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Unijorge – Centro Universitário Jorge Amado

Licenciatura em Letras – Língua portuguesa / Língua Portuguesa e Inglesa


Disciplina: Crítica e Análise de Discursos Cinematográficos e Audiovisuais
Docente: Ceci Alves dos Santos
Discentes: Amanda Estrela do Rosário, Herbert Barros Coutinho, Rebeca Jardim
Limoeiro da Silva

Resenha Crítica sobre o filme “A Onda”

O filme “A Onda” (Die Welle), de 2008, retrata a história de um professor e dos


seus alunos de uma escola, em uma pequena cidade chamada Dallgow-Doberitz, situada
na Alemanha Ocidental. Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é escolhido para ministrar um
curso sobre autocracia que é oferecido por uma semana na escola.
O filme começa com o professor dirigindo até o trabalho ouvindo um cover de
uma música punk chamada “Rock 'n' Roll High School” (Colegial Rock ‘n’ Roll) e
vestindo uma camisa da banda Ramones, uma banda punk compositora da música citada.
Ao chegar na sala dos professores ele descobre que a disciplina que queria ministrar sobre
anarquia foi oferecida para outro professor e ao tentar convencer a diretora a fazer a troca
e não obter sucesso ele recorre ao colega que ficou encarregado da disciplina, que também
se recusa a trocar com o argumento de “este projeto é para mostrar aos alunos as virtudes
da democracia, ensinar a fazer coquetel molotov é assunto para as aulas de química”.
Nesse pequeno trecho podemos aprofundar numa questão dos signos – neste caso – os
símbolos que constituem uma visão da cultura punk, que foi um movimento musical e
cultural que surgiu nos anos 70, com ideais políticos anarquistas. Ao observar esses sinais
como um todo, percebe-se que o cargo para professor de anarquia não foi dado a Wenger,
não só pela falta do plano de aula, mas por conta do seu estilo musical que
consequentemente poderia se encaminhar para uma política de doutrinação anarquista
dentro da sala de aula, na visão da diretora e do colega.
No primeiro dia do curso sobre autocracia, o professor Rainer Wenger, pergunta
aos alunos o que eles entendem e sabem sobre o tema – ao começar os debates – ele
percebe que os alunos acham que o nazismo é um tema já saturado e que eles não têm
culpa pelo que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, e que seria impossível em
uma Alemanha Moderna haver outro tipo de ditadura. O diretor do filme, Dennis Gansel,
relata que ele próprio se sentia saturado em relação ao assunto no período da escola e que
só se sensibilizou após assistir ao filme “A Lista de Schindler” (Schindler's List), um
filme norte-americano baseado em uma história real sobre um empresário alemão que
salvou do campo de concentração mais de mil judeus holandeses. A partir desse momento,
Gansel, percebeu que os alemães só viam conteúdos políticos em filmes como algo
tedioso e que o filme não poderia gerar nenhum impacto político a quem assiste, da
mesma forma que no contexto geral eles acham que não existe mais nenhuma forma deles
serem manipulados para uma ditadura depois do Terceiro Reich.
"Aí reside o grande perigo. É um fato interessante que nós sempre
acreditamos que o que acontece com os outros nunca iria
acontecer para nós. Nós culpamos os outros, por exemplo, os
menos educados ou do Oriente alemão etc. No entanto, no
Terceiro Reich a casa de caseiro foi tão fascinado pelo
movimento, como foi o intelectual." (GANSEL)
“O sujeito funciona pelo inconsciente e pela ideologia” (ORLANDI, 2005),
partindo dessa premissa, o professor, visando mostrar aos alunos o quanto é fácil
manipular uma massa e que ainda é possível existir um governo autocrata, inicia um
processo dentro da sala de aula – de início pedindo que elejam um líder – os alunos o
elegem e sua primeira regra foi para que todos o chamassem apenas de “Senhor Wenger”.
Durante as aulas, pequenas outras regras foram estipuladas, como a mudança da
disposição nas carteiras e de onde cada aluno deveria se sentar durante toda a semana do
experimento. No primeiro dia houve bastante resistência por parte dos alunos e a maioria
não estava levando as regras a sério, como pedir permissão para poder falar e ter que ficar
em pé quando a permissão fosse concedida.
A partir do segundo e terceiro dia os próprios alunos já estavam se organizando
para levar o projeto a sério, ainda partindo de uma ordem democrática, Wenger pediu
para que escolhessem um nome a ser votado para o grupo, em que foi escolhido “A Onda”
e que outros alunos criassem redes sociais e uma marca que o caracterizassem como
iguais. Com nome, logotipo e uniforme (camisas brancas) escolhidos, o grupo começou
a adquirir força, não só dentro da sala de aula, mas em quase toda a escola. Os alunos que
não aceitavam fazer parte da Onda eram na mesma hora excluídos, como foi o caso das
alunas Karo (Jennifer Ulrich) e Mona (Amelie Kiefer).
Com o sentimento de pertencimento e de união, alguns alunos começaram a levar
a marca do grupo para fora da sala de aula vandalizando ambientes públicos – pintando o
logotipo da Onda e colando adesivos – inclusive em cima do símbolo do movimento
Anarquista e em uma construção de bastante visibilidade na cidade. Na manhã seguinte
o vandalismo foi retratado no jornal, deixando o professor bastante furioso, mas mesmo
com o sermão que a turma levou, as atividades da Onda fora do ambiente escolar não
cessaram. Quando Marco (Max Riemelt), que encontrou na equipe uma família
acolhedora, agride a namorada Karo no rosto percebe o quão fanático ele e toda a turma
se tornou, busca o professor para contar o ocorrido e alerta que A Onda precisa ser parada.
Percebendo que a técnica de manipulação de massa que utilizou deu certo, mas
perdeu o controle, Wenger marca uma reunião com todos os integrantes da Onda no
auditório e pede para que todas as portas sejam trancadas para que não ocorra interrupções
de outros alunos e professores. Ao entrar no palco toda a turma se levanta de forma
sincronizada e efetua a saudação. O modo como essas cenas se passam são atrativas.
Robert Stam, faz referência em sua obra, sobre a teoria do filósofo Johann Metz:

“(...) Para ele, a análise textual explora a rede de códigos


cinematográficos (movimento da câmera, som off-screen) e
extracinematográficos (binarismos ideológicos como natureza-
cultura, masculino-feminino) encontrados em uma série de textos
ou no interior de um texto individual. (...)”

Visando essa linha teórica, podemos analisar que as cenas são gravadas dentro
desse movimento de câmera, em que temos o campo (visão do professor para o grupo de
estudantes) e o contracampo (visão dos estudantes para o professor). Demonstrando a
imagem de autoridade que professor exalta, sempre filmado de baixo para cima, e de
subordinação para com os alunos que, dentro da sala de aula, são filmados de cima para
baixo.
Wenger inicia um discurso de exaltação para o grupo que vibra energicamente,
exceto Marco, que se sente traído e começa a questionar o que eles conversaram. Marco
é chamado de traidor por Wenger que pede para que os outros alunos o levem ao palco e
pergunta o que deve ser feito com quem trai o movimento, muitos gritam expulsão, mas
ele pergunta o que Bomber (Maximiliam Vollmar) faria já que ele levou o colega traidor
até o palco e ele responde que só levou porque o professor pediu. A partir desse ponto,
Wenger pergunta se eles matariam Marco se fosse pedido e todos os alunos demonstram
faces assustadas.
O professor então começa um discurso dizendo que é isso que acontece em uma
ditadura e que toda A Onda estava se comportando como se estivesse em uma e por conta
disso o movimento deveria acabar. Alguns alunos protestaram dizendo que nem tudo no
grupo fora de todo ruim e que eles se uniram mais, mas Wenger rebate dizendo que esse
tipo de comportamento não tem como consertar e que eles deveriam ir para casa para
refletir tudo que eles fizeram – Tim (Frederick Lau), que foi o aluno que mais se sentiu
empolgado por finalmente ter amigos e pessoas que o ouvissem, não concorda com o fim
do grupo e se revolta, ameaçando os colegas com uma arma, ele acaba ferindo um colega
que tentou pará-lo e comete suicídio ao perceber que não pertenceria mais ao grupo.
“Eu começo com os jovens. Nós os mais velhos estamos desgastados, mas meus
jovens magníficos! Existem melhores que esses em qualquer lugar do mundo? Olhe para
todos esses homens e garotos! Que material! Juntos, nós podemos fazer um novo mundo!”
(HITLER, 1933)
Em relação ao aluno Tim, em específico, há um exemplo do que ocorre com a
maioria dos jovens que querem fazer parte de algo e tentar mudar o mundo – em partes
do filme podemos observar que ele vem de uma família com certo poder aquisitivo, pois
ao adotarem as camisas brancas como uniformes, ele queima todas as suas peças de
roupas que são de marca – além de não ser reconhecido em casa e nem na escola, em
outra cena, o vemos entregando drogas de graça aos colegas, criando uma esperança de
“comprar” a amizade deles. Além de encontrar um lugar acolhedor que o fez se dar por
inteiro, na Onda ele encontra também uma figura paterna em Rainer – e saber que ele fez
parte de um experimento o fez questionar que havia sido enganado e que ele ficaria sem
família e amigos novamente, levando-o ao desespero e a um fim trágico.

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