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Djany de Paiva Sales

Entre os Muros da Escola


O filme entre os muros da escola tem por objetivo relatar a realidade escolar
francesa. Mostra a realidade de uma escola pública de periferia, onde há um
relacionamento conturbado entre alunos e professores. O professor François Marins
é professor de francês que tem como desafio ensinar alunos adolescentes.
Apresentando diferenças culturais, sociais e comportamentais os alunos geram
muitos conflitos em relação ao professor e a prática pedagógica, o professor tenta
conter os comportamentos dos alunos e acaba entrando em conflitos várias vezes
com eles.

A sala é composta por alunos de baixa renda, pouca bagagem cultural,


desestimulados por vários problemas familiares apresentando desinteresses,
indisciplina, não despertando nenhuma iniciativa nos conteúdos curriculares
acarretando muitos conflitos com o professor.

O filme entre os muros da escola consegue deixar claro que os alunos


possuem uma organização psíquica imatura em relação ao aprendizado resultando
em ansiedade, agressividade, dificuldade de atenção, cumplicidade entre os alunos,
causando, portanto, inibição intelectual, problemas diversos que prejudicam a
aprendizagem escolar. O fracasso escolar é um objeto de estudo muito polêmico
que engloba alunos, professores, a atuação dos familiares e da instituição escolar.

A relação entre autoridade e autoritarismo é uma questão muito polemica que


precisa ser discutida no âmbito escolar. A respeito desse assunto, Aquino (1999, p.
34) relata que:

(...) quando se estabelecem relações de respeito unilateral, da relação entre o


amor e o medo o sentimento que prevalece é o medo. A criança respeita sua mãe e,
por que não dizer também, sua professora, porque tem medo da punição.
Entendemos, porém, que se não houver um mínimo de afetividade na relação não
haverá o respeito. Pode haver obediência, que só funcionará enquanto o mais velho
tiver instrumentos de coação à sua disposição, para cobrá-la.
(...) boa parte dos problemas disciplinares que as escolas vêm enfrentando
ultimamente decorre do fato de que as relações ali estabelecidas, contrariando a
visão da maioria dos docentes, não é de respeito e sim de obediência. À medida
que a sociedade se democratiza e os instrumentos autoritários colocados por ela a
serviço da escola vão sendo eliminados, a relação de obediência transparece,
porque as relações de fato não estão baseadas no respeito e os sujeitos não se
sentem mais obrigados a cumprir as regras.

O professor François é a autoridade na sala de aula apresentando certo


autoritarismo quando um aluno levanta sem permissão para emprestar um objeto a
um colega comparando a sala com crianças menores. Porém é aberto a
comentários e opiniões da turma que questionam sua postura e até o enfrentam e
ele tenta argumentar trazendo os para os debates. François nas reuniões com
professores e direção questiona as regras, afirmando que uma regra mais rígida
para os alunos não melhorará a indisciplina. Tenta pensar sobre como ajuda-los
porque sabe que tem condições para aprender, mas são imersos em problemas
sociais.

Ele mostra-se realmente preocupado com os alunos, uma das características


apontadas por Ambrosetti(1996) e Cunha (1997) como característica do bom
professor. [...] ser capaz de se colocar no lugar do outro e vê-lo como alguém, ao
mesmo tempo igual – ser humano com os mesmos direitos e necessidades - e
diferente – pessoa com suas próprias características e especificidades - é também a
base das relações de afetividade maduras que observamos nas classes, marcadas
pela atenção e pelo respeito mútuo.” (AMBROSETTI, 1996, pp. 184-185)

Pode se observar que a receptividade dos professores novatos à escola é


discriminatória entre os próprios colegas de profissão e direção onde ao receber o
dossiê dos alunos, os quais já são rotulados pela direção e demais professores
como “bons” e “maus”, que a intolerância era a palavra de ordem naquela escola,
nos âmbitos étnicos, religioso, sexual, cultural, social, intelectual. Fica visível a
desmotivação, o estresse e a agressividade vindo de alguns professores atuantes
naquela escola e a começar pelas ameaças veladas, constrangimentos e problemas
psicológicos que causavam nos alunos ao direcioná-los para um conselho
disciplinar e até expulsão da escola.
O desabafo do professor de Informática quando adentra a sala dos
professores muito irritado desabafando com os colegas e agredindo os alunos
verbalmente com palavras de baixo escalão apresentado no filme, é um retrato do
desiquilíbrio emocional de muitos professores, isto pode ser percebido em diversos
ambientes escolares mundiais, convivem com agressões, ameaças e abusos
diários. A escola é um retrato a influência recebida pela sociedade (onde o professor
é impotente frente às violências sociais), mas também produz violência - e uma
violência muito específica, que, segundo Salles e Silva (2004, p 151): “Na escola, a
violência cotidiana aparece no desrespeito ao outro, na transgressão aos códigos de
boas maneiras e à ordem estabelecida. A falta de limites associada à
desconsideração pelos outros contribuem para que os jovens e adolescentes
busquem se impor pela força e pela agressão.”

No filme pode se avaliar que a escola não estava preparada para cuidar das
questões afetivas, psicológicas, cognitivas de seus alunos e o seu contexto familiar.
Fica claro que a realidade enfrentada pelos estudantes no Brasil não é exclusiva de
nosso país e sim um problema mundial e o filme mostra claramente a fragilidade
escolar.

O processo educacional terá sucesso quando as relações dentro e fora da


escola forem pautadas pelo respeito mútuo e planejamento entre professores,
alunos, gestores, a população escolar e a sociedade. A escola tem o poder de
ajudar às pessoas a fazerem uma tradução crítica de suas vivências que trazem em
seu histórico familiar e social, mostrar a possibilidade de uma nova releitura do
mundo e mostrar que em cada uma dessas pessoas a esperança de um mundo
com menos preconceito, racismo, mais integração e convivência podem ser
possíveis. Certamente que este não será um caminho fácil a ser trilhado, mas com
amor, competência e planejamento sem interesses de classes minoritárias, o
educador obterá êxito no trabalho desenvolvido.

A justificativa para o fracasso escolar é que os alunos fazem parte de classes


sociais de baixa renda, tem mais dificuldade em aprender por causa da carência
cultural, privações comparadas com alunos de classe média. Os alunos de periferia
não vão para a escola para aprender, vão para passar de ano, fazer um vestibular,
pegar um diploma e consequentemente um emprego, isto devido a uma imposição
de uma política governamental para justificar que a educação está fracassada em
muitas escolas. Essa teoria cultural baseia na ideia de que as escolas são
planejadas por padrões de classe média e não para a realidade da periferia.

Trazendo a polemica do filme para os dias atuais, a escola é vista como


produtora de desigualdades, onde só se valorizam os padrões culturais das classes
dominantes e discriminam os conhecimentos dos menos afortunados substituindo a
“culpa” para a periferia justificando que as escolas são ruins porque os bairros são
ruins ou pode se dizer que os bairros são ruins porque as escolas são de péssima
qualidade e não conseguem dar uma boa educação aos estudantes, polemica esta
que incluem preconceito, racismo, integração social que não é lucrativo para as
questões governamentais.

O filme deixa a esperança de que é preciso encurtar a distância entre


conteúdo programático e a realidade dos alunos em sala de aula. Um ensino
deficiente e a aprendizagem precária mostra a fragilidade do ensino.

As instituições precisam se atentar ao estilo de vida, ao comportamento e o


contexto familiar de cada estudante num todo, oferecendo a este o respeito, a
valorização de suas potencialidades para ajudar os alunos rever e melhorar suas
dificuldades, tendo sempre a família como aliada neste processo de ensino e
aprendizagem.

Os alunos querem ser vistos no sentido de atenção, compreensão, respeito,


carinho, admiração, valorização das suas habilidades e competências e ser ajudado
em suas dificuldades visto que isso não fazem parte do contexto familiar, mas
também não encontram na instituição escolar. Em contrapartida o professor não tem
apoio nem dos alunos e muito menos do estabelecimento de ensino que muitas
vezes somente preza pela imagem da escola e acabam erroneamente não
observando os motivos e causas dos comportamentosdos alunos e avaliando como
falta de educação e de limites o comportamento da sala. Se o professor,a gestão
escolar, pais e a comunidade não estiver atento a estas questões e comprometido
cada um com sua parte colaborativa no trabalho, certamente todo o planejamento
de aula e os processos de ensino aprendizagem serão frustrantes, quando apenas o
aluno é culpado do seu mal comportamento e de seu fracasso escolar. E a
intolerância e a violência certamente estarão entre os muros da escola.
REFERÊNCIAS:
AMBROSETTI, Neusa Banhara. A prática competente na escola pública. Tese (Doutorado
em Psicologia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1996
AQUINO, JulioGroppa (org). Autoridade e Autonomia na escola: alternativas teóricas e
práticas. São Paulo, Summus, 1999.
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre. Petrópolis, Vozes, 2011.

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