Você está na página 1de 6

INSTITUTO VALE DO CRICARÉ

UNIVERSIDADE VALE DO CRICARÉ

CURSO DE PSICOLOGIA

TATIANA ROSSINI SILVA

ESCRITORES DA LIBERDADE: UMA PERSPECTIVA DA ANÁLISE


INSTITUCIONAL

SÃO MATEUS

2022
TATIANA ROSSINI SILVA

ESCRITORES DA LIBERDADE: UMA PERSPECTIVA DA ANÁLISE


INSTITUCIONAL

Trabalho apresentado a disciplina de


Psicologia e Processos Institucionais
do Curso de Psicologia da
Universidade Vale do Cricaré, como
requisito parcial para obtenção do grau
de Bacharel em Psicologia.
Orientador: Prof. Me. Paulo Ferri

SÃO MATEUS

2022
Uma jovem que cresceu sob a influência de um grande militante dos
direitos humanos e igualdade racial finalmente é admitida para seu emprego
dos sonhos: professora de uma escola pública recém integralizada. Após
recitar um discurso perfeitamente ensaiado, Erin Gruwell percebe que naquela
escola as coisas não ocorrem como idealizou. Logo na primeira conversa, a
diretora afirma que a professora não deve exigir tarefas muito extensas ou
longas leituras a seus alunos, uma vez que, devido a condição social dos
mesmos, podem não dar conta das demandas propostas.

Em primeiro plano, o discurso da instituição escolar surge como principal


analisador. Em diversos momentos do filme é possível ver os estudantes
periféricos sendo subjugados por professores, diretores e chefes de
departamento. Logo na primeira cena, a responsável pela contratação de Erin
G. dá a entender que os alunos racializados não serão capazes de aprender o
conteúdo do currículo. Além disso, afirma que a nova docente não deve usar
seu colar de pérolas na sala de aula, como se os jovens não merecessem
sequer que a sua professora se arrumasse para a aula, ou até mesmo que o
seu acessório seria furtado, mesmo que o crime sequer tenha sido citado como
um evento recorrente na escola.

Ainda nesse sentido, em dado momento do filme, o professor de língua


inglesa e literatura para classes tidas como superiores, majoritariamente
brancas, é abertamente racista, afirmando que “a integração é uma mentira” e
que os alunos imigrantes, negros, latinos, amarelos e pobres que passaram a
frequentar a prestigiada escola, apenas atrapalham a média da instituição,
geram brigas e delinquência. Tal cena se torna simbólica para a mensagem do
filme, uma vez que é o momento em que o preconceito é escancarado e
verbalizado em alto e bom som. O mesmo professor diz ainda que Erin não
deve se preocupar com seus estudantes de primeiro e segundo ano, uma vez
que não chegarão a concluir seus estudos, e apenas os privilegiados, de
maioria branca, chegarão a suas turmas de terceiro e quarto ano.

Em segundo plano, é possível observar o viés das “tribos” formadas


pelos alunos da escola. Cada grupo se conecta pela identificação, observam
uns nos outros características que os tornam semelhantes, especialmente a
identidade racial. Por pertencerem ao mesmo círculo social, por vezes se veem
uns nos outros, como se fossem de fato iguais por morarem nos mesmos
bairros, conhecerem as mesmas pessoas, sofrerem os mesmos preconceitos e
terem a mesma condição social. No entanto, na sua vivencia dentro e fora da
escola falham em buscar conexões com outras “tribos”, por vezes reproduzindo
o mesmo tipo de preconceito sofrido com aqueles que julgam diferentes. Por
jurarem lealdade aos seus, acabam se colocando em situações degradantes,
por vezes contra a sua vontade, em prol da manutenção do status do grupo,
como é o caso de Eva, que sofreu agressões físicas para se iniciar em uma
gangue, e assim o fez por acreditar que deveria seguir os passos do pai e fazer
parte da comunidade.

Na perspectiva da análise institucional, deve-se distinguir a demanda da


encomenda, e a analise sobre as dinâmicas intergrupos e entregrupos
estabelecidas no ambiente. Uma vez que o caso apresentado se trata de uma
obra ficcional, não há uma encomenda de análise realizada por um grupo, no
entanto, a observação crítica permite afirmar o quanto as forças atravessam os
sujeitos envolvidos. Em primeiro lugar, percebemos que a Escola, enquanto
instituição, falha em acolher, dar suporte, condições materiais e elaborar um
plano de ensino que se adeque a realidade e motivações dos seus alunos. Em
diversos momentos previamente citados, os educadores e gestores promovem
discursos e atitudes que subjugam seus educandos, afirmando que os mesmos
não são capazes de aprender, portanto não merecem o esforço daqueles que
são contratados para ensinar. Essa postura gera um atravessamento negativo
nos alunos, que passam a acreditar que não pertencem aquele ambiente,
portanto, de nada adianta que se dediquem aos estudos, retroalimentando a
dinâmica imposta.

Em outro plano de análise, percebemos a instituição do preconceito


racial e dinâmica de classes que se estabelece especialmente entre os próprios
alunos. Por se dividirem em grupos relacionados especialmente a cor da pele,
por vezes apresentam discursos racistas sobre membros de outros grupos, o
que acaba sendo reforçado pelos professores e gestores presentes. Além
disso, por apresentarem uma condição de vida muitas vezes precária, são
desacreditados por todos ao redor, inclusive por eles mesmos. Por não terem
condições financeiras boas, acreditam que não há futuro por meio dos estudos,
por ser um caminho longo e custoso. Por muitas vezes, ingressam na vida do
crime para dar algum tipo de suporte para a família conseguindo dinheiro a
curto prazo. Ademais, as gangues e a própria família também apresentam um
papel institucional relevante, uma vez que impõem uns aos outros a ideia de
que devem algum tipo de lealdade “aos seus”, mesmo que isso signifique
passar por cima de crenças pessoais e fazer o que julgam ser errado.

Mediante aos fatos citados, a professora Erin Grinwall exerce um papel


fundamental na reforma do modelo de ensino da escola e no modo de pensar
dos alunos. Apesar de não haver um profissional capacitado para realizar uma
análise institucional no local, ao chegar à instituição com novos olhares, a
professora se propõe a perceber as questões que atravessam os alunos e
quais os reais empecilhos para o seu processo de aprendizagem. Dessa
maneira, pôde revolucionar seus métodos de forma a motivar e instigar os
educandos a buscar conhecimento. Um exemplo de tal feito, foi o momento em
que, percebendo a dinâmica de grupos estabelecida, promove dinâmicas em
que os alunos possam se misturar, buscar semelhanças uns com os outros e
se sensibilizar a história de vida dos colegas. Acerca da dinâmica racial,
estabeleceu um diálogo com o momento histórico do holocausto, em que
judeus foram perseguidos pelos nazistas, de forma a abrir os olhos da turma
sobre a perseguição e supervalorização de um grupo. Um momento simbólico
é quando a aluna Eva se vê sobreimplicada na análise da obra “O diário de
Anne Frank”, uma vez que, por se identificar tanto com a personagem, não
consegue perceber a importância dos escritos, julgando rude a proposta de
leitura da professora, acreditando que terá o mesmo fim da personagem
histórica. Por fim, ao lutar pela valorização dos estudantes e promover
atividades novas, recursos materiais e viagens para os mesmos, os motiva a
estudar, mostrando que o ambiente escolar pode os fazer crescer e trazendo o
sentimento de pertencimento para os alunos. Além disso, consegue demonstrar
para o corpo docente que com o método de ensino adequado, os estudantes
podem se envolver com o processo de aprendizagem, e que a contenção de
recursos não é a solução para o problema.
REFERENCIAS

ROSSI, André; PASSOS, Eduardo. Análise institucional: revisão


conceitual e nuances da pesquisa-intervenção no Brasil. Rev. Epos, Rio de
Janeiro , v. 5, n. 1, p. 156-181, jun. 2014 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2178-
700X2014000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 04 jul. 2022.

Você também pode gostar