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Resenha Crítica sobre o filme “A Onda”

Instituição: Centro Universitário Unijorge


Integrantes: Davi Borges Rocha de Jesus, Ellen Larissa Santana Pereira,
Filipe Casé, Jackson Silva dos Santos, Júlia Rodrigues, Kaylane Alves Neves
Dias, Lívia de Oliveira Santos, Patrícia Silveira, Rafael Santos Carvalho,
Raquel Rodrigues dos Santos, Renata Rocha, Sanítila Santos Sousa de
Góes, Tainara Gonçalves

O Filme “A Onda” foi ao mundo pela primeira vez em 13 de março de


2008, dirigido por Dennis Gansel “A Onda” foi coroado com o prêmio de
melhor filme alemão no mesmo ano de lançamento. A obra foi baseado no
livro de mesmo nome lançado em 1981.
A obra cinematográfica retrata uma história baseada em fatos reais
ocorrida em uma escola de ensino médio em 1967, na qual o professor
Rainer Wenger foi intitulado pela diretora para lecionar sobre Autocracia,
sendo surpreendido, já que tinha preferência por ensinar sobre Anarquia.

Em contato com os alunos e surpreso pela quantidade de estudantes


que optaram pelo tema Autocracia, ao fazer perguntas sobre o significado do
sistema político autocrático, entende a necessidade de explicar de forma
didática para seus alunos e relacioná-la com a realidade. Para isso, inicia um
movimento que tem como características culto ao líder, leis rígidas, punições
severas e manipulação das massas, demonstrando a possibilidade de
instalar um regime ditatorial na Alemanha moderna.

O movimento ocorreu paulatinamente, o primeiro passo executado


pelo professor foi criar um líder único e supremo que tenha autonomia para
estabelecer leis, ordens ou regras a serem seguidas. Quando a turma de
alunos escolhe o próprio professor Wenger para ser o líder, ele passa a dar
ordens, já que a soberania que lhe foi coletivamente concedida permite que
ele comande os alunos de acordo com seus próprios critérios, assim como o
líder de um regime autocrático.

A primeira ordem dada aos alunos foi a de que os alunos devem se


levantar quando se expressarem na aula e que se refiram a ele como
“senhor” Wenger e não simplesmente como professor. Tanto a menção do
título antes de seu nome como ficar de pé são ações que demonstram
respeito e subordinação, o que cria uma dinâmica de poder, colocando
Wenger não mais como um professor que tinha o dever de ensinar e orientar
os alunos, mas alguém que tem propriedade para controlar as ações deles.

Esse processo segue uma lógica hierárquica, centralizando a


produção de razões excludentes para agir na figura personalística e
absolutista do professor, que passa a ser a figura ideal, visto que é o modelo
normativo de ação a ser seguido.

A próxima ordem foi que imitassem o professor e marchassem em


conjunto. Mesmo que relutantes no início, os alunos começam a se sentir
menos constrangidos quando observam que todos estão marchando juntos, e
o sentimento de vergonha ou irritação deu lugar ao entusiasmo por estarem
fazendo algo em completa harmonia. Esse exercício gerou o sentimento de
“juntos somos mais fortes”, já que os alunos começaram a sentir que unidos
eram capazes de alcançar fins que não alcançariam sozinhos, assim como
uma pessoa marchando sozinha não teria a mesma força ou barulho que
toda a turma marchando unida.
A terceira ordem do professor Wenger foi que todos os estudantes de
sua matéria vestissem camisas brancas. Isso foi implementado com o intuito
de eliminar as diferenças entre classes sociais, porém, simultaneamente
eliminou a individualidade dos alunos, fortalecendo ainda mais a ideia de que
eles têm mais valor como membros do grupo do que como indivíduos
separados. Wenger utiliza a uniformização dos alunos para iniciar a
construção de uma identidade coletiva, que não é constituída somente pela
vestimenta branca, mas também pela criação de um símbolo, uma saudação
e um nome/título para o grupo: “A Onda”.

A partir disso o professor foi criando, com os alunos, características


autocráticas cada vez mais latentes, tendo resultados que foram elogiados
pelos pais de alunos e pela direção da escola como liderança, disciplina,
poder e espírito de equipe.

Todavia, através desse processo, também criou-se diversos


problemas, como a eliminação da individualidade dos alunos, padronizando a
vestimenta, os costumes e o comportamento, além disso, ocorreu o
crescimento de violência e vandalismo, conflitos internos e externos. Desse
modo, Rainer foi adquirindo mais poder e domínio sobre seus alunos e
integrantes da onda.

Além desse aspecto coletivo, sob uma análise individual, foi possível
notar a evolução de cada aluno, a perca de suas individualidades, os conflitos
anti-naturais causados pelo regime autocrático no psicológico dos indivíduos,
e como o efeito “manada” pôde influenciar a mentalidade pessoal, fazendo
com que cada indivíduo pertecente se perde-se em prol do todo.

Esses resultados, efeitos e transformações exibem perfeitamente


como funciona um regime autocrático, autoritário, totalitário que visa o culto a
um líder, a centralização do poder e o absolutismo personificado. Esse
fenômeno pode ser comprovado pois coaduna perfeitamente com um
discurso de Adolf Hitler:

-Eu começo com os jovens. Nós os mais velhos estamos desgastados, mas

meus jovens magníficos! Existem melhores que esses em qualquer lugar do

mundo? Olhe para todos esses homens e garotos! Que material! Juntos, nós

podemos fazer um novo mundo! – Adolf Hitler, 1933.

A mentalidade juvenil foi o facilmente massificada e manipulada pelo


professor. Visto que, os jovens, seja pela inexperiência ou pelo espírito
inovador, pode se encontrar em um estado de vulnerabilidade, podendo ser
ingenuamente influenciado por líderes políticos e ideológicos mal-
intencionados.
Esse mesmo fenômeno ocorreu na China comunista, com a dizimação
dos idosos e adultos que tiveram contato com o imperialismo britânico,
deixando vivos predominantemente os jovens, para que se incuta o
pensamento revolucionário Chinês.

CONCLUSÃO
No filme ocorreram efeitos diversos, há mensagens de esvaziamento ou
negação de sentido de valores historicamente tradicionais, submissão cega
ao poder centralizado do líder, no caso o Rainer e a neutralização do
indivíduo no meio coletivo. Por outro lado, também é visível a força da união
de pessoas com mesmo propósito, espírito de equipe, disciplina e
organização de poder.
É evidente que os efeitos negativos são mais proeminentes, os danos
causados por um controle manipulador egocêntrico são inestimáveis, bem
como ocorrência de vários danos físicos, morais e psicológicos.
Desse modo conclui-se que o professor tentou estabelecer um modelo
autocrático e totalitário organizado em sua sala de aula e obteve êxito,
ensinou perfeitamente os passos necessários para que se estabeleça um
absolutismo organizacional.
De acordo com Miguel Reale existem estruturas de poder na sociedade
que possuem suas próprias normas regulativas, o mesmo é coadunado por
Luhmann quando fala de núcleos sociais ou ainda núcleos jurídicos (Tércio
Sampaio).
Essas sub-estruturas ou núcleos são responsáveis por criarem relações
normativas e organizacionais entre seus membros, funcionam como um
sistema integrado a um sistema maior (Estado de Direito) e a ele deve ser
subserviente, o núcleo integrativo criado pelo professor perdeu seu caráter
lícito quando se apartou do sistema maior e quando seus membros passaram
a tomar as razões desse núcleo como razões excludentes em detrimento das
razões fornecidas pelo Estado de Direito.
É visível que o método empregado pelo professor para a criação de um
núcleo autocrático que serve como modelo para um Estado totalitário foi
conquistado através de uma violência simbólica (Bourdieu), onde um discurso
é tomado como vinculativo, imperativo e excludente de outros.
Através da criação dessa violência simbólica o professor pôde criar
princípios e normas fundamentais que serviram como ponto de partida para
que o sistema espontâneamente se desenvolvesse.
Consequente a isso, normas espontâneas passaram a surgir dentro do
grupo, como um movimento autônomo e consciente da mente dos indivíduos,
que se adequaram a nova realidade primeiro vinculando-se a autoridade
máxima do professor e segundamente criando relações e normas de conduta
baseado apenas no coletivismo e na ideologia autoritária criada.
Através desse filme foi possível perceber o alto nível de periculosidade de
um regime autoritário, os métodos linguísticos e normativos empregados, o
processo formador do grupo autocrático, e os efeitos causados nos
indivíduos e no grupo como um todo. “A onda” serve como modelo para que
possamos nos previnir e combater movimentos semelhantes que possam
ocorrer na realidade.

Referências:
SAMPAIO, Tércio. Introdução ao Estudo do Direito
REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito
A Onda. Direção de Dennis Gansel.

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