Você está na página 1de 23

Falar de Saúde

Mental é falar de
que?
Thaisa Cortellazzi - Psicopatologia I - Noturno
● Campo diverso, transdisciplinar, plural (atravessa a psiquiatria, psicanálise,
antropologia, filosofia, geografia);

● Formas de pensar para além de uma verdade absoluta;

● Saúde é ausência de doença? e Doença Mental?

“Termo doença para definir saúde e o termo saúde para definir doença”
Navio dos loucos, Hieronymus Bosch, ~1495 (nau dos insensatos)
Instituições para loucos e sãos
Saúde Mental: campo polissêmico e plural que diz respeito ao estado mental dos
sujeitos e das coletividades - condições altamente complexas

Alienismo: Philippe Pinel (1745 - 1826)


Hospital: inicialmente função de abrigo,
alimentação e assistência aos pobres,
desabrigados, doentes.
Alienação Mental: distúrbio no âmbito das paixões,
capaz de produzir desarmonia na mente e na possibilidade objeto do indivíduo perceber
a realidade.
História da Loucura
●Concepções de Loucura - mudança através dos tempos.

Hospital (-caridade e + controle social após a Rev. Francesa)

Hospital Geral (1656) - a grande Internação: Isolamento e segregação dos


loucos. Internações solicitadas por não médicos (judiciais).

O saber do hospital passou a orbitar sobre a figura do médico (agrupa e


observa o curso e evolução da doença).

Hospital Medicina

Medicalização e disciplina (Focault)


Hospital Geral
Lugar do saber e da verdade.
Doenças: institucionalizas -
estado puro

Modelo biomédico da medicina


ocidental (relação com a
doença enquanto objeto
abstrato, não com o sujeito da
experiência da doença

Hospital: espaço de exame (pesquisas); tratamento


(disciplina) e reprodução do saber médico.
Philippe Pinel
Pinel - “Pai da psiquiatria” - clínica médica moderna;
Propôs a liberdade dos loucos, que embora libertados de suas correntes,
deveriam ser submetidos a um tratamento asilar - completo isolamento.
Finalidade de: restituir a liberdade subtraída pela alienação.
Periculosidade
Desacorrentar os loucos: metamorfose na natureza do Hospital, os
loucos permanecem enclausurados, não mais por caridade ou repressão,
mas por um imperativo terapêutico. (Modelo Asilar e disciplina rígida)
Classificação das doenças: mania, melancolia, demência e idiotia.
Loucura - desarranjo das faculdades mentais
Pinel (França); Tuke (Inglaterra), Esquirol (teórico do alienismo)
Hospital Salpetrière
Criado em 1656, o rei Louis XIV
mandou construir um hospital para
confinar mendigos e mulheres loucas.
O local escolhido foi uma fábrica de
pólvora para munição, salitre
(salpêtre). Daí vem o nome
“Salpêtrière.

Abrigava mendigos, aleijados,


epiléticos, insanos. Prisão de
prostitutas locais.

Massacre em 1792 - mulheres doentes


mentais, bebadas e deficientes físicas
arrastadas por Paris e massacradas às
vistas do povo.
Pinel e Salpetrière

Pinel defendia a cura da loucura por meio do chamado "tratamento


moral", que consistia em uma ampla pedagogia normalizadora
com horários e rotina rigidamente estabelecidos, medicamentos
receitados somente pelo médico e atividades de trabalho e lazer.

Pinel foi para o hospital de Salpetrière (1795) onde ficou por 31


anos. Ao morrer de pneumonia em 1826, Pinel deixou como
discípulo Jean-Etienne Dominique Esquirol.
Livro: Psicopatologia : uma abordagem integrada / David H. Barlow, Mark R. Durand ; tradução Noveritis
do Brasil ; revisão técnica Thaís Cristina Marques dos Reis. -- 2. ed. -- São Paulo : Cengage Learning, 2015.
Loucura e Contexto Brasileiro
●1º hospício Brasileiro (1852) Hospício Pedro II (RJ);
●República (1889) : Hospício Nacional de Alienados; Colonia São Bento e Colônia de
Conde Mesquita. Colônias eram úteis devido à superlotação dos hospícios. Já eram
alvo de críticas por condições precárias.

●Higienização das cidades no começo do Séc. XX

●Hospital Colônia de Barbacena, atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena,


foi criado em 1903. Era hospital de tuberculosos antes desse período.

●Casa de Saúde Anchieta: Fundado em 1951 pelo psiquiatra Edmundo Maia, o


hospital foi palco das mais diversas violações dos direitos humanos, incluindo
torturas físicas e psicológicas, trabalho escravo e assassinatos.
Loucura e Contexto Brasileiro
Anos 70: O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo da eclosão
do “movimento sanitário”, nos anos 70. Porém tem uma história própria
inscrita num contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar.

Franco Basaglia: Psiquiatra italiano, começou a compreender o atraso da psiquiatria italiana –


com quase cem mil pessoas internadas em manicômios no início dos anos de 1960 – As
clínicas psiquiátricas das universidades não tinham conseguido reverter o modelo
assistencialista vigente na Itália; aliás, haviam reforçado a tendência asilar e repressiva.Tendo
como base a experiência da Comunidade Terapêutica desenvolvida por Maxwell Jones na
Escócia, introduziu uma série de transformações naquela instituição e no Hospital
Psiquiátrico Regional de Trieste, para onde se transferiu em 1971. Acabou com as medidas
institucionais de repressão, criou condições para reuniões entre médicos e pacientes e
devolveu ao doente mental a dignidade de cidadão. Seu livro “A Instituição Negada” é
considerado uma obra-prima da Psiquiatria contemporânea. Visitou o Brasil na década de 70,
tornando-se uma figura emblemática na questão da luta antimanicomial brasileira.
Reforma Psiquiátrica
● Fundada, ao final dos anos 70, na crise do modelo de
assistência centrado no hospital psiquiátrico, por um lado, e na
eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais pelos
direitos dos pacientes psiquiátricos
● Conjunto de transformações de práticas, saberes, valores
culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos
serviços e das relações interpessoais que o processo da
Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões,
conflitos e desafios.
Reforma Psiquiátrica
● 1978 = início efetivo do movimento social pelos direitos dos
pacientes psiquiátricos em nosso país.

● O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM)


surge neste ano formado por trabalhadores integrantes do
movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas,
membros de associações de profissionais e pessoas com
longo histórico de internações psiquiátricas.
Reforma Psiquiátrica
● O MTSM passa a denunciar a violência dos manicômios, a
mercantilização da loucura, a hegemonia de uma rede privada de
assistência e a construir uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao
modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos
mentais.

● 1978: pré-reforma PQ. A média de internação em HP era de 61 anos.


Muitos problemas para além das violências e violações de direitos.
Pagamento de serviços inexistentes (pacientes fantasmas,
medicamentos não empregados. Dados do próprio MPAS reiteram que
pelo menos 200 mil internações não eram necessárias.
Reforma Psiquiátrica
A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica
radical ao manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com
os antigos paradigmas:
- Ex: Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos no
início dos anos 80, no Rio de Janeiro.

1987

◻ I Conferência Nacional de Saúde Mental (RJ): recomenda priorização de


investimentos nos serviços extra-hospitalares e multiprofissionais como
oposição à tendência hospitalocêntrica.

◻ II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP): adota o lema “Por uma


sociedade sem manicômios".
Reforma Psiquiátrica
● Intervenção da Secretaria Municipal de Saúde de Santos e
um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local
maus-tratos e mortes de pacientes. Demonstrou possibilidade
de construção de uma rede de cuidados efetivamente
substitutivos ao hospital psiquiátrico.

● Implantados no município de Santos os Núcleos de Atenção


Psicossocial (NAPS) - funcionam 24 horas.

● Simultaneidade com a Reforma Sanitária Brasileira (SUS) -


Lutas sociais. Saúde como direito e dever do Estado.
Reforma Psiquiátrica
● Ainda em 1989, um ano após a criação do SUS – dá entrada no
Congresso Nacional o PL-3657 do deputado Paulo Delgado
(PT/MG): Propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com
transtornos mentais e a extinção progressiva dos hospícios no
país.

● Após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Paulo


Delgado (Lei 10.216) é aprovada no país (2011).
Reforma Psiquiátrica
● Lei Federal 10.216/2001 redireciona o amparo em saúde mental,
privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base
comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
com transtornos mentais, no entanto, não estabelece estruturas
claras para a progressiva extinção dos manicômios;

III Conferencia de Saúde Mental (2001- Brasília): ampla


participação dos movimentos sociais, de usuários e de seus
familiares, que fornece os substratos políticos e teóricos para a
política de saúde mental no Brasil. Mudança na política de
governo.

CAPS: valor estratégico para a mudança do modelo de


assistência; Defende a construção de uma política de saúde
mental para os usuários de álcool e outras drogas;
• CAPS 1988 • II Conferência Nacional de 2001
• 1° intervenção hospitalar Saúde Mental
• I Conferência Nacional de • Constituição • CAPS, NAPS e Hospitais-dia • lei 10.216
Saúde Mental • SUS • Normas para avaliação do • a III Conferência Nacional de
• NAPS serviço e classificação dos Saúde Mental
hospitais.
• Declaração de Caracas

1987 Década de 90

Criação PSF
Reforma Psiquiátrica
● Nos últimos anos, o processo de desinstitucionalização de pessoas com
longo histórico de internação psiquiátrica avançou significativamente
através da instituição pelo MS de mecanismos seguros para a redução
de leitos no país e a expansão de serviços substitutivos aos hospital
psiquiátrico:

● O Programa de Volta para Casa e a expansão de serviços como os


Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas;
● Caps - atender as pessoas com transtorno mental severo e persistente e
seus familiares. A equipe profissional do Caps está habilitada para
prestar o cuidado em atenção psicossocial, buscando preservar a
cidadania da pessoa, o tratamento no território e seus vínculos sociais.
Principais estratégias
• fiscalização e redução de leitos
psiquiátricos no Brasil - 2002 • Programa de Inclusão Social pelo Trabalho
• Programa “De Volta para Casa” - 2003 das pessoas com transtornos mentais e
• Programa Nacional de Avaliação do transtornos decorrentes do uso de álcool
Sistema Hospitalar/Psiquiatria e outras drogas – 2005
(PNASH/Psiquiatria) (2002) • PSF – integralidade – década de 90
• Programa Anual de Reestruturação da • Centros de Convivência e Cultura – 2002
Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS • outros
(PRH) (2004)
• Programa de Volta para Casa (2003)
• Expansão de serviços como as Residências
desinstitucionalização Terapêuticas e o CAPS
de pessoas
diálogo
longamente
internadas

“pressupõe transformações culturais e


subjetivas na sociedade e depende sempre da
pactuação das três esferas de governo (federal,
estadual e municipal)”

Você também pode gostar