escola”, apresentado a Universidade Federal de Ouro Preto, como parte das exigências do curso de Produção de textos.
Ouro Preto, 09 de novembro de 2019.
Entre os Muros da Escola
Laurent Cantet é um diretor nascido na cidade de Melle, na França, em 1961. Em sua
carreira foi responsável por diversos filmes, como por exemplo “L'Emploi du temps”, “Vers le sud” e “Entre Les Murs”, sobre o qual essa resenha se trata. Com o título em português “Entre os muros da escola”, o filme francês ganhou diversas premiações, como por exemplo a Palma de Ouro em 2008. Trata-se de uma obra cinematográfica que aborda questões como a presença de imigrantes na escola e a convivência entre alunos e professores em um ambiente rígido e com pouco diálogo entre docentes e discentes. O drama trata das relações dos os alunos entre si e com os professores, tomando foco no protagonista François, professor de francês. Há uma demonstração da perspectiva dos professores em relação a seus alunos, exemplificada por conversas entre os docentes, como no início do filme, onde os funcionários da escola se apresentam uns para os outros e posteriormente os professores recebem os diários de suas turmas e conversam entre si sobre o comportamento dos alunos. A turma que recebe o foco da obra cinematográfica é bastante heterogênea, com a presença, inclusive, de alunos que não nasceram na França. Além disso, o contexto familiar dos estudantes é muito diferente entre si. Dessa forma, há dificuldades por parte dos professores de criarem um diálogo real com os alunos, que muitas vezes se mostram resistentes às atividades propostas e até mesmo desrespeitosos. Em relação a esse cenário, o filme mostra o ensino também na visão do professor que lida com essas salas de aula indisciplinadas. Em um certo momento, mostra, por exemplo, o desabafo do professor de informática da escola que está frustrado com os alunos, além de estar incomodado com o comportamento dos mesmos e alega não querer voltar a dar aulas a uma determinada turma. Claramente há uma crítica ao sistema e um destaque ao desgaste do professor, cujo trabalho muitas vezes é dificultado e até mesmo impossibilitado devido às falhas desse sistema. O protagonista tenta constantemente aproximar-se dos alunos e criar com eles um vínculo real, mas o diretor da obra nos mostra constantemente a dificuldade do professor em conseguir tal ligação. A hierarquia e o sistema criam uma barreira praticamente intransponível entre os professores e os alunos e as tentativas de François são frustradas. Como por exemplo quando ele entra em uma situação de confronto com uma das alunas que se recusa a ler um parágrafo que ele pede em sala e se comporta de maneira pouco polida. O professor, então, pede que a aluna permaneça no fim da aula para que os dois conversassem e quando ela o faz, a questiona sobre seu comportamento, pedindo que se explique e pergunta se aconteceu algo. A intenção do professor era se aproximar da aluna, mas isso não acontece visto que a mesma adota uma postura evasiva e não responde de fato. O professor, então, a obriga a se desculpar e faz com que a aluna repita as desculpas várias vezes, pedindo que seja sincera. No entanto, no momento em que a aluna está deixando a sala, ela alega não ter sido sincera e ri da situação, o que deixa o professor com raiva. Essa passagem é uma exemplificação da impotência do professor diante do sistema. A hierarquia e a forma como as medidas são tomadas criam uma barreira que impede que o diálogo funcione, ao mesmo tempo que a severidade proposta pelo sistema cria na aluna uma postura de resistência. A obra apresenta a constante tentativa dos professores de encontrarem uma solução para a falta de cooperação dos alunos. No entanto, há uma discordância entre os professores. De um lado, há aqueles que acreditam que as medidas disciplinares deveriam ser punitivas e severas. Do outro, há aqueles que acreditam que medidas baseadas no incentivo e premiação de feitos positivos teria mais resultado. O filme mostra algumas situações onde essa discussão acontece, como por exemplo quando é feita a sugestão de uma medida punitiva baseada em redução de pontos. Uma professora sugere que seja instalada não só uma medida punitiva, mas uma forma de valorizar aquilo que os alunos fizerem de positivo e sugere uma distribuição de pontos nesse caso. Há também um conselho de professores onde se discute o desempenho geral dos alunos, bem como seu comportamento e a discussão principal é em torno de Souleymane, um aluno imigrante africano particularmente indisciplinado. Um dos professores alega que o mesmo já não é mais afetado pelas medidas disciplinares e que se felicita quando é expulso da sala de aula. Nesse momento, a discordância entre os professores é explícita. Há a opinião de que não aplicar medidas punitivas para corrigir o comportamento do aluno é inadmissível pois nenhuma outra postura corretiva resolveria o problema e dessa forma ele continuaria a perturbar as aulas. Há também a opinião de que a severidade com a qual se vem tratando o aluno incita seu comportamento negativo e que a melhor postura seria valorizar as coisas positivas que o aluno fizesse. Apesar da obra tratar-se do dia-a-dia escolar, ela também retrata o contato com as famílias dos alunos. Há uma reunião de pais e o filme mostra a reação dos mesmos sobre o feedback que recebem dos alunos. As reações se diferem, há pais que se alegram, outros, diante de um feedback negativo, se mostram resistentes a acreditar que o problema está em seu filho e culpam o sistema e a escola, outros falam de suas expectativas e vontades em relação a seus filhos. É possível, portanto, extrair-se uma dimensão do contexto familiar dos alunos, que em muitos casos não é ideal, como por exemplo a fato de um dos alunos ser um imigrante chinês e sua mãe ser presa por estar ilegalmente na França. A principal exemplificação da falha do sistema apresentada pelo diretor da obra gira em torno do conflito que envolve Souleymane. Através desse conflito, a obra torna explícito, de forma bastante eficiente, o sistema de hierarquia excludente, que não permite diálogo, bem como suas consequências. Pode-se perceber o acúmulo de problemas entre esse aluno, a turma e o professor ao longo da obra, apesar da situação ser mostrada majoritariamente na visão do professor e ser pouco explorada quando se trata do aluno. Em uma passagem do filme, onde estava ocorrendo um debate em sala, esse aluno se exalta e começa a ofender os outros, inclusive o professor, que o trata com muita rigidez e, posteriormente, o leva ao diretor. Em um momento posterior, há um momento de tensão em sala, envolvendo outras alunas, que o professor ofende e isso acaba criando uma discussão generalizada na sala. Souleymane se exalta, então, e sai da sala de forma violenta, acabando por acertar no rosto outra aluna, que se machuca. O insulto do professor desencadeia nos alunos uma reação desfavorável. Os alunos alegam que se o professor usa insultos para trata-los, eles podem fazer o mesmo em relação ao professor. Após um conselho deliberativo acontece a expulsão de Souleymane. Por fim, pode-se dizer que o drama mostra de maneira bastante sensível os problemas do dia-a-dia de uma escola cujo sistema de regras não é participativo. O filme pode ser uma ferramenta de debate bastante útil em um debate que leva em consideração o difícil trabalho do docente, que muitas vezes não tem estrutura para executar um bom trabalho com seus alunos, bem como as relações escolares entre funcionários, professores e alunos, que muitas vezes são baseadas em poder. A obra cinematográfica nos incita a pensar sobre a importância do diálogo e das relações horizontais vinculadas ao aprendizado. Referências Bibliográficas:
HESSEL Marcelo. Entre os muros da escola. 2016. Disponível em: <
https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/entre-os-muros-da-escola >. Acesso em: 09 de novembro de 2019.