaisquer
obstáculos ou saliências nas paredes, seja móveis, extintores de incêndio, entre outros objetos,
diverge da NBR 9050 (Figura 1).

a) b)

Figura 1: Disposição de extintor e obstáculos na rota de fuga

O conflito se dá quando possíveis posicionamentos de extintores na parede em edificações que


não estão expressamente listadas como contendo na sua população pessoas deficientes com
mobilidade reduzida irão interferir no deslocamento de pessoas com deficiência visual. Na NBR
9050 [2], “Mobiliários com altura entre 0,60m até 2,10m do piso podem representar riscos para
pessoas com deficiências visuais, caso tenham saliências com mais de 0,10m de
profundidade”. Este fato dependerá da altura da instalação do extintor e da dimensão deste em
relação a produzir efeito de saliência na parede maior que 10 cm.

As questões de dimensionamento de largura de circulações, acessos e portas em rotas de fuga


sofrem interferência quanto à população a ser atendida por estas. A inclusão de pessoas com
deficiência na população de edificações de uso coletivo, pública ou privadas faz com que essas

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

larguras devam ser pensadas para contemplar esses atores. Um exemplo está na largura das
circulações de 1,50m que atendem a passagem de um cadeirante e um usuário em pé e ainda
ao mínimo da NBR 9077 que é de 1,10m (Figura 2).

Figura 2: Largura necessária para deslocamento de cadeirante e usuário

Na análise realizada os critérios da NBR 9050 se apresentam, na maioria dos casos, mais
abrangentes e com valores acima dos mínimos prescritos na NBR 9077. Outros pontos
discrepantes amarram dimensões como: os degraus da escada entre 16 e 18 cm para o
espelho e, 28 a 32 cm para a largura do piso; o bocel com 1,5cm; corrimão duplo com 0,92m e
0,70m de altura; largura mínima das portas de 80 cm; diâmetro do corrimão circular entre 30 e
45 mm; barras antipânico em todas as portas de rotas de fuga.

4. CONCLUSÕES

Diante do levantamento realizado através desta pesquisa constata-se que existem diversos
conflitos entre as normas estudadas. A necessidade de uma revisão conjunta das normas com
o intuito de ajustar os critérios aos objetivos propostos fica evidente. Nos conflitos identificados
temos a necessidade de buscar os pontos de interseção que remetem a dimensionamento de
vãos, larguras, altura e diâmetros de espaços e equipamentos para decidir dentre as opções e
faixas de dimensões prescritas, a que atenderia ambas as normas. Os critérios e parâmetros
da NBR 9050 aparecem como mais abrangentes no atendimento às diversas possibilidades de
usuários das edificações. É mais atualizada e detalhada, e acaba prevalecendo na maioria dos
pontos conflitantes com a NBR 9077.

5. AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio


Grande do Norte pelo apoio no desenvolvimento de pesquisas sobre o tema de segurança
contra incêndio.

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6. REFERÊNCIAS

[1] Casa Civil. Lei Federal n° 13.146/15, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), Brasília, 2015.
[2] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050 - Acessibilidade a edificações,
mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, Rio de Janeiro, 2015, 148 p.
[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9077 – Saídas de emergência em
edifícios, Rio de Janeiro, 2001, 36 p.
[4] Casa Civil. Decreto Federal – nº 5296/04, Regulamenta as Leis n°s 10.048, de 8 de
novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e
10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos
para a promoção da acessibilidade, Brasília, 2004.
[5] Ono, R. Vittorino, F. – “Desempenho da largura de corredores no tempo de abandono de
pavimentos numa edificação”. Anais do 1º CILASCI – Congresso Ibero Latino-Americano
sobre Segurança Contra Incêndio, Vol. 1, Natal, Brasil, 2011, 317-326p.

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ENTENDENDO A LEGISLAÇÃO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NO


CASO DO PROJETO DE SAÍDAS DE EMERGÊNCIA PARA A CIDADE DE
SÃO PAULO

Diana de Araújo* Rosaria Ono


Engenheira Professora
Tecfire Consultoria e Universidade de São
Projetos, Paulo,
São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil

Palavras-chave: saídas de emergência, segurança contra incêndio, dimensionamento,


legislação, normas técnicas.

1. INTRODUÇÃO

Para se projetar rotas de fuga na cidade de São Paulo podem ser aplicadas, atualmente, três
documentos que regem o assunto, a saber: COE - Código de Obras do Município de São
Paulo, a Instrução Técnica n° 11 do Decreto Estadual 56.819/2011 do Corpo de Bombeiros de
São Paulo e a norma brasileira ABNT NBR 9077 - Saídas de Emergência em edificações.

Ao projetista desavisado, fica a dúvida: Qual delas atender?

A prefeitura de São Paulo solicita que se atenda ao seu Código de Obras e Edificações do
Município de São Paulo. O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo aceita, para saídas
de emergência, que seja atendido este mesmo Código municipal na cidade de São Paulo e
exige o cumprimento à sua Instrução Técnica n° 11/2014 para os demais municípios. A norma
brasileira ABNT- NBR 9077, por sua vez, deve ser adotada na cidade de São Paulo somente
em locais onde não há cobertura pela legislação municipal.

Assim, há uma certa clareza sobre o assunto, no que se diz respeito às questões técnico-
operacionais. No entanto, ao verificar os critérios de dimensionamento e os resultados

*
Autor correspondente – Tecfire Consultoria de Projetos, Rua Diana, 592 - conj.72 CEP.: 05019-000 - São Paulo – SP - Brasil. Fone/Fax:

+55(11)36752666 - ramal 121. Ee-mail: diana@tecfire.com.br

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originados destes, percebe-se que larguras de corredores e escadas, assim como o número e
os tipos de escadas variam e, em alguns casos, são discrepantes.

O ideal seria que todas as legislações que tratam do mesmo assunto fossem convergentes,
porém, isso não ocorre. As diferenças, em alguns casos, são grandes, deixando a dúvida,
principalmente, sobre quais critérios de dimensionamento são os mais adequados, isto é, qual
deles garante um nível de segurança aceitável com custos razoáveis.

2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise comparativa dos resultados do


dimensionamento de saídas de emergência adotando-se três documentos de referência
distintos. Tal discussão tem como finalidade alertar para as discrepâncias resultantes de
exigências distintas e suas consequências no projeto e na construção de edifícios, com foco
específico para a cidade de São Paulo, além de refletir sobre os aprimoramentos necessários.

3. METODOLOGIA

Este estudo realiza uma análise comparativa dos três documentos aplicáveis para
dimensionamento de saídas de emergência na cidade de São Paulo, a saber:

• Código de Obras do Município de São Paulo [1];

• IT-11/2014 do Decreto Estadual 56.819/2011 do Corpo de Bombeiros de São Paulo


[2];

• Norma brasileira ABNT NBR 9077 - Saídas de Emergência em edificações [3].

Para a realização da análise comparativa, foram adotados alguns exemplos de edificações


hipotéticas e obtidas as exigências a serem atendidas, em termos de dimensionamento das
saídas de emergência, tanto no que tange às rotas de fuga horizontais como verticais.

4. DOCUMENTOS ANALISADOS

4.1 Código de obras e edificações

O Código de Obras e Edificações (COE) do Município de São Paulo foi sancionada em 1992,
sob a Lei 11.288 de 25 de junho, seguida de complementação por meio do Decreto 32.329 de
23 de setembro do mesmo ano. Essa regulamentação aborda a questão da segurança contra
incêndio para edificações novas no Capítulo 12 (Circulação e Segurança) da lei e no Anexo 12
(Circulação e Segurança) do decreto. Já o Anexo 17 deste mesmo decreto trata
especificamente da Adaptação das edificações existentes às condições mínimas de segurança.
Uma das principais alterações trazidas por esta regulamentação municipal, no que se refere às
questões de segurança contra incêndio, estava no método de dimensionamento das saídas de
emergência, assim como nos novos valores (densidade) utilizados para o cálculo da lotação. A
lotação dos pavimentos deve ser corrigida em função da altura da edificação e do tipo de
proteção provido para as rotas de fuga, dada pela seguinte equação:

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Lc= 60.Lo.Y/K (1)

onde:
• Lc :Lotação corrigida;
• Lo: Lotação de origem;
• K: capacidade de passagem da tabela 12.7.1.2 do COE;
• Y: valor determinado pela altura do edifício; vide equação 2

Y = (Ho+3) /15 > 1 (2)

onde:
• altura “Ho”, medida em metros, entre a cota do pavimento de saída, e a cota
do último pavimento da via de escoamento considerada.

A largura dos corredores e das escadas, neste caso, variam em função da altura da edificação
e da lotação dos pavimentos, sendo que se adota a largura mínima de 1,20m e módulos de
0,30m para sua ampliação. Assim, o valor obtido Lc deverá ser dividido em módulos de 0,30m
para se obter o número de unidades de 0,30m necessários para atender a largura
dimensionada.

As distâncias a percorrer até atingir uma saída de pavimento estão definidas em função do tipo
de proteção encontrada na rota horizontal (sem proteção (aberto), protegido com chuveiros
automáticos ou protegido por compartimentação). Os tipos de escada admissíveis são as
escadas abertas, as escadas protegidas sem antecâmara e as escadas protegidas com
antecâmara ou vestíbulo.

4.2 A norma brasileira NBR 9077

A norma NBR 9077 atualmente em vigor é resultado de uma revisão elaborada, inicialmente,
sob coordenação da Comissão de Estudos do CB-2 (Comitê Brasileiro da Construção Civil) da
ABNT, com a colaboração do recém-criado CB-24 (Comitê Brasileiro de Segurança contra
Incêndio), aprovada e publicada em 1993. Apesar de algumas tentativas posteriores, a
atualização desta norma, considerada necessária, ainda não ocorreu até o momento. Esta
norma teve como base, em sua origem, princípios da norma NFPA 101 – Life Safety Code [4]
da National Fire Protection Association da década de 1970. No entanto, as revisões sucessivas
desta última revelam diferenças significativas entre esses dois documentos, atualmente. A
norma NBR9077 adota como largura mínima de corredores e escadas, o valor de 1,10m e
módulos de 0,55m para a sua ampliação.

A largura efetiva é calculada pela seguinte equação (item 4.4.1.2 da norma):

N = P/C (3)

onde:
• N: número de unidades de passagem, arredondado para número inteiro
imediatamente maior que o valor do quociente (1 unidade de passagem = 0,55m);
• P: população calculada para o pavimento, conforme densidade dada na tabela 5 da
Norma, por tipo de ocupação;
• C: capacidade da unidade de passagem conforme tabela 5 da Norma.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

As distâncias máximas a percorrer até uma saída no pavimento são estabelecidas em função
da quantidade de saídas (saída única ou mais de uma saída) e da existência ou não dos
chuveiros automáticos. Os tipos de escada estabelecidos pela norma são: escada não
enclausurada ou aberta (NE); escada enclausurada protegida (EP), sem antecâmara, e escada
à prova de fumaça (PF), com antecâmara / vestíbulo ventilados naturalmente ou à prova de
fumaça pressurizada mecanicamente.

4.3 A instrução técnica IT-11

Já a Instrução Técnica n° 11/2014, tem como estrutura e conceito básico a norma brasileira
NBR 9077 (1993), com ajustes que o corpo técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São
Paulo considerou necessários, com base na experiência acumulada no exercício de análise e
aprovação de projetos de proteção contra incêndio ao longo dos anos. A primeira versão desta
Instrução Técnica é de 2001, e em revisões sucessivas, o seu conteúdo vem sendo alterado,
em parte, em função da ausência da atualização da NBR 9077. Esse documento também
adota alguns conceitos do COE, como a largura mínima de corredores e escadas, de 1,20m,
porém, com módulos de ampliação de 0,55m da norma brasileira. O cálculo das larguras de
rotas horizontais e verticais segue a equação da norma brasileira (Equação 3) valores de
capacidade de unidade de passagem (C) ajustadas para alguns tipos de ocupação.

No que se refere às distâncias máximas a percorrer, a IT-11 em suas últimas versões,


acrescentou ao que é estabelecido da NBR 9077, um ganho na distância de caminhamento
adicional em função da existência de sistema de detecção e alarme automático de incêndio na
edificação. Os tipos de escada estabelecidos são os mesmos da norma brasileira NBR 9077.

5. RESULTADOS

5.1 Exemplo 1: Edifício destinado ao culto religioso

Classificada como local de reunião de público, adotou-se uma edificação de culto religioso com
altura do piso de acesso (entrada) ao piso mais elevado de 9,00 m. Esta edificação tem a
previsão de uma sala de culto no último pavimento, com lotação máxima de 750 pessoas. A
área de cada pavimento é de 15m por 70m, totalizando 1.050 m² e não é exigido sistema de
proteção por chuveiros automáticos ou por detecção e alarme automático de incêndio.

A tabela 1 a seguir apresenta os resultados do dimensionamento aplicado com base nas


exigências dos três documentos em análise.

A largura mínima total de corredores, neste caso, estão muito próximas entre as três
referências brasileiras em análise.

No caso de escadas, pelo COE seriam necessárias 2 escadas a prova de fumaça, com largura
cada uma de 1,50 m e caminhamento para se atingir uma saída segura de, no máximo, 25 m.
Por outro lado, tanto pela IT-11 quanto pela NBR 9077, a largura total das escadas seria de
5,50m e são exigidas escadas protegidas.

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Tabela 1: Dimensionamento do Exemplo 1


Número mínimo de
saídas verticais e
Corredor Escada
Documen Distância máx. a
to de percorrer
referência Largura
Largura Solução de Solução de
total
total mínima projeto projeto
mínima
2 corredores 2 escadas PF
COE 4,50m 3,00m + de 1 saída: 25m
(2,40 cada) (2 X1,50m)
2 escadas EP
2 corredores (2 X 2,75m)
NBR 9077 4,40m 5,50m + de 1 saída: 40m
(2,20m cada) 5 escadas EP
(5x1,10m)
2 escadas EP
(2 X 2,75m)
2 corredores + de 1 saída com
IT-11 4,40m 5,50m 3 escadas EP
(2,20 m cada) detecção: 45m
(2 x 2,20m e 1
x 1,20m)

O custo da escada protegida é menor que o da escada à prova de fumaça exigida pelo COE.
No entanto, a largura total de escadas exigidas pela IT-11 e NBR 9077 é quase o dobro
daquela exigida pelo COE. O caminhamento máximo do COE, para atingir uma escada, por
outro lado, é bem inferior ao exigido pela IT-11 ou a NBR 9077.

5.2 Exemplo 2: Edifício de escritórios alto

Considerou-se, neste exemplo, um edifício de escritórios com altura do piso de acesso


(entrada) ao piso mais alto ocupado de 60 m, lotação máxima, por piso, de 200 pessoas (área
do pavimento de 15m x 100m, total de 1.500 m²), sendo provida de sistemas de chuveiros
automáticos e de detecção e alarme de incêndio. Os valores obtidos são apresentados na
tabela 2.

Tabela 2: Dimensionamento do Exemplo 2


Corredor Escada Número mínimo de
Documen
Largura Largura saídas verticais e
to de Solução de Solução de
total total Distância máx. a
referência projeto projeto
mínima mínima percorrer
3 escadas PF
2 ou 3 (1,20m cada)
COE 4,80m 3,30m + de 1 saída: 38m
corredores 2 escadas PF
(1,80m cada)

2 corredores 2 escadas PF
NBR 9077 1,10m 2,20m + de 1 saída: 55m
(1,10m cada) (1,10m cada)

1 escada PF 1 saída: 55m


2 corredores (1,65m) (com detecção)
IT-11 1,20m 1,65m
(1,20m cada) 2 escadas PF + de 1 saída: 75m
(1,20m cada) (com detecção)

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

A largura total mínima para corredores exigida pelo COE é pelo menos 4 vezes superior à
exigida pelas duas outras referências. No caso da largura total mínima das escadas,
novamente, o COE é que exige a maior largura e menor distância a percorrer.

Pelo COE, seriam necessárias 2 ou 3 escadas a prova de fumaça e caminhamento máximo


para se atingir uma rota de fuga vertical de 38 m. Para atender a NBR 9077, seriam
necessárias 2 escadas a prova de fumaça e o caminhamento para se atingir uma rota de fuga
vertical seria de, no máximo, 55 m. Já pela IT-11, é possível ter apenas 1 escada a prova de
fumaça, caso se obtenha um caminhamento máximo de 65m até atingi-la. Alternativamente, é
possível ter 2 escadas a prova de fumaça e caminhamento máximo de 75m até qualquer uma
das escadas, contanto que a edificação seja provida de sistemas de chuveiros automáticos e
de detecção e alarme automáticos de incêndio. É preocupante verificar a possibilidade de
instalação de apenas uma escada num edifício de 60 m de altura, permitida pela IT-11.

Neste exemplo, a largura mínima de escada exigida pelo COE é o dobro da IT-11, que por sua
vez é também menor que a exigência da NBR 9077. As distâncias de caminhamento são
discrepantes e somente o tipo de escada a ser adotado é consenso, isto é, todas exigem
escadas a prova de fumaça, devido ao risco trazido pela altura da edificação.

5.3 Exemplo 3: Edifício de escritórios de média altura (30m)

Neste exemplo foi adotado um edifício de escritórios com altura do piso de acesso (entrada) ao
piso mais alto ocupado de 30 m, lotação máxima, por piso, de 200 pessoas, sendo provida de
sistemas de chuveiros automáticos e de detecção e alarme de incêndio. Os resultados do
dimensionamento são apresentados na tabela 3.
Tabela 3: Dimensionamento do Exemplo 3.
Corredor Escada Distância máx. a
Documento Largura Largura percorrer e número
Solução de Solução de
de referência total total mínimo de saídas
projeto projeto
mínima mínima verticais
2 corredores 2 escadas PF
COE 2,70m 1,80m + de 1 saída: 38m
(2 x 1,50m) (1,20m cada)

2 corredores 2 escadas PF
NBR 9077 1,10m 2,20m + de 1 saída: 55m
(2 x 1,10m) (1,10m cada)
1 escada PF 1 saída: 55m
2 corredores (1,65m) (com detecção)
IT-11 1,20m 1,65m
(2 x 1,20m) 2 escadas PF + de 1 saída: 75m
(2 x 1,20) (com detecção)

Mantendo-se a mesma lotação por pavimento do exemplo anterior e diminuindo a altura do


edifício à metade, verifica-se que as larguras totais de corredores e de escadas se mantiveram
as mesmas no dimensionamento com base na NBR 9077 e na IT-11.

No caso, do COE, essa largura de corredor diminuiu, mas ainda é mais que o dobro das
demais. A largura da escada também diminuiu no caso do COE, em quase a metade.
Permanece uma discrepância grande entre as distâncias máximas a serem percorridas.
Interessante verificar que somente no caso do COE a largura das escadas aumenta com a
altura da edificação.

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5.4 Exemplo 4: Edifício residencial alto

Este exemplo contempla um edifício residencial com altura do piso de acesso (entrada) ao piso
mais alto ocupado de 60 m, com 4 apartamentos por andar, de 3 dormitórios cada, portanto,
com população estimada máxima de 24 pessoas por pavimento. Não é exigido, neste caso, a
instalação de sistema de chuveiros automáticos no edifício, nem sistema de detecção e alarme
de incêndio. Os resultados são apresentados na tabela 4.
Tabela 4: Dimensionamento do Exemplo 4.
Corredor Escada Número mínimo de
Documen
Largura saídas verticais e
to de Largura total Solução de Solução de
total Distância máx. a
referência mínima projeto projeto
mínima percorrer
COE 1,20m 1 corredor 1,20m 1 escada PF 1 saída: 25m

NBR 9077 1,10m 1 corredor 1,10m 1 escadas PF 1 saída: 40m

IT-11 1,20m 1 corredor 1,20m 1 escada PF 1 saída: 40m

Como pode ser visto, admite-se, nos documentos brasileiros analisados, que o edifício
residencial não tenha alternativa de fuga vertical, ou seja, que tenha apenas uma escada,
quando tiver até 80m de altura – no caso do COE e da IT-11, e quando atende até 4 unidades
residenciais por pavimento – no caso da NBR 9077, independentemente da altura do edifício.
Em todas as situações da tabela 4, é exigida uma escada à prova de fumaça.

Compreende-se que uma lotação baixa por pavimento resultará num dimensionamento com as
larguras mínimas exigidas pelas documentações em análise. No entanto, contesta-se a falta de
alternativa de fuga vertical nesse tipo de ocupação.

Adicionalmente, verifica-se, neste caso, diferença significativa na distância máxima a percorrer


entre o COE e os demais documentos.

5.5 Discussão

Como pode ser visto, há discrepâncias, no que se refere ao dimensionamento das saídas de
emergência, entre os documentos analisados, principalmente no que se refere à largura das
rotas verticais (escadas) e às distâncias máximas a percorrer até uma saída segura.

Para edifícios de baixa altura, como do exemplo1, as escadas dimensionadas conforme o COE
têm larguras bem menores que as escadas dimensionadas conforme a NBR 9077 e IT-11. Por
outro lado, para edifícios de média altura ou altos, a situação se inverte e as escadas
dimensionadas conforme o COE têm largura muito superiores.

Uma das hipóteses que explica este fenômeno é que possivelmente as premissas adotadas
para o dimensionamento das rotas de fuga verticais sejam bem diferentes entre o COE e a
NBR 90777/IT-11. As premissas, neste caso, se fundamentam em diferentes tipos de estratégia
de abandono adotados para edifícios de múltiplos pavimentos de diferentes usos.

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Nenhum dos textos normativos ou de regulamentação estudados declara a estratégia de


abandono adotada para o dimensionamento das rotas de fuga verticais, a saber: abandono
total e simultâneo, ou parcial / faseado; apesar de textos históricos e estudos realizados
principalmente nos EUA e Canadá comentarem que o código NFPA 101 e várias outras
regulamentações consideram, em seu dimensionamento, o abandono parcial ou faseado de
edificações de múltiplos pavimentos de alta densidade [5].

A norma brasileira NBR 9077 vigente adota, basicamente, critérios de dimensionamento da


norma NFPA 101 da década de 1970, portanto, considera como premissa o abandono parcial
ou faseado para edifícios altos. No entanto, em nenhuma documentação técnica relativa aos
planos de abandono ou ao dimensionamento de rotas de fuga no Brasil, consta esta premissa,
que é muito importante no planejamento do treinamento de abandono dos ocupantes do
edifício, assim como no gerenciamento da segurança contra incêndio do edifício para garantir o
efetivo funcionamento dos sistemas de proteção contra incêndio (detecção, alarme e
comunicação, principalmente).

A formação e treinamento de brigadas e dos planos de abandono deveriam ser elaborados e


realizados em acordo com a estratégia adotada no projeto de saídas de emergência. Caso as
saídas de emergência tenham sido dimensionadas de acordo com a norma brasileira (NBR
9077) ou a IT-11 num edifício elevado de escritórios, por exemplo, existe uma alta
probabilidade de um abandono total e simultâneo efetivamente congestionar as saídas verticais
e dificultar o rápido escoamento dos pavimentos onde os ocupantes estão efetivamente
expostos aos efeitos do incêndio.

O COE, assim como a regulamentação espanhola da qual este derivou [5], adiciona um fator
de correção no dimensionamento das rotas de fuga verticais em função do número de
pavimentos envolvidos que tende a aumentar a sua largura final. Presume-se que este fator de
correção leve em consideração o abandono total e simultâneo do edifício. No entanto, também
se verifica que este mesmo fator pode inviabilizar o projeto, devido à largura total excessiva
resultante. Por outro lado, não existe, no referido documento técnico espanhol, nenhuma
clareza sobre o tipo de estratégia de abandono considerado pela regulamentação.

Verifica-se, portanto, nos documentos técnicos analisados, a ausência de um parâmetro


essencial para o dimensionamento adequado das saídas de emergência de um edifício: a
estratégia de abandono a ser adotada.

Ainda assim, há outras diferenças que devem ser analisadas e compreendidas, como as
distâncias máximas a percorrer na horizontal, para atingir uma saída segura e as formas de
proteção que dão ganho a essas distâncias.

As normas e regulamentações que tratam de saídas de emergência em edificações no Brasil


necessitam, urgentemente, de revisão e atualização, para que discrepâncias como as
apresentadas neste trabalho deixem de existir. Além disso, ressalta-se, novamente, a
necessidade de um vínculo muito forte entre as premissas de projeto das saídas de
emergência e o gerenciamento do edifício durante o seu uso, incluindo os procedimentos
adequados a serem adotados em caso de emergência (plano de emergência e plano de
abandono).

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6. REFERÊNCIAS

[1] SÃO PAULO (Município). Lei Nº 11.228/1992. Dispõe sobre as regras gerais e específicas
a serem obedecidas no projeto, licenciamento, execução, manutenção e utilização de
obras e edificações, dentro dos limites dos imóveis; revoga a Lei no 8.266, de 20 de junho
de 1975, com as alterações adotadas por leis posteriores, e dá outras providências.

[2] SÃO PAULO (Estado). Saídas de emergência. Instrução Técnica No.11. Secretaria do
Estado dos Negócios da Segurança Pública / Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do
Estado de São Paulo: São Paulo, 2014.

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Saídas de emergência em


edifícios. ABNT: Rio de Janeiro, 2001.

[4] COTÉ, R.; HARRINGTON, G.E. (Ed.) Life Safety Code Handbook. 11th ed., Quincy:
National Fire Protection Association, 2009.

[5] ONO, Rosaria. O impacto do método de dimensionamento das saídas de emergência


sobre o projeto arquitetônico de edifícios altos: Uma análise crítica e proposta de
aprimoramento. Tese (Livre Docência - Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura)
– FAUUSP: São Paulo, 2010.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

474
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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

ESTATÍSTICAS DE INCÊNDIOS ESTRUTURAIS NO BRASIL: DO


‘ANUÁRIO’ AOS DIAS ATUAIS

Cristiano Corrêa Dayse Duarte Tiago A. C. Pires


Corpo de Bombeiros Militar Universidade Federal de Universidade Federal de
de Pernambuco Pernambuco Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

José Jéferson Rêgo Silva George Cajaty Braga


Universidade Federal de Pernambuco Corpo de Bombeiros Militar do DF
Recife - PE, Brasil Brasília - DF, Brasil

Palavras-chave: Estatísticas de Incêndios; Incêndios no Brasil; Dados de Incêndios.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil a Segurança Contra Incêndio em Edificações já conta com uma literatura substancial,
sobretudo no tocante ao comportamento de estruturas em situação de incêndio. Existem ainda
pesquisas publicadas norteando metodologias de mapeamento de riscos de incêndio [1] e
parâmetros para projetos seguros [2]. Todavia, os dados estatísticos deste tipo de incêndio não
são contemplados, na profundidade adequada, pelos estudos mais conhecidos [3].

A ausência de estatísticas consolidadas é percebida no World Fire Statistic [4 e 5] que reúnem


dados de mais de trinta países e que, até o ano de 2015 (dados de 2014), não possuía quase
nenhuma citação dos incêndios no Brasil, mesmo com seus grande centros urbanos, território
continental e população de aproximadamente 200 milhões de habitantes. Infelizmente, também
estão ausentes do dito relatório outros importantes países da America Latina, como Argentina,
Colômbia e México, deixando claro uma deficiência de dados que possam subsidiar um olhar
para a questão no Subcontinente.

Este relatório da International Association Fire and Rescue Service - IFRS, tem uma rede de
colaboradores e três polos coordenando o estudo, a saber: Alemanha (Berlin Fire and Rescue
Academy – GFPA), Rússia (Academy of State Fire Service, Russia) e Estados Unidos (National
Fire Protection Association – NFPA) [5].

Este artigo visa discutir a falta de dados consolidados de incêndios em edificações no Brasil,
observando que sem estes não há como dimensionar um problema, oculto ou
subdimensionado pelas políticas públicas.

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2. ESTATÍSTICAS DE INCÊNDIO

Neste item pretende-se apresentar alguns momentos das estatísticas de incêndios no Brasil,
buscando compreender o enredo que conduz a atual situação.

2.1 ‘Anuário’ de Bombeiros

As ocorrências atendidas pelos Corpos de Bombeiros, inclusive os incêndios em edificações,


começaram a ser computadas e divulgadas nacionalmente por meio do documento chamado
‘Anuários Estatísticos’ do IBGE [6 e 7], sendo estes e outros dados referentes, como a
localização de estações de bombeiros, quantidade de pessoal, entre tantos.

Moore (1994) em Whorkshop sobre o tema, explicou as aferições feitas pelo IBGE:

Na série histórica de Anuários Estatísticos de 1937 a 1994, as informações sobre


ocorrências de incêndios tornam-se sistemáticas a partir de 1951; os dados sobre
efetivos dos Corpos de Bombeiros têm início no ano de 1966; as informações
referentes aos municípios das capitais deixaram de ser divulgadas a partir de 1976
e no ano de 1990 os dados foram divulgados apenas para o total do Brasil, sem
haver qualquer detalhamento por Estados ou por Municípios.[6]

Estes dados nos anuários foram divulgados até o ano de 1991, com dados de 1990. Na época
foi alegada uma dificuldade de aferição pelo IBGE, relacionada ao custo de coleta e a
fidedignidade dos dados, para a interrupção naquele ano, não sendo mais realizado desde
então.

2.2 Década de 1990 e as Estatísticas de Incêndios

Com o fim da divulgação dos ‘Anuários Estatísticos’ nacionais, a descrição do problema dos
incêndios aflorou visivelmente e pesquisadores começaram a alertar para a necessidade da
criação de um sistema nacional, como foi o caso de Negrisolo [8] ao discutir, no Seminário
Nacional de Bombeiros em 1992, a proposição do dito sistema.

Destaca-se nesta época o debate promovido pelo Comitê 24 da Associação Brasileira de


Normas Técnicas, que reuniu membros da Academia (universidades), sociedade civil e Corpos
de Bombeiros Estaduais, tendo como um dos pontos culminantes o ‘Workshop Estatística de
Incêndio’ realizado no dia 07 de dezembro de 1995 [6], na cidade de São Paulo.

Nesta década, em 1997, foi criada no âmbito do Ministério da Justiça a Secretaria Nacional de
Segurança Pública (SENASP), órgão que entre outras, tem por finalidade “implementar, manter
e modernizar o Sistema Nacional de Informações de Justiça e Segurança Pública”, apesar dos
Corpos de Bombeiros estarem inseridos na Segurança Pública o sistema pouco ou nada
contempla os milhares de atendimentos realizados por estes, inclusive os atendimentos a
incêndios [9]. Registrou-se alguns dados quinze anos depois, ainda incipientes e sem

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detalhamento, das ocorrências de incêndio atendidas pelos Corpos de Bombeiros Militares do


Brasil no estudo Perfil das Instituições de Segurança Pública realizado pela SENASP [10].

Figura 1 – Capa da Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública, editada em 2013.

2.3 Normatização dos Registros de Atividades de Bombeiros

Os debates sobre o final da emissão dos ‘Anuários de Bombeiros do Brasil’ e a orfandade de


informações deixada, continuaram em pauta por mais alguns anos.

No último mês de 1997 foi editada a NBR 14.023 sob o título ‘Registro de Atividades de
Bombeiros’.

Esta norma tem por objetivos: “revelar a extensão do prejuízo e dos problemas de
emergências; indicar os problemas que requerem ações adicionais e pesquisa; acompanhar o
desenvolvimento do tratamento médico de emergência; orientar ações de prevenção e
proteção, manuseio de materiais perigosos etc.; orientar o desenvolvimento efetivo de códigos,
regulamentações e normas” [11], nascendo assim com um largo e ambicioso espectro.

A norma traz uma série de definições, conceitos e critérios mínimos de aferição, lastreando um
possível ‘Sistema Nacional de Coleta e Análise de Dados de Bombeiros’ [11].

Se informações sobre quantidade de pessoal e estrutura física dos Corpos de Bombeiros,


relacionados no antigo anuário, não estão contempladas na norma, esta por sua vez não se
restringe aos dados dos incêndios estruturais, contemplando dados de outros incêndios e
mesmo atendimentos diversos realizados pelos Corpos de Bombeiros.

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2.4 Liga dos Comandantes Gerais e as Estatísticas

A incipiência dos dados sobre incêndios em edificações (entre outros), principalmente devido à
autonomia de aferição e método os quais os vários Corpos de Bombeiros estabeleceram para
consolidar suas estatísticas ao longo da História, levou, em 2007, o Conselho Nacional dos
Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (LIGABOM) a estabelecer um modelo de aferição que
permita uma ‘padronização’ nacional [12]. Esta recomendação, que também coadunada com a
NBR 14.023, foi adotada por várias das instituições. Apesar desta iniciativa recente, o Brasil
ainda não possui um estudo estatístico nacional que expresse os números de forma detalhada,
ou ainda um ‘Sistema Nacional de Coleta e Análise de Dados de Bombeiros’, proposto há
muito por Negrisolo [8] e ainda não operacionalizado

Neste particular Duarte e Ribeiro [7], ao estudarem a coleta de dados de incêndio no Brasil,
afirmam: “Cada (Corpo de) bombeiro, de acordo até mesmo com a cultura da região onde se
encontra, busca um determinado número e tipo de informação que considera mais importante”.

Os formulários e consequentemente os dados aferidos em pesquisas devem ser compatíveis


com a recomendação emitida pela LIGABOM e a ABNT 14.023, sob pena de pulverizar os já
dispersos dados dos incêndios no país.

3. CONCLUSÕES

Este trabalho apresenta as várias iniciativas para criação de um modelo para coleta de dados
estatísticos de incêndio no Brasil e demonstra que ainda não existe um sistema de coleta
nacional.

Foi visto que por décadas no século XX (1951 a 1990) o IBGE apresentou dados de incêndios
no Brasil, no corpo do ‘Anuário Estatístico ‘, interrompendo tal procedimento no início do ano de
1991.

Seis anos depois (1997) é criada a Secretaria Nacional de Segurança Pública, no âmbito do
Ministério da Justiça, que entre outras várias atribuições deve implementar, manter e
modernizar um Sistema Nacional de Informações de Justiça e Segurança Pública, contudo
apenas dados pontuais sobre os incêndios havidos no Brasil, são publicados dentro do perfil
das instituições de segurança pública.

Existindo inclusive uma Norma Brasileira (ABNT – 14.023) que norteia esta aferição, a qual foi
usada como base para uma importante deliberação da Liga dos Comandantes Gerais dos
Corpos de Bombeiros do Brasil, que reunidos em 2007 e atendendo a sugestão de um grupo
de trabalho específico, apresentaram uma padronização para o ‘Relatório de Ocorrências’,
todavia a autonomia dos Estados Membros e o pacto federativo, faz dessa padronização uma
recomendação, passível ou não de ser adotada.

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Assim as estatísticas nacionais dispersas e sem um tratamento adequado, sobretudo pelo


Ministério da Justiça e seu braço operativo criado com esta função Secretaria Nacional de
Segurança Pública, que possuí um sistema com dados superficiais e de comunicação restrita,
não clarificando a sociedade brasileira, qual é o tamanho do problema dos incêndios no país.

4. REFERÊNCIAS

[1] SILVA, Valdir Pignatta; AZEVEDO, Macksuel Soares. Eurocode method for calculating the
external steelwork temperature in fire; comparative studies. Fire and Materials, 2015.
DOI: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/fam.2315/abstract
[2] ONO, Rosaria. Parâmetros para Garantia da qualidade do projeto de Segurança Contra
Incêndio em Edifícios Altos. Revista Ambiente Construído, v.7, n.1, p.97-113, 2007.
Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/viewFile/3731/2083
[3] CORRÊA, Cristiano; RÊGO SILVA, José J.; PIRES, Tiago A.; BRAGA, George C..
Mapeamento de Incêndios em Edificações: Um estudo de caso na cidade do
Recife. Revista de Engenharia Civil IMED, vol. 2, nº. 3, 2015, p. 15-34
DOI: http://www.bibliotekevirtual.org/index.php/2013-02-07-03-02-35/2013-02-07-03-03-
11/1752-rec-imed/v02n03/18433-mapeamento-de-incendios-em-edificacoes-um-estudo-
de-caso-na-cidade-do-recife.html
[4] CTIF, Centre of Fire Statistics (International Association of Fire and Rescue Services).
World Fire Statistics, Report nº17, 2013, p.62
[5] CTIF, Centre of Fire Statistics (International Association of Fire and Rescue Services).
World Fire Statistics, Report nº17, 2015, p.58
[6] DUARTE, Rogério Bernardes. Boletim Técnico – Estatística de Incêndios no Brasil
(GSI). Grupo de Pesquisa em Segurança Contra Incêndio – GSI/USP, 1996.
[7] DUARTE, Rogério Bernardes; RIBEIRO, Ivanovitch Simões. Coleta de Dados de
Incêndio. In___ A Segurança Contra Incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008.
[8] NEGRISOLO, Walter. Sistema Nacional Padronizado de Coleta e Tabulação de
Dados. In__ Anais do II SENABOM – Seminário Nacional de Bombeiros, Ribeirão Preto,
São Paulo. p. 305 a 335, 1992.
[9] BRASIL. Decreto n. 2.315, de 4 de setembro de 1997, cria a Secretaria Nacional de
Segurança Pública, 1997.
[10] SENASP, Secretaria Nacional de Segurança Pública, PESQUISA PERFIL DAS
INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2013. Disponível em:
http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/senasp/anexos/pesquisa-perfil-2013_ano-
base_2012.pdf
[11] ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14.023: Registro de
Atividades de Bombeiros, Rio de Janeiro, 2013.
[12] LIGABOM, Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil. RELATÓRIO
DE OCORRÊNCIA, 2007

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ESTUDO SOBRE AS NORMAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO


UTILIZADAS PELOS CORPOS DE BOMBEIROS MILITARES DO BRASIL

Jesce John da S.
Borges*
Analista Ministerial do
Ministério Público de
Pernambuco,
Brasil

Palavras-chave: Segurança Contra Incêndio. Código de Segurança. Corpo de Bombeiros.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata das normas de Segurança Contra Incêndio – SCI adotadas nos estados
brasileiros pelos Corpos de Bombeiros. Atualmente, não existe uma lei nacional que estabeleça
requisitos mínimos de segurança contra incêndio que possa ser adotada como padrão nas
atuações dos Corpos de Bombeiros Estaduais. As normas de SCI que estão em vigor são leis
estaduais, ou seja, cada estado elabora sua própria legislação.

A ausência de um Código Nacional de Segurança Contra Incêndio é indicado como fator


responsável pelos problemas dos alvarás de funcionamento para estabelecimentos em geral.
Isto acontece pois atualmente as regras de Segurança Contra Incêndio - SCI são frutos de leis
estaduais, ou seja, cada governo estabelece uma lei de acordo com as normas locais ou
estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou mesmo pela Norma
Regulamentadora do Ministério do Trabalho. Sendo assim, não existe um padrão mínimo a ser
seguido, o que resulta na situação de alguns estados possuírem legislações que preenchem
requisitos satisfatórios de segurança contra incêndio, enquanto outros não.

*
Autor correspondente – Engenheiro Civil. Especialista em Engenharia de Instalações Prediais. Especialista em Engenharia de Segurança Contra Incêndio e

Pânico. MBA - Especialista em Gestão do Ministério Público. Mestre em Geotecnia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Doutorando em

Geotecnia na Universidade Federal de Pernambuco. Analista Ministerial do Ministério Público de Pernambuco. Membro da comissão de licitação da Secretaria

de Administração de Pernambuco. Rua São Miguel, 176, Afogados. 50.850-275 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +55 81 99935-7622. e-mail: jescejohn@hotmail.com

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O avanço de novas tecnologias tem impacto praticamente em todas as áreas da Engenharia e,


no ramo da segurança contra incêndio, os meios de proteção são constantemente atualizados.
Logo, essa dinâmica proporcionada pelo avanço tecnológico reflete nas normas de SCI.
Consequentemente, se faz necessária também uma constante atualização das normas utilizadas
pelos estados. Nesta perspectiva, buscou-se verificar as datas de publicações legais de SCI
utilizadas em cada estado, assim como elaborar um histórico das legislações.

Infelizmente a legislação sobre Segurança Contra Incêndio no Brasil é impulsionada por


tragédias visto que somente após grandes perdas humanas e materiais que o assunto passa a
ser discutido para que sejam tomadas as devidas providências. Seito et al.[1] apresentam a
sequência de fatos marcantes no Brasil: Gran Circo Norte-Americano, Niterói, Rio de Janeiro (17
de Dezembro de 1961) - mais de 500 pessoas morreram; Indústria Volkswagen, São Bernando
do Campo, São Paulo (18 de Dezembro de 1970) - 01 morte; Edifício Andraus, São Paulo (24 de
Fevereiro de 1972) - 16 mortos e 336 feridos e Edifício Joelma, São Paulo (01 de Fevereiro de
1974) – 179 mortos e 320 feridos. Segundo Negrisolo [2], os incêndios dos edifícios Andraus e
Joelma foram eventos emblemáticos que representaram um divisor de águas no plano da
segurança contra incêndio no Brasil. Isto porque foi a partir desses eventos que os estados
brasileiros buscaram esforços para estabelecer uma legislação específica na área de segurança
contra incêndio.

Além dos incêndios citados, recentemente o Brasil passou por uma grande tragédia numa
discoteca na cidade de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul. O incêndio ocorreu na
madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, matou 242 pessoas e deixou 680 pessoas feridas. Foi
considerada a segunda maior tragédia do país em número de vítimas em incêndio, perdendo
apenas para o incêndio do Gran Circo Norte-Americano, ocorrido em 1961. Atualizações nas
normas de segurança contra incêndio são extremamente importantes visto que novas medidas
e dispositivos de proteção surgem constantemente devido aos avanços tecnológicos que
garantem uma maior proteção. Consequentemente, é de grande relevância que as normas de
SCI acompanhem a modernização das tecnologias de proteção contra incêndio.

Diante do exposto, o objetivo primordial deste estudo é verificar em que situação se encontram
as normas de segurança contra incêndio de cada estado brasileiro no que se refere às suas
atualizações. Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico a
pesquisa exploratória, realizada a partir do acesso ao site de cada Corpo de Bombeiros Estadual
em busca do histórico de legislações de segurança contra incêndio.

2. DESENVOLVIMENTO

Está previsto na Constituição Federal de 1988 que os Estados podem legislar plenamente em
casos de omissões legislativas por parte da União, esta diretriz aplica-se à segurança contra
incêndio e pânico. Ou seja, os Estados elaboraram suas próprias legislações de SCI e, de
maneira geral, as denominam de Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico – COSCIP.

Conforme fundamentado anteriormente, a primeira regulamentação sobre segurança contra


incêndio no Brasil surgiu nos meados de 1975, após a ocorrência dos incêndios dos edifícios

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Joelma e Andraus, em São Paulo. A primeira providência tomada pela prefeitura municipal de
São Paulo foi a edição do Decreto Municipal nº 10.878 que instituiu “normas especiais para a
segurança dos edifícios a serem observadas na elaboração do projeto, na execução, bem como
no equipamento e dispõe ainda sobre sua aplicação em caráter prioritário”.

Ainda em 1974, a Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio do Comitê Brasileiro da
Construção Civil, publicou a NB 208 — Saídas de Emergência em Edifícios Altos. Em 1975, o
governador do Rio de Janeiro apresenta o Decreto-Lei nº 247, que dispõe sobre Segurança
Contra Incêndio e Pânico naquele Estado, o qual foi regulamentado em 1976. O Ministério do
Trabalho editou a Norma Regulamentadora 23 (NR-23) - Proteção Contra Incêndios, em 1978,
dispondo regras de proteção contra incêndio na relação empregador/empregado - embora isso
não fosse consequência única desses incêndios, mas sim, parte de uma reestruturação na
segurança do trabalho [1].

No Brasil, o primeiro Código de Segurança contra Incêndio e Pânico foi elaborado no Rio de
Janeiro pelo Decreto - Lei nº 247 de 21 de julho de 1975, que completou 41 anos em 2016.
Outros estados também possuem códigos bastante antigos e que ainda não foram atualizados.
Consequentemente, muitos aspectos que funcionavam há décadas atrás, hoje não apresentam
os mesmos efeitos devido às mudanças nos sistemas de construção pelas novas tecnologias.
Após o incêndio na Boate Kiss em Santa Maria/RS em 2013, a legislação sobre segurança contra
incêndio no Brasil voltou a ser debatida. Verificando a deficiência e a desatualização das normas
de SCI nos estados brasileiros, a criação de uma lei federal passou a ser cogitada como uma
solução para os problemas. O código nacional passaria a disciplinar sobre requisitos básicos de
segurança, que deveriam valer para todo o território nacional enquanto a legislação estadual
deveria cuidar apenas das especificidades regionais.

A partir do clamor social causado pelo incêndio da Boate Kiss, iniciativas para criação de um
Código Nacional de Segurança Contra Incêndio foram discutidas, entretanto o projeto de lei não
chegou à pauta de votação mesmo depois um ano de sua elaboração [3]. Atualmente existem
projetos de lei que estão tramitando na Câmara dos Deputados e Senado Federal, são eles:
- PLS 121/2014, criado pela senadora Ana Amélia Lemos (PP/RS), que institui normas gerais
sobre Segurança Contra Incêndio e Pânico no Brasil;
- PLC 33/2014 (antigo PL 2020/2007), criado pela deputada federal Elcione Barbalho
(PMDB/PA), que estabelece diretrizes gerais sobre medidas de prevenção e combate a incêndio
e a desastres em estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público;
- PL 4.923/2013, criado pela deputada federal Nilda Gondim (PMDB/PB), que dispõe sobre as
obrigações que devem ser observadas por proprietários, administradores e responsáveis por
boates, casas de shows, bares, restaurantes e estabelecimentos congêneres.

Importante ressaltar que o problema não se encontra apenas na ausência de um código nacional
mas também na fiscalização, que é um serviço muito importante para obter resultados
satisfatórios e é uma iniciativa de responsabilidade do Corpo de Bombeiros. A descrição da
fiscalização pode ser resumida em uma vistoria in loco nos estabelecimentos para verificar se a
execução dos sistemas de proteção contra incêndios encontra-se conforme projeto
anteriormente aprovado. A fiscalização também se dá nas atuações em edificações que estão
funcionando sem Atestado de Vistoria do Corpo de Bombeiros – AVCB. São evidentes as falhas

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na fiscalização realizada pelos bombeiros, isto se dá graças à falta de efetivo nas corporações
ou à falta de capacitação dos vistoriadores.

Buscando analisar a situação de cada estado no que tange à legislação sobre segurança contra
incêndio, realizou-se uma pesquisa exploratória em meio eletrônico em cada site do Corpo de
Bombeiros a fim de verificar se no seu histórico normativo ocorreram atualizações ao longo dos
anos. Esta pesquisa será descrita a seguir:

2.1 Estado do Acre

Em 29 de julho de 1994, foi criada a Lei nº 1.137, que dispõe sobre Segurança contra Incêndio
e Pânico no Estado do Acre, cria a taxa de Serviços Técnicos e dá outras providências. Sofreu
alterações com a Lei nº 2.679 de 27 de dezembro de 2012 que tem como destaque a criação da
Tabela de Taxas de Serviços Técnicos do Corpo de Bombeiros Militares do Acre.

2.2 Estado de Alagoas

A normatização da Segurança Contra Incêndio no estado de Alagoas se deu através da Lei n.º
7.456, de 21 março de 2013. Dois meses depois, o Decreto nº 26.414, de 20 de maio de 2013,
instituiu o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico – COSCIP no Estado de Alagoas.
Duas instruções técnicas (publicadas através das Portarias n.º 178 de 12 de junho de 2013 e n.º
117 de 08 de maio de 2014) fazem parte da legislação de SCI.

2.3 Estado de Amapá

Inicia-se com a Lei nº 0790/2003, que instituiu a cobrança de taxas a serem cobradas pelos
serviços realizados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Amapá. Em seguida, surge a Lei nº 0870
de 31/12/2004, que define infrações e penalidades. Em 2004, com a Lei nº 0871, foi aprovada a
edição do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado do Amapá. No período de
2005 a 2012 foram criadas 14 Normas Técnicas.

2.4 Estado do Amazonas

A Lei nº 2.812 de 17 de julho de 2003 instituiu o Sistema de Segurança Contra Incêndio e Pânico
em Edificações e Áreas de Risco no Estado do Amazonas. Um ano depois, o Decreto nº. 24.054
de 1º de março de 2004 regulamentou o Sistema de Segurança Contra Incêndio. Atualmente, a
DST/CBMAM utiliza as Instruções Técnicas – IT do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo.

2.5 Estado da Bahia

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Na Bahia, a SCI se deu com a Lei nº 12.929 de 27 de dezembro de 2013. Após isso, foi
regulamentado pelo Decreto nº 16.302 de 27 de agosto de 2015. Atualmente, o CBMBA conta
com 16 Instruções Técnicas datadas do ano de 2016.

2.6 Estado do Ceará

A Segurança Contra Incêndio no Estado do Ceará se deu através da Lei nº 13.556, de 29 de


dezembro de 2004. O Decreto nº 28.085, de 10 de janeiro de 2006, estabeleceu as regras sobre
SCI. Atualmente, adotam-se 17 Normas Técnicas elaboradas entre os anos de 2008 e 2016 e
possuem 04 Portarias que tratam da alteração das Normas Técnicas, Brigada de Incêndio e
Assessor Técnico.

2.7 Distrito Federal

O início da SCI no Distrito Federal se deu através do Decreto nº 11.258, de 16 de setembro de


1988. Aproximadamente 2 anos depois, o Decreto n.º 21361, de 20 de julho de 2000,
regulamentou a SCI no DF. As infrações e penalidades foram definidas pela Lei n° 2.747, de 20
de julho de 2001. Em 2002, o Decreto n.º 21361/2000 sofreu alterações nos artigos 16, 17 e 23
através do Decreto nº 23.154, de 09 de agosto de 2002. Atualmente, o CBMDF conta com 20
Normas Técnicas elaboradas entre o período de 1993 a 2015.

2.8 Estado do Espírito Santo

A Lei nº 3.218, de 20 de julho de 1978 marca o início da Segurança Contra Incêndio no Estado
do Espírito Santo, sendo seguida pela Lei nº 7.990, de 25 de maio de 2005. Essas duas leis
foram consolidadas pela Lei nº 9.269, de 21 de julho de 2009 e esta foi regulamentada pelo
Decreto nº 2.423-R, de 15 de dezembro de 2009. No presente momento, o CBMES apresenta
21 Normas Técnicas elaboradas entre o período de 2009 a 2015. Além disso, são
disponibilizados 26 pareceres técnicos com datas entre 2010 a 2016.

2.9 Estado de Goiás

Nasce a SCI do estado de Goiás através da Lei nº 9.292, de 24 de novembro de 1982, em que
foi estabelecido o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico – COSCIP. Após 11 anos,
essa lei foi revogada pela Lei nº 12.111, de 22 de setembro de 1993 e esta foi revogada pela Lei
Estadual nº 15.802, de 11 de setembro de 2006, que tem como texto “Institui o Código Estadual
de Segurança contra Incêndio e Pânico e dá outras providencias”. Atualmente, o CBMGO possui
43 Normas Técnicas elaboradas no ano de 2014 (a exceção da NT 41 que recebeu uma
atualização em 09/09/2016).

2.10 Estado do Maranhão

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Teve início a SCI no Maranhão pela Lei nº 6.546 de 29 de dezembro de 1995 que estabeleceu o
Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico. O CBMMA tem como legislação complementar
06 Normas Técnicas que tratam dos seguintes temas: procedimentos para credenciamento de
empresas, padronização dos sistemas de bombas de incêndio, classificação das edificações
quanto ao risco, parâmetros mínimos de pressão e vazão no cálculo dos hidrantes, eventos
temporários e brigada de incêndio. As NT 01, 02, 03 e 04 são datadas no ano de 1997, a NT 05
de 2000 e a NT 06 de 2014.

2.11 Estado do Mato Grosso

Constatou-se que o Decreto Estadual nº 857 de 29 de agosto de 1984 foi a primeira legislação a
tratar de SCI no Estado do Mato Grosso. O tema foi reforçado pela Lei nº 8.399 de 22 de
dezembro de 2005, que estabeleceu a Legislação de Segurança Contra Incêndio e Pânico do
Estado de Mato Grosso. O exercício de fiscalização do CBMMT foi regulamentado pelo Decreto
nº 2.346, de 21 de janeiro de 2010. A legislação sobre SCI do Mato Grosso recentemente sofreu
uma atualização através da Lei nº 10.402, de 25 de maio de 2016 e apresenta também 12
Normas Técnicas elaboradas em 2016. Além disso, foi verificado que o CBMMT adota várias
instruções técnicas de São Paulo, NBR’s e NR 23.

2.12 Estado do Mato Grosso do Sul

O Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado de Mato Grosso do Sul foi criado
pela Lei nº 4335 de 10 de abril de 2013. Esta sofreu atualização pela Lei Estadual nº 4.921 de
20 de agosto de 2016. Além disso, o CBMMS apresenta 43 Normas Técnicas elaboradas no
período de 2013 a 2016.

2.13 Estado de Minas Gerais

No Estado de Minas Gerais a SCI começa com a Lei nº 14.130 de 19 de dezembro de 2001,
sendo regulamentado pelo Decreto nº 44.746 de 29 de fevereiro de 2008. Este sofre alteração
pelo Decreto nº 46.595 de 10 de setembro de 2014. O CBMMG apresenta 40 Instruções Técnicas
elaboradas ou modificadas no período de 2014 a 2016.

2.14 Estado do Pará

O início da SCI no Estado do Pará se deu com a Lei nº 4.453, de 22 de dezembro de 1972 que
criou o Serviço de Proteção e Prevenção Contra Incêndio do Corpo de Bombeiros. Uma nova
redação foi dada pela Lei nº. 5.088 de 19 de setembro de 1983. Em seguida, surge a Lei nº.
6.010 de 27 de dezembro de 1996. Esta sofre alteração pelas seguintes leis: Lei nº 6.013, de 27
de dezembro de 1996, Lei nº 6.430, de 27 de dezembro de 2001 e Lei nº. 6.724 de 2 de fevereiro
de 2005. A regulamentação da SCI foi dada pelo Decreto nº 357 de 21 de agosto de 2007. O

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

CBMPA apresenta duas Instruções Técnicas: Instrução Técnica nº. 02/2012 e Instrução Técnica
nº. 17/2013.

2.15 Estado da Paraíba

A responsável pelo surgimento da SCI no Estado da Paraíba foi a Lei nº 9.625, de 27 de


dezembro de 2011 que instituiu o Código Estadual de Proteção Contra Incêndio, Explosão e
Controle de Pânico. Essa sofreu alterações pela Lei nº 9.882, de 19 de setembro de 2012. O
CBMPB apresenta 15 Normas Técnicas elaboradas no período de 2011 a 2016.

2.16 Estado do Paraná

O Código de Prevenção de Incêndios (CPI) criado pelo Boletim Geral do Comando Corpo de
Bombeiros nº 044, de 06/03/2001, foi a principal norma de Segurança Contra Incêndio no Estado
do Paraná. Um novo código surgiu no ano de 2011 através da Portaria nº002/11. Depois disso,
no ano de 2014, entra em vigor outro novo código publicado através da Portaria Interna nº
006/2014 do Comando do Corpo de Bombeiros. O CBMPR apresenta 41 Normas Procedimentos
Técnico elaboradas no período de 2014 a 2016.

2.17 Estado de Pernambuco

Para o Estado de Pernambuco a Segurança Contra Incêndio teve seu início marcado pela Lei nº
11.186, de 22 de dezembro de 1994, sendo regulamentada pelo Decreto nº. 19.644 de 13 de
março de 1997. Surge a Lei nº 12.323 de 6 de janeiro de 2003 que trata sobre dispositivo de
segurança em elevadores que sofreu alterações pela Lei nº 12.792 de 28 de abril de 2005. Já
em 2014, surgem duas leis: a Lei n° 15 232, que dispõe sobre normas de prevenção e proteção
contra incêndio e a Lei n° 15 233, que trata da obrigatoriedade de as casas noturnas e casas de
recepção manterem vigente seguro patrimonial. Aquela sofreu alteração pela Lei n° 15 873 de
08 de julho de 2016. Além disso, o CBMPE tem 03 Normas Técnicas.

2.18 Estado do Piauí

A Lei nº 5.483 de 10 de agosto de 2005 criou o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico
do Estado. Esta sofreu alterações pela Lei nº 5.801 de 26 de setembro de 2008 e sua
regulamentação se deu através do Decreto nº 12.192 de 02 de maio de 2006. Constatou-se que
o CBMPI utiliza as Instruções Técnicas de São Paulo para assuntos de Segurança Contra
Incêndio.

2.19 Estado do Rio de Janeiro


A Segurança Contra Incêndio nasce no Rio de Janeiro através do Decreto - Lei nº 247 de 21 de
julho de 1975 e sua regulamentação foi feita pelo Decreto nº 897 de 21 de setembro de 1976.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Constata-se que CBMRJ possui várias normas que tratam segurança contra incêndio, a título de
exemplo pode-se citar: Lei n° 938, de 16 de dezembro de 1985; Lei n° 1.535, de 26 de setembro
de 1989; Lei nº 1587, de 14 de dezembro de 1989; Lei nº 1.866. de 08 de outubro de 1991; Lei
nº 2.780, de 04 de setembro de 1997; Lei Nº 2.803, de 07 de outubro de 1997; Resolução nº 108,
109, 124, 125 e 135 de 1993; Resolução nº 142, 148, 166, 169, 170 e 172 de 1994; Portaria
CBMERJ Nº 722 e 727 de 2013; Aditamentos Administrativos de Serviços Técnicos;
Regulamento Técnico Nº BM/5-001/2016 e outros.

2.20 Estado do Rio Grande do Norte

O Serviço Técnico de Engenharia - SERTEN do Corpo de Bombeiros Militares do RN, assim


como o Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico, foram criados pela Lei
nº4436, de 09 de dezembro de 1974. Esta foi regulamentada pelo Decreto nº 6576, de 03 de
janeiro de 1975.

2.21 Estado do Rio Grande do Sul

As Normas de Segurança Contra Incêndios foram estabelecidas através do Decreto Estadual nº


37.380/97, que foi alterado pelo Decreto Estadual nº 38.273/98. Diante do sinistro na Boate Kiss
em Santa Maria no dia 27 de janeiro de 2013, a segurança contra incêndio e pânico no Estado
do RS passou a ter uma maior atenção. No mesmo ano, foi estabelecido, através da Lei
Complementar nº 14.376, de 26 de dezembro de 2013, novas normas sobre segurança,
prevenção e proteção contra incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndio no Estado
do Rio Grande do Sul. Esta foi regulamentada pelo Decreto n.º 51.803, de 10 de setembro de
2014 e sofreu alterações pela Lei Complementar nº 14.555, de 02 de julho de 2014, Lei
Complementar nº 14.690, de 16 de março de 2015 e Lei Complementar nº 14.924, de 22 de
setembro de 2016.

2.22 Estado de Rondônia

A Lei nº 858, de 16 de dezembro de 1999 é a norma que disciplina a segurança contra incêndio
no Estado de Rondônia. A regulamentação foi feita pelo Decreto nº 8987, de 08 de fevereiro de
2000.

2.23 Estado de Roraima

A SCI no Estado de Roraima teve destaque com a criação do Código Estadual de Proteção
Contra Incêndio e Emergência pela Lei Complementar nº. 82, de 17 de dezembro de 2004. Já a
Lei Complementar nº 083, de 17 de dezembro de 2004 trata das infrações e penalidades a serem
aplicadas no caso de descumprimento das normas referentes à segurança contra incêndio e
pânico. No mesmo ano, surge a Lei nº 471, de 17 de dezembro de 2004. O CBMRR tem 40
Normas Técnicas que tratam dos diversos temas de SCI.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

2.24 Estado de Santa Catarina

As Normas de Segurança Contra Incêndios em SC foram estabelecidas pelo Decreto Estadual


nº 4.909, de 18 outubro 1994. Em 2013, a Lei nº 16.157 disciplinou as normas e os requisitos
mínimos para a prevenção e segurança contra incêndio e pânico, sendo regulamentada pelo
Decreto nº 1.957 de 20 de dezembro de 2013. A legislação do CBMSC ainda conta com 20 Notas
Técnicas e 34 Instruções Normativas elaboradas ou modificadas no período de 2014 a 2016.

2.25 Estado de São Paulo

Em São Paulo, a Segurança Contra Incêndio teve importante relevância quando, em 1983, foi
publicado o Decreto Estadual n. 20.811, referente a Especificações para Instalação de Proteção
Contra Incêndios. Posteriormente, foi substituído pelo Decreto Estadual n. 38.069/93.
Atualmente, a última publicação foi o Decreto Estadual 46.076, de 31 de agosto de 2001, que
institui o Regulamento de Segurança contra Incêndio das edificações e áreas de risco. O Código
Estadual de Proteção Contra Incêndios e Emergências de São Paulo foi criado pela Lei
Complementar nº 1.257, de 6 de janeiro de 2015. Além disso, o CBMSP conta com 44 Instruções
Técnicas que são atualizadas frequentemente. Cabe ressaltar que a legislação paulista é
referência no Brasil pelo seu alto grau de exigência, o que justifica sua adoção por vários estados
brasileiros conforme demonstrado anteriormente.

2.26 Estado de Sergipe

A Segurança Contra Incêndio inicia-se com a Lei nº 4183, de 22 de dezembro de 1999. A Taxa
de Aprovação de Projetos de Construção e a Taxa Anual de Segurança Contra Incêndio foi criada
pela Lei nº 4184, de 22 de dezembro de 1999. O CBMSE apresenta 21 Portarias que tratam de
diversos assuntos de SCI (2013 a 2016), 04 Orientações Técnicas Normativas (2013 a 2014) e
01 Instrução Normativa (2016).

2.27 Estado de Tocantins

A normatização em Tocantins se deu através de Lei nº 1.787, de 15 de maio de 2007 que dispõe
sobre a Segurança contra Incêndio e Pânico em edificações e áreas de risco no Estado do
Tocantins. Além disso, o CBMTO tem 33 Normas Técnicas datadas em 2010.

Além disso, foi constatada que a legislação paulista é uma referência no Brasil no que se refere
à Segurança Contra Incêndio. Por ser a cidade com a maior quantidade de edifícios no Brasil e
por ter uma história de tragédias relacionadas a incêndios, São Paulo passou a ter um alto nível
de exigência quanto à Segurança Contra Incêndio. Logo, tem-se como consequência a
legislação mais completa do Brasil, assim como um órgão técnico com profissionais capacitados
que atualizam continuamente as Instruções Técnicas com base nos assuntos mais avançados
de tecnologia de prevenção e combate a incêndio. Cabe ressaltar que o Comitê Brasileiro de
Segurança contra Incêndio (ABNT/CB-24), criado em 1990, funciona no prédio do Comando do

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Corpo de Bombeiros da cidade de São Paulo e foi responsável pela maior integração entre os
Corpos de Bombeiros e a ABNT. Portanto, verificou-se que muitos estados brasileiros copiaram
ou adotaram de forma integral as Instruções Técnicas de SP.

Foi verificado que o processo de elaboração das Instruções Técnicas tem como referência as
próprias normas da ABNT, complementada por normas de países estrangeiros, notadamente
dos Estados Unidos, França, Inglaterra, Portugal e Alemanha, entre outros. Seguindo essa
tendência, uma média de 50% dos estados brasileiros passou a adotar integralmente as
Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo e exigir o cumprimento dos
seus parâmetros na elaboração de projetos e instalação de sistemas de segurança contra
incêndio [3]. Portanto, percebe-se que Aquino [3] chegou a conclusão semelhante. A ideia de
uma lei federal que estabeleça um Código Nacional de Segurança Contra Incêndio surge como
uma solução para definir um padrão básico de requisitos mínimos de segurança contra incêndio
a serem atendidos em todos estados.

5. CONCLUSÕES

Diante do exposto, conclui-se que muitos estados brasileiros possuem legislações de Segurança
Contra Incêndio bastante antigas, com vigência próxima ou superior a 40 anos (Ex: RN, RJ, PA
e ES). Considerando a dinâmica proporcionada pelo avanço tecnológico que reflete nas normas
de SCI, é importante que ocorra uma constante atualização das normas utilizadas nos estados.

A legislação de Segurança Contra Incêndio de São Paulo é referência no Brasil. Constatou-se


que grande parte dos estados está copiando ou adotando integralmente as Instruções Técnicas
de SP. A desatualização das legislações de SCI do Brasil passou a ser discutida após a grande
tragédia da Boate Kiss que causou enorme clamor social. Diante disso, uma lei federal de SCI é
tida como uma solução possível. Constatou-se que, atualmente, tramitam no Senado e Câmara
de Deputados três projetos de lei que tratam de medidas de segurança contra incêndio a nível
nacional.

Nesse ínterim, é necessário que a legislação brasileira de SCI receba uma atenção constante e
pare de ser um tema discutido apenas após grandes tragédias, pois as tecnologias de prevenção
e combate a incêndio acompanham as mudanças dos avanços tecnológicos, portanto sempre
vão surgir novas medidas ou dispositivos mais seguros cuja inclusão é necessária na norma de
SCI.

6. REFERÊNCIAS

[1] Seito, A. I. et al. - A segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008.
[2] Negrisolo, W. - Arquitetando a segurança contra incêndio. Tese (Doutorado em arquitetura)
- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2011.
[3] Aquino, L. M. - Aplicação das Normas de Segurança Contra Incêndio no Estado do Rio
Grande do Norte: Uma proposta de atualização. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2015.

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

EVACUAÇÃO EMERGENCIAL DE LOCAIS OCUPADOS POR PESSOAS


COM DIFICULDADE DE MOBILIDADE EM CASO DE INCÊNDIO

Maria Luiza T. F. João Carlos Souza


Lima* Professor
Mestranda Universidade Federal
Universidade Federal de Santa Catarina
de Santa Catarina Florianópolis, Brasil
Florianópolis, Brasil

Palavras-chave: evacuação emergencial; segurança; acessibilidade; dificuldade de mobilidade

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o acontecimento de diversos desastres, causados pela natureza ou por
ações ou omissões humanas, levaram a muitas perdas humanas e materiais. A forma com que
estes eventos foram gerenciados interferiu diretamente na proporção dos danos causados por
estes eventos. Os incêndios em edificações são um tipo de desastre tecnológico e chamam a
atenção uma vez que são originados, grande parte das vezes, por descuido dos ocupantes,
negligência ou omissão dos projetistas, executores ou órgãos de fiscalização.

A ocorrência de elevado número de incêndios (o Instituto Sprinkler aponta que os casos


oficialmente reportados em 2015 somam em média 112 eventos no país ao mês) despertam a
atenção para as normas preventivas uma vez que a maioria dos casos poderia ter sido evitada
ou ter suas consequencias reduzidas. As normas pertinentes ao tema devem ser cada vez
mais eficientes e específicas para cada tipo de edificação respeitando as suas paritcularidades
além de serem rotineiramente adaptadas e fiscalizadas visando sua adequação a cada
realidade a fim de possibilitar a redução dos riscos reais aos quais os ocupantes das

*
Maria Luiza Tremel de Faria Lima – Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Centro de Tecnologia e Ciências, Universidade Federal e Santa Catarina.
Rua Roberto Sampaio Gonzaga - UFSC – Trindade, PósARQ/CTC. 88.040-900 - Florianópolis - SC - Brasil. Tel.: +55 48 99969 2533. e-mail:

marialuizatfaria@hotmail.com

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

edificações estão submetidos bem como aprimorar os procedimentos de resposta frente às


emergências.

A prevenção, apesar de ser o caminho menos custoso, tanto no que se refere a perdas
humanas quanto às perdas materiais, pode não ser suficiente, principalmente para eventos de
evolução rápida como os incêndios em edificações, pois não se pode calcular o fim das falhas
humanas. Portanto, devem existir planos de gerenciamento de riscos e de emergência que
vislumbrem a particularidade de cada local, avaliando os recursos disponíveis a fim de garantir
a desocupação dos mesmos da forma mais segura e rápida possível.

Existem fatores que dificultam a evacuação dos locais e um deles é a possível dificuldade de
mobilidade autônoma dos ocupantes. Este fator faz surgir a necessidade de buscar estratégias
diversas, possivelmente mais elaboradas para o esvaziamento destes locais em caso de
sinistro.

O objetivo deste artigo consiste em entender e avaliar as possíveis dificuldades encontradas ao


se esvaziar locais ocupados por pessoas com mobilidade reduzida, permitindo, assim, que as
ações preventivas e os planos de resposta sejam mais apropriados para estes tipos de
edificações. A metodologia utilizada compreende a pesquisa bibliográfica, vislumbrando
como resultado apontar melhores soluções para evacuação de locais ocupados por pessoas
com este tipo de limitação.

2. COMPORTAMENTO HUMANO FRENTE A SITUAÇÕES DE RISCO

2.1 Percepção de risco

A capacidade cognitiva consiste na possibilidade humana de analisar o ambiente ao seu redor,


criando entendimentos e conclusões e varia de pessoa para pessoa. Então, no que se refere à
percepção de riscos, pode-se compreender que nem todas as pessoas têm um entendimento
imediato do risco nem o avaliam da mesma maneira.

Kinateder et al. [1] definem que no contexto de necessidade de evacuação em virtude de


incêndio, a percepção de risco se refere à percepção de um iminente prejuízo à própria vida ou
saúde. Desta forma, a percepção de risco é definida como um processo psicológico que
descreve os aspectos subjetivos (conscientes ou inconscientes) de avaliação da probabilidade
de ser afetado ou não por um evento indesejado em uma situação específica e uma percepção
da própria segurança e dos recursos de enfrentamento disponíveis.

Os autores dividem o processo de evacuação em três fases distintas: pré alarme, pré
evacuação e evacuação propriamente dita, conforme a figura 1. A primeira fase consiste na
ativação do alarme e pode ocorrer de forma automática ou provocada por algum usuário. A
segunda, por sua vez, inicia-se com o efetivo funcionamento do alarme com a posterior tomada
de decisão dos ocupantes em abandonar o local. Esta decisão pressupõe o entendimento por
parte do ocupante do risco iminente a que está submetido caso não reaja, levando que o

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
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mesmo entre em ação. A partir daí, inicia-se a movimentação, para alcançar-se a finalização do
processo, com a evacuação propriamente dita.

Figura 1: Linha do tempo para a evacuação de uma edificação [1]

Conforme os autores, a fase mais demorada consiste na fase de pré evacuação que, na
maioria das vezes, leva mais tempo que a própria evacuação e este tempo será determinante
nas consequências de um sinistro.

2.2 Estado de pânico

Ao encontrar-se em forte situação de estresse, é possível que os ocupantes de um local em


situação de emergência, entrem em estado de pânico.

Em situações de pânico as pessoas tendem a alterar suas respostas, agindo, muitas vezes, de
forma inconsciente, estando propensas a repetir ações de outras pessoas de forma desatenta.

Quando o pânico está associado a um grande número de pessoas reunidas é possível que
ocorram situações que dificultem tanto o abandono do local quanto o acesso de equipes de
socorro como no caso do uso indiscriminado de pequeno número de saídas disponíveis por um
grande número de pessoas.

A figura 2 demonstra uma consequência típica do pânico que consiste na repetição da ação
dos demais e na situação simulada demonstra diversas pessoas adotando uma única saída
apesar de a sala possuir duas na mesma parede.

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Figura 2 - Simulação de pessoas tentando abandonar uma sala em chamas [2]

Valentin [3], entretanto, afirma que quando pessoas estão tentando escapar de um edifício em
chamas por uma única saída, mesmo quando outras existem, seu comportamento parece
extremamente irracional para uma pessoa que analisa a situação depois. O autor afirma que
estas pessoas que estão tentando sair podem desconhecer as outras saídas, tendo aquela
como a única disponível, preferindo lutar por ela em vez de morrer queimado.

O conceito de “pânico em massa” sugere que a multidão é menos inteligente e mais emocional
do que indivíduos agindo sozinhos. Desta forma pode ser que a resposta de um conjunto de
pessoas reagindo a uma situação de emergência seja desproporcional ao perigo uma vez que
os instintos de sobrevivência podem sobressair a respostas socializadas. [4]

2.3 Dificuldade de mobilidade autônoma

A característica da população de cada edificação é outro fator que deve ser levado em
consideração no que se refere à evacuação em caso de emergência. Existem edificações que
são ocupadas por grande número de pessoas com dificuldade de mobilidade autônoma, tais
como asilos, hospitais e creches. Estas edificações, com população com diferentes graus de
dependência, exigem que sejam tomados cuidados especiais para o planejamento de
prevenção de riscos e resposta a emergências.

Dentre ocupantes com dependência total ou parcial no que se refere a sua mobilidade vale
destacar as pessoas com deficiência e as pessoas com mobilidade reduzida.

A NBR9050 [5] define deficiência como a redução, limitação ou inexistência das condições de
percepção das características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações,
espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente.

Já a pessoa com mobilidade reduzida é definida como aquela que, temporária ou permanente,
tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo. Entende-se como

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pessoa com mobilidade reduzida a pessoa com deficiência, idosa, obesa gestante, entre
outros.

Dischinger et al. [6] dividem as deficiências em quatro tipos: (I)físico-motoras: afetam a


realização de atividades que demandam força física, coordenação motora e precisão ou
mobilidade no espaço; (II) sensoriais: aquelas que geram dificuldades em perceber diferentes
tipos de informações ambientais; (III) cognitivas: englobam dificuldades para compreensão e
tratamento das informações recebidas; (IV) múltiplas: quando mais de uma das anteriores está
associada.

Alguém com algum tipo de deficiência (ou mais de uma delas associadas) ao ter dificuldade de
utilizar a edificação de forma autônoma e relacionar-se com o espaço e com os sinais,
provavelmente precisará de mecanismos especiais de fuga ou de auxílio de outra pessoa para
abandonar o local em caso de necessidade em virtude de evento adverso.

3. DIFICULDADE DE MOBILIDADE AUTÔNOMA E EVACUAÇÃO

A rápida detecção de um princípio de incêndio, juntamente com o acionamento do alarme de


forma correta e veloz para propiciar o combate e eventual abandono da edificação atingida,
facilitam as medidas de contenção e aumentam as condições de fuga segura dos ocupantes,
minimizando os prejuízos humanos e materiais.

Entretanto, nem sempre será possível a evacuação de forma segura e rápida da população de
determinado local. Analisando as diferenças dos ocupantes deve-se pensar em diferentes
estratégias de evacuação avaliando-se, necessariamente, o grau de dependência destas
pessoas e considerando que algumas terão facilidade de se movimentar de forma
independente, alcançando a rota de fuga mais eficiente, mas outras não.

A sinalização de emergência é primordial para propiciar o entendimento de todos da situação


de risco. Ela deve estar de acordo com as normas, sendo de fácil compreensão por todos,
incluindo os portadores de algum tipo de deficiência. As rotas de fuga devem não só ser
adequadadamente dimensionadas, respeitando as distâncias máximas de caminhamento, mas
também devem atender à população com algum tipo de limitação visando o atendimento global
dos usuários. Neste sentido, entende-se que as escadas podem não ser um meio eficiente no
abandono de edificações ocupadas por pessoas com dificuldade de mobilidade autônoma. As
rampas e elevadores de segurança precisam ser avaliados para edificações deste tipo.

Deve-se pensar também que, em certos casos, a decisão de evacuar talvez não seja a melhor
a ser tomada por dispender muitos riscos aos ocupantes com limitação e aos que os auxiliarão
uma vez que o tempo de escape necessário pode não ser suficiente para que todos
abandonem o local com segurança. Isto ocorre em edificações hospitalares, por exemplo, que
possuem ocupantes com saúde debilitada.

Para estas situações em especial, a NBR9077 [7] prevê a existência de áreas de refúgio nas
edificações e a conceitua como a parte de um pavimento separada do restante por paredes

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corta-fogo e portas corta-fogo, tendo acesso direto, cada uma delas, a uma escada de
emergência.

Para edificações com grande número de pessoas dependentes no tocante à sua mobilidade ou
ocupadas por pessoas impossibilitadas de evacuar imediatamente por alguma razão, este
sistema com área de refúgio mostra-se muito útil, possibilitando a compartimentação da
edificação.

A compartimentação é uma forma passiva de proteção, pois está incorporada ao sistema


construtivo do edifício e consiste na subdivisão do edifício em partes capazes de manter a ação
do incêndio no ambiente de origem, mantendo os demais ambientes protegidos. A
compartimentação pode ser horizontal ou vertival.

Figura 3: Esquema de compartimentação horizontal e vertical [8]

A falta de barreiras corta-fogo e fumaça eficientes numa edificação, ou seja, a falta de


adequada implementação de compartimentação, possibilita a movimentação horizontal e/ou
vertical do fogo e de seus efeitos (fumaça, gases combustíveis e gases tóxicos), aumentando
em muito a velocidade de propagação de qualquer princípio de incêndio e os prejuízos
decorrentes desse, bem como a movimentação dos efeitos diretos e indiretos do fogo,
dificultando a evasão e potencializando o número de vítimas. [8]

Em documento específico para estabelecimentos assistenciais de saúde, a ANVISA [8]


recomenda que o projeto de compartimentação deve considerar que cada compartimento
contra incêndio deve apresentar, no mínimo, duas saídas distintas, independentes e
preferencialmente localizadas em lados opostos, sendo uma, obrigatoriamente, uma rampa ou
escada de emergência. Já a segunda saída deve preferencialmente ser a passagem para um
compartimento horizontal adjacente ou ainda uma segunda escada de emergência.

Além da compartimentação, um bom plano de emergência, constantemente revisado e testado


é de fundamental importância em edificações com riscos especiais como as que abrigam
pessoas com dificuldade de mobilidade autônoma para que cada um saiba como e quando agir
no momento em que tais esforços forem solicitados.

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Gouveia e Etrusco [9] afirmam que no que tange à edificação, a sua arquitetura pode ou não
facilitar a orientação dos usuários; pode ser maior ou menor a sua adequação ao número de
usuários efetivamente nela admitidos. No que concerne à interação usuário-edificação, a
familiaridade do usuário com o espaço que utiliza e a eficiência da sinalização de emergência
no contexto do uso da edificação são parâmetros que podem influir na severidade de um
desastre.

Portanto, aliados às rotas e sinalização adequadas, os ocupantes destes locais precisam estar
familiarizados com o local ou serem bem instruídos. Deve-se considerar que muitos podem não
ter domínio espacial do local e é interessante que os ocupantes habituais, que possuem este
domínio, possam servir de guias para os demais.

O plano de emergência deve contemplar os seguintes aspectos: descrição das instalações


envolvidas; cenários de acidentes considerados; área de abrangência e limitações do plano;
estrutura organizacional, contemplando as atribuições e responsabilidades dos envolvidos;
ações de resposta às situações de emergência compatíveis com os cenários acidentais
considerados; recursos humanos e materiais; cronogramas de exercícios teóricos e práticos;
plantas de localização da instalação, incluindo a vizinhança sob risco; listas de acionamento
(internas e externas); sistemas de comunicação e alternativas de energia elétrica. [10]

Para a elaboração do plano de emergência é fundamental levantar todos os recursos


disponíveis bem como as características construtivas da edificação, de seus ocupantes, do seu
entorno e da região como um todo. Porém não basta elaborar um bom plano se o mesmo não
for conhecido pelos usuários permanentes. É recomendado que estes usuários façam
simulações a fim de elencar responsabilidades para que as ações sejam coordenadas e
eficientes.

4. CONCLUSÕES

A ocorrência de eventos adversos que colocam em risco a vida das pessoas gera a
necessidade de evacuação das edificações. O crescente número de pessoas afetadas por
incêndios traz a preocupação de ampliação de procedimentos preventivos para redução dos
danos. Porém, não se deve pensar nas edificações como um todo e sim nas particularidades
de cada uma delas, analisando-se sua espacialidade e seu sistema construtivo bem como as
particularidades de seus ocupantes uma vez que cada edificação afetada por evento adverso
criará um cenário distindo para a evacuação e quanto mais específico um plano de prevenção
e de emergência for para a edificação em questão, antevendo os possíveis riscos e
dificuldades, menores serão as consequências.

É importante salientar que nem sempre a solução mais adequada para determinado tipo de
edificação sob efeito de incêndio é a desocupação imediata uma vez que a população pode
precisar de auxílio de terceiros para esta movimentação. Portanto, faz-se necessário projetar-
se locais seguros que possam servir de abrigo enquanto o resgate mais adequado não chega
ou enquanto o risco não cesse.

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Recife, Pernambuco, Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

O projeto da edificação pode e deve auxiliar na prevenção e combate aos eventos adversos,
permitindo que os ocupantes encontrem meios de combate adequados mas também meios
eficazes de abandono ou permanência segura por tempo suficiente para que recebam auxílio
na evacuação ou para que aguardem o perigo cessar.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro e concessão de bolsa de pesquisa e ao


Programa de Pós Graduação em arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa
Catarina pelos conhecimentos proporcionados.

6. REFERÊNCIAS

[1] Kinateder M. T. et al. – Risk perception in fire evacuation behavior revisited: definitions,
related concepts and empirical evidence. Fire Science Reviews, vol. 4 no 1, p.1 - 26.
[2] Shiwakoti, N. et al. – Modelling pedestrian behavior under emergency conditions: State of
the art and future directions, 31st Australian Transport research forum, Gold Coast, 2008,
p. 457-473.
[3] Valentin, M. V. e Ono, R. – Saídas de emergência e o comportamento humano: uma
abordagem histórica e o estado atual de arte no Brasil, Núcleo de pesquisa e tecnologia
da arquitetura e urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006, 8 p.
[4] Drury, J.; Cocking, C. – The mass psychology of disasters and emergency evacuations: a
research report and implications for practice, Tese de doutorado, University of Sussex,
2007,40p.
[5] ABNT. NBR 9050: Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificações,
espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
[6] Dischinger, M. Et al. Promovendo acessibilidade espacial nos edifícios públicos: Programa
de Acessibilidade às Pessoas com Deiciência ou Mobilidade Reduzida nas Ediicações de
Uso Público. Florianópolis. 2012.
[7] ABNT. NBR 9077: Saídas de emergência em edifícios. Rio de Janeiro, 2001.
[8] ANVISA: Segurança contra Incêndio em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde. 1ᵃ ed.
Brasília: Anvisa, 2014. 141 p.
[9] Gouveia, Antônio. M e Etrusco, Paula. Tempo de escape em edificações: os desafios do
modelamento de incêndio no Brasil, Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 55, n. 4, dez.
2002.
[10] Rego, F. A.. Implantação de um plano de emergência em uma instituição de ensino
pública: uma abordagem centrada nos usuários e nos fatores que afetam as ações de
abandono. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011,
145p.

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FATORES QUE INFLUENCIAM A EFICIÊNCIA NO COMBATE AOS


INCÊNDIOS URBANOS
Fotografia Fotografia
Autor 1 Autor 2
30
30 mm
 mm
40 mm 
40 mm

José Pedro Lopes* João P. Rodrigues


Diretor Nacional Professor
Bombeiros Universidade de
ANPC Coimbra
Lisboa Portugal
Portugal

Palavras-chave: combate, incêndio, regulamentação, análise multicritério, eficiência.

1. INTRODUÇÃO

Os bombeiros portugueses têm a sua origem no primeiro grupo de homens a quem o rei D.
João I incumbiu, em Lisboa, de enfrentar o flagelo do fogo, estabelecendo, em 1395, as
primeiras regras tendo em vista evitar e combater os numerosos incêndios que ocorriam em
Lisboa [1].

Alguns municípios do país foram criando, ao longo dos séculos e até aos nossos dias, as suas
companhias de incêndio, mais tarde transformadas em Corpos de Bombeiros Municipais
(nestes casos os seus elementos podiam desempenhar funções em tempo parcial como
funcionários camarários e o restante tempo como bombeiros do município). Nas principais
cidades do país, foram criados Corpos de Bombeiros totalmente profissionais, em que os seus
elementos desempenham a sua função de bombeiro a tempo integral e que passaram a
designar-se por corpos de bombeiros sapadores, com uma estrutura idêntica à estrutura militar,
razão pela qual surgiu o Regimento de Sapadores Bombeiros, em Lisboa, o Batalhão de
Sapadores Bombeiros, do Porto e mais cinco Companhias de Bombeiros Sapadores,
nomeadamente nas cidades de Braga, Vila Nova de Gaia, Coimbra, Setúbal e Faro.

Apesar da prevenção de incêndios ter sido sempre uma preocupação dos responsáveis dos
municípios, apenas 26 criaram Corpos de Bombeiros na autarquia. A fragilidade da resposta às

*
Autor correspondente – Diretor Nacional de Bombeiros, Autoridade Nacional de Proteção Civil, Av. do Forte, s/n, 2794-112 - Carnaxide - Portugal.
Telem.: +351 917203050 e-mail: jpedrolopes1803@gmail.com

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necessidades de socorro da população, levou a que em 17 de outubro de 1868, na farmácia


dos irmãos Azevedo, em Lisboa, várias individualidades da altura, tivessem decidido criar uma
“companhia de voluntários bombeiros”, dando assim origem a um movimento associativo que
rapidamente se disseminou e ainda hoje perdura, tendo dado origem à constituição dos 435
Corpos de Bombeiros Voluntários, de cariz associativo atualmente existentes. A estes juntam-
se 26 corpos de bombeiros dependentes dos municípios e 10 corpos de bombeiros privativos,
criados dentro de empresas [2]. O país dispõe assim de 471 corpos de bombeiros, para uma
área de 92.090 km2 e 10.562.178 habitantes (Censos 2011) (115,3 hab./km 2).

A forma como os corpos de bombeiros foram criados em Portugal não foi baseada em qualquer
análise de risco da área a proteger, muito menos num estudo abrangente do território nacional,
que permitisse uma cobertura eficiente de meios de socorro. Com facilidade se conclui da
distorcida e pouco homogénea distribuição dos corpos de bombeiros, o que pode pôr em causa
a segurança das pessoas e seus bens em geral e, em especial, tal como a legislação de SCIE
[3] impõe, a segurança dos edifícios de 3º e 4ª Categoria de Risco (CR). Importará por isso,
que os decisores avaliem a atual malha de distribuição das estruturas de socorro existente em
Portugal, verifiquem da correta localização dos nós dessa malha, na prática representados
pelos quartéis dos Corpos de Bombeiros e da capacidade de resposta pouco homogénea de
cada um deles. Este problema é particularmente sensível na resposta dos recursos adequados
ao combate a incêndios em edifícios e recintos das 3ª e 4.ª categoria de risco, nos termos do
Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndios em Edifícios (RT-SCIE), estabelecido
pela Portaria 1532/2008, de 29 de dezembro [4]. A legislação exige um número mínimo de
veículos e operacionais disponíveis para acorrerem a um incidente desse tipo, num tempo
máximo de 10 ou 15 minutos dando provas de satisfação do Grau de Prontidão dos Meios de
Socorro exigido pela Nota Técnica [NT] nº 8, da Autoridade Nacional de Proteção Civil,
aprovada pelo Despacho nº 12037/2013, de 19 de setembro [5].

Só com a definição correta ou tão próxima quanto possível da solução ideal, será possível ao
decisor político apostar claramente no apoio à sustentabilidade e dinamização dos nós da
malha das estruturas de socorro, em detrimento do dispêndio de verba que todos os outros
quartéis existentes no país significam, sem o proporcional e correspondente benefício de
segurança associado.

Sendo 95% dos Corpos de Bombeiros do tipo Associativo, isto é, criados por vontade de um
grupo de cidadãos de determinada localidade e sem a participação do Estado, compreender-
se-á que a sua desativação ou deslocalização será extremamente difícil, para não se dizer
mesmo impossível. Restará aos responsáveis políticos, o incentivo ao Agrupamento de
Associações e Corpos de Bombeiros ou mesmo a fusão entre eles, através de aliciantes de
financiamento que permitam uma melhor sustentabilidade da estrutura de socorro. São
diversas as partes interessadas (stakeholders) envolvidas na existência de um corpo de
bombeiros e, como tal, participantes ativos na decisão da sua manutenção na malha de
resposta principal e secundária que o país deve possuir. Os próprios bombeiros pertencentes
aos Corpos de Bombeiros em causa, os seus familiares e vulgarmente também eles
associados da instituição, todos os outros sócios, as Câmaras Municipais, as forças vivas da
localidade, a população em geral e o Estado central, são intervenientes no processo, com
interesses nem sempre coincidentes e dando origem a situações problemáticas mal definidas,

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onde se podem considerar diferentes interpretações e onde existe uma elevada componente
política, social e humana, dando origem a um problema de resolução complexa.

Neste contexto, é fundamental a utilização de uma metodologia de apoio à decisão que analise
os múltiplos critérios existentes, apoiando o processo de escolha da solução mais adequada
aos objetivos pretendidos.

As metodologias multicritério de apoio à decisão são adequadas à resolução deste tipo de


problemas.

Importa assim efetuar uma análise da capacidade de resposta dos Corpos de Bombeiros
portugueses na área de atuação correspondente, de forma a ser possível determinar uma
melhor adequação dos apoios nacionais à aquisição de determinado material ou equipamento
e eventualmente duma melhor localização dos quarteis de bombeiros.

2. OBJETIVOS

2.1 Situação existente

As razões antes apontadas proporcionaram a existência de um maior número de corpos de


bombeiros nas zonas de maior população, que implicitamente são as zonas de maior número
de acidentes e incidentes que necessitam da intervenção dos bombeiros, mas não garantem
uma intervenção uniformemente eficiente em todo o país, nem tão pouco um socorro atempado
a quem reside nas zonas do interior.

Existem em Portugal continental 21933 bombeiros voluntários e 7144 elementos profissionais,


totalizando 29077 bombeiros (dados a 31 dez 2016).

2.2 Satisfação do Grau de Prontidão dos Meios de Socorro

Com vista ao cumprimento dos requisitos supra referidos, o Regulamento Técnico de


Segurança contra Incêndio em Edifícios (RT-SCIE) define, no seu Artigo nº 13º, que o
licenciamento e a localização de novos edifícios ou recintos ao ar livre, que possuam
utilizações-tipo de 3ª ou 4ª categorias de risco, dependem do grau de prontidão do socorro do
corpo de bombeiros local. Assim, pela primeira vez em Portugal, condicionou-se a localização e
o licenciamento à capacidade de resposta do corpo de bombeiros responsável pela área de
atuação onde se inclui o edifício ou recinto em causa. Essa capacidade de resposta está
condicionada, como antes se referiu, pelo tempo de acesso e pelos meios materiais e humanos
adequados ao combate a incêndios.

A Nota Técnica nº 8, da Autoridade Nacional de Proteção Civil, estabeleceu os fatores


essenciais na definição do grau de prontidão do socorro, como sendo:

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a) Distância e o tempo máximo a percorrer, pelas vias normais de acesso, entre o quartel
do corpo de bombeiros e a Utilização-tipo (UT) do edifício ou recinto;

b) Os veículos e equipamentos mobilizáveis para despacho imediato, isto é, no máximo de


2 minutos, após o alerta;

c) A Força Mínima de Intervenção Operacional (FMIO), isto é, os meios humanos em


quantidade mínima e em prontidão, 24 h /dia, para operacionalizar os meios técnicos
mencionados, de acordo com as dotações mínimas estabelecidas.

A referida NT nº8 estabelece que, para um incêndio verificado num edifício ou recinto de 3ª ou
4ª Categorias de Risco, o número de veículos a mobilizar que deverão chegar no tempo
indicado, são os expressos no Quadro 1, com a respetiva guarnição.

Quadro 1

Guarnições Nº de veículos
Tipo de veículos de socorro
mín. / veículo <10 min < 5min

Veículo Urbano Combate Incêndios 5 1 0

Veículo Escada ou Plataforma 2 0 1

Veículo Tanque Tático Urbano 2 0 1

Ambulância de Socorro 2 1 0

Veículo de Comando Operacional


2 0 1
Tático

TOTAL 13 2 3

As especificações técnicas de veículos e equipamentos operacionais dos Corpos de Bombeiros


em Portugal estão definidas no Despacho nº 7316/2016, publicado em Diário da República em
3 de junho, [6] estabelecendo as características que os veículos, nomeadamente os referidos
no Quadro 1, devem possuir.

Assim, o Veículo Urbano de Combate a Incêndios (VUCI), dispõe de bomba de serviço de


incêndio e um ou mais depósitos de agente extintor, destinado prioritariamente à intervenção
em espaços urbanos, tecnológicos ou industriais. Os veículos com meios elevatórios são o

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Veículo Escada, que dispõe de estrutura extensível em forma de escada, com ou sem cesto,
apoiando-se em base giratória ou a Plataforma Elevatória com plataforma de trabalho e uma
estrutura extensível hidráulica com possibilidade de incorporar uma escada em paralelo. No
que respeita ao transporte de produtos de extinção, como seja a água, estão classificados
como Veículos Tanque Urbanos, os que estão equipados com bomba de serviço de incêndio e
tanque de agente extintor, para apoio a operações de apoio e assistência. Como veículos de
socorro e assistência a doentes estão caracterizadas as Ambulâncias de Socorro (ABSC),
dotadas de equipamento e tripulação que permite a aplicação de medidas de suporte básico de
vida, destinadas à estabilização e transporte de doentes e sinistrados que necessitem de
assistência durante o transporte. Os Comandantes das Operações de Socorro dispõem para
sua deslocação de Veículos de Comando Tático, equipados com meios de comunicação e
diverso equipamento de apoio à decisão, direção e comando das operações de socorro e
combate a incêndios.

O RT-SCIE admite a aplicação de medidas compensatórias, caso não estejam totalmente


garantidas as condições que satisfaçam o Grau de Prontidão dos Meios de Socorro, à data da
apreciação do projeto de licenciamento do edifício ou recinto e a opção não seja o reforço
dessas condições. Cabe ao projetista de segurança adotar as medidas adequadas a cada caso
concreto e inseri-las num método de avaliação de risco credível, submetendo-as à aprovação
da ANPC. No Quadro 2 referem -se, na generalidade, as medidas que devem ser adotadas, em
função da utilização-tipo do edifício ou recinto em causa:

Quadro 2 – Medidas compensatórias

UT –
Utilizações A B C D E F G
Tipo
I ● ● ●
II, III, ● ● ● ● ● ●
VI a XII ● ● ● ● ● ●

A - Aumento do escalão de tempo de resistência ao fogo padrão


B - Diminuição das áreas máximas de compartimentação corta-fogo
C - Agravamento das exigências de reação ao fogo dos materiais
D - Reforço das instalações de controlo de fumos
E - Adoção de todos os meios de 2ª intervenção
F - Reforço das medidas de autoproteção
G - Instalação de sistemas de extinção automática de incêndios

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2.3. Análise Multicritério

O objetivo do trabalho em estudo é a análise sobre a eficiência dos Corpos de Bombeiros


portugueses, focando a nossa atenção no combate aos incêndios urbanos. Esta análise
abrange múltiplos critérios de avaliação, muitas vezes conflituosos, com múltiplos
intervenientes interessados e múltiplos valores locais em jogo, obrigando a uma análise
económica, política, técnica, social e mesmo ambiental do problema. Entende-se assim que a
metodologia mais adequada para o tratamento dos problemas de decisão suscitados será, sem
dúvida, a metodologia multicritério de apoio à decisão (MCDA - Multi-Criteria Decision Aid) [7 e
8]. O uso desta metodologia permite conciliar diferentes dados de cariz quantitativo e
qualitativo, integrando o conhecimento dos diferentes setores envolvidos, convenientemente
estruturado de modo a permitir o planeamento e tomada de decisão num ambiente participativo
pelos variados especialistas nas temáticas abrangidas pelo estudo.

Definimos uma árvore de objetivos e serão considerados onze critérios de avaliação, sete dos
quais são expressos numa escala quantitativa e quatro são expressos numa escala qualitativa,
com o respetivo indicador da escala e o sentido de preferência de cada critério considerado.

O modelo será então tratado por um software - IRIS (análise de robustez interativa e inferência
de parâmetros para a classificação de problemas multicritério), software de apoio à decisão
projetado para classificar um conjunto de ações (alternativas, projetos, candidatos) em
categorias predefinidas ordenadas, de acordo com as suas avaliações (desempenhos) com
vários critérios. Será assim possível priorizar a solução mais vantajosa, com base nos
diferentes critérios utilizados na avaliação.

Para a análise da eficiência que se pretende desenvolver, é primordial conhecer a área de


atuação que cada CB tem sob sua responsabilidade para verificarmos o tempo médio de
resposta que pode ser atingido, verificando-se se são satisfeitas as condições impostas pelo
Grau de Prontidão dos Meios de Socorro estabelecidas no RT-SCIE, antes referido.

Só com a definição correta ou tão próxima quanto possível da solução ideal, ainda que devam
vir a ser considerados pontos principais e secundários nessa malha, será possível ao decisor
político apostar claramente no apoio à sustentabilidade e dinamização dos nós dessa malha,
em detrimento do dispêndio de verba que todos os outros quartéis existentes no país
significam, sem o proporcional e correspondente benefício de segurança associado.

Sendo 95% dos Corpos de Bombeiros do tipo Associativo, isto é, criados por vontade de um
grupo de cidadãos de determinada localidade e sem a participação do estado, compreender-
se-á que a sua desativação ou deslocalização será extremamente difícil, para não se dizer
mesmo impossível. Restará aos responsáveis políticos, o incentivo ao Agrupamento de
Associações e Corpos de Bombeiros ou mesmo a fusão entre eles, através de aliciantes de
financiamento que permitam uma melhor sustentabilidade da estrutura de socorro. São
diversos os stake holders envolvidos na existência de um corpo de bombeiros e, como tal,
participantes ativos na decisão da sua manutenção na malha de resposta principal e
secundária que o país deve possuir. Os próprios bombeiros pertencentes aos Corpos de
Bombeiros em causa, os seus familiares e vulgarmente também eles associados da instituição,

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todos os outros sócios, as Câmaras Municipais, as forças vivas da localidade, a população em


geral, o estado local e central são intervenientes no processo, com interesses nem sempre
coincidentes e dando origem a situações problemáticas mal definidas, onde se podem
considerar diferentes interpretações e onde existe uma elevada componente política, social e
humana, dando origem a um problema de resolução complexa.

É fundamental a utilização de uma metodologia de apoio à decisão que analise os inúmeros


critérios existentes a apoie na escolha da solução mais adequada aos objetivos pretendidos.

As metodologias multicritério de apoio à decisão são adequadas à resolução deste tipo de


problemas.

A fase de estruturação do problema é hoje reconhecida como uma das fases mais importante
no processo de apoio à decisão.

Dos diversos Métodos de Estruturação de Problemas (PSM), nomeadamente o Soft Systems


Methodology (SSM) [9] em que é abordada uma metodologia de estruturação, não se conhece
nenhuma análise à eficiência na resposta de socorro, prestado pelos Corpos de Bombeiros. A
abordagem à estruturação e formulação do problema de análise da eficiência no combate aos
incêndios urbanos deve ser efetuada recorrendo à metodologia SSM, apropriada para
situações problemáticas mal definidas, onde podem surgir diferentes interpretações e com um
peso social, político e humano deveras significativo.

Esta fase de estruturação e formulação do problema será assim o primeiro passo duma
metodologia de apoio à decisão, baseada numa análise multicritério, que possa ser utilizada na
tomada de decisões que permitam a melhoria da eficácia no combate a incêndios urbanos.

2.4. Metodologias de Estruturação de Problemas

No âmbito da Investigação Operacional as diversas Metodologias de Estruturação de


Problemas (Problem Structuring Methods – PSM) [10], que exploram as diferentes opiniões e
incertezas existentes, permitem alcançar o consenso na resolução de problemas complexos
que se nos apresentam com inúmeras incertezas e objetivos nem sempre consensuais. Esta
metodologia é particularmente utilizada quando as situações problemáticas se caracterizam por
múltiplos atores, diferentes perspetivas, interesses não mensuráveis e mesmo conflituantes. A
estruturação efetuada permite a organização do problema para que os intervenientes o
compreendam e participem no próprio processo e mesmo na tomada de decisão. Envolvidos
na solução encontrada, deixam de estar contra ela e tornam-se mesmo seus defensores. Por
outro lado, uma outra característica destes processos é a facilitação que proporcionam,
permitindo que os participantes sejam devidamente orientados a as discussões sejam
corretamente dirigidas.

Os PSM devem assim permitir que diferentes perspetivas sejam analisadas em paralelo e
facilmente acessíveis de forma a conseguirmos ter um processo participativo e representativo.

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A evolução da análise é conseguida através de iterações na evolução da discussão,


permitindo melhoramentos parciais ou locais e não uma solução global que necessariamente
obrigaria a cedências de algumas das partes intervenientes e a conjugação de vários
interesses, nem sempre fácil de alcançar.

A complexidade deste tipo de estudos decorre da necessidade de ter em conta aspetos de


natureza distinta (tecnológicos, económicos, financeiros, sociais e reguladores), vários deles de
natureza intangível, nos modelos de avaliação. Assim sendo, a estruturação das características
do problema é um passo essencial no desenvolvimento dos modelos.

Neste contexto, a metodologia MCDA é particularmente adequada a lidar com um vasto leque
de problemas nos quais potenciais alternativas devem ser julgadas de acordo com diferentes
eixos de avaliação que são explicitamente considerados no modelo.

Os modelos MCDA permitem incluir critérios de avaliação de diferentes naturezas, que são
geralmente conflituosos e incomensuráveis, tendo em conta o ponto de vista dos diferentes
stakeholders, cada um dos quais contribui para o processo com os seus próprios valores,
preferências ou critérios.

Tal como antes referido, um dos métodos mais significativos incluídos nos Problem Struturing
Methods é o Soft Systems Methodology (SSM), que usado para redefinição de sistemas, tem
como grande diferença a determinação dos objetivos ser uma parte do problema. Inicia-se a
análise com cada participante a expressar as suas questões e perspetivas, concebendo
modelos conceptuais a partir de definições de raiz.

A SSM é especialmente ajustada para a resolução de divergências resultantes dos diferentes e


objetivos conflituosos dos vários intervenientes interessados. Fazendo a ligação entre as fases
de estruturação e de avaliação de alternativas, a SSM tem a vantagem de fazer sobressair as
principais questões que devem ser incluídas nos modelos MCDA.

A estruturação deste problema foi efetuada com a apresentação de uma árvore de objetivos,
na qual estão esquematizas as ações inerentes à concretização dos objetivos definidos.

Foram considerados cinco objetivos: objetivos económicos; objetivos tecnológicos; objetivos


ambientais, objetivos sociais e objetivos da preservação da vida humana, definindo-se a
estruturação dos objetivos que se apresenta na Figura 1. Nas caixas sombreadas indicam-se
os catorze critérios que foram especificados para serem usados no modelo de avaliação.

Utilizando um modelo MCDA será possível analisar comparativamente as diferentes soluções


preconizadas e que beneficiam cada uma delas diferentes objetivos, sendo possível
estabelecer ou priorizar os que de forma mais adequada permitirão atingir o desiderato
pretendido.

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Figura 1 – Árvore de objetivos do Sistema de Proteção e Socorro em Portugal

3. CONCLUSÕES

Para uma redução dos danos causados pelos incêndios urbanos, a avaliação multicritério a ser
desenvolvida permitirá concluir da vantagem em apostar na melhoria das condições de
resposta técnica e humana do(s) Corpo(s) de Bombeiros ou antes na melhoria das condições
de segurança passiva e ativa do(s) edifício(s) a licenciar e implantar no local. O método de
avaliação poderá mesmo permitir concluir que, em vez da melhoria das condições de
segurança do edifício em causa, a solução mais eficiente venha a ser a relocalização do
Quartel de Bombeiros responsável pela intervenção ou mesmo o agrupamento entre Corpos de
Bombeiros. Estando disponíveis os diversos dados que condicionam a melhor decisão sobre a
solução condizente com a eficiência pretendida para os bombeiros portugueses, será utilizada
uma metodologia “Soft Systems Methodology” (SSM) que permita consolidar o conhecimento
sobre a situação em análise, identificando os fatores em causa e estruturando os seus valores.

Importará salientar que dos diferentes objetivos considerados, ainda que se pretenda que todos
eles conduzam a uma melhoria do sistema de proteção e socorro em Portugal, a sociedade
não os aceitará de igual forma nem lhes atribuirá a mesma prioridade. Se nos objetivos
relacionados com a preservação da vida humana, ninguém deixará de considerar a sua
importância, já nem todos darão o mesmo peso aos objetivos sociais ou mesmo aos
ambientais. Relativamente aos objetivos económicos, pouco poderá ser contestado, mas no
que diz respeito à eficiência, muitas versões poderiam ser apresentadas e contestações aos
objetivos e ações escolhidas para os alcançar. A concretização de alguns dos objetivos poderá
afetar as ações que influenciam outros, pelo que só com uma análise global e integrada será
possível apontar a solução mais vantajosa.

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Esta análise poderá permitir, no futuro, definir quais os corpos de bombeiros que se justificará
virem a ser imprescindíveis para a proteção e socorro de pessoas e bens, deixando o estado
de suportar financeiramente outras estruturas de 2ª linha e rentabilizando a eficiência do
Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro estabelecido em Portugal.

4. REFERÊNCIAS

[1] Santos, F.H. et al. - Bombeiros Portugueses – Seis séculos de história 1395 – 1995,
Serviço Nacional de Bombeiros e Liga dos Bombeiros Portugueses, Lisboa, 1995, 520 p.
[2] Decreto-Lei nº 247/2007, de 27 de junho, alterado pelo Decreto-Lei nº 248/2012, de 21 de
novembro, que define o Regime Jurídico aplicável à constituição, organização,
funcionamento e extinção dos Corpos de Bombeiros, DR, Lisboa, 2007, 12 p.
[3] Decreto-Lei nº 220/2008, de 12 de novembro, republicado e alterado pelo Decreto-Lei nº
224/2015, de 9 de outubro, que estabeleceu o Regime Jurídico de Segurança Contra
Incêndio em Edifícios (SCIE), DR, Lisboa, 2008, 35 p.
[4] Portaria Nº 1532/2008, de 29 de dezembro, que aprovou o Regulamento Técnico de
segurança Contra Incêndio em Edifícios (SCIE), DR, Lisboa, 2008, 78 p.
[5] Despacho Nº 12037/2013, de 19 de setembro - Nota Técnica nº 8 – Grau de Prontidão
dos Meios de Socorro, Despacho do Presidente da ANPC, DR, Lisboa, 2013, 2 p.
[6] Despacho nº 7316/2016, de 3 de junho, que aprovou o novo Regulamento de
especificações técnicas de veículos e equipamentos operacionais dos corpos de
bombeiros portugueses, DR, Lisboa, 2016, 56 p.
[7] Coelho, D.; Antunes, C. H.; Martins, A. G.- “Using SSM for structuring an MCDA model for
sustainable urban energy planning”, in M. Grasserbauer, L. Sakalauskas, E. K. Zavadskas
(Eds.) Proceedings of the EURO Mini-Conference – 5th Int. Vilnius Conf. Knowledge-
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[8] Diakoulaki, D.; Antunes, C. H.; Martins, A. G. - “MCDA and Energy Planning”, in J.
Figueira, S. Greco and M. Ehrogott (Eds.). Multiple Criteria Decision Analysis: State of the
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[9] Freitas, J.S. et al. – “O Soft Systems Thinking e a Soft Systems Methodology”, Anais do 4º
Congresso Brasileiro de Sistemas, Centro Universitário de Franca Uni-FACEF, 2008, 15p.
[10] Rosenhead, J. and Mingers J. (Eds.) - “Rational Analysis for a Problematic World
Revisited: Problem Structuring Methods for Complexity”, 2nd ed., Wiley, 2001, 386 p.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

FRAGILIDADE NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE:


MAPEAMENTO, CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DOS INCÊNDIOS QUE
OCASIONARAM MORTES E FERIDOS

Roberto Ryanne Cristiano Corrêa Tiago Ancelmo de José Jéferson do


Ferraz de Menezes* Aluno (doutorando) do Carvalho Pires de Rêgo Silva
Aluno (mestrando) do Programa de Pós- Oliveira Professor do PPGEC
Programa de Pós- Graduação em Professor do PPGEC da da
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Universidade Federal
Engenharia Civil da UFPE, Brasil Pernambuco de Pernambuco
UFPE, Brasil Recife, Brasil Recife, Brasil

Palavras-Chave: Incêndios. Mortes. Feridos. Região Metropolitana do Recife. Edificações


residenciais.

1. INTRODUÇÃO:

O fogo apesar de importante para o desenvolvimento das civilizações, sempre foi uma séria
ameaça ao ser humano, quando fora de controle. As grandes tragédias vividas ao longo dos
últimos séculos, foi o marco na busca de se conhecer melhor o comportamento do fogo e suas
consequências. Nos centros urbanos, a existência de multidões e o acontecimento de
incêndios formam uma combinação que, não raramente, provoca tragédias vultosas com perda
considerável de patrimônio e principalmente de vidas humanas.

O lócus deste estudo é a Região Metropolitana do Recife (RMR), localizada na Região


Nordeste do Brasil e formada por 14 municípios, incluindo a capital pernambucana, perfazendo
uma população de mais de 3,7 milhões de pessoas, ou pouco mais de 45% da população de
todo o Estado de Pernambuco residentes em um território que corresponde a menos de 3% da
extensão do Estado [1].

Acrescenta-se a este forte adensamento populacional a existência de construções subnormais,


representadas por favelas e cortiços, bem como edificações elevadas que nem sempre são

*
Autor correspondente - Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Av. João de Barros, nº 399, Boa Vista. 50.050-180 - Recife - PE - Brasil.
Tel.: +55 81 3181-2483. E-mail: robertorfmenezes@hotmail.com

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acompanhadas das preocupações preventivas adequadas aos riscos, o que representa uma
fonte catalisadora para a eclosão de incêndios e um desafio para a segurança contra incêndio
na minimização de mortes e feridos. Outrossim, os incêndios na RMR apresentaram, no triênio
2011-2013, um crescimento constante com um aumento de mais de 15% [2]. Não obstante, os
prejuízos e as perdas que impactam não apenas a economia, mais principalmente o bem estar
social, aponta para a face mais cruel destes incêndios que são refletidos através de vítimas,
quer sejam as quem venham a óbito ou aquelas feridas pelas consequências do incêndio.

Quando se fala em estatísticas de mortalidade e letalidade nos incêndios, Paes [3] aponta que
um sistema de estatísticas seria vital, o qual é subutilizado em vários países da América Latina
devido as suas limitações por serem incompletos, desatualizados e dispersos. Destaca-se que
no estudo mundial feito por IAFRS/CTIF [4] nenhum dado do Brasil ou de outro país da
America Latina é descrito, ensejando a possibilidade de inexistência ou inconsistência de
estatística nacional consolidada na área, padecendo de investigações.

Só no ano de 2016, a Região Metropolitana do Recife registrou 2.503 incêndios, sendo 835
incêndios em edificações, o correspondente a 33,3% do total de incêndios na RMR [5], sendo a
alta densidade demográfica um fator catalisador. Sendo assim, analisar os incêndios em
edifícios através do seu mapeamento, peculiaridades construtivas, tipo de ocupação, estimativa
local dos focos primários, bem como a carga incêndio consumida existente, poderá contribuir
efetivamente na implantação de políticas públicas que visem reduzir o problema [6].

2. METODOLOGIA

Utiliza-se como método para aferição e apresentação dos dados nesta pesquisa, a tabulação e
interpretação dos dados, derivante de entrevista dos atendimentos a incêndios realizados pelo
Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco que ocasionaram óbitos e feridos em edificações
na Região Metropolitana de Recife no período de 1 (um) ano, mais especificamente entre os
dias 25 de outubro de 2015 a 25 de outubro de 2016.

Assim a pesquisa alicerça-se na lógica hipotética dedutiva proposta Lakatos e Marconi [7],
quando sugerem que a hipótese de pesquisa deve coletar subsídios para a comprovação,
partindo da premissa de que é possível o estabelecimento de relações entre os incêndios letais
e sua caracterização no perímetro em estudo.

Uma ficha de levantamento de dados foi construída objetivando colher informações mais
detalhadas dos incêndios com vítimas logo após acontecessem. Sua confecção baseou-se nos
aspectos mais comuns e relevantes dos formulários de ocorrências preenchidos pelos mais
diversos órgãos de resposta à emergências, sendo observados 8 (oito) pontos que
possibilitassem uma melhor percepção do acontecido, bem como se pudesse traçar um perfil
do cenário sinistrado. Entre os pontos elencado no formulário, estão: dados do vitimado, como
sexo, idade, local do ferimento ou se veio a óbito; endereço da emergência; características do
evento, viaturas de socorro empregadas, distância, tempo resposta; histórico da ocorrência;
características da edificação, sistemas preventivos existentes, área presumida de origem do
incêndio, área atingida, tipo de construção e possível local onde a vítima foi encontrada;

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móveis danificados; dados da família, moradores, escolaridade e renda; e características do


bairro.

Além disso, foram utilizados como aliados na análise dos dados, os boletins de ocorrência
emitidos pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco sobre o desastre, bem como bases
de dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

É de bom alvitre destacar que algumas informações não foram colhidas diretamente da família
atingida, e sim por vizinhos, amigos e até mesmo pelos bombeiros militares que atenderam ao
chamado do sinistro, visto o estado emocional que ainda se encontravam os familiares do ente
falecido ou ferido. Além disso, em alguns casos perguntas não tiveram resposta elucidadas
pela falta de conhecimento do entrevistado sobre a informação solicitada.

3. DISCUSSÃO E RESULTADOS

Os incêndios nos centros urbanos do Brasil, são derivantes, em parte, do crescimento


desordenado das cidades, acompanhado de infraestrutura insuficiente de segurança contra
incêndio. Somado-se a isso, tem-se a eclosão e manutenção das favelas ou conglomerado de
sub habitações, compostas por construções precárias feitas quase exclusivamente com
materiais muito combustíveis com instalações e equipamentos em péssimas condições
tornando-se - “um barril de pólvora” [8].

Dos 3.961 incêndios atendidos no Estado de Pernambuco pelo Corpo de Bombeiros durante o
ano de 2016, 2.503 foram atendidos na RMR, sendo que desse total, 835 (33,3 %)
correspondem a incêndio em edificações, ou seja, incêndios ocorridos em residências,
comércios, depósitos, hospitalares, industriais, escolares, entre outras.

A predominância de incêndios em edificações é visível, inclusive com números percentuais


muito próximos dos verificados no mundo (38,8 %), conforme aponta o IAFRS/CTIF [4].

Dos incêndios em edificações ocorridos no período de 1 (um) ano, entre os dias 25 de outubro
de 2015 a 25 de outubro de 2016, aconteceram 7 óbito e 6 feridos em 11 ocorrências. Das
ocorrências que geraram óbito, todas as edificações eram classificadas como residências
unifamiliares. Já das que resultaram em feridos, 50% eram residências unifamiliares e os
outros 50% residências multifamiliares, conforme tabela a seguir.

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Tabela 1: Ocorrências com óbitos no período de 25 de outubro de 2015 a 25 de outubro de


2016 na RMR.
Tipo de Quantidade
Incêndio Data Cidade Sexo/idade
Edificação de mortes
Ocorrência Feminino
25OUT15 Recife Unifamiliar 01
1 43 anos
Ocorrência Masculino
26OUT15 Abreu e Lima Unifamiliar 01
2 47 anos
Ocorrência Jaboatão dos Feminino
08DEZ15 Unifamiliar 01
3 Guararapes 6 anos
São
Ocorrência Masculino
11DEZ15 Lourenço da Unifamiliar 01
4 41 anos
Mata
Ocorrência Feminino
01AGO16 Recife Unifamiliar 01
5 4 anos
Ocorrência Jaboatão dos Masculino
03AGO16 Unifamiliar 01
6 Guararapes 10 meses
Cabo de
Ocorrência Masculino
05AGO16 Santo Unifamiliar 01
7 ~ 40 anos*
Agostinho
* Vítima encontrada pelo CBMPE com corpo carbonizado e sem identificação, aparentando ter 40 anos.

Tabela 2: Ocorrências com feridos no período de 25 de outubro de 2015 a 25 de outubro de


2016 na RMR.
Tipo de Quantidade
Incêndio Data Cidade Sexo/idade
Edificação de mortes
Ocorrência Jaboatão dos Masculino
14NOV15 Unifamiliar 02
1 Guararapes 3 e 4 anos
Ocorrência Masculino
08DEZ15 Recife Unifamiliar 01
2 < 10 anos*
Ocorrência Feminino
24FEV16 Recife Multifamiliar 01
3 39 anos
Ocorrência Masc. e Fem.
27FEV16 Recife Multifamiliar 02
4 66 e 60 anos
* Vítima não residia no Recife e vizinhos não a conheciam. Casa encontrava-se fechada.

Observa-se claramente a predominância de incêndios letais acontecidos na RMR em


residências unifamiliares, ou simplesmente ‘casas’, edificadas quase sempre com um único
pavimento e destinando-se a habitação de uma só família. Destaca-se que este é o único Tipo
de Edificação (TIPO A – COSCIP, 1996) a qual não há previsão de sistema preventivo contra
incêndio, nos principais códigos e normas de segurança contra incêndio do Brasil. Os
incêndios, nesses domicílios órfãos de norma, têm como características o confinamento das
chamas pelos cômodos e livre acesso da fumaça por todo ambiente, gerando, portanto, maior
probabilidade de ocasionar feridos e até mesmo mortes [9].

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Segundo Corrêa et al. [6], incêndios em casas destinadas a uma única família correspondem a
quase 3/4 dos incêndios em residências, coadunando com o somatório das ocorrências
verificadas nas tabelas 1 e 2 que representaram 75% do total de incêndios com mortos e
feridos.

No trabalho feito por Santos [9], o qual comparou incêndios gerais com incêndios em
residências no Estado de São Paulo em 2014, o mesmo demonstrou que embora haja uma
pequena parcela dos atendimentos a incêndios em residências, foi elevado o percentual com
óbito nesse tipo de edificação, chegando próximo dos 90%. Ainda cita que em alguns países a
estratégia de se utilizar detectores de incêndio como prevenção primária é bem aceita na
mitigação dos incêndios com mortes, principalmente para incêndios noturnos e que envolvam
pessoas idosas e vulneráveis. Não só em Pernambuco, mas no Brasil, a prevenção primária de
mortes em incêndios residenciais é feita por meio de educação pública buscando evitar as
principais causas de incêndio. Para Zago et al. [10] a probabilidade de que um incêndio se
propague é reduzida em edifícios com detectores de fumaça, sistema de chuveiros
automáticos, brigada contra incêndio e compartimentação adequada, instrumentos ausentes no
interior das residências.

A tabela abaixo retrata algumas outras observações feitas durante o levantamento de dados.

Tabela 4: Incêndios com óbito na RMR de 25 de outubro de 2015 a 25 de outubro de 2016.


Horário Distância
Tempo Tipo de
Data Cidade do do Escolaridade
Resposta Construção
aviso Quartel
25OUT15 Recife 03:59 h 22 Km 19 min Alvenaria Ignorado*
Abreu e
26OUT15 11:20 h 16 Km 24 min Alvenaria Incapaz
Lima
Jaboatão
08DEZ15 dos 23:20 h 3 Km 16 min Alvenaria Criança
Guararapes
São
Alvenaria e
11DEZ15 Lourenço 22:43 h 3 Km 6 min 1º Grau
madeira
da Mata
01AGO16 Recife 21:05 h 6 Km 16 min Alvenaria Criança
Jaboatão
03AGO16 dos 21:01 h 6 Km 12 min Alvenaria Bebê
Guararapes
Cabo de
05AGO16 Santo 21:00 h 19 Km 24 min Madeira Ignorado*
Agostinho
* Segundo vizinhos, vítimas moravam recentemente no local sinistrado.

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Tabela 5: Incêndios com feridos na RMR de 25 de outubro de 2015 a 25 de outubro de 2016.


Distância
Horário Tempo Tipo de
Data Cidade do Escolaridade
do aviso Resposta Construção
Quartel
Jaboatão
14NOV15 dos 14:21 h 7 Km 20 min Alvenaria Crianças
Guararapes
08DEZ15 Recife Ignorado* Ignorado* Ignorado* Alvenaria Criança
Alvenaria e
24FEV16 Recife 01:10 h 5 Km 17 min concreto Pós graduada
armado
Alvenaria e
27FEV16 Recife 03:40 h 4 Km 6 min concreto Graduação
armado
* Ocorrência divulgada por meio da mídia impressa, porém sem atendimento pelo CBMPE, visto terem
socorrido a vítima de imediato. No momento do levantamento de dados não havia ninguém na residência.

Pelas tabelas 4 e 5 é possível verificar, inicialmente, que os óbitos e feridos nos incêndios
aconteceram, em sua maioria, no período das 21:00h ás 06:00h, o que mostra, muitas vezes, a
fragilidade de uma edificação residencial, principalmente unifamiliar, que não possui em seu
interior sistemas preventivos que possibilitem reconhecer o princípio do incêndio e, muito
menos, promover sua extinção, haja vista ser um horário onde boa parte da população já se
encontra dormindo ou com déficit de atenção devido a um dia intenso de atividades.

As edificações que queimaram na RMR no período estudado, possuíam modalidades cons-


trutivas diversas. Contudo a imensa maioria de edificações residenciais, sejam unifamiliares ou
multifamiliares, eram constituídas de alvenaria.

Entende-se como edificações em alvenaria aquelas onde as paredes têm função estrutural,
além de divisória de ambientes (alvenaria estrutural, alvenaria resistente). Na RMR estas
alvenarias são, em sua grande maioria, constituídas de tijolos cerâmicos.

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Figura 1: Danos ocasionados na alvenaria estrutural de algumas residências em virtude do


incêndio.

Através das imagens da Figura 1 é possível observar que a resistência da estrutura é


comprometida não só pela ausência da camada de revestimento, mas também pelos danos
ocasionados nos tijolos cerâmicos. Segundo Leite et al. [11] a resistência ao fogo é a
capacidade de um elemento estrutural permanecer exercendo as funções para as quais foi
projetado durante um determinado tempo, sob as circunstâncias de um incêndio. Além disso, a
edificação deve se manter resistente ao fogo para que garanta a fuga dos ocupantes da
edificação em condições de segurança, bem como possa garantir a segurança das operações
de combate ao incêndio por parte dos bombeiros e a minimização dos danos a edificações
adjacentes e à infraestrutura pública.

Vê-se um bom tempo resposta compreendido entre o chamado e a chegada da equipe nas
duas tabelas anteriores, sendo notório que tal tempo resposta relaciona-se ao fato de boa parte
das ocorrências terem se dado entre os períodos da noite e da madrugada, em contrapartida
um fator contribuinte que é o auxílio de transeuntes nas proximidades do local para maiores
esclarecimentos esteve comprometido, visto que na maioria dos incêndios com óbito, os

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acessos aos locais sinistrados eram de total desconhecimento por parte dos bombeiros
militares. Outro fator complicador relaciona-se a probabilidade do risco relacionado à própria
segurança física dos bombeiros quando de sua chegada no cenário sinistrado, sendo
necessário o apoio e presença da Polícia Militar para se adentrar em determinados bairros, o
que pode acarretar em retardo no tempo resposta.

Nas ocorrências que se dão no período matutino ou vespertino, o imenso fluxo de veículos
somados com vias de espaçamento reduzido, dificultam a passagem de veículos de grande
porte. Para Corrêa et al. [12] a resposta aos incêndios em edificações na RMR advém dos
quartéis do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco - CBMPE, atendendo-os a partir de
suas bases. Essas bases ou quartéis com viaturas de combate a incêndio somados, chegam a
apenas seis endereços, o que é obviamente um fator limitante, sobretudo com o crescimento
da frota veicular na RMR de mais de 380% em 24 anos (1990-2014), saindo de 251,42 mil
veículos automotores para 1,22 milhões, e as consequentes dificuldades de mobilidade [13].

Figura 2: Danos ocasionados na alvenaria estrutural de algumas casas em virtude do incêndio.

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Figura 3: Disposição das ocorrências com mortos e feridos, no período de 25 de outubro de


2015 a 25 de outubro de 2016, e os quartéis de incêndio na RMR.

Ainda é notório destacar que entre as mortes acontecidas, três das sete vítimas possuíam
menos de 7 anos, mostrando o risco existente tanto pela falta de conhecimento quanto pela
limitação em distinguir e avaliar o perigo. Além disso, outro fator associado a óbito, está na
ação criminosa, o qual ocasionou a morte de uma senhora de 43 anos, no dia 25 de outubro de
2015, e de um senhor que aparentava ter 40 anos, no dia 05 de agosto de 2016. Outro ponto a
ser explícito está no envolvimento de pessoas com distúrbios mentais, o que pode acarretar em
ações suicidas, como o acontecido com a vítima de 47 anos que se trancou no quarto no
momento em que familiares se ausentaram, vindo a atear fogo no seu próprio corpo no dia 26
de outubro de 2015.

Quando verificada a tabela 5, o qual retrata dados dos incêndios que levaram a feridos, pode-
se perceber a existência, entre as seis vítimas envolvidas nas quatro ocorrências, que no
incêndio do dia 14 de novembro de 2015 as pessoas envolvidas se tratavam de duas crianças,
uma de 3 e outra de 4 anos, tendo a origem do sinistro quando as duas brincavam com um

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isqueiro em um quarto. Já a ocorrência do dia 08 de dezembro de 2015, o qual teve como


vítima também uma criança de idade não conhecida, não teve como se levantar informações
acerca do ocorrido em virtude da ausência dos moradores da residência. Contudo, esses dois
casos possibilitam ratificar o fator preponderante de acontecimentos danosos dos incêndios
quando se tratam de crianças, sendo devido, principalmente, ao desconhecimento do perigo e
de suas limitações na resposta ao princípio da tragédia.

Os outros dois casos que envolveram três pessoas feridas, nos incêndios dos dias 24 e 27 de
fevereiro de 2016, retratam a imagem de pessoas com maior capacidade intelectual, sendo
caracterizadas por serem as únicas com cursos superiores. Possivelmente, o maior grau de
educação e, consequentemente, conhecimento do que se fazer em situações de emergência,
foram fatores que minimizaram o surgimento de maiores danos a essas pessoas. Dentre todas
as ocorrências, essas foram as únicas em residências classificadas como multifamiliares.

Sabendo-se que os ferimentos e mortes acontecidos por incêndios são um preocupação não
só do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, mais também mundial, buscou-se discutir os
dados apresentados comparando-os com outros países e cidades, verificando que em relação
ao número de mortos, a RMR apresenta uma proporção de 0,18 mortes por 100.000
habitantes, encontrando-se bem próximo dos valores apresentados por países como Itália,
Singapura e Vietnã [4]. Já em relação às vítimas feridas, a RMR encontra-se em uma leve
vantagem em relação a países como Itália e Vietnã, e a cidade de Hanoi (Vietnã), com uma
proporção de 0,16 por 100.000 habitantes.

Destaca-se ainda que em uma análise relativizando o número de mortos e feridos com a
quantidade de incêndios atendidos na RMR, vê-se que são necessários 357,5 incêndios, em
média, para que haja uma morte, e 417,1 incêndios para que se tenha um ferido. Comparados
com a tabela abaixo o número de mortos por 100 incêndios, há uma similaridade com países
como: USA, Polônia e Croácia, e índices piores que França, Grã Bretanha, Singapura e
cidades como: Eslovênia, Nova Iorque e Hong Kong, sendo melhor apenas que a cidade de
Berlim.

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Tabela 6: Incêndios com mortes e feridos na RMR e no mundo.


País / 1 ferido por
Número de Número de Número 1 morte por
Cidade / 100
Incêndios Mortos de Feridos 100 incêndios
Região incêndios
RMR 2.503* 7** 6** 0,3 *** 0,2***
USA 1.298.000 3.275 15.775 0,3 1,2
França 270.900 280 13.703 0,1 5,1
Grã
212.500 322 9.748 0,2 4,6
Bretanha
Polônia 145.237 493 - 0,3 -
Singapura 4.724 8 111 0,2 2,3
Croácia 7.317 21 71 0,3 1,0
Eslovênia 5.917 0 53 0,0 0,9
Nova Iorque 42.043 71 - 0,2 -
Hong Kong 767.215 23 295 0,1 0,8
Berlim 6.456 27 - 0,4 -
Fonte: Report 21 International Association Fire and Rescue Services (CTIF, 2014), e resultados da
pesquisa.
* Número de incêndios no ano de 2016.
** Dados colhidos de 25 outubro de 2015 a 25 outubro de 2016.
*** Índices calculados através do número de mortos e feridos com o número de incêndios apresentados na
tabela.
As demais cidades e países estão preenchidos com os dados de 2014.

4. CONCLUSÃO

Embora com poucos números referentes a incêndios que geraram mortes e feridos no prazo de
um ano, quando comparado com outros locais no mundo, a probabilidade do surgimento de
novos eventos na Região Metropolitana do Recife não está distante, visto, principalmente, o
forte adensamento populacional existente aliado às construções subnormais e edificações
verticalizadas que nem sempre acompanham as preocupações preventivas adequadas aos
riscos.

Apresentando-se em 1/3 de todos os incêndios registrados na RMR, os incêndios em


habitações ganham destaque por serem os protagonistas em causarem mortes e feridos. Como
fator catalisador, tem-se a ausência de sistemas preventivos em edificações unifamiliares, que
segundo os dados levantados nessa pesquisa representaram 100% dos incêndios que
acarretaram em mortes e 50% dos que ocasionaram ferimentos, dividindo essa porcentagem
com as edificações multifamiliares.

Destarte, o trabalho de conscientização da população quanto às medidas preventivas a serem


adotadas, é uma importante tarefa do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco na luta
contra a minimização das adversidades produzidas pelos incêndios. Soma-se a essa
preocupação a necessidade de trabalhar com crianças para que além de replicarem os
conhecimentos nos seus lares, desenvolvam a percepção dos riscos e perigos oriundos de

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ações propagadoras de incêndio, já que estatisticamente são as mais envolvidas nesse cenário
de perdas humanas.

Sendo assim, o acompanhamento e avaliação de estratégias e políticas públicas que


fortaleçam a mitigação dos problemas são primordiais na minimização de acidentes
relacionados a incêndio, principalmente os que envolvam edificações residenciais.

Com vista ao risco elevado de incêndios em residências unifamiliares e multifamiliares,


recomenda-se o estudo de norma técnica própria para este tipo de edificação, trazendo
questões como equipamentos que possam contribuir na identificação do princípio de incêndio,
comportamento populacional frente ao sinistro, além de melhoria no tempo resposta das
equipes de combate a incêndio e outras providências que preservem a integridade das
pessoas.

Novos estudos são necessários para que se aprofundem questões relacionadas a fatalidade
ocasionada nos incêndios e que possam ratificar os números apresentados nesse trabalho
através de estudos quantitativos e qualitativos acerca do assunto, possibilitando, portanto,
munir cada vez mais os gestores de informações para tomadas de decisões mais precisas na
redução do número de mortos e feridos.

REFERÊNCIAS:

[1] IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil das Cidades - Pernambuco.
Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=261160&search=pernambuco|
recife> Acesso em: 25maio16.
[2] PERNAMBUCO (Estado). Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Diretoria Integrada
Metropolitana. - Estudos Estatísticos Operacionais: Triênio 2011-2013. Org. Cristiano
Corrêa. Recife. 2015.
[3] PAES, Neir Antunes. - Qualidade das estatísticas de óbitos por causas desconhecidas
dos Estados brasileiros. Revista Saúde Pública, 2007,41(3):436-45.
[4] CTIF, Centre of Fire Statistics (International Association of Fire and Rescue Services).
World Fire Statistics, Report nº21, 2016. Disponível em:
http://www.ctif.org/sites/default/files/ctif_report21_world_fire_statistics_2016.pdf. Acessado
em: 27jan17.
[5] PERNAMBUCO (Estado). Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Diretoria Integrada
Metropolitana. - Estudo Estatístico Operacional: 2016. Recife. 2017.
[6] CORRÊA, Cristiano; RÊGO SILVA, José J.; PIRES, Tiago A.; BRAGA, George C. -
Mapeamento de Incêndios em Edificações: Um estudo de caso na cidade do
Recife. Revista de Engenharia Civil IMED, vol. 2, nº. 3, 2015, p. 15-34.
[7] LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. - Fundamentos de Metodologia
Científica. São Paulo-SP: Atlas, 2011.
[8] DEL CARLO, Ualfrido. - A Segurança contra Incêndio no Brasil, In___ A Segurança
Contra Incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008.

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[9] SANTOS, Marcelino Patrício. - Uso de detectores de incêndio para redução de mortes
ocasionadas por incêndios em residências unifamiliares. Revista Científica do Corpo de
Bombeiros Militar de Pernambuco, Recife, v. 2, n. 3, jan./jun. 2016.
[10] ZAGO, C. da S.; MORENO JUNIOR, A. L.; MARIN, M. C. - Considerações sobre o
desempenho de estruturas de concreto pré-moldado em situação de incêndio. Ambiente
Construído, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 49-61, jan./mar. 2015.
[11] LEITE, H. A. L.; MORENO JÚNIOR, A. L.; TORRES, D. L. - Dimensionamento da
alvenaria estrutural em situação de incêndio: contribuição à futura normatização nacional.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 89-107, abr./jun. 2016.
[12] CORRÊA, Cristiano; RÊGO SILVA, José J.; BRAGA, George C. - Incêndios com
letalidade, território e trânsito: considerações iniciais sobre os casos em Recife no ano de
2011. Revista dos Transportes Públicos, vol. 143, 2016, p. 109-124.
[13] DETRAN-PE. Departamento de Trânsito de Pernambuco. - Frota de veículos da Região
Metropolitana do Recife - RMR. Disponível em:
http://www.detran.pe.gov.br/images/stories/estatisticas/
HP/1.6_frota_rmr.pdf. Acessado em: 10jul15.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

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INCÊNDIO NATURAL EM COMPARTIMENTO DE RESIDÊNCIA NA


CIDADE DE RECIFE: RESULTADOS PRELIMINARES DE UM ESTUDO
EXPERIMENTAL

Cristiano Corrêa George Cajaty Braga José J. Rêgo Silva


Corpo de Bombeiros Militar Corpo de Bombeiros Militar Universidade Federal de
de Pernambuco do DF Pernambuco
Recife - PE, Brasil Brasília - DF, Brasil Recife - PE, Brasil

José Júnior Bezerra Roberta Tabaczenski Tiago A. C. Pires


Corpo de Bombeiros Militar Universidade Federal de Universidade Federal de
de Pernambuco Pernambuco Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: Incêndio, Incêndio Natural, Incêndio Compartimentado, Simulação de


Incêndio.

1. INTRODUÇÃO

Os incêndios em edificações no Brasil, a despeito de sua freqüência, ainda não são conhecidos
integralmente [1]. As edificações mais suscetíveis a estes sinistros, sua ocupação, capacidade
de resiliência e principalmente capacidade de sobrevida em seu interior, constituem
informações ainda não consolidadas no país. Buscando propor um método fácil e exequível
para este mapeamento baseado em recomendação da NBR 14.023 [2], realizou-se o
mapeamento dos incêndios da cidade do Recife [1].

2. PLANEJAMENTO DO ENSAIO

Durante o triênio de 2011-13 foi realizado um estudo que gerou uma edificação modal que
representa o conjunto de mais de mil edificações incendiadas neste período na cidade de
Recife-PE através de metodologia própria [3]. Este estudo chegou a uma residência unifamiliar,
construída basicamente em alvenaria, com 97 metros quadrados e uma carga incêndio
inspirada nos objetos mais encontrados nos incêndios [1]. A figura 1 a seguir ilustra esta
construção.

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Figura 1 – Planta baixa Esquemática da Edificação Modal [3] e do cômodo ensaiado.

A partir da dita casa modal, buscou-se a ‘reconstrução’ de um dos cômodos em ambiente


experimental. Usou-se a Oficina de treinamento de Combate a Incêndio, dentro do Centro de
Ensino e Instrução do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Construída em estruturas
de concreto armado e blocos cerâmicos de vedação, além da cobertura em laje pré-moldada.
Este cômodo, muito semelhante ao encontrado no modelo, foi reformado e as quatro paredes
foram assim preparadas: duas chapiscadas, uma rebocada e uma com revestimento de gesso.
Foram instalados termopares nas paredes internamente e externamente, para aferir a
condutividade térmica e comparar esta condutividade nos diferentes revestimentos.

Instalou-se uma carga incêndio (mobiliário) encontrada na pesquisa [3], sendo esta constituída
de: 01 (um) cama beliche de madeira, 01 (uma) cama de solteiro de madeira, 03 (três) colchões
de espuma, 02 (dois) criados mudos em madeira, 01 (um) guarda-roupas em aglomerado, 02
(dois) ventiladores e 01(uma) televisão pequena, tudo adquirido em um estabelecimento de
móveis usados, buscando a fidedignidade dos objetos, e consequentemente carga incêndio,
encontrada nas residências da cidade de Recife. A Figura 2 reproduz este planejamento:

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Figura 2: Esboços do Projeto do compartimento ensaiado.

Foram instalados 24 (vinte e quatro) termopares tipo K, distribuídos nas paredes (interior e
exterior), nos mobiliários e uma haste (no interior do cômodo), buscando aferições térmicas nos
45 minutos do ensaio. A haste representada na figura 2 teve os termopares instalados a 0,3;
0,6; 0,9; 1,2; 1,5; 1,8; 2,1 e 2,4 metros, podendo observar o gradiente de temperatura em
vários níveis, ou mesmo comparar com diversas alturas das vias respiratórias de um homem
em pé, agachado, rastejando ou sobre uma peça de mobiliário. A instalação dos termopares
nas paredes foi feita a 2,1 m de altura e a 0,5 m dos vértices, com exceção da parede com
reboco cimentício onde os termopares ficaram a mesma altura e a 0,5 m do portal de entrada,
lembrando que estes estão interna e externamente em cada parede.

O experimento foi filmado para a complementação da analise, usando-se filmadoras e câmaras


térmicas, podendo comparar ambas as imagens e propor uma compreensão mais completa
das fases do incêndio ensaiado.

3. EXPERIMENTO

Em janeiro de 2017 foi realizada a pequena reforma, com o preenchimento das paredes em
alvenaria lesadas pelas queimas de treinamento, aplicados os revestimentos indicados (acima)
no projeto e feito uma pequena pintura com tinta PVA. Passados 38 dias da reforma, no
período de 06 a 08 de março de 2017 foi posto o mobiliário e instalada a instrumentação, no
dia seguinte (09) foi realizado o experimento. O cômodo antes da queima estava de acordo
com a representação a seguir:

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Figura 4: Imagens do quarto antes do ensaio de incêndio.

O ensaio foi realizado no período matinal e durou pouco mais de 45 minutos, contados do
acendimento da chama inicial até o término da extinção por parte da equipe de combate a
incêndios, e sua saída do local. Sendo iniciado através de um dispositivo em parafina para
acendimento de lareiras, a substância (parafina) e a localização do foco inicial também foram
inspiradas na estatística [1].

Durante os 18 primeiros minutos a janela permaneceu aberta e a porta fechada, em seguida a


porta também foi aberta, não houve ventilação ou exaustão por equipamento ou jato de
mangueira, sendo observado o fenômeno a partir da ventilação natural. Destacam-se alguns
pontos do evento conforme cronologia e representação por imagens:

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1 2 3

4 5 6

7 8 9 10

6 -11min49seg - Fim da 2ª saturação por exaustão natural dos gases e


1 - 00min35seg - Início da chama em pastilha de parafina; ingresso de ar com retorno de chama 'viva';
2 - 03min56seg - Início da queima do leito superior do beliche; 7 -18min02seg - Abertura de portas possibilitando a circulação cruzada;
3 - 06min22seg - Saturação de gases da combustão; 8 - 19min04seg - Deslocamento do foco principal de incêndio;
4 - 07min38seg - Fim da saturação por exaustão natural dos 9 - 21min29seg - Início da combustão do plástico do ventilador por sobre
gases e ingresso de ar com retorno de chama 'viva'; a mesa intumescida;
5 -10min36seg - Nova Saturação de gases da combustão 10 -41min43seg - Desabamento total do beliche;

Figura 5: Cronologia do Experimento

Os fios termopares (tipo K) aferiram as temperaturas durante todo o ensaio, obtendo cinco
aferições por segundo, com variações mínimas de 0,1 ºC.

O ensaio foi acompanhado de filmagem térmica executada por técnico em termografia cedido
pela empresa ‘Câmaras Térmicas FLIR’.

A seguir algumas imagens comparativas entre as imagens captadas a olho nu e imagens


termográficas:

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Figura 6: Imagens Térmicas da Entrada da Equipe de Combate a Incêndios.

Um dos criados mudos foi intumescido com tinta específica para madeira de fabricação CKC do
Brasil, aplicada conforme instruções do fabricante.

Após o experimento observam-se alguns mobiliários completamente consumidos (Beliche,


colchões, ventiladores) ou irrecuperáveis (armário e televisão), as paredes estão
completamente ‘chamuscadas’ mais sem grandes patologias observáveis sem equipamento.

A seguir imagens do cômodo após o incêndio:

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Figura 7: Imagens do quarto após o ensaio de incêndio.

4. CONCLUSÕES

O ensaio de incêndio real no cômodo da oficina de treinamento intitulada ‘casa de fogo’ do


Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco trouxe informações importantes sobre a dinâmica
de um típico incêndio na cidade de Recife, compreendendo seu desenvolvimento, a liberação
gasosa deste sinistro, o comportamento térmico neste ambiente e a resiliência da estrutura.

Outra contribuição fundamental relacionada ao ensaio é a interpretação dos dados para o


diagnóstico da sobrevida em um ambiente incendiado com as características do ensaiado.

Este estudo é complementado com a comparação dos resultados de simulação computacional,


que visa construir no ambiente do software Fire Dynamics Simulator – FDS.

Recomenda-se ainda que estudos semelhantes sejam realizados a partir do mapeamento de


incêndios sobre os mesmos parâmetros, visando uma visão mais plural dos incêndios em
edificações.

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4. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem as empresas CKC do Brasil pela cessão de tinta intumescente e a


Câmaras Térmicas FLIR, por acompanhar o experimento promovendo a filmagem térmica.
Agradecem ainda aos Corpos de Bombeiros Militar de Pernambuco e do Distrito Federal, pela
cessão de pessoal e equipamentos fundamentais a execução do ensaio.

4. REFERÊNCIAS

[1] CORRÊA, Cristiano; RÊGO SILVA, José J.; PIRES, Tiago A.; BRAGA, George C..
Mapeamento de Incêndios em Edificações: Um estudo de caso na cidade do
Recife. Revista de Engenharia Civil IMED, vol. 2, nº. 3, 2016, p. 15-34.
[2] ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14.023: Registro de
Atividades de Bombeiros, Rio de Janeiro, 2013.

[3] CORRÊA, Cristiano; RÊGO SILVA, José J.; PIRES, Tiago A.; BRAGA, George C.; VIEIRA
DE MELO, Izabela A.. Edifício Modal: Uma representação para o Estudo de Incêndios
na cidade de Recife. In__4 Congresso Íbero–Latino-Americano de Segurança Contra
Incêndio, Recife 2017.

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INFLUÊNCIA DA DESENFUMAGEM NA EVACUAÇÃO DUM BLOCO


OPERATÓRIO DUM HOSPITAL

Amarildo Benzane Luís Laím João Paulo Rodrigues*


Doutorando, Professor Convidado, Professor,
Universidade de Universidade de Universidade de
Coimbra, Portugal. Coimbra, Portugal. Coimbra, Portugal.

SUMÁRIO

O incêndio é um risco sempre presente em qualquer edificação, especialmente nas de


cuidados de saúde devido ao tipo de ocupantes que são na maioria pacientes, o que lhes torna
vulneráveis ao incêndio e aos seus efeitos. Em consequência, o plano de prevenção de
incêndios, combate, evacuação, bem como a análise do risco de incêndio de um hospital seja
um processo completamente diferente, do recomendado para a maioria dos edifícios, o que
normalmente envolve considerações especiais. A existência de incêndios e dos seus efeitos,
em hospitais, tem dificultado a evacuação, bem como criar perdas de vidas humanas, pelo que,
é de todo o interesse a análise da influência da desenfumagem na evacuação dos hospitais.
Este artigo apresenta os efeitos da desenfumagem para a evacuação num compartimento
corta-fogo designado por Sala de Operações, situado no piso 1 de um Hospital, em Portugal. O
estudo é baseado em simulações através do software FDS+Evac.

Palavras-chave: hospitais, incêndio, desenfumagem, evacuação e simulação.

1. INTRODUÇÃO

As Utilizações-Tipo hospitalares apresentam aos responsáveis pela conceção,


desenvolvimento e implementação da segurança contra incêndio desafios muito diferentes,
quando comparados com outros edifícios. A conceção da segurança contra incêndio em
edifícios que não pertençam à utilização-tipo hospitalar faz-se, muita das vezes, assumindo
que os ocupantes dos edifícios têm capacidades de responderem sem dificuldades a
necessidade de evacuação em caso de incêndio, ou então assume-se uma percentagem

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade de Coimbra – Polo II. Rua Luís Reis Santos.
3030-788 Coimbra. PORTUGAL. Telef.: +351 239 797237 Fax: +351 239 797242. e-mail: jpaulocr@dec.uc.pt

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reduzida (apenas 10% do efetivo). Nos edifícios hospitalares, a realidade é bem diferente, uma
vez que a grande parte dos utentes daquelas instalações precisam de alguém que os auxilie a
sair do edifício em situação de emergência.

De-Ching, et al., (2011) estudaram a evacuação dum hospital em incêndio durante a


construção. Através de simulações com software FDS+Evac analisaram a segurança contra o
incêndio (visibilidade e temperatura nos compartimentos atingidos). Os resultados indicaram
que os sprinklers tiveram um fraco desempenho no melhoramento da visibilidade, porém
mostraram bom desempenho na redução da temperatura interna do compartimento. Entretanto,
mesmo com temperaturas baixas as portas de evacuação com larguras de 1,8 m registaram
congestionamento durante a evacuação. Por conseguinte, os investigadores concluíram que,
para uma evacuação rápida e segura, do hospital em estudo, as portas de evacuação deviam
ter larguras de 2 m ou mais, [1]. Por seu turno Wei et al, (2011), estudaram a evacuação de
pacientes em salas de ortopedia e pediatria. O estudo constatou que as características físicas
das pessoas são determinantes para as velocidades de deslocamento, [2]. Por outro lado, a
evacuação de pessoas com mobilidade reduzida torna-se mais lenta, particularmente quando
as mesmas têm uma menor familiaridade com a localização das portas de evacuação.

A sala de operações foi considerada objeto de estudo neste trabalho porque os seus utentes
são pessoas que se supõem sofrer uma intervenção cirúrgica e em caso de incêndio, a
evacuação dos mesmos é complicada. Regra geral, as pessoas nos hospitais não deviam
necessitar de ser evacuadas. Entretanto, para não evacuarem os edifícios devem ter
capacidade de resistência e meios de combate ao incêndio. Caso seja necessário evacuar,
certamente, os pacientes vão precisar de meios auxiliares de evacuação, o que pode tornar a
evacuação demorada e complicada. Muitos dos pacientes em salas de operações devem ser
evacuados ligados a aparelhos auxiliares de vida, por outro lado apresentam um quadro clínico
debilitado, o que lhes deixa mais vulneráveis aos efeitos dos incêndios, em especial aos fumos
e gases tóxicos, provenientes dos materiais em combustão.

O combate ao incêndio em hospitais exige um enorme esforço e preparação do edifício para


uma resposta passiva que consiste na capacidade de possuir uma envolvente resistente ao
incêndio, bem como possuir meios para uma resposta ativa (meios automáticos de deteção e
combate ao incêndio).

O pavilhão do Hospital em estudo foi construído sob a égide duma legislação de segurança
contra o incêndio anterior ao Decreto-Lei nº 220/2008, de 12 de novembro e Portaria nº
1532/2008, de 29 de dezembro. No entanto, o presente artigo pretende verificar se as
condições de segurança contra o incêndio nele existente garantem uma evacuação rápida e
segura dos seus ocupantes. Para o efeito neste trabalho estudou-se os efeitos da
desenfumagem do compartimento corta-fogo, Sala de Operações, para a evacuação dos
pacientes/efetivos que ocupam o mesmo, figura 1. Segundo o projeto de segurança contra o
incêndio do hospital, o compartimento corta-fogo (CCF), Sala de Operações, possui um
sistema de desenfumagem localizado nas vias horizontais de evacuação laterais.

O estudo baseou-se em uma simulação numérica, FDS+Evac [3], que se desenvolveu em dois
cenários, porém com variação de parâmetros. No primeiro cenário, o incêndio teve a sua

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

origem numa das salas de operações que está permanentemente com efetivo. No segundo
cenário, o incêndio teve a sua origem na farmácia, um compartimento sem efetivo. Em ambos
os cenários variaram-se parâmetros como sistema de desenfumagem na via horizontal de
evacuação, (VH1), localizada na parte interior do compartimento corta-fogo (CCF) em estudo e
aumento das larguras de todas as portas, usadas para a evacuação.

Em todos os casos o incêndio ocorreu no período noturno, tempo que se supõe que as
pessoas estejam em repouso. Atendendo que a farmácia não está ocupada e o incêndio
acontece à noite, a evacuação só se processa depois do acionamento do alarme geral, isto é,
todos os compartimentos tomam conhecimento do incêndio ao mesmo tempo e reagem
também ao mesmo tempo. O tempo de pré-movimento foi definido como sendo de 180
segundos [4].

2. FATORES QUE INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DOS OCUPANTES EM INCÊNDIO

O estudo da evacuação com o software FDS+Evac, dentre várias análises remete-nos à


análise do comportamento dos ocupantes do compartimento ou edifício a simular, diante de
uma situação de incêndio. O incêndio através dos gases tóxicos, libertados pela matéria em
combustão, incapacita os ocupantes criando-lhes queimaduras nas vias respiratórias, asfixia e
irritação pulmonar, o que influencia o comportamento daqueles durante a evacuação. A
irritação nos olhos faz com que os ocupantes não visualizem distâncias de mais de 3 m,
dificilmente alcançam as saídas de emergência, porque lhes é difícil manter os olhos abertos e
obriga-lhes a andarem a ziguezaguear ou encostados à parede lateral, [5, 6, 7].

Considera-se um ocupante incapacitado quando o valor de Fractional Effective Dose (FED), é


igual ou excede a unidade [8]. No entanto, o Fire Dynamics Simulator (FDS), modela um
ocupante incapacitado como um agente que não experimenta quaisquer forças sociais dos
demais agentes e com velocidade nula.
O incêndio ao se desenvolver dentro dum compartimento aumenta a temperatura interna para
valores muito elevados e insustentáveis para o corpo humano. Entretanto, a temperatura limite
sustentável para o corpo humano num curto período de tempo é estimada em cerca dos 60 ºC,
quadro 1 [9].

Quadro 1 - Limite de sustentabilidade para a radiação e convecção, [9].


Modo de produção Intensidade Tolerância do tempo
<2,5 kW/m2 >5 min
Radiação 2,5 kW/m2 30 seg
10 kW/m2 4 seg
<60 ºC 100% saturado >30 min
100 ºC<10% H2O 8 min
110 ºC<10% H2O 6 min
Convecção 120 ºC<10% H2O 4 min
130 ºC<10% H2O 3 min
150 ºC<10% H2O 2 min
180 ºC<10% H2O 1 min

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

Em situação de incêndio quando os ocupantes alcançam corredores praticamente cheios de


fumo, tendem a voltar para trás, em vez de continuarem a marcha. Em situações de incêndio
pela retaguarda, as pessoas tendem a mover-se através do fumo, estando deste modo
impedidos de alcançarem zonas seguras como: pontos de encontro, zonas de refúgio ou
continuarem a evacuar, por outro lado, diminui a velocidade de deslocamento, quer pela
densidade de fumo, quer pelas suas propriedades tóxicas e irritantes [10].

3. CASOS EM ESTUDO

As simulações numéricas realizadas com o software FDS+Evac, para determinar a viabilidade


das vias horizontais de evacuação foram tidos em conta parâmetros como: idade dos
ocupantes (idosos), localização dos ocupantes (divisões com efetivo), velocidades de
deslocação em superfícies horizontais, mobilidade condicionada dos ocupantes, condições
geométricas do bloco operatório (localização de vãos, paredes e respetivas dimensões), tipo de
incêndio (curva de incêndio com uma taxa de libertação de energia de crescimento médio
atendendo que, o incêndio ocorre num bloco operatório dum hospital, [11]), existência e
localização de dutos de desenfumagem (com os respetivos caudais de extração e insuflação
de ar).

Os parâmetros e respetivos valores adotados para garantir as condições mínimas de


evacuação foram os seguintes:

1. Temperatura máxima de evacuação: 80 °C;


2. Gases tóxicos (FED) com valor menor que 1,0;
3. A visibilidade mínima a uma cota de 1,80 m do piso é de 2,0 m [12];
4. As grelhas de extração estão a uma cota de 3 m e as de insuflação a 0,5 m do
pavimento. O caudal de insuflação é 1/3 do caudal de extração. Este caudal contrasta
com o prescrito no regulamento, porém, o estudo é baseado no desempenho e está
do lado da segurança.

Entretanto, estudos experimentais que analisaram a velocidade de deslocamento em


superfícies horizontais para pessoas incapacitadas fisicamente, indicam uma variação
individual da velocidade [13, 14]. Para o presente artigo a velocidade adotada foi a mais baixa
de todas, correspondente a de pessoas que se deslocam de andarilho (0,10 – 1,02 m/s),
porque se considera aplicável para evacuação de idosos que se supõe que sofreram uma
intervenção cirúrgica. A evacuação destes pacientes é feita em camas e por profissionais de
saúde, o que pressupõe que a velocidade das mesmas seja maior a de pessoas em andarilhos,
todavia atendendo o estado debilitado das pessoas a evacuar a velocidade de deslocamento é
reduzida para evitar complicar cada vez mais o estado de saúde dos pacientes. Isto é, a
velocidade das pessoas normais (profissionais de saúde e demais elementos das equipas de
socorro), fica condicionada à velocidade das pessoas a transportar em camas.

O objetivo principal deste estudo consistiu em saber se há ou não a necessidade de se ter um


sistema de desenfumagem na via horizontal de evacuação (VH1), localizada na zona interior

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do CCF – sala das operações. Que efeitos a existência ou não da desenfumagem na via
horizontal de evacuação VH1 (mantendo a desenfumagem prevista no projeto em
funcionamento, VH2, VH3 e VH4) têm para a evacuação da sala das operações?

No PyroSim®, [15], a construção geométrica do compartimento corta-fogo Sala de Operações


procurou conservar as dimensões estabelecidas no projeto original, para que as simulações se
aproximassem o mais possível a um caso real, figura 1.

a) b)
Figura 1: a) projeto de arquitetura (com indicação das portas dos compartimentos e de
evacuação e nomenclatura dos compartimentos; b) construção geométrica no Software
PyroSim® (com indicação das vias horizontais de evacuação, efetivo e localização dos
burners)

O efetivo total simulado foi de 47 pessoas (quadro 2), conseguido depois da correção pelo fator
1,3 [16], para efeitos de dimensionamento de vias de evacuação e saídas considerando que, o
efetivo a evacuar é constituído por pessoas limitadas na mobilidade, nas capacidades de
perceção e/ou reação a um alarme de incêndio.

Quadro 2. Descriminação do efetivo no compartimento corta-fogo – Sala de Operações


Nome da divisão Nomenclatura Efetivo
Sala de Operações D1 6
Sala de Operações D2 6
Sala de Operações (compartimento incendiado) D3 6
Sala de Operações D4 6
Sala de Anestesia D5 4
Sala de Anestesia D6 4
Espera de Tampos/Tampos Limpos D7 8
Transfer de Material D8 3
Material Esterilizado D9 2
Gabinete do Responsável D10 2
Farmácia (compartimento incendiado) D11 0
Efetivo Total 47

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Além dos parâmetros referidos anteriormente, também foi levado em conta a existência de
grelhas de desenfumagem e os respetivos valores de caudais de extração e insuflação de ar,
quadro 3.

Quadro 3. Sistema de desenfumagem


Sistemas de desenfumagem
Grelhas Nomenclatura Caudais mássicos (m3/s)
Extração 1 (VH3) E1 4
Extração 2 (VH4) E2 2,5
Extração 3 (VH4) E3 2,5
Extração na via horizontal de evacuação E4 2,5
(VH1)
Insuflação 1 (VH2) I1 0,9
Insuflação 2 (VH3) I2 1,2
Insuflação 3 (VH3) I3 1,2
Insuflação 4 (VH4) I4 1,5
Insuflação na via horizontal de evacuação I5 0,8
(VH1)

3.1. Primeiro cenário

O primeiro cenário consistiu numa simulação na qual o incêndio teve a sua origem na sala das
operações D3, com um efetivo de 6 pessoas. Para o estudo esteve em análise uma situação
em que o compartimento dispõe apenas do sistema de desenfumagem constante do projeto,
isto é, nas vias horizontais de evacuação VH2, VH3 e VH4, figura 2a. Na segunda simulação
analisada acrescentou-se um sistema de desenfumagem na via horizontal de evacuação
localizada no interior do CCF – sala das operações, VH1, figura 2b.

a) b)
Figura 2: a) sistema de desenfumagem constante do projeto, VH2, VH3 e VH4 e b) sistema de
desenfumagem constante do projeto e o acrescido pelo autor, VH1

Atendendo que o incêndio ocorre numa sala permanentemente ocupada, o tempo de deteção e
reação reduziu consideravelmente. Para ambas situações o tempo de deteção na sala das
operações D3 foi de 15 segundos e de reação 45 segundos. A sala de anestesia D6, local por

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onde passam os ocupantes da sala das operações D3 durante a evacuação, reagiu aos 60
segundos. A sala das operações D4 reagiu aos 120 segundos e os restantes compartimentos
reagiram ao incêndio aos 180 segundos. Em todas as simulações, quer as do compartimento
com o sistema de desenfumagem constante do projeto, quer as do compartimento com o
acréscimo do sistema de desenfumagem na VH1, as pessoas conseguiram evacuar, figuras 3 e
4. A diferença nos dois casos reside no tempo da evacuação da última pessoa. Na simulação
com o sistema de desenfumagem do projeto, a última pessoa evacuou aos 341 segundos e na
segunda simulação aos 323 segundos.

Figura 3. Pessoas evacuadas na simulação com o sistema de desenfumagem constante do


projeto

Figura 4. Pessoas evacuadas na simulação com o sistema de desenfumagem na via horizontal


VH1

Com o objetivo de se obter uma leitura global das condições de evacuação dos ocupantes do
CCF, houve também a necessidade de se estimar a temperatura, visibilidade e concentração
de gases tóxicos (FED) em locais específicos durante o percurso de evacuação. Os locais de
medição da temperatura, da visibilidade e dos gases tóxicos foram as portas de evacuação e a
via horizontal de evacuação localizado na zona interior do CCF – sala das operações, VH1.

Neste sentido a figura 5 apresenta as temperaturas registadas numa das simulações. Nela
constam as temperaturas nas portas de evacuação (P.E.), no momento em que evacuou a
última pessoa pela tal saída. As temperaturas variam de 80 a 110 ºC. A exposição às
temperaturas acima dos 80 ºC (temperatura aceitável para uma evacuação segura) é feita por
pouco tempo, porque as pessoas estão em movimento, daí que não interferiu na evacuação.

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Por outro lado, as temperaturas acima dos 80 ºC foram sentidas pelos últimos ocupantes a
abandonarem o edifício, o que aconteceu a partir dos 180 segundos.

Figura 5. Evolução da temperatura nas P.E.; simulação com o sistema de desenfumagem do


projeto

Relativamente a visibilidade, figura 6, a mais baixa foi registada na simulação com o sistema de
desenfumagem do projeto, contudo esteve acima dos 2 m. Esta distância de visibilidade está
dentro do limite aceitável para evacuar em segurança numa situação de incêndio.

Figura 6. Evolução da visibilidade nas P.E., na simulação com o sistema de desenfumagem do


projeto

Em ambas simulações os gases tóxicos (FED) registaram valores muito abaixo de unidade. A
boa visibilidade e o FED muito inferior à unidade foram devidos ao tipo de curva de incêndio
usada para as simulações, que consistiu numa curva de incêndio com uma taxa de libertação
de energia de crescimento médio, figura 7. Por outro lado, a boa visibilidade e o FED criaram
condições para que todos os ocupantes abandonassem o edifício em segurança, mesmo para
os ocupantes que evacuaram com a temperatura acima dos valores aceitáveis.

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Figura 7. Conjunto de curvas de crescimento t-quadrado [17]

3.2. Segundo cenário

No segundo cenário o incêndio teve a sua origem na farmácia, compartimento sem efetivo. O
tempo de pré-movimento foi aos 180 segundos. Este tempo foi definido como único para a
evacuação de todo o compartimento corta-fogo sala das operações.

A primeira simulação neste cenário consistiu simplesmente nos parâmetros definidos no


projeto. Do efetivo total de 47 pessoas, 24 evacuaram e 23 não conseguiram evacuar, figura 8.

48 Evac
44
pessoas evacuadas

40
36 P.E. 1
32
28 P.E. 2
24
20 P.E. 3
16
12
8 P.E. 4
4
0 P.E. 5
0 50 100 150 200 250 300 350 400 P.E. 6
tempo (s)

Figura 8: Pessoas evacuados em incêndio sem a desenfumagem na via horizontal de


evacuação VH1

Na segunda simulação o parâmetro estudado foi o da largura das portas. Todas as portas
usadas durante a evacuação foram aumentadas quase para o dobro e analisou-se a influência
do aumento daquelas larguras na evacuação do bloco operatório. Nesta simulação, variou-se
apenas a largura das portas e os demais parâmetros constantes do projeto mantiveram-se
inalteráveis. Os resultados praticamente não diferem dos da primeira simulação, isto é, das 47

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pessoas por evacuar, 27 evacuaram e 20 não evacuaram, (mais 3 pessoas evacuaram em


relação à primeira simulação), figura 9.

48 Evac
44
pessoas evacuadas

40 P.E. 1
36
32 P.E. 2
28
24 P.E. 3
20
16 P.E. 4
12
8 P.E. 5
4
0 P.E. 6
0 50 100 150 200 250 300 350 400
tempo (s)

Figura 9. Pessoas evacuadas com o aumento da largura das portas de evacuação

Nas duas simulações os parâmetros temperatura, visibilidade e FED, foram registados nos
mesmos pontos usados para o primeiro cenário. As temperaturas mais altas registadas, nas
duas simulações, variam de 91,53 ºC a 100 ºC.

O FED em ambas simulações teve valores muito inferiores à unidade, de tal forma que não
influenciou negativamente na evacuação. No entanto, a visibilidade, figura 10, teve valores
abaixo de 2 m, o que fez com que maior parte dos ocupantes não alcançassem as saídas de
evacuação e acabassem por morrer. A descida da camada de fumo abaixo de 1,80 m, altura de
segurança, provoca a perda da visibilidade e consequente inacessibilidade das saídas de
emergência, o que pode levar a morte das pessoas a evacuar mesmo em situações de baixa
concentração dos gases tóxicos, [12].

Figura 10. Evolução da visibilidade na simulação com o sistema de desenfumagem do projeto

Na terceira simulação, para além do sistema de desenfumagem constante nas vias horizontais
de evacuação laterais (VH2, VH3 e VH4), que consta do projeto em planta, foi adicionado ao
cenário um insuflador e extrator de fumos na via horizontal de evacuação central (VH1). O
efetivo, as unidades de passagem, a localização do burner, bem como os demais parâmetros
não sofreram alterações, inclusive o número de simulações. Das 47 pessoas por evacuar, 39
conseguiram evacuar e 8 não evacuaram, figura 11.

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48
pessoas evacuadas
44 Evac
40
36 P.E. 1
32
28 P.E. 2
24
20 P.E. 3
16
12 P.E. 4
8
4 P.E. 5
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 P.E. 6
tempo (s)

Figura 11: Pessoas evacuadas em incêndio com a desenfumagem na via horizontal de


evacuação VH1

Nesta última simulação a temperatura variou de 97 a 103 ºC, estando deste modo acima do
valor aceitável, no entanto, pelas razões anteriormente referidas as pessoas conseguiram
evacuar. Por outro lado o vestuário ajudou na proteção contra os efeitos da radiação, a
produção e evaporação do suor pela pele (permitiu a diminuição da temperatura no corpo) e a
inércia térmica do próprio organismo humano.

O FED não atingiu a unidade, por outro lado a existência do sistema de desenfumagem na via
horizontal de evacuação VH1 ofereceu melhores condições de visibilidade em toda a
simulação, o que fez com que mais pessoas evacuassem em relação as duas primeiras
simulações do mesmo cenário.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo tem como principal objetivo verificar, se com as condições de segurança
contra incêndios existentes, no novo pavilhão do Hospital, são ou não, suficientes para garantir
os princípios base da legislação (Decreto-Lei nº 220/2008, de 12 de novembro e Portaria nº
1532/2008, de 29 de dezembro), no concernente a evacuação dos ocupantes em risco dum
incêndio.

No primeiro cenário os ocupantes do CCF sala das operações evacuaram todos. A evacuação
ocorre ainda com boas condições quer de temperatura, quer de visibilidade, porque a deteção
e reação ao incêndio foi nos instantes iniciais do mesmo. Assim pode se concluir que, em
incêndios detetados na fase inicial, o sistema de desenfumagem constante do projeto mostra-
se eficiente para garantir uma evacuação segura.

No segundo cenário com a origem do incêndio na farmácia (compartimento sem efetivo), os


ocupantes do CCF sala das operações têm conhecimento do incêndio quando ocorre o alarme
geral, assim a reação começa aos 180 segundos. No entanto, o sistema de desenfumagem
constante no projeto mostrou-se ineficiente para garantir uma boa evacuação, mesmo que
esteja a funcionar adequadamente, atendendo o número de pessoas não evacuadas.

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O aumento das larguras das portas de evacuação quase para o dobro não influenciou
significativamente a evacuação, porque mais uma vez a reação ao alarme do incêndio deu-se
aos 180 segundos, tempo em que a via horizontal de evacuação VH1 já se encontrava
totalmente enfumada. As condições de visibilidade são iguais a primeira simulação do mesmo
cenário, consequentemente o número de mortos é também maior.

Com base nos resultados obtidos na última simulação pode-se concluir que, a existência do
sistema de desenfumagem na via horizontal de evacuação VH1 criou condições para
evacuação do maior número de pacientes, mesmo com o tempo de pré-movimento estimado
em 180 segundos. O mesmo não se observa nos casos em que o compartimento não dispõe
daquele sistema de desenfumagem, situação real e atual do hospital, atendendo que o número
de mortos foi quase o triplo do cenário com desenfumagem na via horizontal de evacuação
(VH1), localizada na parte interior do CCF – sala das operações. Logo, pode se concluir que
este compartimento precisa dum sistema de desenfumagem na via horizontal de evacuação
VH1, para situações em que o incêndio é detetado muito tarde e a reação ao mesmo também
começa demasiadamente tarde, isto é, aos 180 segundos como foi na simulação.

REFERÊNCIAS

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11, 139-146.
[2] Wei, X., Lv, W., Song, W., & Wang, D. (2011). Evacuation analysis of a hospital based on
FDS+ Evac software. Environment and Transportation Engineering, 2011 International
Conference on (pp. 3147-3150).
[3] Korhonen, T., & Hostikka, S. (2009). Fire dynamics simulator with evacuation: FDS+Evac.
Technical Reference and User’s Guide. VTT Technical Research Centre of Finland.
[4] Gouveia, A. M. C. D., & Etrusco, P. (2002). Tempo de escape em edificações: os desafios
do modelamento de incêndio no Brasil. REM: Revista Escola de Minas, 55(4), 257-261.
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[6] Fowler, C. T., (2003). Human Health Impacts of Forest Fires in the Southern United
States: A Literature Review1. Journal of Ecological Anthropology, 7(1), 39.
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Handbook of Fire Protection Engineering (pp. 2181-2206). Springer New York.
[8] Speitel, L. C., (1995). Toxicity Assessment of Combustion Gases and Development of a
Survival Model (No. DOT/FAA/AR-95/5). Federal Aviation Administration Washington DC
Office of Aviation Research.
[9] Guideline, E., (2009). Fire safety engineering concerning evacuation from buildings (No.
19, p. 2009). Technical report, CFPA-E.
[10] Purser, D. A., (2002). Toxicity assessment of combustion products. SFPE handbook of fire
protection engineering, 3, 2-6.
[11] EN 1991-1-2, (2002). Eurocode 1: Actions on structures - Part 1-2: General actions -
Actions on structures exposed to fire.

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[12] Yan, T., MingHeng, S., YanFeng, G., & JiaPeng, H., (2009). Full-scale experimental study
on smoke flow in natural ventilation road tunnel fires with shafts. Tunnelling and
Underground Space Technology, 24(6), 627-633.
[13] Society of Fire Protection Engineering – SFPE, (2002). Handbook of Fire Protection
Engineering. Third Edition.
[14] Shi, L., Xie, Q., Cheng, X., Chen, L., Zhou, Y., & Zhang, R., (2009). Developing a
database for emergency evacuation model. Building and Environment, 44(8), 1724-1729.
[15] Manual, P. U. (2014). Thunderhead Engineering. Manhattan KS.
[16] Portaria nº 1532/2008 de 29 de Dezembro: Regime técnico de segurança contra incêndio
em edifícios. Diário da República 2008.
[17] Bukowski, R. W., & Hurley, M. J. (2003). Fire Hazard Analysis Techniques. NFPA, Fire
Protection Handbook, Section, 3, 121-134.

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INSTALAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLE DE FUMAÇA MECÂNICO EM


COMPARTIMENTOS TÉRREOS

José Edier Paz Lucimar de Oliveira Rodrigo Barreto Francisco Carlos


Hurtado* Meira Caldas Rodrigues
Doutorando Mestranda Professor Professor
Universidade Federal de Universidade Federal de Universidade Federal de Universidade Federal de
Minas Gerais Minas Gerais Minas Gerais Minas Gerais
Minas Gerais, Brasil Minas Gerais, Brasil Minas Gerais, Brasil Minas Gerais, Brasil

Palavras-chave: Incêndio, Fumaça, Temperatura, Simulação, Galpões.

1. INTRODUÇÃO

A engenharia de segurança contra incêndio em edificações abrange muitos tópicos, e um deles


é o controle de fumaça. Este tem sido aplicado há anos em alguns países da Europa. No
Brasil, devido a fatos lamentáveis ocorridos recentemente como o incêndio na Boate Kiss, a
implantação e fiscalização com maior rigor do emprego do sistema de controle de fumaça é
bem recente. Atualmente não existe uma norma técnica brasileira que estabeleça os
parâmetros técnicos para a implantação do controle de fumaça nas edificações em geral. No
entanto, existe a Instrução Técnica (IT) No. 15 /2011- Controle de Fumaça - do Corpo de
Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP [1]), sendo esta a única
referência nacional neste tema.

De modo geral, no Brasil não há uma pesquisa que valide o efeito da implantação do sistema
de controle de fumaça em edificações onde a densidade de pessoas seja alta. Motivo pelo qual
esta pesquisa busca realizar um estudo do comportamento do fogo e suas consequências em
edificações, abordando especialmente o estudo do controle de fumaça mecânico em grandes
áreas, onde devido a sua ocupação é difícil implementar o sistema de controle de fumaça
natural. Para este estudo, o objetivo principal será o estudo da influência do efeito do sistema
de controle de fumaça na temperatura interna de um compartimento.

*
Autor correspondente – Pós-graduando, Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte. BRASIL. Telef.: +55 31 994263038. e-mail: jpaz_hurtado@hotmail.com

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2. METODOLOGIA

2.1 Introdução

Para o estudo do efeito do controle de fumaça nas temperaturas em incêndios em edificações,


foram feitas simulações numéricas via modelos Computacionais de Dinâmica de Fluidos (CFD)
utilizando o programa PyroSim [2] que auxilia na interface gráfica do Fire Dynamics Simulator
(FDS – NIST, 2015 [3]), versão 6.3.2. Este programa já é amplamente validado e utilizado por
pesquisadores e nos principais escritórios relacionados à segurança contra incêndios no
mundo.

As edificações a serem levadas em conta para este processo são as pertencentes às divisões
C-2, C-3, F-5 e F-6 da classificação da norma ABNT NBR 14432:2001 [4] quanto à sua
ocupação. Estas edificações têm ocupações e usos diferentes, mas apresentam similaridade
na sua configuração geométrica e carga de incêndio específica, estipulada em 600 MJ/m².

Essas edificações, devido a seus parâmetros de construção, são do tipo galpões de grandes e
médios portes construídos com estruturas de aço ou estruturas mistas de concreto e aço, onde
o seu contorno deve ser totalmente fechado (sem aberturas), impedindo assim que possam ser
instaladas na fachada janelas ou áreas de ventilação natural. Sendo assim, levam aos
projetistas a instalarem sistemas de ar condicionado para o conforto térmico dos ocupantes,
deixando em segundo plano o controle dos efeitos negativos que produz a camada de gás
quente à estrutura e às pessoas.

2.2 Sistemas de controle de fumaça

A inexistência de uma norma nacional sobre o controle de fumaça no Brasil tem levado a que a
implantação deste sistema não seja uma prioridade nas construções que deveriam tê-lo. Para
este fim, somente o estado de São Paulo conta com a IT No. 15/ 2011[1]. Para poder analisar
melhor o efeito do sistema de controle de fumaça, foi realizada uma simulação numérica em
um compartimento de 800 m² seguindo as diretrizes da IT 15 do CBPMESP.

O compartimento escolhido é classificado como C-2 pela norma ABNT NBR 14432: 2001 está
classificação é dedicada a atividades comerciais em geral. Segundo o Decreto Estadual No.
56819/2011 do Estado de São Paulo [5] e a Instrução Técnica No. 01/2015 do CBPMMG [6], as
edificações contempladas nas divisões C-2 com áreas superiores a 750 m² ou altura superior a
12,00 m, devem cumprir certas medidas de segurança contra incêndio e pânico como
apresentado no resumo da Tabela 2.1.

Devido à carga de incêndio, este compartimento é classificado na categoria de risco médio ao


incêndio, segundo esta classificação de risco o tamanho do incêndio definido pela IT 15 é de
16,00 m² e uma taxa de liberação de calor por unidade de área (HRRPUA) de 500 kW/m²,
tendo como resultado uma taxa de liberação de calor de 8,000 MW. A altura livre de fumaça (z)
foi projetada a uma altura de 3,00 m. Com estes dados, o tempo para a camada de fumaça
descer até a altura projetada foi de 107,01 segundos, a altura da chama (z1) foi calculada em

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5,24 m. A massa ou produção de fumaça foi calculada em 11, 07 Kg/s, devido a que z < z1 foi
utilizada equação 2.1.

m = 0,0208 𝑄𝑐 3⁄5 𝑧 (2.1)

A vazão volumétrica (V) foi definida com a equação 2.2, obtendo-se um valor de 20,12 m³/s.

V = m⁄ρ (2.2)

A vazão de exaustão (Ve) foi calculada em 26,00 m³/s, definida com a equação 2.3.

Ve = V x 1,25 (2.3)

A vazão do ventilador de entrada de ar (Vv) foi calculada em 16,00 m³/s, definida por médio da
equação 2.4

Vv = Ve x 0,6 (2.4)

Tabela 2.1: Edificações do grupo C e F com área superior a 750 m² ou altura superior a 12 m.
Divisão C-2 e C-3
Medidas de segurança contra Classificação quanto à altura (m)
incêndio e pânico H ≤ 12 12 < H ≤ 30 30 < H ≤ 54 Acima de 54
Segurança estrutural contra X X X X
incêndio
Chuveiros automáticos - X X X
Controle de fumaça - X X X¹
Divisão F-5 e F-6
Medidas de segurança contra Classificação quanto à altura (m)
incêndio e pânico H ≤ 12 12 < H ≤ 30 30 < H ≤ 54 Acima de 54
Segurança estrutural contra X X X X
incêndio
Chuveiros automáticos - X X X
Controle de fumaça X² X² X X
¹: Acima de 60 m de altura, segundo o Decreto Estadual No. 56819/2011 do CBPMESP.
²: Somente para edificações com lotação superior a 500 pessoas, segundo a IT 01/2015 do
CBPMMG.
Fonte: Adaptado do Decreto Estadual 56819/2011 do Estado de São Paulo e da IT 01/2015 do
CBPMMG.

Para efeitos de comparação foram realizadas duas simulações numéricas do mesmo


compartimento, sendo o primeiro cenário um compartimento sem aberturas e no segundo
cenário foi implementado o sistema de controle de fumaça mecânico com entradas de ar e
exaustão mecânica, com os valores calculados de acordo com a IT 15 do CBPMESP.

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2.3 Simulação numérica

As simulações numéricas dos cenários de incêndios foram feitas utilizando o programa


PyroSim e o Fire Dynamics Simulator (FDS- NIST). No cenário das edificações das ocupações
C-2 e C-3, foram definidas três variáveis, levando em conta uma área de 800 m², carga de
incêndio específica de 600 MJ/m² e altura de 6,00 m, normalmente utilizadas para estes tipos
de edificação.

Devido à similaridade na geometria das ocupações foram simulados modelos adaptáveis a


qualquer tipo das edificações citadas para esta pesquisa. As cargas de incêndios foram
representadas por um bloco de poliuretano com a devida taxa de liberação de calor para cada
simulação.

Os cenários das simulações numéricas foram projetados com dimensões de 40 x 20 x 6 m,


representado uma área de 800 m². O material das paredes e o teto no modelo numérico foi o
concreto, o poliuretano foi escolhido como material combustível representado em uma área de
16,00 m². A taxa de liberação de calor por unidade de área foi de 500 kW/m². O tempo de
simulação foi de 3,403 segundos.

Os dados dos arquivos de entrada para a modelação numérica são dados na tabela 2.2.

Tabela 2.2: Dados de entrada para a modelação numérica


Tamanho Área do Tempo de
HRRPUA
Simulação celas Queimador fogo Material simulação
(kW/m²)
(XYZ) (m) (m²) (s)
0,55x0,55x0,60 Concrete
Selado Polyurethane
25,920 celas Density: 2280
C_6,3 H_7,1
kg/m³.
O_2,1.
16 500 Specific Heat: 3,403
0,55x0,52x0,53 Soot Yield =
SCF 1,04 kJ/(kg*K).
52,170 celas 0,1 “NFPA
Conductivity:
Brabrauskas”
1,8 W/(m*K).

Para a definição da malha dos cenários foi empregada à equação 2.5, obtendo como resultado
para a simulação numérica selada uma malha grossa com 25,920 celas, na simulação
numérica com o sistema de controle de fumaça foi obtida uma malha grossa de 52,170 celas.

2
𝑄̇ 5
𝐷∗ = ( ) (2.5)
𝜌∞ 𝑐𝑝 𝑇∞ √𝑔

onde;

D* = diâmetro caraterístico do fogo;


Q̇ = taxa de calor liberado (kW);
ρ∞ = densidade (kg/m³);

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cp = calor específico (kJ/kg – oC);


𝑇∞ = temperatura ambiente (oC); e,
g = gravidade (m/s2).

A taxa de liberação de calor para ambas as simulações foi definida por uma Ramp como
mostra-se na tabela 2.3.

Tabela 2.3: Ramp da taxa de liberação de calor


Tempo (s) Fração
0 0,0
424 1,0
1,963 1,0
3,403 0,0

2.3.1 Simulação numérica selada

Nesta simulação de acordo com a equação 2.5, o Mesh foi representado por 25,920 celas
sendo 72 celas no eixo X, 36 celas no eixo Y e 10 celas no eixo Z. Foram instalados 6
medidores ou layers desde o piso até o teto para a medição da descida da camada de fumaça
e obtenção das temperaturas médias dos gases, como apresentado na figura 2.1. As paredes
foram representadas por meio de Vents definindo o concreto como superfície de vedação.

Figura 2.1: Cenário simulação selada.

Os resultados obtidos para esta simulação são apresentados nos gráficos das figuras 2.2 e 2.3.
Na figura 2.2 observa-se o resultado da descida da camada de fumaça e no gráfico da figura
2.3 as temperaturas médias dos gases no compartimento.

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Figura 2.2: Gráfico da descida da camada de fumaça.

Figura 2.3: Gráfico temperatura vs tempo.

Na figura 2.2 pode-se observar que a camada de fumaça desceu até 0,80 m acima do nível do
piso e manteve-se estável nessa altura ao longo da simulação. A maior temperatura obtida foi
de aproximadamente 200°C no layer 5 desprezando os picos de temperaturas. Como previsto,
nos layers 1 e 4 as temperaturas foram menores devido a que estavam localizadas mais longe
da área do incêndio.

2.3.2 Simulação numérica com controle de fumaça

Para a simulação numérica com o sistema de controle de fumaça (SCF) foram adicionados
espaços para a circulação de ar nos eixos Y e Z, no eixo Y foram adicionados 2,13 m para

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cada lado e 2,00 m de altura no eixo Z. O Mesh para este cenário foi conformado por 52,170
celas, sendo 74 celas na direção X, 47 celas na direção Y e 15 celas na direção Z.

Nesta simulação com o sistema de controle de fumaça foram inseridos como entrada de ar
quatro Supplys com um caudal volumétrico de 4,00 m³/s, totalizando 16,00 m³/s. As entradas
de ar foram localizadas nas esquinas do compartimento, cada uma das entradas com uma área
de 2,00 m². Para a exaustão da fumaça foram instalados seis exaustores no teto cada um com
uma área de 4,00 m² e uma vazão de 4,33 m³/s, totalizando uma vazão de 26,00 m³/s, de
acordo com os cálculos feitos baseados na IT 15 do CMPMESP. As paredes e o teto nesta
simulação foram inseridas como obstruções sendo de concreto. Na figura 2.4, apresenta-se o
cenário da simulação com o sistema de controle de fumaça.

Figura 2.4: Cenário simulação com sistema de controle de fumaça.

Segundo os cálculos feitos baseados na IT 15 do CBPMESP, a camada de fumaça deveria


atingir os 3,00 m projetados como altura livre de fumaça aos 107,01 segundos e manter-se
nesse nível, na figura 2.5 pode-se observar que este nível foi atingido muito antes e aos 108
segundos a zona livre de fumaça era de 2,00 m aproximadamente.

Figura 2.5: Simulação numérica aos 108 segundos.

Segundo o gráfico da altura da camada de fumaça apresentado na figura 2.6, o compartimento


é preenchido de fumaça até 0,90 m acima do nível do piso e começa a ficar livre de fumaça
aos 2,500 segundos, quando a taxa de liberação de calor está na fase de decaimento. De
acordo com este fenômeno, pode-se concluir que os valores da IT 15 para manter a altura
projetada livre da fumaça neste compartimento não cumpriu o seu objetivo. Na figura 2.7

551
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apresenta-se o cenário aos 3,403 segundos da simulação, observa-se que o compartimento


começa a ficar livre de fumaça.

Figura 2.6: Gráfico altura da camada de fumaça.

Figura 2.7: Compartimento ficando livre de fumaça

O beneficio da implantação do sistema de controle de fumaça para este compartimento se viu


refletido na diminuição das temperaturas. No compartimento selado sem controle de fumaça as
temperaturas ficaram entorno de 200°C, sendo que no compartimento com controle de fumaça
as temperaturas chegaram a 140°C, apresentando uma diminuição de 60°C. Na anterior
simulação os layers 1 e 4 apresentaram temperaturas menores por estarem localizadas aos
extremos da área de incêndio, situação similar ocorreu nesta simulação. A velocidade de
entrada de ar ficaram entorno de 1,50 m/s e a velocidade de saída de ar dos exaustores
entorno de 1,80 m/s.

Na figura 2.8 apresenta-se o gráfico de temperaturas do compartimento com sistema de


controle de fumaça.

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Figura 2.8: Gráfico de temperaturas vs tempo.

Com base nos resultados anteriores, pode-se concluir que o sistema de controle de fumaça
permitiu extrair do compartimento a camada de fumaça formada por gases quentes, logrando
que o compartimento e as estruturas não fossem submetidos a longos períodos de
temperaturas elevadas.

3. CONCLUSÕES

Baseados nos resultados das simulações numéricas seguindo as diretrizes da IT 15 do


CBPMESP, pode-se concluir que o sistema de controle de fumaça ajuda na diminuição das
temperaturas internas dos gases em um compartimento. O sistema de controle de fumaça ao
extrair os gases quentes logrou uma diminuição da temperatura do 30% em relação ao
compartimento sem controle de fumaça.

O principal objetivo do sistema de controle de fumaça e manter a fumaça a uma altura livre
para permitir a evacuação das pessoas em um compartimento. No entanto neste trabalho este
objetivo não foi atingido, ficando uma zona livre de fumaça de 0,90 m quando a altura mínima
deve ser de 2,20 m.

É importante lembrar que, ainda que este resultado não tenha sido satisfatório em manter a
altura da camada de fumaça ao nível de 3,00 m em que foi projetado, o sistema de controle de
fumaça ajudou na diminuição das temperaturas internas no compartimento, o qual pode trazer
ganhos em relação à proteção contra o incêndio nas estruturas.

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4. REFERÊNCIAS

[1] Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo - CBPMESP. Controle de
Fumaça - Instrução Técnica No. 15/2011. São Paulo. 2011.
[2] Thunderhead Engineering, PyroSim: A Model Construction Tool for Fire Dynamics
Simulator (FDS), PyroSim User Manual, 2010.2, Thunderhead Eng., Manhattan, USA,
2010.
[3] National Institute of Standards and Technology. NIST. Fire Dynamics Simulator, Version
5.5.3. User`s Guide, Special Publication 1019-5.
http://code.google.com/p/fds-smv/ Quincy, Massachuset, 2010.
[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 14432. Exigências de
Resistência ao Fogo de Elementos Construtivos de Edificações. Rio de Janeiro, 2001.
[5] Estado de São Paulo. Decreto Estadual No. 56819. São Paulo 2011.
[6] Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de Minas Gerais - CBPMMG. Procedimentos
Adminstrativos - Instrução Técnica No. 01/2015. Belo Horizonte 2015.

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PLANO DE GESTÃO E PREVENÇÃO DE COMBATE A INCÊNDIOS E


EXPLOSÕES EM SUBESTAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA EM ALTA
TENSÃO

Èrica S. Dos Fabrício M.


Santos* Dourado Varejão
Professora do Centro Professor
Territorial de Educação Instituto Federal de
Profissional do Pernambuco
Semiárido Nordeste II Recife, Brasil.
Ribeira do Pombal,
Brasil.

Palavras-chave: subestação de energia, perigo, risco de incêndio, controle, gestão.

1. INTRODUÇÃO

A energia elétrica é um insumo mais utilizado em todo o mundo, obtida nas diferentes formas e
transformadas em inúmeras tensões sendo considerada de baixa, média e alta tensão.

É importante lembrar que o fornecimento de energia elétrica no Brasil é feito por meio de um
grande e complexo sistema de subestações e linhas de transmissão, interligadas ás várias
usinas de diversas empresas. Nesse sentido, a produção de energia elétrica busca atender as
necessidades e suprir um mercado consumidor cada vez mais exigente.

**
Érica Silva dos Santos – Centro Territorial de Educação Profissional do Semiarido II.. Rua José Domingos Silva Neto, nº 01, Centro. 48.400-000 - Bahia -

BA - Brasil. Tel.: +55 75 32761714 Fax: +55 75 32762063. e-mail: derica789@gmail.com.

** Fabício de Medeiros Dourado Varejão – Instituto Federal de Educação Técnica e Tecnológica de Pernambuco. Rua Professor Luis Freire 500, Cidade
Unuversitária, 50.740-540 – Recife - Pernambuco – PE - Brasil. Tel.: +55 81 99977-0800 - E-mail: fvarejao16@outlook.com

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No esteio dessa demanda, inúmeras são as formas de transformações da tensão elétrica,


sendo de um simples transformador de bancada instalados sobre postes até as subestações
existentes abrigadas ou a céu aberto de grande porte, como por exemplo, as subestações de
69,8 KV.

A transformação da energia é uma operação corriqueira para os profissionais da área de


eletricidade, sejam eles montadores dos sistemas elétricos projetados em diversas instalações
ou eletricistas que intervêm operando e realizando as manutenções em sistemas elétricos deve
ser cada vez mais aprimorados.

A transformação de energia elétrica, por outro lado, deve merecer a devida atenção por parte
dos profissionais envolvidos neste tipo de operação, haja vista a existência permanentemente
nestes sistemas dos ricos elétricos, os quais podem ser agrupados em: riscos de choques
elétricos; riscos de arco-voltaicos; riscos de campos magnéticos; riscos adicionais de incêndio,
explosões, queda de diferença de nível e riscos de exposição a agentes nocivos a saúde como
ruído, calor, gases, poeiras, vapores, vibrações e tantos outros.

Diante da relevância do tema, desta forma propor um modelo de gestão para subestação de
energia elétrica é primordial para a prevenção de acidente do trabalho e incluindo danos
materiais para toda e qualquer empresa.

2. JUSTIFICATIVA

Sistemas de elétrica, em particular subestações de energia, estão sujeitos a intercorrências


diversas como danos operacionais em componentes elétricos, incêndios e explosões, acidente
do trabalho como choques elétricos, arcos voltaicos, campos magnéticos, além de acidentes
causados por riscos adicionais como queda do mesmo nível, queda de diferença de nível,
contato com superfícies aquecidas, até intoxicação por fumaça tóxica ou substância tóxica
como o óleo ascarel, bifenila policlorada de uso proibido por ser cancerígena e ainda usada em
transformadores e capacitores.

O objetivo é propor um sistema eficaz para controle de prevenção de riscos de acidentes do


trabalho em subestações de energia elétrica em alta tensão, com a finalidade de promover a
capacitação de equipes que atuam em subestação de energia para a boa prática da prevenção
de acidentes do trabalho; permitir o uso de instrumentos eficazes de prevenção de acidentes e
controle de riscos diante a rotina operacional das subestações de energia; dispor de sistema de
combate a incêndio e explosões a serem ocasionados pela falha de operação no sistema
preventivo; elevar o nível de confiabilidade de subestação de energia pelo aumento de medidas
de prevenção de acidentes aplicadas; reduzir ao máximo o número de ocorrências de
acidentes do trabalho, com o aumento do conforto, saúde, eficiência e segurança do
trabalhador.

Também a relevância do tema reside nos registros estatísticos de acidentes do setor elétrico no
Brasil e parte destas ocorrências sao incêndios em instalações elétricas em alta tensão. A
seguir, alguns registros de acidentes do setor elétrico que justificam a relevância desse tema e
do plano de gestão de riscos ora proposto.

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Tabela 1: Segurança do trabalho no Brasil


Fonte: Adaptado da Agência Nacional de Energia Elétrica
Descrição 2009 2010 2011 2012 2013 2014
NMO FUPR 4 8 19 8 12 6
NMO FUTE 58 71 58 51 41 49
NACTER 892 881 902 895 871 789
NMOTER 282 306 317 315 314 275

NMO FUPR: nº de mortes decorrentes de acidentes de


trabalho (funcionários próprios)
NMO FUTE: nº de mortes decorrentes de acidentes de
trabalho (funcionários terceirizados)
NACTER: nº de acidentes com terceiros envolvendo a
rede elétrica e demais instalações
NMOTER: nº de mortes decorrentes de acidentes com
terceiros envolvendo a rede elétrica

Tabela 2: Acidentes de origem elétrica em 2015


Fonte: Adaptado da Abracopel
Descrição Total de acidentes
Total de acidentes 1249
Choques fatais 590
Choques não fatais 123
Curto circuito -
Curto circuito com incêndio 441
Curto circuito sem incêndio -
Descarga atmosférica 93
Desarga atmosférica com morte 62

Tabela 3: Incêndio por curto circuito em 2015


Fonte: Adaptado da Abracopel
Região Incêndio por curto circuito Morte
Total 441 33
Norte 81 6
Nordeste 108 10
Centro Oeste 53 1
Sudeste 125 9

Nesse sentido, as subestações de energia precisam estar protegidas por sistema de gestão de
segurança e saúde ocupacional que façam com que ocorrências diversas. Portanto, conceber,

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planejar, executar e manter o sistema de gestão de segurança do trabalho é vital para evitar a
descontinuidade operacional ao sistema elétrico, além de prevenir prejuízos materiais e
acidentes do trabalho que quase sempre são de elevada gravidade nas subestações elétricas.

3. METODOLOGIA

A metodologia aplicada neste estudo tomou como base a larga experiência dos autores junto à
subestação de energia elétrica e no gerenciamento de riscos elétricos em unidades indústrias
de diversos segmentos econômicos. Do conhecimento acordado, foram observados e
elencados instrumentos de gestão de segurança do trabalho que foram testados e aplicados
rotineiramente com eficácia na obtenção de resultados.

Pela metodologia do braimstorming podem-se relacionar os instrumentos utilizados em


empresa cujo sistema de gestão de segurança do trabalho permitiu praticamente eliminar
acidentes em subestação elétrica, com base nos requisitos previstos na Norma
regulamentadora NR-10 Segurança em instalações e serviços com eletricidade, que estabelece
os requisitos e condições mínimas objetivando a implementação de medidas de controle e
sistemas preventivos, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores que, direta
ou indiretamente, interajam em instalações elétricas e serviços com eletricidade. A metodologia
de análise de riscos também foi considerada nesse estudo entre elas a APR- Analise Preliminar
de Riscos para atividades de montagem, operação e manutenção de sistemas elétricos com
foco em subestações de energia elétrica.

Ressaltou-se ainda que estes estudos de caso permitissem aos autores organizarem em ordem
de prioridade os instrumentos de gestão de segurança adiante demonstrados.

4. ESTUDO DE CASO SUBESTAÇÃO SE-910 PETROQUÍMICA SUAPE

A subestação SE-910 está localizada planta da Companhia Petroquímica PTA (setor tereftálico
purificado) e PET (setor responsável pela fabricação de polímeros e filamentos de poliéster e
resina para embalagens PET), no Complexo Industrial Portuário de Suape, localizado no
Estado de Pernambuco.

No estudo verificou-se que as atividades referentes à montagem elétrica, testes e demais


serviços elétricos, a identificação dos fatores de riscos, além dos elétricos, específicos de cada
ambiente ou processos de trabalho que, podem afetar direta ou indiretamente, a segurança e a
saúde no trabalho, que por sua vez, pode resultar no incêndio e explosões em subestações
elétricas de alta tensão.

Analisou-se na SE-910, os provaveis e eminentes riscos, devido às atividades de construção,


operação e manutenção de redes de linhas aéreas ou subterrâneas de alta e baixa tensão
integrantes do SEP, energizados ou desenergizados, mas com possibilidade de energização
acidental ou por falha operacional, com área de riscos tais como: estruturas, condutores e
equipamentos de linhas aéreas de transmissão, subtransmissão e distribuição, incluindo
plataformas e cestos aéreos usados para execução dos trabalhos; pátio e salas de operação
de subestações; cabines de distribuição, valas, bancos de dutos, canaletas, condutores,

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recintos internos de caixas, poços de inspeção, câmaras, galerias, estruturas terminais e


aéreas de superfície correspondentes, entre outros.

5. ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RISCOS NA MONTAGEM, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

Os riscos elétricos identificados em subestações elétricas são referentes ao sistema de


transmissão de energia elétrica analisados por tarefas através das análises preliminares de
risco (APR’s), devido à existência de equipamentos, painéis e dispositivos elétricos
energizados resultando em campo magnético e campo elétrico promovendo dessa forma a
compatibilidade eletromagnética.

O choque elétrico é um dos riscos avaliados em subestações elétricas, devido ao efeito


ocorrido no organismo vivo pela intensidade de uma corrente elétrica, se manifestando como
choque estático, choque dinâmico ou choque atmosférico. As situações em que podem resultar
em choque elétrico são provenientes de superfícies energizadas, fios e cabos com isolamento
deficiente, fios e cabos energizados caídos no chão, redes aéreas energizadas e redes aéreas
desenergizadas.

A gravidade das queimaduras é devido à passagem da corrente elétrica no organismo no qual


serve de condutor que dependendo da quantidade de energia elétrica atribuída é transformada
em energia térmica. O campo eletromagnético interfere nos aparelhos e nos corpos dos
trabalhadores, causando uma diferença de potencial.

Diversos aspectos relevantes estão envolvidos em subestações de energia elétrica tais como:
cabeamento inadequado, acessórios de corrente contínua que liberam gases inflamáveis e
tóxicos, arcos elétricos e acúmulo de carga elétrica estática dentro dos equipamentos,
superaquecimento de equipamentos referentes a controle elétrico, válvula e cabeamento, além
de intercorrências operacionais, erros de procedimento operacional e falhas em componentes
do sistema elérico podem permitir a ocorrência de incêndio e explosões, a qual poderá se
alastrar caso haja grande quantidade de material na forma de hidrocarboneto, que fica nos
cabeamentos e isolamentos. Os ambientes destinados às baterias que fornecem energia
interruptamente, poderá se tornar altamente explosivo devido ao grande acúmulo de altas
concentrações de gás hidrogênio.

Os acidentes de trabalho de origem elétrica são provocados devido aos atos inseguros,
condições inseguras, contatos diretos e contatos indiretos com a eletricidade. Conforme
prevista no NR-10, norma regulamentadora sobre instalações e serviços com eletricidade, da
lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977, do Ministério do Trabalho e Emprego, a segurança deve
ser concebida conforme constam no seu texto desde o projeto, construção, montagem,
operação e manutenção, ou seja, em todas as etapas do sistema elétrico e seus componentes.

Para a prevenção dos incêndios, limpeza e ordem ambiental (LOA), análise de riscos de
acidentes e plano de medidas de controle de riscos são instrumentos essenciais de gestão que
de forma eficaz auxiliam na manutenção de sistemas de combate a incêndio e explosão em
subestações elétricas de alta tensão.

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Na análise e avaliação de risco no processo de montagem, operação e manutenção de


subestação foram identificadas os seguintes riscos por etapa:

Tabela 4: Riscos identificados por etapas


Etapas/ Montagem Operação Manutenção
Riscos
Layout interno deficiente ✓ ✓ ✓
Transporte de equipamentos inadequados ✓ ✓ ✓
Falta de atendimento aos requisitos de mão-de-obra ✓ ✓ ✓
Ferramentas inadequadas ✓ ✓ ✓
Sistema energizado ✓ ✓ ✓
Sistema de comando desligado e não bloqueado ✓ ✓ ✓
Sistema de comando bloqueado e não sinalizado ✓ ✓ ✓
Falta de aterramento temporário ✓ ✓ ✓
Aterramento inadequado ✓ ✓ ✓
Falta/insuficiência de sinalização de segurança ✓ ✓ ✓
Falta/inadequação de SPDA ✓ ✓ ✓
Falta de EPC’s ✓ ✓ ✓
Falta de EPI’s ✓ ✓ ✓
Incêndio ✓ ✓ ✓
Explosão ✓ ✓ ✓
Substância tóxica ✓ ✓ ✓
Superfície aquecida ✓ ✓ ✓
Trabalho em altura ✓ ✓ ✓
Espaço confinado ✓ ✓ ✓
Descarga atmosferica ✓ ✓ ✓
Intempéries ✓ ✓ ✓
Controle de acesso inexistente/deficiente ✓ ✓ ✓
Barreiras inadequadas ✓ ✓ ✓
EPI’s inadequados ✓ ✓ ✓
Falta de obstáculos ✓ ✓ ✓
EPC’s inadequados ✓ ✓ ✓
Área classificada - ✓ ✓
Falta de mapa de riscos ✓ ✓ ✓
Falta de análise de riscos ✓ ✓ ✓
Falta de liberação de serviço com PT/PET ✓ ✓ ✓
Falta de PAE – Plano de Atendimento a Emergências ✓ ✓ ✓
Falta de plano de prevenção a incêndios e explosões ✓ ✓ ✓
Falta de plano de combate a incêndio e explosões ✓ ✓ ✓
Falta de rotina de inspeções de segurança nas ✓ ✓ ✓
subestações

Vale ressaltar que cada risco identificado recebe uma classificação que o conferiu uma
categoria, sendo tudo resultado do produto de probabilidade (ou freqüência) de ocorrer versus

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a gravidade (ou severidade) dos danos que pudessem adivir do evento danoso. Desta forma,
foram constatadas as seguintes classes de probabilidade ou freqüência de eventos:

Tabela 5: Matriz de classificação de riscos de acidentes – frequência x gravidade


Frequência A B C D E
X
Gravidade
IV 2 3 4 5 5
III 1 2 3 4 5
II 1 1 2 3 4
I 1 1 1 2 3

Tabela 6: Tabela para enquadramento de riscos


Frequência Gravidade Risco

A – extremamente remota I – Desprezível 1 – Desprezível


B – remota II – Marginal 2 – Menor
C – Improvável III – Crítica 3 – Moderado
D – Provável IV – Catastrófica 4 – Sério
E – Frequente 5 – Crítico

6. ELABORAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DE AÇÕES E MEDIDAS DE PREVENÇÃO


ESPEFICICAS POR SETOR

Em subestações elétricas os componentes necessários para o devido funcionamento são:


transformadores, disjuntores de alta tensão; disjuntores de baixa tensão; chaves
seccionadoras; chaves fusíveis; painéis de instrumentos (alta tensão e baixa tensão);
capacitores; baterias; relês; relês Bucholz; bobinas; amperímetros; voltímetros;
transformadores de potencial e Tp’s; transformadores de corrente Tc’s; extintores de incêndio;
componentes eletrônicos; componentes eletromecânicos; bancos Capacitores e quadros
sinóticos.

Os procedimentos operacionais na subestação elétrica de alta tensão há atividades críticas


onde os equipamentos devem ser aferidos para medições e testes e somente devem entrar na
SEE técnicos habilitados e capacitados pela NR 10 (SEP) e autorizado; no qual deve adentrar
sob supervisão de colega, avaliar as probabilidades de riscos no local, desenergizar ou
energizar equipamento através dos comandos de acionamento apropriados; Identificar e
sinalizar equipamento operando e bloqueado; rever procedimento. Os desvios críticos
analisados resultam em inconsistência das informações e acidentes e as ações corretivas é
rever os procedimentos.

No trabalho com cesta áerea IP deve-se verificar o acesso ao equipamento a ser reparado;
avaliar as probabilidades de riscos no local; isolar a área de trabalho com sinalização

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adequada para visualização de motoristas e pedestres; somente um colaborador sobe na cesta


e atraca o cinto na haste ou local apropriado; colocar equipamento nos equipamentos
apropriados na cesta ou em sacola que será içado por corda; desenergizar equipamentos a
serem reparados ou trocados. Outro colaborador estará no solo observado e dando apoio
quando solicitado. Os recursos necessários para o bom desenvolvimento do procedimento
operacional é a presença de dois técnicos habilitados e capacitados pela NR 10 e autorizado;
EPI´s; ferramentas adequadas; equipamentos para medição e testes.

Para a manutenção da subestação a necessidade em obter autorização para o serviço e fazer


análise dos riscos com a equipe; desenergizar a SEE; isolar a possível área ainda energizada;
aterra área de trabalho; identificar e bloquear dispositivos de manobra; verificar toda a
instalação para liberação de energização; retirada de aterramento, bloqueios; reenergização da
SEE; retirada de isolamentos e sinalização. Os recursos necessários são a presença de dois
técnicos habilitados e capacitados pela NR 10 (SEP) e autorizado; EPI´s (Botas, capacete,
luvas, óculos Rayban e roupas apropriadas); Equipamentos de medição e testes; EPC
equipamentos de sinalização.

Na Instalação e manutenção de luminárias e pontos de força há necessidade de verificar se o


local está limpo, iluminado e de fácil acesso; avaliar as probabilidades de riscos no local;
desenergizar instalações; preparar adequadamente equipamentos de apoio fixando em locais
apropriados no caso de andaimes; proceder à execução dos serviços; desativar equipamentos
de apoio e limpeza do local, onde os recursos necessários são dois técnicos habilitados e
capacitados pela NR 10; EPI´s apropriados; ferramentas adequadas para cada atividades;
equipamentos de apoios: escadas, andaimes, etc.

Na instalação de Instalação de eletrodutos aparentes e embutidos há necessidade de verificar


se o local está limpo, iluminado e de fácil acesso; avaliar as probabilidades de riscos no local;
preparar adequadamente equipamentos de apoio fixando em locais apropriados no caso de
andaimes e os recursos necessários, técnicos habilitados e capacitados pela NR 10; EPI´s
apropriadas; ferramentas adequadas para todas as atividades; equipamentos de apoios:
escadas, andaimes, etc.

As medidas preventivas de segurança recomendadas a serem implantadas na


operacionalidade de subestação de energia de alta tensão elétrica devem ser aplicadas sobre
o contexto gerencial de chefias intermediárias como supervisões, encarregados, ou lideres de
equipes de operação e/ou manutenção de subestações, de forma independente da capacidade
instaladas, do grau de complexidade dos seus componentes elétricos ou da dimensão da
equipe envolvida na rotina e no seu gerenciamento.

Sugere-se aqui a apreciação do ciclo PDCA para modelo de planejamento, execução,


verificação e correção de desvios de ações de prevenção específicas em cada etapa, que seja
na montagem, operação ou manutenção.

Com base no ciclo PDCA, segue o detalhamento das etapas para o desenvolvimento das
ações de prevenção específicas.

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6.1 Planejamento de ações preventivas

Nesta etapa são definidas as ações preventivas a serem implantadas no plano de gestão para
prevenção e controle de riscos em subestação de energia em de alta tensão. Pode-se dizer
que são definidas as responsabilidades pelas rotinas operacionais preventivas, os recursos
necessários, as fontes de recursos na implementação das ações, prazos com data de início de
término para implantar cada ação, os procedimentos operacionais e referências técnicas, além
das metodologias aqui usadas na operação de cada ação e o plano de capacitação das
equipes de lideres de processo em cada ação.

6.2 Execução de ações preventivas

Na deve-se atentar e ao máximo aproximar os conteúdos e prazos e cada ação, aos conteúdos
e prazos planejados na etapa anterior (planejamento).

6.3 Verificação de ações preventivas

Com relação a etapa de verificação, o check list são cotejados as ações planejadas com as
ações executadas visando avaliar a existência de desvios quanto as metas estabelecidas
(PxD= Plan x Do).

6.4 Correção dos desvios de ações preventivas

A etapa da ação corretiva (A-Action) visa à adoção de ajustes e observa-se que cada medida
preventiva deve ser especifica em função da etapa do projeto, seja na montagem, operação ou
manutenção.

Pode-se dizer que cada etapa possui suas peculiaridades de riscos com suas respectivas
naturezas, portanto devem ser consideradas características de correntes de cada fonte
potencial de desvio, quais sejam os perigos por etapa . Convém destacar que a
operacionalização das ações apenas surtirá os efeitos esperados quando foram previamente
aproximadas pela alta direção da empresa e no sentido como todo, ou seja, implantadas em
todos os níveis hierárquico da organização.

Primeiramente a operacionalização se inicia com a capacitação dos líderes de equipes e em


consequência, estes funcionam como agentes multiplicadores, os quais deverão promover a
capacitação das suas equipes para as operações e aplicação das rotinas em cada ação
preventiva.

Após a capacitação serão formados grupos de trabalho com líderes específicos para cada
ação, e assim atuaram no processo de aplicação prática destas medidas preventivas, com
reuniões de trabalho que deverão seguir um cronograma de revisão e avaliação da
operacionalização de cada ação. Portanto, o ideal que estas reuniões ocorram semanalmente
na fase inicial, podendo ser ajustadas as freqüências de realização com o tempo conforme
dificuldades.

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As avaliações de eficácia de cada ação devem serão ser mensais, inclusive devem contar com
auditorias comportamentais para verificar o grau de assimilação pelos participantes da equipe
em cada ação prevista, e assim ter um maior controle.

7. PLANO DE GESTÃO DE SEGURANÇA DO TRABALHO EM SUBESTAÇÕES ELÉTRICAS


EM ALTA TENSÃO

O plano de gestão de segurança proposto para subestações elétricas em alta tensão é


composto nas seguintes ações:

7.1 Primeira ação

Realização do estudo planta ou instalações visando à elaboração do plano diretor de gestão de


riscos/perigos.

7.2 Segunda ação

Definição do cronograma de implantação do PGA para subestações elétricas.

7.3 Terceira ação

Aprovação do plano diretor pela atual direção do empreendimento.

7.4 Operacionalização das ações

Nesta etapa consideram-se as seguintes ações:

a) DDS - Diálogo Diário de Segurança;


b) Plano de capacitação em NR-10/NR-12/ NR-17/ NR-25/ NR-33 e NR-35;
c) Análise riscos das atividades;
d) PT- Permissão de trabalho e PET- Permissão de entrada de trabalho (Atender NR-33);
e) EPI - Equipamentos de proteção Individual – (Atender a NR-10 Item 10.2.9/ NR-6);
f) EPC - Equipamentos de proteção coletiva – (Atender a NR-10 Item 10.2.8);
g) Plano de prevenção e combate a incêndio – (Atender a NR-10 Item 10.9);
h) Plano de atendimento a emergências – (Atender a NR-10 Item 10.12);
i) Plano de sinalização de segurança (Atender a NR-10 e NR 26);
j) Prontuário de Inspeções elétricas – (Atender a NR-10);
k) Desenergização de circuitos;
l) Bloqueio de circuitos;
m) Sinalização de bloqueios – (Atender a NR-10 Item 10.10);
n) SPDA - Sistema de proteção de descarga atmosférica;
o) Procedimentos de tarefas – (Atender a NR-10 Item 10.11);
p) Atendimento aos requisitos de mão de obra: qualificação, capacitação, habilitação e
autorização. – (Atender a NR-10 Item 10.8)
q) Atendimento a NR-17 e elaboração da AET- Analise ergonômica do trabalho das
funções envolvidas em cada atividade;

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r) Controle de acesso às subestações de energia;


s) Atividades realizadas em grupos;
t) Distâncias mínimas para zonas de perigos;
u) Boa conduta na execução das atividades.

8. CONCLUSÕES

Com a partilha destas experiências profissionais esperamos estar contribuindo senão para um
mundo melhor, pelo menos com um sopro na crença da vida do ser humano, que na labuta
diária pela sobrevivência se expõe a tantos riscos de acidentes e para as empresas que
necessitam de previsibilidade, confiabilidade e controle de seus riscos como forma de garantia
da sua continuidade operacional com responsabilidade social.

9. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus e aos nossos pais por ter dado força para superar os momentos difícies.
Aos professores que tivemos em vida e nos colocaram nos trilhos da linha do conhecimento
A este congresso que nos deu essa oportunidade de compartilhar as nossas crenças

10. REFERÊNCIAS

Varejão, Fabrício de Medeiros Dourado, Incidentes e acidentes guia prático para investigação e
análise. Editora Lucygraf, Recife, 2012.

Ministério do trabalho e Emprego, Segurança e Medicina do trabalho. 78ª edição; Editora


Atlas, São Paulo, 2017.

Lobosco, Vagner, Gestão NR-10- Faça você mesmo. Editora LTR, São Paulo, 2010.

Barros, Benjamim/ Guimarães, Elaine Borelli, Rivaldo e outros - NR-10 segurança em


instalações e serviços com eletricidade. Editora ética, São Paulo, 2010.

Pereira, Joaquim/ Sousa João José- Manual de auxílio na interpretação e aplicação da NR-10.
NR-10 comentada, MTE, São Paulo, 2011.

Fire Protection Handbook. National Fire Protection Association International. NFPA 1600,
Edition 2007.

Prática da Prevenção de Acidentes: ABC Segurança do Trabalho


Alvaro Zocchio, 280 páginas - 7ª Edição (2002) - 1ª Tiragem.

Novas estatísticas de acidentes com eletricidade: Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel

Acidentes com eletricidade no Brasil – Estatísticas: Associação Brasileira de Conscientização


para os Perigos da Eletricidade

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RISCO DE INCÊNDIO NOS TERMINAIS DE ARMAZENAMENTO DE


LÍQUIDO COMBUSTÍVEL

Dayse Duarte* Felipe Xavier Gustavo Duarte


Professor da Universidade Cavalcanti Universidade Federal de
Federal de Pernambuco Faculdade Boa Viagem Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

RESUMO

Iniciaremos com o seguinte questionamento: Por que os acidentes tecnológicos acontecem,


apesar da maturidade da tecnologia? Enquanto os engenheiros que projetam as instalações de
risco elevado reconhecem e entendem como as interações não desejáveis podem ocorrer, e
buscam preveni-las, é o operador da instalação o responsável por opera-la de forma segura no
seu dia-a-dia. Sendo imprescindível que este profissional esteja consciente sobre o que pode
dar errado e talvez o mais importante como pode dar errado.

É objetivo do presente estudo identificar e avaliar, através da árvore de falhas, como um evento
iniciador poderá resultar em um acidente tecnológico envolvendo o tanque atmosférico. A análise
histórica realizada pelo Centro de Estudos em Riscos Tecnológicos (CERTEC) indicou que no
período de 2000 a 2013, nos países em desenvolvimento, acidentes que desencadearam efeito
dominó estão associados a atividades de estocagem e transporte. E os tanques atmosféricos
representam 18,6% da origem destes acidentes.

Palavras-chave: Árvore das Falhas, Tanque Atmosféricos, Identificação de Perigo.

1. INTRODUÇÃO

As instalações de risco elevado, em geral, concentram uma grande quantidade de energia. A


Organização Mundial do Trabalho designa instalações de risco maior aquela que produz,
manipula, utiliza, armazena, transporta ou descarta substâncias perigosas, de forma transitória
ou permanente. Ou seja, substâncias ou misturas de substâncias que em razão das suas
propriedades químicas, físicas ou toxicológicas, isoladas ou combinadas constitui um perigo
imediato ou isolado para a instalação ou o seu entorno [1].

Por outro lado, um acidente em uma instalação não definida como de risco elevado poderá
também causar um impacto significativo na cadeia produtiva, na qual está inserida, devido ao
forte grau de acoplamento entre os seus subsistemas. Em fevereiro de 1997 um acidente na
Aishin Seiki, responsável por 99% da produção de válvulas de freios usados pela Toyota (i.e.

*
Autor correspondente: Departamento de Engenharia Mecânica, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco.

Rua Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil. Telefone: 5581992080866 Fax: 55812126 8232. E-

mail: duarte@ufpe.br

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sistema), resultou na paralização de 19 das 20 unidades (i.e. subsistemas) mantidas pela


montadora, totalizando um prejuízo, na época, de 300 milhões de dólares, pois 70 mil carros
deixaram de ser produzidos em duas semanas. O incêndio também causou prejuízo a outras
duas mil empresas (i.e. subsistemas) vinculadas ao sistema Toyota. Se os carros não podem
sair da linha de produção sem a válvula responsável pela estabilização do automóvel durante
freadas bruscas, como consequência, toda a cadeia produtiva será afetada.

Soma-se a isto o fato de que não há um consenso na literatura sobre o que é um acidente
tecnológico, talvez em razão da forte carga emocional a ele vinculada. Para a United Nation
Environmental Protection–UNEP/APELL um acidente tecnológico deverá resultar em um número
de mortes e feridos maior do que 25 e 125, respectivamente. E o total de pessoas evacuadas
maior do que 10.000 e um impacto econômico superior a 10 milhões de dólares. Segundo, Keller
et al [2, 3] o que caracteriza um acidente é um número de mortes e feridos maior do que 5 e 10,
respectivamente, mais de 50 pessoas evacuadas e um prejuízo superior a 1 milhão de dólares.
A definição proposta por Keller foi utilizada no estudo da escala de desastre de Bradford. As
Diretrizes de Seveso II, considera que um desastre grave envolve a ocorrência de emissões
graves (ou seja substâncias tóxicas), incêndio e explosão causados pelo descontrole de
operações em instalações que substâncias perigosas são manuseadas, e que podem resultar
em danos à saúde e/ou meio ambiente imediatos ou retardados, dentro dos limites de
propriedade da instalação ou no seu entorno.

No período de 2000 a 2013, o número de acidentes, envolvendo as instalações de risco elevado,


com efeito dominó nos países industrializados aumentou. Nos países em desenvolvimento os
acidentes tecnológicos ocorreram em áreas de estocagem [4]. Segundo Delvosalle [5] um
acidente com efeito dominó pode ser caracterizado por eventos em cascata, em que a
consequência do acidente inicial, i.e. do acidente primário, é ampliada no espaço e no tempo.
Os acidentes com efeito dominó tiveram origem nos tanques atmosféricos (18,6%), vasos de
processo (10,3%) e vasos sob pressão (9%) [4].

Por outro lado, uma análise histórica realizada por Chang Lin [6] revelou que o principal tipo de
tanque envolvido em incêndio e explosão é o tanque atmosférico de teto fixo ou flutuante. Eles
são utilizados no armazenamento de óleo cru (petróleo), gasolina e diesel. Cerca de 47,6% deles
estão localizados em refinarias de petróleo e 26,4% em terminais de estocagem e bombeamento.
A análise mostrou também que incêndios e explosões respondem por 85% dos acidentes,
seguidas de vazamentos de óleo, gás ou líquido tóxico. Além disso, as causas mais relevantes
dos acidentes são descarga atmosférica (32%), manutenção inadequada (13%) e erros
operacionais (12%). A pesquisa realizada foi baseada na análise de 242 acidentes ocorridos no
período de 1960-2003 nos Estados Unidos, México, Canadá, Ásia (Tailândia, Japão e China),
Austrália, Europa (UK e Itália), América do Sul e África do Sul.

O objetivo do presente estudo é mapear as falhas em tanques atmosféricos de teto flutuante,


através da árvore de falhas. Falhas em tanques podem resultar em um acidente tecnológico,
segundo as Diretrizes de Seveso.

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2. O PROBLEMA

Ao longo da história, um equipamento muito envolvido em acidentes é o tanque de


armazenamento devido à sua fragilidade diante do aumento de pressão e temperatura, dos
vácuos indevidos, assim como também, diante das vedações inadequadas e das descargas
atmosféricas, dentre outros motivos. Os tanques de armazenamento são equipamentos
utilizados para armazenagem de fluidos, em sua maioria flamáveis. Eles podem ser classificados
de acordo com a localização: elevado, de superfície ou subterrâneo; conforme a pressão interna:
atmosférico e baixa pressão; consoante o formato: vertical ou horizontal; e ainda pelo tipo de
teto: flutuante, aberto ou fixo. Nesses tanques, as características do produto estocado têm
influência direta no tipo de tanque escolhido, e podem ser identificadas pela volatilidade,
flamabilidade dos vapores, temperatura e pressão de armazenamento. Os tanques têm como
principal material o aço carbono e podem variar de 2 a 100 metros de diâmetro. As boas práticas
de engenharia associadas à construção da maioria desses equipamentos são reveladas nas
seguintes normas: API 650, API 620; ABNT NBR-17505, NBR-7821 e NBR-15461.

Os tanques atmosféricos são caracterizados por não suportarem um aumento ou diminuição


substancial da pressão interna, e possuem pressões máxima e mínima, medidas acima do líquido
no espaço ocupado pelo vapor, respectivamente, de 2kPa e 0,6kPa. Eles podem ser de teto fixo
ou flutuante. Os tanques de teto fixo são recomendados para armazenar líquidos combustíveis,
ou seja, líquidos que possuam uma baixa volatilidade, como o diesel. O armazenamento de
líquido Classe I não é recomendado para esses tanques. Mas a vantagem deles é que são
simples de projetar e manter, pois não possuem partes móveis. Os tanques de teto flutuante são
recomendados para líquidos flamáveis, cujo ponto de fulgor é menor do que 38oC. Neles as
perdas por evaporação e emissões fugitivas são maiores quando comparadas aos de teto fixo e
há a possibilidade de que o acúmulo da água da chuva no teto cause o seu afundamento e
também a entrada de água no interior do tanque, caso haja problemas nos drenos. Em
contrapartida, os de teto flutuante eliminam o espaço de vapor e reduzem o risco de explosão
em relação ao de teto fixo. Em outras palavras, os tanques de teto fixo estão sujeitos à explosão
devido ao grande espaço de vapor. E os de teto flutuante, a incêndio, através do anel de selagem,
por conta do vazamento de vapor pelo selo do teto.

A análise histórica acerca dos acidentes nos tanques de armazenamento deixou evidente que
os incêndios estão relacionados aos tanques atmosféricos de teto flutuante [4,6]. No dia 2 de
abril de 2015, um incêndio envolvendo vários tanques que armazenavam etanol e gasolina
ocorreu no porto de Santos, litoral paulista. O incêndio iniciou no teto de um dos tanques, e a
energia térmica irradiada desencadeou um efeito dominó. Após nove dias o incêndio foi
controlado e extinguido.

Acidentes associados aos terminais de armazenamentos estão associados a incêndio de poça.


Contudo, três acidentes ocorridos no período entre 2015 e 2019 deixaram evidente que
explosões de nuvem podem ocorrer em terminais de armazenamento. Em 11 de dezembro de
2005 uma nuvem de vapor explodia no terminal de estocagem de Buncefield no Reino Unido.
Em 23 de outubro de 2009 durante a transferência de gasolina do navio para os tanques da
Caribbean Petroleum Coorporation-CAPECO (em Porto Rico) resultou no vazamento de
aproximadamente 19 mil metros cúbicos de gasolina. Em 29 de outubro de 2009 as 19h30min

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durante a transferência de querosene e gasolina entre o terminal da Indian Oil Corporation-IOC


localizado em Sanganer (próximo a Jaipur) e o Terminal Bharat Petroleum Corporation Limited-
BPCL foi observado um vazamento, o qual não foi controlado. Como resultado uma hora e quinze
minutos após iniciado o vazamento uma bola de fogo envolveu toda a instalação.

Um fator comum aos acidentes ocorridos nos terminais de Buncefield, CAPECO e Jaipur é que
esses acidentes envolveram o vazamento de uma grande quantidade de gasolina resultando na
formação de uma nuvem de vapor, a qual não se dispersou em razão da baixa velocidade do
vento durante o vazamento (em Porto Rico antes do acidente a velocidade do vento registrada
foi de 2,2 m/s), permitindo a formação de uma nuvem de vapor que se manteve próxima ao solo.
A explosão da nuvem resultou em uma detonação, em razão da existência de árvores,
edificações e tubulação no entorno dos terminais, contribuindo para a aceleração da velocidade
da chama. Antes destes acidentes as explosões de nuvem de vapor estavam associadas ao
vazamento de uma grande quantidade de gases flamáveis sob pressão ou líquido superaquecido
como resultado do rompimento de vasos, reatores, tanques ou tubulações.

Dentro deste contexto, os questionamentos a serem feitos são:

1. O que pode dar errado?


2. Como pode dar errado?
3. Quais as consequências?

O primeiro e segundo questionamentos consistem no entendimento do problema e estruturação


da sequência de eventos com o potencial de degradar as barreiras de proteção dos tanques
atmosféricos. Após identificar os cenários plausíveis de acontecer, ou seja, o que pode dar
errado? E como pode dar errado? As consequências para os eventos iniciadores serão
visualizadas. É intenção do presente trabalho responder aos dois primeiros questionamentos.

3. ENTENDIMENTO DO PROBLEMA

O gerenciamento dos riscos de incêndios é baseado no entendimento do problema, Figura 1.


Pois é impossível prevenir ou mitigar um perigo que não pode ser identificado e entendido. Sendo
imprescindível definir:

1. As características dos seus responsáveis diretos e indiretos: Os stakeholders.


2. As limitações técnicas, de conhecimento e econômicas. As limitações de técnicas e de
conhecimento abrangem: As interações não desejáveis ou não previstas entre as
barreiras de proteção do terminal de estocagem e o sistema ao qual poderá ser
conectado, por exemplo um navio; e o comportamento das suas barreiras de prevenção
e mitigação (i.e. barreiras de proteção) no evento de um incêndio no tanque ou no seu
entorno.
3. Como pensam os seus stakeholders, quais as suas metas, objetivos, conflitos e valores
éticos.

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Os stakeholders são todos aqueles que direta ou indiretamente determinam com funcionará
o terminal de estocagem ao longo do seu ciclo de vida, desde a escolha da tecnologia até a
sua desativação. São os envolvidos no projeto, construção, operação e manutenção. São
também os responsáveis pelo planejamento de emergência, os consumidores de
combustíveis, as agências reguladoras e o operador do terminal. Com relação aos
stakeholders os seguintes questionamentos devem ser respondidos.

1. O que eles necessitam e desejam? Ou seja, quais as suas metas e objetivos? Quais as
suas prioridades? A Tabela 1 sugere metas para o gerenciamento do risco de incêndio
e seus respectivos objetivos de perdas.
2. Os seus objetivos são conflitantes? Como especificar, instalar, operar e gerenciar o
terminal e o sistema, ao qual está conectado?
3. Como traduzir o que os stakeholders necessitam e desejam em termos de critérios de
danos?

Figura 1. Entendimento do problema.

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TABELA 1. Metas e objetivos dos stakeholders.


Metas Objetivos
Nenhum ferimento grave ou leve no local em que o
Segurança das pessoas. incêndio e/ou explosão foi iniciado ou no seu entorno.
Nenhum impacto térmico, da fumaça ou da onda de choque
Proteção do patrimônio.
para o terminal e o sistema a que está conectado.
Continuidade operacional. A continuidade no abastecimento do mercado.
Proteção do terminal Garantir a operação e manutenção adequada do terminal.
Não contaminação do solo, como consequência de um
Proteção do meio ambiente vazamento ou decorrente das atividades de extinção do
incêndio no terminal ou no seu entorno.

Quando um engenheiro estrutural projeta uma viga, os esforços a que ela estará submetida
devem ser previstos. Da mesma forma as proteções contra incêndios devem estar em
conformidade com o tipo de incêndio mais provável de acontecer. Devem ser previstos a
quantidade de material que irá queimar e o tempo associado, tendo-se por finalidade ajudar os
técnicos a formarem uma opinião sobre as possíveis consequências e estabelecer o
embasamento necessário para o planejamento de emergências. Por outro lado, o potencial para
ignição e desenvolvimento de um incêndio, o qual é um risco para o terminal e seu entorno, está
virtualmente em todos os lugares, devido às limitações do conhecimento e da tecnologia hoje
disponíveis, em combinação com a percepção dos riscos pelos stakeholders.
Dentro desse contexto é imprescindível e urgente identificar cenários, os quais nos ajudem a
entender como um tanque atmosférico de teto flutuante poderá ser envolvido por um incêndio.
Na próxima seção são detalhados os cenários plausíveis de acontecer.

4. CENÁRIOS PLAUSÍVEIS DE ACONTECER

A árvore das falhas, Figura 2, reuniu cenários que conduzem a incêndio em tanques atmosféricos
de teto flutuante, baseada na análise histórica dos acidentes e nas barreiras de proteção dos
tanques de atmosféricos que foram identificadas através da NBR 17505 (2013).

A árvore de falhas é um processo dedutivo através do qual o evento topo é postulado e as


possíveis formas de ocorrência do evento são sistematicamente deduzidas. O evento topo é o
incêndio em tanques de armazenamento de substâncias flamáveis. Para que ele ocorra é
necessária a ação conjunta de três elementos: combustível, oxigênio e energia de uma fonte de
ignição.

Os vapores do combustível misturados com o ar formarão a mistura flamável. O combustível


poderá ser fornecido pelas emissões fugitivas, através do resíduo de produto nas paredes e/ou
no fundo do tanque ou através dos vazamentos do produto armazenado.

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A vedação dos tanques nas conexões e acessórios não é perfeita, logo, há emissões fugitivas.
Segundo a resolução CONAMA 382 de 2006, em seu artigo 3º, emissão fugitiva é o lançamento
difuso na atmosfera de qualquer forma de matéria sólida, líquida ou gasosa, efetuado por uma
fonte desprovida de dispositivo projetado para dirigir ou controlar o seu fluxo. A NBR 8969 de
1985 define emissões fugitivas como descarga de matéria e/ou energia no ar. Nos tanques, elas
ocorrem de modo imprevisível, sendo predominantes as atmosféricas (forma gasosa).

O resíduo de produto é o resultado do esvaziamento incompleto do tanque, devido a uma limpeza


mal efetuada no interior do mesmo, ou por drenagem ineficiente do produto armazena

Os tanques de armazenamento de teto flutuante apresentam uma gama maior de falhas


relacionadas ao vazamento, dentre as quais encontram-se as falhas de válvulas ligadas a esses
equipamentos. Elas estão relacionadas ao respiro ou às linhas de alimentação/descarregamento
do tanque, devido ao não fechamento das mesmas. Além dessas, podem ocorrer falhas nas
juntas e conexões que não apresentam uma solda ou vedamento adequado, respectivamente.
Outras possibilidades de vazamento devem-se a corrosões e trincas nas chapas do fundo,
costado e teto. Além do mais, pode ocorrer vazamento na linha de alimentação/descarregamento
do tanque por causa de trincas ou desacoplamento da sua conexão. Esse desacoplamento pode
ser devido à extrapolação dos limites de pressão.

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Figura 2. Árvore de falha para incêndio em tanques de teto flutuante [8].

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Existe a possibilidade de falha na selagem do teto flutuante, a qual pode acontecer por três
motivos: falha no selo, instabilidade do teto ou deformação excessiva do costado. O primeiro
ocorre em consequência de desgaste ou especificação inadequada do material e o segundo é
causado por furos presentes no mesmo ou pela água da chuva que se acumulou devido à
obstrução dos drenos ou à falha no sensor de abertura da válvula de retenção, não permitindo
assim a drenagem dessa água. Já o terceiro pode ocorrer devido a terremotos, furacões,
problemas operacionais e, por fim, em virtude de cargas de vento juntamente com um mau
projeto dos anéis de contraventamento.

Os problemas operacionais podem ser por sobrepressão ou aumento excessivo de temperatura.


A sobrepressão resulta de uma ação conjunta de um aumento da pressão de bombeamento e
uma falha no sistema de nível que desarma a bomba. Já o aumento excessivo de temperatura é
ocasionado devido ao erro operacional resultante da desatenção do operador no painel que
indica a temperatura; ao problema com o termostato, indicação incorreta de temperatura; ou pelo
aquecimento do tanque, por efeito de radiação térmica de um incêndio próximo.

Para evitar repetição na árvore das falhas, alguns eventos foram agrupados em tipos A e B.
Os eventos do tipo A conduzem às seguintes falhas: falha de válvulas, juntas e conexões;
corrosão e trinca do fundo, costado e teto do tanque; trincas na linha de
alimentação/descarregamento do tanque; desacoplamento de conexão da linha; desgaste no
selo; drenos obstruídos; falha no sensor de abertura da válvula de retenção; problema do
termostato. Esses eventos são quatro: o material inadequado; o problema de inspeção devido à
inspeção não efetiva ou a não liberação do equipamento no prazo para ser inspecionado em
conjunto com o atraso na inspeção; o problema de manutenção ocasionado pela manutenção
incompleta ou pela falta de manutenção, sendo essa falta de manutenção por causa da não
liberação do equipamento no prazo ou do não atendimento às recomendações de inspeção; a
ação de terceiros com roubo de produto ou sabotagem.
Os eventos do tipo B são três: pintura inadequada; sistema de monitoração da corrosão
inadequado; falha do sistema de proteção catódica. Esses eventos conduzem às corrosões do
fundo, costado e teto do tanque.

O oxigênio pode ser proveniente do próprio ar atmosférico ou do ar misturado com o combustível.


Essa mistura se dá com o ingresso de oxigênio por meio das entradas falsas de ar, furos,
existentes em bombas, que bombeiam o combustível através das tubulações interligadas aos
tanques.

A fonte de ignição fornece a energia mínima necessária para que a reação com o oxigênio e
combustível seja iniciada. As prováveis fontes são: incêndio no entorno do parque de tanques,
oriundo de fogo na vegetação; incêndio no entorno do tanque, proveniente de edificações ou de
outro tanque envolvido em chamas; trabalhos de solda e corte, os quais liberam faíscas durante
operações de manutenção; líquidos aquecidos; cigarros; fontes de energia elétrica.

A energia elétrica pode ser proveniente de equipamentos elétricos mal conservados no tanque
ou no seu entorno, os quais geram arcos elétricos ou faíscas. Essa energia também pode estar

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relacionada com as cargas estáticas, devido ao atrito do escoamento do produto nas tubulações
e/ou por causa do contato do vento com o tanque.

Porém, segundo Chang, Lin [6], a principal fonte de ignição é a descarga atmosférica. Por causa
do calor intenso produzido pelo raio existe a possibilidade de perfuração do teto ou costado,
devido à fusão do metal. A corrente produzida pelo raio resulta em um intenso calor (efeito
térmico) que poderá causar um furo no teto, provocando um vazamento do conteúdo do tanque,
ressaltando que a fonte de calor pode ser o próprio metal aquecido.

Em relação ao costado, caso o mesmo seja atingido por uma descarga, haverá um grande
vazamento, apesar da probabilidade de sofrer um impacto ser pequena. A perfuração do teto ou
do costado pode envolver todo o tanque em um incêndio de poça e a probabilidade dessas partes
serem danificadas por uma descarga atmosférica depende da: a) espessura do teto ou do
costado e do nível de desgaste por corrosão; b) descarga em produzir um valor de corrente
necessário para a fusão do metal; e c)qualidade do aterramento.

Ademais, o não aterramento dos tanques ou aterramento deficiente resulta no acúmulo de cargas
elétricas no mesmo, causado uma diferença de potencial, podendo resultar na ignição de bolsões
inflamáveis existentes acima da superfície do líquido.

É comum a organização entender o aspecto funcional da falha, porém o impacto da falha na sua
missão e objetivos muitas vezes não é claro, por que? Há organizações em que os técnicos
possuem conhecimento e experiência sobre a área em que atuam, porém como a organização
não possui uma política de treinamento que permita o intercâmbio entre as áreas, os técnicos
não interagem e o seu conhecimento/experiência sobre a vulnerabilidade das interconexões
entre as unidades é incompleto. Por outro lado, a análise quantitativa do risco não considera o
impacto da falha na cadeia produtiva, a exemplo do que aconteceu no sistema Toyota na década
de 1990.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente estudo um terminal de armazenamento de líquido combustível é um sistema com


muitas partes, subsistemas, que interagem entre si e com outros sistemas no seu entrono, por
exemplo um complexo portuário e industrial. Para entender como os acidentes acontecem em
um terminal é necessário visualizar as interações entre os seus subsistemas. A existência de
muitos subsistemas não é problema para os engenheiros que projetam e operam o sistema, se
as interações são previsíveis e óbvias, i.e. desejáveis. Em outras palavras, enquanto algumas
interações são familiares outras não são visíveis ou não são compreendidas de imediato. Os
projetistas poderão antecipar algumas interações indesejáveis outras não. Algumas dessas
interações poderão resultar em uma sequência de eventos que poderá conduzir a um acidente
tecnológico. As interações não desejáveis poderão ser prevenidas, por exemplo, um vazamento
de gasolina e sua subsequente ignição poderão influenciar alguns aspectos do projeto: a)
localização das defesas ativas, b) localização dos detectores de gás, c) tipos de sistemas de
supressão, e d) os equipamentos para situações de emergências.

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As interações não desejáveis e identificadas poderão ser prevenidas ou mitigadas através das
barreiras de proteção do sistema. As barreiras de prevenção têm a função de prevenir a falha,
evitar que o acidente aconteça. Por outro lado, as barreiras de mitigação, ou seja, barreiras para
prevenir falhas catastróficas buscam mitigar as consequências de um eventual acidente e
provável efeito dominó. As suas funções das barreiras de proteção são: 1) criar um entendimento
sobre as falhas; 2) dar uma indicação clara das falhas; 3) alterar ou interromper uma falha
eminente; 4) de intertravamento; 5) reiniciar o sistema após uma situação anormal; 6) barreira
física e 7) de resgate e fuga. Dentro deste contexto, um acidente é o resultado da interação de
falhas que perpassam as camadas de proteção do sistema. As prováveis causas de acidentes
podem ser atribuídas a interações entre falhas de equipamentos, softwares ou erros humanos.

REFERÊNCIAS

[1] ILO (1993). Convenção C-174. International Labour Organization, Geneva.


[2] Keller, A. Z. e Al-Madhari, A. F. Risk management and disasters. Disaster Prevention
and Management, Vol.5, No.5, pp. 19-22, 1996.
[3] Keller, A.Z., Manikin, M., Al-Shammari, I. e Cassidy, K. Analysis of fatality, injury,
evacuation and cost data using the Bradford Disaster Scale. Disaster prevention and
management, Vol.6, No.1, pp. 11-21, 1997.
[4] Hemmatian, B.,Abdolhmidzadeh, B. Darbra, R.M. e Casal J. The significance of domino
effect in chemical accidents. Journal of Loss Prevention in the Process Industries, v.29,
p.30-38, 2014.
[5] Delvosalle, C. A methodology for the identification and evaluation of domino effects.
Report CRC/MT/003, Belgian, Ministry of Employment and Labour, Brussels, 1998.
[6] CHANG, J.I.; LIN, C.C. A study of storage tank accidents. Journal of Loss Prevention in
the Process Industries, Taiwan, v. 19, p. 51–59, 2006.
[7] NBR 17505: Armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis. ABNT, abr/2013.
[8] Xavier, F. C. Identificação dos Perigos de Incêndio em Tanques de Armazenamento.
Trabalho de Conclusão de Curso da Graduação em Engenharia Mecânica. Universidade
Federal de Pernambuco, Recife. 2016.

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ROTAS DE FUGA E SAÍDA DE EMERGÊNCIA PARA PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA – PCD

Jesce John da S.
Borges*
Analista Ministerial do
Ministério Público de
Pernambuco,
Brasil

Palavras-chave: Pessoas com deficiência. Saída de emergência. Cinema.

1. INTRODUÇÃO

No direito Constitucional no seu art 5º, o direito de ir e vir é parte integrante do direito à liberdade
pessoal. É direito fundamental inerente às características essenciais da natureza humana. É
também conhecido como direito de locomoção ou de liberdade de circulação. Consiste na
faculdade de o indivíduo entrar e sair do território nacional e, dentro do país, de deslocar-se pelas
vias públicas ou afetadas ao uso público, tendo apenas a lei como limitação.

Infelizmente, este direito não é atendido. Alguns cinemas ainda não possibilitam acessibilidade
para pessoas com deficiência de forma satisfatória de modo atender às exigências das normas
pertinentes. Além de ficarem nos piores lugares nos cinemas, os deficientes físicos ainda
encontram sérias dificuldades em relação às rotas de fugas para as situações de incêndio e
pânico, pois os trechos acessíveis previstos em projeto de combate a incêndio não são os
mesmos percorridos pelas pessoas com deficiência. É possível perceber que nos cinemas existe
uma série de obstacúlos nas rotas de fuga, por exemplo, um desnível, uma escada ou até mesmo
uma porta sem as características adequadas.

*
Autor correspondente – Engenheiro Civil. Especialista em Engenharia de Instalações Prediais. Especialista em Engenharia de Segurança Contra Incêndio e

Pânico. MBA - Especialista em Gestão do Ministério Público. Mestre em Geotecnia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Doutorando em

Geotecnia na Universidade Federal de Pernambuco. Analista Ministerial do Ministério Público de Pernambuco. Membro da comissão de licitação da Secretaria

de Administração de Pernambuco. Rua São Miguel, 176, Afogados. 50.850-275 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +55 81 99935-7622. e-mail: jescejohn@hotmail.com

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De entre os dispositivos de segurança de proteção contra incêndio, as saídas de emergência


têm grande destaque, já que permitem a evacuação das pessoas do local do sinistro. Numa
situação de pânico, as pessoas em plenas condições físicas já apresentam dificuldade em atingir
a saída de emergência, imagine as pessoas com deficiência. Diante dessa situação, existem
normas técnicas construtivas, assim como o decreto nº 5.296/2004 que tratam de acessibilidade
para pessoas com deficiência nos locais de reunião pública.

Observa-se nos cinemas que a saída de emergência destinadas às PCDs são geralmente a porta
da entrada principal, pois a outra porta caracterizada como saída de emergência apresenta
acesso através de escada, o que impossibilitaria a utilização por uma pessoa em cadeira de
rodas. Atualmente no processo de aprovação de um projeto de proteção contra incêndio o setor
de engenharia do Corpo de Bombeiro Estadual não analisa no projeto os pontos de rotas de fuga
para PCD e nem a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA), órgão da prefeitura
responsável pela fiscalização da acessibilidade, verifica as rotas de fuga dos PCDs levando em
consideração as situações de incêndio e pânico.

Diante das inúmeras dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência, este artigo irá
discorrer sobre as situações encontradas pelos PCDs nos cinemas, levando em consideração
as saídas de emergências disponíveis que são utilizadas como rotas de fuga para as situações
de incêndio e pânico.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Conceitos de pessoas com deficiência

O conceito de “pessoa com deficiência” que se contempla no art. 2º da Convenção sobre os


Direitos das Pessoas com Deficiência implica grande reversão paradigmática na conceção
jurídica do sujeito a quem se destina o referido instrumento internacional. É que, além do aspeto
clínico comumente utilizado para a definição em apreço, concernente à limitação física, inteletual
ou sensorial, inclui-se a questão social, para estabelecer-se o alcance da maior ou menor
possibilidade de participação dessas pessoas em sociedade [1].

Ainda segundo Brasil [1], a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)
aprovou a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência sendo adotada em
2006 e entrando em vigor em 2008. Ressalta que se trata de um importantíssimo instrumento de
aprimoramento dos direitos humanos, não apenas porque atende às necessidades específicas
desse grupo, que conta com cerca de 650 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), mas, acima de tudo, por que revigora os direitos
humanos, atualmente ameaçados por guerras consideradas ilegais pela ONU e pelo avanço do
mercado global, em detrimento de direitos sociais antes consolidados.

Hoje são utilizadas diversas siglas para definir os portadores de deficiência, PNE (Pessoas com
Necessidades Especiais), termo que inclui, além das pessoas com deficiência, aquelas com altas
habilidades, condutas típicas, e outras necessidades especiais, portanto mais abrangente. PNEE

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(Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais), terminologia utilizada especificamente na


área de educação. PPD (Pessoas Portadoras de Deficiência), pessoas com deficiência física,
auditiva, visual, intelectual ou múltipla e de acordo com o Decreto 3298/99. Termo muito usado
no espoco legal. O termo “portador” não é bem aceite atualmente, a partir da assinatura da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência passou-se a adotar o termo PCD
(Pessoas com Deficiência) nomenclatura atual, mais utilizada, motivando o desuso da PPD’s [2].

Para Valle et al. [3], o termo pessoas com deficiência envolve um número bastante elevado de
pessoas e não apenas os cadeirantes ou os que usam moletas. O número de pessoas inclui
desde amputados até o portador de deficiência mental.

2.2 Fundamentações dos direitos das pessoas com deficiência

A Carta Magna de 88 tutela os direitos das pessoas com deficiência, trazendo na sua estrutura
e organização dispositivos baseados nos princípios da igualdade, dignidade da pessoa humana,
da solidariedade e da justiça social, visando garantir a inclusão e integração das mesmas na
sociedade [4]. Além disso, a carta Magna assegura ao cidadão brasileiro o seu direito à liberdade,
educação, saúde, lazer, trabalho. Pastore [5] ainda cita o direito a instalações desportivas e de
lazer acessíveis a todos.

O Decreto [6] regulamenta as Leis [7], que dá prioridade de atendimento às pessoas que
especifica, e [8], que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras
providências. Esse decreto apresenta alguns conceitos, de entre os quais se destacam:
acessibilidade - condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos
espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos
dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de
deficiência ou com mobilidade reduzida; barreiras - qualquer entrave ou obstáculo que limite ou
impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de
as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação.

Conforme o art. 78 da Lei [9] os cinemas, auditórios, teatros, casas de espetáculos, estádios e
ginásios desportivos, deverão ser exigidos espaços apropriados para cadeiras de rodas, ao longo
dos corredores, na proporção de 2% (dois por cento) da lotação, até 500 (quinhentos) lugares,
com o mínimo de 1 (um), daí acrescido de acordo com a norma brasileira [10]. Deste modo,
qualquer imóvel que se enquadre nessa lei deverá dispor de acessos, banheiros, rampas,
elevadores, sinalização, entre as adaptações necessárias para permitir o acesso, circulação e
permanência de pessoas com deficiência. Já o art. 23 estabelece que os espaços sejam
distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, próximos aos corredores,
devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e a obstrução das saídas. O
parágrafo 4 deste artigo fala da obrigatoriedade para que as rotas de fuga e saídas de
emergência sejam acessíveis, conforme padrões das normas técnicas de acessibilidade da
ABNT, a fim de permitir a saída segura de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida,
em caso de emergência.

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Já a norma brasileira [10] no seu item 8.2 estabelece que os locais de reunião (cinemas, teatros,
auditórios e similares) devem possuir, na área destinada ao público, espaços reservados para
pessoas em cadeira de rodas (P.C.R.), assentos para pessoa com mobilidade reduzida (P.M.R.)
e assentos para pessoa obesa (P.O.), atendendo às seguintes condições: estar localizados em
uma rota acessível vinculada a uma rota de fuga; estar distribuídos pelo recinto, recomendando-
se que seja nos diferentes setores e com as mesmas condições de serviços; estar localizados
junto de assento para acompanhante, sendo no mínimo um assento e recomendáveis dois
assentos de acompanhante; garantir conforto, segurança, boa visibilidade e acústica; estar
instalados em local de piso plano horizontal; ser identificados por sinalização no local e na
bilheteria, conforme 5.4.1; estar preferencialmente instaladas ao lado de cadeiras removíveis e
articuladas para permitir ampliação da área de uso por acompanhantes ou outros usuários
(P.C.R. ou P.M.R.).

Portanto, a acessibilidade é um conceito baseado na ideia do design universal, que permite que
um ambiente seja utilizado por diversas pessoas independentes da sua condição física. Muitas
vezes quando falamos de acessibilidade pensamos somente em como as pessoas vão acessar
o local, porém uma parte fundamental acaba ficando esquecida: a saída de emergência. A saída
de emergência é fundamental em teatros, shoppings, cinemas, casas de shows e qualquer tipo
de estabelecimento comercial. A saída de emergência visa retirar as pessoas do local – em caso
de sinistro – de maneira segura e eficaz.

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo feito com base nas vistorias realizadas in loco nos cinemas da Região
Metropolitana do Recife, verificando as condições das rotas de fugas destinadas as pessoas com
deficiência para as situações de incêndio e pânico. As vistorias foram realizadas nos principais
cinemas da Região Metropolitana do Recife, buscando verificar a real situação encontrada nos
cinemas. Segue a relação de cinemas vistoriados: Shopping Rio Mar (Figura 1), Shopping Recife
(Figura 2), Shopping Plaza (Figura 3), Shopping Rosa e Silva (Figura 4), Shopping Tacaruna
(Figura 5) e Shopping Guararapes (Figura 6).

Figura 1: Shopping Rio Mar. Figura 2: Shopping Recife. Figura 3: Shopping Plaza.

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Figura 4: Shopping Rosa e Figura 5: Shopping Tacaruna. Figura 6: Shopping


Silva. Guararapes.

Foram analisadas as situações encontradas nos cinemas buscando verificar as condições


enfrentadas pelas pessoas com deficiência, observando os dispositvos de segurança utilizados
como saída de emergência, rotas acessíveis e rotas de fuga no caso de incêndio e pânico.

3.1 Classificação da edificação quanto à ocupação

Considerando que os cinemas são classificados como ocupação de reunião pública, esses locais
devem possuir condições exigíveis para que a sua população possa abandoná-las, em caso de
incêndio, completamente protegida em sua integridade física, assim como permitir o fácil acesso
de auxílio externo (bombeiros) para o combate ao fogo e a retirada da população. Essas
condições exígiveis estão disciplinadas na norma brasileira [11] que trata da saída de emergência
em edifícios.

Utilizando a tabela 1 da norma brasileira [11] que refere-se à classificação da edificação quanto
a ocupação, o cinema tem a seguinte classificação:
- grupo: F;
- ocupação/uso: Locais de reunião de público;
- divisão: F5;
- descrição: Locais para produção e apresentação de artes cênicas.

O dimensionamento de uma saída de emergência pode ser feito através da fórmula e requisitos
previstos no item 4.4.1.2 da norma brasileira [11].

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Shopping Rio Mar – Cinemark

O Cinemark do Shopping Rio Mar tem as seguintes características: são 12 salas, sendo uma
com tecnologia XD e duas salas VIP’s. O cinema possui a seguinte capacidade por sala: Sala 1
– 94, Sala 2 – 114, Sala 3 – 231, Sala 4 – 231, Sala 5 – 152, Sala 6 – 152, Sala 7 – 171, Sala 8
– 231, Sala 9 – 231, Sala 10 – 161, Sala 11 - 231 e Sala 12 (XD) - 486 lugares. Para cada sala
existem pelo menos duas rotas de fugas que dão acesso às suas respetivas portas de saída de
emergência (entrada principal e saídas laterais), isto ocorre para todos os cinemas analisados.

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A saída de emergência das salas do Cinemark é proporcionada por porta, este local recebe a
combinação de alguns dispositivos como sinalizações, iluminação de emergência, abertura no
sentido do fluxo (Figura 7) e barra antipânico (Figura 8). No Cinemark, foi verificado que o local
caracterizado como saída de emergência (local com sinalizações, iluminação de emergência,
abertura no sentido do fluxo e barra antipânico) possui acesso através de escada (Figura 9).

Figura 7: Porta principal Figura 8: Porta com barra Figura 9: Acesso à saída
abrindo no sentido do fluxo. antipânico. feito através de escada.

Portanto, a única rota de fuga acessivel para a pessoa com deficiência seria o acesso pela porta
principal (Figura 7). Apesar de esta apresentar alguns dispositivos como sinalização, iluminação
de emergência e porta abrindo no sentido do fluxo, não é suficiente para ser caracterizada como
saída de emergência para atender a população presente no local, pois não apresenta barra
antipânico, dispositivo obrigatório para ambientes com população superior a 200 pessoas
segundo o item 4.5.4.6 da norma brasileira [11].

Além disso, outro ponto desfavorável às pessoas com deficiência é a distância máxima a ser
percorrida até atingir o local seguro. Ocorre que as pessoas com deficiência têm a sua rota de
fuga feita através do acesso principal, esse percurso normalmente é superior ao percurso
utilizado quando se faz uso da saída de emergência das salas.

4.2 Shopping Recife – Uci Kinoplex

O cinema do shopping Recife tem as seguintes características: são 14 salas, sendo 03 em 3D,
03 VIP´s e 01 IMAX. Capacidade por sala: Sala 1 – 264, Sala 2 – 135, Sala 3 – 378, Sala 4 – 76,
Sala 5 – 131, Sala 6 – 131, Sala 7 – 194, Sala 8 – 378, Sala 9 – 126, Sala 10 – 248, Sala 11
(Vip) – 75, Sala 12 (Vip) – 52, Sala 13 (Vip) – 76 e Sala 14 (IMAX) – 438 lugares.

As salas Vips e a sala IMAX foram inauguradas recentemente. As 10 salas mais antigas
apresentam acesso à saída de emergência feitas através de rampa (Figura 10), o que permite o
acesso às pessoas com deficiência no caso de incêndio e pânico. Porém, as novas salas (Vips
e IMAX) não apresentam a mesma situação, pois o acesso é feito através de escada (Figura 11).
Portanto, a única rota de fuga para as pessoas com deficiência é a que dá acesso à porta da
entrada principal e que não possui barra antipânico (Figura 12).

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Figura 10: Rampa de acesso Figura 11: Escada de acesso Figura 12: Porta da
à saída de emergência. à saída de emergência. entrada principal (IMAX).

4.3 Shopping Plaza – Uci Kinoplex

O cinema do shopping Plaza tem as seguintes características: são 05 salas, sendo 01 em 3D.
Capacidade por sala: Sala 1 – 185, Sala 2 – 185, Sala 3 – 185, Sala 4 – 185 e Sala 5 – 294
lugares. Foi constatado que o acesso à saída de emergência é feito através de escada (Figura
13) e que a única rota de fuga para as pessoas com deficiência se dá através da porta da entrada
principal, sendo que esta não possui o dispostivo de barra antipâncio (Figura 14).

Figura 13: Escada de acesso à saída de Figura 14: Porta sem barra antipânico.
emergência.

4.4 Shopping Rosa e Silva – Moviemax

O cinema do shopping Rosa e Silva tem as seguintes características: são 04 salas, sendo 01 em
3D. Capacidade por sala: Sala 1 – 156, Sala 2 – 127, Sala 3 – 127 e Sala 4 – 127. Na Figura 15
é possivel perceber que a porta da entrada principal possui abertura no sentido da rota de fuga,
ausência de sinalização, ausência de iluminação de emergência e ausência de barra antipânico.
Todos os acessos eram feitos através de rampa, o que a princípio permitiria a utilização por parte
das pessoas com deficiência nos caso de incêndio e pâncio (Figura 16). Porém, constatou-se
que após a saída pela porta de saída de emergência, a rota de fuga era feita através de uma
escada metálica (Figura 17). Também foi verificado que a largura da escada era inferior à largura
da saída de emergência, situação em desacordo com a norma brasileira [11]. Mesmo não sendo
necessária a barra antipâncio na porta da saída de emergência devido à população ser inferior
a 200 pessoas, foi constatada a presença do dispositivo (Figura 18).

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Figura 15: Ausência de barra antipânico na Figura 16: Rampa de acesso à saída de
entrada principal. emergência.

Figura 17: Escada metálica localizada logo Figura 18: Barra antipânico na porta da
após a porta da saída de emergência. saída de emergência.

4.5 Shopping Tacaruna – Uci Kinoplex

O cinema do Shopping Tacaruna tem as seguintes características: são 08 salas, sendo 02 Salas
3D Digital 4K, totalizando 1.223 poltronas. A porta da entrada principal (Figura 19) de acesso às
salas possui abertura no sentido da rota de fuga, sinalização, ausência de iluminação de
emergência e ausência de barra antipânico. Porém, como a sala de maior capacidade no cinema
possui 182 pessoas, portanto, não há necessidade da porta da saída de emergência apresentar
barra antipânico, pois a exigência para esse dispositivo é para locais com população superior a
200 pessoas. Mesmo não ocorrendo a exigência de barra antipânico nas portas de saída de
emergência, foi constatado na vistoria in loco que as salas do cinema apresentavam barra
antipânico nas suas portas destinada à saída de emergência (Figura 20). Além disso, todos os
acessos se davam através de rampa (Figura 21), o que permitia a utilização por parte das
pessoas com deficiência no caso de incêndio e pânico.

Figura 19: Porta da entrada Figura 20: Porta da saída de Figura 21: Rampa.
principal. emergência.

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4.6 Shopping Guararapes – Cinélopis

O cinema do shopping Guararapes tem as seguintes características: são 12 salas, sendo 01 em


3D. Capacidade por sala: Sala 1 – 173; Sala 2 – 127; Sala 3 – 132; Sala 4 – 132, Sala 5 – 154,
Sala 6 – 374, Sala 7 – 396, Sala 8 – 180, Sala 9 – 114, Sala 10 – 126, Sala 11- 120 e Sala 12 –
181 lugares. Existe uma plataforma elevatória (Figura 22) destinada às pessoas com cadeira de
rodas, possibilitando a essas pessoas um acesso às poltronas com locais mais favoráveis para
visualização dos filmes. Na vistoria foi constatado que a porta da entrada principal das salas não
possuía barra antipânico (Figura 23), porém o acesso à saída de emergência se fazia por rampa
(Figura 24), o que permitiria a utilização da saída de emergência por parte das pessoas com
deficiência nos casos de incêndio e pânico.

Figura 22: Plataforma Figura 23: Ausência de barra Figura 24: Acesso à saída
elevatória. antipânico na porta principal. de emergência.

5. CONCLUSÕES

Considerando as rotas de fugas disponíveis para as PCDs nos cinemas da Região Metropolitana
do Recife nas situações de incêndio e pânico, conclui-se que estes locais na sua grande maioria
não apresentam saídas de emergência acessíveis às pessoas com deficiência, visto que o seu
acesso é feito através de escadas.

Na maioria dos cinemas, constatou-se que para as situações de incêndio e pânico a única rota
de fuga disponível para as pessoas com deficiência é feito através da entrada principal, sendo
que a porta da entrada principal não apresenta as mesmas combinações de dispositivos para
que possa ser caracterizada como saída de emergência de forma a atender a população
presente no local, de entre esses dispositivos podemos destacar a barra antipânico. Logo, além
das dificuldades enfrentadas devido a sua deficiência, essas pessoas ainda se deparam com
uma situação desfavorável quando comparado com as pessoas que possui suas plenas
condições físicas, pois para conseguir sair do sinistro tem que colocar certa força para vencer a
resistência na abertura da porta, que mesmo não tendo fechadura, essas portas apresentam
grande peso, o que dificulta sua abertura quando utilizada por pessoas com deficiência.

Além disso, em alguns casos a rota de fuga quando realizada pela entrada principal possibilita
um maior percurso quando comparado com a rota de fuga feita através da saída de emergência
propriamente dita, ultrapassando a distância máxima percorrida exigida pela norma brasileira
[11].

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Portanto, os cinemas que possuem os acessos às saídas de emergência feitos através de


escada (restringindo as pessoas com deficiência a uma única rota de fuga) devem providenciar
para que a porta da entrada principal contemple todos os dispositivos necessários para que seja
classificado como porta de saída de emergência de forma atender a quantidade de pessoas
presentes no local (supeiror a 200 pessoas), além disso, não permitir que ultrapasse a distância
máxima percorrida até atingir o local seguro conforme a norma, resultando assim na igualdade
de condições para todas as pessoas nos casos de emergência. Por fim, cabe ressaltar que, de
maneira geral, existe a necessidade de uma melhor sinalização nas rotas de fuga.

6. REFERÊNCIAS

[1] Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego - A inclusão das Pessoas com Deficiência no
Mercado de Trabalho. Brasília: SIT/DEFIT, 2007, 97p.
[2] São Paulo - Manual de Orientação às Escolas SENAI-SP para Atendimento a Pessoas com
Deficiência e Necessidades Educacionais Especiais. São Paulo: SENAI/SP, 2010.
[3] Valle, S. C. V. do. et al. - A inclusão das pessoas com deficiência nas organizações. IX
Congresso Nacional de Excelência em Gestão. ISSN 1984 - 9354. Rio de Janeiro, 2013.
[4] Corrêa, G.M – O serviço social e a realidade vivenciada pelas pessoas com deficiência, no
que se refere à acessibilidade em Florianópolis, Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal de Santa Catarina, 2005, 43 p.
[5] Pastore, J. – Oportunidades de trabalho para portadores de deficiência. São Paulo: LTR,
2000.
[6] Brasil. Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004 - Regulamenta as Leis nos 10.048, de
8 de novembro de 2000, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000 e dá outras providências.
[7] Brasil. Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000 - Dá prioridade de atendimento às pessoas
que especifica, e dá outras providências.
[8] Brasil. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 - Estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida, e dá outras providências.
[9] Pernambuco. Lei nº 16.292, de 29 de janeiro 1997 - Regula as atividades de Edificações e
Instalações, no Município do Recife, e dá outras providências.
[10] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050 - Acessibilidade a edificações,
mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
[11] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9077 - Saída de Emergência em Edifício.
Rio de Janeiro, 2001.

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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO: A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE


UMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO EM PAU DOS FERROS/RN

Daniel P. Andrade* Almir M. de Sousa Naieide Batista de


Professor Jr. Oliveira
Universidade Federal Professor Discente do curso de
Rural do Semi-Árido, Universidade Federal engenharia civil
Brasil Rural do Semi-Árido, Universidade Federal
Brasil Rural do Semi-Árido,
Brasil

Palavras-chave: Segurança contra incêndio; Edificações escolares; Percepção de risco.

1. INTRODUÇÃO

Considerando a aleatoriedade, violência e possibilidade de perdas materiais e humanas em um


incêndio, pensar em medidas de segurança passa a ser uma questão de responsabilidade civil,
seja na esfera privada ou pública. Entende-se que a segurança contra incêndio envolve ações
que promovam meios de evitar o início do incêndio, reduzir a possibilidade de propagação, conter
o fogo e, por último, combater o mesmo. Porém, nenhuma dessas ações alcançará total
efetividade caso outra vertente não seja trabalhada: a educação e promoção da cultura sobre
segurança contra incêndio. Sabe-se que agir de forma não treinada em um incêndio pode atrasar
o abandono de uma edificação, agravar o incêndio ou, ainda, gerar acidentes mais graves que o
próprio incêndio já em andamento.

Diante desta questão, este trabalho procurou investigar a percepção sobre a segurança contra
incêndio entre alunos do ensino médio de uma escola da rede pública localizada na cidade de
Pau dos Ferros, estado do Rio Grande do Norte. Este artigo é um recorte de uma pesquisa de
maior abrangência que analisou além das questões de percepção dos alunos, as condições de

*
Autor correspondente – Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Rural do Semi-Árido. Rodovia
BR 226, s/n, Pau dos Ferros/RN. CEP: 59900-000. Tel.: +55 84 3317-8236. e-mail: daniel.andrade@ufersa.edu.br

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segurança encontradas na escola. Ao final da pesquisa, será feita a proposição de medidas que
possam orientar a escola no atendimento das questões diagnosticadas.

2. A ESCOLA

A escola da rede de ensino estadual Doutor José Fernandes de Melo foi fundada no ano de 1971
como Colégio Normal de Pau dos Ferros. Ao longo dos anos sua denominação sofreu várias
alterações até chegar ao nome atual. Dentre estas denominações, estiveram: Escola Estadual
31 de Março, Centro Escolar 31 de Março e o mais próximo do atual, Centro Escolar Doutor José
Fernandes de Melo. Desde 2001 a unidade passou a oferecer aulas apenas para alunos do
ensino médio. Em 2008 passou a integrar ao ensino médio o curso de técnico em secretariado
e, nos dias atuais, a escola também possui um sistema chamado Ensino Médio Inovador.

A escola estadual doutor José Fernandes de Melo encontra-se localizada na cidade de Pau dos
Ferros/RN, na rua Monsenhor Valfredo Gurgel. É constituída por 703 alunos, 20 professores e
37 funcionários, e disponibiliza turmas de ensino nos períodos matutino, vespertino e noturno.

Figura 01: localização da escola estadual doutor José Fernandes

A edificação é constituída por 12 salas de aula, laboratório de informática, laboratório de ciências,


biblioteca, sala de vídeo, auditório com camarim, cozinha com despensa, quadra de esportes,
departamento de educação física, dois depósitos, almoxarifado, sala destinada à diretoria, sala
destinada à secretaria e arquivo, seis banheiros femininos, sendo um para uso de pessoas com
deficiência e seis banheiros masculinos, também apresentando um destinado para uso de
pessoas com deficiência. A área total destinada ao ambiente escolar apresenta um valor
aproximado de 10.754,00 m². Deste total, aproximadamente 1.697,00 m² são de área construída.

A Figura 02 apresenta uma planta baixa esquemática da escola dividida em zonas: salas de aula,
salas de apoio às atividades de ensino (tais como biblioteca, laboratórios e auditórios), salas de
apoio técnico (tais como sala dos professores, diretoria, coordenação, secretaria e depósito) e
circulações cobertas. Destaca-se que as circulações cobertas, em sua maioria, não apresentam
vedações laterais.

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Figura 02: Planta baixa esquemática da escola

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

A presente pesquisa é do tipo qualificável e quantificável. O trecho qualificável foi elaborado com
abordagem no tema principal através de revisões da literatura. Buscou-se fontes pesquisas
nacionais através de teses, publicações científicas, artigos, normas e instruções técnicas. O
trecho quantitativo foi desenvolvido através de questionários elaborados com base na pesquisa
realizada por Mendes [1], que relata a percepção de risco de incêndio em escolas municipais de
Campo Magro/PR. Os questionários foram aplicados in loco, em uma quantidade de
entrevistados que representam uma amostra da população total de alunos da edificação.

O público alvo deste trecho da pesquisa, como dito, foram os alunos da escola, visto que, em
termos quantitativos são os que mais representam a ocupação escolar e, desta forma,
responderam ao questionário com perguntas específicas destinadas aos seus conhecimentos.
Em outra etapa, espera-se ampliar as perguntas para os professores e funcionários da escola.
A pesquisa foi do tipo amostragem estatística, a qual seleciona-se um subconjunto do total da
população alvo do estudo. Os alunos que compuseram a amostragem foram selecionados
aleatoriamente e a quantidade que os define baseados em um nível de confiança e uma margem
de erro. Para a população total de 703 alunos, chegou-se a uma quantidade de 249 para a
amostra, com nível de confiança de 95% e margem de erro no percentual de 5%. Houve a
consideração quantitativa com base no número de alunos que deram a mesma resposta, e assim
pôde-se representar cada tipo de resposta em percentual.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As perguntas realizadas procuraram levantar inicialmente o perfil geral da população


entrevistada, considerando perguntas como idade e gênero. A idade do público alvo da pesquisa

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não se distanciou do perfil esperado para alunos de ensino médio, o qual a maior parte dos
entrevistados apresentam entre 15 e 17 anos, correspondendo a um total de 82,33%.

A pergunta chave que iniciou o questionário procurou avaliar se o aluno considera a sua escola
segura, o que resultou na negativa de 70,28% dos entrevistados (ver Gráfico 01). Mesmo
considerando a idade dos entrevistados e um possível desinteresse na pesquisa, ainda é um
fator preocupante a quantidade de alunos que não consideraram a escola um ambiente seguro
contra incêndios.

Gráfico 01: Você considera sua escola segura?

Aliado a questão apresentada no Gráfico 01, soma-se ainda duas outras perguntas que
corroboram com o dado apontado: 89,96% dos entrevistados acreditam que pode ocorrer um
incêndio na escola e 65,65% dos entrevistados afirmam nunca ter participado de uma atividade
sobre como agir em caso de um incêndio (ver gráficos 02 e 03). É provável que a falta de contato
com o tema em sala de aula e no cotidiano das atividades da escola contribua com a percepção
de insegurança gerada entre os alunos. Apesar de não ser possível garantir que um incêndio
não ocorra, considerando o uso da edificação (atividades de ensino) e a tomada de medidas de
prevenção adequadas, este risco pode ser consideravelmente reduzido e os possíveis incidentes
podem se resumir apenas em princípios de incêndio controlados com o uso de extintores.

Gráfico 03: Você já participou de alguma


atividade na sua escola sobre como agir
Gráfico 02: Você acredita que algum dia
caso ocorra um incêndio?
pode ocorrer um incêndio na sua escola?

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Também foi procurado na pesquisa investigar a forma que os alunos se comportariam em caso
de um incêndio. A falta de treinamento é evidente, sendo verificado que boa parte dos alunos
agiriam por conta própria, sem seguir orientações dos professores e funcionários, além da
vontade de manter objetos pessoais em sua posse, mesmo em caso de necessidade de
abandono. A situação recomendada em um caso de evacuação do prédio seria a de sair
ordeiramente, em fila e seguindo orientações do professor ou funcionários da escola. Esta
situação hipotética, uma vez que o treinamento para tanto não existe, foi entendida como a
correta por 20,88% dos entrevistados. Outros 50,40% tentariam sair o mais rápido possível por
qualquer meio viável (ver Gráfico 04).

Gráfico 04: com você agiria caso ocorresse um incêndio na sua escola?

A forma de agir em relação aos pertences pessoais também foi questionada, uma vez que em
caso de incêndio a atitude recomendada é, além de deixar o local no momento da ciência do
evento e de forma ordeira, não levar consigo bens e objetos pessoais, uma vez que esta atitude
pode provocar atrasos no processo de abandono. Mais de 70% dos alunos procurariam levar
objetos pessoais antes de iniciar o processo de abandono (Gráfico 05). 50% dos alunos, caso
não se encontrassem em sala de aula, voltariam para buscar objetos e pertences (Gráfico 06).
Ações como estas podem pôr em risco a vida dos ocupantes além da possibilidade de tumultuar
o processo de abandono.

Gráfico 05: Se ocorresse um incêndio na sua sala de aula, o que você levaria na hora de
escapar?

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Gráfico 06: Caso ocorra um incêndio na sua escola em um momento que você não está em
sala, o que você faria?

A fumaça produzida pela queima de materiais no incêndio, segundo dados estatísticos [2], pode
ser a maior causadora de mortes em eventos desta natureza. A taxa de mortalidade causada
pela fumaça chega a mais de 25% em relação aos outros fatores [2]. Saber como se comportar
na presença de fumaça é um fator importante em situações de incêndio, desta forma, é esperado
que o ocupante além de abandonar o local o mais breve possível, permaneça abaixado evitando
contato com os produtos tóxicos resultante da queima de materiais diversos.

Diante deste panorama, foi perguntado aos alunos como eles agiriam na presença de fumaça.
Apenas 16,87% procuraria cobrir as vias respiratórias e se abaixar para reduzir o contato com a
fumaça. Quase 70% tentaria abrir janelas e portas em busca de ar fresco, o que pode levar a
uma ingestão desnecessária e perigosa de fumaça. Outros 7,63% procuraria subir em uma
cadeira como forma de proteção, o que nos leva a crer a completa falta de instruções sobre o
comportamento do fogo e fumaça em caso de um incêndio.

Gráfico 07: comportamento em caso da presença de fumaça

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo da educação dos usuários como ponto importante para que a segurança contra incêndio
atinja um patamar elevado, uma vez que sua aplicação depende em grande parte da colaboração
da população envolvida no evento, procurar entender como esta população tem consciência
sobre questões relacionadas com a segurança contra incêndios é parte importante de qualquer
projeto e política prevencionista.

A pesquisa, focada nos alunos de uma escola de ensino médio, procurou investigar esta questão
com perguntas direcionadas sobre a percepção em relação as questões sobre segurança contra
incêndios, além de entender quais seriam as atitudes dos alunos diante de situações típicas de
um incêndio, como a necessidade de abandono, comportamento em relação aos objetos
pessoais, presença de fumaça, entre outras questões apresentadas.

Ao se observar as respostas dos alunos, pôde-se concluir preliminarmente que os mesmos, em


grande parte, não estão conscientes de como agir de forma adequada em caso de um incêndio.
Parte esta questão acaba sendo reflexo do fato de que os mesmos não recebem informações
sobre o que é um incêndio e seus perigos, sobre treinamento específico para estes eventos,
como também, não costumam ter o tema abordado em sala de aula.

A falta de treinamento acaba se tornando um problema cíclico, uma vez que é provável que os
professores e a direção da escola não abordem este tema em sala de aula porque não recebem
treinamento e informação da gestão municipal e estadual. Os gestores, por sua vez, não
fomentam políticas públicas de segurança contra incêndio de maneira a atingir professores e
funcionários da escola. Desta forma, ocorre um “efeito cascata” que termina com os alunos sem
informações e, em muitos casos, correndo riscos.

Por fim, reitera-se que a pesquisa apresentada neste artigo é parte de um trabalho maior que
buscará, ao se encerrar, direcionar a administração da escola na busca de meios que possam
preparar melhor sua população para eventos desta natureza.

5. AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) pelo apoio dado ao desenvolvimento


desta pesquisa.

6. REFERÊNCIAS

[1] Mendes, C. M. R. A. – Percepção de risco de incêndio em escolas municipais de Campo


Magro/PR, Monografia (especialização), Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
2014.
[2] Dinenno, P.J. et al. The SPFE Handbook of Fire Protection Engineering. 3rd ed., Quincy:
National Fire Protection Associantion, 2002.

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SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DE UM INCÊNDIO NATURAL


COMPARTIMENTADO: VALIDAÇÃO COM UM ESTUDO EXPERIMENTAL

Roberta Tabaczenski Tiago A. C. Pires*


Mestranda Professor, PhD.
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife-PE, Brasil Recife-PE, Brasil

J. J. Rêgo Silva Renata Negreiros


Professor, PhD. Graduanda
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife-PE, Brasil Recife-PE, Brasil

Palavras-chave: Incêndio Natural. Incêndio Compartimentado. Simulação Computacional. Fire


Dynamics Simulator – FDS.

1. INTRODUÇÃO

A Segurança Contra Incêndio (SCI) é vista no mundo como uma ciência e vem recebendo cada
vez mais incentivos e investimentos em suas diversas áreas de pesquisa. Inúmeras instituições
e laboratórios internacionais se dedicam à análise e testes de materiais, componentes
estruturais, sistemas construtivos, equipamentos e utensílios usados nas edificações do ponto
de vista da SCI [1]. Entretanto, apesar dos esforços e investimentos voltados para esta área, o
alto custo dos equipamentos e das instalações necessárias para a realização de experimentos
que envolvam edificações completas em escala real torna esse tipo de pesquisa escassa no
mundo e praticamente inexistente no Brasil [2][3].

Atualmente, observa-se que a grande maioria dos estudos desenvolvidos na área da SCI são
voltados para a analise de elementos estruturais ou sistemas construtivos, que são ensaiados
para resistir ao fogo de acordo com a curvas padronizadas internacionalmente [4]. No entanto,
tal padronização não é capaz de representar o desenvolvimento de incêndios reais, visto que o
comportamento destes depende de inúmeras variáveis, tais como, quantidade e
posicionamento de aberturas, distribuição da carga de incêndio no ambiente, tipo de materiais
combustíveis e incombustíveis presente no ambiente, utilização de exautores e dispositivos de
detecção e combate a incêndio, dentre muitos outros fatores que tornam cada incêndio único,
com características próprias. Ademais, em incêndios reais, além do desenvolvimento de altas
temperaturas há também liberação de fumaça e gases tóxicos que se tornam determinantes
para a sobrevivência humana, pois, em caso de incêndios, são estas as maiores causas

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua Acadêmico
Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +5581 2126 8219. e-mail: tacpires@yahoo.com.br

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imediatas de mortes [1]. Sendo assim, é evidente a necessidade de uma análise mais profunda
baseada no desempenho para adequar projetos de edificações a situações de incêndios.

Como solução a estes impasses, a simulação computacional é uma ferramenta que vem sendo
cada vez mais utilizada para a avaliação de edificações completas em escala real em situação
de incêndio, uma vez que possibilita a realização de análises de múltiplas alternativas, sem os
riscos e os custos advindos de ensaios com modelos reais. Assim, se ajustadas
adequadamente, essas simulações podem auxiliar na compreensão do comportamento do
incêndio, tanto em aspectos estruturais servindo de suporte a análise das estruturas em
Situação de Incêndio (SI), como também na definição de geometria dos ambientes, distribuição
de aberturas, e materiais utilizados na construção, favorecendo a criação, revisão e
aperfeiçoamento de projetos e normas técnicas de Segurança Contra Incêndio em Edificações
(SCIE) [2][3]. No entanto, no Brasil, a utilização de softwares para este fim ainda é pouco
difundida entre os pesquisadores da área, fato que acarreta em uma escassa disponibilidade
de literatura para auxiliar a utilização dos mesmos.

Neste sentido, este trabalho tem por objetivo desenvolver um modelo computacional, que seja
capaz de representar adequadamente o desenvolvimento de temperaturas de um incêndio
compartimentado. Para validar o modelo utilizou-se de um experimento [5] realizado em um
container cuja carga de incêndio referiu-se a ocupação de um escritório.

Para realização das simulações utilizou-se do software Fire Dynamics Simulator – FDS,
desenvolvido pelo National Institute of Standards and Technology – NIST/EUA, cuja escolha se
deu por ser atualmente um dos programas de fluidodinâmica computacional mais usado para
simulações de incêndios tanto para reconstituições [2][6], projeções e diagnósticos [3][7],
quanto para investigações policiais [8], e diversas outras aplicações.

Com isso, pretende-se avaliar a eficácia da utilização do software para simulação de incêndios
reais, bem como aprimorar o conhecimento sobre a ferramenta computacional, promovendo a
obtenção de diversas possibilidades de futuras aplicações de modelos computacionais no
desenvolvimento de projetos de SCIE e/ou no auxílio de avaliações e recuperação de
edificações sinistradas.

2. ESTUDO EXPERIMENTAL UTILIZADO PARA VALIDAÇÃO

Para validar o modelo desenvolvido, os resultados obtidos através do FDS são comparados
com os resultados de um estudo experimental realizado por [5], cujo objetivo foi simular um
incêndio real em um escritório. Neste experimento utilizou-se de um container com dimensões
internas de 5.0m x 2.0m com 2.4m do piso ao teto, possuindo uma janela de 0.7m x 0.7m (que
permaneceu totalmente aberta durante o ensaio) e, uma porta de 0.9 m x 2.0 m (que ficou
parcialmente aberta durante o ensaio), utilizadas para ventilação e extração da fumaça.

No compartimento todas as paredes e teto foram revestidos internamente com placas de lã de


rocha com espessura de 50 mm e densidade de 40 kg/m³, cobertos com placas de gesso de 25
mm de espessura. O piso foi revestido com uma camada de lã de rocha de 175 kg/m³, e

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posteriormente coberto com placas cerâmicas de 0.25 m x 0.25 m e 5 mm de espessura. A


carga de incêndio foi materializada por caibros de madeira de 1.00m x 0.05m x 0.055m,
distribuídos em três pilhas que corresponderam a uma densidade de carga de incêndio total de
500 MJ/m² [5]. Além disso, neste experimento foram feitos outros testes com diferentes
densidades de carga e comparações com os softwares de modelo “dual zone” OZone e CFAST
que não serão representadas deste trabalho.

3. MODELO COMPUTACIONAL

O desenvolvimento do modelo se deu com o objetivo de reproduzir da melhor forma possível o


experimento [5] utilizado para a validação. Considerou-se um domínio computacional com as
seguintes dimensões: 6.0 m de comprimento (eixo x), 3.0 metros de profundidade (eixo y) e,
3.0 m de altura (eixo z), com uma malha cúbica de 0.1 m, totalizando 54000 elementos. Nos
extremos máximos e mínimos dos eixos x e y, e no extremo máximo do eixo z foram criadas
superfícies abertas denominadas de OPEN VENTS indicando uma abertura passiva para o
lado exterior do domínio computacional, garantindo desta forma que haja comunicação entre os
ambientes interno e externo e alimentação do incêndio com oxigênio [9].

A extrapolação da malha para além das dimensões do container é justificada pela presença da
porta e da janela abertas para o exterior do compartimento e, pelo fato de que as OPENS
VENTS geralmente possuem condição de limite de pressão imperfeita e, neste caso é
recomendado que se estenda o domínio alguns metros a fim de não afetar o padrão de fluxo
desta região [9].

Alguns parâmetros ambientais foram considerados, tais como: temperatura ambiente inicial
(TMPA) de 20°C, pressão atmosférica (P_INF) de 101325.0 Pa e, umidade relativa do ar
(HUMIDITY) de 50%, ambos atribuídos na linha MISC, responsável pela entrada de parâmetros
globais variados no FDS [9].

Nas simulações de incêndios feitas no FDS, é necessária a definição de um combustível


gasoso que atuará como um substituto para todas as fontes de combustível em potencial
(inserido na linha REAC), assim, o usuário pode especificar a fórmula química do combustível
junto com os rendimentos de CO, fuligem, H2, dentre outros parâmetros referentes ao mesmo
[10]. Considerando que a madeira foi o único material combustível presente no experimento [5],
neste modelo a formulação química do combustível foi definida como C 6H10O5, referente à
celulose, responsável por grande parte da composição da madeira [11]. Além disso, foram
definidos os rendimentos de CO (CO_YIELD) e fuligem (SOOT_YIELD), ambos como 0,5%
(0.005). Além dessas, atribuiu-se a linha REAC a propriedade de calor de combustão
(HEAT_OF_COMBUSTION) de 17500 kJ/kg referente a madeira [12].

Os materiais utilizados nas simulações foram basicamente os mesmos presentes no


experimento [5], com exceção apenas da madeira que, por falta de dados, suas propriedades
foram estimadas baseadas nas bibliografias e normas existentes [10][11][12][13][14]. A Tabela
1 mostra as propriedades dos materiais empregados neste modelo.

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Tabela 1: Propriedades térmicas dos materiais empregados no modelo computacional


Condutividade
Densidade Calor específico
Material Emissividade Térmica
(kg/m³) (kJ/kg.K)
(W/m.K)
Madeira 400,0 [13] 0,90 0,120 [13] 1,34 [13]
Gesso 1150,0 [5] 0,80 [5] 0,485 [5] 1,00 [5]
Azulejo 2000,0 [5] 0,80 [5] 1,200 [5] 1,00 [5]
Lã de rocha 1 40,0 [5] 0,80 [5] 0,037 [5] 1,03 [5]
Lã de rocha 2 175,0 [5] 0,80 [5] 0,040 [5] 1,03 [5]

As propriedades citadas na Tabela 1 foram inseridas na linha MATL e referem-se


respectivamente aos comandos ID, DENSITY, EMISSIVITY, CONDUCTIVITY e
SPECIFIC_HEAT.

Quanto à modelagem do incêndio, no FDS, o usuário pode optar entre duas maneiras: (i) a
primeira é especificar uma taxa de liberação de calor por unidade de área (HRRPUA) como
parte de uma superfície (inseridos na linha SURF); (ii) a segunda é especificar um calor de
reação (HEAT_OF_REACTION), juntamente com outros parâmetros térmicos, como parte de
um material (inseridos na linha MATL) [10]. Devido à escassez de dados relativos à madeira,
neste modelo optou-se pela utilização da primeira alternativa, sendo esta a maneira mais
simples de se designar um incêndio, pois, não necessita a inserção de muitos parâmetros
referentes ao material combustível presente no modelo. Sendo assim, atribuiu-se uma
HRRPUA de 100 kW/m² [14] na superfície referente às pilhas de madeira. Além disso, para dar
um aspecto mais natural ao incêndio, retardando o inicio da queima das pilhas, atribuiu-se a
essa superfície uma temperatura de ignição (IGNITION_TEMPERATURE) de 210°C [11].

No experimento [5] a ignição das pilhas foi feita através de um trilho de aço envolvido por lã
cerâmica embebida com álcool isopropílico sob as pilhas de madeira. Neste trabalho, para
desencadear o processo de queima das pilhas de madeira (representando o processo ocorrido
no experimento) considerou-se que um dos caibros da pilha do centro do compartimento
entraria em combustão imediatamente ao inicio da simulação. Para isso, criou-se uma
superfície com IGNITION_TEMPERATURE de 0 °C e, para acelerar o processo de queima,
considerou-se que sua HRRPUA é de 200 kW/m². Assim, com o aumento de temperatura, os
demais caibros entram em ignição ao atingirem suas respectivas temperaturas de ignição. A
Tabela 2 mostra o resumo das superfícies criadas para este modelo (essas propriedades foram
inseridas na linha SURF e referem-se respectivamente aos comandos ID, MALT_ID,
THICKNESS, IGNITION_TEMPERATURE e HRRPUA).

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Tabela 2: Superfícies criadas para o modelo computacional


Temperatura Taxa de liberação
Espessura
Superfície Material de ignição de calor por área
(m)
(°C) (kW/m²)
Gesso 0.025
Parede - -
Lã de rocha 1 0.05
Gesso 0.025
Teto - -
Lã de rocha 1 0.05
Azulejo 0.005
Piso - -
Lã de rocha 2 0.05
Caibro Madeira 0.1 210.0 [11] 100.0 [14]
Caibro_hot Madeira 0.1 0.0 200.0

A representação das paredes e das pilhas de madeira se deu através da modelagem de


obstruções (OBST) cuja geometria e distribuição no ambiente foram devidamente ajustadas
com a malha adotada para que se assemelhem o máximo possível com o experimento [5].
Assim, as paredes, teto e piso foram modelados com 0.1 m de espessura e para compatibilizar
as dimensões dos caibros de madeira, estes foram modelados com dimensões de 1.0 m x 0.1
m x 0.1 m, também distribuídos em três pilhas que corresponderam a uma densidade de carga
de incêndio total de 500 MJ/m².

Neste modelo, as temperaturas desenvolvidas no compartimento foram obtidas através da


inserção de medidores (inseridos na linha DEVC) posicionados analogamente aos termopares
no experimento analisado [5]. A Figura 1 mostra a modelagem do compartimento e da carga
combustível feita no FDS no inicio da simulação, bem como a os termopares considerados.

Figura 1: Compartimento modelado no FDS e Medidores de temperatura aplicados no modelo


computacional
.
As aberturas da janela e da porta foram inseridas no modelo através da linha HOLE. No caso
da janela, como esta permaneceu totalmente aberta durante todo o experimento [5], foi inserida
uma abertura de 0.7 m x 0.7 m com peitoril de 1.3 m, posicionada analogamente ao mesmo.
No entanto, a impossibilidade de representar obstruções rotacionadas no FDS fez com que a
consideração da porta semiaberta fosse feita através da inserção de uma abertura com largura

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menor que a original, ou seja, com dimensões de 0.3 m x 2.0 m posicionada analogamente ao
experimento [5].

Em posse desses parâmetros, para efeitos de comparação, foram admitidas duas situações
para as simulações: (i) Situação 1, todas as obstruções, com exceção das pilhas de madeira,
foram consideradas inertes; (ii) Situação 2, todas as obstruções receberam suas respectivas
propriedades conforme o indicado nas Tabela 1 e Tabela 2.

3. RESULTADOS

Para ambas as situações consideradas o tempo de simulação estabelecido foi de 120 minutos
e, o tempo de processamento das simulações, utilizando um desktop com processador Intel®
Core™ i7 3.40 GHz e 16.0 GB de memória RAM, para ambas as situações foi de
aproximadamente 35 horas. Para comparar os resultados obtidos através das simulações com
os apresentados experimentalmente [5], serão mostradas a seguir as temperaturas do
termopar A6 que capturou as máximas temperaturas desenvolvidas no compartimento.
Ressalta-se que os demais termopares considerados nas simulações apresentaram
comportamentos semelhantes ao termopar A6 em ambas as situações estudadas.

Na Figura 2 é apresentada a evolução das temperaturas no compartimento na Situação 1,


onde as paredes, teto e piso são considerados inertes na simulação. Observa-se que,
inicialmente a temperatura aumenta rapidamente, atingindo o valor máximo de 645°C no
termopar A6 (posicionado no meio do compartimento) em aproximadamente10 minutos. Depois
disso, entre 10 e 40 minutos de simulação, as temperaturas mantêm patamares com valores
em torno de 400°C. Aos 40 minutos a um novo pico de temperatura que chega a 620 °C. A
partir dai as temperaturas caem rapidamente e, com 75 minutos todos os termopares
considerados nesta simulação estão registrando 20°C.

Figura 2: Evolução das temperaturas na Situação 1, termopar A6.

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Quanto a coerência nos resultados obtidos, é notório que a Situação 1 não conseguiu
representar adequadamente o desenvolvimento das temperaturas no compartimento estudado.
Isso se deu justamente pela falta de consideração das propriedades térmicas dos materiais não
combustíveis na simulação, produzindo resultados muito ruins para o estudo em questão.

Na Figura 3 é apresentada a evolução das temperaturas no compartimento na Situação 2,


onde todas as obstruções receberam suas respectivas propriedades térmicas. Observa-se que,
na fase de crescimento do incêndio as temperaturas aumentam de forma coerente ao
experimento [5], atingindo a temperatura máxima de 1365°C no termopar A6 (posicionado no
meio do compartimento) em 35 minutos de simulação. Na fase de arrefecimento as
temperaturas caem rapidamente até 55 minutos de simulação para o valor de
aproximadamente 200°C. Entre 55 e 120 minutos as temperaturas diminuem mais lentamente,
chegando ao final da simulação com valores de 75°C.

Figura 3: Evolução das temperaturas na Situação 2, termopar A6.

Nota-se que entre 45 a 120 minutos o decaimento das temperaturas registradas na simulação
acontece mais rapidamente que o registrado no experimento [5]. Isso talvez tenha ocorrido
devido ao fato deste modelo computacional não contemplar a consideração de produção de
carvão durante a queima da madeira, diferentemente do ocorrido no ensaio experimental, onde
estes produziram uma radiação intensa que provavelmente contribuiu para manter as
temperaturas do ambiente mais elevadas no final do experimento [5].

Nesta situação o desenvolvimento das temperaturas registradas foi muito próximo aos
resultados apresentados no ensaio experimental realizado por [5]. Desta forma fica evidente
que o conhecimento dos materiais envolvidos numa simulação computacional, bem como sua
natureza (combustível ou incombustível) e propriedades térmicas é de suma importância para a
obtenção de resultados coerentes e confiáveis.

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Na Figura 4 e Figura 5 são mostradas as evoluções de temperaturas capturadas no termopar


Pen8 e Ten8, posicionados respectivamente na camada central (próximo à parede) e na
camada superior (próximo ao teto) do compartimento estudado, ambas obtidas na Situação 2.

Figura 4: Evolução das temperaturas na camada central do compartimento, termopar Pen8,


Situação 2.

Como se pode observar na Figura 4, semelhante ao ocorrido no experimento [5], as


temperaturas máximas capturadas próximo à parede foram em torno 1215°C aos 35 minutos
de simulação. Nota-se que essas temperaturas foram inferiores as capturadas no centro do
compartimento pelo termopar A6 (vide Figura 3), isso ocorreu porque este termopar foi
posicionado muito próximo das pilhas de madeira, assim, tanto durante o experimento [5],
quanto durante a simulação às chamas do incêndio incidiram diretamente no mesmo,
acarretando na leitura de temperaturas mais elevadas nesta localidade.

Figura 5: Evolução das temperaturas na camada superior do compartimento, termopar Ten8,


Situação 2.

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Como mostrado na Figura 5 as temperaturas máximas capturadas próximo ao teto do


compartimento foram em torno de 1145°C aos 35 minutos de simulação, no experimento [5] a
temperatura máxima capturada foi de 1106°C, um pouco inferior ao medido na simulação. É
interessante notar que nesta simulação, na camada superior do compartimento, diferentemente
do ocorrido na camada central (vide Figura 3 e Figura 4), após o consumo total das pilhas de
madeira (em aproximadamente 45 minutos) a temperatura começa a cair mais lentamente
mantendo-se sempre mais elevada, semelhante ao ocorrido no experimento [5]. Assim, ao final
da simulação a temperatura registrada nessa região foi de 200°C. Isso ocorreu devido ao fato
de que quando aquecidos os gases se tornam menos densos tendendo a se concentrar na
camada superior do compartimento, tornado essa região naturalmente mais quente após o
consumo total do material combustível do incêndio.

4. CONCLUSÕES

As simulações realizadas mostraram que o FDS, por ser um software que não possui interface
gráfica, acaba tornando a modelagem trabalhosa e demorada, uma vez que sua entrada de
dados é inteiramente feita através de documentos de texto. Apesar de a modelagem
geométrica ser relativamente simples, a definição e obtenção dos dados referentes às
propriedades dos materiais combustíveis para alimentação do modelo se tornam a maior
dificuldade enfrentada na utilização deste programa. Entretanto, quando devidamente
calibrado, o modelo é capaz de oferecer ao usuário diversos dados como: temperatura,
deslocamento de fumaça, concentração de oxigênio, consideração de dispositivos de combate
a incêndio (sprinklers), dentre uma infinidade de outros, que podem abrir um leque de opções
de estudos a serem realizados. Ressalta-se a existência do software PyroSim, desenvolvido
pela Thunderhead Engineering, que funciona como uma interface gráfica do FDS ajudando o
usuário a criar e gerenciar modelos de fogo complexos [10], no entanto, diferentemente do
FDS, sua licença não é gratuita.

É importante salientar que atualmente existem diversos outros softwares mais simples, como o
OZone e o CFAST utilizados no trabalho de [5], que possuem uma interface gráfica agradável e
intuitiva, e que tornam a modelagem de incêndios mais fácil e rápida. Nestes, a obtenção de
resultados também se torna consideravelmente mais rápida, entretanto, a quantidade de
variáveis obtidas, na grande maioria dos casos, é bem mais limitada em comparação com as
obtidas através do FDS. Desta forma, cabe ao pesquisador avaliar o custo-benefício da
utilização destes através da definição de quais variáveis são realmente importantes no estudo
desenvolvido.

Durante o desenvolvimento do modelo computacional percebeu-se a carência de trabalhos


nessa área que pudessem referenciar critérios a serem adotados nas simulações. Entretanto,
apesar da falta de parâmetros específicos, o modelo desenvolvido na Situação 2 mostrou-se
capaz de reproduzir adequadamente as temperaturas desenvolvidas no compartimento
estudado. Sendo assim, apesar deste estudo ainda estar em desenvolvimento e experimentos
mais detalhados estão em curso para validação do programa nestas situações, aspira-se que
este trabalho possa auxiliar no desenvolvimento de futuros modelos computacionais e que

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contribua para a difusão de conhecimento acerca da utilização do software FDS entre os


pesquisadores brasileiros.

5. REFERÊNCIAS

[1] Seito, A. I.; et al. – A segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora,
2008, 496 p.
[2] Ruschel, F. – Avaliação da utilização de ferramentas de simulação computacional para
reconstituição de incêndios em edificações de concreto armado: aplicação ao caso
Shopping Total em Porto Alegre - RS. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil,
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - UFRGS, Porto Alegre/RS, 2011, 131 p.
[3] Cunha, L. J. B. F. – O desempenho da compartimentação horizontal seletiva na promoção
da segurança contra incêndio em edificações. Tese de Doutorado em Arquitetura e
Urbanismo, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRGN, Natal/RN, 2016, 237 p.
[4] INTERNATIONAL STANDARD – ISO 834-1:Fire-resistance tests - Elements of building
construction. Part 1: General requirements. Suíça, 1999.
[5] Teixeira, C.J.M.; et al. – Experimental and Numerical Simulations of a natural Fire in a
Compartment. In: 15th ICEM15, International Conference on Experimental Mechanics,
Porto, Portugal, 2012.
[6] Chi, J. H. – Using thermal analysis experiment and Fire Dynamics Simulator (FDS) to
reconstruct an arson fire scene. Journal of thermal analysis and calorimetry, 113(2), 2013,
p. 641-648.
[7] Luther, W.; Müller, W. C. –FDS simulation of the fuel fireball from a hypothetical
commercial airliner crash on a generic nuclear power plant. Nuclear Engineering and
Design, 239(10), 2009, p. 2056-2069.
[8] Honma, M.; et al. – Simulation of fire development and spread in japanese-style rooms
under different ventilation conditions. In: 13th INTERFLAM, International Fire Science &
Engineering Conference, Londres, Reino Unido, 2013, p. 1371-1382.
[9] McGrattan, K.;et al. –Fire Dynamics Simulator User’s Guide: Sixth Edition.NIST Special
Publication 1019: National Institute of Standards and Technology - NIST, Maryland (EUA),
2016.
[10] Thunderhead Engineering – PyroSim User Manual, 2016.
[11] Figueroa, M. J. M.; Moraes, P. D. – Comportamento da madeira a temperaturas elevadas.
Ambiente Construído, Porto Alegre, out./dez. 2009, v. 9, n. 4, p. 157-174.
[12] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION – EN 1991-1-2, Norma Portuguesa:
Eurocódigo 1 – Acções em estruturas. Parte 1-2: Acções gerais – Acções em estruturas
expostas ao fogo. Caparica, Portugal, 2010.
[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. – ABNT NBR 15220-2:
Desempenho térmico de edificações. Rio de Janeiro, 2005.
[14] Rocha, M. A. F. – Determinação experimental de propriedades de combustão de madeiras
maciças brasileiras. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Programa de Pós-
graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de
Janeiro/RJ, 2014, 147 p.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO EM UMA UNIDADE HABITACIONAL

Renata Negreiros Roberta Tabaczenski


Graduanda Mestranda
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife-PE, Brasil Recife-PE, Brasil

Tiago A. C. Pires* J. J. Rêgo Silva


Professor, PhD. Professor, PhD.
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco
Recife-PE, Brasil Recife-PE, Brasil

Palavras-chave: Incêndio Compartimentado, Carga de Incêndio, Simulação Computacional,


Ozone, Liberação de Calor.

1. INTRODUÇÃO

Incêndios podem causar e, tem causado grandes prejuízos à sociedade, bem como perdas de
vidas humanas, financeiras, de patrimônio cultural ou histórico, entre outros. Os riscos de
incêndios em edificações tornaram-se cada vez maiores com o desenvolvimento urbano. Por
exemplo, cita-se o recente incêndio de um edifício residencial de 24 pavimentos em Londres.
Assim, vem se tornando cada vez mais importante a proteção à vida e ao imóvel, que deve ser
garantida pelos diversos sistemas de segurança contra incêndio das edificações, ou melhor,
sistemas de proteção passiva, ativa, rotas de fuga, materiais não flamáveis, ou que, ao menos,
não produzam gases tóxicos.

Testes de resistência ou reação ao fogo de materiais e estruturas, em geral, são caros em função
da complexidade de instalações e equipamentos necessários para os modelos experimentais.
Isto dificulta pesquisas experimentais relacionadas a incêndios no Brasil e no mundo.

Uma alternativa consiste no uso de simulações computacionais, que foram desenvolvidos com o
intuito de auxiliar na definição de cenários de uma maneira mais simples, minimizando custos.
Por exemplo, a utilização de softwares para simulação de incêndios em espaços
compartimentados permite analisar a dinâmica do fogo nas edificações durante um incêndio,
assim como os efeitos causados pelo aquecimento, testar hipóteses acerca das causas e estimar
variações de temperatura e particulados, contribuir para minimização dos danos causados pelo
incêndio antes mesmo de sua ocorrência, ajudar na definição da geometria do compartimento e
na distribuição dos materiais e aberturas se constituindo em apoio à investigação de incêndios e

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. Rua Acadêmico
Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária. 50.740-530 - Recife - PE - Brasil. Tel.: +5581 2126 8219 Fax: +5581 2126 7216. e-mail: tacpires@yahoo.com.br

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aperfeiçoamento de normas técnicas [1] [2] [3]. Logo, estes softwares se constituem como
ferramentas úteis para o aprimoramento da segurança contra incêndio em edificações.

A proposta deste trabalho é comparar os desenvolvimentos das temperaturas gerados a partir


de diferentes cargas de incêndio, sendo elas: (i) 300 MJ/m2 conforme estabelecido pela ABNT
NBR 14432 (2001) [4] para alojamentos estudantis; (ii) 948 MJ/m2 de acordo com indicação
fornecida pelo Eurocódigo EN1991-1-2 [5] para habitação; (iii) 565 MJ/m2 estimada com o auxílio
de normas e bibliografias que forneçam as cargas de incêndio de materiais em particular, esta
foi calculada com base em todos os elementos que constituem o compartimento estudado,
considerando o peso e/ou volume de cada objeto, tendo assim as cargas individuais e
consequentemente a carta total do compartimento. Neste cálculo, o poder calorífico foi obtido
através da Instrução Normativa 003 do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina [6]. Antes da
análise, é possível perceber como é grande a variação da carga incêndio que pode estar
disponível em um cenário, de acordo com possíveis fontes de referência para serem utilizadas
no projeto de incêndio. Questiona-se o quanto esta diferença produzirá curvas de aquecimento
totalmente diferentes.

O poder calorífico inferior é a quantidade de calor produzido por unidade de massa de um


material no decurso completo da combustão [7].

De acordo com a NBR 14432:2001, a carga de incêndio é o potencial de liberação de calor que
o material existente no ambiente possui, caso este, entre em combustão. Também fazem parte
deste parâmetro os revestimentos das paredes, divisórias, pisos e tetos, que não foram levados
em consideração para este estudo de caso.

Para realização da simulação foi utilizado o software OZone, desenvolvido pela Universidade de
Liègena Bélgica, sendo um programa de fácil utilização e capaz de fornecer as temperatura de
gases em incêndios compartimentados e a concentração de oxigênio no interior do sinistro em
função do tempo através do modelo de zonas.

Como estudo de caso escolheu-se o cenário de uma unidade residencial, mais especificamente
um quarto de um estudante universitário. Este compartimento foi escolhido, dentre outros tipos
de unidade habitacional, por ser um modelo padrão de alojamentos estudantis próximos à
Universidade Federal de Pernambuco e por ter um alto valor de carga de incêndio, considerando
que papéis e roupas aumentam significativamente o valor da carga total de incêndio.

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Tabela 1: Cálculo da carga de incêndio


Poder
Peso Carga
Material calorífico
Móvel Quant. unitário individual
combustível inferior
(kg) (MJ)
(MJ/kg)

Cadeira Poliuretano 1 12,0 23,0 276,0

Cama solteiro Madeira 1 26,0 21,0 546,0


Escrivaninha Madeira 1 45,0 21,0 945,0
Poliuretano
Colchão solteiro 1 4,2 23,0 96,6
expandido
Criado mudo Madeira 1 8,0 21,0 168,0
Aglomerado de
Guarda roupas 1 90,0 21,0 1890.0
madeira

Ventilador Polipropileno, etc. 1 1,7 43,0 73,1

Polipropileno,
Televisor 1 2,8 43,0 120,4
vidro, etc.
Roupas Roupas 1 30,0 21,0 630,0
Livros, revistas,
Papel 1 20,0 17,0 340,0
etc.
Carga total (MJ) 5085,1
Área do dormitório (m²) 9,0
Carga de incêndio (MJ/m²) 565,0

2. O CENÁRIO ESTUDADO

O compartimento adotado para realizar a simulação computacional foi uma unidade habitacional,
mais precisamente um quarto típico de estudante na Região Metropolitana do Recife. O quarto
é composto de: 01 (uma) cama de solteiro de madeira, 01 (um) colchão de espuma, 01 (um)
criado mudo em madeira, 01 (um) guarda-roupas em aglomerado, 01 (um) ventilador, 01 (uma)
televisão pequena, 01 (uma) escrivaninha de madeira e 01 (uma) cadeira. Na Figura 1 é
mostrado um esboço do compartimento referente ao quarto estudado.

O compartimento tem as dimensões de 3 m de comprimento, 3 m de largura e 3 m de altura. No


quarto todas as paredes são de alvenaria com espessura de 100 mm, peso específico de 1600
kg/m³, condutividade térmica à temperatura ambiente de 0,7W/m.K, calor específico de 840
J/kg.K e emissividade relativa de 0,8, revestidas interna e externamente de concreto leve com
espessura de 25 mm e peso específico de 1600 kg/m³, condutividade térmica à temperatura
ambiente de 0,8 W/m.K, calor específico de 840 J/kg.K e emissividade relativa de 0,8. O piso e
o teto são revestidos com uma camada de concreto pesado de 100 mm de espessura peso

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específico de 2300 kg/m³, condutividade térmica à temperatura ambiente de 1,6 W/m.K, calor
específico de 1000 J/kg.K e emissividade relativa de 0,8. Considera-se que a porta, de
dimensões de 2,1 m de altura e 0,8 de comprimento, está aberta e que a janela, de dimensões
de 1,1 m de altura e 1,6 de comprimento, está 0,6 m aberta.

Figura 1: Compartimento ensaiado

3. DESCRIÇÃO DO SOFTWARE UTILIZADO NO ESTUDO

O Ozone foi desenvolvido para auxiliar na concepção de elementos estruturais submetidos a


incêndios de compartimento. O código é baseado na modelagem de incêndio de compartimentos
e no efeito de incêndios localizados. Ele inclui um modelo de fogo de compartimento único que
combina um modelo de zonas [7] [8].

A modelagem por zonas é de grande aplicabilidade, devido à sua simplicidade física e


computacional. Trata-se de um modelo para simulações de incêndio em ambientes construídos
e divide o espaço em duas camadas: uma superior mais quente e uma inferior mais fria, conforme
ilustrado na Figura 2.

Considera-se, neste caso, que as camadas são uniformes, uma vez que as diferenças na própria
camada são desprezíveis quando comparadas com as diferenças que existem entre as duas
camadas. Este modelo apresenta os resultados com referência aos parâmetros de estratificação
do ambiente com fumaça, bem como altura livre da camada de fumaça e as temperaturas das
camadas quente e fria. Como exemplos de ferramentas computacionais utilizadas para realizar
este cálculo pode-se destacar o CFAST (desenvolvido pelo National Institute os Standards and
Technology – NIST) [9], o ARGOS (desenvolvido pelo Danish Institute of Fire and Security
Technology – DBI) [10] e o OZONE [3] [11].

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Figura 2: Modelo de duas camadas

Este software possui uma interface gráfica agradável e intuitiva, apresenta uma boa avaliação
quando utilizado dentro do seu campo de aplicação real e de fácil utilização para o usuário, sendo
esta uma grande vantagem para análise de incêndios em compartimentos [7]. No entanto, deve-
se ressaltar que o programa permite apenas a análise computacional de um único ambiente por
simulação, impedindo a análise da propagação do incêndio a cômodos adjacentes [8]. Outro fator
limitante deste código computacional é a utilização de uma única fonte de incêndio.

A fonte de incêndio é definida por três parâmetros, a taxa de pirólise, a taxa de liberação de calor
ea área de incêndio. A taxa de pirólise é a vazão mássica de combustível sólido que é
transformada em gás combustível, é a taxa de perda de combustível. A taxa de liberação de calor
é a quantidade de energia liberada pelo fogo por segundo e depende do tipo e quantidade de
combustível, da quantidade de oxigênio disponível e da fase do fogo. A área de incêndio é a área
de combustão, onde estão localizados os materiais combustíveis [8].

Estes parâmetros podem ser correlacionados ou definidos independentes uns dos outros. A partir
dessas entradas, para representar o fogo, os usuários devem escolher entre três diferentes
modelos de combustão. Cada um deles foi concebido para representar uma situação diferente
de utilização do código:

a) No combustion model: neste caso, a presença de oxigênio no compartimento não


influencia a taxa de liberação de calor.Com este modelo, a taxa de pirólise ea taxa
de libertação de calor estabelecidas nos dados são utilizados sem qualquer
modificação em relação à concentração de oxigénio no compartimento. Nenhum
controle pela ventilação será feito. Também é utilizado para simulações de ensaios
experimentais em que a perda de massa e a taxa de libertação de calor foram
medidas de forma independente e para situações em que a taxa de pirólise é
conhecida e onde o fogo é controlado pelo combustível.
b) External flaming: quando não há mais oxigênio disponível dentro do
compartimento, a quantidade de liberação de energia dentro do compartimento é
limitada. Neste modelo, a combustão externa é assumida, toda a carga de incêndio

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é transformada em gases no compartimento, mas apenas uma parte dele fornece


energia no compartimento. A taxa de libertação de calor pode ser limitada pela
quantidade de oxigénio disponível no compartimento, mas a taxa de pirólise
permanece inalterada. Este modelo é utilizado para a simulação de ensaios
experimentais em que a perda de massa ou a taxa de liberação de calor foi medida.

c) Extended fire duration: no caso de duração prolongada do fogo, a quantidade de


liberação de energia no interior do compartimento é limitada e toda a carga de
incêndio é queimada no compartimento estendendo a duração inicial do fogo.
Neste modelo, a libertação de massa pode ser limitada pela quantidade de
oxigénio disponível no compartimento. Quando ainda há oxigênio no
compartimento, o fogo é combustível controlado e toda a perda de massa de
combustível fornece energia para o compartimento.Neste caso, a massa perdida
pelo fogo é governada pela massa de oxigênio que entra no compartimento e toda
a massa pirolisada é transformada em energia. Considera-se que nenhuma
combustão externa é assumida, toda a carga de incêndio transfere sua energia
para o compartimento. Se o fogo é controlado pela ventilação, a taxa de pirólise é
proporcional ao oxigênio que entra no compartimento.

O software fornece duas taxas de liberação de calor, o RHRdata e o RHRcomputed. O RHRdata é a


taxa de liberação de calor obtida a partir do método de cálculo proposto pelo Eurocódigo EN1991-
1-2 [5] e RHRcomputed é fornecido de acordo com o modelo de combustão escolhido pelo usuário.

A figura 3 apresenta graficamente a diferença entre a taxa de liberação de calor calculada e as


taxas de liberação de calor computadas considerando os diferentes modelos de combustão.

Figura 3: Taxa de liberação de calor x Tempo

4. RESULTADOS

A figura 4 apresenta o desenvolvimento das temperaturas para o cenário exposto acima. Os


picos de temperatura obtidos foram 589°C, 640 °C e 687 °C, correspondentes as cargas de
incêndio referentes a [4], a calculada e a [5], respectivamente.

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Figura 4: Curvas de incêndio

Além da curva de incêndio, outros importantes resultados fornecidos pelo software para definir a
fonte de incêndio são a taxa de liberação de calor e a taxa de pirólise.

Figura 5: Parâmetros básicos que definem a fonte de incêndio

5. CONCLUSÕES

Como esperado, devido as cargas de incêndio muito discrepantes, os desenvolvimentos das


temperaturas obtidas foram bastante distintos. Estas curvas provavelmente provocariam danos
totalmente diferentes a elementos estruturais expostos a elas ou induziriam projetistas brasileiros
a subestimar o potencial de incêndio. Isto mostra a necessidade de uma melhor padronização
da carga de incêndio a ser considerado em um projeto de incêndio.

O rápido desenvolvimento das temperaturas no ambiente mostra a necessidade de proteções


ativas e passivas na edificação para a proteção da vida humana, de forma a garantir uma rápida
desocupação da edificação assim como o combate pelo corpo de bombeiros.

Observa-se o pico de temperatura do pequeno valor de carga incêndio adotado por [4], bem
inferior ao recomendado por [5] ou ao estimado de acordo com a literatura sobre dinâmica do
incêndio.

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Ressalta-se que o crescimento das temperaturas é muito semelhante independente da carga


incêndio analisada. Assim, neste cenário, o tempo de sobrevivência das pessoas para desocupar
a edificação seria o mesmo independente das cargas incêndio.

Por fim, de acordo com as bibliografias encontradas, o software Ozone mostrou-se uma
ferramenta eficaz e simples para determinação de temperaturas em ambientes
compartimentados [12] podendo ser facilmente aplicada para a análise de cenários de incêndios
em espaços residenciais.

6. REFERÊNCIAS

[1] Mazzoni, F. – Simulação computacional de incêndios: aplicação no caso do condomínio


edifício Cacique em Porto Alegre – RS. Trabalho de Diplomação em Engenharia Civil,
Departamento de Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre/RS, 2009, 67 p.
[2] Cunha, L. J. B. F. – O desempenho da compartimentação horizontal seletiva na promoção
da segurança contra incêndio em edificações. Tese de Doutorado em Arquitetura e
Urbanismo, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRGN, Natal/RN, 2016, 237 p.
[3] Ruschel, F. – Avaliação da utilização de ferramentas de simulação computacional para
reconstituição de incêndios em edificações de concreto armado: aplicação ao caso
Shopping Total em Porto Alegre - RS. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil,
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul - UFRGS, Porto Alegre/RS, 2011, 131 p.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). – NBR 14432: Exigências
de resistência ao fogo de elementos construtivos das edificações - Procedimento. Rio de
Janeiro, 2001, 15 p.
[5] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1991 -1 - 2:2010: Eurocódigo 1
– Ações em estruturas. Parte 1-2: Ações gerais – Ações em estruturas expostas ao fogo,
2010, 64 p.
[6] INSTRUÇÃO NORMATIVA (IN 003/ DAT/ CBMSC) – Normas de segurança contra
incêndios: Carga de incêndio. Santa Catarina, 2006, 15 p.
[7] Candorin, JF et al. – The Design Fire Tool Ozone V2.0 – Theoretical Description and
Validation on Experimental Fire Tests, University of Liege, Belgium, 2001, 49 p.
[8] Candorin, JF – On the aplication field of Ozone V2, Département de Mécanique des
Matériaux e Structures, Université de Liège, 2002-003, 25 p.
[9] CFAST - CONSOLIDATED FIRE AND SMOKE TRANSPORT – Volume 1: Technical
reference guide. NIST, 2016, 65 p.
[10] ARGOS USER’S GUIDE. – A step by step guide to fire simulation. DIFT, Copenhagen,
2003, 165 p.
[11] Forney G. P.–Modeling And Visualizing Fire Without Getting Burned, In: MCSD Seminar /
National Institute os Standards and Technology, Gaithersburg, MD, EUA, 2005, 65 p.
[12] Teixeira, C.J.M.; et al. – Experimental and Numerical Simulations of a natural Fire in a
Compartment. 15th International Conference on Experimental Mechanics, Portugal, 2012,
8 p.

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SIMULAÇÃO DE SISTEMA DE EXTRAÇÃO MECÂNICA DE FUMAÇA EM


UM ÁTRIO UTILIZANDO DIFERENTES PROGRAMAS COMPUTACIONAIS

Lucimar de Oliveira Meira* Francisco Carlos Rodrigues


Mestranda Professor
Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais
Minas Gerais, Brasil Minas Gerais, Brasil

Rodrigo Barreto Caldas José Edier Paz Hurtado


Professor Doutorando
Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais
Minas Gerais, Brasil Minas Gerais, Brasil

Palavras-chave: controle de fumaça; segurança contra incêndio, FDS; CFAST; B-RISK.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo a realização da simulação computacional de um sistema de


extração mecânica de fumaça, em um átrio, utilizando diferentes programas computacionais:
FDS, CFAST e B-RISK.

Yi et al. [1] realizaram experimentos em um laboratório construído na China pela The Hong
Kong Polytechnic University (PolyU) e pela University of Science and Technology of China
(USTC). O átrio do laboratório possuía 22,4 m de comprimento, 12 m de largura e 27 m de
altura.

Três experimentos foram realizados com uma taxa de calor liberado de 3.000 kW e nomeados
como Testes 1, 2 e 3. O combustível utilizado foi o Etanol (C2H6O), disposto conforme a norma
AS 4391:1999. O foco do fogo foi centralizado no piso do átrio.

No Teste 1 havia uma abertura (janela) com largura de 1,4 m e altura de 1,1 m, centralizada em
uma das paredes de comprimento igual a 22,4 m, com um peitoril de 10,5 m. A temperatura
ambiente era de 10 ºC e o tempo de duração do fogo foi de 560 s. No teto do átrio havia um
sistema de extração mecânica de fumaça com taxa de extração de 15m 3/s.

No Teste 2 havia uma abertura (porta) com largura de 1,6 m e altura de 2,5 m, centralizada em
uma das paredes de comprimento igual a 12 m. A temperatura ambiente era de 10 ºC e o

*
Autor correspondente – Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais. Avenida Antônio Carlos,
6627, Bloco 1, Andar 4, Pampulha. 31.270-901 – Belo Horizonte - MG - Brasil. Tel.: +55 31 3409 3589 Fax: +55 31 3409 1973. e-mail:

lucimarcaldas@gmail.com

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

tempo de duração do fogo foi de 620 s. Assim como no Teste 1, havia, no teto, um sistema de
extração mecânica de fumaça com taxa de extração de 15m 3/s.

No Teste 3 não havia nenhuma abertura e nenhum sistema de extração de fumaça. A


temperatura ambiente era de 11 ºC e o tempo de duração do fogo foi de 590 s.

2. MODELAGEM E SIMULAÇÃO DOS EXPERIMENTOS

Os modelos desenvolvidos com base nos Testes 1, 2 e 3 realizados por Yi et al. [1], possuem:
a mesma geometria; presença ou não de aberturas ou sistema de extração de fumaça;
temperatura ambiente; e tempo de duração do fogo, ou seja, tempo de simulação.

Figura 1: Teste 1, Teste 2 e Teste 3, respectivamente.

O tamanho das células foi tomado com valor próximo ao utilizado por Yi et al. [1] em suas
simulações com o FDS [2]. Para os testes 1 e 2 a malha foi prolongada por aproximadamente 2
m além da parede com a abertura e, acima do teto com o sistema de extração de fumaça. A
área do sistema de extração foi tomada igual a 1,0 m². Nos testes 1 e 2 o teto, com sistema de
extração de fumaça, e as paredes, com as aberturas, foram modeladas como Obstructions. As
demais paredes e o piso, localizadas nos limites da malha, foram modeladas como Vents.
Paredes, teto e piso foram modeladas com 0,10 m de espessura de concreto, conforme Bong
[3] e as propriedades fornecidas pela biblioteca do programa PyroSim [4]: densidade de 2280
kg/m³; calor específico de 1,04 kJ/(kgºK); condutividade de 1,8 W/(mºK); emissividade de 0,9. A
composição química do Etanol (C2H6O), quantidade de átomos, foi informada ao programa
que calculou o calor de combustão entre 24.510 e 26.780 kJ/kg.Nas simulações com o FDS [2],
o volume utilizado nas simulações foi dividido em 72 x 45 x 96 (celulas em X, Y e Z,
respectivamente) para o Teste 1 e, 80 x40 x 96 para o Teste 2 resultando em células com
dimensões de 0,31 m x 0,31 m x 0,30 m e 0,30 m x 0,30 m x 0,30 m, respectivamente. Para o
Teste 3 o volume foi dividido em 72 x 40 x 90 resultando em células com dimensões de 0,31 m
x 0,30 m x 0,30 m.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

A área do fogo foi de 2,0 m². Para cada teste, duas simulações foram realizadas, uma com taxa
de calor liberado constante (TCL constante) e outra com um incêndio quadrático ultra rápido
(TCL t²). A fração de radiação média, obtida foi de 0,32; 0,33 e 0,38 para as simulações dos
teste 1, 2 e 3, respectivamente, com taxa de calor liberado constante. Para a simulação TCL t²
as frações de radiação médias foram de 0,31; 0,33 e 0,37 para os testes 1, 2 e 3,
respectivamente. Seis medidores da camada de fumaça (Layer Zoning Device) foram definidos,
quatro deles próximos aos cantos do átrio, coincidindo com as linhas verticais de termopares,
do teto ao piso, usados nos experimentos.

Nas simulações com o CFAST [5], foram utilizados os mesmos dados de entrada das
simulações com o FDS. Para o combustível Etanol, foi adotado o calor de combustão igual a
26.780 kJ/kg (conforme sugestão do CFAST) e a fração emitida por radiação foi tomada com o
valor padrão do programa igual a 0,35. O fogo foi localizado ao nível do piso.

No programa B-RISK [6], foram utilizados os mesmos dados de entrada das simulações com o
CFAST.

3. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Nas simulações observou-se que as análises com o programa FDS têm duração de horas
(entre 8 e 12 h) enquanto as simulações com os programas de zonas, CFAST e B-RISK, tem
duração de segundos.
Comparando as simulações realizadas neste trabalho com os resultados experimentais, figuras
2 a 7, nota-se, assim como observado por Yi et al. [1], que, de maneira geral, os resultados
obtidos com o FDS [2] se aproximam mais dos resultados experimentais, e se mostram, mais
seguros, ou seja, preveem uma Altura da Interface da Camada de Fumaça - AICF inferior à
observada experimentalmente e uma Temperatura Média da Camada de Fumaça - TMCF
superior à observada experimentalmente. Yi et al. [1] ao analisar seus proprios resultados com
o FDS, comentam que as AICF previstas concordaram bem com os experimentos, enquanto a
TMCF foi muito superestimada uma vez que as malhas atribuídas não eram boas o suficiente
para considerar a transferência de calor por condução e convecção nos contornos, devido à
limitação dos computadores. Simulações com malhas mais refinadas e condições de contorno
detalhadas podem dar resultados que concordam melhor com os experimentos. Os autores
ainda acrescentam que o FDS [2] previu bem a altura da camada de fumaça em relação ao
experimento, mas o cálculo da temperatura da camada de fumaça apresentou diferença
considerável em relação ao experimento. A perda de calor para os limites teve pouco efeito
sobre a altura da interface de fumaça, mas é essencial para a predição da temperatura da
mesma.
Os programas de zonas, CFAST [5] e B-RISK [6], para o Teste 1, previram uma AICF entre 5 m
e 6 m, aos 500 s, comportamento bem diferente do observado experimentalmente, no qual a
fumaça atinge o piso, demonstrando que estes modelos podem conduzir a resultados
inadequados. Neste caso, há extração mecânica, e a abertura (janela) está localizada na
camada de fumaça, diferentemente do Teste 2 onde a abertura está na parte inferior do átrio e
do Teste 3 sem qualquer ventilação. Essa observação, também feita por Yi et al. [1], pode
indicar que estes modelos não são apropriados para analisar situações nas quais a abertura

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fique localizada na camada de fumaça. Os resultados da AICF para os Testes 1, 2 e 3 são


apresentados nas figuras 2 , 3 e 4 , respectivamente.

FDS TCL constante FDS TCL t2


CFAST TCL constante CFAST TCL t2
B-RISK TCL constante B-RISK TCL t2
FDS (Yi et al, 2005) CFAST (Yi et al, 2005)
Experimento (Yi et al, 2005)
30

25

20
Altura (m)

15

10

0
0 100 200 300 400 500
Tempo (s)

Figura 2: Teste 1 - Altura da Interface da Camada de Fumaça – AICF.

FDS TCL constante FDS TCL t2


CFAST TCL constante CFAST TCL t2
B-RISK TCL constante B-RISK TCL t2
FDS (Yi et al, 2005) CFAST (Yi et al, 2005)
Experimento (Yi et al, 2005)

30

25

20
Altura (m)

15

10

0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura 3: Teste 2 - Altura da Interface da Camada de Fumaça – AICF.

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FDS TCL constante FDS TCL t2


CFAST TCL constante CFAST TCL t2
B-RISK TCL constante B-RISK TCL t2
FDS (Yi et al, 2005) CFAST (Yi et al, 2005)
Experimento (Yi et al, 2005)

30

25

20
Altura (m)

15

10

0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura 4: Teste 3 - Altura da Interface da Camada de Fumaça – AICF.

Em relação à TMCF e em comparação com o FDS [2] e CFAST [5], o B-RISK prevê maiores
elevações de temperatura, exceto para o Teste 2, em que o programa prevê que a fumaça
atinge o piso e interrompe a sequência de elevação da temperatura se aproximando mais do
valor experimental ao fim da simulação.
Comparando as análises com TCL constante e TCL t² pode-se constatar que a diferença na
previsão da AICF e na TMCF ocorre apenas no início das simulações, alterando de maneira
pouco significativa o tempo em que a camada de fumaça atinge o piso. Ao final das
simulações, a influência da TCL constante ou TCL t² é irrelevante. Analisando os resultados
experimentais, com as condições de abertura (porta) e extração do Teste 2, a AICF pode ser
mantida a 4 m acima do piso, indicando uma condição segura.
Embora o fornecimento de ar na camada de fumaça, localizada a 0,5 m acima do chão no
Teste 1, possa reduzir a TMCF observada experimentalmente, a camada de fumaça desceu a
um nível muito baixo, de 4,2 m (1,5 + H / 10) acima do chão em cerca de 174 s, adiada por
apenas cerca de 50 s em comparação com o enchimento natural de fumaça observado no
Teste 3. Portanto, aberturas nas posições baixas devem ser fornecidas para oferecer uma
condição segura para a evacuação do átrio. Segundo a Instrução Técnica número 15 do Corpo
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo – CBPMSP IT 15 [7], uma altura livre
de fumaça é aquela capaz de garantir a fuga das pessoas do ambiente com fogo, e devido à
presença do jato de fumaça poderá alcançar no máximo 85% da altura da edificação,
observando-se um mínimo de 2,5 m acima do piso. Ainda segundo instrução técnica, a altura
mínima da camada de fumaça a ser considerada para os cálculos de extração é de 2,20 m, e a
velocidade do ar por ponto de extração deve ser no máximo de 5 m/s, considerando ainda um
mínimo de 2 pontos de extração por pavimento.

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Os resultados da TMCF para os Testes 1, 2 e 3 são apresentados nas figuras 5 , 6 e 7 ,


respectivamente.

FDS TCL constante FDS TCL t2


CFAST TCL constante CFAST TCL t2
B-RISK TCL constante B-RISK TCL t2
FDS (Yi et al, 2005) CFAST (Yi et al, 2005)
Experimento (Yi et al, 2005)
80

70

60
Temperatura (°C)

50

40

30

20

10

0
0 100 200 300 400 500
Tempo (s)

Figura 5: Teste 1 - Elevação da Temperatura Média da Camada de Fumaça – TMCF.

FDS TCL constante FDS TCL t2


CFAST TCL constante CFAST TCL t2
B-RISK TCL constante B-RISK TCL t2
FDS (Yi et al, 2005) CFAST (Yi et al, 2005)
Experimento (Yi et al, 2005)

80

70

60
Temperatura (°C)

50

40

30

20

10

0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura 6: Teste 2 - Elevação da Temperatura Média da Camada de Fumaça – TMCF

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FDS TCL constante FDS TCL t2


CFAST TCL constante CFAST TCL t2
B-RISK TCL constante B-RISK TCL t2
FDS (Yi et al, 2005) CFAST (Yi et al, 2005)
Experimento (Yi et al, 2005)

90

80

70
Temperatura (°C)

60

50

40

30

20

10

0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura 7: Teste 3 - Elevação da Temperatura Média da Camada de Fumaça – TMCF

Yi et al. [1] concluem que a altura mínima da interface da camada de fumaça pode ser mantida
com fornecimento de ar sob uma determinada TCL e de extração mecânica de fumaça. Para
garantir uma AICF maior do que a altura segura da camada de fumaça (por exemplo, uma
altura característica, 1,5 + H / 10 = 4,2 m acima do chão), as aberturas devem estar
posicionadas nas posições abaixo da altura segura.
Quando a entrada de ar está acima da interface da camada de fumaça, o ar irá se misturar com
a fumaça. Em sistemas de extração de fumaça mais bem concebidos, esta situação deve ser
evitada, tal como, limitando a quantidade de materiais combustíveis no compartimento, pois irá
acelerar a descida da taxa de fumaça. A temperatura da fumaça será reduzida nesta situação.
Se ocorrer um grande fogo num compartimento com uma taxa de extração relativamente
pequena, incapaz de atingir a altura segura da camada de fumaça, a posição da entrada de ar
não é mais importante porque a camada de fumaça irá descer rapidamente. Pelo contrário, a
extração com entrada de ar mais elevada, reduz a temperatura da fumaça e até mesmo atrasa
a descida da camada de fumaça um pouco mais do que com o fornecimento de ar ideal, o que
pode ajudar a proteger as estruturas contra o incêndio.
Além da posição das entradas de ar, outros fatores importantes, tais como a distribuição de
entradas de ar, a distância da entrada de ar a partir do fogo, e a velocidade do fluxo de ar
através da entrada de ar devem também ser considerados cuidadosamente durante a
operação de escape mecânico.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio à pesquisa concedido pelo CNPq (Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pela FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa

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do Estado de Minas Gerais), pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior) e pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

6. REFERÊNCIAS

[1] Yi, L., et al. - A Simple Two-Layer Zone Model on Mechanical Exhaust in an Atrium.
Building and Environment 40. Elsevier, 2005. p. 869 - 880.
[2] McGrattan, K., et al. - Fire Dynamics Simulator. User’s Guide. NIST Special Publication
1019. Sixth Edition, 2015.
[3] Bong, W. J. (2011). - Limitations of Zone Models and CFD Models for Natural Smoke
Filling in Large Spaces. Department of Civil and Natural Resources Engineering
University of Canterbury Christchurch, New Zealand, 2011.
[4] Thunderhead Engineering. - PyroSim User Manual. 2016.
[5] Peacock R.D., Reneke P. A., Forney G. P. - Consolidated Model of Fire Growth and
Smoke Transport – CFAST. User’s Guide. National Institute of Standards and Technology.
Version 7. Volume 2. November 2015.
[6] Wade, C., et al. - B-RISK User Guide and Technical Manual. BRANZ study report 282.
BRANZ 2013.
[7] CBPMSP IT 15:2015. - Instrução Técnica Nº 15/2015 do Corpo de Bombeiros do Estado
de São Paulo. Controle de Fumaça.

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SINALIZAÇÃO DE EMERGÊNCIA E PERCEPÇÃO VISUAL

Fotografia Fotografia
Autor 1 Autor 2

30 mm 30 mm
 
40 mm 40 mm

Daniel P. Andrade* Edna M. Pinto


Professor Professora
Universidade Federal Universidade Federal
Rural do Semi-Árido, do Rio Grande do
Brasil Norte, Brasil

Palavras-chave: Segurança contra incêndio; Sinalização de emergência; Percepção visual;


Normatização.

1. INTRODUÇÃO

A alta complexidade espacial de uma edificação gera constantes problemas de navegação e


orientação. Mesmo considerando um público a ela familiarizado, uma parcela considerável
desses usuários ainda sofrerá com estas questões ao longo do tempo [1]. É comum que as
pessoas procurem saídas familiares, como por exemplo a entrada do edifício, e desconheçam
outras alternativas a serem usadas em caso de emergência.

Em edificações onde a distribuição espacial interna se apresenta de forma complexa, a


incorporação de sinais que auxiliem na orientação dos usuários em deslocamento, exerce
papel relevante. Porém, em situações de emergência esta capacidade de se orientar na
edificação assume uma importância ainda maior. Galea [2] afirma que um sistema de
sinalização bem pensado pode reduzir a complexidade aparente de uma edificação e fornecer
aos ocupantes sugestões e oportunidades de decidir qual a melhor rota possível para o
abandono da mesma.

A sinalização de emergência, desta maneira, tem como finalidade reduzir o risco de incêndio,
alertando para os riscos existentes, e garantir que sejam adotadas ações adequadas à

*
Autor correspondente – Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Rural do Semi-Árido.
Rodovia BR 226, s/n, Pau dos Ferros/RN. CEP: 59900-000. Tel.: +55 84 3317-8236. e-mail: daniel.andrade@ufersa.edu.br

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situação de risco, orientando as ações de combate e localização dos equipamentos e rotas de


saída para abandono seguro da edificação em caso de incêndio [3]. A norma britânica BS
5499-4:2013 Safety signs - Part 4: Code of practice for escape route signing, define sinalização
de rotas de saída como “um sistema que deve assegurar um sinal direcional a partir de
qualquer lugar dentro de um edifício onde não é possível visualizar diretamente uma saída ou
onde pode existir dúvidas quanto à sua posição” [4].

Considerando que o primeiro fator a ser observado para que os ocupantes possam interpretar
corretamente o sinal é que o mesmo seja fisicamente visível, o presente trabalho busca
apresentar considerações sobre as diferenças de entendimento de como a sinalização de
emergência pode ser percebida pelo usuário de acordo com a norma britânica BS 5499-4:2013
e a norma brasileira da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 13434:2004.

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PERCEPÇÃO VISUAL DA SINALIZAÇÃO DE


EMERGÊNCIA

2.1 ABNT NBR 13434:2004 – Sinalização de segurança contra incêndio e pânico

A norma brasileira ABNT NBR 13434:2004 tem por objetivo estabelecer os critérios para
instalação do sistema de sinalização de segurança contra incêndio e pânico nas edificações. A
mesma encontra-se dividida em três partes e aborda questões sobre princípios do projeto de
sinalização (parte 01); símbolos, formas, dimensões e cores (parte 02) e; requisitos e métodos
de ensaio (parte 03). A norma de sinalização de emergência da ABNT possui uma versão mais
antiga de 1995, substituída pela vigente. Atualmente encontra-se em processo de revisão pelo
Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio (ABNT/CB-24).

Embora a questão da percepção visual abranja todo tipo de sinalização, seja de emergência ou
apenas informativa, o presente trabalho direcionou a atenção para a chamada sinalização de
orientação e salvamento, que são os sinais responsáveis por “indicar as rotas de saída e ações
necessárias para o seu acesso” [3]. Neste artigo buscou-se verificar como a presente norma
aborda a questão da distância de visualização do sinal e sua relação com o usuário, de forma a
entender como é vista a área de abrangência física do sinal a ser considerada no projeto de
sinalização de emergência.

As considerações apresentadas que tratam sobre a distância máxima de visualização do sinal


são relacionadas com a área da placa e uma constante, conforme apresentada na equação (1)
e com o tamanho da letra e uma constante, conforme equação (2)

A  L² / 2000 (1)
Onde:
▪ A é a área da placa, em metros quadrados;
▪ L é a distância do observador à placa, em metros.

h  L / 125 (2)
Onde:

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▪ h é a altura da letra, em metros;


▪ L é a distância do observador à placa, em metros.
Observando que estas são as únicas considerações sobre a distância de visualização, é
pressuposto que a distância L apresentada na equação (1) e (2) equivale a um raio com centro
na sinalização de emergência, assemelhando-se ao esquema ilustrado na Figura 1.

Figura 1: Área de percepção do sinal de acordo com a ABNT NBR 13434:2004

É entendido que em toda a área coberta pelo raio L é possível que o usuário da edificação,
desde que não existam obstáculos físicos, consiga perceber a presença do sinal e realizar a
sua leitura. Destaca-se que a correta interpretação do sinal depende de diversos fatores físicos
e psicológicos, porém em primeiro lugar o sinal deve ser fisicamente visível para os ocupantes,
caso contrário, os demais fatores se tornam irrelevantes.

Apesar de ser estabelecido a relação entre o tamanho do sinal e a distância de visualização do


mesmo, a ABNT NBR 13434:2004 fixa ainda distâncias máximas entre sinais no projeto de
sinalização de emergência. A distância entre qualquer ponto da rota de fuga e a sinalização de
orientação e salvamento deve ser de no máximo 7,50m e a distância entre dois sinais não
devem ultrapassar 15,00m. Desta forma, as placas também obedecem, para a maior distância
fixada em norma, um tamanho mínimo aproximado de 0,50m x 0,25m.

2.2 BS 5499-4:2013 – Code of practice for escape route signing

A norma britânica British Standard (BS) 5499-4:2013 apresenta estrutura semelhante a norma
brasileira ABNT NBR 13434:2004, composta por indicações para projeto, tipos de sinais,
tamanho do sinal e distâncias de visualização, construção, durabilidade e manutenção. A parte
04 da BS 5499 trata da sinalização de orientação e salvamento, mesma categoria considerada
na análise da norma brasileira. A análise abordou, como já dito, o entendimento de como é
tratada a área física de percepção visual da sinalização de emergência pela referida norma.

Como princípio de projeto, a norma britânica não fixa distâncias máximas entre sinais, ao
contrário da ABNT 13434:2004, permitindo ao projetista locar a sinalização a qualquer
distância, desde que dentro dos padrões de visibilidade estabelecidos pela própria BS 5499-
4:2013. A condição fixada pela norma é a de que “em qualquer lugar dentro de um edifício no
qual não for possível visualizar diretamente uma saída ou que possa existir dúvida quanto à

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sua posição, um sinal direcional deve ser fornecido para o ocupante” [4]. Esta condição permite
mais liberdade em conceber a distribuição da sinalização da edificação, embora o princípio da
redundância seja algo desejável na segurança contra incêndio.

Estudos desenvolvidos na universidade de Greenwich (Londres, Inglaterra) [5] [6] [7],


questionam a validade da consideração do campo de visão de um sinal a partir de um raio fixo.
A lógica por trás da distância de visualização baseada em um raio fixo é, em geral, relacionada
com testes de acuidade visual padrão feitos na população a partir de um ângulo perpendicular
em direção ao sinal, ou seja, o sinal é visto sempre de frente. Isto desconsidera que os
ocupantes podem se aproximar do sinal a partir de diversos ângulos e que esta angulação
variada influencia na capacidade do indivíduo ler e interpretar o sinal [6]. Esta questão vem
sendo ignorada por diversas normas que tratam do assunto [6].

A partir de uma demonstração teórica (modelo matemático) e empírica (testes com usuários)
chegou-se a uma nova proposta de área de visualização do sinal diferente da adotada pela
própria norma britânica (até sua revisão) [5] e por normas de outros países, como a brasileira.
A demonstração teórica partiu da consideração de que a partir do ângulo perpendicular em
relação ao sinal e da distância máxima de visualização para determinado tamanho de sinal era
possível definir um ângulo mínimo de visualização formado pelo observador e as extremidades
da sinalização. Todas as distâncias seguintes deveriam possuir esse ângulo ou uma angulação
maior. Este problema proposto originou uma formulação matemática que ao resolvida resultou
que a área de visualização se assemelharia a um círculo que tangência o sinal e apresenta
diâmetro igual a distância máxima de visualização para o ângulo perpendicular (ver Figura 3).
Esta formulação procurou criar uma restrição que em teoria impede a visualização correta do
sinal, no caso, a redução além do ângulo mínimo proposto [6].

A demonstração empírica foi realizada com 48 voluntários convidados a avaliar o entendimento


de três sinais de emergência em função da variação do ângulo de observação. Os voluntários
foram locados em um corredor com 39,00m provido de iluminação artificial. Dada a natureza do
corredor, os pesquisadores optaram por variar a angulação da placa em relação ao
observador, como forma de verificar a influência da angulação relativa. Ao não conseguir
discernir pelo menos metade do sinal, medida esta que os pesquisadores consideraram como
mínima para que o usuário perceba o sinal, o voluntário era convidado a se aproximar do sinal
até ele realizar esta leitura. As distâncias máximas de visualização para cada ângulo então
eram registradas.

A validação destas proposições (teórica e empírica) pode ser percebida ao comparar os


resultados dos dois modelos estudados, o qual é possível ver a semelhança das distâncias
máximas de visualização em função do ângulo de observação, conforme Figura 2. O modelo
teórico acabou sendo confirmado pelo modelo empírico.

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Figura 2: Comparação entre as distâncias de visualização no modelo teórico e empírico [5].


Adaptado pelo autor.

O modelo proposto considera uma redução na capacidade de perceber e realizar a leitura de


acordo com a variação do ângulo entre o usuário e o sinal. Considerando a distância máxima
de visualização do sinal a partir de um ângulo perpendicular, a área de abrangência visual do
sinal, neste novo modelo, como já dito, apresenta-se de forma semelhante a um círculo com
diâmetro igual a distância máxima de visualização considerada para o ângulo perpendicular.
Este círculo é posicionado de forma que tangencia o centro do sinal, conforme pode ser visto
na Figura 3. Os diferentes círculos representam áreas de visualização de sinais de tamanhos
diferentes.

Figura 3: Área aproximada de percepção do sinal de acordo com a BS 5499-4:2013 [4]

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Projetos complexos estão se tornando cada vez mais frequentes devido a necessidade
humana de se agrupar, trabalhar, comprar, socializar, entre outras. Tais edificações podem se
configurar em um verdadeiro problema quando analisado do ponto de vista da necessidade de
orientação dentro da mesma e, principalmente, deslocamento em situação de emergência em
direção a alguma saída. Certas edificações podem apresentar um layout complexo e pouco
intuitivo, não sendo possível contar apenas com o senso de navegação das pessoas, fazendo-
se necessário o apoio de um sistema de sinalização de emergência [7]. Desta forma, é
entendido que o projeto de sinalização de emergência tem papel fundamental no processo de
abandono de uma edificação, não adiantando a mesma contar apenas com rotas de escape
bem distribuídas.

O trabalho buscou comparar e apresentar as principais diferenças no entendimento de como


considerar a área de visualização de uma sinalização de emergência no projeto de segurança
contra incêndio. O modelo proposto pela norma brasileira, apesar de não apresentar
considerações específicas sobre como esta questão é considerada, é possível chegar a um
modelo provável de acordo com as informações sobre distância máxima de visualização
apresentadas na própria norma. Este modelo define a área de visualização como um raio com
centro na sinalização e tamanho semelhante à relação entre a distância máxima de
visualização e o tamanho do sinal. Essa questão desconsidera possíveis dificuldades de
percepção do sinal quando o ângulo do observador diverge do ângulo perpendicular em
relação a placa.

O modelo britânico, através de estudos de validação teórica e empírica, propõe uma forma
diferenciada de avaliar esta questão, na qual a área de visualização e percepção do sinal se
assemelha a um círculo tangente a sinalização e com diâmetro igual a distância máxima de
visualização quando o usuário se encontra perpendicular ao sinal.

Tendo em vista as diferenças observadas e considerando a validação teórica e empírica do


modelo britânico, a elaboração de um projeto de sinalização de emergência de acordo com o
modelo brasileiro pode gerar áreas de “sombra” visual em que o usuário terá uma chance
menor de perceber o sinal.

Esta diferença pode ser notada no modelo proposto pelas figuras 4 e 5. A Figura 4 apresenta a
planta baixa de um auditório onde foi disposta a sinalização de acordo com a ABNT NBR
13434:2004 considerando a distância máxima que esta norma permite entre os usuários e o
sinal (7,50 m). A disposição foi feita de forma que a área de abrangência visual dos sinais
cobrissem todo o auditório. A Figura 5 apresenta a planta baixa do mesmo auditório e a mesma
proposta de distribuição da sinalização da Figura 4, porém considerando a área de
abrangência visual da norma britânica BS 5499-4:2013. É possível notar as áreas de sombra
visual ocasionadas pelas diferenças entre as áreas de visualização, o que faria necessário uma
revisão do projeto como forma de sanar essas questões e evitar que usuários ficassem
desprotegidos por não perceberem a sinalização.

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Figura 4: Área de abrangência visual (em azul) dos sinais de acordo com a ABNT NBR
13434:2004

Figura 5: Área de abrangência visual (em azul) dos sinais de acordo com a BS 5499-4:2013

Reitera-se, por fim, a importância da sinalização de emergência no auxílio da navegação no


interior de um edifício, porém soma-se a esta questão o fato de que o rápido abandono de uma
edificação é a forma mais segura de preservar vidas. Perder tempo ao procurar a saída correta
ou a sinalização de orientação e salvamento pode fazer diferença na segurança dos ocupantes
em uma situação de emergência.

Desta forma, considera-se necessária a ampliação do estudo desta questão e, futuramente,


uma revisão da norma brasileira de sinalização de emergência com especial atenção a questão
de como o projetista deve considerar a área de visualização do sinal.

4. REFERÊNCIAS

[1] O’Neill, M. J. - Effects of Familiarity and plan complexity on wayfinding in simulated


buildings, Journal Of Environmental Psychology, 1992, p. 319-327.

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4º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

[2] Galea, E. R. et al - Representing the Influence of Signage on Evacuation Behavior within


an Evacuation Model, Journal Of Fire Protection Engineering, 2006, p. 37-73.
[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 13434-1: Sinalização de
segurança contra incêndio e pânico Parte 1: Princípios de projeto. 1. ed. Rio de Janeiro,
2004.
[4] British Standard Institution. BS 5499-4: Safety signs Part 4: Code of practice for escape
route signing. London, 2013.
[5] Xie, H. – Investigation into the interaction of people with signage systems and its
implementation within evacuation models, Tese de Doutorado, Universidade de
Greenwich, 2011, 302 p.
[6] Galea, E. R. et al - Signage Legibility Distances as a Function of Observation Angle,
Journal Of Fire Protection Engineering, 2007, p. 41-64.
[7] Galea, E. R. et al - Simulating the Interaction of Occupants with Signage Systems, Fire
Safety Science - International Symposium, Reykjavik, 2008, p. 389-400.

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Recife, Pernambuco. Brasil, 09 a 11 de Outubro de 2017

TERRENOS COM EMANAÇÃO DE GÁS INFLAMÁVEL: RISCOS E


SOLUÇÃO

Marcela Maciel de
Araujo*
Pesquisadora, Instituto
de Pesquisas
Tecnológicas do
Estado de São Paulo,
São Paulo, Brasil

Palavras-chave: gás, inflamável, solo, áreas contaminadas.

1. INTRODUÇÃO

A presença de gás metano não deve ser uma questão relacionada somente, por exemplo, às
operações de aterro sanitário. O problema colocado pela presença de gás inflamável, a título
de exemplo o gás metano, no solo superficial também deve ser avaliado no âmbito do
gerenciamento de áreas contaminadas. Neste trabalho, são apresentados os riscos da
presença desse tipo de gás no solo e um estudo para solução desse problema que foi
empregado visando à mitigação dos riscos em edificações construídas em terrenos com
emanação de gás inflamável.

2. RISCOS DA PRESENÇA DE GÁS INFLAMÁVEL NO SOLO SUPERFICIAL

O surgimento de terrenos contaminados é marcado pelo modelo atual e pretérito de uso e


ocupação do território e de desativação de indústrias e aterro/lixões. Esse modelo

*
Autor correspondente – Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas, Insituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Avenida Professor
Almeida Prado,532, Butanta. 05.508-901 – São Paulo - SP - Brasil. Tel.: +55 11 3767 4649 Fax: +55 11 3767 4246. e-mail: marcelam@ipt.br

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comprometeu e, vem comprometendo, o ambiente natural e construído, resultando, em alguns


casos, em situação de risco à saúde e à segurança da população exposta [1].

Um composto que tem sido encontrado nesses tipos de terrenos é o gás metano (CH4), que é
um gás incolor, inodoro, não tóxico, porém inflamável, podendo ocasionar ambientes
explosivos, ou asfixiantes por deslocamento do oxigênio na atmosfera. As principais
preocupações associadas à geração e migração de metano a partir do solo em edificações são
sua inflamabilidade e explosividade.

Ambientes constituídos por metano em concentrações de 5 % a 15% em volume em ar


atmosférico são inflamáveis ou explosivos. Por outro lado, a acumulação de gás metano em
uma área fechada, pode resultar em um ambiente asfixiante, desde que desloque oxigênio
para concentrações inferiores a 18 % em volume de ar.

As fontes potenciais de gás metano incluem solos orgânicos naturais, ou antigos depósitos de
lixo em regiões de várzea, minas de carvão, matéria orgânica em decomposição, aterros
sanitários, pântanos e derramamento de combustível derivados do petróleo no solo.

O gás metano também pode ser transportado à superfície do solo subsuperficial dissolvido na
água ou puro. O metano dissolvido em água quando em contato com o ar migra da água para o
solo e deste para a atmosfera (Figura 1).

Migração Migração Situação de


incompleta de completa de emergência
vapores/gases vapores/gases
inflamáveis inflamáveis

Figura 1: Representação esquemática de três possíveis resultados conceituais para migração


em ambientes construídos de gases inflamáveis, como gás metano, presentes no solo
superficial e subsuperficial [2]

Gás metano, sendo inflamável, provoca risco pela possibilidade de intrusão nos edifícios, e
também pela sua possível acumulação sob as lajes de piso, em vazios provocados pela
subsidência do solo por efeito da colocação prévia do aterro de regularização na área [2].

Como exemplo, no município de São Paulo, citam-se áreas em que foi identificada a presença
de gás metano, onde necessitaram de intervenções, por exigência da Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo:

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i) o caso da USP Leste: a presença de metano no subsolo do terreno da USP Leste foi
documentada em 2005, em prospecções de baixa profundidade (0,5 e 1,0 m)
antes da construção dos edifícios;

ii) Shopping Center Norte: a área onde foi construído o shopping foi objeto de disposição
de resíduos sólidos de origem desconhecida, os quais não foram removidos e
serviram para aterrar a área durante a construção do shopping. Uma investigação
ambiental realizada em 2004 confirmou a presença e intrusão do gás metano
acima do limite inferior de inflamabilidade, caracterizando situação de risco em
diversas partes do terreno do shopping, e;

iii) Conjunto habitacional COHAB Heliópolis: a área onde foi implantado o conjunto
habitacional foi objeto de investigação em 2001, onde foi constado que ocorreu a
disposição inadequada de resíduos de diversas providencias, por longos anos.
Em 2009, foi detectada elevada concentração de gás metano em diversos pontos.

Em todos os casos relacionados anteriormente, diversas medidas de intervenção (é definida


pela ABNT como conjunto de ações a serem adotadas visando a reabilitação de uma área, que
objetive afastar o perigo advindo de uma área contaminada) e medidas complementares de
investigação foram adotadas nessas áreas, algumas das quais ainda se encontram em
processo de operação[3].

3. INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS PARA SOLUÇÃO DO PROBLEMA

A investigação do comportamento e do fluxo de contaminantes ou substâncias perigosas em


fase gasosa no solo subsuperficial, bem como de sua migração para a superfície ou para o
interior de ambientes construídos, inicia-se com uma adequada caracterização do gás ou vapor
no solo subsuperficial (solo situado abaixo de uma profundidade preestabelecida, desde que
limitada à profundidade de 1 m a partir da superfície do terrreno) e do solo superficial (intervalo
de solo compreendido desde a superfície do terreno até o limite do solo subsupercial)[3].

Entretanto, essa investigação possui grande complexidade associada à variabilidade espacial e


temporal que as “plumas” apresentam no interior do solo, em função, por exemplo, da ação das
bactérias produtoras, temperatura, pressão atmosférica, velocidade dos ventos na superfície do
terreno, pluviosidade etc.

A solução para essa questão, comumente engloba a implantação de tecnologias de mitigação


voltadas para intrusão de vapor em edifícios. Entretanto, no caso de gás ou vapor inflamável,
como vapor de líquidos combustíveis, o problema não se limita a ter que impedir sua entrada
na edificação, mas também de não permitir sua acumulação em eventuais espaços vazios em
subsuperfície, o que frequentemente pode ocorrer.

No presente trabalho, apresenta-se um estudo que foi conduzido pelo IPT na área da USP
Leste para a elaboração de diretrizes de intervenção visando à implantação de sistemas de
mitigação do risco em onze edificações do campus da universidade.

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Sondagens nessa área indicaram uma camada de aterro da superfície do terreno até
profundidades variáveis de cerca de 0,80 - 7,50 m, constituída de camadas fofas de areia fina
ou areia média argilosa de cor amarela a marrom ou cinza, intercaladas com camadas moles
de argila orgânica de cor cinza escura, com nível d’água natural do subsolo a cerca de 1,0 a
4,0 m de profundidade. Uma sondagem indicou a presença de uma camada de turfa preta
muito mole no interior da camada de aterro.

Abaixo do aterro, ocorrem camadas aluvionares alternadas de argilas orgânicas moles e areias
médias e finas argilo-siltosas fofas, a maioria de cor cinza escura, e amarela em alguns pontos.
Camadas de turfa preta, muito moles, ocorrem a profundidades e com espessuras variáveis.
Solos de cor cinza ou preta, de maneira geral são solos que contem matéria orgânica em maior
ou menor grau, e, estando localizados abaixo do lençol freático, são potencialmente produtores
de gás metano pela decomposição anaeróbia da matéria orgânica.

Devido a essas características do solo subsupercial da área, a presença do gás metano na


área, pode ser proveniente da matéria orgânica, presente, tanto nas possíveis camadas de
origem antrópica, oriundas de dragagem do rio Tietê, quanto nas camadas naturais
pertencentes aos depósitos aluviais quaternários, associados a esse rio.

Os sistemas de ventilação do superfical dos edifícios estudados e que foram propostos para
serem instalados na área visando mitigar os risco devido à emanaçao de gás metano,
constituiram-se, basicamente, da implantação ou utilização de uma camada de brita (em alguns
casos, previamente instalada, devido a obra de construção dos edificios) sob as lajes de piso,
interceptando as eventuais emanações de gás do solo. Pontos de extração por exaustores e
pontos de captação de ar atmosférico foram propostos para serem instalados no tapete de brita
perfurando-se as lajes de piso. A corrente de ar atmosférico efluente formada pelo sistema
ativado por centrífugas promoveria a condução do ar por tubulações para pontos acima do teto
dos edifícios.

A definição dos pontos de extração e captação de ar, assim como a diferença de pressão
necessária para ventilação dos tapetes foi desenvolvida com auxílio do software Visual
ModFlow, de acordo com as adaptações descritas na norma da American Society for Testing
and Materials - ASTM D5719-95 [4]. A taxa de substituição de volume de poros e a velocidade
do ar no tapete foram os parâmetros avaliados para aceitação da rede de fluxo [5].

A Figura 2 representa de forma esquemática o conceito dos sistemas de ventilação estudados.

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Atmosfera

Ponto
Ponto de de extração de ar Separador
captação de ar de gás/líquido
atmosférico
Edificação

Laje
Exaustor
Camada
de brita

Aterro de terraplanagem

Solo subsuperficial
Migração de gás T ubos geomecânicos com gás inflamável/explosivo
Rede de fluxo de ar
inflamável/explosivo subterrâneos drenantes

Figura 2: Representação conceitual dos sistemas de ventilação do subsolo em edificações


contendo gás inflamável/explosivo (metano)

O objetivo da proposição desses sistemas foi estabelecer uma rede de fluxo na camada de
brita, possibilitando sua ventilação, captando gás metano eventualmente emanado do solo
superficial e conduzindo-o para os pontos acima do teto dos edifícios, evitando não somente a
eventual intrusão, mas também o possível acúmulo desse gás sob a laje.

Para a avaliação do sistema, foi proposto a medição do fluxo de ar introduzido no sistema e a


medição do fluxo extraído, pois este último pode permitir avaliar a efetividade do sistema. A
calibração dos gases na saída do exaustor pode ser feita com a medição da velocidade do
fluxo ou com medidor de vazão volumétrico, ambos os aparelhos já comuns no mercado de
medição de vazão.

Outra etapa importante proposta na avaliação operacional dos sistemas foi à análise da
concentração de metano na saída do sistema e em pontos estratégicos sob o ponto de vista da
investigação ambiental no solo superficial, que permite verificar se esta havendo ou não aporte
de gás metano em poços de monitoramento instalados a 0,30 m de profundidade da laje de
piso e se há risco de explosão nas edificações.

4. CONCLUSOES

Investigações ambientais em terrenos são indispensáveis para avaliar se os solos com


características potenciais para produção de biogás (como gás metano) ou com contaminantes
ou substâncias perigosas podem causar risco à saúde humana ou, de maneira geral, aos bens
a proteger [6]. Cofirmado o risco, soluções que possibilitem a mitigação desses riscos devem
ser implementadas de maneira a garantir a segurança dos bens a proteger. Os estudos dos
sistemas de ventilação do supercial permitiram criar um conceito consistente de intervençao
utilizando sistemas que podem impedir a intrusão e o acúmulo de gás inflmável no subsolo
(abaixo da laje de piso) e, assim sendo, mitigar os riscos causados pela emanação de gás
inflamavel presentes, principalmente, no solo superficial.

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5. REFERÊNCIAS

[1] Günther W. M. R. – Áreas Contaminadas no Contexto da Gestão Urbana, São Paulo em


Perspectiva, v. 20, n.2, 2006, p. 105-117.
[2] ITRC (Interstate Technology & Regulatory Council) – Petroleum Vapor Intrusion:
fundamentals of Screening, Investigation, and Management, Guindance Document,
Interstate Technology & Regulatory Council, Petroleum Vapor Intrusion Team,
Washington, DC, 2014, 388 p.
[3] ABNT NBR (Associação Brasileira de Normas Técnicas) – 16209:2013: Avaliação de
Risco a saúde humana para fins de gerenciamento de áreas contaminadas, Rio de
Janeiro, RJ, 2013, 45p.
[4] ASTM International (American Society for Testing and Materials) – D5719-13: Standard
Guide for Simulation of Subsurface Airflow Using Groundwater Flow Modeling Codes,
American Society for Testing and Materials, United States, 2013, 5 p.
[5] USACE (United States Army Corps of Engineers) – Engineering and Design: Soil Vapor
Extraction and Bioventing, United States Army Corps of Engineers, Department of the
Army, Washington, 2002, 424 p.
[6] CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 420, de 28 de dezembro de
2009. Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à
presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento
ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades
antrópicas. Diário Oficial da União, Brasília, 30 dez. 2009. p. 81-84.

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TRAJES PARA COMBATE A INCÊNDIOS E O CONFORTO TÉRMICO: UM


ESTUDO COMPARATIVO

Cristiano Corrêa José Júnior Bezerra José J. Rêgo Silva


Corpo de Bombeiros Militar Corpo de Bombeiros Militar Universidade Federal de
de Pernambuco de Pernambuco Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Tiago A. C. Pires Hellykan Berlie Roberto R. de Menezes


Universidade Federal de Universidade Federal de Corpo de Bombeiros Militar
Pernambuco Pernambuco de Pernambuco
Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil Recife - PE, Brasil

Palavras-chave: Equipamentos de Proteção Individual; Trajes de Combate a Incêndios;


Proteção em Incêndios.

1. INTRODUÇÃO

A atividade de combate aos incêndios remonta a própria conquista do controle e manipulação


do fogo, sendo imprecisa a origem exata da função de Bombeiro[1], contudo inegavelmente os
profissionais que se dedicam a tal função, além de ferramentas e treinamento, necessitam de
trajes protetivos adequados[2][3], haja vista que fluxo de calor e temperatura são duas das
caracterisiticas do incêndio que influenciam diretamente na saúde dos bombeiros (Lawson,
2009). O desenvolvimento destes trajes tem sido matéria de pesquisas e estudos, no
aperfeiçoamento dos seus processos produtivos e adaptabilidade do seu uso, as diversas
condições extremas vivenciadas em incêndios [4].

Muitos são os fabricantes de trajes de combate a incêndio e inúmeros os modelos, porém no


Brasil dois grandes grupos podem ser vistos. O primeiro de origem ou estilo ‘Americano’,
baseado nos trajes utilizados na América do Norte e o segundo de estilo ‘Europeu’, refletindo
os trajes em uso na Europa Ocidental, sobretudo.

Existe então uma necessidade de se optar por um destes estilos (Americano ou Europeu),
sendo o conforto térmico uma característica primordial para esta escolha. Então visando
comparar com números reias a diferença de ambos os trajes, o artigo apresenta os resultados
preliminares de ensaios de ‘incêndio real’, repetido por 04 (quatro) vezes, em um mesmo
ambiente físico, com a mesma carga-incêndio e com procedimento análogo, onde em duas
oportunidades os bombeiros trajavam um dos dois ‘tipos de trajes’. Foram monitoradas as
temperaturas no ambiente e no traje (interna e externamente) dos bombeiros, através de
termopares tipo K, buscando analisar as qualidades protetivas, quanto a transmissão térmica,
dos dois estilos de vestimenta, comparando-se os resultados ao final.

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2. METODOLOGIA

A comparação do conforto térmico, de trajes de proteção, em ensaio de ‘incendio real’ no Brasil


ainda não é normatizado. Buscando-se inspiração no trabalho de Braga e autores[4], quanto a
forma da colocação dos termopares, distância aproximada entre o bombeiro e o foco do
incêndio, tecnologia de aferição e processamento. Destaca-se que as estruturas (conteiner e
sala em alvenaria) usadas respectivamente no trabalho de referência e no estudo ora
apresentado, diferem consideravelmente. A opção por uma edificação com paredes divisórias
em alvenaria de tijolo cerâmico, advém da escolha pela natureza construtiva mais atingida
pelos incêndios no estado de Pernambuco e mais especificamente a cidade do Recife [6],
Brasil, ambiência do estudo.
O foco de incêndio foi montado com combustível classe A, mais precisamente madeira mista
obtida de desmonte de um palete e meio, no vértice inferior esquerdo de uma das salas da
‘Casa de Fogo’ do Centro de Instrução do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco,
conforme se vê a seguir:

Figura 1 – Imagens da Casa de Fogo onde foram realizados os ensaios.


Foto: Edmir Nicácio Lopes Junior

Na imagem central da figura 1, fica visivel a estrutura interna do local onde ocorre a queima. O
piso é em argamassa de cimento, as paredes em alvenaria de meia vez chapiscadas, o teto em
laje nervurada com blocos cerâmicos não revestidos, e a janela e a porta são em chapa de
aço. O ambiente apresenta algumas patologias tais como, chapisco soltando das paredes e
blocos ceramicos da laje degradados. Esses danos se devem principalmente às diversas
instruções de combate a incêndio realizadas na edificação, na maioria das vezes utilizando
combustiveis classe B, como oleo diesel e gasolina, os quais apresentam liberação de calor
consideravelmente superior aos de classe A durante a combustão .

Observa-se que foram postas duas hastes metálicas fixadas em bases cilindricas de concreto,
dotadas de dois termopares tipo K, afixados as alturas de 0,6 e 1,2 metros, medido a partir do
solo, em cada haste. O objetivo era medir as temperaturas no ambiente de incêndio,
especificamente a 1,5 metros de distância do foco inicial conforme figura 2. Na parte externa da

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sala foram montados os equipamentos destinados ao processamento dos dados medidos, tais
como datalog e computador.

Figura 2 – Croqui do local dos experimentos.


Fonte: Autor.

Cada traje foi utilizado em dois ensaios semelhantes, cada seção de incêndio natural durou
aproximadamente 12 minutos efetivos, e em seguida a equipe de apoio, formada por dois
bombeiros devidamente equipados, entrou no ambiente e iniciou o combate com uso de água
pressurizada por bombas, extinguindo em seguida o foco.

Destaca-se que para ofertar a maior similaridade possível entre os ensaios, os trajes eram
usados em sequência alternada e da forma indicada em seus respectivos manuais. Sendo os
trajes testados o de estilo europeu, dotado de apenas uma camada de proteção e, portanto,
inexistência de camada de ar isolante entre as peças, ao passo que o de estilo Americano,
possui duas camadas. Ambos podem ser vistos nas figura 3 e 4 respectivamante . São listados
na tabela 1 algumas caracterisiticas de ambos os trajes..

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Tabela 1: Caracteristicas dos trajes utilizados no experimento.


Peso (casaco
Traje especificação
+ calça)
Casaco e calça para combate a incêndio estrutural, com camada
externa em fibra meta-aramida, película de PTFE
(politetrafluoretileno) com substrato não tecido em para-aramida e
Europeu 3,4 kg
laminado com filme respirável e PTFE resistente ao sangue, e
barreira térmica em manta com fibras mistas de para-aramida e
meta-aramida, com forro de viscose e fibras em matelasse.
Conjunto de calça e casaco para combate a incêndio com
modelagem tradicional, confeccionado com a camada externa em
America
5,3 kg tecido Thermex T com 60% para-aramida e 40% meta-aramida,
no barreira de umidade respirável e barreira térmica dupla em tecido
e feltro de meta aramida, viscose e modacrilico fr.

Figura 3 – Traje Europeu de combate a incêndio..


Foto: Autor

Figura 4 – Traje americano de combate a incêndio..


Foto: Autor

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O bombeiro encontrava-se a 3,0 metros do foco principal, trajando o equipamento de proteção


individual para combate a incêndio, composto de: Capacete, balaclava ou capuz, capa ou
jaqueta, calça com suspensórios, e botas, além da indispensável proteção respiratória
composta por mascara e cilindro com ar comprimido. Foram colocados seis termopares no traje
do bombeiro (capacete externo, capacete interno, peito externo, peito interno, coxa externa e
coxa interna), também seguindo os ensaios descritos por Braga [4], excetuando apenas a
aferição do ombro realizada no trabalho referenciado, conforme se vê na figura 4. Algumas
tentativas de medição foram frustadas, devido principalmente a fallhas na conexão entre os
termopares e o datalog e também devido a dificuldade em fixar os termopares nos trajes,
sobretudo na parte interna.

As temperaturas medidas nos termopares eram devidamente processadas pelos datalogs


pertencentes ao departamento de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco, e
armazenadoss no computador no formato de arquivo xls.
A cada experimento, apos a extinção do foco de incêndio correspondente, era realizada a troca
do bombeiro, a fim de evitar evitar um desgaste físico excessivo do mesmo. A tabela 2 mostra
um resumo das condições que ocorreram cada um dos quatro experimentos, desde o traje do
utilizado pelo militar no ambiente, até a forma adotada pela equipe para a extinção das chamas

Tabela 2: informações dos quatro experimentos utilizando ambos os trajes de combate a


incêndio.
Entrada do Jato
Extinção
Traje Capacete bombeiro/inicio
das chamas Tipo Duração/qtde
da medição
Europeu Gallet 14:52h 15:06h sólido 8 seg.
Europeu Gallet 15:53h 16:05h neblina 10 seg.
Americano Americano 16:23h 16:33h atomizado 15 pulsos
Americano Americano 16:46h 16:57h neblina 20 seg.

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Figura 4 – Imagem do Bombeiro ‘instrumentado’ para o ensaio.


Fotos: Edmir Nicácio Lopes Junior

3. RESULTADOS

Foi aferido, durante os quatro ensaios válidos (dois com cada traje), que as temperaturas
máximas nas hastes (1,5 m de distância do foco) variaram de 487º a 598º C, apresentando
uma variação compatível com a condição de ‘incêndio natural’. Os picos de temperatura no
ambiente estiveram sempre entre o terceiro e o quinto minuto, após o início das chamas.
Quanto a comparação do conforto térmico, o traje de estilo europeu teve um desepenho
inferior ao traje de estilo americano (com a camada de ar entre os tecidos), estando a
representação gráfica a seguir (figura 5) coadunada com esta assertiva:

Figura 5 – curvas Temperatura x tempo para termopar fixado na parte interna do trajes.
Fonte: Autor.

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4. CONCLUSÕES

A comparação dos tipos de traje apontaram que o ‘americano’ é mais adequado para o
combate aproximado que o ‘europeu’, tendo por único parâmetro o conforto térmico, sendo
esta conclusão fruto das aferições nos trajes, com destaque para os termopares afixados na
altura da coxa, ponto mais próximo do foco na posição de combate a três pontos, adotada no
ensaio.

Vê-se uma diferença de seis a oito gráus entre ambos, em boa parte do intervalo de maior
termicidade (50 a 300 segundos), para a aferição do termopar que encontrava-se na altura da
coxa, na parte interna do traje.

Destaca-se que com o traje de estilo europeu, chegou (especificamente na coxa) a


temperaturas junto a pele de 46 º C, muito próximo ao indicado por Lawson[2] 48 º C, para que
o bombeiro tivesse queimaduras de primeiro grau.

Os estudos nesta área apenas principiam no Brasil, sendo este um ensaio que pode ser
repetido e aprofundado em pesquisas futuras.

5. REFERÊNCIAS

[1] Silva, J. N.; Jesus, B. C. O.S.. Os incêndios nas páginas dos jornais: relatos de casos
e o corpo de bombeiros no Rio de Janeiro oitocentista. XII Encontro Regional da
ANPUH-Rio. Rio de Janeiro, RJ: XII Anais do XII Encontro Regional da ANPUH-Rio, 2010.
[2] Lawson, J. R.; Mell, W. E.; Prasad, K.. A Heat Transfer Model for Firefighters’
Protective Clothing, Continued Developments in Protective Clothing Modeling. Fire
technology, v. 46, n. 4, 2010, p. 833-841
[3] Svesson, S., Reducing fire fighter fatalities – the knowledge based approach,
Reducing Firefighter Deaths and Injuries: Changes in Concept, Policy, and Practice Virtual
Symposium, 2008.
[4] Braga, G. C.; Lisboa Neto, J.P; Salazar, Helder de Farias. A Temperatura e Fluxo de
Calor em uma situação de Incêndio e as consequências para os Bombeiros. Revista
Flammae, v.2, n.4, 2016, p.09-28
[5] Corrêa, C.; Rêgo Silva, J. J.; Pires, T. A.; Braga, G.C. Os Incêndios em Pernambuco:
um estudo comparativo com os padrões mundiais. Revista Flammae, v.1, n.2, 2015,
p.08-27.
[6] Corrêa, C.; Rêgo Silva, J. J.; Pires, T. A.; Braga, G.C. Mapeamento de Incêndios em
Edificações: Um estudo de caso na cidade do Recife. Revista de Engenharia Civil
IMED, vol. 2, nº. 3, 2015, p. 15-34.
[7] PRASAD, Kuldeep; TWILLEY, William; LAWSON, J. Randall. Thermal Performance of
Fire Fighters’ Protective Clothing. 1. Numerical Study of Transient Heat and Water
Vapor Transfer. National Institute of Standards and Technology, Gaithersburg, MD, 2002.
[8] BARR, David; GREGSON, Warren; REILLY, Thomas. The thermal ergonomics
of firefighting reviewed. Applied ergonomics, v. 41, n. 1, p. 161-172, 2010.
[9] QUINTAL, Pedro Emanuel da Silva. In: Caracterização do stresse térmico no
combate a incêndios e avaliação de sistemas de arrefecimento individual.
2012.

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UNIVERSIDADE CORPORATIVA: UM MODELO DE EXCELÊNCIA PARA O


SISTEMA DE ENSINO BOMBEIRO MILITAR

André T. Campos* Lisandro P. dos Santos


Ten-Cel. do Corpo de Ten-Cel. do Corpo de
Bombeiros Militar do Bombeiros Militar do Distrito
Distrito Federal, Brasil Federal, Brasil

Palavras-chave: Educação corporativa. Gestão de pessoas. Gestão do conhecimento.


Universidade corporativa.

1. INTRODUÇÃO

Estudo de um consórcio de empresas constatou que, independentemente do nível educacional,


apenas em metade das empresas os novos funcionários possuíam a preparação adequada para
o trabalho [1]. Essa realidade permeia a atividade de bombeiro de forma ainda mais incisiva, pois
são raros os cursos superiores de engenharia de proteção contra incêndios ou de emergências
pré-hospitalares ou ainda de defesa civil, por exemplo, nas instituições de ensino superior
tradicional. Diante disso, os corpos de bombeiros do Brasil têm como uma de suas atribuições a
profissionalização de seus integrantes. O ensino bombeiro militar busca superar o descompasso
entre o conhecimento ensinado nas escolas tradicionais e as competências exigidas para o
desempenho da profissão. A presente pesquisa traz uma análise do clima organizacional para
implementação do modelo de universidade corporativa no Corpo de Bombeiros Militar do Distrito
Federal (CBMDF), com vistas a obter reconhecimento do sistema de ensino vigente e a dar maior
legitimidade e cientificidade às atividades de bombeiro militar, especialmente as de segurança
contra incêndio.

O modelo de universidade corporativa (UC) permite organizar as ações educacionais num


sistema integrado e coeso, cuja finalidade é promover o desenvolvimento das competências
necessárias ao atingimento das metas estratégicas da organização [2,3,4,5,6]. Desse modo, a
UC contribui sobremaneira para estabelecer um todo coerente e inter-relacionado de gestão

*
Autor correspondente – Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Quartel do Comando Geral do CBMDF. SAM Lote D Modulo E - CEP 70620-000
- Brasília - DF - Brasil. Tel.: +55 61 3901 8601. e-mail: andretelles@unb.br

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pública orientada para resultados com foco no cidadão, relacionando gestão de pessoas por
competências e gestão do conhecimento [7,8].

A valorização do capital intelectual passou, com o advento da sociedade do conhecimento, a ser


fonte de vantagem competitiva. Somente sobrevivem às constantes mudanças deste mundo
extremamente complexo e interconectado as organizações que aumentam sua capacidade de
aprender mais rápido [9]. Nessa linha, sobrevêm as metodologias que vão além da aprendizagem
individual, passando à aprendizagem em nível organizacional. Aprendizagem essa que incentiva
a colaboração e adota ferramentas de gestão do conhecimento (GC) para gerar valor por meio
da inovação [10,11,12,13].

2. MODELO DE UNIVERSIDADE CORPORATIVA

O termo universidade corporativa refere-se a um “guarda-chuva estratégico para desenvolver e


educar funcionários, clientes, fornecedores e comunidades, a fim de cumprir as estratégias
empresariais da organização” [2]. Dentro dessa visão, a universidade corporativa estende seus
serviços ao público externo, cobrindo toda sua cadeia de valor e também estabelece parcerias
com instituições de ensino tradicional, o que culmina com o aproveitamento de créditos e outorga
de diplomas reconhecidos [14].

As universidades corporativas vão além dos treinamentos meramente reativos e voltados ao


desenvolvimento de habilidades técnicas imediatamente necessárias ao trabalho. Elas envolvem
também o conhecimento de valores e crenças da organização e o desenvolvimento das
competências essenciais do negócio. Os cursos são oferecidos em bases modulares com
aproveitamento de créditos aos moldes da sistemática universitária acadêmica [4].

O Treinamento e Desenvolvimento (T&D) tradicional é focado no treinar enquanto que a


educação corporativa promove a vantagem competitiva organizacional a partir da educação do
trabalhador do conhecimento. A transição do T&D tradicional para o modelo de universidade
corporativa envolve os seguintes aspectos: saída do espaço físico do treinamento local para a
situação de aprendizagem em qualquer hora e em qualquer lugar; valorização da aprendizagem
por meio da ação (em vez de aprender ouvindo); substituição dos treinamentos ocasionais pela
educação continuada [15].

3. MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa utilizou questionários com itens baseados em duas escalas validadas


psicometricamente, a de crenças sobre o treinamento e a de suporte à transferência de
treinamento [16,17]. A escala de crenças sobre o treinamento permite diagnosticar como a
educação corporativa é vista pelas pessoas. Além disso, possibilita que a organização gerencie
tais aspectos com intervenções de reforço das crenças favoráveis e de reconfiguração daquelas
desfavoráveis. Essa escala é composta por 34 itens, sendo 19 relativos a contribuições do
treinamento para o indivíduo e para a organização (resultados de longo prazo), 8 quanto às
necessidades de treinamento e outros 7 abordando os processos, procedimentos e resultados

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imediatos do treinamento. A escala é do tipo Likert de 10 pontos, desde 1 correspondendo a não


acredito até 10, acredito totalmente [17].

Complementando a escala de crenças, o estudo aplicou conjuntamente itens da escala de


suporte à transferência de treinamento. A medida de suporte à transferência de treinamento
permite investigar porque novas habilidades aprendidas em programas de Treinamento,
Desenvolvimento e Educação (TD&E) não são aplicadas no trabalho. O questionário, em escala
tipo Likert de 5 pontos, capta a opinião do participante a respeito do nível de apoio fornecido pelo
ambiente à participação em atividades de treinamento e ao uso eficaz, no trabalho, das novas
habilidades adquiridas. No presente caso, os participantes responderam 9 itens referentes aos
fatores situacionais de apoio, os quais permitem avaliar o apoio gerencial, social (do grupo de
trabalho) ou organizacional à transferência de treinamento nos cursos de carreira (formação,
aperfeiçoamento e altos estudos) [16].

O instrumento de pesquisa foi aplicado ao contingente total do CBMDF, 5.718 (cinco mil,
setecentos e dezoito) bombeiros militares, no período de 6 de agosto a 23 de setembro de 2016.
O questionário eletrônico foi enviado por email corporativo aos bombeiros militares cadastrados.
O quantitativo de respostas válidas resultou em uma amostra de tamanho 𝑛 = 204, com margem
de erro relativo de 5% e grau de confiança de 95% para as estimativas da média populacional a
partir do desvio padrão amostral. Essa margem de erro (relativo) equivale a um erro absoluto de
0,17 nas questões com escala de 1 a 5 e de 0,35 naquelas com escala de 1 a 10 [18,19,20].

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Perfil dos respondentes

Do total de respondentes dos questionários, 89% foi de homens (181) e 11% de mulheres (23).
A média de idade foi de 41,4 anos. O tempo de serviço na corporação da maior parcela dos
respondentes, 41%, ficou entre 21 e 25 anos. Ampla maioria declarou ter curso de graduação,
46%, ou de especialização, 42%.

Quanto ao tempo decorrido desde a última capacitação realizada na corporação, 45% indicaram
ter cursado há menos de um ano. Uma grande parcela, 29%, cursou pela última vez entre um
ano e três anos atrás. Aproximadamente ¼ dos respondentes participou de algum programa de
capacitação no CBMDF há mais de 3 anos. Ou seja, quando perguntados “Quando foi sua última
capacitação pelo CBMDF?”, 55% dos entrevistados responderam que não realizam uma
capacitação há, pelo menos, um ano. Tudo conforme figura 1.

4.2 Crenças no sistema de ensino

A escala de crenças sobre o treinamento é composta por 3 fatores. O primeiro fator da escala,
contribuições do treinamento para o indivíduo e para a organização, retrata o componente de
resultados a longo prazo do modelo de avaliação integrado e somativo (MAIS) [21]. A avaliação
desses itens, conforme tabela 1, reforça a crença de que os programas de TD&E contribuem

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para o desempenho tanto individual quanto organizacional, gerando um clima organizacional


mais favorável à obtenção de resultados pelas equipes de trabalho.

Figura 1: Gráfico do tempo decorrido desde a última capcitação

O item com a maior média, 8,78, revela a importância de cursos e treinamentos para a melhoria
dos processos de trabalho do CBMDF, na percepção dos participantes. Os respondentes
apontaram receptividade às diversas modalidades de educação corporativa (a distância,
presencial e no local de trabalho), média 8,17. Ao mesmo tempo, destacaram a importância das
trocas de experiências para o processo de aprendizagem, média 8,44. Os itens com notas mais
baixas dizem respeito à necessidade de tornar os cursos mais aplicáveis à realidade das
pessoas, média 6,60. Esse sentimento é reforçado pelas médias mais baixas quando se fala de
alinhamento estratégico (6,72) e fortalecimento dos valores essenciais da corporação nos
programas de TD&E (6,95).

O segundo fator da escala de crenças traz informações acerca do levantamento das


necessidades de treinamento. As médias nesses itens apontam necessidades de melhoria nesse
aspecto, especialmente quanto ao processo de seleção para os cursos, conforme tabela 2.
Quase um terço dos entrevistados deu notas 1 e 2 para a seguinte afirmação: “Na indicação para
cursos e treinamentos, considera-se mais a necessidade de aprender do que os relacionamentos
interpessoais”. Quando questionados se os gestores são capazes de identificar adequadamente
as necessidades de treinamentos de seus subordinados, apenas 10% responderam com notas
9 ou 10.

Apesar de apontar a divulgação dos cursos como elemento facilitador da escolha mais adequada
às suas necessidades, os participantes sentiram falta de informações suficientes sobre os
cursos, média 5,60. Deram resposta próxima da neutra também quanto à facilidade para escolher

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os cursos mais apropriados, média 5,67. Uma oportunidade de melhoria surge, então, no que
tange à divulgação dos programas de treinamento.

Tabela 1: Contribuições do treinamento para o indivíduo e para a organização


Assertiva Média
O trabalho das pessoas se torna mais fácil de ser realizado depois da participação em
cursos e treinamentos. 7,88
A aplicação no trabalho dos conteúdos aprendidos em treinamentos torna os resultados
melhores 8,32
Os cursos e treinamentos contribuem para o melhor funcionamento das equipes de
trabalho. 8,41
Cursos e treinamentos podem melhorar os processos de trabalho do CBMDF. 8,78
Cursos e treinamentos contribuem para a concretização dos objetivos do CBMDF. 8,41
Participar de cursos e treinamentos propicia o aperfeiçoamento do desempenho das
pessoas. 8,68
Os cursos e treinamentos contribuem para a autorrealização das pessoas. 7,84
Os cursos e treinamentos contribuem para a criação de novos valores organizacionais. 8,23
A participação em cursos e treinamentos é fundamental para o crescimento na carreira. 8,16
A participação em cursos e treinamentos gera mais vantagens do que desvantagens
para as pessoas. 8,28
Os cursos e treinamentos auxiliam na criação de um clima organizacional mais
favorável. 8,09
O CBMDF vem tornando os cursos e treinamentos cada vez mais aplicáveis à realidade
de trabalho das pessoas. 6,60
Os valores essenciais do CBMDF são fortalecidos pelos cursos e treinamentos. 6,95
Quanto mais diversificadas as oportunidades de treinamento (a distância, em sala de
aula, no local de trabalho) melhor é atendida a necessidade de capacitação do CBMDF. 8,17
Os treinamentos estão alinhados à estratégia organizacional do CBMDF. 6,72
As trocas de experiências em sala de aula facilitam o processo de aprendizagem. 8,44
Os conteúdos abordados em cursos e treinamentos podem ser aplicados no trabalho. 8,10
Os cursos e treinamentos modificam a forma como as pessoas desenvolvem suas
atividades. 8,09
A divulgação dos treinamentos em diversos meios facilita a escolha pelos funcionários
dos cursos mais adequados às suas necessidades. 8,25

Outros dois itens que podem ser reforçados estão relacionados com a premiação (média 6,23) e
o autodesenvolvimento (iniciativa pessoal, média 6,56). As pessoas numa organização precisam
sentir que o autodesenvolvimento vale mais a pena do que permanecer estagnado, o que se
alcança com uma gestão de pessoas por competências efetiva.

As assertivas do terceiro fator da escala de crenças tratam do treinamento em si, da vivência que
as pessoas experimentam quando participam dos cursos e da aprendizagem decorrente dessa
experiência. Os resultados apontam no sentido de reconhecimento da qualidade da atividade

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docente. Contudo, os participantes se ressentem de maior adequação dos cursos à realidade


vivenciada nas situações de trabalho, conforme tabela 3.

Tabela 2: Levantamento das necessidades de treinamento


Assertiva Média
O CBMDF é capaz de identificar as reais necessidades de qualificação dos funcionários. 5,53
Participam de cursos e treinamentos os funcionários que realmente precisam. 4,57
Na indicação para cursos e treinamentos, considera-se mais a necessidade de
aprender do que os relacionamentos interpessoais. 4,86
Os gestores são capazes de identificar adequadamente as necessidades de
treinamento de seus funcionários. 5,05
As pessoas do meu local de trabalho têm informações suficientes sobre os cursos e
treinamentos da Corporação. 5,60
No meu local de trabalho, as pessoas participam de treinamentos mais pela
necessidade de desenvolver novas habilidades do que por premiação. 6,23
Iniciativa pessoal para participar de cursos e treinamentos conta muito na Corporação. 6,56
É fácil para as pessoas escolherem os cursos e treinamentos mais apropriados às suas
necessidades. 5,67

O quesito com média mais alta, 7,33, diz respeito à qualificação dos instrutores. Também exibe
média acima de 7,0 o item sobre aprendizagem dos conteúdos. No entanto, em relação à
facilidade de aplicação dos conteúdos no ambiente de trabalho e a efetiva aplicação do que
aprenderam nos cursos, as respostas apresentam notas mais baixas, médias de 6,09 e 6,60.

Tabela 3: Procedimentos, processos e resultados imediatos do treinamento


Assertiva Média
As pessoas aprendem os conteúdos abordados nos cursos e treinamentos. 7,11
As pessoas utilizam no trabalho o que aprenderam nos cursos e treinamentos. 6,60
É fácil aplicar novas aprendizagens no meu local de trabalho. 6,09
As pessoas se sentem à vontade quando estão participando de cursos e treinamentos. 6,41
Os alunos levam realmente a sério as atividades de cursos e treinamentos. 6,89
Os cursos e treinamentos mostram uma realidade semelhante à vivenciada pelos
bombeiros na situação de trabalho. 6,19
Os instrutores são qualificados para ministrar os cursos e treinamentos. 7,33

4.3 Fatores situacionais de apoio

Este conjunto de assertivas, com 9 itens, capta a opinião do participante a respeito do nível de
apoio organizacional à transferência de treinamento, isto é, o apoio fornecido pelo ambiente à
participação em atividades de treinamento e ao uso eficaz, no trabalho, das novas habilidades
adquiridas. Os itens dos fatores situacionais estão ligados a oportunidades e ao apoio da chefia
imediata à aplicação das novas aprendizagens no trabalho e as notas variam de 1 a 5.

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As notas obtidas nesta parte da avaliação indicam que o ambiente corporativo não está
favorecendo a aplicação das competências adquiridas nos cursos. O item com a média geral
mais baixa, conforme tabela 4, indica que as chefias não se empenham na identificação e
remoção dos obstáculos à aplicação das novas habilidades no serviço.

Os respondentes não se ressentem de falta de tempo para aplicar o que aprenderam nos cursos
no ambiente de trabalho. Assim como não acreditam que os prazos de entrega das missões
inviabilizem o uso das habilidades aprendidas nos cursos. Ou seja, as chefias precisam exigir
mais de suas equipes no sentido de criar oportunidades para aplicação das novas competências
adquiridas. Esses resultados coadunam com a literatura, que recomendam um certo senso de
urgência, um nível de caos criativo, para que as equipes deem o melhor de si.

Tabela 4: Fatores situacionais de apoio


Assertiva Média
Tenho tido oportunidades de usar no meu trabalho as habilidades que aprendi no curso. 3,16
Falta-me tempo para aplicar no trabalho o que aprendi no curso. 2,60
Os objetivos de trabalho estabelecidos pelo meu chefe encorajam-me a aplicar o que
aprendi no curso. 2,77
Os prazos de entrega de trabalhos inviabilizam o uso das habilidades que eu aprendi
no curso. 2,87
Tenho tido oportunidades de praticar habilidades importantes (recém-adquiridas no
curso), mas, comumente, pouco usadas no trabalho. 2,85
Os obstáculos e dificuldades associados à aplicação das novas habilidades que adquiri
no curso são identificados e removidos pelo meu chefe. 2,39
Tenho sido encorajado pela minha chefia imediata a aplicar, no meu trabalho, o que
aprendi no curso. 2,51
Meu chefe imediato tem criado oportunidades para planejar comigo o uso das novas
habilidades. 2,60
Eu recebo as informações necessárias à correta aplicação das novas habilidades no
meu trabalho. 2,65

5. CONCLUSÕES

A avaliação do sistema de ensino do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal reforça a


crença de que os programas de TD&E contribuem para o desempenho tanto individual quanto
organizacional. No entanto, a atratividade das ações educacionais e o apoio da chefia para
aplicação das competências adquiridas ainda são percebidos em nível baixo. Esses resultados
abrem espaço para um processo de melhoria do modelo adotado. Projetando, assim, o CBMDF
para um novo patamar de excelência nos serviços educacionais prestados e aumentando sua
capacidade de adaptação e inovação por meio de uma universidade corporativa.

A área de ensino somente é alçada ao nível estratégico da organização quando contribui para a
melhoria do desempenho e o alcance dos resultados organizacionais. Esses resultados são
obtidos na medida em que ocorre o alinhamento das ações educacionais com a estratégia

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corporativa. A educação corporativa deve vir acompanhada de um modelo de gestão de pessoas,


o qual precisa reforçar os benefícios do aprendizado organizacional. Desse modo, a universidade
corporativa, que é um modelo de TD&E que promove a criação de uma cultura de aprendizagem
contínua e de autodesenvolvimento nos colaboradores de uma organização, apresenta um
propósito bem determinado: desenvolver as competências necessárias para atingir os objetivos
estratégicos da organização. Nesse sentido, a análise do clima organizacional no CBMDF indica
a viabilidade de implantação de uma universidade corporativa como forma de alavancar seu
sistema de ensino.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CBMDF e à Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz


Social do Distrito Federal pelo apoio à pesquisa.

7. REFERÊNCIAS

[1] NOE, R. A. Treinamento e desenvolvimento de pessoas: Teoria e prática. 6. ed. Porto


Alegre: AMGH, 2015.
[2] MEISTER, J. C. Educação corporativa: A gestão do capital intelectual através das
universidades corporativas. São Paulo: Pearson Makron Books, 1999.
[3] ALLEN, M. What is a corporate university, and why should an organization have one?
In: ALLEN, M. (Ed.). The corporate university handbook: designing, managing, and growing
a successful program. New York: Amacom, 2002.
[4] ALPERSTEDT, C. Universidades corporativas: discussão e proposta de uma definição.
Revista de Administração Contemporânea, v. 5, n. 3, p. 149–165, 2001.
[5] EBOLI, M. Educação corporativa no Brasil: Mitos e verdades. São Paulo: Editora Gente,
2004.
[6] VARGAS, M. R. M.; ABBAD, G. da S. Bases conceituais em treinamento,
desenvolvimento e educação - TD&E. In: BORGES-ANDRADE, J. E.; ABBAD, G. da S.;
MOURÃO, L. (Eds.). Treinamento, Desenvolvimento e Educação em Organizações e
Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 137–158.
[7] CARBONE, P. P. et al. Gestão por competências e gestão do conhecimento. 3. ed. Rio
de Janeiro: Editora FGV, 2009.
[8] OLIVEIRA, L. P. de. Gestão do conhecimento na universidade corporativa do Banco
do Brasil. Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, Brasília:
Dissertação (Mestrado), 2014.
[9] SENGE, P. M. A quinta disciplina: Arte e prática da organização que aprende. 28. ed. Rio
de Janeiro: BestSeller, 2012.
[10] NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro:
Elsevier, 1997.
[11] DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial: Como as organizações
gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

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[12] FREIRE, A. C.; LIMA, T. A utilização de comunidades de prática no processo de


educação corporativa. In: RICARDO, E. J. (Ed.). Gestão da educação corporativa. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. p. 35–50.
[13] BATISTA, F. F. Modelo de Gestão do Conhecimento para a Administração Pública
Brasileira: como implementar a gestão do conhecimento para produzir resultados em
benefício do cidadão. Brasília: Ipea, 2012.
[14] SANTOS, A. C.; ZAMBALDE, A. L.; BRITO, M. J. de. Universidade corporativa: Uma
estratégia de educação corporativa da Polícia Militar. In: Anais do XXVI Congresso da SBC.
Anais... Campo Grande: 2006
[15] RICARDO, E. J. A educação do trabalhador do conhecimento. In: RICARDO, E. J. (Ed.).
Gestão da educação corporativa. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. p. 3–12.
[16] ABBAD, G.; SALLORENZO, L. H. Desenvolvimento e validação de escalas de suporte
à transferência de treinamento. Revista de Administração da USP - RAUSP, v. 36, n. 2,
p. 33–45, 2001.
[17] FREITAS, I. A. de; BORGES-ANDRADE, J. E. Construção e validação de escala de
crenças sobre o sistema treinamento. Estudos de Psicologia (Natal), v. 9, n. 3, p. 479–
488, 2004.
[18] ROSS, S. Probability and statistics for engineers and scientists. 4. ed. Burlington:
Elsevier Academic Press, 2009.
[19] MONTGOMERY, D. C.; RUNGER, G. C. Applied statistics and probability for engineers.
6. ed. New Jersey: Wiley, 2014.
[20] STEVENSON, W. J. Estatística aplicada à administração. São Paulo: Harbra, 2001.
[21] BORGES-ANDRADE, J. E. Avaliação integrada e somativa em TD&E. In: BORGES-
ANDRADE, J. E.; ABBAD, G. da S.; MOURÃO, L. (Eds.). Treinamento, Desenvolvimento e
Educação em Organizações e Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 343–358.

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VELOCIDADE DE CAMINHAMENTO DE CRIANÇAS EM ESCADAS E


TRECHOS PLANOS COLETADAS EM SIMULADOS DE ABANDONO

Rosaria Ono Marcos V. Valentim


Professora Doutorando
Universidade de São Universidade de São
Paulo - Brasil Paulo - Brasil

Palavras-chave: Simulados de abandono, saídas de emergência, meios de escape, rotas de


fuga, velocidade de caminhamento

1. INTRODUÇÃO

Os estudos de autores consagrados na literatura relativo às velocidades e fluxos de pessoas,


tais como Predtechsnkii e Milinskii (1978) [1] e Fruin (1987) [2], somente consideraram a
população adulta. Os estudos relativos às crianças e outros grupos que podem requerer
assistência, como as pessoas com deficiência e idosos, são ainda pouco considerados quando
se elaboram normas e regulamentações. Por conseguinte, faz-se necessário o entendimento das
características de toda essa população, a fim de fornecer um nível de segurança igual para todos
[3,4,5].

Durante muitos anos, as pesquisas sobre o movimento de evacuação em caso de emergência


ficaram restritas a adultos em pleno vigor físico, no entanto, nas últimas décadas, o foco está
mudando para o estudo das populações denominadas vulneráveis [6,7,8]. Neste grupo ainda
poderiam ser incorporados os obesos e as pessoas com problemas de saúde, como os
cardíacos.

Diferentes níveis de segurança podem estar sendo oferecidos para as pessoas denominadas
vulneráveis, ou seja: crianças, pessoas com deficiência e idosos. De acordo com o Censo
demográfico de 2010 [9], no Brasil existem 45.932.294 crianças com até 14 anos de idade e
14.081.477 pessoas com mais de 65 anos de idade. Já a Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com
deficiência [10] indica que existem 32.609.022 brasileiros, com idade entre 15 e 65 anos, com
algum tipo de deficiência.

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Portanto, ao se tratar de populações vulneráveis, lida-se com um contingente de 92.622.793


brasileiros, ou seja, 48,55% da população total do país. Há de se considerar, ainda, que existem
aqueles que estão temporariamente com dificuldade de locomoção e que não estão inseridos no
grupo citado.

Recentemente, alguns pesquisadores têm se preocupado com a questão das saídas de


emergência e o comportamento de crianças em situação de incêndio [11,12,13,14]. Dentre os
trabalhos desses autores, os listados na Tabela 1 apresentam, especificamente, dados de
velocidades de crianças obtidos em escolas.

Tabela 1: Dados obtidos de velocidade de crianças pesquisados por diversos autores


Faixa etária Número de
Autores País População de alunos
(anos) escolas
Klüpfel et al [11] Alemanha 6-10 1 120
6 meses-6
Lárusdóttir [12] Dinamarca 10 1017
anos
Kholshevnikov et
Rússia 3-7 1 114
al [13]
Ono et al [14] Brasil 6-14 1 706
Lárusdóttir [15] Dinamarca 6-15 7 667
Cinco simulações na
mesma escola – A
Cuesta et al [16] Espanha 3-16 1
população variou entre
209 e 250 alunos

Neste trabalho, serão apresentados alguns dados relativos à velocidade de caminhamento de


crianças em corredores e em escadas, coletados em dois simulados de abandono, além de uma
análise comparativa com os poucos dados existentes. Os dados foram coletados em um
simulado de abandono realizado numa escola pública localizada na cidade de São Paulo no ano
de 2016 e faz parte de uma pesquisa de doutorado em andamento.

Com esta pesquisa, pretende-se ampliar os conhecimentos acerca desta população e fornecer
subsídios para o poder público quando da elaboração de regulamentos, para a sociedade quando
da elaboração de normas e manuais de abandono/brigadas de incêndio/planos de abandono e,
ainda, fornecer subsídios para os desenvolvedores de softwares que simulam o abandono das
pessoas.

2. O EDIFÍCIO E A POPULAÇÃO

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) onde o estudo foi realizado está localizada
no interior de uma unidade do Centro Educacional Unificado (CEU) da cidade de São Paulo, que
abrange um Centro de Educação Infantil, além de equipamentos esportivos e culturais.

O CEU atende alunos de educação infantil e do ensino fundamental, mas tendo-se em vista que
que esta pesquisa tem como foco alunos do ensino fundamental, somente esses participaram

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da pesquisa. No total, 538 crianças participaram dos simulados de abandono, sendo 273 no
simulado realizado no período manhã (Simulado 1) e 265 no da tarde (Simulado 2).

2.1 Descrição de edifício

O edifício possui três pavimentos (térreo, primeiro e segundo pavimento) sendo que as salas de
aula estão localizadas no segundo pavimento. Nos demais pavimentos estão as áreas
administrativas, o refeitório, a biblioteca e outras instalações de apoio. Além da escada coletiva
localizada no centro do edifício e utilizada pelos alunos da educação infantil e fundamental,
existem duas escadas com largura de 1,30 m em cada uma das extremidades do edifício. A
Figura 1 apresenta a disposição das salas de aula, dos corredores e das escadas em planta e a
Figura 2, uma vista lateral com a disposição de uma das escadas e os corredores que dão
acesso.

Figura 1: Planta do segundo pavimento

Figura 2: Vista lateral de uma das escadas e os corredores de acesso

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2.2 Descrição da população

A faixa etária dos alunos que estudam nas EMEFs varia entre 6 e 14 anos. A Tabela 2 demonstra
a quantidade de alunos que participaram dos simulados bem como suas posições no momento
em que o alarme foi acionado.

Tabela 2: Distribuição e quantidade de alunos


Simulado 11 - (29/11/2016) Simulado 21 - (05/12/2016)
Faixa etária Faixa etária
Turma Quant. Sala Turma Quant. Sala
média média
5º A 22 10 1ºA 26 6
5º B 30 8 1º B 6 24 4
10
5º C 23 6 1º C 20 2
5º D 24 4 2º A 31 11
7
6º A 25 7 2º B 15 9
6º B 11 23 3 3º A 16 7
6º C 21 9 3º B 20 5
8
7º A 27 Leitura 3º C 21 3
12
7º B 24 12 3º D 22 1
8º 2 - - 4º A 25 12
9º A 9 1 4º B 9 24 10
14
9º B 14 3 4º C 21 8
Total 265 Total 273

1- O Simulado 1 foi realizado com os alunos do período da manhã e o simulado 2 com os


alunos da tarde.
2- A escola não contava com nenhuma classe do 8º ano.

3. MÉTODO DE COLETA DOS DADOS

Para coleta dos tempos em que os alunos cruzavam os pontos de medições predeterminados e,
também, para verificar os caminhos percorridos nos patamares, utilizou-se um sistema de
monitoramento por circuito fechado de TV (CFTV). Para facilitar a contagem e identificar a turma
ao qual o aluno pertencia, foram distribuidos coletes com cores diferenciadas por turma, para
todos os alunos.

3.1 Descrição do procedimento para os simulados

Embora a Instrução Técnica Nº 17 (Brigada de incêndio) do Decreto Estadual Nº 56.819/2011


[17] determine que os simulados sejam obrigatórios, infelizmente sua realização não é pratica
usual nas escolas.

Deve ser realizado, no mínimo a cada 6 meses, um exercício simulado no


estabelecimento ou local de trabalho com participação de toda a população.

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Por ter sido o primeiro simulado realizado nessa escola e com o objetivo de não causar
ansiedade nos ocupantes, todos foram informados com antecedência do dia e do horário em que
o evento aconteceria. Foram realizadas duas palestras com todos os alunos, professores e parte
da equipe administrativa, onde foi apresentado o objetivo da pesquisa, a rota a ser utilizada, a
sequência de saída das salas e o ponto de encontro, bem como foi ressaltada a importância dos
simulados. Em todas as salas de aula foram fixados cartazes, com a planta do segundo
pavimento indicando a rota a ser utilizada e a localização do ponto de encontro, além da
descrição dos procedimentos a serem seguidos. Na área coletiva da escola foram fixados
cartazes com a indicação do evento.

3.2 Instalação dos equipamentos

Instalou-se um sistema de CFTV para gravar o movimento das crianças durante os simulados
de abandono. Treze câmeras foram instaladas, sendo cinco em um dos corredores e oito nas
escadas, ver Figuras 2 e 3.. A administração da escola forneceu uma sala para a instalação do
computador que centralizava o sistema e armazenava as imagens gravadas pelo CFTV.

Figura 2: Câmera instalado no corredor Figura 3: Câmeras instaladas no patamar

3.3 Metodologia de medições

O método de mediçõa adotado seguiu aquele já realizado por Ono (2013), em pesquisa anterior.
Além da utilização do sistema de CFTV para facilitar o monitoramento e a contagem do fluxo de
alunos, foram distribuídos coletes coloridos, com cores específicas por sala de aula e faixas
amarelas foram coladas no piso nos pontos de coleta dos tempos. Para a obtenção das
velocidades de caminhamento dos alunos nas escadas e no corredor, registraram-se os tempos
em que os alunos passavam pelos pontos que estavam sendo monitorados pelo CFTV.

Na Figura 4 pode-se observar a central de monitoramento e na Figura 5 as crianças com os


coletes de identificação no ponto de encontro, ao final do simulado.

Para identificar o trajeto percorrido por cada aluno nos patamares (três no total), visto que
existem várias possibilidades, também foram utilizadas as filmagens. Inicialmete, analisando as

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imagens, identificou-se os percursos que eram utilizados com maior frequência no trajeto de
descida das escadas. Tendo-se em vista que cada percurso corresponde a uma distância de
caminhamento, após o levantamento in loco, as escadas foram desenhadas no programa
AUTOCAD, possibilitando que as distâncias de cada um dos nove percursos mais utilizados
fossem obtidas (ver Figura 6).

A maior distância percorrida no patamar é a externa/externa (3,45 m) e a menor é a


interna/interna (1,79 m). A diferença entre ambas é de 93% e pode causar diferença significativa
na velocidade a ser calculada.

Figura 4: Central de monitoramento Figura5: Crianças com os coletes

Figura 6: Possibilidades de percursos no patamar

4. RESULTADOS

A seguir serão apresentados os dados sobre a velocidade de caminhamento nas escadas, ou


seja, a velocidade média e o tempo gasto por cada aluno para percorrer as escadas, separados

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por grupos de classes. Apresentrar-se-á, também, as velocidades médias de algumas classes


nos corredores.

4.1 Velocidade de caminhamento em escadas

A Tabela 3 visa apresentar os resultados dos tempos gastos pelo primeiro e o último aluno para
finalizar a descida de ambas as escadas, após o sinal de alarme ter sido acionado, nos dois
simulados de abandono realizados na escola com todo os estudantes.

Tabela 3: Tempo para descida das escadas do primeiro e do último aluno nos simulados
Escada Simulado 1 – 265 alunos Simulado 2 – 273 alunos
utilizada Primeiro (s) Último (s) Primeiro (s) Último (s)
Escada A 149 351 60 203
Escada B 62 235 62 222

É possível observar que o tempo gasto aproximado para que os primeiros alunos finalizassem a
descida foi de 60 s, exceto para os que utilizaram a escada A no primeiro simulado. Tal atraso
se deu pela demora da professora em iniciar o movimento de saída. Pode-se observar,
analisando a Figura 7, que o comportamento dessa turma na escada foi constante embora
tenham demorado para iniciar o movimento rumo à escada.

No simulado 1, as variações de tempo no trajeto podem ser justificadas com base nas imagens,
da seguinte forma: a) um aluno do 9º A (aluno 7) deixou para colocar o colete já nas escadas,
tendo como consequência um atraso maior no deslocamento dentro da escada; b) houve um
aumento brusco no tempo dos quatro últimos alunos do 5º A que se justifica pelo uso do celular
por um dos alunos e do congestionamento que ocorreu no último lance da escada; c) os alunos
do 6º B tiveram seus tempos iniciais abaixo da média, principalmente por conta da velocidade da
professora que “puxou” a fila; d) os últimos alunos do 5º B e D perderam algum tempo tentando
fechar a porta da seus respectivas salas.

Tempo gasto por aluno para descer a escada - Sim 1


47
tempo (s)

42
37
32
27
22
17
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Alunos

7º A 7º B 5º A 5º B 5º C 5º D
4º D 9º A 6º B 9º B 6º A 6º C
Figura 7: Tempo gasto por cada aluno para descer as escadas – Simulado 1

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No simulado 2, os tempos foram mais constantes, podendo-se observar as maiores variações


com as turmas do 3º C e B. Esse tempo maior é justificado, visto que a primeira aluna do 3º C
tinha dificuldade de locomoção e sua velocidade influenciou a dos demais alunos.

Tempo gasto por aluno para descer a escada - Sim 2

55,00

45,00
tempo (s)

35,00

25,00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Alunos

1º C 1º B 1ºA 4º B 4º C 4º A
3º D 3º C 3º B 3º A 2º B 2º A
Figura 7: Tempo gasto por cada aluno para descer as escadas – Simulado 2

As velocidades foram agrupadas para se obter a velocidade média por série. Percebe-se, na
Figura 8, que a velocidade média dos alunos até a 4º série é inferior a dos alunos maiores, o que
sugere que alunos mais velhos tenham velocidades mais próximas dos padrões de adultos.

vm (m/s)
0,75 0,75
0,80 0,70
0,75 0,65
0,70 0,63
vm (m/s)

0,65 0,60
0,60 0,54
0,55 0,47
0,50 vm (m/s)
0,45
0,40
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Agrupado por série

Figura 8: Velocidades médias nas escadas agrupadas por série – Simulados 1 e 2.

4.2 Velocidade de caminhamento em corredores

As velocidades no corredor apresentaram valores médios similares, exceto para a turma do 1º A


(0,46 m/s), pelos motivos já expostos anteriormente, como pode ser visto na Figura 9.

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Turma TH1-TH2 TH2-TH3 TH3-TH4


1º A 0,46 - -
4º A 1,36 - -
4º B 1,30 - -
4º C 1,70 - -
5º A 1,28 1,20 1,15
5º B 1,45 1,42 -
5º C 0,57 - -
7ª A 1,14 1,10 1,04
7º B 1,04 0,91 1,03
Figura 9: Velocidade médias no corredor agrupadas por turma – Sim 1 e 2.

6. CONCLUSÕES

Essa pesquisa faz parte de um trabalho de doutorado em desenvolvimento e tem também como
objetivo compreender o fenômeno do movimento de crianças brasileiras em corredores e
escadas quando submetidas a simulados de abandono.

Preliminarmente, verificou-se que a velocidade dos alunos menores, até a 4º série, são inferiores
a dos alunos maiores, indicando que há uma tendência de aumento da velocidade com a idade.
Observou-se também que nesses simulados, a velocidade do professor teve grande influência
sobre a velocidade dos alunos de suas respectivas classes e também na das classes
subsequentes.

Constatou-se, ainda, que para a obtenção de velocidades para serem utilizadas em modelos
matemáticos – um dos objetivos desta pesquisa- a velocidade em simulados não são
suficientemente precisas e adequadas devido às várias influências apresentadas. Sendo assim,
o próximo passo da pesquisa considera realização da coleta de dados de velocidade
descendente de alunos de forma isolada, sem a influência do grupo, assim como sua associação
com os dados antropométricos de cada aluno.

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ANAIS DO 4º CONGRESSO
Ibero Latino Americano
sobre Segurança Contra Incêndio

Recife, 09 a 11 de outubro de 2017


www.ufpe.br/cilasci4/

ISBN 978-85-5707-674-7

9 788557 076747
Recife/PE, Brasil

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