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psicólogo criminal, suas atribuições inerentes ao cargo, bem como a análise concreta que um
psicólogo da área criminal realiza.
Importante destacar que este grupo não possui qualquer ligação com o caso, atuando de maneira
impessoal, no intuito exclusivo de estudo do presente. O caso foi escolhido de maneira aleatória, e
em caráter estudantil.
Destacamos então o caso de Roberto Aparecido Alves Cardoso, que ficou conhecido como ‘’caso
Champinha’’. O criminoso, em novembro de 2003 sequestrou, manteve em cativeiro, abusou
sexualmente e, por fim, assassinou Liana Friedenbach, juntamente com seu comparsa Paulo César
da Silva Marques, conhecido como ‘’Pernambuco’’, após o mesmo assassinar o namorado de Liana
da época, Felipe Caffé. Champinha, juntamente com Pernambuco e outros quatro comparsas
mantiveram Liana por cinco dias em cativeiro, sendo abusada sexualmente diversas vezes pelo
grupo e mantida em cárcere privado, quando, a fim de atentar contra a vida de Liana, Champinha a
levou ao matagal onde a manteve em cárcere privado, e, de maneira cruel e sem remorso algum
desferiu golpes de faca em sua cabeça, lhe causando morte instantânea por traumatismo craniano.
De acordo com os dados obtidos através de pesquisas acerca da vida de Champinha, este nasceu
em Embu-Guaçu, conviveu com um pai alcóolatra, estudou apenas até a terceira série do ensino
fundamental e saiu de casa aos 14 anos para viver nas ruas. Desde então, adentrou no mundo do
crime, cometendo assaltos e agressões por onde passava. Antes do cometimento do crime que
teve comoção nacional, Champinha já havia tirado a vida de, pelo menos, duas pessoas. Ele foi
condenado a internação na Fundação Casa por três anos, já que menor de idade à época dos fatos.
No entanto, após de um laudo psicológico realizado por psiquiatras forenses do IML, foi
constatado que Champinha portava grande transtorno de personalidade anti-social .
‘’O interditando foi, novamente, submetido à avaliação médica e a conclusão foi no sentido da
existência de distúrbio de personalidade, retardo mental leve, conduta antissocial, ausência de
crítica e julgamento (fls. 197⁄200). Já com dezessete anos e nove meses novo relatório (fls. 228⁄241) foi
feito à respeito do jovem cuja conclusão foi "Roberto é um jovem com limitações na
complexidade em desenvolver-se enquanto pessoa de direito." Outros relatórios da
Febem instituição que nos últimos anos está em contato direto com o interditando foram redigidos
como o mesmo resultado. Entretanto, já com 20 (vinte) anos de idade Roberto foi submetido a
exames por psicólogos e psiquiatras do Hospital das Clínicas que apuraram que o Interditando não
apresenta transtornos mentais que determinem necessidade de internação e tratamento (fls.
1229⁄1235), destacaram que ele tem deficiência intelectual, mas que não tem benefícios a auferir de
qualquer medida de internação, na fundação casa, ou outra instituição para transtornos mentais.
Estes mesmos profissionais que concluíram a assertiva acima deixaram expresso no laudo que: No
período em que foi acompanhado pela nossa equipe, Roberto demonstrou interesse em sua
situação, e ao longo do acompanhamento não revelou resposta significativa de abstração que
sugerisse indicativos de uma melhor adaptação, já que por suas limitações intelectuais e
personalidade imatura, ele carece de habilidade para julgar adequadamente situações sociais,
tendendo agir conforme as orientações que recebe. (grifo nosso)" Vale dizer, mesmo da avaliação
feita pelos profissionais do Hospital das Clínicas de São Paulo é possível aferir que Roberto, por
si só, não consegue gerir sua vida, pois "ele carece de habilidade para julgar
adequadamente situações sociais." Por derradeiro, Roberto foi submetido à equipe do
Instituto de Medicina Social e de Criminologia do Estado de São Paulo, doravante designado
apenas de IMESC que realizou a perícia no Interditando para este processo (fls. 1263⁄1266). Este
exame, que observa os ditames legais, levou em consideração todos os já realizados, contato
pessoal com o interditando e concluiu (fls. 1.266): "O
examinando ROBERTO APARECIDO ALVES CARDOSO é portador de história objetiva, subjetiva,
dados objetivos e exame psíquico compatível com Retardo Mental de Leve para Moderado (CID
F70⁄71) e Transtorna de personalidade Dissocial (CID F 60.2), piorado pelo uso de alcoólicos e
drogas, tendo sua capacidade de entendimento reduzida e, por conta da somatória de
problemática de ordem mental, absolutamente incapaz de autodeterminação. Assemelha-se e
gera efeitos, neste caso, estritamente sob o ponto de vista médico legal, a doença mental. É sob
o ponto de vista médico legal, absoluta e permanentemente incapaz de reger sua vida
e administrar seus bens e interesses." Pois bem, as provas são suficientes a indicarem que o
interditando é ABSOLUTAMENTE INCAPAZ, pois, por enfermidade e deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para os atos da vida civil (artigo 1.767, inciso I do CPC). De efeito,
conforme classificação do Código Internacional de Doenças (CID) F60 transtorno de personalidade,
trata-se de distúrbios graves da constituição caracterológica e das tendências comportamentais
do indivíduo, não diretamente imputáveis a uma doença, lesão ou outra afecção cerebral ou a um
outro transtorno psiquiátrico. Estes distúrbios compreendem habitualmente vários elementos da
personalidade, acompanham-se em geral a angústia pessoal e desorganização social; aparecem
habitualmente durante a infância ou a adolescência e persistem de modo duradouro na idade
adulta. Segundo a perícia do IMESC, Roberto é portador de personalidade antissocial (fls. 1307),
que segundo CID- F60.2 consiste na personalidade dissocial, isto é: "Transtorno de personalidade
caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há
um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais, falta de empatia para com
os outros. Há um desvio considerável, entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas.
O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive
pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e a um baixo limiar de descarga de
agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer
racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em
conflito com a sociedade. Personalidade (transtorno da): amoral; antissocial; associal;
psicopática, sociopática. A interdição civil abrange as pessoas dotadas de
sociopatia (personalidade dissocial) como no vertente caso, porque, conforme a legislação
vigente, dar-se-á curatela aos que sofrem de enfermidade ou deficiência mental grave que os
privem completamente da razão, “nessa situação os portadores de alguma anomalia psíquica,
como os alienados mentais e os psicopatas. (Nesse sentido: professor Milton Paulo de
Carvalho Filho - Código Civil Comentado. São Paulo, Manole. 2007.
coordenador Ministro Cezar Peluso, pág. 1.752). Insofismavelmente, a compreensão dos
problemas da mente é complexa para a Medicina e para o Direito, visto existir uma variação de
pequenos distúrbios, até a completa alienação. Porém, quando o legislador tratou do
absolutamente incapaz, os que por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos (artigo 3, inciso II do Código Civil) quis na
verdade abranger a qualquer distúrbio mental que comprometa a vida civil do sujeito; ora,
"Tanto na expressão do texto revogado como, no texto atual, a lei refere-se a qualquer distúrbio
mental que possa afetar a vida civil do indivíduo. A expressão abrange desde os vícios mentais
congênitos até aqueles adquiridos do decorrer da vida, por qualquer causa. Por essa razão, era
muita criticada a expresso loucos de todo gênero. De qualquer forma a intenção do legislador
sempre foi a de estabelecer uma incapacidade em razão do estado mental. Uma vez fixada a
anomalia mental, o que é feito com a auxílio da Psiquiatria, o indivíduo pode ser considerado
incapaz para os atos da vida civil." (Sílvio de Salvo Venosa -Direito Civil. Parte Geral. 4ª edição.
Atlas. Pág. 177). Portanto, no vertente caso, uma vez constatada a enfermidade e o transtorno
dissocial, que inviabiliza o interditando de gerir a si próprio, outras pessoas, seus bens, manifestar
validamente seu consentimento DECRETO A INTERDIÇÃO DO MESMO. DOS LIMITES DA
INTERDIÇÃO - A interdição, no caso é ampla e plena. O jovem encontra-se em estabelecimento
diverso do convívio doméstico, segundo o perito oficial, ele: "Necessita de estímulos na área
psicopedagógica, bem como acompanhamento psicológico, avaliação neurológica
e acompanhamento psiquiátrico em local especializado, conforme preconizado pela psicóloga da
Febem-SP. (fls.32). O acompanhamento psicológico e psiquiátrico mencionado deverá ser
realizado em regime fechado já que o periciando não reúne ainda condições de ser reengajado
ao meio social." Os laudos deixaram claros que o interditando revela periculosidade e
personalidade voltada a delitos, impondo-se sua internação compulsória, o fato dos profissionais
do Hospital das Clinicas terem uma opinião diversa dos profissionais do IMESC e da EDEN sobre a
efetividade ou não da internação, não gera dúvida que o interditando tenha deficiências que
comprometam a gestão de sua vida e o seu convívio em sociedade, bem como não
comprometem neste juízo a escolha da medida que seja a mais adequada, por ora, já que não foi
apresentada outra medida apta a defender o próprio interditando e a sociedade da sua
incapacidade. Não obstante, a medicina não forneça ainda solução às patologias
da personalidade, chegando o perito à conclusão de que "Não existe tratamento para o Transtorno
de Personalidade já que não se trata de doença mental." (fls. 1307), que a própria medicina
abandone as pessoas dotadas desta patologia, ou que o direito ignore esta situação. Cumprindo o
artigo 1771 do Código Civil, este juízo, pessoalmente arguiu o jovem, colheu detalhes
de personalidade e comportamento que, embora não sob o aspecto médico, trazem elementos de
convicção (fls. 1209⁄1213) e as impressões que deixou neste juízo foi insensibilidade e frieza ao
responder as perguntas formuladas. Por estes fundamentos entendo nos termos do artigo 1777 do
Código Civil e artigo 60, parágrafo único, inciso III da Lei 10.216⁄01 deva o interditando ser recolhido
em estabelecimento adequado, distinto do convívio doméstico e social, em hospital psiquiátrico ou
similar compulsoriamente, com a segurança que o caso requer . Insta expor, "Como ensinava
Carnelutti, na interdição o juiz não decide frente a duas partes, com interesse em conflito, senão
em face de interesse do próprio incapaz." (Humberto Theodoro Junior. Curso de Direito Processual
Civil. 32ª edição. Forense. Pág. 399). Do exposto, decreto a INTERDIÇÃO
de ROBERTO APARECIDO ALVES CARDOSO, declarando-o ABSOLUTAMENTE INCAPAZ de exercer
pessoalmente os atos da vida civil, na forma do artigo 3º, II, do Código Civil; decreto
sua INTERNAÇÃO, COMPULSÓRIA em ESTABELECIMENTO PSIQUIÁTRICO COMPATÍVEL E SEGURO
face à debilidade do interditado, nos termos do artigo 1777 do Código Civil e art. 9º da Lei 10.216⁄01
e nomeio lhe Curadora a Sra. Maria as Graças Figueiredo Cardoso, intimando-a para
prestar compromisso em cinco dias, bem como para Informar se Roberto herdou bens e, em caso
positivo, proceda à especialização da hipoteca legal em bens de sua propriedade. Em obediência
ao Imposto no artigo 1.184 do Código de Processo Civil e no artigo 12, inciso, III, do Código
Civil, inscreva-se a presente no Registro Civil e publique-se na imprensa local e no Órgão oficial, 03
vezes, com intervalo de 10 dias. Oficie-se à Secretaria de Saúde com urgência para que providencie
local apropriado ao interditado, isto é, estabelecimento psiquiátrico compatível com o
tratamento necessário, com contenção e segurança apropriada, informando que o interditando
é atualmente maior e incapaz. Mantenho tutela antecipada de fls. 1063⁄10641, não obstante eventual
recurso de apelação tenha apenas efeitos devolutivos. Expeçam-se ofícios via fax, para
comunicação do DEIJ desta sentença, bem como para requisitar à FEBEM que o jovem
seja transferido apenas para o estabelecimento indicado pela Secretaria de Saúde do Estado de
São Paulo, não podendo ser liberado sem que haja estabelecimento apropriado, eis que, é
absolutamente incapaz e atualmente, encontra-se já separado dos adolescentes,
recebendo tratamento por esta instituição. P.R.I.C. Embu-Guaçu, 28 de novembro de 2007.
PATRICIA PADILHA Juíza de Direito’’.
Referências do texto
https://www.trabalhosgratuitos.com/Humanas/Direito/PSICOLOGIA-JUR%C3%8DDICA-AN
%C3%81LISE-BIOPSICOSSOCIAL-DO-CASO-1100612.html
https://www.academia.edu/43740640/
CASO_CHAMPINHA_ROBERTO_APARECIDO_ALVES_CARDOSO
https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/391452452/apelacao-apl-112054320088190001-rio-
de-janeiro-capital-7-vara-civel/inteiro-teor-391452461
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HABEAS CORPUS Nº 169.172 - SP (2010⁄0067246-5)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
IMPETRANTE : DANIEL ADOLPHO DALTIN ASSIS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : R A A C (INTERNADO)