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RESUMO E ANÁLISE
“Martin, diga-me, certo? Contra o que realmente se deve rebelar, hoje em dia? Hoje não tem
mais importância, certo? Todos já têm só os seus... seus prazeres na cabeça. O que falta à
nossa geração... é um objetivo comum, que nos una a todos.’’
A fala citada acima, dita por um dos alunos, nos mostra de forma direta a necessidade de
preenchimento de vazios existente entre alguns dos jovens que irão participar do curso de
autocracia. Essa necessidade é também mostrada de forma indireta: Tim, outro aluno,
aparece à procura de um grupo, desejo que não é alcançado até a formação do movimento
A Onda. Mais tarde, Marco também irá demonstrar essa necessidade de fazer parte de uma
comunidade por, principalmente, não ter uma família bem estruturada.
O professor então decide instaurar na classe um sistema ditatorial, mas para o sistema
funcionar ele sugere que alguém seja o líder, por meio de uma votação na classe ele foi
eleito a figura de liderança central do sistema, quem faz as regras e determina como as
coisas vão acontecer.
Então após a votação ele modifica as cadeiras de lugar e informa que os alunos devem se
dirigir a ele como senhor Wenger e para falar algo precisam levantar da cadeira. Após
essas mudanças alguns alunos perguntam ao professor se não está exagerando, ele
responde que quem não quisesse participar não seria obrigado, contanto que saísse da
sala. Aqui se dá para perceber a natureza dominadora do líder eleito, bem como a exclusão
daqueles que estão contra suas ideias.
Acontece então definição do nome do grupo (“A Onda”), a criação de um padrão de roupa
como uniforme e a criação de uma logo para o movimento, bem como podemos perceber o
desejo do líder de fazer com que todos do grupo sintam-se incluídos ao passo que há uma
tendência cada vez maior à exclusão daqueles que não se encaixam nele, como acontece
com uma das alunas que decide não usar uma blusa branca para ir ao curso e, portanto,
passa a ter suas ideias ignoradas na aula.
Em outro momento o professor propõe que todos comecem a marchar na sala até que seus
passos estejam sincronizados a fim de mostrar o poder da união e a força do grupo, bem
como para atrapalhar a aula sobre anarquia (os “rivais”), que estava acontecendo no andar
de baixo.
Rapidamente surgem conflitos entre os membros da onda e outros alunos que não faziam
parte desse movimento. Alguns alunos passam a se envolver tanto que de fato devotam a
vida à causa. Uma dessas pessoas é o aluno Tim, o qual é negligenciado pelos pais e
encontra Na Onda seu grande propósito, ele tão fascinado pelo movimento chega a
comprar uma arma para enfrentar os adversários.
O projeto extrapola o limite da sala de aula, os alunos começam a ficar fanáticos pelo grupo
e espalhar a marca do logotipo pela cidade, fazendo pichações em prédios e ruas. Algo
importante a ser notado é que Tim se oferece para pichar o topo de um prédio muito alto,
arriscando sua vida em nome do grupo. Percebe-se, então, como o indivíduo de um grupo
sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo, perdendo sua vontade, bem como há
uma tendência a transformar as ideias sugeridas, não só do líder como dos
demais membros, em atos.
Então a ação dos alunos, aparece no jornal o que passa a afetar as relações pessoais de
Wenger e dos alunos, o professor então pede para os alunos descreverem em uma redação
como foi estar dentro do sistema criado por ele.
“Ontem fiquei com raiva de uma camisa branca porque disse que se eu não me alistasse
eu perderia todos os meus amigos, pois todos eles estariam participando. Disse
simplesmente que me considerem. E ele, todo agressivo, ‘se não fosse tarde demais’, essa
foi a fala de um aluno que foi ameaçado pelo simples fato de não fazer parte do sistema.
Aqui a alienação dos membros d’A Onda começa a ficar bem mais evidente. A exclusão
dos diferentes passa a se tornar bem mais agressiva e extremista, com constantes brigas
com outros grupos. Além disso, os alunos passam a se fechar entre si, fazendo festas
privadas e não deixando membros de outros grupos entrarem em determinados lugares,
como na própria escola ou em um jogo escolar.
Após os acontecimentos terem saído de controle, o professor marca uma reunião no último
dia do projeto a fim de acabar com o movimento, ele reúne todos os participantes do
movimento e inicia sua fala lendo as redações escritas pelos alunos.
"A Onda era minha vida!", essa é uma das falas de um aluno sobre o movimento. Então o
professor afirma que o movimento não pode acabar e que é a solução para o país. Nesse
momento, todos aplaudem, menos Marco, que passa a ser chamado de traidor pelo líder, o
qual ordena que alguns alunos o levem à força para a frente do auditório.
No entanto, quando o professor pergunta o que eles devem fazer com o "traidor", os alunos
ficam sem reação e afirmam que só o levaram até lá porque ele ordenou, o que nos mostra,
mais uma vez, o incrível poder de manipulação e sugestão que o líder tem sobre um grupo.
Então ele anuncia o fim do sistema, porém Tim não aceita que o projeto acabasse e
ameaça todos com a sua arma, em meio à confusão ele acaba perdendo o controle e
acertando um aluno e logo após tirar sua própria vida. Após isso a polícia chega à escola e
Wenger é preso.
POSICIONAMENTO CRÍTICO.
O filme mostra o quão sedutor é fazer parte de um grupo, mesmo que isso acabe reduzindo
as escolhas individuais de cada um e distanciando de quem os pertence, isso ocorre pelas
influências que podem ocorrer dentro de um grupo, ainda mais se tratando de jovens e
adolescentes, período que estão mais vulneráveis, pois é mais fácil se acharem diferentes e
rejeitados.
Outra questão que ocorre no filme é como ele consegue retratar a facilidade em que
elementos extremos podem ser apresentados de maneiras inofensivas mas, que em um
conjunto e numa repetição, podem se tornar perigosos. A definição de um inimigo,
utilização de uniformes e uma saudação que aos poucos vão fazendo o grupo acreditar que
são especiais e por consequências melhores daqueles que não fazem parte.
A evolução do professor que inicia o filme com o desejo de ensinar anarquia de forma mais
informal, tanto pelo modo de vestir ( no primeiro dia de aula ele chega com roupas
consideradas “descoladas” a fim de chamar atenção dos alunos), mas que ao decorrer do
filme se satisfaz com a atenção e respeito que atrai. Mostrando que muitas vezes nós
mesmos não vemos até onde o tamanho do problema chegou e somente quando limites
são rompidos percebemos que tragédias não podem ser evitadas ou corrigidas.
A Onda mostra entender como é possível uma ditadura ser implantada e, mais ainda, como
as pessoas podem se atrair e permitir que isso aconteça.