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Escola Secundária de Peniche

Filosofia
Professor José Diniz

Problemas éticos na interrupção da vida humana

João Henriques
Nº16 11ºLH1
18/06/2020
Será eticamente correto a interrupção da vida de um ser humano? A pena de morte e a
eutanásia são dois exemplos de como interromper a vida humana, porém muito diferentes.
Enquanto na Eutanásia a pessoa possuí o desejo de morrer, na pena de morte a pessoa não possuí
esse mesmo desejo. Eu, neste ensaio, irei abordar a eticidade da interrupção da vida humana
recorrendo à Eutanásia.
O conceito de Eutanásia reside em provocar uma morte indolor e digna a alguém que esteja
em estado terminal ou que tenha uma doença incurável e dolorosa. A eutanásia pode ser
classificada como voluntária ou involuntária. É voluntária quando o próprio paciente, num estado
consciente, expressa o desejo de morrer. É involuntária quando o paciente é incapaz de expressar o
seu desejo mas, alguém próximo do mesmo toma a decisão seguindo a vontade do paciente. A
eutanásia pode também ser classificada como ativa ou passiva. É ativa quando existe o ato
deliberado para terminar com a vida do paciente e é passiva quando é interrompido o tratamento
essencial para a manter vivo o paciente. Independentemente de todas as classificações a eutanásia
é sempre exercida por um profissional de saúde.
No séc. XVI/XVII na Inglaterra, Francis Bacon, político, médico e filósofo inglês, foi um dos
primeiros a defender a eutanásia. De acordo com Francis a Eutanásia provém do latim “Eu” (bom,
verdadeiro) e “thanatos” (Morte) ou seja, significa boa morte ou morte sem dor. Em 1623, na obra
“Historia vitae et mortis”, Francis defendeu que era "desejável que os médicos desenvolvessem a
arte de ajudar os agonizantes a sair deste mundo com mais doçura e serenidade". Apesar da
medicina ter que defender a vida humana a todo o custo, Francis defendia que a medicina é
também obrigada a proporcionar o menor sofrimento possível aos pacientes. Isso implica que em
casos de enorme sofrimento, terminar com a vida de um paciente de uma forma indolor, é
eticamente justificável.
Apesar da eutanásia ser um tema complexo e controverso, eu defendo o seguinte ponto de
vista e tese: O ser humano possuí a liberdade de pensamento e o direito de decidir sobre o destino
da sua própria vida. Existem casos em que o paciente está em puro sofrimento numa fase terminal
da vida e que não é possível reverter o estado em que o mesmo se encontra. O sujeito deveria ter a
possibilidade terminar com a sua vida de uma forma digna e sem sofrimento.
Se por um lado é defendida a liberdade de pensamento e o direito de decidir acerca da
nossa própria vida, por outro lado, é considerado eticamente reprovável a prática da eutanásia. Seja
por motivos religiosos ou não, existem opositores à prática da eutanásia. Por motivos religiosos
temos o facto de toda a humanidade ser uma dádiva de Deus e, se terminarmos com a vida de
alguém estamos a pôr em causa os planos do divino. Por motivos não religiosos, temos quem
defenda que a prática da eutanásia é altamente reprovável devido ao facto de estarmos a ir contra
as leis da natureza. Se não devemos alongar a vida humana também não devemos encurtá-la. Ainda
há quem defenda que o ser humano tem o direito à morte mas que é eticamente reprovável pedir a
um profissional de saúde para matar uma pessoa independentemente do estado em que essa se
encontre.
A formulação deste ensaio tem como objetivo explicitar e apresentar diversos pontos de
vista acerca da eticidade da eutanásia. Irei definir o problema e depois apresentar a minha solução
perante o mesmo. Irei também apresentar argumentos que justifiquem a minha solução e de
seguida apresentar contra-argumentos e diferentes pontos de vista acerca do tema com o intuito de
explicar o porquê de não concordar com esses.

Qual é o problema da eutanásia? A vida humana é vista como o direito supremo de cada
indivíduo. São inúmeras Constituições que defendem o direito à vida acima de qualquer outro
direito. Para além disso, todos os médicos, antes de se tornarem médicos, têm de jurar que farão
tudo ao seu alcance para manter e proteger a vida dos seus pacientes. O problema aqui é que para
além da vida humana está presente a saúde e a qualidade dessa vida. A saúde é vista como a base
de qualquer valorização da vida e segundo a OMS, a saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças. O dilema aqui assenta no seguinte:
Todos os médicos têm que jurar que farão tudo ao seu alcance para proteger a vida; mas se
necessitarmos de máquinas para viver e de morfina para a camuflar o sofrimento estaremos
realmente a viver? Existe a distinção entre viver e sobreviver. Vivemos quando somos saudáveis e
gostamos de estar vivos, viver é uma escolha. Sobrevivemos quando estamos vivos pelo simples
facto de estarmos. Quando nos encontramos presos a uma máquina, não estamos a viver, estamos
vivos sem qualquer paixão pela vida. O problema aqui é, até que ponto temos o direito de decidir
sobre a nossa morte e se é ético pedir a um profissional de saúde que nos mate ou que nos deixe
morrer.
Na minha opinião, é eticamente justificável a prática da eutanásia. O ser humano possuí livre
arbítrio, ou seja, tem a liberdade e a possibilidade de decidir sobre ele próprio. Se nos encontrarmos
numa fase terminal e com uma doença irreversível deveríamos ter liberdade para escolher morrer
de uma forma digna. Outro argumento que defende a prática da eutanásia é o seguinte: se temos o
direito à vida, temos o direito à morte. O ser humano possuí o direito à vida, não possuí o dever de
viver. Se a vida é um direito e não um dever, então deveríamos ter a possibilidade de escolher viver
ou não. A eutanásia tem como objetivo terminar com a vida de alguém de uma forma indolor, de
forma a terminar com o sofrimento a que essa está sujeita. A meu ver, é mais ético praticar a
eutanásia e terminar com a vida de um paciente de uma forma indolor do que prolongar a vida do
mesmo sujeitando-o a dores insuportáveis e por tempo indefinido.
Existem diversos argumentos contra a eutanásia, estes podem ser religiosos ou não. Do
ponto de vista religioso, a prática da eutanásia é eticamente injustificável porque toda a vida
humana foi nos dada por Deus e só por Ele esta pode ser retirada. A eutanásia é vista como uma
usurpação do direito à vida humana, devendo esta ser exclusivamente reservada ao “Criador”, ou
seja, só Deus pode retirar a vida a alguém. Este argumento tem dois problemas principais. O
primeiro é que o argumento é baseado na fé em Deus, mas a existência do Mesmo não está
provada. O segundo problema é: Se Deus realmente existir e for omnipresente, omnipotente,
omnisciente e bom, por que é que não cria as condições para que os doentes em cuidados paliativos
morram de uma forma digna?
Outro argumento que contesta a eutanásia reside no juramento de Hipócrates feito pelos os
médicos. O juramento de Hipócrates considera a vida humana sagrada e, por isso, os médicos têm
que fazer tudo que está ao seu alcance para manter o paciente vivo. Sucede que, neste mesmo
juramento reside o problema. É dito no juramento o seguinte: “A Saúde do meu Doente será a
minha primeira preocupação”. A saúde, como já foi referido anteriormente, é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social. Se o médico não tem a capacidade para manter o
paciente saudável e, em vez disso, prolongar a vida do paciente sujeitando-o a dores insuportáveis e
por tempo indefinido não respeita a primeira preocupação presente no juramento. Julgo então ser
mais ético terminar com a vida do paciente porque já não existe possibilidades do mesmo continuar
saudável do que sujeitá-lo ao sofrimento.
Em suma, a eutanásia é um problema que é muito abordado e discutido na nossa sociedade.
O assunto da eutanásia põe em causa o livre arbítrio do ser humano e, até que ponto é ético pedir a
um profissional de saúde que termine com uma vida humana. Existem vários pontos de vista sobre a
eutanásia; existe quem a defenda porque o ser humano possuí livre arbítrio e o direito à morte e,
quem não concorde por motivos religiosos ou, por acharem eticamente injustificável um ser
humano tirar a vida a outro. Concluo pessoalmente que a eutanásia é eticamente justificável,
porquanto o ser humano possuí a liberdade de pensamento e o direito de decidir sobre o destino da
sua própria vida. Ninguém é obrigado a praticar a eutanásia; esta serve para aqueles que desejam
terminar com o sofrimento causado por doenças irreversíveis de uma forma indolor e digna.

Webgrafia

Sites
-https://pt.wikipedia.org/wiki/Eutan%C3%A1sia
-https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/eutanasia-origem-ramificacoes-e-
outras-peculiaridades/
-https://www.dicionarioetimologico.com.br/eutanasia/

Artigos
-https://www.publico.pt/2008/01/20/jornal/morrer-livre-245758
-https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/98/morte-e-eutanasia

Documentos
-https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/7280/2/Tese%20Anabela%20Silva
%20%20icbas.pdf
-http://ordemdosmedicos.pt/wp-content/uploads/2017/08/Juramento_de_Hip
%C3%B3crates.pdf?source=post_page---------------------------

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