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Levando em conta o papel ativo dos alunos diante das relações estabelecidas na
sala de aula, torna-se necessário considerar a autenticidade da escola como um local de
construção de um conhecimento autônomo. Como expõem o linguista e historiador,
André Chervel, para quem a escola não é um local de mera reprodução adaptativa do
conteúdo acadêmico, mas sim, um espaço no qual se constrói um conhecimento
singular, alicerceado não só pela produção acadêmica e aos parâmetros educacionais
estabelecidos pelo Estado, mas também pelas relações que ocorrem em âmbito familiar,
escolar e comunitário. Em que assumem o papel como agentes no construto do saber: os
alunos, os responsáveis pelos alunos, os professores e os demais funcionários da escola.
Portanto, tal é a dificuldade existente por parte não somente dos professores,
mas dos demais agentes envolvidos na configuração da escola, em entende-la como
lugar de conhecimento autônomo, que inevitavelmente ocasionam-se atrasos e
regressões no ensino escolar. Na obra, tal fenômeno é retratado simbolicamente na
personificação do professor, cujos atritos com a classe se devem em grande parte,
devido a adoção de uma postura negligenciável e autoritária diante dos alunos, como
ocorre em certos momentos, gerando assim, um confronto entre estes últimos e o
professor.
Fato é que a tentativa fracassada de impor respeito e disciplina à classe por meio
da força, somente ocasiona mais conflito, configurando-se como um mecanismo
antiquado, que quanto mais posto em uso, mais gera um sentimento inversamente
equivalente de ódio e violência por parte de quem sofre a ação autoritária, isto é, os
próprios alunos.
Para além disso, deve-se dizer que a adoção de certas atitudes violentas não
parte somente dos professores para os alunos ou do inverso. Existe também, certas
práticas de ordem semelhante, que partem dos próprios estudantes e se dirigem a outros
colegas de classe. Como evidencia varias cenas do próprio filme, em que certas atitudes
carregadas de ódio e preconceito são justificadas com o argumento de serem simples
brincadeiras. Esses episódios que ocorrem cotidianamente em inúmeras escolas ao redor
do mundo, devem ser enfrentados com a devida seriedade, pois se ignoradas, podem
ocasionar em graves consequências, cujos efeitos perpassam até mesmo o ambiente
escolar.
Tal regra, deve valer tanto para os alunos que sofrem a ação quanto aos que a
praticam. Caso contrário, ocorrências mais graves que vão desde a automutilação do
corpo, a disseminação de comportamentos ainda mais agressivos para com os outros, a
inserção precoce na criminalidade e até mesmo o suicídio, podem ser medidas a serem
tomadas por parte desses mesmos indivíduos que sofrem ou praticam essas ações, e que
veem nessas medidas mais drásticas, um método de acabar ou pelo menos diminuir o
sofrimentos que os acometem.
Por fim, ao que parece, a obra passa uma mensagem nítida, em que o problema
enfrentado pelo professor é conciliar sua figura de mediador didático e social, de modo
que o mesmo não ultrapasse a linha para o autoritarismo, demonstrando a quão
desafiadora é tal profissão. Ao mesmo tempo, o aluno, que em muitos casos assume um
papel de passividade na constituição do ambiente escolar, é demonstrado na trama como
um ser pensante e autônomo, com suas escolhas, gostos e problemas inerentes a
construção de sua personalidade, e em virtude disso, como parte dos agentes
responsáveis pela constituição da escola como um local de saberes autônomos e
autênticos.