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Rio de Janeiro
2022
Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE Universidade Estácio de Sá
Rio de Janeiro
2022
P364r Peçanha, Renata Cristina Ribeiro
Representações sociais do ambiente da sala de aula por
alunos do 6º ano do Ensino Fundamental: a afetividade em
questão. / Renata Cristina Ribeiro Peçanha. – Rio de Janeiro,
2022.
f.
CDD 370.1
Aos meus filhos, amores da minha vida,
com amor e carinho
AGRADECIMENTOS
Após quase vinte e cinco anos de formação, fui motivada por amigos e filhos a voltar a
estudar. Entusiasmada com um novo propósito em minha vida, iniciei o mestrado em março
de 2020, porém ninguém contava com a pandemia mundial do Covid 19. Apenas uma semana
de aula presencial começamos o isolamento social, que no início seriam apenas quinze dias,
mas que na verdade durou quase dois anos. As dificuldades de ser novamente uma aluna
foram exacerbadas com o pânico da doença que matava mais a cada dia. Aulas remotas e
docentes e discentes aprendendo juntos com a nova modalidade de ensino.
Embora tenham sido dois anos de muitas incertezas, posso garantir que foi também de
muito aprendizado, e a conclusão do curso não seria possível sem o apoio dos meus filhos
(por ordem de nascimento) Guilherme e Fernanda, que acreditaram em mim e me
incentivavam a continuar, por isso, meu agradecimento vai em primeiro lugar para eles.
À minha orientadora, professora doutora Rita Lima, que me acolheu e me orientou
sempre com muito carinho, educação e paciência e principalmente, acreditou em mim.
Minha família e principalmente minha mãe que sentiu orgulho de mim.
A todos os colegas de mestrado que de alguma forma contribuíram para o
aprimoramento da minha pesquisa, mas em especial à Luanda e ao Marcos na formação do
nosso trio.
À minha amiga Laiana, que me motivou e orientou no pré-projeto, à Carla e Antônio
que deram uma grande força para começar. À Érica que me ajudou com o contato com os
participantes. Valdemir que, por várias vezes, me deu dicas valiosas e muita ajuda. Janilson
que me socorria quando eu “brigava” com o computador. Agradeço a todos os amigos que, de
alguma forma, contribuíram para que eu desenvolvesse a pesquisa, e claro, não poderia deixar
de agradecer ao Claudio Joaquim, que produziu o jogo das emoções exclusivamente para a
esta pesquisa.
EPÍGRAFE
RESUMO
This research, with a qualitative approach, aims to investigate social representations of the
classroom environment by students of the 6th grade of Elementary School, with emphasis on
the affectivity that permeates the teacher-student relationship, which can affect student
learning. Children and young people spend most of the day at school, constituting a place
where social interactions among different actors take place, and those actors play an important
role in the formation and socialization of the individual. In this space, affectivity and
cognition are associated, seeking the participation of the student as an active subject in their
schooling process. Considering the classroom environment as a place of intense affective
relationships, this research has as its starting point studies on affectivity by classic authors
Henri Wallon, Jean Piaget, and Lev Vigotski. The Theory of Social Representations (SRT),
proposed by Moscovici, was taken as a theoretical-methodological reference for the study, as
it allows analyzing the construction of meanings of objects that affect groups in processes of
social interactions. The data generation was carried out in two stages, with the participation of
children of both genders from a Federal school in Rio de Janeiro, which encompasses the first
segment of Elementary School up to technical High School. The first stage consisted of
setting up a classroom using a computer game produced for this research, which can be
accessed through the website www.efuturo.com.br/oficialjogoemocoes/, and producing an
explanatory text highlighting what is most and least appreciated in this environment. Based on
the results analysis of this stage, two focus groups were carried out, Focus Group 1 with nin
students and Focus Group II with eight students, with the intention of listening to them about
the meanings regarding relationships in the classroom environment, which allow addressing
affectivity, particularly in the relationship between learner and teacher. The material was
analyzed based on content analysis. Two themes were proposed for the two groups, “Teacher
Student Relationship” and “My ideal teacher”, each divided into categories and subcategories.
Both in the analysis of the game, the writing and the focus groups, the students showed
dissatisfaction with the indiscipline present in the school environment, organizing their
speeches around the term “mess”. In Group I and Group II, as an interpretative hypothesis of
the figurative model of the social representation of the classroom environment, the term
“mess” aims at representation, associated with the way the teacher deals with it. In Group I,
“mess” is associated with images of the “agitated”, “affectionate”, “playful” teacher. And in
Group II, the images of the “authoritarian”, “angry”, “friendly” teacher. For the participants,
the “affectionate”, “playful” and “friendly” teacher handles the mess better. The results of the
study will be able to contribute to improve the relations between teachers and students and,
consequently, to give new meaning to the classroom environment in search of the student's
global development.
Figura 2 - Modelo figurativo da representação social do ambiente da sala de aula por alunos
do 6º ano do ensino fundamental- a questão da afetividade- uma hipótese interpretativa.......78
Figura 3 - Modelo figurativo da representação social do ambiente da sala de aula por alunos
do 6º ano do ensino fundamental- a questão da afetividade- uma hipótese interpretativa.......83
LISTA DE TABELAS
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 14
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
3 METODOLOGIA...............................................................................................................50
3.1 TIPO DE PESQUISA .......................................................................................................50
3.2 CAMPO DE ESTUDO......................................................................................................51
3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO.....................................................................................52
3.4 PROCEDIMENTOS PARA PRODUÇÃO DE DADOS .................................................54
3.5 TÉCNICA PARA ANÁLISE DE DADOS.......................................................................57
REFERÊNCIAS..................................................................................................................90
APÊNDICES
APÊNDICE A – ROTEIRO DE PERGUNTAS DO GRUPO FOCAL...............................96
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...............98
ANEXOS
INTRODUÇÃO
deveres como cidadão, para que se sinta parte da escola, tenha prazer em frequentá-la e que
esta seja acessível a todas as classes sociais. Já a escola do presente, é a visão da boa escola
com a expectativa de superação dos problemas do passado ainda presentes e os anseios de
melhoria de espaços e até mesmo de professores bem formados.
Em relação aos docentes, Abed (2014) afirma que o professor deve colaborar com o
desenvolvimento global dos alunos, sendo um mediador cuidadoso de modo a impulsionar
situações de verdadeira e significativa aprendizagem, e não apenas um “dador de aulas”.
Nessa mesma direção, Freire (2010) afirma que, para que haja uma aula dinâmica, é
necessário que educadores e seus educandos se assumam epistemologicamente curiosos, que a
escola provoque a curiosidade do educando. Ainda de acordo com o autor (2010, p.41),
“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção
ou a sua construção”, sendo que ensinar a pensar é também uma tarefa do educador, além de
ensinar apenas os conteúdos cognitivos.
Ao se referirem ao aprendizado, Mahoney e Almeida (2005) afirmam que, para que o
aluno aprenda, o professor deve confiar na capacidade do aprendente e, ao ensinar, ser capaz
de promover e desenvolver um aprendizado mútuo com o desafio de enxergar seu aluno em
sua totalidade e realidade. Para os autores Sant´Ana e Barbosa (2017), o educador deve
produzir condições para que a sensibilidade vivenciada nas interações com pessoas, objetos e
ideias flua de forma que os educandos sejam receptivos e abertos ao aprendizado.
Segundo estudos de Almeida (2010), sobre as propostas de Henri Wallon, teórico
clássico que estuda afetividade, elas são centradas na dialética indivíduo-sociedade, sendo que
a escola deve respeitar o aluno promovendo o desenvolvimento cognitivo-afetivo, conhecendo
a diversidade social em que cada aluno se desenvolve, oferecendo novos meios para que
atinjam a autonomia no processo de educação. Para a autora, a escola, meio fundamental para
o desenvolvimento, é:
Uma instituição social que assume múltiplos papéis na continuidade da
socialização dos alunos. A cultura da escola, tanto pela via dos conteúdos
explícitos que veicula como pelo currículo oculto que corre paralelo ao
explícito, impõe mecanismos sutis para incutir valores e modelar
comportamentos. Compreender a criança como uma pessoa completa,
integrada, contextualizada é o caminho para que a escola seja promotora de
inclusão, e não exclusão social. (ALMEIDA, 2010, p.31)
formal como aquela que se aprende na escola. Chamon (2014) se refere a essa instituição
como base para as sociedades modernas numa vertente escolarizada, constituindo o modo
dominante de socialização e de desenvolvimento humano há mais de dois séculos.
Toda esta preocupação com o desenvolvimento do indivíduo, independentemente de
sua classe social, está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): “a escola, como
espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de
não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades” (BRASIL, 2018;
p.14).
Na escola, o professor é o principal agente mediador entre o aluno e o conteúdo
programático. A qualidade desta mediação é marcadamente afetiva, podendo interferir na
aproximação ou no afastamento do aluno do conteúdo escolar. Entretanto, grande parte desta
aproximação positiva depende da consciência do aluno no processo de aprendizagem, o que
pode resultar no sucesso ou no fracasso escolar (LEITE, 2012).
De acordo com Sousa (2002), fatores intraescolares, como a atuação de agentes
educativos no interior da escola que se contrapõem a exclusões, discriminações e
desigualdades de ensino, fazem diferença e podem responder pelo desempenho do aluno e a
melhoria do ensino, não se restringindo apenas ao rendimento escolar cognitivo, mas
envolvendo também a análise dos objetivos da escola em dado contexto sociocultural e
político.
Leite e Tassoni (2011) acreditam que quando o aluno é afetado pelo desempenho do
professor, desenvolvendo sentimentos e emoções que influenciam a aprendizagem, ele
consegue perceber suas dificuldades e capacidades. Nesse sentido, referindo-se às teorias de
Wallon, Almeida (2010), defende a ideia de que o professor deva observar não só seu aluno,
mas a situação total: professor-aluno-meio social. Almeida (1999) também concorda que, para
orientar adequadamente a ação educativa, devem ser consideradas as necessidades dos alunos,
bem como seus diferentes níveis de desenvolvimento afetivo-cognitivo.
O trabalho de educar, do ponto de vista de Codo e Gazzotti (1999), pode ser bem-
sucedido, uma vez que o processo produtivo em sala de aula é controlado pelo professor.
Entretanto, em termos psicológicos, é um dos mais delicados. Para os autores, embora a
afetividade seja o grande catalisador do processo ensino aprendizagem, para o seu sucesso é
necessário a integração entre professor, aluno e família. Mas o que vem a ser afeto?
Ao estudar a dimensão afetiva, Leite (2012) tentou entender as razões pelas quais o
conceito de afetividade, embora não tenha sido negado pelas tradicionais teorias psicológicas,
permaneceu historicamente periférico nas relações de ensino e aprendizagem. O autor acredita
que essa situação se deu pela concepção dualista em que o ser humano é dividido em emoção
e razão, ou seja, ora sente, ora pensa, não havendo vínculos determinantes entre essas duas
dimensões.
Osti e Tassoni (2019) também concordam que a afetividade ainda é um tema pouco
explorado, uma vez que, ainda hoje, o aspecto afetivo é desconsiderado no trabalho
pedagógico, como se as decisões docentes envolvessem apenas a dimensão cognitiva do
aluno. Ribeiro e colaboradores (2005) afirmam que essas relações afetivas são negligenciadas
nos currículos dos cursos de formação de diversas universidades brasileiras, assim como na
prática de professores do ensino fundamental. É como mostram os resultados da pesquisa de
Morais (2017), onde a afetividade é um termo bastante conhecido pelos professores e usado
principalmente durante as reuniões de conselhos de classe nos ensinos fundamental e médio,
porém de maneira polissêmica. Embora os profissionais da educação não se refiram à
afetividade como conceito teórico discutido na área educacional, e sim como um modo de
estabelecer relações favoráveis com os alunos, o autor afirma que o termo é visto como um
componente importante na relação professor-aluno, de modo a minimizar o desgaste mental e
físico resultante de indisciplinas, falta de atenção e agitação dos alunos.
De acordo com Ribeiro et al (2005), a dimensão afetiva não é considerada, pela
escola, como objeto de ensino e aprendizagem. Almeida (1999) reforça que o aspecto
cognitivo é privilegiado em detrimento do aspecto afetivo, tanto nas escolas públicas ou
particulares, devido à influência do pensamento cartesiano, porém, ultimamente tem-se
tentado criar uma proximidade maior entre afetividade e cognição.
Como afirma Freire (2010), o exercício do bom senso permite que as condições
sociais, culturais e econômicas dos alunos, de seus familiares e das comunidades não se
tornem alheias à escola. Para o autor, é preciso compreender o significado de um silêncio ou
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sorriso e, a partir daí, identificar algo que precisa ser sabido, reconhecendo-se a importância
dos conhecimentos de experiência feitos com que os educandos chegam à escola e respeitando
sua dignidade, autonomia e identidade. O autor também acredita que as possibilidades de
aprendizagem democrática se abrem na escola a partir do trato de solidariedade presente entre
educador e educandos. Nenhum professor passa pelos alunos sem deixar sua marca, um
simples gesto do professor pode ter grande significação e consequência, passando confiança a
seus educandos, daí vem a importância da responsabilidade do educador para com seus
alunos.
Freire (2010, p. 81) afirma ainda que “a incompetência profissional desqualifica a
autoridade do professor”, e que o docente precisa ter a generosidade como qualidade
indispensável à autoridade em suas relações com as liberdades dos alunos. O autor ainda
acrescenta que o professor está constantemente sendo observado por seus alunos e esta
percepção é importante para seu desempenho. E tão importante quanto o ensino dos
conteúdos é a coerência do que se diz e o que se faz em sala de aula, sendo a autoridade
diferente do autoritarismo. Deste modo, é fundamental que o professor seja ético e, se
necessário, assuma desconhecer algum assunto questionado por algum de seus alunos. O não
saber tudo abre caminho para o conhecimento e mais aprendizagens são possíveis a partir da
solidariedade existente entre educador e educando.
Ribeiro (2010) afirma que os estudantes são capazes de ter uma motivação maior,
cheia de entusiasmo, dedicação e participação, nos estudos daquelas disciplinas em que o
relacionamento com o professor é melhor. Seus estudos mostram que as relações afetivas
entre educador e educando podem inibir ou estimular o processo de aprendizagem dos alunos
dentro da sala de aula. Para o autor, essa motivação não é uma questão de técnica, mas de
relação estabelecida com o sujeito. Além disso, sua pesquisa indica que os professores
carecem de formação afetiva.
Alves-Mazzotti (2008) chama a atenção para uma outra dimensão da afetividade. Os
resultados da pesquisa da autora mostram que professores consideram esta profissão uma
tarefa árdua que requer força de vontade e dedicação. Para não desistirem, se apoiam em
carinho e compreensão nas suas relações com os alunos, muitas vezes desempenhando o papel
de “mães”. A autora reconhece a importância da afetividade para as relações de ensino-
aprendizagem. No entanto, mostra que quando os professores a acentuam, acabam suprimindo
o cerne de seu papel profissional, que seria favorecer a construção do conhecimento pelo
aluno.
23
As relações entre professor e alunos podem fortalecer ou não um vínculo entre eles,
sendo a afetividade do aluno indissociável da inteligência, uma vez que o sujeito precisa de
interação com o outro para que haja aprendizado e sempre levando em consideração tanto os
fatores internos do aluno quanto os externos (OSTI E BRENELLI, 2009). Leite e Tagliaferro
(2005) defendem a ideia de que há uma integração entre pensamento e sentimento na relação
entre aluno e os conteúdos escolares, e que a aprendizagem é social e mediada por elementos
culturais
Almeida (2010) destaca cinco pistas da teoria psicogenética Walloniana para a
inclusão social do aluno na escola, das quais duas delas são importantes para este trabalho de
pesquisa
Por ser a emoção contagiosa, conforme a sua intensidade, as reações do
outro intensificam ou não seus efeitos; lembra que o clima emocional da sala
de aula tanto pode favorecer como prejudicar a aprendizagem- as energias
gastas com um clima conturbado pelas emoções deixam de ser aproveitadas
para promover a aprendizagem; [...] O que se ganha com a afetividade
repercute no cognitivo e vice-versa, portanto um é lastro para o outro
(ALMEIDA,2010, p.31).
Nesta citação, o “clima emocional da sala de aula” mostra que o ambiente da sala de
aula é permeado por afetos. Osti e Brenelli (2009, p. 418) reconhecem a necessidade de
ampliar pesquisas sobre a relação entre a afetividade e o sucesso acadêmico com enfoque na
perspectiva do aluno. Os autores afirmam que os alunos tendem a se sentir mais confortáveis
e seguros quando vivenciam relações positivas na escola. Para eles: “O aprender deve ser
pensado como uma responsabilidade compartilhada, sendo afetado por fatores internos do
aluno (constituição, genética e maturação) e externos (família, escola e meio social)”.
As palavras sentimentos, afeto, afetividade e emoções, dependendo da abordagem
teórica, podem ter diversos significados, mas embora haja imprecisões conceituais, um
consenso em relação à natureza de emoções, sentimentos e paixões está presente, de acordo
com Osti e Tassoni (2019). Estes mesmos autores julgam haver uma necessidade maior de
estudos que expressem afetividade e sentimentos de estudantes da Educação Básica. Propõem
que as crianças sejam ouvidas, pois acreditam que o processo de aprendizagem pode ser
influenciado por afetos vividos na escola e afirmam que as relações vividas na sala de aula
têm impacto na aprendizagem e na vinculação com o ambiente de aprendizagem.
A proposta dos autores reforça a intenção desse estudo quanto a pesquisar
representações sociais do ambiente da sala de aula, com foco na “afetividade”, sob a ótica de
alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. A escolha do 6º ano se deve ao processo de
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transição do primeiro para o segundo segmento do ensino fundamental (do 5º para o 6º ano)
em que as mudanças não se caracterizam apenas pela troca de segmento. É também um
momento de mudança da infância para a adolescência, em que alterações físicas, biológicas,
cognitivas e emocionais estão presentes na vida destes alunos.
Além disso, a partir desse período passam a conviver, nas salas de aulas, com mais
professores em relação aos anos anteriores e de diversas disciplinas, as quais demandam um
maior aprofundamento de conteúdo em relação ao segmento de origem. Alguns alunos podem
vivenciar a independência, enquanto outros podem se sentir desamparados, pois a professora
regente já não está mais ali cuidando de tudo e fazendo as anotações na agenda. Nesse
contexto de intensas relações sociais e afetivas, cada criança pode reagir às mudanças de
maneira diferente. O ambiente da sala de aula, para alguns, pode não ser muito diferente do
que já vivenciaram, mas para outros, pode ser traumático, provocando dificuldades nas
relações com colegas e professores, e no aprendizado.
Os significados construídos por alunos do 6º ano do Ensino Fundamental sobre o
ambiente da sala de aula, com suas diversas interações, permitem compreender como estão
expressando seus afetos. Para analisar tais significados, conforme já anunciado no início desse
item, a Teoria das Representações Sociais (TRS) é adequada como referencial teórico-
metodológico. Um estudo com base na TRS, proposta por Moscovici (1961, 1976, 2012),
permite identificar e examinar processos de interação social através de experiências e
vivências. Neste referencial a representação social é considerada como “uma modalidade de
conhecimento particular tendo a função de elaboração dos comportamentos e da comunicação
entre os indivíduos” (MOSCOVICI, 2012, p. 27).
Como afirma Sá (1998, p. 24): “Uma representação social é sempre de alguém (o
sujeito) e de alguma coisa (o objeto)”. Nesse estudo, os sujeitos serão” alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental” e o objeto o “ambiente da sala de aula”, buscando-se como os alunos se
expressam sobre afetividade nas interações que estabelecem nesse contexto e de que forma
esta afetividade reconhecida por eles impacta na aprendizagem.
Considerando o contexto desse estudo na perspectiva da TRS, optamos por não
considerar diretamente a afetividade como objeto de representação. Nossa escolha foi por um
objeto que possibilitaria maior expressão dos alunos e por meio do qual seria possível acessar
a afetividade. Foi assim que consideramos o “ambiente da sala de aula” como um objeto mais
propício para a elaboração de um conhecimento do senso comum pelo grupo. Consideramos
que elas teriam maior facilidade para se expressar sobre “o ambiente da sala de aula”,
contexto favorável para a abordagem da afetividade. Ao elaborarem significados sobre o
25
Na teoria de Wallon,
[...] a atividade emocional é complexa e paradoxal: ela é simultaneamente
social e biológica em sua natureza; realiza a transição entre o estado
orgânico do ser e a sua etapa cognitiva, racional, que só pode ser atingida
através da mediação cultural, isto é, social” (DANTAS, 1992, p.85).
Para Wallon, (DANTAS, 1992 apud Wallon,2007) a emoção, uma das dimensões da
afetividade, é instrumento de sobrevivência inerente ao homem, é fundamentalmente social,
fornecendo o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos, e ocupa lugar central, tanto
do ponto de vista da construção da pessoa, quanto do conhecimento. No primeiro ano de
vida da pessoa, a afetividade é praticamente reduzida às manifestações fisiológicas da
emoção. As crianças são seres essencialmente emotivos e a emoção, além de visível (através
de modificações da mímica e expressões faciais), tem caráter contagiante devido a sua
função basicamente social, pois no convívio com adultos, estes podem refletir as emoções
vividas pelas crianças. De acordo com a autora, a emoção é simultaneamente biológica e
social.
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De acordo com Leite e Tagliaferro (2005), a afetividade e emoção, que muitas vezes
são utilizadas como sinônimos, são diferenciadas por Wallon, que define as emoções como
estados subjetivos acompanhadas de alterações biológicas enquanto a afetividade ocasiona um
número maior de manifestações em que abrangem sentimentos (de origem psicológica), além
da emoção (origem biológica):
Segundo Wallon (1968; 1989), com o surgimento desses elementos
simbólicos, acontece a transformação das emoções em sentimentos. Durante
o desenvolvimento ocorre um processo de “complexificação” das emoções,
principalmente a partir da apropriação dos sistemas simbólicos presentes na
cultura, dentre os quais se destaca a linguagem oral. (LEITE e
TAGLIAFERRO, 2005, p.248)
Dantas (1992) ainda afirma que, de acordo com estudos da teoria de Wallon, “a
afetividade é componente permanente da ação, e se deve entender como emocional também
um estado de serenidade” (p.88). A afetividade é a fase mais primária do desenvolvimento
humano, porém, no início da vida, é predominante em relação à inteligência, apesar de
estarem totalmente misturadas. Esta soberania da afetividade sobre o intelecto é alternada
assim que a maturação põe em ação o equipamento sensório-motor necessário à exploração da
realidade, dando espaço à intensa atividade cognitiva se transformando numa sucessão
oscilante onde, de forma integrada, um depende do outro para evoluir e repercute de forma
permanente.
De acordo com Almeida (2010), Wallon tenta entender como o bebê se constitui no
adulto e mostra através de seus estudos que a criança (que na sua teoria vai do recém-nascido
ao início da puberdade) até que se torne adulta, passa por etapas. Cada etapa vivida é um
momento de evolução mental e um tipo de comportamento. Este processo de desenvolvimento
humano vai da socialização para a individualização. A infância tem como função principal, a
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Almeida (2010) afirma que os primeiros laços com o mundo humano se dão pela
emoção, e que as trocas afetivas na criança bem pequena são feitas exclusivamente através
de estímulos corporais como o toque, a voz e o olhar do outro. Em se tratando de ação
educativa, Mahoney (1993) enxerga que a função da emoção é:
abrir caminho para a aprendizagem significativa, isto é, aquela aprendizagem
que vai ao encontro das necessidades, interesses e problemas reais das
crianças e que resulta em novos significados transformadores da sua maneira
de ser. Amplia seu campo perceptual, possibilitando a descoberta de novas
ideias. Aumenta seu contacto tanto com o mundo subjetivo, quanto com o
mundo exterior. (MAHONEY, 1993, p.3)
Mahoney e Almeida (2005) citam uma observação do autor Kirouac (1994) sobre a
afetividade ao analisar a área complexa da psicologia da emoção, onde o estudo da emoção
somente a partir da década de 70 do século XX passa a ser aceito como fatores explicativos de
comportamento através de estudos empíricos e teóricos. Embora estudiosos tenham tido
dificuldades em chegar a um consenso na definição da emoção, houve um certo acordo na
discriminação das emoções de outros processos afetivos.
A afetividade, segundo as autoras Mahoney e Almeida (2005), é quando sensações
agradáveis ou desagradáveis são capazes de afetar o ser humano e intercorrem na emoção
(com predomínio da ativação fisiológica), sentimento (da ativação representacional) e paixão
(da ativação do autocontrole), sendo estes resultantes de elementos orgânicos e sociais.
Segundo as mesmas autoras, o primeiro recurso de ligação entre o orgânico e o social,
presente desde o nascimento, é a emoção. Ela é a exteriorização da afetividade, com
contrações e expressões corporais representativas de bem estar ou mal estar e dá rapidez às
respostas. Já o sentimento, expressão representacional da afetividade, não acarreta ações
imediatas e diretas. Diferentemente das emoções, o sentimento é passível de controle.
Enquanto a paixão caracteriza-se por ciúmes, exigências e exclusividade e tenta silenciar a
emoção.
Leite e Tassoni (2011) consideram a afetividade como um campo composto de
emoções sentimentos e afetos. Tassoni (2008) descreve como um desafio a conceituação dos
fenômenos afetivos, uma vez que afeto, afetividade, sentimentos e emoções são usados como
expressões semelhantes no senso comum. E de acordo com algumas pesquisas na área
pedagógica, para compreender esses fenômenos, a afetividade tem sido investigada em suas
diversas formas de aparição, principalmente na mediação do professor em sala de aula, que
dependendo de suas práticas pedagógicas, podem deixar marcas inesquecíveis no aluno, uma
vez que a afetividade está imbricada com a cognição.
31
Conforme afirma Palangana (2015, p. 12), toda estrutura educacional tem como
finalidade principal a promoção da aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano, que
inferem sempre uma relação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A fim de entender
como ocorre a aquisição do conhecimento, houve um empenho crescente em desvendar a
difícil problemática da educação brasileira: “Assim, parte-se do pressuposto de que é na e pela
interação social que o homem tem acesso ao saber acumulado por seus antepassados. E que,
ao fazê-lo, constitui-se como sujeito.”.
A dimensão afetiva do comportamento humano tem sido tema de vários estudos nos
últimos tempos, com ênfase nas interações sociais com base numa visão mais integrada do ser
humano, como afirmam Leite e Tassoni (2002). Segundo eles (2012), busca-se compreender o
indivíduo em sua complexidade através de discussões sobre como as manifestações afetivas,
no cenário educacional, pode interferir na aprendizagem e nas relações dos alunos com os
objetos de conhecimento.
Segundo Vigotski (2007), a relação entre os seres humanos e seu ambiente físico e
social é um dos aspetos do comportamento humano que são desenvolvidos durante a vida do
indivíduo. Tal qual Almeida (1999) acredita que a qualidade das interações que a criança
mantém com o meio, tanto físico quanto social em que vive, é fundamental para o processo de
desenvolvimento afetivo, social e intelectual.
A escola é um meio social e externo e, embora diferente da família, é fundamental
para o desenvolvimento da criança, pois é um ambiente de relações diversificadas e rico em
interações capazes de proporcionar situações e experiências fundamentais para a construção
do indivíduo como pessoa, sendo através destas experiências que o organismo elabora e
reestrutura o aspecto afetivo, responsável por nos caracterizar como seres humanos. A sala de
aula é um ambiente onde as emoções se expressam e cabe ao professor administrá-las. Os
adultos são espelhos para as crianças, portanto “um ambiente equilibrado afetivamente
proporciona à criança estabilidade emocional” (ALMEIDA, 1999, p.98).
Igualmente, Trillo (2000) afirma que as crianças observam os comportamentos à sua
volta e a partir de exemplos de atitudes positivas, através de aprovações ou reconhecimentos,
os imitam de maneira a se sentirem bem e reforçar a autoestima.
O professor, por ter, a princípio, mais controle das emoções e dos sentimentos, atua
como mediador dos conflitos que surgem durante o processo ensino-aprendizagem,
33
Almeida (1999) fala em seu livro “A emoção na sala de aula” que a articulação entre o
afetivo, cognitivo e motor, muitas vezes são ignoradas nas atividades escolares, embora a
evolução completa do ser dependa da reciprocidade da afetividade e inteligência. Quanto ao
aspecto motor, Almeida (1999) afirma que, para alguns professores, é visto como
preocupante, uma vez que está associado a agitação e consequentemente a indisciplina e
desatenção, o que se torna prejudicial no aprendizado na sala de aula. O professor, muitas
vezes, por não saber lidar com o movimento do mau comportamento, tenta eliminá-lo de sala
de aula e ignora a capacidade destas reações posturais em representar as emoções. A autora
deixa claro que não é “permissividade”, mas que o professor deve estar atento a estas
indisciplinas e levar em conta, no contexto da sala de aula, que podem ser manifestações de
estados emocionais das crianças, e, muitas vezes, a relação professor-aluno é abalada pela
falta de clareza a respeito da ligação existente entre movimento e emoção.
Galvão (2001) vai também nessa direção ao mencionar o Projeto Letras e Livros,
realizado na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, onde as atividades
consistem numa variedade de recursos criados para a obtenção de uma atmosfera propícia a
aprendizagem obtida na própria escola, procurando descobrir, por exemplo, o que há por trás
de uma inquietação postural: cansaço mental, cansaço físico, desinteresse através da
observação dos traços expressivos de seu comportamento.
Dados de uma pesquisa de Leite e Tassoni (2011) comprovam que a qualidade da
mediação do professor na constituição da relação entre o aluno e o conhecimento afeta
diretamente no aprender e no gostar, assim como Leite e Tagliaferro (2005) acreditam que a
qualidade desta mediação também pode contribuir para o sucesso da aprendizagem. Quando
alunos e professores constroem uma relação de confiança, aumenta o compromisso mútuo, é
o que afirmam Leite e Tassoni (2011). De acordo com características pessoais e da forma
como o professor se desempenha, age, fala, se relaciona na sala de aula, surgem emoções e
sentimentos diversos que marcam e influenciam de maneira significativa a construção de
35
têm emoções. A escola é o local onde as crianças e adolescentes passam várias horas de suas
vidas, vale pensar no papel do ambiente escolar na promoção da saúde mental e física de seus
alunos, uma vez que as carências afetivas, materiais e alimentares fazem parte de muitas
famílias e que até a violência pode estar presente. Sendo assim, uma boa escola com bons
professores podem ser o antídoto para este cenário nada favorável, transformando-se em um
espaço privilegiado para estimular o desenvolvimento socioemocional dos alunos e seus
familiares (ABED, 2014).
Embora não seja objetivo desse estudo abordar críticas à Base Nacional Comum
Curricular – BNCC (BRASIL, 2018) que tem sido frequentes na área educacional no Brasil, é
importante citá-la como instrumento utilizados em escolas definindo um conjunto de
aprendizagens essenciais para alunos e adolescentes, em conformidade com o que preceitua o
Plano Nacional de Educação – PNE (BRASIL, 2014). Essas políticas se propõem a garantir
equidade nas oportunidades pedagógicas para o desenvolvimento pleno dos estudantes em
suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica, de escolas
particulares, municipais, estaduais ou federais, estabelecendo competências a serem
promovidas nos componentes curriculares e desenvolvidas ao logo de todas as etapas da
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio).
A BNCC (BRASIL, 2018) se refere a questões relacionadas à afetividade como
“habilidades socioemocionais” que envolvem os estudos das emoções, inseridas em
competências gerais. Nesta proposta política, o investimento no tema beneficia o aluno não só
no desempenho escolar, mas também favorece o estabelecimento de vínculo e respeito com
impactos em toda vida dos alunos e da sociedade.
De acordo com Abed (2014), as habilidades socioemocionais devem ser
desenvolvidas tanto pelos alunos quanto pelos professores, e não se dissociam da cognição e
do pensamento. Elas estão intrinsicamente envolvidas na aprendizagem humana, que ocorre
nas interações entre as pessoas, onde há necessidade de vínculos saudáveis entre professor,
alunos e os objetos de conhecimento.
Segundo Trillo (2000), a atitude é algo interno, pessoal ou coletivo, que se desenvolve
no decorrer da vida, vinculada ao desenvolvimento afetivo e emocional e à capacidade
cognitiva, a partir de experiencias, conhecimentos e afetos com a família, escola, meios de
comunicação. É dinâmica sendo adaptável às circunstâncias a partir de experiencias e
conhecimento prévio do comportamento do outro e expressa movimentos de aproximação ou
afastamento.
38
De acordo com Sousa (2005), esta teoria foi descoberta por educadores brasileiros ao
reagirem de forma crítica aos estudos educacionais nas décadas de 70 e 80 do século XX, nos
quais os determinantes sociais, capazes de modificar as oportunidades de aprendizagem dos
indivíduos, não eram considerados. Para a autora, esta crítica trouxe contribuições definitivas
40
liderada por Willem Doise, procura articular com uma origem mais sociológica. Essas três
abordagens propostas por grandes pesquisadores e discípulos de Moscovici, embora
investiguem e enfoquem as representações de formas distintas, são complementares
(ALMEIDA, 2009).
Embora ciência e representações sociais sejam diferentes, elas estão interligadas, é o
que afirma Moscovici (2015). De acordo com o autor: “a ciência era baseada no senso comum
e fazia o senso comum menos comum; mas agora senso comum é a ciência tornada comum”
(p.60). Jodelet (2001) concorda que o conhecimento científico difere do “saber do senso
comum”, mas pela importância das representações na vida social, ambos objetos de estudo
são autênticos.
Com base na teoria, Rateau et al (2012) definem as Representações Sociais com
crenças e saberes socialmente construídos e partilhados, constituindo-se em um tipo de
conhecimento diferente do conhecimento científico. De acordo com Moscovici (2015), senso
comum é a ciência tornada comum. Esse ‘senso comum’, está relacionado à identidade do
grupo que elabora uma representação. Santos (2005) acrescenta que “Para gerar
representações sociais, o objeto deve ser polimorfo, isto é, passível de assumir formas
diferentes para cada contexto social e, ao mesmo tempo, ter relevância cultural para o grupo”
(p.22).
Segundo Duveen (2015), a comunicação tem influência no processo da representação
social e como ela se torna senso comum. Ele afirma que:
Elas entram para o mundo comum e cotidiano em que nós habitamos e
discutimos com nossos amigos e colegas e circulam na mídia que lemos e
olhamos. Em síntese, as representações sustentadas pelas influências sociais
da comunicação constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e
servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais
nós nos ligamos uns aos outros. (DUVEEN, 2015, p.8)
Ao explicar a estrutura de uma representação social, como frente e verso de uma folha
de papel, anunciando os processos de objetivação e de ancoragem explicados mais à frente,
Moscovici (2012) propõe um modelo figurativo da representação social correspondente “ao
esquema da organização da personalidade” a partir de uma pesquisa sobre o que pessoas de
classes sociais diversas entendiam por psicanálise na França, em meados dos anos 50 do
século XX. Em relação ao conhecimento psicanalítico, foi observado, entre os leigos, uma
relação entre as palavras: complexo, recalque, consciente e inconsciente. Com esse conjunto
de palavras Moscovici elaborou um esquema, ou modelo figurativo (componente mais estável
da representação), para expressar a representação social da psicanálise para não cientistas,
conforme a Figura 1:
INCONSCIENTE
RECALQUE COMPLEXO
INCONSCIENTE
Moscovici (2015) definiu, com base na estrutura frente e verso de uma folha de papel,
uma correspondente a uma figura e outra ao significado, sendo que a cada figura corresponde
um significado, e vice-e-versa, dois processos que geram representações sociais na tentativa
de facilitar a passagem do não familiar em familiar: ancoragem e objetivação. O modelo
figurativo apresentado acima integra o processo de objetivação. Através destes mecanismos,
somos capacitados a comparar e interpretar o não familiar pela nossa própria esfera particular
de significados e então associar a algo concreto (familiar) e, por consequência, controlá-lo.
Fundamentado na psicologia social, Lima e Campos (2020) defendem que a
configuração de um núcleo figurativo é fundamental para que uma pesquisa seja
particularizada em estudos de representações sociais. Este núcleo ou modelo figurativo,
organizador do pensamento do grupo, possibilita que objetos sociais invariáveis, quando
ligados à educação, possam sofrer mudanças. Os autores enfatizam a relevância do núcleo
figurativo como propício para pesquisas em educação principalmente porque permite as
relações entre pensamento, práticas sociais e mudanças e concluem que:
No “esquema figurativo”, a figura (imagem) do objeto social é, ao mesmo
tempo, imagem mental, a qual concretiza o objeto, e “signo”, o qual
funciona como operador conceitual que permite “pensar” o objeto (discutir,
expressar, negociar significados), enfim, permite “comunicar”. (LIMA e
CAMPOS, 2020, p. 6)
A ancoragem, de acordo com Moscovici (2015), diz respeito a algo perturbador que
nos intriga, reduzindo o estranho, tornando-o familiar. Ancorar é classificar e dar nomes ao
inominável, categorizando com nome conhecido, liberando do anonimato e encaixando em
um grupo ou contexto familiar com o objetivo de formar opiniões, pois a incapacidade de
avaliar algo e comunica-lo, causa um distanciamento pela inabilidade de imaginá-lo,
descrevê-lo e assim representa-lo. Seres e objetos devem ter valores, permitindo que sejam
classificados hierarquicamente. Segundo o autor:
No momento em que determinado objeto ou ideia é comparado ao paradigma
de uma categoria, adquire características dessa categoria e é reajustado para
que se enquadre nela. Se a classificação, assim obtida, é geralmente aceita,
então qualquer opinião que se relacione com a categoria irá se relacionar
também com o objeto ou com a ideia. (MOSCOVICI,2015, p.61)
afetos se expressam tanto de forma individual quanto social e coletiva, na relação com o
mundo e com o outro, podendo ser encontrado também numa linguagem não verbal.
Jodelet (2001) considera necessário dizer que:
As representações sociais devem ser estudadas articulando elementos
afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da
linguagem e da comunicação, a consideração das relações sociais que
afetam as representações e a realidade material, social e ideal sobre a
qual elas intervêm. (p. 8)
da realidade na qual está inserido, está associado ao meio social, à imaginação e à conciliação
dos afetos, e este processo é dinâmico.
De acordo com Campos e Lima (2018), cada componente de um grupo social é capaz
de influenciar, ao mesmo tempo, como receptor ou emissor na construção simbólica da
realidade, porém sempre de forma heterogênea. Qualquer evento ocorrido no espaço social
permite receber uma atribuição de valores positivos, negativos ou ambivalentes e estão
ligados a estudos sobre afetividade e cargas afetivas das representações. Para os autores:
Como dito acima, a TRS conta com as abordagens processual, estrutural e societal, e
neste trabalho de pesquisa será adotada a abordagem processual ou sociogenética conforme
foi proposto originalmente por Moscovici e seguido por Denise Jodelet.
Por meio das representações, é possível identificar, através dos discursos dos
participantes da pesquisa, as concepções e as ações que afetam de forma positiva ou negativa
o ambiente da sala de aula, com foco na afetividade.
50
3-METODOLOGIA
Trata-se de uma escola civil, porém vinculada ao Comando do Exército por delegação
do Ministério da Defesa na qual tem consignados no Orçamento da União os recursos para
seu custeio e sua manutenção desde abril de 1995, mas também conta com doações.
A Escola dispõe de uma praça de esportes com ginásio e quadra cobertos para a
prática de diferentes modalidades desportivas, um auditório com capacidade para 600 pessoas
e salas de música, onde são atendidos o coral, a mini orquestra e a banda de música. A
Fundação Osorio disponibiliza, ainda, aos seus alunos, um departamento de saúde com
atendimento médico e odontológico. Os alunos contam com refeitório para 400 pessoas onde
é servido o café da manhã.
A ideia da criação da Fundação Osório surgiu em 1907, quando três oficiais militares
encarregados dos festejos do centenário de nascimento do Marechal Osório enxergaram a
necessidade de um orfanato destinado à educação das filhas órfãs de militares de mar e de
terra falecidos na Guerra do Paraguai, à semelhança do que já se fizera em relação aos
meninos, para os quais fora criado o Imperial Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ) em
1889. Como forma de angariar recursos para a concretização deste projeto, criou-se uma
Associação, mas aos poucos o grupo perdeu impulsão, culminando com a dissolução daquela
Associação.
Apenas em 01 de junho de 1921 foi sancionado o Decreto Legislativo autorizando o
Poder Executivo a criar o Orfanato pretendido. Data esta, em que é comemorado o seu
aniversário e em que todos os anos é celebrado com uma formatura dos alunos e ex alunos
que prestigiam tal evento. Em face da pandemia, o centenário desta fundação foi
comemorado, excepcionalmente, de forma virtual.
A partir de 1993, a Fundação, que era exclusivamente destinada a meninas, passou a
admitir, também, os meninos.
Por se tratar de uma pesquisa com menores de idade, foi feito o convite individual
através de e-mail para seus respectivos responsáveis com o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) para participação da pesquisa, sendo possível a qualquer momento e sem
nenhum prejuízo, a retirada do consentimento de utilização dos dados do participante da
pesquisa e só após a concordância. Foi também buscado o assentimento do menor de idade
participante através do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estácio de Sá, com o número
4.904.413.
Os estudantes em questão não eram alunos da pesquisadora, o que de início causou
uma certa dificuldade em tê-los como participantes da pesquisa. Muitos pais e responsáveis
não permitiram a participação de seus filhos, enquanto alguns alunos tinham receio de
colaborar com o estudo, uma vez que o tema tinha associação com a relação professor-aluno e
o ambiente escolar. Por este motivo, a ideia inicial de 30 alunos participantes foi reduzida a
apenas dezessete (17) escolares do 6º ano do 2º segmento do ensino Fundamental. Entre eles,
foram oito (8) meninos e nove (9) meninas.
O ano letivo de 2020 (ano anterior à pesquisa) teve início em fevereiro de forma
presencial, mas devido a pandemia mundial do Covid 19, as aulas presenciais foram
suspensas no Brasil. A partir de março deste mesmo ano, o ensino seguiu de forma remota
através do ambiente virtual de aprendizagem. Como a escola possui alunos de diversas classes
sociais, alguns não tinham acesso ao computador e à internet, e por este motivo, para que os
alunos mais carentes não fossem prejudicados, não foi permitida a reprovação de nenhum
aluno ao final de 2020 e nem o ingresso de alunos novos em 2021, o que se concluiu dos
participantes, que nenhum aluno era repetente ou novo na escola.
A opção pelo 6º ano teve a intenção de investigar as representações de alunos recém
chegados ao segundo segmento do ensino fundamental e assim poder contribuir, de alguma
forma com esta pesquisa, para minimizar os impactos causados por esta mudança na vida
escolar dos discentes. Devido à mudança de segmento dos alunos que saem do 5º ano do
primeiro segmento do Ensino Fundamental, onde têm uma ou duas professoras polivalentes e
passam a lidar com um professor especialista para cada disciplina no segundo segmento,
muitos têm dificuldade de se adaptar à nova realidade. O professor não é mais a “tia” (termo
usado pelos alunos na escola da pesquisa, referente as professoras do 1º segmento) que está
presente na maior parte do tempo, que sabe o nome de todos os alunos, que corrige cada
caderno individualmente, que faz festinha a cada data comemorativa dentre tantas outras
coisas peculiares deste primeiro segmento.
54
Além disso, na escola onde foi realizada a pesquisa, os alunos passam por mudanças
de prédio, inspetores e até uniformes diferentes. Possibilita assim entender como este
processo de grande mudança interfere nas relações educativas dos alunos.
Na educação básica brasileira, os alunos passam por três grandes transições durante
sua jornada de escolarização, e de acordo com a pesquisa de Reis e Nogueira (2021), a
passagem do 5º para o 6º ano é a mais complexa, apresentando um alto índice de reprovação
neste primeiro ano do segundo ciclo do ensino fundamental devido à dificuldade de adaptação
ao conjunto de mudanças estrutural, curricular e pedagógica. Segundo os autores, “adaptação
escolar, passagem da uni docência para a pluridocência e a afetividade” (p.4), são fatores que
afetam a transição escolar.
Essa passagem do Ensino Fundamental I para o Fundamental II é, para Paula de et al
(2018), um momento de grande mudança não apenas cognitiva, mas também física, biológica
e emocional e, portanto, o papel da família e do professor é de fundamental importância. Os
autores afirmam que a
transição do 5º para o 6º ano aparenta ser tranquila, porém, existem
estudantes que sofrem calados com as modificações que lhes são impostas
sem receber um apoio condizente com o tamanho do problema que está
sendo enfrentado, pois na visão de familiares, colegas e professores não é tão
relevante assim. A modificação na rotina, as alterações no humor, a
separação de determinados grupos de amigos e a rotatividade de professores,
entre outros fatores, acabam tornando o processo de transição turbulento e
cercado de conflitos, tanto para os estudantes como para os profissionais da
educação que acompanham este processo transitório. (PAULA et al, 2018,
p.35 e 36).
Embora seja desejável que a mudança ocorra de modo espontâneo sabemos que alguns
alunos lidam com questões bem mais complexas dentro e fora da sala de aula, podendo
comprometer sua nova realidade e rotina educacional. Por este motivo, Paula et al (2018)
esclarecem que este processo e a trajetória acadêmica tão significativa e importante na vida do
estudante devem ocorrer de forma gradativa e madura para que não seja traumático para o
discente, o que pode acarretar num bloqueio e até mesmo na evasão escolar.
A produção dos dados se deu de forma não presencial, através de ambiente virtual,
conforme as resoluções do Conselho Nacional de Saúde – CNS – nº 466 de 2012 e a de nº 510
55
de 2016, a fim de preservar a saúde de todos devido à situação de epidemia pela Covid 19 em
que o país e o mundo se encontravam. Com o início da vacinação no início de 2021 e a queda
de mortes e de casos graves da doença, as aulas presenciais foram retomando gradativamente
no final de junho de 2021, o que permitiu o encontro presencial para realização dos grupos
focais. Porém, vale lembrar que todos os cuidados sanitários para proteger os alunos
participantes e docentes de uma possível contaminação da doença foram devidamente
tomados, como a higienização das mãos com álcool 70° e uso de máscaras.
Foram utilizados para a produção de dados, diversos recursos metodológicos remotos
e presenciais
1) jogo de computador para a montagem de uma sala de aula
2) produção de um texto sobre a montagem da sala de aula
3) realização de grupos focais com os participantes.
Na primeira fase da pesquisa participaram 15 alunos, que utilizaram um jogo de
computador, criado exclusivamente para esta pesquisa pelo profissional Claudio Joaquim dos
Santos Braga, veiculado no site www.efuturo.com.br/oficialjogoemocoes/ , que permitiu que
os alunos participantes, individualmente, montassem um ambiente da sala de aula. A
pesquisadora tirou fotos de uma sala de aula que os alunos frequentam na escola e o jogo foi
confeccionado com base nessas imagens.
Numa imagem de sala de aula virtual vazia, havia opções de carteiras e cadeiras vazias
ou ocupadas por estudantes de diferentes raças e gêneros para que fossem posicionados neste
espaço de acordo com a criatividade e imaginação de cada aluno. Além destes móveis
escolares, um desenho de professor ou professora e de um aluno ou aluna deveriam também
compor o ambiente da sala de aula. Além disso, os jogadores deveriam escolher para o
professor(a) e aluno(a), uma expressão facial que melhor representasse o humor de cada um.
Dentre as feições disponibilizadas, havia: feliz, indiferente, sério, triste ou zangado
respectivamente.
Após a composição deste ambiente escolar virtual, os participantes foram orientados a
dar um print na tela com a imagem final e enviar através do email da professora pesquisadora
junto com um texto explicativo sobre o espaço que montaram, expressando-se sobre
sentimentos agradáveis e desagradáveis ocorridos neste recinto.
Por último, numa terceira etapa de produção de dados, foram formados dois grupos
focais, compostos por oito (8) alunos no Grupo 1 e sete (7) alunos no Grupo 2, ambos mistos,
utilizando-se materiais que favorecessem a expressão das relações afetivas que ocorrem no
ambiente da sala de aula e do aprendizado nesse contexto. Apenas um encontro de 50 minutos
56
com cada grupo focal foi suficiente para a produção de dados para a pesquisa. Os encontros,
com cada grupo, foram realizados no mesmo dia, na própria escola, no período da manhã
durante o tempo vago de cada classe.
A técnica do grupo focal, segundo Gatti (2005), está sendo cada vez mais utilizada no
âmbito das abordagens qualitativas. Apesar de se tratar de uma técnica antiga, baseia-se nas
diferentes formas de trabalhos com grupo de características semelhantes, onde os
participantes necessitam ter alguma experiencia cotidiana prévia de forma a ancorar o tema,
que é o objeto de pesquisa a ser discutido. Esta técnica é o instrumento de produção de dados
adequado para esse estudo. Para a autora, a chave do sucesso pode estar nos primeiros
momentos do grupo focal, cuja cuidadosa elaboração de roteiro de questões se faz necessária,
junto à clareza do tema de pesquisa, a fim de facilitar a verificação das representações do
grupo sobre o tema da pesquisa. O moderador pode ser o pesquisador ou outro profissional
experiente, capaz de conduzir um ou dois encontros de no máximo três horas cada um,
compostos por até dez pessoas no grupo.
Como os grupos eram pequenos, a responsável pela pesquisa foi a única moderadora.
A escolhas de participantes, assim como o objetivo do encontro foi explicado pela
moderadora no início do trabalho. Sem se posicionar, o moderador deve deixar fluir a
discussão entre os participantes, sem ingerências de sua parte, porém dando espaço ao grupo
para um livre desenvolvimento da comunicação.
Segundo Gatti (2005), o grupo focal permite surgir uma variedade de pontos de vista e
processos emocionais permitindo a captação de significados, uma vez que os sujeitos
participantes irão agir segundo seus valores, sentimentos, experiências, cultura. Esta técnica é
flexível e permite adaptações ao longo da pesquisa, porém o problema de pesquisa precisa
estar claramente exposto. É garantido o sigilo dos registros, assim como de seus participantes,
que devem sentir-se livres para expressar suas opiniões, sem que haja certo ou errado sendo
este momento também considerado como um espaço de desenvolvimento de conhecimento
cognitivo, social e afetivo. A autora recomenda o estudo pela importância de se “compreender
diferenças e divergências, contraposições e contradições” (p.10)
O material dos dois instrumentos utilizados, a montagem do ambiente da sala de aula
com texto explicativo, e os discursos dos grupos focais, foram analisados com apoio da
análise de conteúdo de Bardin (1977).
57
A análise de conteúdo de Bardin (1977) é uma técnica que consiste em “um conjunto
de técnicas de análise das comunicações, visando obter por procedimentos, sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativas ou não) que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção
(variáveis inferidas) destas mensagens” (p. 42). O objetivo geral é observar o modo como a
sociedade vive a sua relação com os objetos cotidianos.
A análise dos dados obtidos com os jogos do computador na montagem da sala de aula
foi possível, pois segundo Oliveira (2008), através da análise de conteúdo, tudo o que pode
ser transformado em texto está apto de ser analisado. Objetividade, sistematicidade, conteúdo
manifesto, unidades de registro, unidades de contexto, construção de categorias, análise
categorial, inferência e condições de produção são alguns conceitos capazes de dar
sustentação ao desenvolvimento desta técnica permitindo instrumentalizá-la.
Bauer e Gaskel (2008) classificam este recurso metodológico como “uma pesquisa de
opinião pública com outros meios” (p.192)
Bardin (1977) propõe três fases para a análise de conteúdo:
1) a pré-análise;
2) a exploração do material;
3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.
A fase da organização (pré-análise), corresponde a um período de intuições. Nela é
feita uma leitura flutuante, ou seja, um primeiro contato com o material a fim de selecionar,
posteriormente, o que faz sentido analisar e o que ainda precisa ser coletado. Feito isso, é
necessário constituir o corpus base na exaustividade, representatividade, homogeneidade e
pertinência. Ainda na pré-análise, hipóteses e objetivos são formulados, ainda que não seja
obrigatório para se proceder à análise. Em seguida vem a referenciação dos índices e a
elaboração de indicadores e por último a organização do material para seguir para a próxima
fase de exploração. No caso desta pesquisa, a preparação do material, consiste em transcrever
os áudios gravados do debate nos grupos focais.
Na segunda fase, apontada como mais longa, trata-se da análise de fato, que é o
trabalho da exploração do material coletado. “Consiste essencialmente de operações de
codificação, desconto ou enumeração em função de regras previamente formuladas.”
(BARDIN, 1977, p.101)
58
A interpretação dos resultados obtidos pode ser feita por meio da inferência, que é um
tipo de interpretação controlada.
A análise de conteúdo é de caráter social e é definida por Oliveira (2008) como um
instrumento de pesquisa científica com várias aplicações. Em função dos objetivos de
pesquisa, os procedimentos de investigação podem variar. Segundo Bardin (1977), a análise
de conteúdo tem uma abordagem qualitativa, onde os procedimentos são flexíveis e intuitivos
e sua característica é a inferência. Ela induz a investigação das causas a partir dos efeitos.
Oliveira (2008) afirma que, devido à variedade de conceitos e finalidades, esta técnica tem se
tornado pouco clara. A autora ainda afirma que o principal objetivo desta análise é a
manipulação de mensagens onde tudo pode ser transformado em textos e por este motivo
pode servir a várias disciplinas e objetivos.
59
Clicando para jogar, a página de identificação era exibida com um campo destinado ao
preenchimento do nome do participante, entretanto, para preservar o anonimato, os alunos
foram instruídos a criar um nome fictício. Logo abaixo, havia um espaço para que eles
descrevessem como se enxergam fisicamente.
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Após o preenchimento destes campos, clicando na seta inferior à direita, como mostra
a figura acima, o aluno era direcionado a uma outra página para escrever um nome, também
fictício, para o professor que seria posicionado, pelo participante, na sala de aula do jogo das
emoções.
Mais uma vez, seguindo as orientações da tela, ao clicar na seta azul no canto inferior
direito, o aluno era direcionado para a página, desta vez, para a montagem da sala de aula
como mostra a imagem abaixo:
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Nesta primeira fase, o aluno participante clicava com o mouse do computador nas
figuras localizadas a direita da imagem e arrastava para o espaço da sala de aula conforme sua
criatividade. Ele poderia escolher um professor do gênero masculino ou feminino assim como
um aluno ou aluna, poderia também organizar as carteiras vazias ou ocupadas por alunos, e
colocá-las em círculos ou tradicionalmente uma atrás da outra neste ambiente escolar virtual.
No canto superior esquerdo, estavam disponibilizadas imagens com expressões faciais, como
feliz, indiferente, sério, triste ou zangado respectivamente, para serem encaixadas nos corpos
dos professores e alunos posicionados no interior da imagem. O autor do site teve a
preocupação de mesclar as raças das crianças dos desenhos, assim como o gênero.
Os participantes foram identificados por A (de aluno) seguido de uma numeração de 1
a 15.
Desta forma, foram representados por A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10,
A11, A12, A13, A14, A15.
Abaixo, um exemplo da sala de aula montada pelo A11 que utilizou o codinome
“Inteligente” para representá-lo, embora não tenha escolhido uma denominação para a
professora.
As carteiras foram dispostas na sala de aula, de forma tradicional, uma atrás da outra.
A professora foi posicionada na frente da sala com a expressão facial séria de frente para os
alunos, enquanto “Inteligente” encontra-se com uma expressão feliz no fundo da sala de aula.
.
63
Ao final desta atividade, o material produzido dos jogos das salas de aulas pelos
quinze participantes foi analisado por meio da análise de conteúdo.
A psicogenética de Wallon aparece como referência principal no trabalho de Galvão
(2001) sobre a expressividade e a emoção, embora o papel de precursor do estudo científico
das emoções seja de Charles Darwin. Como relata Galvão em sua pesquisa, há estudos
diversos do modo como as emoções e expressões faciais se correspondem. Alegria, tristeza,
raiva, nojo, surpresa e medo são consideradas emoções básicas, embora haja várias linhas de
pesquisa no que se refere à gênese das competências emocionais.
A Tabela 1 foi criada a fim de detalhar o modo como os 15 alunos montaram a sala,
com escolha de professores (homem ou mulher), posição do professor na sala (na frente ou
atrás), fisionomia do professor (feliz, indiferente, sério triste, zangado), posição das carteiras
na sala de aula (espalhadas, em dupla, maioria na frente, maioria atrás) e a fisionomia do
aluno (feliz, indiferente, sério, triste, zangado)
TABELA 1- SALA DE AULA – JOGO
CATEGORIA SUBCATEGORIA NÚMEROS
HOMEM 10
PROFESSOR MULHER 8
FELIZ 8
FISIONOMIA DO PROFESSOR INDIFERENTE 0
SÉRIO 2
TRISTE 3
ZANGADO 2
ESPALHADAS 10
POSIÇÃO DAS CARTEIRAS NA SALA DE AULA EM DUPLA 1
MAIORIA FRENTE 2
MAIORIA ATRAS 2
FELIZ 10
FISIONOMIA DO ALUNO INDIFERENTE 3
SÉRIO 2
TRISTE 0
ZANGADO 0
Fonte: Dados da pesquisa realizada pela autora, 2021
64
Dos quinze (15) alunos participantes nesta primeira fase, dez (10) alunos escolheram
posicionar o professor, enquanto os outros oito (8) optaram pela professora na imagem da sala
de aula do jogo. A soma dos professores ultrapassa o número de participantes porque três (3)
alunos preferiram posicionar o professor e a professora juntos na sala de aula.
Quanto à localização do docente, foi quase uma unanimidade a configuração de
frente para os alunos e de costas para o quadro. Apenas uma criança usou o fundo da sala de
aula para posicionar o professor. Foi observado que a disposição das carteiras dos alunos
sugere uma representação mais tradicional de escola, onde os alunos ficam espalhados pela
sala separadamente, pois apenas um participante optou por colocá-las em dupla.
Os alunos, em sua maioria, selecionaram a fisionomia “feliz” para os professores
dispostos na sala de aula, enquanto as expressões “indiferente”, “séria”, “triste” e “zangada”
surgiram diluídas entre os demais participantes de forma ínfima. A expressão facial dos
alunos também foi escolhida em sua maioria como feliz. Indiferente e sério apareceram numa
minoria enquanto triste e zangado não foram representados pelos alunos.
“Pensei na aula de ****1, o professor faz brincadeiras as vezes, só que quando ele faz essas
brincadeiras a turma começa a gritar e ele perde a paciência e fica irritado. Não gosto de ver
isso. Quando o pessoal não para falo para pararem. Gosto dos professores alegres.” A14
Eu gosto dos colegas da sala de aula, eu não gosto da bagunça que os alunos fazem as vezes.
A15
1
**** caracteres usados no lugar do nome das disciplinas escolares com o objetivo de preservar o sigilo da
pesquisa.
66
Os professores sempre estão muito humorados. Tem alguns alunos que sempre estão felizes,
outros que nem tanto... eu por exemplo, se eu não dormir bem em casa, ou dormir por poucas
horas, eu acabo indo de mal humor pra escola, porém quando eu durmo por muitas horas, eu
vou para escola de bom humor, e eu consigo entender melhor a matéria e prestar mais atenção
na aula. Esse não necessariamente é o caso dos outros alunos, mas pode ser que seja. Tem
alunos que já não gosta muito de conversar, e tem outros que já é ao contrário, conversam até
demais. Tem alunos que levantam muito durante a aula, já outros que não levantam, enfim...
esse é o meu ponto de vista sobre a minha turma. A12
“o professor está sério porque não está contente com o comportamento de alguns alunos
e alguns alunos estão descontentes porque não gostam da matéria os outros estão felizes
porque gostam da matéria
vejo alguns professores como os mais legais outros mais chatos” A10
67
O Quadro 1 expõe de maneira mais detalhada a produção textual dos 15 alunos que
participaram desta primeira fase da pesquisa. Os textos foram aqui reproduzidos exatamente
como foram escritos, sem correções de erros gramaticais ou de ortografia. Por este motivo,
estão transcritos entre aspas.
A1 “Eu coloquei como eu enxergo minha sala de aula, os bonequinhos da frente estão
rindo pois eu percebo que o pessoal que fica mais na frente se sentem mais "alegres",
para colocar os bonequinhos lá de trás eu percebo que todas as pessoas lá de trás
sempre estão mais quietas e "chateadas", e para o professor eu coloquei ele com a
carinha de bravo pois eles sempre estão dando esporro, eu adoro as aulas de, ****,
**** e de ****.”
A2 “Eu me sinto bem na escola, gosto dos professores, dos meus colegas. O problema é
que a turma faz muita baderna, e os professores não conseguem dar aula.”
A4 “So montei os bonequinhos sem pensar em nada. Gosto mais de **** e ****.”
A6 “A professora que está perto do quadro está feliz por causa dos trabalhos dos alunos,e o
professor que está no final da sala também está feliz com os trabalhos. Tem alguns
alunos que estão tristes por causa da nota da prova, e os que estão feliz é porque tiraram
na prova nota boa, Tem também gente chateado com os trabalhos. Eu me sinto em
todas as aulas feliz”
A7 “Eu fiz o professor sério porque na minha sala os alunos falam de mais! As vezes o
professor nem consegue dar a aula dele. Só que também acontece de atrapalharem os
alunos que estão querendo prestar atenção na aula. por mim eles já estavam expulsos a
muito tempo!”
A8 “Coloquei o que me veio a cabeca. Gosto quando o prof faz brincadeira e quando a aula
e interessante.”
68
A9 “Bom, quando o(a) prof esta feliz eu particulamete fico feliz tb pois a aula fica mais
legal e interessante porem tem alguns alunos que ficam muito felizes e demontra
bastante interece na aula eu ja sou mais quieta, mas outros ficam mais calados e nao
interagem de nenhuma forma mas tb depende muito do professor e da materia.”
A10 “o professor está sério porque não está contente com o comportamento de alguns
alunos e alguns alunos estão descontentes porque não gostam da matéria os outros
estão felizes porque gostam da matéria. vejo alguns professores como os mais legais
outros mais chatos”
A11 “Eu montei um ambiente em que a professora está desagradada com os alunos que
estão fazendo bagunça. Sentimentos agradáveis: Quando acerto tudo, quando a
professora me pede algo e eu faço. Sentimentos desagradáveis: quando as pessoas me
irritam.”
A12 “Os professores sempre estão muito humorados. Tem alguns alunos que sempre estão
felizes, outros que nem tanto... eu por exemplo, se eu não dormir bem em casa, ou
dormir por poucas horas, eu acabo indo de mal humor pra escola, porém quando eu
durmo por muitas horas, eu vou para escola de bom humor, e eu consigo entender
melhor a matéria e prestar mais atenção na aula. Esse não necessariamente é o caso dos
outros alunos, mas pode ser que seja. Tem alunos que já não gosta muito de conversar,
e tem outros que já é ao contrário, conversam até demais. Tem alunos que levantam
muito durante a aula, já outros que não levantam, enfim... esse é o meu ponto de vista
sobre a minha turma.”
A13 “professora eu coloquei meus bonecos assim pq foi oq veio na minha cabeça os
professores sao os unicos que eu imagino felizes por fazerem seu trabalho.”
A14 “Pensei na aula de ****..o professor faz brincadeiras as vezes, so que quando ele faz
essas brincadeiras a turma comeca a gritar e ele perde a paciencia e fica irritado. Nao
gosto de ver isso. Quando o pessoal nao para falo para pararem. Gosto dos professores
alegres.”
A15 “Eu gosto dos colegas da sala de aula, eu não gosto da bagunça que os alunos fazem as
veses.”
69
Com base na análise de conteúdo, a produção de texto referente ao jogo da sala de aula
gerou a Tabela 2 com o tema: Minha sala de aula
incômodo para a grande maioria, o que consequentemente causa irritação no professor e nos
próprios discentes.
Este “mau comportamento” é visto pelos alunos como perturbador, pois atrapalha o
andamento da aula e dificulta a aprendizagem do conteúdo programático. O aluno 12 tem a
visão dos professores sempre “muito humorados” e o A13 percebe os professores felizes por
fazerem seu trabalho. Os participantes A8 e A14 gostam quando tem brincadeira durante as
aulas, tornando-as mais interessantes, relato parecido com o de A9, que declarou que quando
o professor está feliz, a aula fica mais legal e interessante e esta felicidade se expande a ele.
Apenas o A4 não se dedicou a explicar o jogo e alegou não ter pensado em nada na
produção do mesmo.
1) Com base nesse ambiente da sala de aula, o que vocês têm a dizer sobre as
relações que acontecem na classe? Como é a relação com as pessoas,
amigos, professores?
2) Vocês mencionaram bastante a bagunça no jogo. Como essa bagunça
interfere no aprendizado?
3) O que vocês mais gostam e menos gostam no ambiente da sala de aula?
4) Como é mais fácil aprender? Quando você acha que aprende melhor?
5) Como é mais difícil aprender? Quando você encontra dificuldade para
aprender?
6) Se você fosse um professor, como seria? Alegre, brincalhão, sério, bravo?
71
Articuladas com as informações registradas até aqui, o grupo focal pôde trazer maior
compreensão e fundamento para se chegar ao “modelo figurativo” da representação social
investigada, como uma hipótese interpretativa.
Nesta etapa, havia dois (2) integrantes a mais que na fase do jogo totalizando
dezessete (17) alunos participantes, de duas turmas diferentes. Desta forma, foi possível
montar dois grupos focais, sendo uma equipe de cada turma. Vale lembrar que ambas as
turmas do sexto ano da escola tem suas aulas ministradas pelos mesmos professores.
No primeiro agrupamento, chamado de “Grupo 1”, participaram nove (9) alunos
sendo 4 meninos e 5 meninas, enquanto no segundo agrupamento, chamado de “Grupo 2”,
participaram oito (8) alunos também formados por alunos de ambos os gêneros de forma
igualitária. No primeiro grupo, uma aluna portadora de epilepsia passou mal durante o
encontro, foi levada à enfermaria e não retornou ao grupo. Sua saída resultou na uniformidade
de presença masculina e feminina dos participantes.
O encontro ocorreu durante o horário vago de cada classe na própria escola, o que
mostra que não houve prejuízo para estes alunos, e foi necessário apenas uma reunião com
duração de cinquenta (50) minutos com cada equipe.
Foi apresentada aos alunos uma breve explicação da atividade proposta, pois de
acordo com Gatti (2005, p.23) “não se recomenda dar aos participantes informações
detalhadas sobre o objeto da pesquisa. Eles devem ser informados de modo vago sobre o tema
da discussão para que não venham com ideias pré-formadas ou com sua participação
preparada.” Os alunos foram informados sobre a necessidade da gravação da conversa,
contudo foi assegurado o anonimato. Desta forma, os participantes foram identificados por A
(de aluno) seguido de uma numeração de 1 a 17 de acordo com a ordem das falas.
Desta forma, o grupo ficou constituído por:
Grupo 1: A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9
Grupo 2: A10, A11, A12, A13, A14, A15, A16, A17
Os alunos foram organizados em círculo para que uns de frente para os outros, de
forma descontraída, pudessem interagir melhor. Eles foram informados que, durante a
conversa, tinham o direito e a liberdade de se pronunciarem e que não havia certo ou errado
72
em suas falas, apenas o ponto de vista de cada um sobre o tema em debate. O objetivo do
roteiro de perguntas é de provocar os participantes a manifestarem suas apreciações a respeito
da relação professor-aluno no ambiente de aprendizagem.
O roteiro de perguntas tem a função de balizar o debate para facilitar a verificação dos
objetivos da pesquisa, através das respostas indicando as representações dos participantes.
Gatti (2005, p.10) propõe o estudo pela importância de se “compreender diferenças e
divergências, contraposições e contradições”. Assim reafirma que se estabelece em:
[...] uma técnica importante para o conhecimento das representações,
percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e
simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que
partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema
visado (GATTI, 2005, p.11).
Foi observado que cada grupo seguiu enredos próprios de acordo com questões que
foram surgindo durante a troca de ideias entre eles, o que é natural acontecer em grupos
focais. Esses temas geradores deram o tom das representações de cada grupo, a partir de
marcas que conduziram o discurso.
O material do áudio gravado dos dois grupos foi integralmente transcrito para
posterior análise. A partir de uma leitura flutuante, temas foram surgindo e indicando
categorias e subcategorias. Para melhor explicitação da análise, nas tabelas são expostos
exemplos das falas para as categorias e subcategorias, acompanhados do número de vezes que
apareceram em comum. As tabelas foram construídas de acordo com a análise da interlocução
do grupo focal. Gatti (2005) faz orientações sobre essa categorização e sugere que as
definições de temas possam ser escolhidas antes ou depois, contudo esclarece que as escolhas
dos temas devem ser justificadas.
73
Este grupo foi formado por nove (9) participantes pertencentes à mesma turma.
Embora houvesse uma certa interação entre eles, mostraram-se um pouco tímidos para iniciar
o debate. Foi realizada a primeira pergunta do roteiro e apenas um participante (A1) deu seu
relato sobre o ambiente da sala de aula: "Olha, eu acho que sala de aula é um ambiente pra
aprender”. O grupo foi provocado, com as perguntas subsequentes, a participar da
conversação e só então foram soltando-se e debatendo entre eles.
Lembrando que a pesquisa tem como objetivo investigar as representações sociais do
ambiente da sala de aula com foco na afetividade, cabe aqui citar Galvão (2001), que afirma
que interação social é condição indispensável para a aprendizagem e para o desenvolvimento.
A proposta dos temas foi feita com apoio da análise de conteúdo, buscando nas falas
elementos que tivessem ligados a relação com o objeto de estudo: a questão da afetividade no
ambiente da sala de aula.
Através dos diálogos, os temas expressos pelo Grupo Focal 1 foram: Relação
professor-aluno (Tema 1) e Professor ideal (Tema 2).
O Tema 1 gerou as categorias “conduta”, “interação social” e “aprendizagem”. As
categorias “conduta” e “interação social” originaram as subcategorias: gosta e não gosta,
enquanto a categoria “aprendizagem” ocasionou “facilita” e “dificulta” como suas
subcategorias.
Na categoria conduta, a bagunça foi menos citada do que na primeira etapa, a do jogo.
Os alunos fundamentaram a bagunça como um reflexo do comportamento do educador.
Justificaram não gostar quando o docente grita ou bate na mesa, causando mais agitação e
desconforto na classe. Os estudantes esperam uma atitude mais firme por parte do professor
regente com aqueles que perturbam a aula com sua indisciplina. Os alunos gostariam que seus
professores fossem mais enérgicos com os bagunceiros através de repreensões como forma de
coibir a insubordinação. Ficou claro que gostam de professores alegres, brincalhões,
75
divertidos e carinhosos, porém com autoridade sobre os estudantes de maneira a impor limites
no comportamento da turma. Assim é o exemplo do A1 que diz que “gosto do professor que
brinca assim, mas na hora de puxar a orelha, puxa” e o A8 “eu gosto de professor que brinca,
mas que explica bem, sabe? na hora que tem que ser bravo, ser bem bravo, assim.... para dar
moral.”
O Grupo Focal 1 destacou em seus diálogos que entendem a magnitude da relação
professor-aluno, uma vez que a boa relação entre os sujeitos em um ambiente estudantil
provoca uma tranquilidade capaz de cumprir com os objetivos pedagógicos. Galvão (2001)
cita um trecho de Wallon (1934) “o contágio emocional seria um mecanismo básico das
interações na fase inicial do desenvolvimento, do qual resultaria uma atmosfera de
participação afetiva, isto é, uma espécie de mimetismo que leva os parceiros a um estado
afetivo semelhante.” (p.25)
Galvão (2001), cita ainda uma afirmação de Lewin (1948) sobre a atmosfera criada
pelo docente que vai refletir no seu êxito em sala de aula, pois o clima social que uma criança
vive, é tão importante quanto o ar que ela respira. Portanto, é importante a ponderação entre
brincadeira e disciplina. Um exemplo é o relato do A8 “eu queria falar uma coisa e não
consegui é que essa coisa dele fazer brincadeiras, deixa a turma mais bagunceira, a turma fica
mais solta, entendeu?”
Na categoria interação social, foi observado que o aluno quer ser respeitado, bem
tratado e valorizado, não gostam de comparações e querem equidade no tratamento entre eles.
Os participantes da pesquisa declararam que gostam de um cuidado, de uma relação além
professor-aluno. O relato do A5 pode exemplificar: “tem alguns professores que dão essa
liberdade pra gente falar durante a aula. tipo, sobre alguma matéria ou alguma coisa que
aconteceu com a gente” e o A3 reforça em seu discurso: “a professora de **** deixa a gente
falar um pouco da nossa vida, o que a gente já passou ou que acontece com a gente, e isso pra
mim é muito legal”
A palavra respeito aparece durante o diálogo. Eles querem ser respeitados, mas
reconhecem também que esta atitude precisa ser recíproca. Do ponto de vista de A8, “se todo
mundo respeitasse mais o professor, ele não faria mais essas coisas” e tem o apoio de A3 que
defende o respeito mútuo: “eu não gosto que ele faz comigo, eu não posso fazer com ele o que
ele não gosta.” Este comportamento se torna compreensível a partir do estudo de Galvão
(2001) sobre Wallon, quando afirma que as emoções são contagiantes de indivíduo a
indivíduo, sendo este contágio emocional um mecanismo básico das interações, isto é, uma
espécie de mimetismo que leva os parceiros a um estado afetivo semelhante. Por este motivo,
76
Galvão (2001) alerta para o cuidado em responsabilizar somente a família pelos distúrbios de
comportamento e de aprendizagem, uma vez que no processo de formação, a escola assume o
papel de coparticipante e corresponsável.
Na última categoria deste tema, “aprendizagem”, os participantes tiveram a
oportunidade de opinar sobre o que eles acreditam que facilita ou dificulta o processo de
aprendizagem e, sem dúvidas, eles aprendem melhor quando o professor explica bem o
conteúdo e se possível com métodos diversificados como relata o A5 “ela já tirou a gente de
sala pra mostrar as vegetações, e a gente conseguiu entender bastante essa matéria por causa
disso”. O A3 concorda e dá outro exemplo: “ela mostra com slides e vai explicando passo a
passo”.
A dificuldade no aprendizado está na maneira como é ministrada a aula, quando o
professor apenas utiliza o livro, dificulta a compreensão do conteúdo programático e, mais
uma vez, a indisciplina aparece como barreira para aprendizagem.
O tema 2 “professor ideal” derivou apenas uma categoria “se eu fosse professor”, que
adveio com fundamento ao retorno da pergunta: “Se você fosse um professor, como seria?
Alegre, brincalhão, sério, bravo?” Através das respostas dos estudantes, entendidas como
atributos desejáveis por eles, foi oportuno criar as subcategorias: Legal ou brincalhão,
paciente, explicação do conteúdo e sério.
unanimidade entre eles, além de desejarem aulas diversificadas com brincadeiras, para que as
aulas sejam mais interessantes e prazerosas.
Os alunos reconhecem que “paciência” é primordial na profissão de educador, e que a
maioria dos participantes não possuem este atributo, como A1 diz: “eu ia ser muito atenciosa,
mas também eu iria precisar de muita paciência que eu não tenho muita rsrs” muito parecido
com a fala de A7: “eu ia ser brincalhão na hora que pudesse ser, mas ia ter que ter paciência
que é uma coisa que eu não tenho”
Os participantes acreditam, em sua maioria, que a aprendizagem do conteúdo
programático se torna possível e eficaz a partir de uma explicação fácil e adequada pelo corpo
docente. Eles enfatizam a importância da retirada de suas dúvidas sempre que o professor é
solicitado, pois entendem que o professor é responsável pelo ensino da sua especialidade.
Segundo Freire (1997), ensinar não se trata apenas de uma transferência mecânica de
conhecimento do professor para o aluno, e sim um aprendizado mútuo que ocorre quando o
docente se encontra acessível a rever suas posições em sala de aula, ao surgirem
questionamentos curiosos de seus alunos, nunca antes pensados. Desta forma, ele consegue
aprimorar o ensino através de suas experiencias vividas em sala de aula, daí vem sua ótica de
que o professor também aprende com seu aluno.
Um adjetivo muito citado durante o debate deste grupo, é considerada por Paulo Freire
(1997), um predicado imprescindível no educador. A paciência deve estar presente de forma
equilibrada e harmoniosa com a impaciência, para que se evite o comodismo, caso haja muita
paciência, ou arrogância do docente, caso a impaciência predomine.
De acordo com a análise dos diálogos no Grupo Focal 1, mostradas na Tabela 3 e
Tabela 4, e também com a análise derivada da atividade do jogo, propomos uma hipótese
interpretativa do modelo figurativo da representação social do ambiente da sala de aula por
esses alunos, com foco na afetividade. O modelo ou núcleo figurativo, como foi dito
anteriormente, é a concretização do objeto em uma imagem. Neste grupo, os discursos
parecem se organizar em torno da bagunça presente no ambiente da sala de aula, que por sua
vez, reflete a imagem do professor, o que mostra a característica imagética do modelo
figurativo, dando indícios para a objetivação da representação investigada. A imagem do
professor condensa os significados da representação social investigada nesse grupo como
reflexo do comportamento da relação do professor com o aluno, relacionado à figura de um
professor agitado, carinhoso e brincalhão na sala de aula. Os alunos afirmam que a bagunça é
um dos fatores responsáveis pela dificuldade na aprendizagem. Esta indisciplina presente no
ambiente da sala de aula, em que o professor não tem voz ativa para cessar esta desordem,
78
Figura 2: Modelo figurativo da representação social do ambiente da sala de aula por alunos do
6º ano do ensino fundamental- a questão da afetividade- uma hipótese interpretativa
BAGUNÇA
O Grupo Focal 2 foi formado por quatro (4) meninas e quatro (4) meninos totalizando
oito (8) alunos participantes pertencentes a mesma classe de sexto ano. Assim como no Grupo
Focal 1, havia entre eles um certo entrosamento, embora, diferente do grupo anterior, este
mostrava-se mais organizado no momento do discurso, além de serem mais desenvoltos ao
expressarem suas opiniões sobre o tema em debate. Foi utilizado o mesmo roteiro de
perguntas nos dois grupos, porém cada participante expressou seus argumentos e pontos de
vistas, possibilitando chegar consensos sobre o ambiente da sala de aula pelos que
compuseram esta pesquisa. Deste modo, algumas categorias foram diferenciadas nos dois
grupos.
Na análise dos dados deste grupo, utilizou-se o mesmo tema Relação Professor-
Aluno, por se ele central nos discursos e também o tema Professor Ideal. Segundo Libâneo
(1994), fazem parte do trabalho docente na sala de aula: as relações entre professores e
alunos, as formas de comunicação, os aspectos afetivos e emocionais e a dinâmica das
79
Para o autor, essa autoridade não deve ser considerada pelos alunos como algo
negativo, deve ser uma conduta do professor como detentor de conhecimento para auxiliar o
81
crescimento intelectual e individual dos educandos, para que se tenha uma autonomia, e não
algo para oprimir o aluno. (LIBÂNEO, 1994)
Freire (1997) afirma que humildade, ao contrário da arrogância da pessoa autoritária, é
uma virtude que permite ouvir com respeito e atenção a quem procura por conhecimento. O
autor acredita que a humildade não caracteriza inferioridade, e sim a constatação de que
ninguém entende e sabe tudo. Freire ainda adiciona a amorosidade como uma qualidade
valorosa no processo de ensinar para que o trabalho docente não perca seu significado. De
acordo com Mahoney (1993), a autoridade competente e vínculo afetivo não são
incompatíveis.
Na categoria disciplina, a bagunça e o mau comportamento de alguns alunos têm uma
forte presença no debate dos participantes deste Grupo 2. E mais uma vez, a reprodução do
comportamento do professor no aluno e vice-versa é observado pela análise de conteúdo. Em
consonância com o primeiro grupo, este grupo também contesta a falta de firmeza do
educador no que concerne ao comportamento, visto que a indisciplina durante a aula acarreta
falta de concentração e, por conseguinte, dificuldade no aprendizado.
Podemos reforçar, com a fala de A12 que apesar de ter sido o único a relatar que
gosta do ambiente da sala de aula, reconhece a insuficiência do domínio docente sobre os
discentes: “a maioria dos professores chega e ameaça assim; "Ahh se você fizer bagunça de
novo, eu te boto pra fora da sala" só que não botam pra fora da sala, o aluno continua fazendo
bagunça, então é um ambiente que você não consegue concentração e os alunos simplesmente
não deixam a gente ter aula.”
Chegando na categoria interação social, os discursos novamente se repetem. Os alunos
não gostam de ser comparados. “não é legal ficar comparando uma pessoa com a outra,
porque cada pessoa tem sua personalidade. eu me sinto triste” (A11). Neste grupo surge o
anseio pela igualdade no tratamento entre os alunos e seus superiores. Gostariam de ter uma
relação mais próxima com os professores, como declara A12 “alguns professores que assim,
gosto bastante e tratam a gente como seres humanos e não como só alunos”. Esta categoria
entrelaça com a categoria autoridade, onde os estudantes desejam ser valorizados e
respeitados como “pessoas” e não somente como alunos da escola.
Quando o professor ensina além do conteúdo programático previsto no planejamento
escolar, conversa sobre assuntos diversos que despertam o interesse e contribuem para o
crescimento pessoal do indivíduo não apenas nas propostas pedagógicas, mas principalmente
como seres humanos, há uma admiração do alunado. Um exemplo está na fala de A15 “ele
não fala apenas de ****, ele também quer dar uma sugestão pra gente fazer quando a gente
82
crescer é melhor, por isso mesmo ele falou que bullying é errado, ele também falou do monte
de coisa que é errada, ensinou pra sala inteira o que é certo e errado. a aula dele não é
especificamente de ****. a aula dele, ele fala sobre muitas coisas.”
Por fim, a aprendizagem é facilitada pela qualidade do ensino de cada professor. A
mediação do professor é indispensável, pois os educandos não conseguem aprender sozinhos,
mas reconhecem que sua participação na dedicação nos estudos é fundamental, como diz A16
“é só estudar pra saber que era fácil”
O Tema 2 proposto para o Grupo 2 é o mesmo do Grupo 1. Os participantes tiveram o
ensejo de imaginarem-se assumindo o papel de professor e assim expressar os requisitos
desejáveis por eles. Assim como no grupo anterior, neste tema 4 de categoria única: “se eu
fosse professor”, sucederam as subcategorias “liberdade de expressão e explicação do
conteúdo.
Neste grupo houve pouca participação na discussão deste tema, mas é possível
perceber em seus discursos que, se estivessem na posição de professor, dariam liberdade para
os alunos se expressarem. Neste grupo, ninguém citou a paciência como característica
fundamental para a profissão de educador, como foi mencionado no grupo anterior, embora
tenham destacado a bagunça no ambiente da sala de aula provocada pelos próprios colegas de
classe como diz o A11: “tem certas atitudes de alunos da sala de aula que não são adequadas
como de interromper o professor, ficar arrumando desculpa pra trocar de assunto, botando
música durante a aula. isso atrapalha muito.”
83
De acordo com a análise dos diálogos no Grupo Focal 2, apresentadas nas Tabela 5 e
6, e também com a análise derivada da atividade do jogo, foi possível fazer uma hipótese
interpretativa do um modelo figurativo da representação social do ambiente da sala de aula
pelos alunos, com foco na afetividade. Neste grupo, a figura do professor também esteve
presente de forma significativa durante o debate, com a bagunça como o termo que organiza o
núcleo figurativo o que mostra a característica imagética do modelo figurativo, aspecto central
da objetivação de uma representação social. A bagunça condensa os significados da
representação social investigada nesse grupo. O estudo mostrou que, para os alunos,
“bagunça” no ambiente da sala de aula interfere na aprendizagem e que relações afetivas entre
professores e alunos são fundamentais para a construção de um ambiente mais propício para o
ensino-aprendizado. Como visto no grupo anterior, a bagunça interfere no comportamento do
professor fazendo-o ficar irritado e consequentemente prejudica a aprendizagem. Diminuir a
“bagunça” associa-se a relações afetivas e à imagem do professor. O professor “amigo” tem
mais sucesso do que o “irritado” e “autoritário”. Os estudantes desejam que os professores
tenham autoridade sobre aqueles que atrapalham a organização do ambiente da sala de aula,
porém sem autoritarismo.
Figura 3: Modelo figurativo da representação social do ambiente da sala de aula por alunos
do 6º ano do ensino fundamental- a questão da afetividade- uma hipótese interpretativa
BAGUNÇA
ações capazes de comedir a desordem na classe. A partir das declarações dos participantes,
conclui-se que esta indisciplina “consentida” compromete o aprendizado do alunado.
De acordo com Freire (1997), a incapacidade do professor em tomar decisão, que é
julgada pelos alunos como fraqueza moral ou incompetência, trata-se de uma insegurança no
exercício da autoridade. Aqui é possível citar um trecho do livro “Professora sim, tia não” do
autor: “Ser tolerante não é ser conivente com o intolerável, não é acobertar o desrespeito, não
é amaciar o agressor, disfarçá-lo. A tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o
diferente. A aprender com o diferente, a respeitar o diferente.” (FREIRE, 1997, p.39). Para o
autor, a tolerância é uma virtude que impõe limites e exige respeito, disciplina e ética.
Os discentes admitem não gostar da bagunça presente dentro da classe, e aspiram por
um professor que domine a sala de aula com autoridade despida de autoritarismo. Toda essa
dinâmica criada no ambiente da sala de aula, quando sistematizada e organizada, favorece
uma aprendizagem satisfatória e, de acordo com Galvão (2001), sobre estudos de Wallon, as
emoções são contagiosas.
Foi percebido também no encontro com o Grupo 1, que a qualidade da mediação do
professor tem uma importância primordial na aprendizagem. Eles aprendem melhor quando o
docente é conhecedor do conteúdo programático e, sobretudo, sabe ensinar de uma forma
compreensível de acordo com a linguagem própria de cada ano escolar. É preciso muito mais
que apenas ler o livro, o professor precisa saber “explicar bem”.
O Grupo 2 compatibiliza do mesmo pensamento que o grupo anterior no quesito
aprendizagem. Os alunos requerem a mediação do professor para que a lição seja
adequadamente absorvida por eles. É difícil aprender apenas lendo o livro, a explicação,
comprometimento e domínio do professor é essencial para que ocorra a aprendizagem.
De maneira diversificada, tanto o Grupo 1 quanto o Grupo 2 anseiam por um bom
relacionamento com seus professores, em que possam lidar uns com os outros sem uma
classificação hierárquica. O Grupo 1 afirma gostar de professores brincalhões e que os tratam
bem, enquanto o Grupo 2 almeja serem tratados com igualdade, sem uma posição de
subordinação, por seus educadores, apesar de reconhecerem a posição de cada componente na
sala de aula. Eles apreciam também quando assuntos pertinentes para seu crescimento como
seres humanos são abordados durante as aulas e não restringindo o aprendizado apenas com o
conteúdo programático de cada disciplina.
Eles relatam dispor de professores que se utilizam do tempo destinado à entrega do
conteúdo programático, para ensinar-lhes muito mais do que consta no planejamento anual da
86
escola, preparando-os para a vida. Desta forma, demonstram que se importam com seus
aprendentes e que consequentemente acarreta um sentimento agradável.
Ao comparar os dois agrupamentos sobre o tema “professor ideal”, o primeiro
reconhece que a paciência é um atributo fundamental para a profissão de ensinante, uma vez
que, muitos estudantes não respeitam a figura e presença do professor. Este adjetivo não foi
sequer citado pelo grupo seguinte, apesar do mesmo ter consciência de que é necessário um
lugar tranquilo para o andamento do ensino e sua aprendizagem.
A examinar as falas dos dois grupos participantes da pesquisa, é observável que apesar
de terem sido criadas categorias diversificadas, não houve discordância em nenhum item. Os
grupos apenas focaram em pontos variados, embora não tenham fugido do contexto. Quando
pensam em ambiente na sala de aula, com o recorte da afetividade, os discursos recaem sobre
o professor e a disciplina ausente neste ambiente. Professor carinhoso”, “brincalhão”,
“amigo” tem mais sucesso do que o “autoritário”, “irritado” “agitado” ao lidar com a
“bagunça”.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um estudo com um tema tão abrangente sobre o ambiente da sala de aula com foco na
afetividade, e com uma diversidade de eixos teóricos, merece inúmeras outras pesquisas no
sentido de ampliar as reflexões obtidas nesta pesquisa. Por este motivo, temos aqui as
considerações, e não uma conclusão sobre o tema desta dissertação. A inconclusão tem o
papel de instigar e continuar na direção em busca de uma educação de qualidade.
Procurou-se não usar diretamente a palavra “afetividade” com esses alunos
participantes, por supor que eles, recém chegados ao segundo segmento do Ensino
Fundamental, talvez ainda não conseguissem construir significados sobre tema com
características abstratas. Optamos pelo objeto “ambiente da sala de aula”, que suscita
expressões sobre a afetividade que ocorre nesse espaço. No entanto, foi possível identificar
em suas falas, de maneira implícita, uma construção da representação social e o desejo pela
presença da dimensão afetiva no espaço escolar.
Faz-se necessário informar que a pesquisa de abordagem qualitativa teve todos os seus
objetivos, geral e específicos contemplados, possíveis de serem cumpridos por meio das
relações entre fundamentação teórica e procedimentos metodológicos. Cada etapa da
metodologia foi minunciosamente estudada e analisada de forma a encontrar evidências que
pudessem nos dar pistas das construções feitas por alunos do 6º ano a respeito do ambiente da
sala de aula.
Tendo em vista os aspectos observados, pode-se afirmar que a instituição escolar
abriga representações e simbolismos que atuam direta e indiretamente nas interações sociais e
nas produções de sucesso ou fracasso do desenvolvimento da aprendizagem, além da
construção de identidades.
Na primeira etapa, na confecção da sala de aula através do jogo virtual, foi constatado
através da leitura interpretativa das imagens do jogo, que os estudantes têm como modelo do
ambiente da sala de aula, algo bem convencional. As carteiras arrumadas tradicionalmente
uma atras da outra, e o professor, na maioria das vezes de frente para os alunos e expressando
felicidade. Quanto à escolha do gênero do docente, houve um equilíbrio.
Na segunda fase desta primeira etapa, na produção textual do ambiente da classe
escolar confeccionado pelos participantes, pode-se considerar a bagunça como o maior
empecilho para a aprendizagem. A bagunça, segundo eles, atrapalha e deixa os professores
tristes ou zangados, ainda que, mais da metade dos integrantes enxerguem os professores
sempre felizes.
88
Na terceira etapa da pesquisa, a “bagunça” volta a surgir nas conversas dos dois
grupos focais como algo perturbador. Foi legítimo perceber, por intermédio da análise de
conteúdo dos diálogos dos dois grupos focais, para além do objeto de pesquisa, de como
desejam uma postura mais firme do educador com o intuito de lidar com a bagunça presente
nas salas de aula facilitando assim a aprendizagem. Os estudantes percebem que os
professores têm a função de ensinar, mas que muitas vezes não conseguem cumprir seu papel
pela constante indisciplina dentro da classe.
Os alunos apresentam em seus discursos carecerem de professores mais dinâmicos,
com aulas diversificadas e prazerosas, porém com uma conduta de domínio de turma, pois
uma vez que o professor não se posiciona com imperiosidade, perde-se o controle da
disciplina da classe, gerando uma total desordem entre eles. O equilíbrio entre “brincar” e “ser
rígido” é o que os educandos esperam de seus educadores.
Ao pedir que se imaginassem como professores, os alunos tiveram a oportunidade de
se colocarem no lugar oposto ao que elas ocupam no ambiente escolar, e admitiram que a
profissão de educador requer paciência, firmeza e competência. Eles gostariam de ser “legais”
e “brincalhões”, desejando assim, afetar seus supostos alunos de uma forma positiva. No
cenário hipotético de troca de função com o professor, pode-se interpretar que o
comportamento que teriam com seus supostos alunos está implicitamente e ligado ao
professor ideal desejado por eles.
Os grupos focais integrantes desta pesquisa apresentaram pistas, em suas falas, de
representações da afetividade na relação educativa. Ambos anseiam por aulas mais tranquilas
e ordenadas de modo a proporcionar no aprendiz uma melhor concentração e interesse, e por
conseguinte, uma aprendizagem eficaz e de sucesso. Ademais, almejam uma relação entre
educador e educando pautada no respeito mútuo, onde o aluno sinta-se confortável para
estabelecer um diálogo com o professor, e que este vá além dos conteúdos propostos, pois
quando o docente se achega ao aluno mostrando que se importa com seu bem estar, com o que
está fazendo, gera um clima de segurança e aumentam os laços afetivos. A postura do
mediador frente às necessidades e dificuldades dos alunos para superar seus limites de
assimilação, seja individual ou coletivamente, faz toda a diferença no processo de
aprendizagem
A paciência do professor é considerada pelos alunos, como uma característica de
fundamental importância para o sistema de ensino, podendo proporcionar confiança e
segurança no aprendiz, pois desta forma, a relação afetiva entre os sujeitos envolvidos no
processo de ensinar e aprender, o diálogo entre aluno e professor, o respeito mútuo, o estar
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aberto, o saber escutar e dizer, configuram-se como elementos indispensáveis para a aquisição
do conhecimento.
Nos resultados desta pesquisa pode-se mostrar que o corpo docente, mesmo de forma
não planejada e não intencional, é capaz de envolver os alunos numa aprendizagem
significativa, transmitindo no ambiente escolar preceitos muito além das disciplinas e
conteúdos escolares. Esses ensinamentos de vida são muito apreciados pelos educandos. Os
estudantes gostariam de uma aproximação maior com seus educadores. Os alunos querem ser
tratados, respeitados e valorizados como seres humanos e não apenas como alunos da escola.
A fim de sintetizar e reafirmar os pressupostos defendidos pelos estudiosos abordados
nesta dissertação, ressalta-se a necessidade de identificar e ponderar frequentemente sobre o
aspecto afetivo no processo de ensino e aprendizagem, já que, como visto nesta pesquisa, ao
longo do tempo os indivíduos vivenciam afetos positivos e negativos capazes de deixar
marcas que podem ser agradáveis ou desagradáveis, a depender da relação existente entre os
principais personagens. As relações de ensino e de aprendizagem podem ocorrer de maneira
harmônica e prazerosa, lembrando que não é só o aluno que aprende com o professor, é ação
conjunta. Ambos se sentem pertencentes ao processo de aprender e de ensinar.
Portanto, é pertinente o estudo das representações sociais sobre o ambiente da sala de
aula, observando-se a afetividade na relação professor-aluno, pois como foi visto nesta
pesquisa, quando o sujeito é integrado em suas dimensões afetiva, cognitiva e motora, os
objetivos propostos pela escola tendem a ser alcançados mais facilmente. Os alunos desejam
professores agradáveis, porém com postura firme que impeça a desordem e a indisciplina
causada pelos próprios discentes. Uma relação baseada no respeito mútuo, em que o docente
se preocupe com o bem-estar de seu aluno, e que este aprenda muito mais que apenas o
conteúdo programático, é o que almejam os educandos.
Os resultados da pesquisa obtidos através dos diálogos apresentados, e as
representações que surgiram, demonstram que, embora a afetividade seja considerada como
parte integrante fundamental do desenvolvimento humano, infelizmente, ainda não há
convicção e clareza de que o processo cognitivo perpassa obrigatoriamente pela dimensão
afetiva. Esta concepção fica clara ao perceber, na fala dos alunos, que alguns docentes ainda
estabelecem um certo distanciamento de seus educandos.
90
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96
______________________________________________________________
Assinatura do responsável pelo participante
________________________________________________________________
Assinatura do pesquisador responsável
98
Por que fazer este estudo? Queremos saber o modo como os alunos percebem as relações
afetivas no ambiente da sala de aula e como elas impactam em seu aprendizado e, a partir dos
resultados obtidos sobre a afetividade em sala de aula, de acordo com vocês alunos, oferecer
elementos que propiciem o aprimoramento no processo de ensino-aprendizagem no universo
escolar.
Você só vai participar da pesquisa se quiser, se você não se sentir confortável em participar,
fique à vontade para dizer não e estará tudo bem, é um direito seu e não terá nenhum
problema. Se aceitar agora e desistir depois, também pode, ok? É só me comunicar,
combinado?
Os alunos que irão participar desta pesquisa são do 6º ano do Ensino Fundamental da
Fundação Osório. Devido à pandemia de COVID-19, todas as atividades de pesquisa serão
realizadas de forma remota, portanto, sua participação se dará, de forma não presencial, por
meio de um jogo virtual onde você vai montar a sala de aula. Em seguida será solicitado que
escreva um texto sobre o que montou no jogo, se expressando sobre sentimentos agradáveis e
desagradáveis nesse ambiente, sempre respeitando a forma na qual você se sinta mais
confortável. Para isso, será usado seu computador pessoal, ele é considerado seguro, mas caso
se sinta constrangido por algum motivo ou inseguro em relação à violação da
confidencialidade das informações, poderá desistir de participar sem que ninguém fique
chateado. Caso aconteça algo errado, você pode nos procurar pelos telefones que tem no
começo do texto. Mas há coisas boas que podem acontecer, pois os resultados desta pesquisa,
quando publicados, poderão colaborar para uma maior conscientização acerca da afetividade
vivenciada em sala de aula. O modo como os alunos percebem as relações afetivas no
99
ambiente da sala de aula e como elas impactam em seu aprendizado podem ampliar estudos
sobre a temática. O estudo pretende evidenciar a importância de ampliar o olhar e a escuta da
criança e suas interpretações em relação à afetividade presente no ambiente da sala de aula,
valorizando e garantindo sua participação como sujeito no processo de escolarização.
Ninguém saberá que você está participando da pesquisa a não ser seu responsável; não
falaremos a outras pessoas, nem daremos a estranhos as informações que você me der. Os
resultados da pesquisa vão ser publicados sem que ninguém seja identificado.
Alguma dúvida?
Este termo será assinado em 02 (duas) vias de igual teor, uma para o (a) participante da
pesquisa e outra para a responsável pela pesquisa.
ANEXO A
Professores
Protetores das alunos do meu país
Eu queria, gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo
Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
É que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor
Professores
Protetores das alunos do meu país
Eu queria, como eu gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo
Ensinem a quem pensa que sabe de tudo
A entregar o conhecimento
Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
É que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor