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PSICOLOGIA

SOCIAL E SAÚDE
MENTAL
PROFESSORA VANINA MIRANDA DA CRUZ
PSICOLOGIA E SAÚDE
MENTAL
A Psicologia possui uma relação direta com a Política de Saúde Mental.
Por ser uma ciência destinada a compreensão dos fenômenos psíquicos, é
inimaginável que psicólogas/os e futuros profissionais de Psicologia não se
apropriem da história da loucura e dos espaços de tratamento.
HISTÓRIA DA LOUCURA
A loucura nem sempre foi vista da mesma forma.
Foucault (1972) afirmava que na Idade Média o louco era visto como alguém vindo
de outro mundo mas como uma conotação familiar na “paisagem humana” .
Depois passou a ser percebido como um problema moral, policial, diante da ordem
da cidade. (FOUCAULT, 1972)

A história da loucura tem uma relação direta com o processo de transformação dos
hospitais.
HISTÓRIA DA LOUCURA
Essas instituições foram criadas na Idade Média e não se constituíam como campo
de atuação da Medicina.

Eram instituições religiosas e filantrópicas que se propunham a acolher pobres,


mendigos, desabrigados e doentes.
HISTÓRIA DA LOUCURA
Os hospitais Gerais foram criados pelo rei da França em 1656 e disseminados por
todo o reino;
Constituindo-se como espaço privilegiado e essencial da Medicina para tratar
enfermos, não acolhiam as pessoas consideradas loucas que eram chamadas de
alienadas.
Estes precisavam ser tratados em outro espaço surgindo então o hospital psiquiátrico.
Naquela época os loucos eram abandonados postos para fora das cidades,
acorrentados ou colocados em navios para serem levados a não se sabe onde.
A loucura já não tinha mais status de paisagem humana e se constitui como grande
ameaça à burguesia pois feria os padrões morais à época.
VISÃO
HOSPITALOCÊNTRICA
Não considera o sujeito enquanto ser
integral.
Intervenções focadas na patologia e na
doença.
Único local considerado para tratamento é o
hospital
Origem da palavra hospital = hospitalidade
Hospitais foram criados na Idade Média
como instituição de caridade que oferecia
abrigo, alimentos e assistência religiosa a
pobres, mendigos, desabrigados e doentes.
TRATAMENTO PROPOSTO POR
PHILIPPE PINEL
DIRETOR DO HOSPITAL GERAL DE PARIS
CONHECIDO COMO PAI DA PSIQUIATRIA
PROPUNHA DESACORRENTAR OS LOUCOS MAS MANTÊ-LOS PRIVADOS
DE LIBERDADE, AFASTADOS DO MEIO SOCIAL – ENTENDIDOS COMO
ORIGEM DO ADOECIMENTO MENTAL;

SE O MEIO ADOECIAM AS PESSOAS ESTAS DEVERIAM SER PRIVADAS


DO CONVIVIO SOCIAL ;
A TECNOLOGIA PARA TRATA-LOS ERA A DISCIPLINA E O LABOR. O
TRABALHO TINHA A CONOTAÇÃO MORAL DE IMPEDIR A OCIOSIDADE
MODELOS DE
ENFRENTAMENTO
MAXWELL JONES : COMUNIDADES TERAPEUTICAS
PROPUNHA INVERSÃO NO MODELO DE TRATAMENTO,
EQUIPES E PACIENTES ATUAVAM MUTUAMENTE, DESCONSTRUINDO AS
RELAÇÕES DE PODER QUE EXISTIAM NOS MANICÔMIOS.

PSICOTERAPIA INSTITUCIONAL: ACREDITAVA QUE AS RELAÇÕES ERAM


RESPONSÁVEL PELA PRODUÇÃO DA LÓGICA ANTIMANICOMIAL. NESSE
SENTIDO, PESSOAS E INSTUIÇÕES ESTARIAM ADOECIDAS E
PRECISARIAM SER TRATADAS, MUDANDO AS RELAÇÕES
ESTABELECIDAS, HORIZONTALIZANDO-AS E TRANSFORMANDO A
INSTITUIÇÃO EM UM ESPAÇO DE LIBERDADE, PARTICIPAÇÃO,
ACOLHIMENTO DAS DIFERENÇAS E VALORIZAÇÃO DOS SUJEITOS
REFORMA PSIQUIÁTRICA

Desconstrói a visão hospitalocêntrica


Considera o sujeito em sua particularidade
Considera o sofrimento psíquico como parte
Traz os dispositivos extra-hospitalares como espaços de cuidado em Saúde Mental
VÍDEO INDICATIVO
Centenas de pessoas tomaram as ruas do centro do Rio de Janeiro e o plenário da ALERJ na
sexta-feira, dia 18 de dezembro de 2015, em defesa do SUS e da Reforma Psiquiátrica e contra
a nomeação de Valencius Wurch como Coordenador Nacional de Saúde Mental, Álcool e
outras Drogas do Ministério da Saúde. Em sessão histórica realizada pela Comissão de Saúde,
as palavras de ordem vindas das ruas foram entoadas em coro, ecoando pelo plenário lotado.

A nomeação de Valencius vai na completa contramão da luta antimanicomial e do avanço da


implementação da Rede de Atenção Psicossocial em contraponto ao modelo centrado no
hospital e na internação. Ex-diretor de um dos maiores hospitais psiquiátricos privados da
América Latina – a Casa de Saúde Dr. Eiras de Paracambi, fechada em 2012 após graves
denúncias de violações de direitos humanos – e de posição declaradamente contra a lei que
instituiu o processo da Reforma Psiquiátrica, ter Valencius na condução da Política Nacional
de Saúde Mental representa grave retrocesso.
NOVO MODELO DE CUIDADO EM
A visão de Pinel:
Não considerava o sofrimentoSAÚDE
psíquico comoMENTAL
uma doença mental, mas sim como uma
alienação mental, que indicava a existência de um distúrbio das paixões que promovia a
desarmonia da mente e dificultava a percepção da realidade. Para ele, essa desarmonia
não promovia a perda absoluta da razão.
Para explicar a loucura, o alienista identificou três causas, tais como: as causas físicas que se
ligavam às fisiológicas; as causas ligadas à hereditariedade e as causas morais (paixões intensas,
excessos de todos os tipos, irregularidades dos costumes e hábitos da vida).

Pinel defendia a cura da loucura por meio do chamado "tratamento moral", que consistia em uma
ampla pedagogia normalizadora com horários e rotina rigidamente estabelecidos, medicamentos
receitados somente pelo médico e atividades de trabalho e lazer.
PINEL

Para reeducação das mentes desordenadas, numa época em que a tecnologia imperativa para
a disciplina era o disciplina, utilizava-se o trabalho.
Pinel ao mesmo passo que desacorrentou os sujeitos considerados loucos, atribuiu a eles o
isolamento em nome da crença de que era preciso afastar os “alineados” do meio social –
origem de todo sofrimento.
Surgem assim os hospitais psiquiátricos com a proposta de privar os sujeitos do convívio da
sociedade.
FRANCO BASAGLIA
PSIQUIATRA ITALIANO IMPORTANTE QUE DESENVOLVE A PSIQUIATRIA
DEMOCRÁTICA;
ACREDITAVA QUE ERA PRECISO IR ALÉM: ABRIR AS PORTAS DOS
MANICÔMIOS E TRATAR AS PESSOAS EM SOCIEDADE ATRAVÉS DE
DISPOSITIVO COMO CAPS E RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS;

O MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL INICIA NOS


ANOS 1970.
FRANCO BASAGLIA
Utilizava-se do pensamento fenomenológico-existencial – homem é tomado como
sujeito-objeto do sofrimento social.

Propõe o conceito “sofrimento-existência dos sujeitos em sua relação com o corpo


social”
FRANCO BASAGLIA
O modelo de Franco Basaglia inspirou o Brasil através do movimento dos
trabalhadores, familiares e usuários de saúde mental a lutar pela reforma psiquiátrica
no país.

Essa reforma objetivava substituir aos poucos para não causar desassistência os
leitos em hospitais psiquiátricos por serviços substitutivos como o CAPS.
O ponto de partida do tratamento é a sociedade e a reintegração do sujeito ao meio
social.
LEI 10.216
Em 2001 foi aprovada a Lei 10.216, de autoria do deputado Paulo Delgado, que trata
da progressiva substituição dos leitos psiquiátricos por dispositivos comunitários
de tratamento em saúde.

A psicologia sempre esteve ao lado de movimentos sociais dessa época, e hoje tem
como bandeira de luta a eliminação de toda forma de tratamento manicomial além de
criticar as comunidades terapêuticas.
18 de maio – Dia da
Luta antimanicomial

O QUE SEPARA ANORMALIDADE


DE NORMALIDADE?
LEI 10. 216 – REFORMA
PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA -
2001
III Conferência Nacional de Saúde Mental – reitera que as Políticas de Saúde devem
ter como pressuposto básico a inclusão social, integrando-se a outras políticas como
Educação, Assistência Social, habitação, etc.
Rede substitutiva – que garanta o cuidado, a inclusão social e a emancipação das
pessoas portadoras de sofrimento psíquico.

Os municípios deveriam então implantar a rede substitutiva de forma territorial e


integrado a rede de saúde.
Progressivamente foram criados os serviços substitutivos e fechados os leitos em
hospitais psiquiátricos.
REFORMA
PSIQUIÁTRIC
A NO BRASIL

Lutas e desafios
SITUAÇÃO DA SAÚDE
MENTAL NO BRASIL 1500-
1822
Período colonial
O alienado não possuía qualquer assistência
Mesmo os que se encontravam na Casa de Misericórdia
permaneciam isolados no porão.
PROCLAMAÇAO DA REPÚBLICA

Duas décadas depois, esse hospício estava ameaçado pela superlotação e após a
proclamação da República foram criadas as primeiras colônias agrícolas, cujo
objetivo era a autossufiência.

Nesse momento a situação sanitária era bem precária.


TERRAS DA FAZENDA DO ENGENHO NOVO

Hospital Colônia
SNDM – Serviço Nacional de Doenças Mentais – elaborou um plano hospitalar
psiquiátrico que propunha outro modelo de instituição.
Visando aproveitar os investimos já realizados e aumentar a quantidade de leitos.
Percebe-se tentativa de um atendimento mais humanizado – atividades esportivas, acesso a
artes, rádios, música e pintura.
Lidava porém ainda com dificuldades como quantidade de pessoas e tratamentos que
envolviam eletrochoque e lobotomia.
Portanto, o modelo prevalente era o manicomial – como lugar de segregação e violência.
NISE DA SILVEIRA

https://youtu.be/j1Gpca8WTwg
N I S E D A S I LV E I R A – 1 9 4 0 –
P S I Q U I AT R A JUNGUIANA –
H O S P I TA L D E E N G E N H O D E
DENTRO/RJ
CRIOU O MUSEU DE IMAGENS
DO INCONSCIENTE EM 1946.
NISE Q U E S T I O N AVA OS
T R ATA M E N T O S VIOLENTOS
COMO E LT R O C H O Q U E E
LOBOTOMIA AFIRMANDO
QUE ESTES DESTRUIAM A
PERSONALIDADE DOS
PA C I E N T E S ,
I M P O S S I B I L I TA N D O SUA
CURA

.
NISE DA SILVEIRA
Após passar um tempo na clandestinidade, Nise foi contratada em 1944 para o corpo clínico do Centro
Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro.
Logo de cara, ela se opõe às novas técnicas para tratar os internos e se recusa a usar eletrochoques,
camisas de força e isolamentos. Ao criar atritos com seus colegas de profissão, sofre uma transferência
para a seção de Terapia Ocupacional, uma área completamente desprezada e sem os mínimos
recursos.
É nesse momento que Nise revoluciona o tratamento das doenças mentais, junto com o médico Fábio
Sodré. Em vez de permitir que seus pacientes fizessem serviços de limpeza ou levassem sovas, práticas
bastante corriqueiras até então, oferece a eles pincéis, tintas e telas brancas. Esquizofrênicos ficavam
livres para se expressar por meio da arte e frequentemente desenhavam mandalas. O resultado é
inacreditável: além dos indivíduos melhorarem em seu comportamento, pintam verdadeiras obras de
arte.
1950 -
ANTIPSIQUIATRIA
Questionava os princípios da psiquiatria no que tange a
loucura e a normalidade.
Acreditava que a nosologia médica psiquiátrica não
passava de um conjunto de rótulos apropriados apenas
para invalidar os sujeitos.
Propunha o abandono dos tratamentos hospitalares
DESAFIOS DA PSICOLOGIA NA
POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL
E DA ATENÇÃO BÁSICA
O modelo hospitalar passa de assistência filantrópica-
sujeitos em condição de miséria ou adoecidos - para o
hospital geral – lugar de exercício da medicina.
Segundo Foucault, as noções que envolvem o conceito de
loucura possuem uma base moral.
O louco que era considerado alienado, é desacorrentado
por Pinel mas enclausurado entre muros de uma instituição
que, na ausência de outras práticas terapêuticas, propõe o
trabalho como objeto de recuperação da desrazão.
Desse modo, os sujeitos eram punidos diantes da tecnologia da
A disciplina. O que prevalecia era a necessidade de ordem. Celas
fortes, banhos gelados, eletrochoques e lobotomia eram alguns dos

PSIQUIAT procedimentos utilizados na busca da promoção de um


comportamento dentro dos padrões sociais.

RIA A partir da psiquiatria democrática, com o protagonismo de Franco


Basaglia, o cenário para tratamento dos sujeitos em sofrimento

DEMOCR mental começa a tomar outro movimento.


Esse grupo abriu as portas dos hospitais e propôs o tratamento em

ÁTICA meio aberto, num sentido completamente oposto ao que se


acreditava na época, de que o sujeito considerado louco deveria ser
afastado da sociedade que o adoecia.
LEI 10. 216/2001
Tramitou por doze anos até ser aprovada com mudanças no texto
original.
Essas mudanças não incluíram, por exemplo, a questão do
fechamento dos leitos psiquiátricos mas já propunham a criação de
novos modelos de tratamento.
Determina que a internação somente ocorrerá quando os recursos
extra-hospitalares se mostrarem insuficientes e somente mediante
laudo médico caracterizando seus motivos, sendo vedada a internação
em instituições com características asilares.
TRÊS MODALIDADES DE
INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA
VOLUNTÁRIA: quando tem o consentimento do usuário;
INVOLUNTÁRIA: quando não há o consentimento do usuário e é
feito a pedido de terceiros – equipes, familiares;
COMPULSÓRIA - quando é determinada pela justiça.

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