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Supervisão de Estágio

Primeiro semestre de 2022

Ana Rodrigues
Helena Praia
Sofia de Andrade

Olhando e enxergando a escola

Realizaremos uma análise descritiva do ambiente escolar e das interações entre os


alunos e professor que ocorrem no filme alemão “Die Welle”, traduzido para o português
como “A Onda”. (Obs:. achamos o filme disponível apenas dublado no link: A onda ).

Descrição:
Já nos primeiros 2 minutos e 45 segundos do filme, acontece uma conversa
importante entre a diretora e o professor Rainer Wenger sobre a aula de Autocracia que lhe
foi direcionada, sendo que ele gostaria de ensinar sobre Anarquia. A diretora afirma que a
aula foi direcionada para outro professor que já entregou o planejamento pedagógico antes e
que se quisesse realmente trocar deveria falar com o outro professor. Sendo assim, Rainer foi
falar com o professor para ver se eles poderiam trocar suas matérias e foi recusado com o
argumento que aula sobre Anarquia não é ensinar a fazer coquetel molotov. Rainer ficou
nitidamente decepcionado com a recusa, mas seguiu em frente e aos 11 minutos e 15
segundos do filme deu sua primeira aula sobre Autocracia para uma turma do ensino médio.
A organização da sala de aula não é convencional, as cadeiras são separadas em
grupos em formato de círculos (algo semelhante às salas tecnológicas da PUC). Ao chegar na
sala de aula, com o objetivo de instigar uma conversa entre a turma, o professor escreveu na
lousa bem grande “Autocracia” e pergunta aos alunos o que eles entendem ou conhecem
dessa palavra. Um dos alunos fala que provavelmente é algo relacionado com monarquia, o
professor responde que não necessariamente existe essa relação. Quando passa a vez para
outro aluno, este faz uma brincadeira para os colegas alegando que autocracia é uma corrida
de automóveis em crateras. Em seguida, outra aluna se manifesta falando que pode ser um
tipo de ditadura, o professor afirma que realmente faz parte desse tipo de regime. E para
concluir, uma estudante diz que um regime autocrático é quando um indivíduo ou um grupo
domina as massas. O professor, satisfeito com a resposta, acrescenta dando a etimologia da
palavra que vem do grego: Autocracia. Auto significa próprio e crácia poder, sendo assim
autocracia é um regime de poder absoluto e ilimitado. Depois dessa conclusão, o professor
pergunta para os alunos se algum deles poderia citar um exemplo de um regime autocrático.
Ao requisitar o exemplo, a turma não parecia interessada em responder o professor,
depois dele insistir na pergunta um dos estudantes falou sobre o Terceiro Rash. O colega, que
estava ao lado do que respondeu, teve uma reação negativa a essa resposta alegando que já
tinham estudado o suficiente sobre esse assunto e que já sabia que o nazismo era uma
“porcaria”. Rainer compreensivo com a reação do aluno, fala que não escolheu o assunto da
semana mas que preparou um material para as seguintes aulas. Novamente, o aluno
insatisfeito questiona o porque que deveriam estudar sobre isso de novo sendo que é
improvável que algo semelhante aconteça outra vez. Dessa vez, quem respondeu foi uma
aluna do outro lado da sala alegando que é importante rever assuntos como esse por conta da
responsabilidade histórica de tal evento e que não tem como ter tanta certeza de que não vai
acontecer de novo, usou como exemplo os neonazistas. O professor percebeu que estava
criando um clima de debate em sala e instigou mais ainda perguntando a opinião de outro
aluno que ainda não tinha se posicionado. Esse aluno parecia desinteressado e disse “não sei”,
depois disso o clima de debate foi por água abaixo e o professor pediu um intervalo de dez
minutos.
Aos 14 minutos e 10 segundos do filme, cena seguinte ao intervalo proposto pelo
professor, os alunos chegam na sala de aula e percebem que a organização da sala está
diferente. A mesa do professor na frente da sala e as carteiras e cadeiras do aluno de frente
para ele e para a lousa. Questionam o porquê disso e Rainer fala que como é a semana de
projeto, ele e os alunos são mais livres para o desenvolvimento de uma aula mais interessante
com um assunto que eles já afirmaram não estar muito interessados. Em seguida, o professor
pergunta quais são os requisitos para um sistema autocrático, os alunos começam a responder
com palavras sortidas como: ideologia, controle, vigilância e insatisfação. O professor
concordou com todas as afirmações mas instigou até concluírem que o que difere uma
ditadura de outros regimes é a figura de liderança central. Sendo assim, numa tentativa de
trazer essa realidade para a sala de aula, o professor pergunta quem poderia ser essa figura.
Um dos alunos respondeu que seria o próprio professor, Rainer questiona essa afirmação
alegando que achava que algum dos outros alunos preferiria estar sob controle. Assim, fez
uma votação perguntando quem era a favor que ele fosse o líder da semana, quem era contra
e as abstenções.
Democraticamente, a turma escolheu o professor como líder da semana para esse
projeto. Em seguida, disse aos seus alunos que deveria se referir a ele como “Senhor Vengar”
durante as aulas já que o nomearam como líder. Nesse momento a turma pareceu agitada e
com alguns conflitos entre os alunos. O Senhor Vengar orientou que tirassem tudo de cima da
mesa e que caso quisessem falar algo teriam que pedir permissão e se levantar para falar com
a turma e com o professor. Houve questionamento de uma das alunas perguntando se essas
atitudes não estavam sendo exageradas, foi respondida pelos próprios colegas falando que
eles tinham votado por isso. O professor explicou que ao levantar para falar faz a circulação
melhorar e isso faz com que eles acordem e se concentrem melhor. Depois disso, pediu para
que todos levantassem e um grupo do fundo da sala rejeitou. O Senhor Vengar pediu para que
estes se retirassem da sala já que não é obrigatório mas que se quisessem ficar teriam que
estar dispostos a participar da aula. Os alunos não pareciam dispostos e se retiraram assim
que foi solicitado.
A aula terminou com o professor questionando o que é mais importante em uma
ditadura, um dos alunos se levantou para responder a pergunta: “disciplina”. O professor
concordou e acrescentou: “disciplina é poder”.

Contextualização:
Esse filme é inspirado em uma história verídica de um professor chamado Ron Jones
que realizou uma experiência sócio-educacional com seus alunos do ensino médio, trazendo
os princípios de um regime extremista para dentro da sala de aula.
A princípio, o protagonista, professor Rainer, defende ideias anarquistas e se frustra
ao saber que o tema do projeto extracurricular que lhe foi direcionado é sobre autocracias.
Tanto ele quanto os alunos estavam aborrecidos por falar novamente sobre esse tema, sendo
assim, adaptou a realidade da sala como uma tentativa de maior integração no assunto e no
andamento da aula. Porém, o mesmo não imaginava que as consequências extrapolariam o
ambiente escolar.
Pouco depois da cena descrita, um nome foi dado a esse grupo: a onda. Em seguida,
uma saudação, um logotipo e um uniforme também foram requisitados. Em contrapartida a
essa organização, a outra turma que está aprendendo sobre anarquia começa a ser considerada
como inimigos e acontece uma série de conflitos entre esses grupos. Até que um dos
membros da Onda, Tim, compra uma arma para afastar os adversários e para se sentir mais
seguro. Esse estudante é negligenciado pelos pais e por outros colegas ao decorrer do filme
em muitos momentos.
No último dia do projeto, o Senhor Vengar convoca os membros da Onda para o
ginásio, tranca as portas e começa a discutir sobre o futuro desse movimento. O professor
adota um discurso populista e incendiário afirmando que levariam essa causa à toda
Alemanha. Um dos estudantes, Marco, diz que estão sendo manipulados e que esse não
deveria ser o andamento da causa. Diante desse relato, o professor pergunta o que deveria ser
feito com Marco depois de questionar a causa, se ele deveria ser torturado ou morto já que é
assim que as coisas são feitas em um regime ditatorial.
Depois de ver a reação violenta que seus alunos estavam dispostos a tomar, Rainer
volta a discussão que tiveram no começo da semana sobre se era possível ou não ter
novamente uma ditadura e confessa que seu projeto fora longe demais e que seria melhor
acabar com isso o quanto antes. Quando o fim do movimento foi declarado, Tim pega sua
arma e fala como a causa tinha se tornado sua vida e que ela não poderia acabar de jeito
nenhum. Um dos alunos ao tentar confrontá-lo, levou um tiro e em seguida Tim cometeu
suícidio na frente de todos. O filme finaliza com o professor sendo levado para a delegacia.

Conclusões individuais:
- Helena Praia:
Esse filme é muito interessante porque mostra como é possível uma manipulação mal
intencionada dentro de uma sala de aula e como as consequências disso nunca serão restritas
ao ambiente escolar. O professor Rainer não se mostrou mal intencionado em nenhum
momento, apenas perdeu o controle de uma atividade extracurricular que exigiu uma maior
integração dos alunos. O objetivo inicial do projeto era trazer a realidade de um regime
ditatorial para dentro da sala para que os alunos pudessem valorizar ainda mais a democracia.
O estudante mais atingido pela experiência socioeducativa foi Tim, personagem
negligenciado pela família em diversos momentos do filme e excluído por alguns colegas.
Vulnerável e sensível, o garoto se entrega completamente ao movimento e quando chega ao
fim perde a cabeça agredindo um colega e se suicidando. Dessa forma, é perceptível que um
aluno sem assistência é mais suscetível a cometer certos delitos ao ser introduzido a uma
realidade ou a um discurso mais agressivo e imediatista.
O filme põe em xeque a ideia de que toda sociedade ou população está imune ao
fascismo. A manipulação e violência no ambiente escolar também são algo retratadas ao
longo de todo o longa-metragem. Como futura professora, achei assustador a influência que
uma atividade ou um discurso mal interpretado pode causar em cada aluno. Porém,
justamente por eu querer ser uma boa profissional, acho de extrema importância questionar
sobre e consumir materiais como este para realmente entender a influência e cuidado que se
deve ter em sala.

- Sofia:
O filme A Onda mostra os reais perigos do autoritarismo e do totalitarismo que,
disfarçados sob bons pretextos, aos poucos vão manipulando as pessoas sem que elas
percebam. Achei interessante como ele apresenta e discute os problemas do autoritarismo e
alerta para a possibilidade do ressurgimento de uma visão fascista do mundo contemporâneo.
O professor, principal personagem do longa, propõe um experimento para conscientizar seus
alunos. Seu objetivo era mostrar como é fácil cair em um discurso e postura autoritária. O
professor Wenger quer mostrar aos seus alunos o perigo das ideologias e como elas
sutilmente podem comandar as pessoas, seus pensamentos, sentimentos e ações.
Os alunos, diante destes problemas e da falta de sentido para suas vidas, aderem ao
totalitarismo. Nenhum deles enfrenta problemas financeiros graves, simplesmente não sabem
o que fazer ou aonde ir: seus valores são materialistas e suas existências vazias. É neste
quadro que a ameaça totalitária se faz muito atraente. Este foi o ponto que mais me interessou
no filme - Dado o vazio existencial que eles vivem, há uma possibilidade razoável da Onda
fazer sentido; Se a vida não tem sentido, é melhor projetá-la no movimento. Um experimento
que começou dentro da escola, da sala de aula, tornou-se totalmente a identidade dos alunos.
Podemos fazer um paralelo entre os alunos neste cenário e os alemães da década de
30 diante dos problemas econômicos e a desilusão com o governo. Ambos os cenários
favoreceram a ascensão do totalitarismo. Na história, o professor é diferente dos alunos. Ele
usa a mesma camisa, segue a mesma ideologia, mas diferencia-se, está num patamar superior.
Ele é o líder e condutor, o Duce deste movimento fascista. Mussolini, ao tomar o poder,
exigiu dos italianos ser tratado pelo título de Duce. A tradução da palavra é duque, fazendo
referência aos grandes líderes das repúblicas medievais italianas. Assim como nos regimes
totalitários, o professor está acima da própria lei. Ele é a lei, e aos poucos também vai se
tornando uma figura divinizada pelos seguidores.
Eu já tinha tido contato com este filme na escola, no Ensino Fundamental II, enquanto
estudávamos sobre o fascismo. Ter assistido ele com a visão de uma estudante de letras foi
uma experiência interessante, pois observar e estudar a linguagem do autoritarismo é
fascinante. A persuasão, a sedução e o otimismo estão muito presentes nesse tipo de discurso
(muito bem feito no filme, inclusive). Todo sistema autoritário almeja a disciplinarização da
linguagem; ela exprime, no domínio público, as virtudes de sua atrocidade. Uma de suas
características é o insulto, geralmente acompanhado de palavrões, provocações e ofensas.
Ademais, assistir à “A Onda” em 2022 foi uma experiência interessante tendo em
vista os problemas socioeconômicos causados pelo atual governo do Brasil. O descaso com a
educação ocasiona na alienação de massas, uma vez que a maior parte da população brasileira
usufrui da educação pública. Não só no Brasil, mas a “onda fascista” pôde ser vista do mundo
todo nos últimos anos, e como a extrema direita tomou conta das principais potências
mundiais. Não acredito que o fascismo esteja tomando seu lugar no mundo hoje em dia da
mesma forma que foi no passado. Como pode ser visto no filme, ele toma conta das massas
populares das maneiras mais sutis possíveis, já que trabalha com a persuasão e alienação.
Em suma, assistir “A Onda” foi uma experiência muito interessante pelos motivos já
citados. É um filme muito inteligente e necessário na atualidade, mesmo tendo sido lançado
há 13 anos. Seus conflitos abordam temas que estão em alta na sociedade hoje em dia, e é
muito importante analisá-los. “É importante estudar a história para que não se repita”, mas,
mesmo tendo estudado, os alunos caem no discurso autoritário do professor. O
questionamento que me ficou depois do filme foi, justamente, por que isso acontece?

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